REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA
Ano 2, nº 2, outubro 2005
ISSN: 18075479
UM E STUDO SOBRE P
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Ana Maria D’Errico Gantois1
AUTO RETRATO AOS 45 ANOS, 1938
Este artigo enfoca a obra do pintor Presciliano
Silva (1883-1965), que nas primeiras décadas
até meados do século XX notabilizou-se com
uma pintura de excelência. Singular nos
gêneros de retrato, paisagens e interiores de
igreja, ele, até hoje, tem o reconhecimento da
sociedade o que justifica um estudo de cunho
cientifico.
This article focuses the oeuvre of the Bahian's
painter Presciliano Silva (1883-1965) who became
notable in the first 20th. century's decades up to
the middle of that century due to the excellence of
the quality of his paintings. Remarkable in the
genres of portrait, landscape and church's interiors
he has earned the society's recognition, fact that
justifies one study of scientific interest.
PALAVRAS-C H A V E : P i n t u r a b a i a n a . Século X X
paisagens. Pinturas de retratos. Pinturas de igrejas.
( 1 9 1 0 -1 9 4 0 ) . P i n t u r a s d e
1
Museóloga formada pela UFBA, com especialização em metodologia do ensino superior (FAMMETIG), aluna
especial do Mestrado em Artes Visuais da Escola de Belas Artes - UFBA.
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K E Y W O R D S : B a h i a ' s p a i n t i n g 2 0 t h c e n t u r y a r t ( 1 910-1940). Landscape's
painting. Portraits'painting. Interiors of churche's painting.
INTRODUÇÃO
Este artigo foi elaborado para a Pós-graduação em Artes Visuais, da Escola de Belas
Artes, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção da avaliação
da disciplina Artes Visuais na Bahia, disciplina ministrada pelo Prof. Dr. Luiz Alberto Freire,
no primeiro semestre do ano de 2005.
A História da Arte na Bahia imprescinde de estudos sobre a sua produção e seus
agentes. Tal situação pode ser atribuída à falta de tradição de registros sistemáticos, em
todas as tendências artísticas. É consenso geral, admitido em todas as gamas, a falta de
informações sobre a nossa história, mais especificamente no que se refere ao Patrimônio
Artístico. É procedente uma preocupação acadêmica, pois é neste âmbito que há de se
encontrar elementos estimuladores para o despertar de um maior interesse pela nossa
arte, conseqüentemente, por vários fatores de nossa vida. Os elementos norteadores
estão embutidos na História Geral da Bahia, do Brasil e da Civilização.
Propomos desenvolver nesse estudo sobre a obra de Presciliano Silva, os primeiros
passos para uma pesquisa em maior escala. Para definirmos o universo a ser pesquisado,
fizemos este trabalho disposto pela cronologia de parte da obra de Presciliano Silva, até
quando nos permitiu delinear um cerceamento do núcleo dos eixos estético e histórico
para atingir a produção artística e pictórica. Optamos, em síntese, pelo método de
pesquisa analítico-comparativo, a partir de leituras e estudo de fontes primárias e
secundárias, com o objetivo profícuo de elaborar a trajetória do Pintor e também em parte,
do formador partícipe de outros artistas, alunos ou não da Escola de Belas Artes da
Universidade Federal da Bahia – EBA-UFBA2.
A partir do século XIX é que as Instituições se configuravam como tais, porque até então existiam cursos
livres de formação. O Liceu de Artes e Ofícios preparava mão de obra para um mercado que atendia às
aspirações das influências européias (portuguesa, francesa, inglesa), sem a preocupação devida, até o
momento, de desenvolver um “corpus” de saberes.
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ANTECEDENTES
Em meados do século XIX, enquanto o Realismo (Anexo A) na França ainda estava
em voga, surgiu o Impressionismo (Anexo B), considerado o primeiro movimento da arte
moderna por seu rompimento com a forma. Era uma espécie de último arranco do
Realismo, que desejava, então, ser instantâneo, retratar o momento presente: “o fugidio de
uma paisagem, iluminada pelo sol, mas que logo após será escurecida pelas sombras da
noite” (DENVIR, 1985, p. 8). É a impressão que o artista tem em um determinado
momento e de acordo com a emoção individual por ele sentida. Assim, para pintar os
fenômenos da natureza (o sol reverberando na água, a luz que ilumina os galhos de uma
árvore), os seus pintores procuravam ser rápidos. Daí originaram-s e as pinceladas
separadas, dando, de perto, a idéia de borrões. Só de longe é que o espectador entende
inteiramente o tema de um quadro impressionista ao ver as pinceladas se unirem, o que se
chamou de mistura ótica (figura 1).
Figura 1 - A horta (detalhe). Óleo sobre tela, 1879. Camille Pissarro.
Fonte: ARTE ABSTRATA E ARTE FIGURATIVA, 1979, p. 45
Essa arte intuitiva e sem regras pré-fixadas continua com um impressionismo oposto; o
Neo-impressionismo (ou pontilhismo), que tenta dar àqueles movimentos regras
científicas, como as extraídas da teoria ótico-física de Cheuvreul. O francês Seraut (18591891) foi seu maior nome (figura 2).
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Figura 2 - Modelo de frente. Óleo sobre tela, 1887. George Seurat.
Fonte: www.sulinet.hu/ eletmod/hogyantovabb/tovabbtanulas/elokeszito/
muveszettortenet/10het/seurat.jpg
No Brasil, Visconti (1867-1944) foi o maior expoente do Impressionismo e do Pontilhismo
(figura 3), que, segundo opiniões de estudiosos tais como o mestre Manoel Lopes
Rodrigues e posteriormente Valladares, identificam influência na obra de Presciliano Silva.
Fig. 03 - Nu. Óleo sobre tela, 1895. Eliseo Visconti,
Museu de Arte de São Paulo.
Fonte: www.artunframed.com/ eliseu_visconti.htm
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INSPIRAÇÃO, INFLUÊNCIA OU CONSEQÜÊNCIA?
Alguns dos fatores que estão no tópico ANTECEDENTES ver-se-ão presentes em
alguns momentos, tanto no eixo temático, como no eixo técnico da obra de Presciliano
Silva. Porém há uma outra fase em que não persistiu ou que ele ainda não havia estudado
como característica, o Impressionismo. Presciliano formou, indubitavelmente, um conjunto
de pintura acadêmica sem precedentes até então estudados no Brasil (figuras 4 e 5).
Figura 4 - Nu feminino. Desenho a
carvão,
0,63 x 0,46m, provavelmente início do
séc. XX Presciliano Silva. Coleção
Galeria Solar do Ferrão – IPAC
Fotografia da autora.
Figura 5 - Cabeça de negra.
Desenho a carvão, 0,60 x 0,45m,
provavelmente início do séc. XX
Presciliano Silva. Coleção Galeria
Solar do Ferrão – IPAC Fotografia
da autora.
P. Silva, nascido Presciliano Atanagildo Isidoro Rodrigues da Silva, a 17 de maio de 1883,
em Salvador – Bahia, era filho de Possidônio Isidoro da Silva e Clotilde Rodrigues da Silva.
Morava na Rua das Mercês, atualmente trecho da Avenida Sete de Setembro. Aos sete
anos já projetava seu futuro nos desenhos feitos a carvão no passeio cimentado. Este era
a sua tela e os transeuntes os seus motivos. Desenhava em traços rápidos e ágeis.
Morava na mesma rua o poeta gaúcho Alexandre Fernandes, que o estimulava avaliando
seus erros e acertos. Isto, nos idos de 1890, quando iniciou os seus estudos primários, no
Colégio do França, o Sete de Setembro.
Em 1896, Presciliano ingressou na Escola de Belas Artes, tendo antes freqüentado
o Liceu de Artes e Ofícios, onde conheceu o seu eterno mestre Manoel Lopes Rodrigues
(Anexo C). Este tem uma trajetória peculiar e tendo por base as informações de Manoel
Querino, referências de uma dedicação ímpar, de um mestre a um discípulo em todos os
momentos de sua vida. Em um texto antológico, está contida toda a admiração do
respeitado mestre pelo jovem discípulo que fez a “traquinagem desrespeitosa” de copiar
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uma obra do Mestre (1899) às escondidas. Posteriormente em um momento lendário, o
Mestre prenunciou:
Talvez então, o neurastênico que eu sou, orgulhoso de ter descoberto,
contente de o ter visto trabalhador e honesto, lhe atire com as flores
sinceras do meu aplauso o que a vaidade puder me dar de eloqüência
entusiasta do meu amor de Mestre, afirmando-lhe: Não me enganei!
(LOPES RODRIGUES apud PRESCILIANO SILVA, 1984, p.216).
Com o seu primeiro estudo registrado iniciou-se na prática de desenho do período
escolar, quando discípulo de Manoel Lopes Rodrigues; fez desenhos a lápis, exercício
praticado na Escola de Belas Artes (05/06/1896) – representando modelo de gesso, à mão
livre (figura 6).
Figura 6 - Desenho a lápis de modelo de gesso (à
mão livre), 05/06/1896. Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.28.
Em 1902, obteve Medalhas de Ouro e Prata em desenho e escultura, ao graduar-se
pela Escola de Belas Artes e pelo Liceu de Artes e Ofícios, quando recebeu o Prêmio
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Caminhoá3, que lhe propiciou viagem de estudo à Europa. Momentos decisivos na sua
escolaridade foram os períodos em que esteve na França, primeiro de 1905 a 1908 na
Academia Julian, fundada pelo pintor Rodolphe Julian (1839-1907). A Academia Julian
(Anexo D), graças a seu professorado alcançou prestígio artístico e reputação mundial.
