REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 UM E STUDO SOBRE P PR RE ESSC CIIL LIIA AN NO O SSIIL LV VA A Ana Maria D’Errico Gantois1 AUTO RETRATO AOS 45 ANOS, 1938 Este artigo enfoca a obra do pintor Presciliano Silva (1883-1965), que nas primeiras décadas até meados do século XX notabilizou-se com uma pintura de excelência. Singular nos gêneros de retrato, paisagens e interiores de igreja, ele, até hoje, tem o reconhecimento da sociedade o que justifica um estudo de cunho cientifico. This article focuses the oeuvre of the Bahian's painter Presciliano Silva (1883-1965) who became notable in the first 20th. century's decades up to the middle of that century due to the excellence of the quality of his paintings. Remarkable in the genres of portrait, landscape and church's interiors he has earned the society's recognition, fact that justifies one study of scientific interest. PALAVRAS-C H A V E : P i n t u r a b a i a n a . Século X X paisagens. Pinturas de retratos. Pinturas de igrejas. ( 1 9 1 0 -1 9 4 0 ) . P i n t u r a s d e 1 Museóloga formada pela UFBA, com especialização em metodologia do ensino superior (FAMMETIG), aluna especial do Mestrado em Artes Visuais da Escola de Belas Artes - UFBA. 1 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 K E Y W O R D S : B a h i a ' s p a i n t i n g 2 0 t h c e n t u r y a r t ( 1 910-1940). Landscape's painting. Portraits'painting. Interiors of churche's painting. INTRODUÇÃO Este artigo foi elaborado para a Pós-graduação em Artes Visuais, da Escola de Belas Artes, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção da avaliação da disciplina Artes Visuais na Bahia, disciplina ministrada pelo Prof. Dr. Luiz Alberto Freire, no primeiro semestre do ano de 2005. A História da Arte na Bahia imprescinde de estudos sobre a sua produção e seus agentes. Tal situação pode ser atribuída à falta de tradição de registros sistemáticos, em todas as tendências artísticas. É consenso geral, admitido em todas as gamas, a falta de informações sobre a nossa história, mais especificamente no que se refere ao Patrimônio Artístico. É procedente uma preocupação acadêmica, pois é neste âmbito que há de se encontrar elementos estimuladores para o despertar de um maior interesse pela nossa arte, conseqüentemente, por vários fatores de nossa vida. Os elementos norteadores estão embutidos na História Geral da Bahia, do Brasil e da Civilização. Propomos desenvolver nesse estudo sobre a obra de Presciliano Silva, os primeiros passos para uma pesquisa em maior escala. Para definirmos o universo a ser pesquisado, fizemos este trabalho disposto pela cronologia de parte da obra de Presciliano Silva, até quando nos permitiu delinear um cerceamento do núcleo dos eixos estético e histórico para atingir a produção artística e pictórica. Optamos, em síntese, pelo método de pesquisa analítico-comparativo, a partir de leituras e estudo de fontes primárias e secundárias, com o objetivo profícuo de elaborar a trajetória do Pintor e também em parte, do formador partícipe de outros artistas, alunos ou não da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia – EBA-UFBA2. A partir do século XIX é que as Instituições se configuravam como tais, porque até então existiam cursos livres de formação. O Liceu de Artes e Ofícios preparava mão de obra para um mercado que atendia às aspirações das influências européias (portuguesa, francesa, inglesa), sem a preocupação devida, até o momento, de desenvolver um “corpus” de saberes. 2 2 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 ANTECEDENTES Em meados do século XIX, enquanto o Realismo (Anexo A) na França ainda estava em voga, surgiu o Impressionismo (Anexo B), considerado o primeiro movimento da arte moderna por seu rompimento com a forma. Era uma espécie de último arranco do Realismo, que desejava, então, ser instantâneo, retratar o momento presente: “o fugidio de uma paisagem, iluminada pelo sol, mas que logo após será escurecida pelas sombras da noite” (DENVIR, 1985, p. 8). É a impressão que o artista tem em um determinado momento e de acordo com a emoção individual por ele sentida. Assim, para pintar os fenômenos da natureza (o sol reverberando na água, a luz que ilumina os galhos de uma árvore), os seus pintores procuravam ser rápidos. Daí originaram-s e as pinceladas separadas, dando, de perto, a idéia de borrões. Só de longe é que o espectador entende inteiramente o tema de um quadro impressionista ao ver as pinceladas se unirem, o que se chamou de mistura ótica (figura 1). Figura 1 - A horta (detalhe). Óleo sobre tela, 1879. Camille Pissarro. Fonte: ARTE ABSTRATA E ARTE FIGURATIVA, 1979, p. 45 Essa arte intuitiva e sem regras pré-fixadas continua com um impressionismo oposto; o Neo-impressionismo (ou pontilhismo), que tenta dar àqueles movimentos regras científicas, como as extraídas da teoria ótico-física de Cheuvreul. O francês Seraut (18591891) foi seu maior nome (figura 2). 3 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 2 - Modelo de frente. Óleo sobre tela, 1887. George Seurat. Fonte: www.sulinet.hu/ eletmod/hogyantovabb/tovabbtanulas/elokeszito/ muveszettortenet/10het/seurat.jpg No Brasil, Visconti (1867-1944) foi o maior expoente do Impressionismo e do Pontilhismo (figura 3), que, segundo opiniões de estudiosos tais como o mestre Manoel Lopes Rodrigues e posteriormente Valladares, identificam influência na obra de Presciliano Silva. Fig. 03 - Nu. Óleo sobre tela, 1895. Eliseo Visconti, Museu de Arte de São Paulo. Fonte: www.artunframed.com/ eliseu_visconti.htm 4 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 INSPIRAÇÃO, INFLUÊNCIA OU CONSEQÜÊNCIA? Alguns dos fatores que estão no tópico ANTECEDENTES ver-se-ão presentes em alguns momentos, tanto no eixo temático, como no eixo técnico da obra de Presciliano Silva. Porém há uma outra fase em que não persistiu ou que ele ainda não havia estudado como característica, o Impressionismo. Presciliano formou, indubitavelmente, um conjunto de pintura acadêmica sem precedentes até então estudados no Brasil (figuras 4 e 5). Figura 4 - Nu feminino. Desenho a carvão, 0,63 x 0,46m, provavelmente início do séc. XX Presciliano Silva. Coleção Galeria Solar do Ferrão – IPAC Fotografia da autora. Figura 5 - Cabeça de negra. Desenho a carvão, 0,60 x 0,45m, provavelmente início do séc. XX Presciliano Silva. Coleção Galeria Solar do Ferrão – IPAC Fotografia da autora. P. Silva, nascido Presciliano Atanagildo Isidoro Rodrigues da Silva, a 17 de maio de 1883, em Salvador – Bahia, era filho de Possidônio Isidoro da Silva e Clotilde Rodrigues da Silva. Morava na Rua das Mercês, atualmente trecho da Avenida Sete de Setembro. Aos sete anos já projetava seu futuro nos desenhos feitos a carvão no passeio cimentado. Este era a sua tela e os transeuntes os seus motivos. Desenhava em traços rápidos e ágeis. Morava na mesma rua o poeta gaúcho Alexandre Fernandes, que o estimulava avaliando seus erros e acertos. Isto, nos idos de 1890, quando iniciou os seus estudos primários, no Colégio do França, o Sete de Setembro. Em 1896, Presciliano ingressou na Escola de Belas Artes, tendo antes freqüentado o Liceu de Artes e Ofícios, onde conheceu o seu eterno mestre Manoel Lopes Rodrigues (Anexo C). Este tem uma trajetória peculiar e tendo por base as informações de Manoel Querino, referências de uma dedicação ímpar, de um mestre a um discípulo em todos os momentos de sua vida. Em um texto antológico, está contida toda a admiração do respeitado mestre pelo jovem discípulo que fez a “traquinagem desrespeitosa” de copiar 5 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 uma obra do Mestre (1899) às escondidas. Posteriormente em um momento lendário, o Mestre prenunciou: Talvez então, o neurastênico que eu sou, orgulhoso de ter descoberto, contente de o ter visto trabalhador e honesto, lhe atire com as flores sinceras do meu aplauso o que a vaidade puder me dar de eloqüência entusiasta do meu amor de Mestre, afirmando-lhe: Não me enganei! (LOPES RODRIGUES apud PRESCILIANO SILVA, 1984, p.216). Com o seu primeiro estudo registrado iniciou-se na prática de desenho do período escolar, quando discípulo de Manoel Lopes Rodrigues; fez desenhos a lápis, exercício praticado na Escola de Belas Artes (05/06/1896) – representando modelo de gesso, à mão livre (figura 6). Figura 6 - Desenho a lápis de modelo de gesso (à mão livre), 05/06/1896. Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.28. Em 1902, obteve Medalhas de Ouro e Prata em desenho e escultura, ao graduar-se pela Escola de Belas Artes e pelo Liceu de Artes e Ofícios, quando recebeu o Prêmio 6 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Caminhoá3, que lhe propiciou viagem de estudo à Europa. Momentos decisivos na sua escolaridade foram os períodos em que esteve na França, primeiro de 1905 a 1908 na Academia Julian, fundada pelo pintor Rodolphe Julian (1839-1907). A Academia Julian (Anexo D), graças a seu professorado alcançou prestígio artístico e reputação mundial. Três mestres franceses (Anexo E) marcaram a formação de Presciliano na Academia Julian: Adolphe Dechaneaud (1868-1929); Jules Lèfèbvre (1836-1911) e Tony Robert-Fleury (1837-1912). Os demais elementos de referência na formação de Presciliano Silva contribuem para entender melhor a clareza na sua trajetória de pintor de temas históricos, arte decorativa, retratos, sem ter se prendido a um só tema; contudo, os interiores é que lhe deram tanto prestígio, com um compromisso inquestionável com o aperfeiçoamento da sua técnica em precisos estudos antes da definição. A partir do ano de 1907, viajou pela Bretanha (França), estagiando em Concarneau-Finisterra, onde produziu considerável coleção de telas, até princípios de 1908. Na Academia Julian fez desenhos de modelo vivo (figura 7). Em monumentalidade e expressão, destacam-se seus traços que reproduzem uma anatomia realística, postura com uma mobilidade singular (figura 8). 