O PENSAMENTO CRÍTICO DE
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
SOBRE MARKETING POLÍTICO
Victor Kraide Corte Real
(Publicitário e mestrando em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo)
Resumo:
O pesquisador e conceituado jornalista brasileiro Carlos Eduardo Lins da Silva é
freqüentemente estudado como sendo um renovador do Pensamento Comunicacional LatinoAmericano. A importância de sua obra está relacionada a sua inquietude intelectual, a maior
parte de seus textos são questionamentos decorrentes da relação existente entre a imprensa e a
sociedade civil. O presente trabalho visa analisar especificamente o posicionamento crítico
deste autor em relação ao marketing político praticado no Brasil. Lins da Silva é um pensador
que relaciona de forma apurada os conhecimentos teóricos à prática, usando intensamente seu
conceituado profissionalismo jornalístico à pesquisa em Comunicação. Do ponto de vista
político, sua postura crítica analisa o grau de maturidade do eleitorado brasileiro e questiona o
suposto poder incomensurável atribuído a prática do marketing político, muitas vezes
considerado como uma ferramenta “mágica” capaz de decidir eleições, transformando
candidatos em produtos e menosprezando a capacidade intelectual do cidadão eleitor.
Palavras-chaves:
Marketing, Política, Lins da Silva
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Sobre Carlos Eduardo Lins da Silva
Jornalista, pesquisador e professor são apenas três, das muitas facetas assumidas pelo
comunicador social chamado Carlos Eduardo Lins da Silva. Nascido em Santos, em 1952,
iniciou suas atividades como jornalista ainda muito cedo, aos 19 anos, atuando como repórter
em dois jornais da capital paulistana: o Diário da Noite e o Diário de São Paulo, desde então
sua intensa produção intelectual não cessou, garantindo assim, importantes contribuições ao
pensamento comunicacional latino-americano.
Seu currículo é bastante vasto e já foi tratado minuciosamente em outros textos,
porém, apesar de não ser o objetivo principal do presente trabalho, não podemos deixar de
expor algumas de suas muitas contribuições mencionadas acima. Felizmente, seu currículo
ainda está em constante processo, neste sentido, qualquer texto produzido anteriormente a este
pode estar defasado, e mesmo este está sujeito a defasar-se rapidamente. Então vamos
relacionar a seguir, um pouco da obra e da vida de Carlos Eduardo Lins da Silva até maio de
2003.
Como jornalista escreveu centenas de artigos e trabalhou em diversos veículos da
imprensa, entre eles: Diário da Noite, Diário de São Paulo, Diários Associados (através da
Tribuna de Santos), Raízes, Folha de S. Paulo e atualmente é diretor-adjunto de Redação do
jornal Valor Econômico. Ocupou cargos desde repórter até diretor, trabalhando também como
correspondente no exterior e editor. Participou também do “Manhattan Conection”, programa
veiculado na tv a cabo, sob o comando do jornalista Lucas Mendes e com participação de
Nelson Mota e Paulo Francis.
Sua formação acadêmica inclui graduação em jornalismo na Faculdade de
Comunicação Casper Líbero; Mestrado na Michigan University State, nos Estados Unidos,
em 1976, com o tema Mass Media and Environmental Affairs: a case study in Santos, Brazil;
Doutorado em Ciências da Comunicação, jornalismo, pela Escola de Comunicações e Artes
da Universidade de São Paulo, em 1984, com a tese (posteriormente adaptada para livro,
virando best-seller nacional) Muito além do Jardim Botânico: estudo da consciência crítica
dos trabalhadores face à representação do real feita pelo telejornalismo: pesquisa-ação nos
bairros de Lagoa Seca (RN) e Paicará (SP) sobre a recepção do Jornal Nacional da Rede
Globo de Televisão; Livre docência, também na ECA, em 1987, com a tese Mil Dias – análise
das mudanças no processo de produção da Folha de S. Paulo durante a implantação do
“Projeto Folha” (maio/1984 – fevereiro/1987); além dessas teses, Lins da Silva escreveu
diversos livros, sendo considerado como o de maior repercussão O Adiantado da Hora: a
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influência americana sobre o jornalismo brasileiro, publicado pela Editora Summus em
1991.