Três mestres franceses (Anexo E) marcaram a formação de Presciliano na
Academia Julian: Adolphe Dechaneaud (1868-1929); Jules Lèfèbvre (1836-1911) e Tony
Robert-Fleury (1837-1912).
Os demais elementos de referência na formação de Presciliano Silva contribuem
para entender melhor a clareza na sua trajetória de pintor de temas históricos, arte
decorativa, retratos, sem ter se prendido a um só tema; contudo, os interiores é que lhe
deram tanto prestígio, com um compromisso inquestionável com o aperfeiçoamento da sua
técnica em precisos estudos antes da definição. A partir do ano de 1907, viajou pela
Bretanha (França), estagiando em Concarneau-Finisterra, onde produziu considerável
coleção de telas, até princípios de 1908.
Na Academia Julian fez desenhos de modelo vivo (figura 7). Em monumentalidade e
expressão, destacam-se seus traços que reproduzem uma anatomia realística, postura
com uma mobilidade singular (figura 8).
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A obra com a qual recebeu tal título não foi identificada bem como a documentação referente a esse
prêmio. Como o processo de pesquisa em arquivo é ininterrupto, daremos continuidade em busca do que
não foi encontrado até então.
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Figura 7 - Desenho de modelo vivo, 1905, Paris,
0,60 x 0,45m. Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p. 32.
Figura 8 - Outro desenho de modelo vivo, 1905,
Paris, 0,60 x 0,45m. Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p. 35.
Já em outros momentos, superados os imprevistos da dificuldade imposta pela
diminuição substancial da acuidade auditiva, aos 24 anos, que lhe cerceava as
possibilidades de comunicação. Momentos de uma angústia, só superados com uma
dedicação extrema e o reconhecimento por seus mestres franceses, de que “sabia
desenhar!” (BARRETO, 2004).
Daí, a mais largos passos, produzia compulsivamente. Concluindo o primeiro
estágio, mas com uma produção inigualável, o que lhe proporcionou, no seu retorno, em
18 de julho de 1908, organizar a sua primeira exposição individual para 23 de dezembro
na Sala Nobre da Escola Comercial da Bahia, ao todo com 62 obras, entre telas, desenhos
e guaches. O Bebedor de Cidra (figura 9) encantou o maior crítico de arte brasileira
daquela época, Gonzaga Duque:
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“O tipo parece Kodackisado. É um manso pastrano feito de abegão ou
dearraes, de cara anfracta, escarafunchada e estúpida. Alcooliza-se e medita,
mas a meditação não lhe passa dum remígio d’azas baixas, a espanejarem o
solo. E a expressão da máscara, minudências do vestuário, acessórios do
facto, aí estão trabalhados com igual cuidado e tocante preocupação de fazer
justo, certo e verdadeiro.” – (DUQUE, apud. VALLADARES, 1973,p.77).
Figura 9 - Bebedor de Cidra, óleo sobre tela, 1907,
s/dim. - Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p. 41.
N a Lição de Tricot (figura 10), a fatura impressionista é um determinante, no
tratamento da pintura feita à luz natural, a implacável marca das pinceladas ligeiras, as
fisionomias apenas demarcadas.
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Figura 10 - Lição de Tricot, Concarneau,1908,
0,34 x 0,46 - Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.44
Figura 11 – Lavadeira, Rio de Janeiro, 1911,
0,61 x 0,53m - Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.50
Como outro traço de ansiedade em estar aqui e alhures, em 1909 mudou-se para o
Rio de Janeiro, onde também expôs e, não só buscou retornar à França, como também
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pintar à luz local um tema típico das regiões urbanas brasileiras, expresso na obra
Lavadeira (figura 11 acima).
Finalmente vislumbrou e concretizou o seu retorno à França (em 1912), detendo-se
com maior maturidade nas visitas aos museus para que em uma análise avaliasse e
definisse o seu caminho. Fixou-se em Concarneau e fez deste recanto a referência de
muitas obras, de uma inspiração inexplicável. Já por muito tinha superado os traumas de
estar fora de seu país, e a pátria agora, era aquela que o acolhia e onde dava asas à sua
imaginação, aos seus estilos, enfim, mais uma vez, ele, mais do que ninguém percebia
que estava se encontrando através do que fazia.
E na fase identificada de suporte de tons graves temos como exemplar estrondoso Velha
de Concarneau (figura 12).
Figura 12 - Velha de Concarneau, 1912,
0,45 x 0,36m - Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.60
O hábito de repetir temas, como o Mercado de Concarneau (figura 13), fazia sempre que a
obra tivesse a sua perspectiva ampliada.
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Figura 13 - Mercado de Concarneau. 1912,
0,79 x 0,98m - Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.65.
Já tendo avançado nos seus estudos e prestes a vivenciar uma realidade muito
ameaçadora e complexa, a explosão da 1 a Grande Guerra Mundial, optou por voltar ao
Brasil, não antes de ter aceitado e exposto no Salão Oficial dos Artistas Franceses, uma
obra sua: Retrato de Mme. Le Clinche. Retornando ao Brasil, instalou-se definitivamente
em Salvador – Bahia, em maio 1913. Em junho fez a sua segunda exposição em Salvador,
tendo trazido em sua bagagem, grande número de obras: 47 telas e apenas uma feita na
Bahia. Não há de passar despercebido o diferencial que há de luz nas obras, com o marco
de um novo tempo de retorno às suas raízes. E o que demonstrava todo esse sentimento
era a sua expressão artística bem impressionista, mas se há coincidência nas pinceladas,
há uma diversidade gritante na luz presente em Farol Bretão (figura 14) e Missa na Sé
(figura 15).
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Figura 14 - Farol Bretão, Bretanha, 1913,
0,55 x 0,46m. - Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p. 43.
Figura 15 - Missa na Sé, Bahia, 1913,
0,80 x 0,65m - Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p. 101
Com a instalação do seu atelier, há o prenúncio de uma nova fase, nem tão
opcional, mas para a qual não fez resistência. Em 1915 decorou e pintou grandes
espaços, como a nave central e a capela-mor da Igreja da Piedade, que se perdeu por
falta de conservação e sem nenhum justo registro para estudo e referência. É necessária a
declaração que desde algum tempo a consciência do valor do patrimônio está reservado a
uma restrita escala de Instituições. Desde que também não há uma política pública e
densa sobre a relação do patrimônio, com a identidade e memória.
Presciliano também tinha como projeto exercer o magistério e em 1915 inscreve-se
para o concurso de desenho na Escola de Aprendizes Artífices da Bahia. Em 1916 é
nomeado, também após concurso, professor da ex-Escola Técnica de Salvador. Ainda
neste ano, faleceu seu pai, Possidônio Isidoro da Silva, aos 76 anos.
Pelo que temos como testemunho, verifica-se que as obras de arte decorativa estão
presentes em espaços diferenciais, como o Palácio da Aclamação. Neste, o teto do Salão
de Recepção (figuras 16, 17 e 18), de 1917, revela traços impressionistas e motivos
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românticos (apelando para os ditames do coração em estado de lirismo): querubins entre
nuvens e flores, colorido muito vivaz, repetido em caixotões em todo o teto.
Figura 16 - Querubins entre
florais e nuvens, 1916.
Teto do Salão Oficial de
Recepção do Palácio da
Aclamação. Presciliano Silva.
1,0 x 1,0 m. Foto: E. Oliveira.
Figura 17 - Querubins entre
florais e nuvens, 1916.
Teto do Salão Oficial de
Recepção do Palácio da
Aclamação. Presciliano Silva. 1,0
x 1,0 m. Foto: E. Oliveira.
Figura 18 - Teto do Salão Oficial
de Recepção do Palácio da
Aclamação. Técnica de pintura
(marrou flage pintura sobre tela
de algodão). Presciliano Silva.
1,0 x 1,0 m. Foto: E. Oliveira.
Nas laterais deste mesmo espaço guirlandas espargem folhagens de parreiras sobre um
fundo azul lilás, com pinceladas brancas formando um conjunto etéreo e de rico efeito que
atendia ao que deve ter sido solicitado. No Salão de Música (figuras 19, 20, 21, 22), ao
som de doces notas, estão figuras muito semelhantes às retratadas por Jean-Honoré
Fragonard (1732-1806) nos seus trabalhos de 1766 a 1769 como O Baloiço (UPJOHN,
1975, p. 152-153) (figura 23).
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Figura 19 - Salão de Música do
Palácio da Aclamação. Técnica
marrou flage, 1917. Presciliano Silva.
1,50m x 1,00m. Foto: E. Oliveira.
Figura 20 - Salão de Música do
Palácio da Aclamação. Técnica marrou
flage, 1917. Presciliano Silva.
1,00m x 1,50m. Foto: E. Oliveira.
Figura 21 - Salão de Música do
Palácio da Aclamação. Técnica marrou
flage, 1917. Presciliano Silva.
1,50m x 1,00m. Foto: E. Oliveira.
Figura 22 - Salão de Música do
Palácio da Aclamação. Técnica marrou
flage, 1917. Presciliano Silva.
1,50m x 1,00m. Foto: E. Oliveira.
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Figura 23 . – O Balanço. Óleo sobre tela, 1767.
Fragonard. The Wallace Collection.