3 A obra com a qual recebeu tal título não foi identificada bem como a documentação referente a esse prêmio. Como o processo de pesquisa em arquivo é ininterrupto, daremos continuidade em busca do que não foi encontrado até então. 7 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 7 - Desenho de modelo vivo, 1905, Paris, 0,60 x 0,45m. Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p. 32. Figura 8 - Outro desenho de modelo vivo, 1905, Paris, 0,60 x 0,45m. Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p. 35. Já em outros momentos, superados os imprevistos da dificuldade imposta pela diminuição substancial da acuidade auditiva, aos 24 anos, que lhe cerceava as possibilidades de comunicação. Momentos de uma angústia, só superados com uma dedicação extrema e o reconhecimento por seus mestres franceses, de que “sabia desenhar!” (BARRETO, 2004). Daí, a mais largos passos, produzia compulsivamente. Concluindo o primeiro estágio, mas com uma produção inigualável, o que lhe proporcionou, no seu retorno, em 18 de julho de 1908, organizar a sua primeira exposição individual para 23 de dezembro na Sala Nobre da Escola Comercial da Bahia, ao todo com 62 obras, entre telas, desenhos e guaches. O Bebedor de Cidra (figura 9) encantou o maior crítico de arte brasileira daquela época, Gonzaga Duque: 8 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 “O tipo parece Kodackisado. É um manso pastrano feito de abegão ou dearraes, de cara anfracta, escarafunchada e estúpida. Alcooliza-se e medita, mas a meditação não lhe passa dum remígio d’azas baixas, a espanejarem o solo. E a expressão da máscara, minudências do vestuário, acessórios do facto, aí estão trabalhados com igual cuidado e tocante preocupação de fazer justo, certo e verdadeiro.” – (DUQUE, apud. VALLADARES, 1973,p.77). Figura 9 - Bebedor de Cidra, óleo sobre tela, 1907, s/dim. - Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p. 41. N a Lição de Tricot (figura 10), a fatura impressionista é um determinante, no tratamento da pintura feita à luz natural, a implacável marca das pinceladas ligeiras, as fisionomias apenas demarcadas. 9 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 10 - Lição de Tricot, Concarneau,1908, 0,34 x 0,46 - Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.44 Figura 11 – Lavadeira, Rio de Janeiro, 1911, 0,61 x 0,53m - Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.50 Como outro traço de ansiedade em estar aqui e alhures, em 1909 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde também expôs e, não só buscou retornar à França, como também 10 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 pintar à luz local um tema típico das regiões urbanas brasileiras, expresso na obra Lavadeira (figura 11 acima). Finalmente vislumbrou e concretizou o seu retorno à França (em 1912), detendo-se com maior maturidade nas visitas aos museus para que em uma análise avaliasse e definisse o seu caminho. Fixou-se em Concarneau e fez deste recanto a referência de muitas obras, de uma inspiração inexplicável. Já por muito tinha superado os traumas de estar fora de seu país, e a pátria agora, era aquela que o acolhia e onde dava asas à sua imaginação, aos seus estilos, enfim, mais uma vez, ele, mais do que ninguém percebia que estava se encontrando através do que fazia. E na fase identificada de suporte de tons graves temos como exemplar estrondoso Velha de Concarneau (figura 12). Figura 12 - Velha de Concarneau, 1912, 0,45 x 0,36m - Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.60 O hábito de repetir temas, como o Mercado de Concarneau (figura 13), fazia sempre que a obra tivesse a sua perspectiva ampliada. 11 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 13 - Mercado de Concarneau. 1912, 0,79 x 0,98m - Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.65. Já tendo avançado nos seus estudos e prestes a vivenciar uma realidade muito ameaçadora e complexa, a explosão da 1 a Grande Guerra Mundial, optou por voltar ao Brasil, não antes de ter aceitado e exposto no Salão Oficial dos Artistas Franceses, uma obra sua: Retrato de Mme. Le Clinche. Retornando ao Brasil, instalou-se definitivamente em Salvador – Bahia, em maio 1913. Em junho fez a sua segunda exposição em Salvador, tendo trazido em sua bagagem, grande número de obras: 47 telas e apenas uma feita na Bahia. Não há de passar despercebido o diferencial que há de luz nas obras, com o marco de um novo tempo de retorno às suas raízes. E o que demonstrava todo esse sentimento era a sua expressão artística bem impressionista, mas se há coincidência nas pinceladas, há uma diversidade gritante na luz presente em Farol Bretão (figura 14) e Missa na Sé (figura 15). 12 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 14 - Farol Bretão, Bretanha, 1913, 0,55 x 0,46m. - Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p. 43. Figura 15 - Missa na Sé, Bahia, 1913, 0,80 x 0,65m - Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p. 101 Com a instalação do seu atelier, há o prenúncio de uma nova fase, nem tão opcional, mas para a qual não fez resistência. Em 1915 decorou e pintou grandes espaços, como a nave central e a capela-mor da Igreja da Piedade, que se perdeu por falta de conservação e sem nenhum justo registro para estudo e referência. É necessária a declaração que desde algum tempo a consciência do valor do patrimônio está reservado a uma restrita escala de Instituições. Desde que também não há uma política pública e densa sobre a relação do patrimônio, com a identidade e memória. Presciliano também tinha como projeto exercer o magistério e em 1915 inscreve-se para o concurso de desenho na Escola de Aprendizes Artífices da Bahia. Em 1916 é nomeado, também após concurso, professor da ex-Escola Técnica de Salvador. Ainda neste ano, faleceu seu pai, Possidônio Isidoro da Silva, aos 76 anos. Pelo que temos como testemunho, verifica-se que as obras de arte decorativa estão presentes em espaços diferenciais, como o Palácio da Aclamação. Neste, o teto do Salão de Recepção (figuras 16, 17 e 18), de 1917, revela traços impressionistas e motivos 13 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 românticos (apelando para os ditames do coração em estado de lirismo): querubins entre nuvens e flores, colorido muito vivaz, repetido em caixotões em todo o teto. Figura 16 - Querubins entre florais e nuvens, 1916. Teto do Salão Oficial de Recepção do Palácio da Aclamação. Presciliano Silva. 1,0 x 1,0 m. Foto: E. Oliveira. Figura 17 - Querubins entre florais e nuvens, 1916. Teto do Salão Oficial de Recepção do Palácio da Aclamação. Presciliano Silva. 1,0 x 1,0 m. Foto: E. Oliveira. Figura 18 - Teto do Salão Oficial de Recepção do Palácio da Aclamação. Técnica de pintura (marrou flage pintura sobre tela de algodão). Presciliano Silva. 1,0 x 1,0 m. Foto: E. Oliveira. Nas laterais deste mesmo espaço guirlandas espargem folhagens de parreiras sobre um fundo azul lilás, com pinceladas brancas formando um conjunto etéreo e de rico efeito que atendia ao que deve ter sido solicitado. No Salão de Música (figuras 19, 20, 21, 22), ao som de doces notas, estão figuras muito semelhantes às retratadas por Jean-Honoré Fragonard (1732-1806) nos seus trabalhos de 1766 a 1769 como O Baloiço (UPJOHN, 1975, p. 152-153) (figura 23). 14 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 19 - Salão de Música do Palácio da Aclamação. Técnica marrou flage, 1917. Presciliano Silva. 1,50m x 1,00m. Foto: E. Oliveira. Figura 20 - Salão de Música do Palácio da Aclamação. Técnica marrou flage, 1917. Presciliano Silva. 1,00m x 1,50m. Foto: E. Oliveira. Figura 21 - Salão de Música do Palácio da Aclamação. Técnica marrou flage, 1917. Presciliano Silva. 1,50m x 1,00m. Foto: E. Oliveira. Figura 22 - Salão de Música do Palácio da Aclamação. Técnica marrou flage, 1917. Presciliano Silva. 1,50m x 1,00m. Foto: E. Oliveira. 15 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 23 . – O Balanço. Óleo sobre tela, 1767. Fragonard. The Wallace Collection. Fonte: www.sanford-artedventures.com/study/ images/ fragonard_swing_l.jpg No fervor de sua produção artística, ainda em 1917, decorou o Salão Nobre do Quartel General da 6a. Região, na Praça Duque de Caxias, na Mouraria, bairro de Nazaré, telas (figuras 24, 24A, 2 5, 25A, 26 e 2 6A) documentadas através da restauradora Professora Ana Maria Villar (1991). São pinturas históricas e declaradas como cópias de Pedro Américo e Victor Meirelles. Essas obras causam impacto pelas suas grandes dimensões e localização, tendo provavelmente atendido à solicitação do encomendante. 