Carlos Eduardo Lins da Silva também foi um docente incansável, lecionando diversas
disciplinas nos cursos de comunicação na Universidade de São Paulo, no Instituto Metodista
de Ensino Superior, na Universidade Católica de Santos, na Faculdade Casper Líbero e na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Também trabalhou como redator, editor e
colaborador de revistas científicas e jornais de comunicação, além de ser membro fundador da
Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) e ter atuado na
mesma como secretário-geral, membro do conselho fiscal e vice-presidente.
A rica carreira de Lins da Silva, apresentada acima de forma muito condensada,
sempre teve como base a seriedade e a preocupação com a investigação minuciosa dos
fenômenos da comunicação (MACEDO, 2000). Perguntado sobre o que achava de ser
rotulado como membro renovador do pensamento comunicacional da América Latina, Lins da
Silva respondeu a Adolpho Queiroz através de fax: “Para mim, foi muito gratificante. Mas sei
que, em grande parte, essa distinção se deve à amizade de José Marques de Melo”
(QUEIROZ, 1996, p. 228). Recentemente mantive contato com ele através de e-mail e
telefone, e perguntei se ele ainda mantinha esta posição, então recebi a seguinte mensagem
como resposta:
Francamente, acho um pouco excessivo classificar-me como renovador da pesquisa sobre
comunicação na América Latina. Creio que minha tese de doutoramento, “Muito Além do
Jardim Botânico”, tem algum pioneirismo metodológico por ter sido talvez a primeira a se
valer da “pesquisa-ação”. Mas o simples fato de que houve muita pouca “replicagem” do
método demonstra como provavelmente foi limitada a importância do meu trabalho.
Talvez Lins da Silva não goste de rótulos, porém suas principais características como
pesquisador, ou seja, “mestiçagem teórica, hibridismo metodológico e determinação ética”
(REBOUÇAS, 2000), fazem com que ele seja classificado inevitavelmente como um
renovador por excelência.
Seus conhecimentos teóricos mesclam conceitos positivistas norte-americanos com os
conceitos europeus da Escola de Frankfurt, na verdade o pesquisador-jornalista rompe
pressupostos teóricos frankfurtianos dando um sentido menos negativo para a “indústria
cultural”, além de questionar a postura excessiva de passividade que a teoria crítica atribui aos
receptores da comunicação de massa (MACEDO, 2000). Metodologicamente, Lins da Silva
faz adaptações técnicas da pesquisa-ação e da observação participante ativa, desenvolvendo
uma metodologia adaptada à realidade brasileira e latino-americana, evoluindo de métodos
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funcionalistas de observação para uma postura de cidadão aliado ao papel de pesquisador
(REBOUÇAS, 2000). Sua determinação ética está ligada a constante preocupação em
relacionar pesquisa com questões sociais, a própria evolução metodológica de seu trabalho
demonstra isso.
Sobre marketing político, o tema principal deste trabalho, Lins da Silva produziu duas
obras de grande relevância: Em busca do voto perdido: os meios de comunicação na tentativa
de restaurar um pacto populista, no período em que atuou na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (1979/1981), tratando da análise sobre o uso dos meios de comunicação de
massa pelo candidato populista Aluízio Alves e os votos que perdeu nas eleições, devido a
hipótese de uma formação de consciência de classes por parte dos trabalhadores nordestinos, e
seu potencial para “distinguir entre medidas paliativas e projetos de longo prazo realmente
comprometidos com a solução de seus problemas” (MACEDO, 2000). A outra obra é um
trabalho mais recente intitulado O Marketing Eleitoral, publicado em 2002, na série de livros
“Folha Explica”, é um livro curto no qual Carlos Eduardo Lins da Silva aplica muito de seu
conhecimento teórico/crítico, questionando de forma ousada e inovadora a idéia do poder
incomensurável do marketing político, e a exagerada relação deste com a obtenção de votos
através da manipulação ideológica do eleitorado.
Sobre marketing comercial e marketing eleitoral
O conceito de marketing eleitoral normalmente é descrito como uma variação do
marketing político, estando particularmente preocupado com as estratégias mercadológicas
adotadas pelos candidatos políticos durante o período que antecede uma determinada eleição.