Fonte: www.sanford-artedventures.com/study/
images/ fragonard_swing_l.jpg
No fervor de sua produção artística, ainda em 1917, decorou o Salão Nobre do
Quartel General da 6a. Região, na Praça Duque de Caxias, na Mouraria, bairro de Nazaré,
telas (figuras 24, 24A, 2 5, 25A, 26 e 2 6A) documentadas através da restauradora
Professora Ana Maria Villar (1991). São pinturas históricas e declaradas como cópias de
Pedro Américo e Victor Meirelles. Essas obras causam impacto pelas suas grandes
dimensões e localização, tendo provavelmente atendido à solicitação do encomendante.
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Figura 24 - Grito do Ipiranga. Cópia da obra de Pedro Américo. Tela a óleo colada
sobre parede, 1917. Presciliano Silva. 1,48 x 2,00m. Fotografia da autora.
A
Figura 24 - Grito do Ipiranga. Pedro Américo, 1888. Museu Paulista.
Fonte: www.culturabrasil.org/ independencia2004.htm
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Figura 25 - Batalha do Avaí. Cópia da obra
de Pedro Américo. Tela a óleo colada sobre
parede, 1917. Presciliano Silva. Salão
Nobre da 6ª Região Militar.
2,00 x 1,48m: Foto: Evandro Oliveira
Figura 26 - Batalha do Riachuelo. Cópia da
obra de Victor Meirelles. Tela a óleo colada
sobre parede, 1917. Presciliano Silva. Salão
Nobre da 6ª Região Militar.
2,00 x 1,48m. Foto: Evandro Oliveira
A
Figura 25 - Batalha do Avaí. Pedro Américo. Óleo s/ tela, 1872-77.
Museu Nacional de Belas Artes.
Fonte: http://www.partes.com.br/jpg.
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A
Figura 26 - Batalha Naval do Riachuelo. Victor Meirelles. Óleo s/ tela, 1882-3.
Museu Histórico Nacional. Fonte: www.vidaslusofonas.pt/ ana_neri.htm
De acordo com as pesquisas de Marieta Alves sobre a Venerável Ordem 3ª de São
Francisco:
“Nas paredes que ladeiam o imponente arco cruzeiro vêm-se dois
grandes painéis pintados pelo artista baiano João Francisco Lopes
Rodrigues, em 1875, um dos quais – lado do Evangelho – reproduz o
conhecido quadro de Murilo -” “Santa Isabel de Hungria, curando tinhosos”
. (ALVES, Marieta, 1949, p.12).
Em 1918, decorou a residência do Dr. Francisco de Góes Calmon, atual sede da
Academia de Letras da Bahia. No teto da Sala Edith da Gama Abreu, as figuras que o
ornamentam sugerem uma adequação de algum tema mitológico parnasiano, uma figura
feminina solta, como se tivesse à propriedade de manter-se no espaço, entre nuvens, e
outras figuras, anjos e gaivotas. No todo, muito esmaecidas mas, uma composição
harmônica (figura 27)4.
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Não há registros documentais sobre a dimensão da sala; é facilmente detectável a urgência que há de uma
intervenção técnica de conservação e posterior restauração.
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Figura 27 - Teto da Sala Edith Gama e Abreu. Afresco. Presciliano Silva,
1918. Antiga residência do Sr. Francisco de Góes Calmon. Academia de
Letras da Bahia. Fotografia de Evandro Oliveira.
No Salão Nobre da Academia de Letras há também pinturas em afresco, já sem
legibilidade para determinar o motivo (figura 28).
Figura. 28 - Teto do Salão de recepções. Estuque. Presciliano Silva,
1918. Antiga residência do Sr. Francisco de Góes Calmon. Academia
de Letras da Bahia. Fotografia de Evandro Oliveira.
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Figura. 29- Salão de recepções. Estuque. Presciliano Silva, 1918.
Antiga residência do Sr. Francisco de Góes Calmon. Academia
de Letras da Bahia. Fotografia de Evandro Oliveira.
Contudo, na parte superior da parede principal, que também é espaço de recepções, tendo
ante salas que dão acesso a esta, há pinturas ornadas em estuque, com propriedades do
rococó (Anexo F), na composição especial, mobiliário, vitrines e nas vias de acesso,
ornadas de forma original, sem precedentes nas demais estruturas. As pinturas
representam motivos ao ar livre, traços ou pinceladas sem contornos. Chama a atenção o
suporte ornamental em medalhões em forma horizontalizada (figuras 29, 30 e 3 1).
Observa-se no conjunto o efeito das pinturas em afresco (figura 31).
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Figura. 30 Salão de recepções. Estuque.
Presciliano Silva, 1918. Antiga residência do Sr.
Francisco de Góes Calmon. Academia de Letras
da Bahia. Fotografia de Evandro Oliveira.
Figura. 31- Salão de recepções. Estuque.
Presciliano Silva, 1918. Antiga residência do Sr.
Francisco de Góes Calmon. Academia de Letras da
Bahia. Fotografia de Evandro Oliveira.
Após estas experiências, ainda em 1918, Presciliano inaugurou sua fase
considerada a mais prolífera em inspiração, quando esbanja domínio de técnica nos
interiores. Daí ser até hoje, uma representação da Sacristia do Convento do Carmo da
Bahia ter sido o marco de uma série de obras sacras, que são motivo de estudo, devido ao
caráter intimista, que destas emanam suposições de auto-retrato psicológico.
José
Roberto Teixeira Leite (apud BARRETO, 2004) diz que “Presciliano Silva tornou-se
especialmente conhecido por seus interiores de sacristias e conventos, gênero no qual, até
hoje, não tem competidores”. Exemplo disso é Oração da Tarde (figura 32), obra
apresentada em público em 1919, mas na referência específica sobre o trabalho, consta a
data de 1918.
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Figura 32 Oração da Tarde. Óleo sobre tela, 1918, 0,80 x 1,00m.
Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.126.
Porém o que mais importa é que houve uma acentuada compreensão do conteúdo da obra
de arte, aquele significado profundo que exige entrar em contacto com os documentos
históricos, fatores que determinaram a origem da obra. Esta é uma vertente de todas as
obras de arte.
“De lás grandes concepciones idealistas, (Kant, Humboldt, Herder,
Hegel) lás de Hegel tuvieron más aceptación. Hegel no se contentó con
exponer sur ideas estéticas sobre el principio de que el arte no es una
imitación de la naturaleza sino del ideal, sino que además intentó una
historia general del arte, a grandes rasgos, identificando la estética, la
historia y la critica al mismo tiempo.” (ARENAS, 1986, p.75)
O interior sacro talvez fosse o espaço que Presciliano explorasse com maior triunfo, pois a
imanência ali seria mais profunda e inseparável do sentir e fazer o que está sentindo. É um
campo rico de subjetividades, que bem elaboradas são próprias da interpretação da obra
de arte, porém nesse estudo queremos apenas determinar as possibilidades e trabalhar
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com as que já foram citadas. Todos os ângulos articulados constituem o enredo ou trama
que estão em torno do eixo artístico, e só em função desses elementos pode ser feita uma
correta e válida interpretação sobre a obra de arte.
Em 1920, Presciliano ainda estava vivendo sob os impactos de suas obras que,
com ele superava o rito da passagem do reconhecimento restrito para o reconhecimento
público e notório; a referência antológica de Ruy Barbosa foi um grande marco: “Uma das
glórias das artes plásticas no Brasil”(PRESCILIANO SILVA, 1984, p.61). Em novembro de
1921, faz a sua terceira exposição individual na Associação dos Empregados do
Comércio, em Recife (PE), com 24 telas, entre elas A Última Porta (figura 33).
Figura 33 - A Última Porta. Óleo sobre
tela, 1921, 0,78 x 0,63m. Presciliano Silva.
Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.126.
Com esta obra, a “representação” da entrada da Sacristia da Igreja do Convento do Carmo
da Bahia, o artista eclodiu na temática de interiores monásticos. A figura solitária de um
velho cabisbaixo, numa postura de desânimo, aparece com um reflexo de luz na porta
entreaberta, a Esperança, cuja luminosidade singular, como ponto de fuga, causa um
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impacto no ton-sur-ton da obra. Uma composição complementar: Ao se ver o figurante da
“A Última Porta”, clama-se por uma visibilidade mais próxima da face, o que, por
coincidência ou segmento, aparece na expressão do Cabeça do Velho José (figura 34).
Fig. 34 - Cabeça do Velho José. Óleo sobre tela, 1923.
0,48 x 0,59m. Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.184.
Nesta seqüência cronológica pode ser considerada o ápice de sua realização,
enfatizando os matizes dos “marron, marronzinho, marronzão...” (como ele mesmo
falava..., em tom de brincadeira” (BARRETO, 2004), mostrando uma interação consciente
que não estava esgotado o tratamento exaustivo nos detalhes, e a distância extrema do
trivial e grotesco para uma comunhão perfeita extremamente particular até o metafísico (no
sentido relativo ao transcendente, como adjetivação filosófica profunda. Raio de Sol (figura
35) – é a Sala do Capítulo, vista de outro ângulo))”.
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Fig. 35 - Sala do Capítulo. Óleo sobre tela, 1923.
0,50 x 0,60m - Presciliano Silva.
Acervo Museu Carlos Costa Pinto.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.161.
No mesmo ano, participou da Exposição de Belas Artes do 1 o. Centenário da
Libertação da Bahia, na sede do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. A partir de
1923 teve uma produção rica em pinturas de interior e de gênero. Foram selecionadas
dentro de uma triagem de cronologia e representatividade dentro dos temas: Menina da
Mantilha Verde (figura 36). Acirra nessa obra o seu compromisso com o intimismo, o estar
envolto em si mesmo.