16 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 24 - Grito do Ipiranga. Cópia da obra de Pedro Américo. Tela a óleo colada sobre parede, 1917. Presciliano Silva. 1,48 x 2,00m. Fotografia da autora. A Figura 24 - Grito do Ipiranga. Pedro Américo, 1888. Museu Paulista. Fonte: www.culturabrasil.org/ independencia2004.htm 17 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 25 - Batalha do Avaí. Cópia da obra de Pedro Américo. Tela a óleo colada sobre parede, 1917. Presciliano Silva. Salão Nobre da 6ª Região Militar. 2,00 x 1,48m: Foto: Evandro Oliveira Figura 26 - Batalha do Riachuelo. Cópia da obra de Victor Meirelles. Tela a óleo colada sobre parede, 1917. Presciliano Silva. Salão Nobre da 6ª Região Militar. 2,00 x 1,48m. Foto: Evandro Oliveira A Figura 25 - Batalha do Avaí. Pedro Américo. Óleo s/ tela, 1872-77. Museu Nacional de Belas Artes. Fonte: http://www.partes.com.br/jpg. 18 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 A Figura 26 - Batalha Naval do Riachuelo. Victor Meirelles. Óleo s/ tela, 1882-3. Museu Histórico Nacional. Fonte: www.vidaslusofonas.pt/ ana_neri.htm De acordo com as pesquisas de Marieta Alves sobre a Venerável Ordem 3ª de São Francisco: “Nas paredes que ladeiam o imponente arco cruzeiro vêm-se dois grandes painéis pintados pelo artista baiano João Francisco Lopes Rodrigues, em 1875, um dos quais – lado do Evangelho – reproduz o conhecido quadro de Murilo -” “Santa Isabel de Hungria, curando tinhosos” . (ALVES, Marieta, 1949, p.12). Em 1918, decorou a residência do Dr. Francisco de Góes Calmon, atual sede da Academia de Letras da Bahia. No teto da Sala Edith da Gama Abreu, as figuras que o ornamentam sugerem uma adequação de algum tema mitológico parnasiano, uma figura feminina solta, como se tivesse à propriedade de manter-se no espaço, entre nuvens, e outras figuras, anjos e gaivotas. No todo, muito esmaecidas mas, uma composição harmônica (figura 27)4. 4 Não há registros documentais sobre a dimensão da sala; é facilmente detectável a urgência que há de uma intervenção técnica de conservação e posterior restauração. 19 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 27 - Teto da Sala Edith Gama e Abreu. Afresco. Presciliano Silva, 1918. Antiga residência do Sr. Francisco de Góes Calmon. Academia de Letras da Bahia. Fotografia de Evandro Oliveira. No Salão Nobre da Academia de Letras há também pinturas em afresco, já sem legibilidade para determinar o motivo (figura 28). Figura. 28 - Teto do Salão de recepções. Estuque. Presciliano Silva, 1918. Antiga residência do Sr. Francisco de Góes Calmon. Academia de Letras da Bahia. Fotografia de Evandro Oliveira. 20 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura. 29- Salão de recepções. Estuque. Presciliano Silva, 1918. Antiga residência do Sr. Francisco de Góes Calmon. Academia de Letras da Bahia. Fotografia de Evandro Oliveira. Contudo, na parte superior da parede principal, que também é espaço de recepções, tendo ante salas que dão acesso a esta, há pinturas ornadas em estuque, com propriedades do rococó (Anexo F), na composição especial, mobiliário, vitrines e nas vias de acesso, ornadas de forma original, sem precedentes nas demais estruturas. As pinturas representam motivos ao ar livre, traços ou pinceladas sem contornos. Chama a atenção o suporte ornamental em medalhões em forma horizontalizada (figuras 29, 30 e 3 1). Observa-se no conjunto o efeito das pinturas em afresco (figura 31). 21 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura. 30 Salão de recepções. Estuque. Presciliano Silva, 1918. Antiga residência do Sr. Francisco de Góes Calmon. Academia de Letras da Bahia. Fotografia de Evandro Oliveira. Figura. 31- Salão de recepções. Estuque. Presciliano Silva, 1918. Antiga residência do Sr. Francisco de Góes Calmon. Academia de Letras da Bahia. Fotografia de Evandro Oliveira. Após estas experiências, ainda em 1918, Presciliano inaugurou sua fase considerada a mais prolífera em inspiração, quando esbanja domínio de técnica nos interiores. Daí ser até hoje, uma representação da Sacristia do Convento do Carmo da Bahia ter sido o marco de uma série de obras sacras, que são motivo de estudo, devido ao caráter intimista, que destas emanam suposições de auto-retrato psicológico. José Roberto Teixeira Leite (apud BARRETO, 2004) diz que “Presciliano Silva tornou-se especialmente conhecido por seus interiores de sacristias e conventos, gênero no qual, até hoje, não tem competidores”. Exemplo disso é Oração da Tarde (figura 32), obra apresentada em público em 1919, mas na referência específica sobre o trabalho, consta a data de 1918. 22 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 32 Oração da Tarde. Óleo sobre tela, 1918, 0,80 x 1,00m. Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.126. Porém o que mais importa é que houve uma acentuada compreensão do conteúdo da obra de arte, aquele significado profundo que exige entrar em contacto com os documentos históricos, fatores que determinaram a origem da obra. Esta é uma vertente de todas as obras de arte. “De lás grandes concepciones idealistas, (Kant, Humboldt, Herder, Hegel) lás de Hegel tuvieron más aceptación. Hegel no se contentó con exponer sur ideas estéticas sobre el principio de que el arte no es una imitación de la naturaleza sino del ideal, sino que además intentó una historia general del arte, a grandes rasgos, identificando la estética, la historia y la critica al mismo tiempo.” (ARENAS, 1986, p.75) O interior sacro talvez fosse o espaço que Presciliano explorasse com maior triunfo, pois a imanência ali seria mais profunda e inseparável do sentir e fazer o que está sentindo. É um campo rico de subjetividades, que bem elaboradas são próprias da interpretação da obra de arte, porém nesse estudo queremos apenas determinar as possibilidades e trabalhar 23 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 com as que já foram citadas. Todos os ângulos articulados constituem o enredo ou trama que estão em torno do eixo artístico, e só em função desses elementos pode ser feita uma correta e válida interpretação sobre a obra de arte. Em 1920, Presciliano ainda estava vivendo sob os impactos de suas obras que, com ele superava o rito da passagem do reconhecimento restrito para o reconhecimento público e notório; a referência antológica de Ruy Barbosa foi um grande marco: “Uma das glórias das artes plásticas no Brasil”(PRESCILIANO SILVA, 1984, p.61). Em novembro de 1921, faz a sua terceira exposição individual na Associação dos Empregados do Comércio, em Recife (PE), com 24 telas, entre elas A Última Porta (figura 33). Figura 33 - A Última Porta. Óleo sobre tela, 1921, 0,78 x 0,63m. Presciliano Silva. Acervo Museu Carlos Costa Pinto. Fonte: VALLADARES, 1973, p.126. Com esta obra, a “representação” da entrada da Sacristia da Igreja do Convento do Carmo da Bahia, o artista eclodiu na temática de interiores monásticos. A figura solitária de um velho cabisbaixo, numa postura de desânimo, aparece com um reflexo de luz na porta entreaberta, a Esperança, cuja luminosidade singular, como ponto de fuga, causa um 24 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 impacto no ton-sur-ton da obra. Uma composição complementar: Ao se ver o figurante da “A Última Porta”, clama-se por uma visibilidade mais próxima da face, o que, por coincidência ou segmento, aparece na expressão do Cabeça do Velho José (figura 34). Fig. 34 - Cabeça do Velho José. Óleo sobre tela, 1923. 0,48 x 0,59m. Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.184. Nesta seqüência cronológica pode ser considerada o ápice de sua realização, enfatizando os matizes dos “marron, marronzinho, marronzão...” (como ele mesmo falava..., em tom de brincadeira” (BARRETO, 2004), mostrando uma interação consciente que não estava esgotado o tratamento exaustivo nos detalhes, e a distância extrema do trivial e grotesco para uma comunhão perfeita extremamente particular até o metafísico (no sentido relativo ao transcendente, como adjetivação filosófica profunda. Raio de Sol (figura 35) – é a Sala do Capítulo, vista de outro ângulo))”. 25 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Fig. 35 - Sala do Capítulo. Óleo sobre tela, 1923. 0,50 x 0,60m - Presciliano Silva. Acervo Museu Carlos Costa Pinto. Fonte: VALLADARES, 1973, p.161. No mesmo ano, participou da Exposição de Belas Artes do 1 o. Centenário da Libertação da Bahia, na sede do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. A partir de 1923 teve uma produção rica em pinturas de interior e de gênero. Foram selecionadas dentro de uma triagem de cronologia e representatividade dentro dos temas: Menina da Mantilha Verde (figura 36). Acirra nessa obra o seu compromisso com o intimismo, o estar envolto em si mesmo. Fig. 36 - Menina da Mantilha Verde. Óleo sobre tela, 1923, 0,45 x 0,39m. Presciliano Silva. Acervo Museu Carlos Costa Pinto. Fotografia da autora. Em 1926, Presciliano sentia-se ainda atraído pelas paisagens das quais constava um ponto histórico da sua cidade, como no Forte de Mont-Serrat (figura 37). 26 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Fig. 37 - Forte de Mont Serrat. Óleo sobre tela, 1926. 