Porém os conceitos de marketing eleitoral e marketing político muitas vezes aproximam-se e
são usados como se não houvesse distinção, pois a maioria dos candidatos políticos acredita
que toda sua vida pública está inserida num processo eleitoral, qualquer atitude ou
manifestação relacionada à sociedade, pode ser usada a seu favor ou contra nas vésperas de
uma eleição. Alguns analistas consideram, por exemplo, o Plano Real, visto até hoje pela
maior parte dos brasileiros como bem sucedido, aplicado por Fernando Henrique Cardoso
enquanto ainda era ministro da economia do governo Itamar Franco, como sendo o principal
elemento determinante de sua vitória na eleição de 1994 e na reeleição de 1998. De fato, as
manobras políticas dos candidatos são enfatizadas durante o processo eleitoral, através do
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chamado marketing eleitoral, mas efetivamente todo indivíduo que pretende ocupar cargos
políticos deve estar preocupado em trabalhar seu marketing político diariamente.
Algumas ferramentas do marketing comercial são usadas no marketing político,
principalmente a propaganda comercial é usada como base para a propaganda política, isso
não significa que a escolha de um candidato através do voto seja feita a partir dos mesmos
estímulos que temos para comprar uma mercadoria, porém em essência, a propaganda política
utiliza argumentos similares aos da propaganda comercial para tentar influenciar os eleitores a
escolherem um determinado candidato. Para entendermos esses estímulos que tentam induzir
a escolha de um candidato ao invés de outro, precisamos entender um pouco sobre o
surgimento da propaganda.
As técnicas modernas de propaganda surgiram como conseqüência da industrialização
e do desenvolvimento do capitalismo no final do século XIX, naquela época o homem
passava a produzir mais do que era capaz de consumir. “Era preciso agregar novos
contingentes de consumidores para a demanda poder acompanhar a capacidade de oferta”,
além disso, os novos bens de consumo precisavam parecer “necessários, benéficos ou
prazerosos” para que os consumidores fossem “levados à decisão de compra” (LINS DA
SILVA, 2002). A propaganda começava a ser utilizada como um instrumento capaz de
agregar valores aos bens de consumo, fazendo uso de mensagens carregadas de conteúdos
ideológicos como liberdade e sucesso, por exemplo, características que supostamente seriam
obtidas através da aquisição de determinados bens de consumo. Um carro passava a ser visto
não simplesmente como um veículo de transporte, mas como um símbolo de status, poder e
sucesso. O surgimento e o avanço tecnológico dos meios de comunicação de massa
potencializou a divulgação dos supostos benefícios proporcionados pelos bens de consumo.
Conhecimentos sociológicos e psicológicos também passaram a integrar as técnicas de
propaganda, na tentativa de aperfeiçoar o conceito de manipulação ideológica das
necessidades dos receptores das mensagens publicitárias.
A propaganda política também procura atribuir valores, muitas vezes questionáveis, a
um determinado candidato, a fim de influenciar uma decisão que está relacionada à busca,
através do voto, da opção que aparentemente melhor satisfaça nossas necessidades como
cidadãos.
Então se o marketing político é similar ao marketing comercial, e se em ambos o
objetivo
é
influenciar
o
consumidor/eleitor
a
comprar/eleger
produto/candidato, qual é a diferença entre um político e um sabonete?
um
determinado
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Carlos Eduardo Lins da Silva procura justamente estabelecer essa diferença, através de
argumentos sólidos e do posicionamento crítico em relação as principais teorias e práticas
existentes sobre marketing político.
Lins da Silva e o marketing político
O alto nível intelectual de Lins da Silva obtido através do constante questionamento
das teorias de comunicação, seu profundo conhecimento sobre as teses defendidas pela escola
positivista norte-americana e pela escola de Frankfurt, fazem com que ele considere o mundo
da política, e as diferentes percepções que cada um de nós tem sobre o assunto, como sendo
algo bastante complexo, impossibilitando que uma teoria simplista seja sustentada a partir da
defesa de que o marketing é uma “atividade mágica” capaz de decidir eleições (LINS DA
SILVA, 2002, p.16).