Fig. 36 - Menina da Mantilha Verde.
Óleo sobre tela, 1923, 0,45 x 0,39m.
Presciliano Silva. Acervo Museu Carlos
Costa Pinto. Fotografia da autora.
Em 1926, Presciliano sentia-se ainda atraído pelas paisagens das quais constava
um ponto histórico da sua cidade, como no Forte de Mont-Serrat (figura 37).
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Fig. 37 - Forte de Mont Serrat. Óleo sobre tela, 1926.
0,96 x 1,30m - Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.75.
No rico universo prescilianesco sempre cabia mais um intento para alcançar a plenitude da
linguagem pictórica através dos espaços sombrios de um claustro com figuras esmaecidas
propositadamente, porque na sua trajetória já denotava ao que queria dar mais ênfase: a
força do espaço como acolhedor do homem só, ou não. Porém a penetração da luz por
uma janela demonstra a importância da relação do interior com o que está lá fora. Os
detalhes arquitetônicos, decorativos, demonstram um acolhimento singular característico
do ambiente sacro, como pode ser visto em Confidência (Fig. 38).
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Fig. 38 - Confidência. Óleo sobre tela, 1927.
0,72 x 1,02m. - Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.155.
Em 1927 realizou outra exposição com 39 telas no Gabinete Português de Leitura.
Entre elas estava o Ex-voto de Bandeirantes Baianos (figura 39).
Fig. 39 - Ex-voto de Bandeirantes Baianos.
Óleo sobre tela, 1927.
1,00 x 0,82m. - Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.106.
Nesta obra, os homens devotos fazem aí a sua genuflexão de onde por certo, em algum
ângulo, estava postado também o pintor, mais uma vez, flagrando uma relação que o
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intrigava: a do homem com DEUS. No ano seguinte, 1928, ingressou por nomeação na
Escola de Belas Artes da Bahia, na cadeira de Desenho, onde ensinou até 1953. Foi
professor catedrático e diretor interino de 1940 a 1941. Também foi Professor Emérito da
EBA-UFBA em 1960, e membro da Congregação da Escola de Belas Artes da UFBA.
A sua grande obra histórica, Entrada do Exército Libertador (figuras 40, 41 e 42),
uma representação do episódio de 2 de julho de 1823 na Bahia, mereceu vários estudos
(1928-1929), que integram o acervo do Museu Carlos Costa Pinto.
Figura 40 - Entrada do
Exército Libertador Estudo. Desenho, 1928-29.
P. Silva. Acervo Museu
Carlos Costa Pinto.
Fotografia Júlio Mello.
Figura 41 - Entrada do
Exército Libertador Estudo. Desenho, 1928-29.
P. Silva. Acervo Museu
Carlos Costa Pinto.
Fotografia Júlio Mello.
Figura 42 - Entrada do Exército
Libertador Estudo. Desenho,
1928-29. P. Silva. Acervo Museu
Carlos Costa Pinto.
Fotografia Júlio Mello.
Fruto da uma encomenda da Prefeitura Municipal (Prefeito Francisco Souza), foi
concluída em 1930, e pode ser vista na Câmara Municipal de Salvador, no Salão Maltez
Leone (figura 43).
Figura 43 - Entrada do Exército Libertador. Óleo sobre tela, 1930, 1,50 x 3,00m.
Presciliano Silva. Acervo Câmara Municipal de Salvador.
Fotografia Evandro Oliveira.
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ENTRE 1931, 1932, 1933, 1934...até 1965
E m 1931 demonstrou que não havia uníssono como favoritismo temático. Na
Marinha, sente-se o bafejar do vento na lona da vela do Saveiro (figura 44), tanto quanto
se aspira o incenso e o som do órgão – quase audível – no Sé Primacial (figura. 45), um
dos seus espaços referenciais, cujas treliças das portadas como divisórias encobrem o
Santíssimo, sem risco de pertinência.
Figura 44 – Saveiro. Óleo sobre tela, 1931.
0,38 x 0,46m. Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.87.
Figura 45 -Sé Primacial. Óleo sobre
tela, 1932, 0,60 x 0,50.
Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.104.
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Figura 46 - Anna Nery. Óleo sobre tela,1933, 1,50 x 1,00m.
Presciliano Silva. Acervo do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.89.
Com relação às figuras humanas está Anna Nery (figura 46)5, uma heroína de guerra, que
surpreendentemente foi retratada em trajes de época, postada como uma senhora de
muita dignidade, e não como uma guerreira. Impressiona a altivez expressa em seu olhar,
que não está voltado para o infinito, mas para um ponto determinado. É um outro
identificador, a sua postura. Trata-se do compromisso de uma senhora da sociedade que
foi solicitada a pousar, devido a sua semelhança com Anna Nery. Não há desconforto na
representação, pois a proposta não fugiu do compromisso.Há veracidade na semelhança e
na retratação, pois a aura de uma heroína está presente na sua sombra.
Em 1934, casou-se com Alice Moniz e em 1935 nasceu a sua única filha Maria da
Conceição, que até hoje preserva a casa que foi residência da família e o atelier de
Presciliano Silva. Na memória da filha, seu pai foi mais do que um artista. Ele foi um herói.
Alegre, atencioso, brincalhão, submetia-se aos caprichos da filha e, alguns anos depois,
5
a
Esta tela foi mostrada na sua 5 . exposição no conjunto de 23 telas e 06 estudos, no Palacete Catharino.
(SSA - BA).
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dos três netos. Há no espaço que foi seu atelier dois cavaletes: sobre um, está posto seu
Auto-retrato (figura 47).
Figura 47 - Auto-retrato. Óleo sobre tela, 1938.
Presciliano Silva. Ateliê de Presciliano Silva.
Fotografia da autora.
Há uma sobriedade saudável nas folhagens em torno do espaço extremamente
aconchegante, com a voz muito precisa de Maria, relatando como foi seu pai, Presciliano
Silva.
A sua produção artística nos períodos de 1933 a 1940 foi muito profícua. Em 1940,
participa do Salão de Belas Artes, e em 1941, a sua 6 a. Exposição na Associação dos
Artistas Brasileiros, no Rio de Janeiro, onde ganhou a “Medalha de Ouro” do Salão
Nacional de Belas Artes com a tela Abstração (Figura 48). Nesta década, participou de
outro grande Salão na Sede do Fantoches da Euterpe (1942), Salvador-BA., com 71 telas
e 7 desenhos a carvão. Participou do XLVIII Salão Nacional de Belas Artes com o quadro
Interior da Nave da Igreja de São Francisco (figura 49). Acerca do interior mantém os tons
de amarelo, de ouro velho, próprios do estilo barroco baiano; as arcadas superpostas e
ainda em um ambiente discretamente iluminado por um feixe de luz que penetra de
alguma fresta que não está visível, como acontece na maioria de suas obras de interior.
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Figura 48 – Abstração. Óleo sobre tela,
1940, 0,61 x 0,50m. Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.135.
Figura 49 - Interior da nave da Igreja de São
Francisco. Óleo sobre tela,1942, 1,60 x 2,00m.
Presciliano Silva.
Fonte: VALLADARES, 1973, p.169.
Os efeitos dos adornos dão um peso singular a esta obra.
Em subseqüência, realiza, no ano de 1943, O Trabalhista (figura 50) e em 1944 participa
do XLIX e L Salão Nacional de Arte Americana (dedicado aos artistas da Bahia) na
Associação Cultural Brasil-Estados Unidos, em novembro, na Bahia.
Figura 50 - O Trabalhista. Óleo sobre tela,1943, 0,65 x 0,52
Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.191.
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As obras de retrato de Presciliano Silva são muito expressivas e o fundo claro
realça o panejamento e dobraduras , onde se vê que os pincéis foram propositadamente
usados para os tons variantes da mesma peça. Mereceu da crítica especializada
referências e cada dia mais ampliou o seu círculo da amizades entre os intelectuais e
outros mestres com quem conviveu. No Acervo da Escola de Belas Artes registramos o
significativo retrato deste período, datado de 1943: Rosto de Velha (figura 51).
Figura 51 - Rosto de Velha. Óleo sobre tela,1943,
Presciliano Silva. Acervo do Atelier de Restauração da Escola de Belas Artes – UFBA.
Fotografia de José Dirson Argolo, 2005.
Em 1945 expôs no Salão da Biblioteca Pública da Bahia e participou do LI Salão
Nacional de Belas Artes. Durante toda a década de 40, foi um fluxo constante de
participações nos Salões Nacionais e em 1948 participou da Exposição de Pintura e
Escultura das Repúblicas Americanas em Bogotá – Colômbia, por ocasião da IX
Conferência Internacional Americana, com a obra O Romeiro (figura 52), detentora da
Medalha de Honra do Salão Nacional de Belas Artes de 1947.
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Figura 52 - Romeiro. Óleo sobre tela,1947, 0,65 x 0,64.
Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.193.
Na peregrinação do dia a dia, nesta obra está contida uma síntese pictórica um dia
a dia de busca, no desalinho das mechas, o amparo em um bastão que o auxilia no
deslocamento sem fim. Mais uma vez, Presciliano Silva, declara com muita evidência o
comportamento de retratar a realidade, que, em cada detalhe reafirma a personalidade e
ação dos retratados.