0,96 x 1,30m - Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.75. No rico universo prescilianesco sempre cabia mais um intento para alcançar a plenitude da linguagem pictórica através dos espaços sombrios de um claustro com figuras esmaecidas propositadamente, porque na sua trajetória já denotava ao que queria dar mais ênfase: a força do espaço como acolhedor do homem só, ou não. Porém a penetração da luz por uma janela demonstra a importância da relação do interior com o que está lá fora. Os detalhes arquitetônicos, decorativos, demonstram um acolhimento singular característico do ambiente sacro, como pode ser visto em Confidência (Fig. 38). 27 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Fig. 38 - Confidência. Óleo sobre tela, 1927. 0,72 x 1,02m. - Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.155. Em 1927 realizou outra exposição com 39 telas no Gabinete Português de Leitura. Entre elas estava o Ex-voto de Bandeirantes Baianos (figura 39). Fig. 39 - Ex-voto de Bandeirantes Baianos. Óleo sobre tela, 1927. 1,00 x 0,82m. - Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.106. Nesta obra, os homens devotos fazem aí a sua genuflexão de onde por certo, em algum ângulo, estava postado também o pintor, mais uma vez, flagrando uma relação que o 28 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 intrigava: a do homem com DEUS. No ano seguinte, 1928, ingressou por nomeação na Escola de Belas Artes da Bahia, na cadeira de Desenho, onde ensinou até 1953. Foi professor catedrático e diretor interino de 1940 a 1941. Também foi Professor Emérito da EBA-UFBA em 1960, e membro da Congregação da Escola de Belas Artes da UFBA. A sua grande obra histórica, Entrada do Exército Libertador (figuras 40, 41 e 42), uma representação do episódio de 2 de julho de 1823 na Bahia, mereceu vários estudos (1928-1929), que integram o acervo do Museu Carlos Costa Pinto. Figura 40 - Entrada do Exército Libertador Estudo. Desenho, 1928-29. P. Silva. Acervo Museu Carlos Costa Pinto. Fotografia Júlio Mello. Figura 41 - Entrada do Exército Libertador Estudo. Desenho, 1928-29. P. Silva. Acervo Museu Carlos Costa Pinto. Fotografia Júlio Mello. Figura 42 - Entrada do Exército Libertador Estudo. Desenho, 1928-29. P. Silva. Acervo Museu Carlos Costa Pinto. Fotografia Júlio Mello. Fruto da uma encomenda da Prefeitura Municipal (Prefeito Francisco Souza), foi concluída em 1930, e pode ser vista na Câmara Municipal de Salvador, no Salão Maltez Leone (figura 43). Figura 43 - Entrada do Exército Libertador. Óleo sobre tela, 1930, 1,50 x 3,00m. Presciliano Silva. Acervo Câmara Municipal de Salvador. Fotografia Evandro Oliveira. 29 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 ENTRE 1931, 1932, 1933, 1934...até 1965 E m 1931 demonstrou que não havia uníssono como favoritismo temático. Na Marinha, sente-se o bafejar do vento na lona da vela do Saveiro (figura 44), tanto quanto se aspira o incenso e o som do órgão – quase audível – no Sé Primacial (figura. 45), um dos seus espaços referenciais, cujas treliças das portadas como divisórias encobrem o Santíssimo, sem risco de pertinência. Figura 44 – Saveiro. Óleo sobre tela, 1931. 0,38 x 0,46m. Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.87. Figura 45 -Sé Primacial. Óleo sobre tela, 1932, 0,60 x 0,50. Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.104. 30 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 46 - Anna Nery. Óleo sobre tela,1933, 1,50 x 1,00m. Presciliano Silva. Acervo do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia. Fonte: VALLADARES, 1973, p.89. Com relação às figuras humanas está Anna Nery (figura 46)5, uma heroína de guerra, que surpreendentemente foi retratada em trajes de época, postada como uma senhora de muita dignidade, e não como uma guerreira. Impressiona a altivez expressa em seu olhar, que não está voltado para o infinito, mas para um ponto determinado. É um outro identificador, a sua postura. Trata-se do compromisso de uma senhora da sociedade que foi solicitada a pousar, devido a sua semelhança com Anna Nery. Não há desconforto na representação, pois a proposta não fugiu do compromisso.Há veracidade na semelhança e na retratação, pois a aura de uma heroína está presente na sua sombra. Em 1934, casou-se com Alice Moniz e em 1935 nasceu a sua única filha Maria da Conceição, que até hoje preserva a casa que foi residência da família e o atelier de Presciliano Silva. Na memória da filha, seu pai foi mais do que um artista. Ele foi um herói. Alegre, atencioso, brincalhão, submetia-se aos caprichos da filha e, alguns anos depois, 5 a Esta tela foi mostrada na sua 5 . exposição no conjunto de 23 telas e 06 estudos, no Palacete Catharino. (SSA - BA). 31 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 dos três netos. Há no espaço que foi seu atelier dois cavaletes: sobre um, está posto seu Auto-retrato (figura 47). Figura 47 - Auto-retrato. Óleo sobre tela, 1938. Presciliano Silva. Ateliê de Presciliano Silva. Fotografia da autora. Há uma sobriedade saudável nas folhagens em torno do espaço extremamente aconchegante, com a voz muito precisa de Maria, relatando como foi seu pai, Presciliano Silva. A sua produção artística nos períodos de 1933 a 1940 foi muito profícua. Em 1940, participa do Salão de Belas Artes, e em 1941, a sua 6 a. Exposição na Associação dos Artistas Brasileiros, no Rio de Janeiro, onde ganhou a “Medalha de Ouro” do Salão Nacional de Belas Artes com a tela Abstração (Figura 48). Nesta década, participou de outro grande Salão na Sede do Fantoches da Euterpe (1942), Salvador-BA., com 71 telas e 7 desenhos a carvão. Participou do XLVIII Salão Nacional de Belas Artes com o quadro Interior da Nave da Igreja de São Francisco (figura 49). Acerca do interior mantém os tons de amarelo, de ouro velho, próprios do estilo barroco baiano; as arcadas superpostas e ainda em um ambiente discretamente iluminado por um feixe de luz que penetra de alguma fresta que não está visível, como acontece na maioria de suas obras de interior. 32 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 48 – Abstração. Óleo sobre tela, 1940, 0,61 x 0,50m. Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.135. Figura 49 - Interior da nave da Igreja de São Francisco. Óleo sobre tela,1942, 1,60 x 2,00m. Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.169. Os efeitos dos adornos dão um peso singular a esta obra. Em subseqüência, realiza, no ano de 1943, O Trabalhista (figura 50) e em 1944 participa do XLIX e L Salão Nacional de Arte Americana (dedicado aos artistas da Bahia) na Associação Cultural Brasil-Estados Unidos, em novembro, na Bahia. Figura 50 - O Trabalhista. Óleo sobre tela,1943, 0,65 x 0,52 Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.191. 33 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 As obras de retrato de Presciliano Silva são muito expressivas e o fundo claro realça o panejamento e dobraduras , onde se vê que os pincéis foram propositadamente usados para os tons variantes da mesma peça. Mereceu da crítica especializada referências e cada dia mais ampliou o seu círculo da amizades entre os intelectuais e outros mestres com quem conviveu. No Acervo da Escola de Belas Artes registramos o significativo retrato deste período, datado de 1943: Rosto de Velha (figura 51). Figura 51 - Rosto de Velha. Óleo sobre tela,1943, Presciliano Silva. Acervo do Atelier de Restauração da Escola de Belas Artes – UFBA. Fotografia de José Dirson Argolo, 2005. Em 1945 expôs no Salão da Biblioteca Pública da Bahia e participou do LI Salão Nacional de Belas Artes. Durante toda a década de 40, foi um fluxo constante de participações nos Salões Nacionais e em 1948 participou da Exposição de Pintura e Escultura das Repúblicas Americanas em Bogotá – Colômbia, por ocasião da IX Conferência Internacional Americana, com a obra O Romeiro (figura 52), detentora da Medalha de Honra do Salão Nacional de Belas Artes de 1947. 34 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Figura 52 - Romeiro. Óleo sobre tela,1947, 0,65 x 0,64. Presciliano Silva. Fonte: VALLADARES, 1973, p.193. Na peregrinação do dia a dia, nesta obra está contida uma síntese pictórica um dia a dia de busca, no desalinho das mechas, o amparo em um bastão que o auxilia no deslocamento sem fim. Mais uma vez, Presciliano Silva, declara com muita evidência o comportamento de retratar a realidade, que, em cada detalhe reafirma a personalidade e ação dos retratados. Em 1948 foi um marco de homenagens e prêmios, com destaque para a “Grande Medalha de Ouro” e “Prêmio Governador do Estado de São Paulo”, conferidos pelo “Salão Paulista de Belas Artes”. Neste ano, colocou-se em uma das salas de aula da Escola de Belas Artes um medalhão de bronze, com seu perfil (atualmente encontra-se no conjunto de obras que está exposto no 1 o. piso no Anexo do Salão Riolan Coutinho). Trabalho do escultor Ismael de Barros (figura 53), com os seguintes dizeres: “À Presciliano, aluno desta casa, e mestre hoje da pintura brasileira, homenagem da Bahia”. Presciliano finalizou a década de 40 integrando a Comissão Organizadora do “1o. Salão Baiano de Belas Artes” com Anísio Teixeira, Diógenes Rebouças, Ismael de Barros, Godofredo Filho e Mendonça Filho. Integrou a Comissão Julgadora deste Salão com Mendonça Filho e Raul Deveza, 35 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 