Ele ainda argumenta sobre a constante suposição que transforma candidatos em
sabonetes, como sendo uma acusação que “subestima até o mais baixo ponto a capacidade de
raciocinar do cidadão”, pois somente uma “pessoa imbecilizada escolheria um governante
com os mesmos critérios com que elege a marca de seu sabonete” (LINS DA SILVA, 2002,
p.13).
Lins da Silva levanta uma hipótese a respeito dessa supervalorização atribuída ao
marketing político. Como sendo uma hipótese, ela pode vir a ser comprovada ou contestada,
mas de qualquer forma ela nos faz pensar sobre a exagerada valorização do marketing político
como sendo algo, até certo ponto, prático e útil. Segundo Lins da Silva, a atribuição de tanto
poder a esta modalidade do marketing é interessante para o próprio profissional da área, pois
assim ele valoriza seu trabalho e beneficia seus negócios; e também serve ao eleitor, na
medida em que ele pode responsabilizar outrem por ter sido influenciado a tomar uma decisão
errada, quando um eleito se revela incompetente ou corrupto (LINS DA SILVA, 2002, p.10).
Questionado sobre as perspectivas de mudanças sobre este aspecto, relacionando marketing
político, meios de comunicação e a evolução da democracia em nosso país, ele respondeu
através de e-mail:
Creio que a visão dos meios de comunicação de massa e especificamente da publicidade e da
propaganda como superpoderosos continuará prevalecendo por muito tempo, talvez para
sempre porque ela é muito conveniente a todos os interessados, como eu procuro demonstrar
no texto: os meios de comunicação são bodes expiatórios de todos os males, todo mundo se
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isenta de responsabilidade. Se há violência, a culpa é dos meios; se o Collor foi eleito, foi por
causa dos meios e assim por diante.
De fato esses argumentos normalmente são usados pela opinião pública para dar mais
valor do que a prática do marketing político merece. Através dessa hipótese, Carlos Eduardo
Lins da Silva não quer justificar o uso desses argumentos, pelo contrário, ele acredita ser até
mesmo prejudicial para a democracia esse tipo de argumentação simplista e superficial.
Outros pesquisadores como Rubens Figueiredo, por exemplo, também apresentam fortes
críticas sobre a concepção exagerada do marketing político,
o eleitorado está cada vez mais atento, recusando votar em candidatos cujas campanhas são
repletas de ‘truques’ para confundir, quando não enganar, o eleitor. O “marketismo” tem um
duplo – e definitivo – defeito. Não é construtivo para a democracia que o suporta. Nem
eficiente para os candidatos que o adotam (FIGUEIREDO, 2000, p. 39).
O estudo científico sobre o marketing político
Vivemos hoje no Brasil um importante período de desenvolvimento democrático,
diante do qual as discussões políticas, especialmente os estudos sobre marketing político, têm
avançado e recebido muita atenção. Muito dos conhecimentos sobre marketing, aplicados hoje
em nossa realidade local, são baseados em estudos científicos feitos durante o período da
Segunda Guerra Mundial e nos tempos da Guerra Fria, quando vultosos recursos
governamentais foram colocados à disposição de cientistas sociais especialmente dos Estados
Unidos, mas também do Reino Unido e de outros países ocidentais, para realização de
pesquisas sobre os efeitos da propaganda política. O principal incentivo desses estudos foi o
resultado eficaz que a propaganda nazista, desenvolvida por Joseph Goebbels, obteve através
do uso excessivo da retórica, dos meios de comunicação de massa e dos símbolos visuais
(LINS DA SILVA, 2002, p. 39). Porém, as conclusões desses estudos foram apressadas e
ingênuas. Modelos teóricos como o da “agulha hipodérmica” ou da “bala”, segundo os quais
os meios de comunicação funcionariam como uma seringa ou uma arma, capazes de injetar na
mente dos receptores das mensagens qualquer tipo de conhecimento ou ideologia,
encontraram imediata receptividade pública positiva, devido à simplicidade de seus
argumentos (LINS DA SILVA, 2002, p. 40).