Em 1948 foi um marco de homenagens e prêmios, com destaque para a “Grande
Medalha de Ouro” e “Prêmio Governador do Estado de São Paulo”, conferidos pelo “Salão
Paulista de Belas Artes”. Neste ano, colocou-se em uma das salas de aula da Escola de
Belas Artes um medalhão de bronze, com seu perfil (atualmente encontra-se no conjunto
de obras que está exposto no 1 o. piso no Anexo do Salão Riolan Coutinho). Trabalho do
escultor Ismael de Barros (figura 53), com os seguintes dizeres: “À Presciliano, aluno desta
casa, e mestre hoje da pintura brasileira, homenagem da Bahia”. Presciliano finalizou a
década de 40 integrando a Comissão Organizadora do “1o. Salão Baiano de Belas Artes”
com Anísio Teixeira, Diógenes Rebouças, Ismael de Barros, Godofredo Filho e Mendonça
Filho. Integrou a Comissão Julgadora deste Salão com Mendonça Filho e Raul Deveza,
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que foi um marco para as artes plásticas na Bahia e participou mais uma vez do Salão
Nacional de Belas Artes.
Figura 53 – Rosto de Presciliano Silva. Medalhão em bronze, 1940.
Ismael de Barros. Acervo Escola de Belas Artes – UFBA.
Fotografia da autora.
Na década de 50 viu propagar-se nacionalmente o seu valor enquanto mestre e foi
nomeado em 1951, pelo Presidente da República, Catedrático da Cadeira de Pintura da
Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia. O reconhecimento local refletiu-se na
continuidade que deu ao seu trabalho e em 1960 recebeu o título de Professor Emérito da
Escola de Belas Artes da Bahia. Em 1965 demonstrou, mais uma vez, o seu
desprendimento e atitude de vanguarda quando participou da exposição inaugural da
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Galeria Convivium. Abriu espaço de referência de sua obra e de sua vida; logo depois, em
07 de agosto, faleceria no Rio de Janeiro.
Vários desenhos foram encontrados como ensaios para novas obras: Carlos
Chiacchio (Figura 54) e Clotilde (Figura 55). ,
Figura 54 – Carlos Chiacchio. Desenho.
Presciliano Silva. Acervo Escola de Belas
Artes (Atelier de Restauro) – UFBA.
Fotografia José Dirson Argolo, 2005.
Figura 55 – Clotilde. Crayon, 1965.
Presciliano Silva, obra inacabada. Acervo da
Galeria do Solar do Ferrão – IPAC.
Fotografia da Autora
Nos depoimentos daqueles que privavam do seu convívio, a sua viagem para
tratamento no Rio de Janeiro não teve despedidas, mas também não marcou retorno, pois
sabia que este era pouco provável devido ao seu grave quadro clínico. Presciliano Silva,
embora sempre exaltado pela sua simplicidade, era cônscio do seu trabalho e da
representatividade dele na História da Bahia.
Neste estudo, conhecemos até onde nos permitiu a delimitação do mesmo, que foi
traçar um perfil de contribuição em pequena escala do pintor: ele demonstrou que todos
os seus trabalhos foram produtos de muita pesquisa. Que a participação em Salões e as
Exposições não eram meramente para “mostrar”, mas ele desejava um juízo crítico de sua
produção. Teve perspicácia em desenvolver qualitativamente as suas obras, pois a
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produção contínua de quase sessenta anos ininterruptos, talvez seja sem precedente na
História da Arte na Bahia, quiçá no Brasil. Este é um dos vetores que o artista Presciliano
Silva deixa como legado, para só posteriormente ser objeto de muitas reflexões. Faz-se
coerência quando nos reportamos aos mentores da base científica da obra de arte, que
segundo Arenas (1956, p. 175) “uma obra de arte, é um produto original elaborado pelo
homem com a intenção de comunicar algo: o produto é o resultado de uma atividade
humana e toda a complexidade da proposta em busca da perfeição”.
CONCLUSÕES
O estudo sobre a obra de Presciliano Silva nos proporcionou um gratificante retorno
sobre a supremacia do exercício sobre o tão propalado “dom”. Quando atingirmos um
maior e favorável desempenho na reflexão de cada traço, do efeito de cada reflexo de luz,
nas cores, ainda não teremos atingido todo o âmago desse artista que viveu na arte,
produzindo a vida! Em cada rosto, em cada paisagem, em cada recanto de seus interiores,
reside um silêncio eloqüente, progressivo.
Presciliano Silva teve sempre como ponto de partida das suas obras, exercícios
ininterruptos a lápis ou crayon. Porém não foi encontrado, até então, nenhum estudo
teórico, sendo por isso muito importante a elaboração dos escritos dos seus amigos mais
próximos, sobre o assunto que ele mais gostava: a pintura. Podem-se registrar os
depoimentos do filósofo Ruy Simões, que conviveu quase diariamente com ele, assim
como o poeta Carlos Chiacchio.
Permitimo-nos admitir que o artista em estudo criou um sistema pictórico contínuo
que foi o seu apoio para o desenvolvimento e alcance de uma técnica muito aprimorada,
chamando maior atenção nos estudos de interiores e de retratos.
Obteve uma ascensão social que permitia ter as suas obras em alta cotação. Desde
que, os intelectuais não poupavam elogios e conseqüentemente a burguesia os tomava
como indicador para grandes aquisições. Seu período áureo foi nas décadas de 20, 30 e
40, dos anos de 1900. Trabalhou consecutivamente durante sessenta anos.
Por conseqüência sua obra tem propriedades tardias do impressionismo francês
mais próximo dos pintores Camille Pissaro e Georges Seurat, no neo-impressionismo,
seguido as teorias cientificas sobre a luz.
Observa-se em alguns trabalhos de arte decorativa as características também do
rococó e do romantismo lírico. Não se observa uma resistência eloqüente em trabalhar
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temas históricos. E, com um deles, A Entrada do Exército Libertador, (1930) imortalizou-se
e seu academismo não o impediu de ser admirado. Teve uma postura muito favorável às
críticas, que podem ter sido balizas para a sua produção pictórica.
Declara-se que na história da Arte Baiana,o nome de Presciliano Silva tornou-se
como referência de grande pintor: abordou temas variados, como os retratos, paisagens,
interiores sacros, arte decorativa e temas históricos, (sendo estes últimos feitos por
encomendas de instituições).
Neste estudo não se esgotam as análises que devem ter continuidade devido à
visível proporção de obras existentes diante das estudadas. Atendemos à proposta de
uma pesquisa iniciada e demarcada para ter continuidade em outras vertentes que
suportem a identificação de um estudo científico sobre a obra do artista baiano Presciliano
Silva que deixou um legado de proporções consideráveis no conjunto da arte baiana e
também como membro partícipe da história de Instituição Escola de Belas Artes da
Universidade Federal da Bahia.
Sempre se deve levar em conta que a obra-de-arte pertence a uma esfera distinta
da natureza, e que a determinação das formas e dos conteúdos estão dependendo de um
modelo de sociedade concreta, manifestada pelo pintor, como sujeito criador da imagem,
considerado não só como indivíduo, mas c o m o membro de um grupo sócio-cultural
determinado e instalado em certo espaço de tempo. O academismo deve ser encarado
como produto da sua experiência e do seu saber.
O fator de repetir temas não destoava da sua postura diante da vida: Presciliano
Silva, enriquecia o mesmo tema com um novo ângulo. Por exemplo, a ele não
interessavam as soluções, os processos barrocos, mas o seu resultado ambiental como
tema. Tendo como pano de fundo a vida que devia ser registrada em pinceladas
magistrais.
SÍNTESE CRONOLÓGICA
PRESCILIANO SILVA (1883-1965)
 Biografia
 Cronologia
 Contexto
 Crítica
 Referências  Linhas
BIOGRAFIA_____________________________________________________________________
Pintor e professor, Presciliano Atanagildo Isidoro da Silva estuda na Escola de
Belas Artes da Bahia, Salvador, em 1896, com Manoel Lopes Rodrigues. Entre 1905 e
1908, torna-se aluno bolsista pelo Governo do Estado, o que lhe permite viajar a Paris
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(França) onde freqüenta a Academia Julian e estuda com Jules Lefébvre, Tony-Robert
Fleury e Adolphe Dechénaud. De volta ao Brasil, expõe individualmente pela primeira vez,
em 1908, na Escola Comercial da Bahia, em Salvador (Bahia). A partir do ano de 1913,
fixa residência em Salvador (Bahia), onde se torna professor de desenho na Escola
de Aprendizes Artífices da Bahia,
professor de pintura e, mais tarde, diretor da Escola de Belas Artes da Universidade
da Bahia. Em 1915, realiza trabalhos de decoração na nave da Igreja da Piedade e, em
1917, no Salão Nobre e Sala de Música do Palácio da Aclamação, no Quartel General e
na Prefeitura Municipal de Salvador.
Entre as exposições de que participa, destacam-se: Salão dos Artistas Franceses,
Paris (França), 1913; Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro; várias edições entre
1941 e 1947 (Medalha de Ouro, 1941 e a Medalha de Honra, 1947); Salão Paulista de
Belas Artes, São Paulo, 1948 (Primeiro Prêmio Governador do Estado e a Grande
Medalha de Ouro); Um Século de Pintura no Brasil, MNBA, Rio de Janeiro, 1952. Após a
sua morte, suas obras são expostas, nas mostras: “Comemorando um centenário”, na
Academia de Letras da Bahia, Salvador, 1983; Marinhas em Grandes Coleções Paulistas,
no Espaço Cultural da Marinha, São Paulo, 1998.