que foi um marco para as artes plásticas na Bahia e participou mais uma vez do Salão Nacional de Belas Artes. Figura 53 – Rosto de Presciliano Silva. Medalhão em bronze, 1940. Ismael de Barros. Acervo Escola de Belas Artes – UFBA. Fotografia da autora. Na década de 50 viu propagar-se nacionalmente o seu valor enquanto mestre e foi nomeado em 1951, pelo Presidente da República, Catedrático da Cadeira de Pintura da Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia. O reconhecimento local refletiu-se na continuidade que deu ao seu trabalho e em 1960 recebeu o título de Professor Emérito da Escola de Belas Artes da Bahia. Em 1965 demonstrou, mais uma vez, o seu desprendimento e atitude de vanguarda quando participou da exposição inaugural da 36 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Galeria Convivium. Abriu espaço de referência de sua obra e de sua vida; logo depois, em 07 de agosto, faleceria no Rio de Janeiro. Vários desenhos foram encontrados como ensaios para novas obras: Carlos Chiacchio (Figura 54) e Clotilde (Figura 55). , Figura 54 – Carlos Chiacchio. Desenho. Presciliano Silva. Acervo Escola de Belas Artes (Atelier de Restauro) – UFBA. Fotografia José Dirson Argolo, 2005. Figura 55 – Clotilde. Crayon, 1965. Presciliano Silva, obra inacabada. Acervo da Galeria do Solar do Ferrão – IPAC. Fotografia da Autora Nos depoimentos daqueles que privavam do seu convívio, a sua viagem para tratamento no Rio de Janeiro não teve despedidas, mas também não marcou retorno, pois sabia que este era pouco provável devido ao seu grave quadro clínico. Presciliano Silva, embora sempre exaltado pela sua simplicidade, era cônscio do seu trabalho e da representatividade dele na História da Bahia. Neste estudo, conhecemos até onde nos permitiu a delimitação do mesmo, que foi traçar um perfil de contribuição em pequena escala do pintor: ele demonstrou que todos os seus trabalhos foram produtos de muita pesquisa. Que a participação em Salões e as Exposições não eram meramente para “mostrar”, mas ele desejava um juízo crítico de sua produção. Teve perspicácia em desenvolver qualitativamente as suas obras, pois a 37 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 produção contínua de quase sessenta anos ininterruptos, talvez seja sem precedente na História da Arte na Bahia, quiçá no Brasil. Este é um dos vetores que o artista Presciliano Silva deixa como legado, para só posteriormente ser objeto de muitas reflexões. Faz-se coerência quando nos reportamos aos mentores da base científica da obra de arte, que segundo Arenas (1956, p. 175) “uma obra de arte, é um produto original elaborado pelo homem com a intenção de comunicar algo: o produto é o resultado de uma atividade humana e toda a complexidade da proposta em busca da perfeição”. CONCLUSÕES O estudo sobre a obra de Presciliano Silva nos proporcionou um gratificante retorno sobre a supremacia do exercício sobre o tão propalado “dom”. Quando atingirmos um maior e favorável desempenho na reflexão de cada traço, do efeito de cada reflexo de luz, nas cores, ainda não teremos atingido todo o âmago desse artista que viveu na arte, produzindo a vida! Em cada rosto, em cada paisagem, em cada recanto de seus interiores, reside um silêncio eloqüente, progressivo. Presciliano Silva teve sempre como ponto de partida das suas obras, exercícios ininterruptos a lápis ou crayon. Porém não foi encontrado, até então, nenhum estudo teórico, sendo por isso muito importante a elaboração dos escritos dos seus amigos mais próximos, sobre o assunto que ele mais gostava: a pintura. Podem-se registrar os depoimentos do filósofo Ruy Simões, que conviveu quase diariamente com ele, assim como o poeta Carlos Chiacchio. Permitimo-nos admitir que o artista em estudo criou um sistema pictórico contínuo que foi o seu apoio para o desenvolvimento e alcance de uma técnica muito aprimorada, chamando maior atenção nos estudos de interiores e de retratos. Obteve uma ascensão social que permitia ter as suas obras em alta cotação. Desde que, os intelectuais não poupavam elogios e conseqüentemente a burguesia os tomava como indicador para grandes aquisições. Seu período áureo foi nas décadas de 20, 30 e 40, dos anos de 1900. Trabalhou consecutivamente durante sessenta anos. Por conseqüência sua obra tem propriedades tardias do impressionismo francês mais próximo dos pintores Camille Pissaro e Georges Seurat, no neo-impressionismo, seguido as teorias cientificas sobre a luz. Observa-se em alguns trabalhos de arte decorativa as características também do rococó e do romantismo lírico. Não se observa uma resistência eloqüente em trabalhar 38 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 temas históricos. E, com um deles, A Entrada do Exército Libertador, (1930) imortalizou-se e seu academismo não o impediu de ser admirado. Teve uma postura muito favorável às críticas, que podem ter sido balizas para a sua produção pictórica. Declara-se que na história da Arte Baiana,o nome de Presciliano Silva tornou-se como referência de grande pintor: abordou temas variados, como os retratos, paisagens, interiores sacros, arte decorativa e temas históricos, (sendo estes últimos feitos por encomendas de instituições). Neste estudo não se esgotam as análises que devem ter continuidade devido à visível proporção de obras existentes diante das estudadas. Atendemos à proposta de uma pesquisa iniciada e demarcada para ter continuidade em outras vertentes que suportem a identificação de um estudo científico sobre a obra do artista baiano Presciliano Silva que deixou um legado de proporções consideráveis no conjunto da arte baiana e também como membro partícipe da história de Instituição Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Sempre se deve levar em conta que a obra-de-arte pertence a uma esfera distinta da natureza, e que a determinação das formas e dos conteúdos estão dependendo de um modelo de sociedade concreta, manifestada pelo pintor, como sujeito criador da imagem, considerado não só como indivíduo, mas c o m o membro de um grupo sócio-cultural determinado e instalado em certo espaço de tempo. O academismo deve ser encarado como produto da sua experiência e do seu saber. O fator de repetir temas não destoava da sua postura diante da vida: Presciliano Silva, enriquecia o mesmo tema com um novo ângulo. Por exemplo, a ele não interessavam as soluções, os processos barrocos, mas o seu resultado ambiental como tema. Tendo como pano de fundo a vida que devia ser registrada em pinceladas magistrais. SÍNTESE CRONOLÓGICA PRESCILIANO SILVA (1883-1965) Biografia Cronologia Contexto Crítica Referências Linhas BIOGRAFIA_____________________________________________________________________ Pintor e professor, Presciliano Atanagildo Isidoro da Silva estuda na Escola de Belas Artes da Bahia, Salvador, em 1896, com Manoel Lopes Rodrigues. Entre 1905 e 1908, torna-se aluno bolsista pelo Governo do Estado, o que lhe permite viajar a Paris 39 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 (França) onde freqüenta a Academia Julian e estuda com Jules Lefébvre, Tony-Robert Fleury e Adolphe Dechénaud. De volta ao Brasil, expõe individualmente pela primeira vez, em 1908, na Escola Comercial da Bahia, em Salvador (Bahia). A partir do ano de 1913, fixa residência em Salvador (Bahia), onde se torna professor de desenho na Escola de Aprendizes Artífices da Bahia, professor de pintura e, mais tarde, diretor da Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia. Em 1915, realiza trabalhos de decoração na nave da Igreja da Piedade e, em 1917, no Salão Nobre e Sala de Música do Palácio da Aclamação, no Quartel General e na Prefeitura Municipal de Salvador. Entre as exposições de que participa, destacam-se: Salão dos Artistas Franceses, Paris (França), 1913; Salão Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro; várias edições entre 1941 e 1947 (Medalha de Ouro, 1941 e a Medalha de Honra, 1947); Salão Paulista de Belas Artes, São Paulo, 1948 (Primeiro Prêmio Governador do Estado e a Grande Medalha de Ouro); Um Século de Pintura no Brasil, MNBA, Rio de Janeiro, 1952. Após a sua morte, suas obras são expostas, nas mostras: “Comemorando um centenário”, na Academia de Letras da Bahia, Salvador, 1983; Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Espaço Cultural da Marinha, São Paulo, 1998. CRONOLOGIA______________________________________________________________ NASCIMENTO/MORTE 1883 - Salvador BA 1965 - Rio de Janeiro, RJ LOCAIS DE VIDA 1908-1912 – Rio de Janeiro 1912/1913 – Paris (França) – Excursiona a Concarneau e prolonga sua viagem até a Bélgica, retornando ao Brasil em maio de 1913 1913 – Salvador BA – Fixa residência FORMAÇÃO 1896 – Salvador BA – Estuda com Manoel Lopes Rodrigues, na Escola de Belas Artes da Bahia 1905/1908 – Paris (França) – Aluno de Jules Lefébvre, Tony-Robert Fleury e Adolphe Déchenaud na Academia Julian, com bolsa do Governo do Estado. 