Lins da Silva faz um contraponto, lembrando que ainda naquele mesmo período,
alguns pesquisadores perceberam a falha daquelas teorias e saíram a campo a fim de contestar
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as convicções formuladas em escritórios, tentando provar que a realidade era muito mais
complexa do que aquelas teorias estavam supondo. Foi o caso de Paul Lazarsfeld, em 1948, e
W. Philips Davidson, em 1959. O que Lazarsfeld concluiu durante a análise das eleições
americanas de 1938, 1940, 1944 e 1948, foi que, no caso das mensagens políticas, “rádio,
cinema e jornais – os principais meios de comunicação da época – exerceram influência
pequena ou mesmo nula sobre a decisão de voto das pessoas por ele examinadas” (LINS DA
SILVA, 2002, p. 41). E Davidson, a respeito da relação entre público e meios de
comunicação, resumiu que a audiência não é um recipiente passivo, e não pode ser vista como
uma massa de barro esperando para ser moldada pelo “mestre propagandista”, os receptores
exigem algo das mensagens a que estão expostos, e selecionam o que parece ser mais útil.
“Há uma barganha envolvida nesse processo” (LINS DA SILVA, 2002, p. 42).
Nelson Jahr Garcia, conceituado pesquisador contemporâneo brasileiro, analisa com
bastante critério a capacidade persuasiva e de manipulação ideológica dos meios de
comunicação de massa. Ele acredita que os meios de comunicação de massa podem exercer
algum controle ideológico sobre o espectador quando este evita fazer qualquer análise ou
discussão mais profunda daquilo que está assistindo. Para ele, quando o modelo informativo
vigente transforma em espetáculo os fatos sociais, pode abalar de certa forma a credibilidade
sobre uma certa versão ideológica da realidade (GARCIA, 1990, p. 71). O mesmo autor,
discutindo a relação existente entre propaganda e persuasão, argumenta:
A propaganda pode não ser eficaz e, assim mesmo, ficar caracterizada como tal. Por outro
lado, pode haver persuasão e não existir propaganda quando não houve a intenção inicial.
Todavia, não basta a emissão simples de mensagens sem nenhum cuidado. (...) só se pode
verificar a intenção persuasiva se o emissor estiver apoiado num mínimo de precauções. (...) a
eficácia ou não de sua campanha é difícil de ser verificada porque outras variáveis podem ter
ocorrido para um determinado resultado (GARCIA, 1990, p. 20).
A prática da persuasão através de mensagens é uma discussão bastante antiga, LINS
DA SILVA (2002, p. 33) expõem a retórica como sendo:
o nome da arte de usar a linguagem como forma de persuadir outras pessoas a apoiarem
determinada causa ou líder, e ela era objeto de suspeição por parte de alguns pensadores. A
crítica hoje feita contra o marketing era basicamente a mesma de Platão (428-348 a.C.) – que
foi em relação a retórica quase tão agressivo quanto Adorno (1903-69, o mais conhecido
membro da Escola de Frankfurt) seria em relação aos meios de comunicação de massa – em
seu tempo: a retórica, ao colocar ênfase nos modos de persuasão em vez de na essência da
verdade, mereceria condenação moral.
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Hoje em dia, segundo Lins da Silva, o meio acadêmico estuda os efeitos do marketing
a partir de duas principais teorias, a “cultivacionista” e a “etnográfica”. A corrente de
pensamento cultivacionista tem entre seus principais representantes na atualidade, o britânico
Neil Postman, defensor dos fortes efeitos do marketing e da visão do público como sendo
altamente alienado e irracional. A posição etnográfica representa o trabalho de Richard
Hogart e outros culturalistas britânicos, tendo como preocupação a interação que o
consumidor de informação faz com as mensagens que recebe, afim de encaixá-las em seus
próprios interesses, a partir de suas experiências anteriores e de seu sistema de crenças (LINS
DA SILVA, 2002, p. 47-48).