CRONOLOGIA______________________________________________________________
NASCIMENTO/MORTE
1883 - Salvador BA
1965 - Rio de Janeiro, RJ
LOCAIS DE VIDA
1908-1912 – Rio de Janeiro
1912/1913 – Paris (França) – Excursiona a Concarneau e prolonga sua viagem até a Bélgica,
retornando ao Brasil em maio de 1913
1913 – Salvador BA – Fixa residência
FORMAÇÃO
1896 – Salvador BA – Estuda com Manoel Lopes Rodrigues, na Escola de Belas Artes da Bahia
1905/1908 – Paris (França) – Aluno de Jules Lefébvre, Tony-Robert Fleury e Adolphe Déchenaud na
Academia Julian, com bolsa do Governo do Estado.
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VIAGENS
1912/1913 – Paris (França)
ATIVIDADES EM ARTES VISUAIS
Professor de Desenho da Escola de Aprendizes Artífices da Bahia, Professor de
Pintura e Diretor da Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia.
1915 – Salvador BA – Executa trabalhos de decoração na nave da Igreja da
Piedade
1917 – Salvador BA – Decoração do Salão Nobre e da Sala de Música do Palácio
da Aclamação, do Quartel General e da Prefeitura Municipal de Salvador
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS
1908 – Salvador BA – Primeira individual, na Escola do Comércio de Salvador
1963 – Salvador BA – Individual, no Museu de Arte Sacra da Bahia
1965 – Salvador BA – Individual, na Galeria Convivium
EXPOSIÇÕES COLETIVAS
1909 -- Rio de Janeiro RJ -- Expõe no Museu Comercial
1913 -- Paris (França) - Salão dos Artistas Franceses
1941/1947 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes – Medalha de
Ouro (1941) – Medalha de Honra (1947)
1948 -- São Paulo SP - Salão Paulista de Belas Artes – Primeiro Prêmio
Governador do Estado
-- Rio de JANEIRO RJ - Um Século de Pintura no Brasil, no MNBA
EVENTOS PÓSTUMOS
1983 - Salvador BA - “Comemorando um Centenário”, na Academia de Letras da
Bahia
1998 - São Paulo SP - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Espaço
Cultural da Marinha
CONTEXTO____________________________________________________
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ESCOLAS/MOVIMENTOS
Figurativo: Academismo, impressionismo
GÊNEROS/TENDÊNCIAS
Paisagem, Interior, Pintura de Gênero, Retrato
CRÍTICA_______________________________________________________
TEXTOS CRÍTICOS
“P. Silva tornou-se especialmente conhecido por seus interiores de sacristias e
conventos, gênero no qual não teve competidores. Para o gosto contemporâneo, porém,
talvez tenham mais apelo as paisagens de sua permanência em França, entre 1905 e
1908, e novamente entre 1912 e 1913. (...) A parte histórica e a decorativa da arte de
Presciliano não suportam o cotejo com as paisagens bretãs da fase imediatamente
anterior, assim como as paisagens feitas no Brasil, também empalidecem se aproximadas
às que pintou na França. Maior fortuna iriam conhecer, como ficou dito mais acima, os
interiores, alguns dos quais o livro de Clarival Valladares sobre o mestre reproduz, lado a
lado, o esboço em desenho e a pintura acabada – aquele curiosamente aparentado a
desenhos holandeses do século XVII, essa evocando o ‘chiaroscuro iridescente’ de
Rembrandt, em sua insinuação de vultos de permeio à rica matéria, com jogos de luz
reminiscentes de Caravaggio ou de La Tour. Pintura de silêncio e de recolhimento, que
nos leva a pensar na relação que forçosamente deve ter existido entre esse tipo de arte e
a surdez de que padeceu, desde a mocidade, o artista. Quanto aos retratos e tipos
regionais, que dominam a fase final de sua produção, parecem-nos o lado mais criticável
da obra do já então consumido pintor, aqui se revelando tão mais acadêmico e
tradicionalista (...)”
José Roberto Teixeira Leite
In LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de
Janeiro: Artlivre, 1988
REFERÊNCIAS_________________________________________________
EXPOSIÇÃO COLETIVA DE ARTES, 3., Araraquara, 1981. Catálogo. Araraquara: Biblioteca Pública Municipal
“Mário de Andrade”, 1981.
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MARIA Tereza Kerr Saraiva: em busca de novas paisagens. Apresentação de Adriano Colangelo. São Paulo:
Galeria de Arte SESI, 1986.
REFLEXOS do impressionismo no Museu Nacional de Belas Artes. Apresentação de Marinho de Azevedo e
Maria Eliza Carrazzoni. Rio de Janeiro: MNBA, 1974
CAMPOFIORITO, Quirino. História da Pintura Brasileira no Século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983
CAVALCANTI, Carlos; AYALA, Walmir, org. Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Apresentação de Maria
Alice Barroso. Brasília: MEC/INL, 1973-1980. (Dicionários especializados, 5).
LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988.
LOUZADA, Júlio. Artes plásticas: seu mercado, seus leilões. São Paulo: J. Louzada, 1984
VALLADARES, Clarival do Prado. Presciliano Silva: um estudo biográfico e crítico. trad. Tradução de France
Knox e Richard Spock. Prefácio de Clemente Maria da Silva-Nigra,Dom. Rio de Janeiro: Fundação Conquista. 1973.
(Fundação Conquista, 1).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Documentos manuscritos
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, ESCOLA DE BELAS RTES. Arquivo. Pasta n* 40.
Título – Atas da Congregação 1948 a 1951. N* do livro pesquisado – 87. Data do termo de
Abertura: 04 de junho de 1948. N* de p. 100. “Ata da sessão de Congregação da Escola
de Belas Artes, de 04 de junho de 1948”. P. 7-8
Referências impressas
ALVES, Marieta - Venerável Ordem 3ª de S. Francisco – Publicação da Prefeitura de Salvador,
1949 p.08/12.
ARENAS, José Fernandez. Teoria y Metodologia de la Historia del Arte. Reimpresión en
España: Anthropos, 1986. p.175.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 117-127
ARTE ABSTRATA e ARTE FIGURATIVA. Rio de Janeiro: Biblioteca Salvat de Grandes
Temas, 1979. v.7. 143p.
BASTOS, Zélia. Alguns pioneiros, A Tarde, Salvador, 12 out. 1992. Artes Visuais, p. 2
BAUMGART, Fritz. Breve História da Arte. 2a. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p.249282.
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BÉNÉZIT, E. Dictionaire critique et documentaire dês peintres, sulpteurs, dessinatures et
graveurs. 9a.ed. Paris: Gründ, 1976. v.2, p.369
BIBLIOTECA TEMPO UNIVERSITÁRIO, Rio de Janeiro:tempo brasileiro, 1955-1967,
Walter Benjamin: a modernidade e os modernos 1975. n* 41p.07-31.
CALDERÓN, Valentin. Evolução das artes plásticas na Bahia no século XX. (1912-1974).
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CANCLINI, Nestor García. A socialização da Arte: teoria e prática na América Latina. São
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COELHO, Ceres Pisani Santos. Artes plásticas; movimento moderno na Bahia. 1973.
223p. Tese (concurso de professor assistente do Departamento I da Escola de Belas
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[s.n.], 1933. “Folder”.
CATÁLOGO da exposição de quadros de Presciliano Silva. Salvador: Sede dos Fantoches
da Euterpe, 1942. “Folder”.
CENTENÁRIO DE PRESCILIANO. Salvador: Academia de Letras da Bahia/Secretaria de
Educação e Cultura do Estado da Bahia, 19 maio 1983. “não paginado”.
COMO RECONHECER A ARTE ROCOCÓ. São Paulo: Martins Fontes, 1978-1984. v.6.
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DENVIR, Bernard. O Fauvismo e o Expressionismo. Barcelona: Labor S.A. 1977. p. 63
DESENHOS de Presciliano Silva foram doados pela Séc. Boletim Informativo do IPAC.
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DUVIGNAUD. Jean. Sociologia da Arte. São Paulo: Forense, 1970. 196p.
GALERIA Solar do Ferrão expõe quarenta obras. A Tarde, Salvador, 19-05-1986.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 4a. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. 506p.
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--------
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3 PINTORES BAIANOS – (doação Viúva Otávio Ariani Machado). [Rio de Janeiro]: [Museu
Nacional de Belas Artes], [19...?]; Catálogo de exposição
TORRES, Octávio. Biografias resumidas dos professores da Academia e da Escola de
Belas Artes da Bahia desde a sua fundação: Em 1877 até hoje 1955. Salvador: EBA-UFBA
1955. “datilografado”; “não paginado”.
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- Disponível em <http:www.correiodabahia.com.br/> Acesso em 05 de fevereiro de 2005.
---------------------------Presciliano Silva,/Apagando as tintas. Idem.
---------------------------Presciliano Silva,/Esboço de artista. Idem
---------------------------Presciliano Silva,/O pequeno selvagem. Idem
---------------------------Presciliano Silva,/Sinônimo de Pintor. Idem
http:/ /www.itaucultural.org.br
Anexo A
REALISMO – “A renúncia deliberada de Gustave Coubert (1817-1877) – a efeitos fáceis e sua
determinação de representar o mundo tal como a via encorajou a muitos outros a rejeitarem o
convencionalismo e a seguir apenas sua própria consciência artística”. Gombrich, 1979, p.403
Anexo B:
IMPRESSIONISMO – “Edward Manet (1832-1883) – quer que ganhemos a impressão de luz,
velocidade e movimento, dando-nos nada mais do que uma escassa sugestão das formas que emergem da
confusão. Enfim, o principal interesse do impressionismo residia nos efeitos de luz e cor. Gombrich, 1979,
p.409/413”
Anexo C:
ROCOCÓ - “Antoine Watteau (1648-1721) -- Começou a pintar suas próprias visões de uma vida
divorciada de todas as privações,... uma vida fictícia de alegres piqueniques em parques de sonho onde
nunca chove, de saraus musicais onde todas as damas são belas e todos os enamorados graciosos, uma
sociedade em que todos se vestem de refulgentes sedas sem ostentação, e onde a vida dos pastores e
pastoras parece ser uma sucessão de minuetos... Para muitos, passou a refletir o gosto da aristocracia
francesa do começo do século XVIII, que é reconhecido como o período rococó – a predileção por cores e
decorações delicadas que sucederam ao gosto mais robusto do período barroco e que se expressou em
alegre frivolidade. “ Gombrich, 1979, p.359.