40 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 VIAGENS 1912/1913 – Paris (França) ATIVIDADES EM ARTES VISUAIS Professor de Desenho da Escola de Aprendizes Artífices da Bahia, Professor de Pintura e Diretor da Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia. 1915 – Salvador BA – Executa trabalhos de decoração na nave da Igreja da Piedade 1917 – Salvador BA – Decoração do Salão Nobre e da Sala de Música do Palácio da Aclamação, do Quartel General e da Prefeitura Municipal de Salvador EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS 1908 – Salvador BA – Primeira individual, na Escola do Comércio de Salvador 1963 – Salvador BA – Individual, no Museu de Arte Sacra da Bahia 1965 – Salvador BA – Individual, na Galeria Convivium EXPOSIÇÕES COLETIVAS 1909 -- Rio de Janeiro RJ -- Expõe no Museu Comercial 1913 -- Paris (França) - Salão dos Artistas Franceses 1941/1947 - Rio de Janeiro RJ - Salão Nacional de Belas Artes – Medalha de Ouro (1941) – Medalha de Honra (1947) 1948 -- São Paulo SP - Salão Paulista de Belas Artes – Primeiro Prêmio Governador do Estado -- Rio de JANEIRO RJ - Um Século de Pintura no Brasil, no MNBA EVENTOS PÓSTUMOS 1983 - Salvador BA - “Comemorando um Centenário”, na Academia de Letras da Bahia 1998 - São Paulo SP - Marinhas em Grandes Coleções Paulistas, no Espaço Cultural da Marinha CONTEXTO____________________________________________________ 41 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 ESCOLAS/MOVIMENTOS Figurativo: Academismo, impressionismo GÊNEROS/TENDÊNCIAS Paisagem, Interior, Pintura de Gênero, Retrato CRÍTICA_______________________________________________________ TEXTOS CRÍTICOS “P. Silva tornou-se especialmente conhecido por seus interiores de sacristias e conventos, gênero no qual não teve competidores. Para o gosto contemporâneo, porém, talvez tenham mais apelo as paisagens de sua permanência em França, entre 1905 e 1908, e novamente entre 1912 e 1913. (...) A parte histórica e a decorativa da arte de Presciliano não suportam o cotejo com as paisagens bretãs da fase imediatamente anterior, assim como as paisagens feitas no Brasil, também empalidecem se aproximadas às que pintou na França. Maior fortuna iriam conhecer, como ficou dito mais acima, os interiores, alguns dos quais o livro de Clarival Valladares sobre o mestre reproduz, lado a lado, o esboço em desenho e a pintura acabada – aquele curiosamente aparentado a desenhos holandeses do século XVII, essa evocando o ‘chiaroscuro iridescente’ de Rembrandt, em sua insinuação de vultos de permeio à rica matéria, com jogos de luz reminiscentes de Caravaggio ou de La Tour. Pintura de silêncio e de recolhimento, que nos leva a pensar na relação que forçosamente deve ter existido entre esse tipo de arte e a surdez de que padeceu, desde a mocidade, o artista. Quanto aos retratos e tipos regionais, que dominam a fase final de sua produção, parecem-nos o lado mais criticável da obra do já então consumido pintor, aqui se revelando tão mais acadêmico e tradicionalista (...)” José Roberto Teixeira Leite In LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988 REFERÊNCIAS_________________________________________________ EXPOSIÇÃO COLETIVA DE ARTES, 3., Araraquara, 1981. Catálogo. Araraquara: Biblioteca Pública Municipal “Mário de Andrade”, 1981. 42 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 MARIA Tereza Kerr Saraiva: em busca de novas paisagens. Apresentação de Adriano Colangelo. São Paulo: Galeria de Arte SESI, 1986. REFLEXOS do impressionismo no Museu Nacional de Belas Artes. Apresentação de Marinho de Azevedo e Maria Eliza Carrazzoni. Rio de Janeiro: MNBA, 1974 CAMPOFIORITO, Quirino. História da Pintura Brasileira no Século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983 CAVALCANTI, Carlos; AYALA, Walmir, org. Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Apresentação de Maria Alice Barroso. Brasília: MEC/INL, 1973-1980. (Dicionários especializados, 5). LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988. LOUZADA, Júlio. Artes plásticas: seu mercado, seus leilões. São Paulo: J. Louzada, 1984 VALLADARES, Clarival do Prado. Presciliano Silva: um estudo biográfico e crítico. trad. Tradução de France Knox e Richard Spock. Prefácio de Clemente Maria da Silva-Nigra,Dom. Rio de Janeiro: Fundação Conquista. 1973. (Fundação Conquista, 1). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Documentos manuscritos UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, ESCOLA DE BELAS RTES. Arquivo. Pasta n* 40. Título – Atas da Congregação 1948 a 1951. N* do livro pesquisado – 87. Data do termo de Abertura: 04 de junho de 1948. N* de p. 100. “Ata da sessão de Congregação da Escola de Belas Artes, de 04 de junho de 1948”. P. 7-8 Referências impressas ALVES, Marieta - Venerável Ordem 3ª de S. Francisco – Publicação da Prefeitura de Salvador, 1949 p.08/12. ARENAS, José Fernandez. Teoria y Metodologia de la Historia del Arte. Reimpresión en España: Anthropos, 1986. p.175. ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, p. 117-127 ARTE ABSTRATA e ARTE FIGURATIVA. Rio de Janeiro: Biblioteca Salvat de Grandes Temas, 1979. v.7. 143p. BASTOS, Zélia. Alguns pioneiros, A Tarde, Salvador, 12 out. 1992. Artes Visuais, p. 2 BAUMGART, Fritz. Breve História da Arte. 2a. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p.249282. 43 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 BÉNÉZIT, E. Dictionaire critique et documentaire dês peintres, sulpteurs, dessinatures et graveurs. 9a.ed. Paris: Gründ, 1976. v.2, p.369 BIBLIOTECA TEMPO UNIVERSITÁRIO, Rio de Janeiro:tempo brasileiro, 1955-1967, Walter Benjamin: a modernidade e os modernos 1975. n* 41p.07-31. CALDERÓN, Valentin. Evolução das artes plásticas na Bahia no século XX. (1912-1974). A Tarde, Salvador, 1 março 1975. p. 8 CANCLINI, Nestor García. A socialização da Arte: teoria e prática na América Latina. São Paulo: Cultrix, 1988. p.77-81 COELHO, Ceres Pisani Santos. Artes plásticas; movimento moderno na Bahia. 1973. 223p. Tese (concurso de professor assistente do Departamento I da Escola de Belas Artes), UFBA. Salvador. CATÁLOGO de exposição de pintura de Presciliano Silva: Palacete Catharino. Salvador: [s.n.], 1933. “Folder”. CATÁLOGO da exposição de quadros de Presciliano Silva. Salvador: Sede dos Fantoches da Euterpe, 1942. “Folder”. CENTENÁRIO DE PRESCILIANO. Salvador: Academia de Letras da Bahia/Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Bahia, 19 maio 1983. “não paginado”. COMO RECONHECER A ARTE ROCOCÓ. São Paulo: Martins Fontes, 1978-1984. v.6. p.3-5 e 46-64. DENVIR, Bernard. O Fauvismo e o Expressionismo. Barcelona: Labor S.A. 1977. p. 63 DESENHOS de Presciliano Silva foram doados pela Séc. Boletim Informativo do IPAC. Salvador, Instituto do Patrimônio Artístico Cultural, Ano II, n.5, Jul.-dez.1984. p. 5 DUVIGNAUD. Jean. Sociologia da Arte. São Paulo: Forense, 1970. 196p. GALERIA Solar do Ferrão expõe quarenta obras. A Tarde, Salvador, 19-05-1986. GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 4a. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. 506p. HAUSER, A – História Social da Literatura e da Arte. São Paulo: Mestre Jou, 1982. t. I e II . 1190p. LUBISCO, Nídia M. L.; VIEIRA, Sonia C. Manual de Estilo Acadêmico: monografias, dissertações e teses. 2.ed. rev. e ampl. Salvador: EDUFBA, 2003. 145p. ; il. LUDWIG, Selma C. A Escola de Belas Artes cem anos depois. Salvador: EDUFBA, 1977. 17p. (80, Centro de Estudos Baianos). MCR – Galeria de Arte. Salvador: 2002. Ilustr. 086-097. -------- Idem – Salvador: 2003.Ilustr. 080-151. -------- Idem – Salvador: 2004.Ilustr. 050-077-094. 44 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 -------- Idem - Salvador: 2005.Ilustr 041-133-134. MORAIS, Frederico. Panorama das Artes Plásticas séculos XIX e XX. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1989. p.168 MUSEU CARLOS COSTA PINTO: Catálogo/Fundação Museu Carlos Costa Pinto. Salvador, 2003. 76p. p. 23-33. MUSEU DE ARTE DA BAHIA (MAB). São Paulo: Banco Safra, 1997. p. 88-103. PAULO DARZÉ – Galeria de Arte – Salvador: 2003. Ilustrs. 021-026-069. --------------------- Idem - Salvador: 2004. Ilustrs. 024-096C – 169. PONTUAL, Roberto. Dicionário das Artes Plásticas no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. 559p. PRESCILIANO SILVA. Salvador, Gabinete Português de Leitura, 1927. 15p. Catálogo de exposição. Contém lista das telas. PRESCILIANO SILVA. Salvador: EGBA, 1984. p. 216 PRESCILIANO, professor emérito, Salvador: Jornal da Bahia, Ano II, n* 571, 31-08-1960 REVISTA DA Bahia. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia/SCT/EGBA, N* 40. 2005. p.23-32 ROBERTO ALBAN, Galeria de Arte – Salvador, 2001. Ilustrs. 038-072-101. ------------------------- Idem - Salvador, 2002. Ilustrs. 013-072-101 ------------------------- Idem - Salvador, 2004. Ilustrs. 013-38-70-081-095A- 124-134A ROCHA, Carlos Eduardo da. As artes plásticas na Bahia no século XX. A Tarde, Salvador, 12 out. 1982, Educação e Cultura. p. 11. Edições dos 70 anos. THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa – Ação. 4 a. ed. São Paulo: Cortez, 1988. p.47-53 THOMAS, Karin. Diccionario Del Arte Actual. Barcelona: Labor, 1982. 207p. 3 PINTORES BAIANOS – (doação Viúva Otávio Ariani Machado). [Rio de Janeiro]: [Museu Nacional de Belas Artes], [19...?]; Catálogo de exposição TORRES, Octávio. Biografias resumidas dos professores da Academia e da Escola de Belas Artes da Bahia desde a sua fundação: Em 1877 até hoje 1955. Salvador: EBA-UFBA 1955. “datilografado”; “não paginado”. UPJOHN, Everard M., História Mundial da Arte. São Paulo: Difel, S.A. 1975. v. 4. p.118-243 VALLADARES, Clarival do Prado. Presciliano Silva. Rio de Janeiro: Fundação Conquista. 