Lins da Silva possui um posicionamento mais voltado para a corrente etnográfica, ele
acredita no potencial crítico dos receptores das mensagens midiáticas e usa o raciocínio
poético de Jorge Luis Borges para sintetizar suas idéias, a respeito da comparação sobre a
interpretação de uma mensagem e a descida de um rio, “ninguém desce duas vezes o mesmo
rio, porque suas águas mudam” (BORGES, 1996, p. 11), mas o mais interessante é que da
mesma forma que uma mensagem pode mudar constantemente, nossos conceitos também
podem mudar tanto quanto as águas do rio no qual mergulhamos. “É essa apropriação
segmentada do discurso político e dos meios de comunicação de massa que ocorre na vida
real. As pessoas entendem de formas diversas um mesmo conteúdo” (LINS DA SILVA, 2002,
p. 73).
A experiência brasileira
Duda Mendonça, renomado profissional do marketing político, argumenta sobre a
mudança na legislação eleitoral brasileira, ocorrida em 1996, permitindo a divisão do tempo
da propaganda eleitoral em inserções de 30 e 60 segundos de duração ao longo da
programação das emissoras de rádio e televisão, como tendo
um poder de convencimento e de fixação de argumentos muito, mas muito, maior do que o
horário gratuito grande. A sua freqüência é proporcional ao tempo de televisão do partido, o
que pode lhe dar até dez inserções por dia – metade delas no horário nobre, no meio de
programas de maior audiência, em todos os canais de TV! A força desses comerciais é brutal.
Nem o maior anunciante brasileiro tem um décimo dessa freqüência durante um período tão
longo (MENDONÇA, 2001, p.117).
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No que diz respeito à captura da atenção dos espectadores, Lins da Silva concorda que
esses pequenos anúncios são mais poderosos do que os longos programas eleitorais, neste
sentido, os anúncios curtos podem ser considerados como sendo mais eficazes. Mas isso
acaba nos levando a enfatizar a idéia de que os candidatos são apresentados nos meios de
comunicação de massa da mesma forma que os sabonetes. Sendo natural que cada vez mais,
algumas pessoas tenham a impressão que ambos pertençam ao mesmo gênero. Apesar disso,
LINS DA SILVA contesta o resultado desta comparação (2002, p. 71):
Não é isso o que acontece de verdade. Um bom anúncio da cerveja Heineken pode fazer um
consumidor acostumado com a Miller resolver experimentá-la. Um bom anúncio a favor do
direito à prática do aborto dificilmente fará um adepto da tese do direito à vida do feto
abandonar sua convicção.
Mesmo assim não podemos negar que o desenvolvimento dos meios de comunicação
eletrônicos pode ter trazido alguns benefícios para a democracia e para a prática do marketing
político. Lins da Silva acredita ser muito mais fácil hoje em dia, não importa se através de
programas eleitorais televisivos curtos ou longos, conhecermos as idéias dos diversos
candidatos políticos, do que antigamente quando tínhamos que nos deslocar aos comícios,
facilitando atualmente a chance de alguém mudar de opinião. De qualquer forma, este suposto
avanço representa apenas uma mudança sobre o ambiente onde a informação é propagada,
segundo Lins da Silva, o que a pesquisa científica demonstra “é que os meios eletrônicos,
como os comícios do passado, funcionam muito mais para cristalizar atitudes e opiniões antes
assumidas do que para alterá-las” (LINS DA SILVA, 2002, p. 78).
Conclusão
Ao longo deste trabalho procuramos conhecer um pouco sobre a visão de Carlos
Eduardo Lins da Silva a respeito do marketing político, mas ao contrário do que talvez tenha
sido esperado, este texto não procurou confirmar ou contradizer o ponto-de-vista deste autor
sobre este tema, mesmo porque as pesquisas sobre o impacto desta modalidade do marketing
na sociedade brasileira ainda são escassas, sendo que sua prática, apesar do alto grau de
profissionalismo em que se encontra, ainda é feita de maneira bastante intuitiva e relacionada
essencialmente a experiências de campanhas bem sucedidas. Os próprios argumentos de Lins
da Silva são baseados nesses fatos, sendo que ele demonstra muita cautela para não fazer
conclusões apressadas sobre dados empíricos ainda não analisados cientificamente.