Anexo D:
MANOEL LOPES RODRIGUES - O MESTRE DE PRESCILIANO
(QUERINO, apud VALLADARES, 1973, p.45/48 )
“principiou os estudos de desenho e pintura com seu pai, João Francisco Lopes Rodrigues. Em 1876
foi nomeado professor de 1ª classe de desenho do Lyceu de Artes e Ofícios e posteriormente da Escola de
Belas Artes.” (...) “De 1882 a 1885esteve no Rio de Janeiro sendo encarregado com o extinto literato Valle
Cabral, da parte principal da Exposição Médica Brasileira”.(...) “Executou os desenhos do Atlas de Moléstias
da Pele, do Dr. Silva Araújo; Atlas de Moléstias das Crianças, do Dr. Moncorvo; Atlas da Clínica de Olhos, do
Dr. Moura Brasil; Atlas da Clínica de Morféticos, do Dr. José Lourenço de Magalhães, e bem assim as
aquarelas de anatomia, para a Escola de Medicina do Rio de Janeiro”.
Após esse período de realismo-excessivo, mediante a matéria médica, Manoel Lopes Rodrigues
exerceu no Rio de Janeiro a ...”notícia e crítica do movimento artístico”, sendo marcante a crônica que fez
sobre os expositores de 1884 na Gazeta Literária. Quando escreveu o prefácio para a primeira exposição de
Presciliano, não era o mestre que escrevia para o discípulo querido, mas o artista e intelectual capaz, que
praticava jornalismo e crítica de arte, e era um dos mais eruditos artistas do país.
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Em 1913, volta a escrever sobre Presciliano num folhetim literário, do grupo A NOVA CRUZADA.
Chamava-se OS ANNAES, Revista Ilustrada de Letras, Ciências, Arte e História. Era o nº 4 do ANO III, julho
de 1913 e de Lopes Rodrigues são os seguintes trechos que vamos destacar: A agremiação intelectual mais
orientadoramente artística que encontrei em nossa terra, foi esta – (referia-se A NOVA CRUZADA) – onde vi,
com a formação do talento de muitos moços que hoje são notáveis homens de letras, o estímulo fecundante
de que Presciliano e Philomeno Cruz foram alvo, achando, naquele meio bendito, um centro intelectual
animador.
“me lembro ainda do bem que me fez a convivência naquelas palestras, aquecidas pelo fogo
crepitante das estrofes adoráveis de Mangabeira (Francisco), Álvaro Reis, Galdino de Castro, Kilkerry
(Pedro), Arthur de Salles, Fernando Caldas e outros”.
“é incontestável que a existência da NOVA CRUZADA e a entrada para ela destes discípulos,
concorreu para a diretriz da aplicação deles”.
”Presciliano, criança ainda, conviveu neste meio decente, enquanto outros procuravam exercitar-se
nas banalidades comuns. Isto lhe robusteceu a vontade”.
Noutro trecho, o mestre se insurge contra o tratamento que então se dava ao artista: ...Presciliano
precisa de amparo da sociedade em que vive e do Governo que a dirige.
Pela data, 1913, depois que Presciliano regressava do 2º estágio, o protesto de Lopes Rodrigues,
dizia mais do seu próprio exemplo. Jamais a sociedade em que viveu, e nem o governo de quem dependeu,
poderão ser perdoados pelo desconhecimento a que relegavam aquele notável mestre, sem favor, um dos
mais eruditos dos nossos artistas do século dezenove.
Nada diminui o sentimento de culpa, que cabe a uma sociedade, que após a morte do mestre
marginalizado promove uma exposição póstuma de cerca de cinqüenta quadros ...por iniciativa de amigos e
discípulos agradecidos do pranteado pintor baiano, visando com a venda dos quadros construir um
patrimônio para a família do malogrado artista. (Renascença – Rev. Ilust. Bahia, Ano II, nº XXVII, Bahia –
março 1918). A triste história de Lopes Rodrigues poderá ser revelada nos cronistas da época.
Morreu no obscurantismo doloroso dos que caem sem ilusões. A vida foi-lhe um eterno amargor e a
crença e a esperança no julgamento sincero dos homens, uma utopia dolorosa e sangrenta...
A tragédia de Lopes Rodrigues na Bahia do começo do século não era a falta de fregueses para
seus trabalhos, mas a falta de respeito desses por seu justo valor.
É do próprio Lopes Rodrigues um certo texto de sentido ambíguo, aparentemente dedicado a
Presciliano, mas nas entrelinhas, revelador de sua auto-análise:... Talvez então o neurastênico que eu sou,
orgulhoso de o ter descoberto, contente de o ter visto trabalhador e honesto, lhe atire com as flores sinceras
do meu aplauso o que a vaidade puder me dar de eloqüência entusiasta do meu amor de mestre, afirmandolhe: não me enganei!
Aparentemente o número de trabalhos executados por Manoel Lopes Rodrigues, negaria a
veracidade da frustração dramática e confessada pelo próprio artista. Acontece, que inúmeros trabalhos seus
foram encomendas de entidades oficiais e societárias, todas ditadas ao gosto do cliente e é a esse acervo de
decorações áulicas e retratismo convencional que ele chamou de balcão mercante...
A decoração do palácio do governo (Palácio Rio Branco da Bahia), do palacete de residência do
governador, do salão nobre do Conselho Municipal de Salvador, da Assembléia Legislativa do Estado, do
salão nobre da antiga Faculdade de Medicina, de residência de comendadores, diversos retratos de lentes
da Faculdade de Medicina já falecidos, pintados pela fotografia, outros de benfeitores da Santa Casa e etc.,
não trouxeram a Manoel Lopes Rodrigues a tranqüilidade de uma obra realizada.
Obras no Museu de Arte da Bahia: há uma Sala consagrada no seu nome, com as seguintes obras:
“Dois veos” (tela, 1890 – 1,93 x 1,45) - “Paisagem Romana” (tela, s/d – 0,78 x 0,98) – “Nu” (tela, Paris, 1899
– 0,19 x 0,38) - “O Adeus” (tela considerada a obra-prima do pintor, egressa da coleção da Vva. Otávio
Ariani Machado, e doada ao Museu de Arte da Bahia pelo Banco da Bahia S. A.) – “La Boheme” (tela, cópia
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do original de Franz Hals) – “A República” (tela alegórica, 1896, Roma, 2,30 x 1,20) – e uma “Natureza
Morta” sem outras indicações.
O Museu Nacional de Belas Artes – Rio de Janeiro - possui hoje, oito obras de Manoel Lopes
Rodrigues. Os quadros da doação da Vva. Otávio Ariani Machado, foram: “Cabeça de Cão” (tela, 0,340 x
0,260) – “Natureza morta”, (tela, 0,460 x 0,560) – “Cozinha Bretã” (tela, 0,620 x 0,470) que agora se somam
aos quadros já existentes, intitulados: “Fundo de Quintal”, “Auto-retrato”, “Retrato da vovó”, “A Forja” e
“Quintal”. –
Nada mais sabemos informar do acervo disperso. O conhecimento dos quadros citados nos permite
reconhecer como extremamente bem pensadas, aquelas palavras de Gonzaga Duque situando Lopes
Rodrigues como exemplo de organização superior de um artista completo.
Se entendermos como verdadeira Arte a obra espontânea trazida de seu atelier de Paris,
encontraremos nas anotações de Manoel Querino sessenta e sete títulos, sendo alguns genéricos.
Infelizmente a relação não distingue estudos e cópias, o que dificulta inclusive a identificação dos títulos dos
catálogos atuais, com as denominações registradas em 1908.
Anexo E:
A ACADEMIA JULIAN
(QUERINO, apud VALLADARES, 1973, p.30/32 )
A primeira referência a ser feita para a boa compreensão da formação escolar de Presciliano,
prende-se ao Histórico da Academia Julian, onde se fixou e estudou. O seu nome, deve-se ao seu fundador,
o pintor Rodolphe Julian, nascido em La Palud (Vaucluse-Fr.) em 1839 e falecido a 12 de fevereiro de 1907,
em Paris. Na edição do Dicionário Crítico e Documentário de E. Bénézit, Rodolphe Julian foi discípulo de L.
Cogniet e de Cabanel, participando do Salon de Paris a partir de 1865 com pintura de gênero e retratos.
Não fosse a ligação do seu nome á fundação do ensino de arte que instituiu, congregando um
professorado dos mais em evidência e admitindo elevado número de alunos, teria sido esquecido em plano
menor.