1973. 279p. WÖLFFLIN. Heinrich. Conceitos Fundamentais da História da Arte. 3 a. ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 2 – 23. 45 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 ZANINI, Walter. org. História Geral da Arte no Brasil. São Paulo: IWMS, 1983. p.444-445. Referências eletrônicas BARRETO, Luciana. Presciliano Silva,/A cor do silêncio. Salvador, Correio daBahia, 2004 - Disponível em <http:www.correiodabahia.com.br/> Acesso em 05 de fevereiro de 2005. ---------------------------Presciliano Silva,/Apagando as tintas. Idem. ---------------------------Presciliano Silva,/Esboço de artista. Idem ---------------------------Presciliano Silva,/O pequeno selvagem. Idem ---------------------------Presciliano Silva,/Sinônimo de Pintor. Idem http:/ /www.itaucultural.org.br Anexo A REALISMO – “A renúncia deliberada de Gustave Coubert (1817-1877) – a efeitos fáceis e sua determinação de representar o mundo tal como a via encorajou a muitos outros a rejeitarem o convencionalismo e a seguir apenas sua própria consciência artística”. Gombrich, 1979, p.403 Anexo B: IMPRESSIONISMO – “Edward Manet (1832-1883) – quer que ganhemos a impressão de luz, velocidade e movimento, dando-nos nada mais do que uma escassa sugestão das formas que emergem da confusão. Enfim, o principal interesse do impressionismo residia nos efeitos de luz e cor. Gombrich, 1979, p.409/413” Anexo C: ROCOCÓ - “Antoine Watteau (1648-1721) -- Começou a pintar suas próprias visões de uma vida divorciada de todas as privações,... uma vida fictícia de alegres piqueniques em parques de sonho onde nunca chove, de saraus musicais onde todas as damas são belas e todos os enamorados graciosos, uma sociedade em que todos se vestem de refulgentes sedas sem ostentação, e onde a vida dos pastores e pastoras parece ser uma sucessão de minuetos... Para muitos, passou a refletir o gosto da aristocracia francesa do começo do século XVIII, que é reconhecido como o período rococó – a predileção por cores e decorações delicadas que sucederam ao gosto mais robusto do período barroco e que se expressou em alegre frivolidade. “ Gombrich, 1979, p.359. Anexo D: MANOEL LOPES RODRIGUES - O MESTRE DE PRESCILIANO (QUERINO, apud VALLADARES, 1973, p.45/48 ) “principiou os estudos de desenho e pintura com seu pai, João Francisco Lopes Rodrigues. Em 1876 foi nomeado professor de 1ª classe de desenho do Lyceu de Artes e Ofícios e posteriormente da Escola de Belas Artes.” (...) “De 1882 a 1885esteve no Rio de Janeiro sendo encarregado com o extinto literato Valle Cabral, da parte principal da Exposição Médica Brasileira”.(...) “Executou os desenhos do Atlas de Moléstias da Pele, do Dr. Silva Araújo; Atlas de Moléstias das Crianças, do Dr. Moncorvo; Atlas da Clínica de Olhos, do Dr. Moura Brasil; Atlas da Clínica de Morféticos, do Dr. José Lourenço de Magalhães, e bem assim as aquarelas de anatomia, para a Escola de Medicina do Rio de Janeiro”. Após esse período de realismo-excessivo, mediante a matéria médica, Manoel Lopes Rodrigues exerceu no Rio de Janeiro a ...”notícia e crítica do movimento artístico”, sendo marcante a crônica que fez sobre os expositores de 1884 na Gazeta Literária. Quando escreveu o prefácio para a primeira exposição de Presciliano, não era o mestre que escrevia para o discípulo querido, mas o artista e intelectual capaz, que praticava jornalismo e crítica de arte, e era um dos mais eruditos artistas do país. 46 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 Em 1913, volta a escrever sobre Presciliano num folhetim literário, do grupo A NOVA CRUZADA. Chamava-se OS ANNAES, Revista Ilustrada de Letras, Ciências, Arte e História. Era o nº 4 do ANO III, julho de 1913 e de Lopes Rodrigues são os seguintes trechos que vamos destacar: A agremiação intelectual mais orientadoramente artística que encontrei em nossa terra, foi esta – (referia-se A NOVA CRUZADA) – onde vi, com a formação do talento de muitos moços que hoje são notáveis homens de letras, o estímulo fecundante de que Presciliano e Philomeno Cruz foram alvo, achando, naquele meio bendito, um centro intelectual animador. “me lembro ainda do bem que me fez a convivência naquelas palestras, aquecidas pelo fogo crepitante das estrofes adoráveis de Mangabeira (Francisco), Álvaro Reis, Galdino de Castro, Kilkerry (Pedro), Arthur de Salles, Fernando Caldas e outros”. “é incontestável que a existência da NOVA CRUZADA e a entrada para ela destes discípulos, concorreu para a diretriz da aplicação deles”. ”Presciliano, criança ainda, conviveu neste meio decente, enquanto outros procuravam exercitar-se nas banalidades comuns. Isto lhe robusteceu a vontade”. Noutro trecho, o mestre se insurge contra o tratamento que então se dava ao artista: ...Presciliano precisa de amparo da sociedade em que vive e do Governo que a dirige. Pela data, 1913, depois que Presciliano regressava do 2º estágio, o protesto de Lopes Rodrigues, dizia mais do seu próprio exemplo. Jamais a sociedade em que viveu, e nem o governo de quem dependeu, poderão ser perdoados pelo desconhecimento a que relegavam aquele notável mestre, sem favor, um dos mais eruditos dos nossos artistas do século dezenove. Nada diminui o sentimento de culpa, que cabe a uma sociedade, que após a morte do mestre marginalizado promove uma exposição póstuma de cerca de cinqüenta quadros ...por iniciativa de amigos e discípulos agradecidos do pranteado pintor baiano, visando com a venda dos quadros construir um patrimônio para a família do malogrado artista. (Renascença – Rev. Ilust. Bahia, Ano II, nº XXVII, Bahia – março 1918). A triste história de Lopes Rodrigues poderá ser revelada nos cronistas da época. Morreu no obscurantismo doloroso dos que caem sem ilusões. A vida foi-lhe um eterno amargor e a crença e a esperança no julgamento sincero dos homens, uma utopia dolorosa e sangrenta... A tragédia de Lopes Rodrigues na Bahia do começo do século não era a falta de fregueses para seus trabalhos, mas a falta de respeito desses por seu justo valor. É do próprio Lopes Rodrigues um certo texto de sentido ambíguo, aparentemente dedicado a Presciliano, mas nas entrelinhas, revelador de sua auto-análise:... Talvez então o neurastênico que eu sou, orgulhoso de o ter descoberto, contente de o ter visto trabalhador e honesto, lhe atire com as flores sinceras do meu aplauso o que a vaidade puder me dar de eloqüência entusiasta do meu amor de mestre, afirmandolhe: não me enganei! Aparentemente o número de trabalhos executados por Manoel Lopes Rodrigues, negaria a veracidade da frustração dramática e confessada pelo próprio artista. Acontece, que inúmeros trabalhos seus foram encomendas de entidades oficiais e societárias, todas ditadas ao gosto do cliente e é a esse acervo de decorações áulicas e retratismo convencional que ele chamou de balcão mercante... A decoração do palácio do governo (Palácio Rio Branco da Bahia), do palacete de residência do governador, do salão nobre do Conselho Municipal de Salvador, da Assembléia Legislativa do Estado, do salão nobre da antiga Faculdade de Medicina, de residência de comendadores, diversos retratos de lentes da Faculdade de Medicina já falecidos, pintados pela fotografia, outros de benfeitores da Santa Casa e etc., não trouxeram a Manoel Lopes Rodrigues a tranqüilidade de uma obra realizada. Obras no Museu de Arte da Bahia: há uma Sala consagrada no seu nome, com as seguintes obras: “Dois veos” (tela, 1890 – 1,93 x 1,45) - “Paisagem Romana” (tela, s/d – 0,78 x 0,98) – “Nu” (tela, Paris, 1899 – 0,19 x 0,38) - “O Adeus” (tela considerada a obra-prima do pintor, egressa da coleção da Vva. Otávio Ariani Machado, e doada ao Museu de Arte da Bahia pelo Banco da Bahia S. A.) – “La Boheme” (tela, cópia 47 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 do original de Franz Hals) – “A República” (tela alegórica, 1896, Roma, 2,30 x 1,20) – e uma “Natureza Morta” sem outras indicações. O Museu Nacional de Belas Artes – Rio de Janeiro - possui hoje, oito obras de Manoel Lopes Rodrigues. Os quadros da doação da Vva. Otávio Ariani Machado, foram: “Cabeça de Cão” (tela, 0,340 x 0,260) – “Natureza morta”, (tela, 0,460 x 0,560) – “Cozinha Bretã” (tela, 0,620 x 0,470) que agora se somam aos quadros já existentes, intitulados: “Fundo de Quintal”, “Auto-retrato”, “Retrato da vovó”, “A Forja” e “Quintal”. – Nada mais sabemos informar do acervo disperso. O conhecimento dos quadros citados nos permite reconhecer como extremamente bem pensadas, aquelas palavras de Gonzaga Duque situando Lopes Rodrigues como exemplo de organização superior de um artista completo. Se entendermos como verdadeira Arte a obra espontânea trazida de seu atelier de Paris, encontraremos nas anotações de Manoel Querino sessenta e sete títulos, sendo alguns genéricos. Infelizmente a relação não distingue estudos e cópias, o que dificulta inclusive a identificação dos títulos dos catálogos atuais, com as denominações registradas em 1908. Anexo E: A ACADEMIA JULIAN (QUERINO, apud VALLADARES, 1973, p.30/32 ) A primeira referência a ser feita para a boa compreensão da formação escolar de Presciliano, prende-se ao Histórico da Academia Julian, onde