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Enviei algumas questões, através de e-mail, a fim de compreender melhor sua opinião
a respeito deste assunto. Perguntei sobre até que ponto as pesquisas de intenção de voto
poderiam influenciar uma eleição, e ele respondeu: “acho que influem, sim, mas pouco”;
sobre o fato de candidatos na liderança das pesquisas evitarem debates na mídia, sua resposta
foi: “pode acontecer, mas nem sempre e nem sempre com os mesmos resultados”; e ainda
sobre os critérios superficiais que levam os eleitores a escolhem um candidato, ele comentou:
“considero esse um fenômeno corriqueiro: muita gente decide o seu voto por sentimento, não
ideologia, e a propaganda política procura explorar esse fenômeno ao máximo”. Sua
percepção, somada ao conhecimento de estudos feitos em sociedades mais desenvolvidas
democraticamente, leva Lins da Silva a levantar hipóteses de que o eleitorado brasileiro,
assim como o de outros países:
não se deixa hipnotizar pelo marketing político, que é apenas mais um instrumento – entre
vários, e não necessariamente o mais importante – para auxiliá-lo a definir seu voto e a formar
suas convicções políticas e ideológicas ao longo da vida. É isso o que indica o bom senso, o
que comprova a ciência, o que sugere a observação isenta da realidade. Não acreditar nisso
implica descrer da viabilidade da democracia representativa no Brasil (LINS DA SILVA,
2002, p. 83).
Diante do que foi exposto ao longo deste texto, tomando como base principal o
trabalho intitulado O Marketing Eleitoral de Lins da Silva, além de citações complementares
de outros pesquisadores, a única conclusão concreta que pode ser feita é que o ser humano é
muito complexo e suas respostas para os estímulos recebidos através da prática do marketing
político são muito variadas, sendo praticamente impossível agrupá-las de acordo com um
padrão lógico do tipo ação-reação. Muitos “marqueteiros” e estudiosos da comunicação
acreditam ainda hoje em teorias similares a da “agulha hipodérmica”, e acham que são
capazes de mudar conceitos ideológicos através de maciças campanhas publicitárias. Não
podemos negar que os meios de comunicação de massa exercem algum tipo de influência
ideológica sobre os receptores de suas informações, afinal a maioria das pessoas passa
diariamente algumas horas diante deles, sendo impossível imaginar que nenhum estímulo seja
provocado diante desta exposição, principalmente quando uma pessoa não está disposta ou
preparada para questionar as informações recebidas através deles, sejam elas sobre um
sabonete ou sobre um candidato político. Mas no caso exclusivo do marketing político, a
partir do resultado surpreendente de algumas eleições recentes, devemos ser realmente
cautelosos ao tentar defender alguma teoria sobre o impacto das mensagens midiáticas, pois
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se houvesse uma lógica evidente, candidatos com os melhores assessores, melhores
campanhas e maior tempo de exposição não perderiam eleições.
Bibliografia
BORGES, Jorge Luis. Cinco visões pessoais. Brasília: Ed. UnB, 1996.
FIGUEIREDO, Rubens. O marketing político: entre a ciência e a falta de razão. In: Marketing
político e persuasão eleitoral. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2000.
GARCIA, Nelson Jahr. Sadismo, sedução e silêncio: propaganda e controle ideológico no
Brasil (1964-1980). São Paulo: Edições Loyola, 1990.
LINS DA SILVA, Carlos Eduardo. O marketing eleitoral. São Paulo: Publifolha, 2002 –
(Folha Explica).
MACEDO, Mônica. Carlos Eduardo Lins da Silva – As idéias de um jornalista pesquisador.
PCLA.
Volume
1,
Número
3:
abril
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maio
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2000.
Disponível
em:
<http://www.metodista.br/unesco>. Acesso em: 05.abr.2003.
MENDONÇA, Duda. Casos & Coisas. São Paulo: Globo, 2001.
QUEIROZ, Adolpho. Carlos Eduardo Lins da Silva: um renovador na pesquisa de
comunicação na América Latina. Comunicação & Sociedade, n° 25, São Bernardo do Campo,
1996.
REBOUÇAS, Edgard. Um paradoxo possível: a trajetória comunicacional de Carlos Eduardo
Lins da Silva. PCLA. Volume 1, Número 3: abril / maio / junho 2000. Disponível em:
<http://www.metodista.br/unesco>. Acesso em: 05.abr.2003.
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