A Academia Julian, graças ao seu professorado de pintores, escultores e desenhistas, alcançou em
breve prestígio artístico e reputação mundial. O próprio Julian aos poucos cessou de pintar, dedicando -se
inteiramente à administração da escola. Foi, de fato, excelente administrador, alcançando fortuna
considerável e, entretanto, soube se manter generoso permitindo a muito dos alunos empobrecidos
concluírem gratuitamente seus estudos. Por isso mereceu grande popularidade entre os estudantes, tendo
sido condecorado com a Legion d’honneur em 1881.
Anexo F:
OS MESTRES FRANCESES DE PRESCILIANO
(QUERINO, apud VALLADARES, 1973, p.33/36 )
Presciliano teria conhecido pessoalmente Rodolphe Julian em 1905 (1º estágio) quando o diretor
estava com sessenta e seis anos de idade. A Academia Julian recebia alunos e estagiários de todo o mundo.
Não impunha, porém, a aceitação de uma filosofia estética, ou a obediência rígida aos cânones do
academismo.
Habilitava-os para o exercício dos processos de desenho, pintura e escultura, sem ditar caráter
estilístico, de grupo ou de época. Vê-se no fato de que nos diversos estagiários brasileiros da Julian, havia
grande diversificação estilística. Cada qual voltou enriquecido de técnica e discernimento e livre para a
formulação da linguagem individualizada.
Em 1883 Benedito Calixto estudou na Academia Julian com Gustave Boulanger, Tony Robert-Fleury
e Jules Lefèbvre; João Baptista da Costa estudou com os dois últimos, em 1896; Belmiro de Almeida foi
discípulo de Jules Lefèbvre, bem como Luís Cristofe, Dário e Mário Villares Barbosa, Manuel Madruga.
Tarsila do Amaral e muitos da mesma procedência.
O PRIMEIRO MESTRE - ADOLPHE DÉCHENAUD
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O menos referenciado dos mestres de Presciliano, entre os três que lhe ensinaram na Julian, parece
ser Adolphe Déchenaud, no ponto de vista de matéria bibliográfica, embora no verbete de E. Benezit apareça
grandemente premiado. Nascido em Saône-et-Loire (1868) e falecido em Paris em 1929, ensinou Presciliano
quando este tinha vinte e dois anos e ele, o mestre, trinta e sete. Déchenaud foi discípulo de Boulanger, de
Benjamin-Constant (Paris 1845-1902) e de J. Léfébvre. Obteve todos os prêmios possibilitados à carreira
artística, em 1891, 1894, 1899, 1900 e 1901, Cavalheiro da Legião de Honra em 1908, Medalha de Honra
em 1913 e Membro do Instituto em 1918. Competia nos salões de pintura histórica e mitológica, ganhando
conceito todavia, com as suas telas de cenas populares e retratos. Em 1928, um ano antes de falecer, teve a
ventura de ver o Salon organizar uma grande retrospectiva de sua obra.
O SEGUNDO MESTRE – JULES LÉFÉBVRE
Jules Léfébvre, renomado pintor retratista e de gênero, nascido em 1836 e falecido em 24 de
fevereiro de 1911, teve como principal mestre Leon Cogniet. Matriculou-se na Escola de Belas Artes em
1852 e três anos após já se inscrevia no Salon. Com a tela A MORTE DE PRÍAMO, conquistou em 1861, o
Prêmio de Roma. Participou do Salon de Paris, obtendo prêmios em 1865, 1868 e 1870. Na Exposição
Universal de 1878 conquistou o Primeiro Premio e em 1886 a Medalha de Honra. Em 1891 sucedeu a
Delaunay no Instituto. A cr´tica destacou-o como retratista, reconhecendo seu desenho correto, porém frio.
Sua pintura foi prejudicada pelo formulário escolar, convencional. Contudo deixou obra
representativa do romantismo neoclássico, estando fixada nos Museus de Amiens, de Lyon, do Louvre de
Paris e no Museu de Rouen. Além de numerosa produção em telas, Jules Léfébvre é o autor das pinturas
decorativas do Hotel de Ville de Paris.
O TERCEIRO MESTRE – TONY ROBERT-FLEURY
Tony Robert-Fleury, foi o terceiro mestre no período de 1905 a 1908.
O verbete biográfico de E. Benezit, indica-o como pintor de história e de costumes, nascido em Paris
em 1837. Faleceu naquela cidade em dezembro de 1912. Filho do pintor e litógrafo Joseph Nicolas RobertFleury (Colônia, 1797 - P a r i s , 1 890), detalhe de importância para um comentário posterior. Dados
biográficos de Tony, discípulo de Paul Delaroche e de Leon Cogniet. Sua primeira presença no Salon data
de 1864 e sua aceitação como societário dos “Artistes Français” ocorreu em 1882 após uma série de
premiações em 1866, 1867 e 1870 (Medalha de Honra). Foi durante longo tempo, professor da Academia
Julian. Suas principais obras se espalham nos mais importantes museus e instituições, como Metropolitan
Museum de Nova York, Munique, Luxemburgo, Paris, e um famoso painel da Salpétrière, muito freqüente em
cópias noutros manicômios, representando Pinel libertando os loucos de suas correntes.
Bernard Dorival no ensaio A Geração do Segundo Império, no capítulo Difusão e Academização da
Modernidade ( degenerescência da Modernidade e os imitadores franceses de Manet e Degas Academização da modernidade noutros países...) consigna uma denúncia desagradável sobre o renitente
Robert-Fleury, pai de Tony, na política suja dos Salons: C’est lê romantique écletique Robert-Fleury qui
promet à Stevens la médaille d’or síl abandonne sés sujets modernes; c1est lê jury du Salon de 1859 que
refuse les envois de Fantin-Latour et de Whistler...
A presença de Joseph-Nicolas Robert-Fleury, como reacionário querelante, não se limita a um só
exemplo . Ele também é personagem e signatário de protesto contra a fotografia, quando esta, em
1859...pela primeira vez tinha direito de tomar lugar na vizinhança imediata da pintura, a escultura e a
gravura.
Diante do prestígio da fotografia, foi apresentado as autoridades estatais um célebre manifesto do
qual André Vigneau, autor do capítulo A FOTOGRAFIA para a História da Arte da Plêiade, transcreve o
seguinte trecho: Considerando que a fotografia se resume numa série de operações manuais, que sem
dúvida requerem alguma habilidade de manipulação que lhe é específica, mas que através de seus
resultados não podem, em nenhuma circunstância ser admitidas como obras, fruto da inteligência e do
estudo de arte, por estes motivos, os artistas que subscrevem protestam contra toda admissão que pudesse
ser feita à fotografia, como arte.
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REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA
Ano 2, nº 2, outubro 2005
ISSN: 18075479
O primeiro que assina este famoso documento é Ingres, o segundo é Flandrin e o terceiro é Robert Fleury, pai de Tony. Entre os demais, lá estão Puvis de Chavannes, Vidal, Lequesne, Marinet, Jalabert,
Lecomte e outros.
Não é tão fora de propósito buscar este episódio de 1962 para explicar as raízes de Presciliano
Silva. Mais para expô-las que explicá-las, pois já se vê numa delas a filosofia de Ingres, J. Léfébvre e G.
Boulanger que em 1882 ensinaram na Academia Julian a Felix Valloton, sob aquele rigor do realismo
neoclássico.
Na mesma década, o pompier Tony Robert-Fleury ensinava a Edouard Vuillard. É inevitável
reconhecer na história da Academia Julian o seu patente e incompreensível compromisso de origem com o
movimento de permanência que historicamente se identifica com o ecletismo acadêmico.
Um dos atributos de maior destaque de Jules Léfébvre, é o de ter sido o continuador da tradição,
para quem toda a alta sociedade francesa posou entre 1885 e 1900.
O timbre da Academia Julian que se vê em um certificado de 1895 menciona, no elenco de
professores, Bourguereau, Ferrier, Léfébvre, T. Robert-Fleury, Laurens, B. Constant, Doucet, Baschet e
Puech. Não inclui, então, Charles Leandre, que conviveu com Presciliano entre 1906 e 1908, a quem deu um
depoimento muito ponderado: “Há mais de dois anos tenho conhecido como vizinho de um atelier um jovem
artista brasileiro, Presciliano Silva, que me pede conselhos e me submete, várias vezes, muito discretamente
seus estudos, retratos e paisagens. Sempre verifiquei nele um sentimento real da natureza e todas as
qualidades que anunciam um temperamento de artista”...
AGRADECIMENTOS
MARIA LUIZA D’ERRICO GANTOIS, PROF. DR. LUIZ ALBERTO FREIRE, SIMONE
TRINDADE, PROFESSORA ANA MARIA VILAR, MARIA DA CONCEIÇÃO SILVA,
PROFESSOR JOSÉ DIRSON ARGOLO, JÚLIO CÉSAR MELLO OLIVEIRA, DÍLSON
MIDLEJ, BONELLI, AFRANIO SIMÕES, OS COLEGAS DA TURMA, CÂMARA DE
VEREADORES DE SALVADOR, QUARTEL GENERAL DA VI REGIÃO MILITAR,
ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA, PALÁCIO DA ACLAMAÇÃO, MUSEU CARLOS
COSTA PINTO, MUSEU DE ARTE DA BAHIA, INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO
DA BAHIA, ESCOLA DE BELAS ARTES DA UFBA, FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO
DA BAHIA – DIVISÃO DE MUSEUS, IPAC - INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO E
CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA, GALERIA DO SOLAR DO FERRÃO E TODAS AS
PESSOAS QUE CONTRIBUÍRAM PARA ESTE TRABALHO.
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1 UM ESTUDO SOBRE PP RR EE SS CCII LLII AA NNOO SS II