se fixou e estudou. O seu nome, deve-se ao seu fundador, o pintor Rodolphe Julian, nascido em La Palud (Vaucluse-Fr.) em 1839 e falecido a 12 de fevereiro de 1907, em Paris. Na edição do Dicionário Crítico e Documentário de E. Bénézit, Rodolphe Julian foi discípulo de L. Cogniet e de Cabanel, participando do Salon de Paris a partir de 1865 com pintura de gênero e retratos. Não fosse a ligação do seu nome á fundação do ensino de arte que instituiu, congregando um professorado dos mais em evidência e admitindo elevado número de alunos, teria sido esquecido em plano menor. A Academia Julian, graças ao seu professorado de pintores, escultores e desenhistas, alcançou em breve prestígio artístico e reputação mundial. O próprio Julian aos poucos cessou de pintar, dedicando -se inteiramente à administração da escola. Foi, de fato, excelente administrador, alcançando fortuna considerável e, entretanto, soube se manter generoso permitindo a muito dos alunos empobrecidos concluírem gratuitamente seus estudos. Por isso mereceu grande popularidade entre os estudantes, tendo sido condecorado com a Legion d’honneur em 1881. Anexo F: OS MESTRES FRANCESES DE PRESCILIANO (QUERINO, apud VALLADARES, 1973, p.33/36 ) Presciliano teria conhecido pessoalmente Rodolphe Julian em 1905 (1º estágio) quando o diretor estava com sessenta e seis anos de idade. A Academia Julian recebia alunos e estagiários de todo o mundo. Não impunha, porém, a aceitação de uma filosofia estética, ou a obediência rígida aos cânones do academismo. Habilitava-os para o exercício dos processos de desenho, pintura e escultura, sem ditar caráter estilístico, de grupo ou de época. Vê-se no fato de que nos diversos estagiários brasileiros da Julian, havia grande diversificação estilística. Cada qual voltou enriquecido de técnica e discernimento e livre para a formulação da linguagem individualizada. Em 1883 Benedito Calixto estudou na Academia Julian com Gustave Boulanger, Tony Robert-Fleury e Jules Lefèbvre; João Baptista da Costa estudou com os dois últimos, em 1896; Belmiro de Almeida foi discípulo de Jules Lefèbvre, bem como Luís Cristofe, Dário e Mário Villares Barbosa, Manuel Madruga. Tarsila do Amaral e muitos da mesma procedência. O PRIMEIRO MESTRE - ADOLPHE DÉCHENAUD 48 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 O menos referenciado dos mestres de Presciliano, entre os três que lhe ensinaram na Julian, parece ser Adolphe Déchenaud, no ponto de vista de matéria bibliográfica, embora no verbete de E. Benezit apareça grandemente premiado. Nascido em Saône-et-Loire (1868) e falecido em Paris em 1929, ensinou Presciliano quando este tinha vinte e dois anos e ele, o mestre, trinta e sete. Déchenaud foi discípulo de Boulanger, de Benjamin-Constant (Paris 1845-1902) e de J. Léfébvre. Obteve todos os prêmios possibilitados à carreira artística, em 1891, 1894, 1899, 1900 e 1901, Cavalheiro da Legião de Honra em 1908, Medalha de Honra em 1913 e Membro do Instituto em 1918. Competia nos salões de pintura histórica e mitológica, ganhando conceito todavia, com as suas telas de cenas populares e retratos. Em 1928, um ano antes de falecer, teve a ventura de ver o Salon organizar uma grande retrospectiva de sua obra. O SEGUNDO MESTRE – JULES LÉFÉBVRE Jules Léfébvre, renomado pintor retratista e de gênero, nascido em 1836 e falecido em 24 de fevereiro de 1911, teve como principal mestre Leon Cogniet. Matriculou-se na Escola de Belas Artes em 1852 e três anos após já se inscrevia no Salon. Com a tela A MORTE DE PRÍAMO, conquistou em 1861, o Prêmio de Roma. Participou do Salon de Paris, obtendo prêmios em 1865, 1868 e 1870. Na Exposição Universal de 1878 conquistou o Primeiro Premio e em 1886 a Medalha de Honra. Em 1891 sucedeu a Delaunay no Instituto. A cr´tica destacou-o como retratista, reconhecendo seu desenho correto, porém frio. Sua pintura foi prejudicada pelo formulário escolar, convencional. Contudo deixou obra representativa do romantismo neoclássico, estando fixada nos Museus de Amiens, de Lyon, do Louvre de Paris e no Museu de Rouen. Além de numerosa produção em telas, Jules Léfébvre é o autor das pinturas decorativas do Hotel de Ville de Paris. O TERCEIRO MESTRE – TONY ROBERT-FLEURY Tony Robert-Fleury, foi o terceiro mestre no período de 1905 a 1908. O verbete biográfico de E. Benezit, indica-o como pintor de história e de costumes, nascido em Paris em 1837. Faleceu naquela cidade em dezembro de 1912. Filho do pintor e litógrafo Joseph Nicolas RobertFleury (Colônia, 1797 - P a r i s , 1 890), detalhe de importância para um comentário posterior. Dados biográficos de Tony, discípulo de Paul Delaroche e de Leon Cogniet. Sua primeira presença no Salon data de 1864 e sua aceitação como societário dos “Artistes Français” ocorreu em 1882 após uma série de premiações em 1866, 1867 e 1870 (Medalha de Honra). Foi durante longo tempo, professor da Academia Julian. Suas principais obras se espalham nos mais importantes museus e instituições, como Metropolitan Museum de Nova York, Munique, Luxemburgo, Paris, e um famoso painel da Salpétrière, muito freqüente em cópias noutros manicômios, representando Pinel libertando os loucos de suas correntes. Bernard Dorival no ensaio A Geração do Segundo Império, no capítulo Difusão e Academização da Modernidade ( degenerescência da Modernidade e os imitadores franceses de Manet e Degas Academização da modernidade noutros países...) consigna uma denúncia desagradável sobre o renitente Robert-Fleury, pai de Tony, na política suja dos Salons: C’est lê romantique écletique Robert-Fleury qui promet à Stevens la médaille d’or síl abandonne sés sujets modernes; c1est lê jury du Salon de 1859 que refuse les envois de Fantin-Latour et de Whistler... A presença de Joseph-Nicolas Robert-Fleury, como reacionário querelante, não se limita a um só exemplo . Ele também é personagem e signatário de protesto contra a fotografia, quando esta, em 1859...pela primeira vez tinha direito de tomar lugar na vizinhança imediata da pintura, a escultura e a gravura. Diante do prestígio da fotografia, foi apresentado as autoridades estatais um célebre manifesto do qual André Vigneau, autor do capítulo A FOTOGRAFIA para a História da Arte da Plêiade, transcreve o seguinte trecho: Considerando que a fotografia se resume numa série de operações manuais, que sem dúvida requerem alguma habilidade de manipulação que lhe é específica, mas que através de seus resultados não podem, em nenhuma circunstância ser admitidas como obras, fruto da inteligência e do estudo de arte, por estes motivos, os artistas que subscrevem protestam contra toda admissão que pudesse ser feita à fotografia, como arte. 49 REVISTA OHUN – Revista eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFBA Ano 2, nº 2, outubro 2005 ISSN: 18075479 O primeiro que assina este famoso documento é Ingres, o segundo é Flandrin e o terceiro é Robert Fleury, pai de Tony. Entre os demais, lá estão Puvis de Chavannes, Vidal, Lequesne, Marinet, Jalabert, Lecomte e outros. Não é tão fora de propósito buscar este episódio de 1962 para explicar as raízes de Presciliano Silva. Mais para expô-las que explicá-las, pois já se vê numa delas a filosofia de Ingres, J. Léfébvre e G. Boulanger que em 1882 ensinaram na Academia Julian a Felix Valloton, sob aquele rigor do realismo neoclássico. Na mesma década, o pompier Tony Robert-Fleury ensinava a Edouard Vuillard. É inevitável reconhecer na história da Academia Julian o seu patente e incompreensível compromisso de origem com o movimento de permanência que historicamente se identifica com o ecletismo acadêmico. Um dos atributos de maior destaque de Jules Léfébvre, é o de ter sido o continuador da tradição, para quem toda a alta sociedade francesa posou entre 1885 e 1900. O timbre da Academia Julian que se vê em um certificado de 1895 menciona, no elenco de professores, Bourguereau, Ferrier, Léfébvre, T. Robert-Fleury, Laurens, B. Constant, Doucet, Baschet e Puech. Não inclui, então, Charles Leandre, que conviveu com Presciliano entre 1906 e 1908, a quem deu um depoimento muito ponderado: “Há mais de dois anos tenho conhecido como vizinho de um atelier um jovem artista brasileiro, Presciliano Silva, que me pede conselhos e me submete, várias vezes, muito discretamente seus estudos, retratos e paisagens. Sempre verifiquei nele um sentimento real da natureza e todas as qualidades que anunciam um temperamento de artista”... AGRADECIMENTOS MARIA LUIZA D’ERRICO GANTOIS, PROF. DR. LUIZ ALBERTO FREIRE, SIMONE TRINDADE, PROFESSORA ANA MARIA VILAR, MARIA DA CONCEIÇÃO SILVA, PROFESSOR JOSÉ DIRSON ARGOLO, JÚLIO CÉSAR MELLO OLIVEIRA, DÍLSON MIDLEJ, BONELLI, AFRANIO SIMÕES, OS COLEGAS DA TURMA, CÂMARA DE VEREADORES DE SALVADOR, QUARTEL GENERAL DA VI REGIÃO MILITAR, ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA, PALÁCIO DA ACLAMAÇÃO, MUSEU CARLOS COSTA PINTO, MUSEU DE ARTE DA BAHIA, INSTITUTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO DA BAHIA, ESCOLA DE BELAS ARTES DA UFBA, FUNDAÇÃO CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA – DIVISÃO DE MUSEUS, IPAC - INSTITUTO DO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO E CULTURAL DO ESTADO DA BAHIA, GALERIA DO SOLAR DO FERRÃO E TODAS AS PESSOAS QUE CONTRIBUÍRAM PARA ESTE TRABALHO. 50