NARRATIVAS DE FORMAÇÃO MEDIADAS PELOS ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS Silvana Ventorim1 - UFES Aline Teixeira da Silva2 - UFES Grupo de Trabalho - Práticas e Estágios nas Licenciaturas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este trabalho está vinculado ao Programa Institucional de Iniciação Científica (PIIC) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e articulado à pesquisa A Produção Acadêmica sobre Estágio Supervisionado na Formação de Professores no Brasil: 2000 a 2014. Busca apresentar o subprojeto de pesquisa intitulado Narrativas de Formação Mediadas pelos Estágios Supervisionados do Curso de Pedagogia, dispondo-se a investigar, por meio das narrativas de formação de estagiários, o processo de tornar-se professor na e com a vivência dos Estágios Supervisionados do curso de licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), analisando os sentidos que são produzidos pelas e nas experiências narradas pelos estagiários. Esta pesquisa se insere numa abordagem teórico-metodológica denominada pesquisa narrativa que pretende o acompanhamento da construção dos sentidos que são produzidos na iniciação à docência no tempo da formação inicial, o que implica a constante análise dos processos de formação de professores, bem como a reflexão sobre a prática pedagógica. Entendemos que pelas narrativas escritas podemos compreender o desenvolvimento do estágio e as experiências dos estudantes em processo de formação inicial, identificando seus sentidos e suas percepções. A produção de escrita na formação inicial favorece a articulação entre o cotidiano escolar e a universidade, visto que os estudantes vão buscar sentidos entre a relação teoria e prática no desenvolvimento do estágio. Nesse contexto, compreendemos a importância desse recurso metodológico para discutirmos o Estágio Supervisionado, na medida em que as vozes desses estudantes contribuem para problematizar a complexidade da prática profissional, bem como para desenvolvimento das disciplinas de Estágio Supervisionado dos cursos de licenciatura. Palavras-chave: Formação de Professores. Estágio Supervisionado. Narrativas de Formação. 1 Doutora de Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professora Associada da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: [email protected]. 2 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Bolsista do Programa de Institucional de Iniciação Científica (PIBIC). E-mail: [email protected]. ISSN 2176-1396 21436 Introdução Este trabalho está vinculado ao Programa Institucional de Iniciação Científica (PIIC) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e articulado à pesquisa "A Produção Acadêmica sobre Estágio Supervisionado na Formação de Professores no Brasil: 2000 a 2014". Busca apresentar o subprojeto de pesquisa intitulado Narrativas de Formação Mediadas pelos Estágios Supervisionados do Curso de Pedagogia, inserindo-se no debate sobre a mediação dos Estágios Supervisionados na formação de professores com ênfase na produção de narrativas sobre os processos de tornar-se professor no tempo da formação inicial. Em específico pretendemos dar visibilidade aos processos de formação narrados por estudantes do curso de Pedagogia noturno do Centro de Educação (CE) da UFES. No mapeamento e descrição sobre os pressupostos teórico-metodológicos da temática em artigos acadêmicos sobre narrativas como estratégia de investigação e formação de professores, identificamos diversas possibilidades de utilizar as narrativas na formação de professores em diferentes momentos da formação docente. No processo de produção de narrativas escritas de estudantes de licenciatura em Educação Física percebemos que as narrativas foram reduzidas a relatos e avançam pouco na perspectiva de refletir o processo de tornar-se professor como estagiários nas escolas, embora nos registros apareçam dados importantes a serem analisados como: relatos de vida pessoal; inquietações com a configuração do estágio; dúvidas com relação à utilidade do estágio; insegurança em assumir a docência; concepções de estágio; desencantamentos e encantamentos com a profissão, reafirmação de escolhas profissionais; experiências de descoberta das possibilidades e dos limites do ser professor, enfim, um conjunto de vivências que apontam para a necessidade de dar voz ao que se constrói na formação inicial quando se tem como objeto a própria experiência em ser e tornar-se professor no momento do Estágio Supervisionado. Com a experiência de que a produção de narrativas escritas tem sido importante estratégia de formação e investigação, assumimos como campo de investigação a licenciatura em Pedagogia tendo em vista o processo de externalização e socialização das experiências de iniciação à docência no desenvolvimento dos Estágios Supervisionados. Para tanto, retomamos a perspectiva de que, no diálogo com a produção acadêmica nacional sobre formação de professores e Estágio Supervisionado, de forma geral, concordamos que o desenvolvimento das disciplinas de Estágio Supervisionado tem expressado as possibilidades de mobilização e produção de diferentes saberes constituidores 21437 da identidade docente. A estas disciplinas cabem momentos de articulação de saberes, de produção de conhecimentos, do exercício orientado da docência e da pesquisa, da aproximação e da vivência desse cotidiano escolar, da construção da autonomia do professor em formação inicial e de parceria entre universidade e escola por meio de ações de ensino, pesquisa e extensão. Associar teoria e prática, compreender a escola e seus sujeitos, tornar-se professor, inovar o ensino, contribuir com a formação dos alunos, planejar, implementar e avaliar projetos de ensino são os desafios que o momento do Estágio Supervisionado provoca para os que estão se formando professores. Sem dúvida, muitos desses desafios são vividos com a insegurança, ansiedade, medos, encantamentos, mas, sobretudo, com a singularidade própria dos lugares e tempos e das relações que cada sujeito — os alunos estagiários, os professores das instituições de ensino superior e os professores da educação básica — se encontram. O que neste processo se expressa como singular é a condição do ser e tornar-se professor no processo de estar sendo professor, ou seja, quando estes sujeitos, especialmente os estagiários, vivem os Estágios nos diferentes espaços educativos ou etapas de ensino. Por meio dos Estágios Supervisionados o tornar-se professor assume a centralidade do processo, na qual as identidades docentes se constituem e se ressignificam na confluência de diferentes saberes e trajetórias. Dessa forma, pressupomos que a docência se faz por processos contínuos que se constituem nas relações desenvolvidas em cada contexto, o que implica a constante análise dos processos de formação de professores, bem como da reflexão sobre a prática pedagógica. Portanto, é necessário dar voz aos professores, em especial aos estagiários, ouvindo seus relatos pessoais, pois isso implica em considerar os percursos na construção de sua profissão docente. Nesse sentido, a autobiografia, possibilita ao docente revelar seus anseios e expectativas sobre a profissão e a própria vida. A imagem que o professor constrói de si mesmo e perante a sociedade faz parte do processo de construção de sua identidade profissional. Desenvolvimento Este estudo se insere numa abordagem teórico-metodológica denominada por Souza (2006) de pesquisa narrativa e pretende analisar as narrativas de estudantes em formação produzidas na realização das disciplinas de Estágio Supervisionado do curso de Pedagogia noturno. Entendemos que pelas narrativas escritas de estudantes podemos compreender o 21438 desenvolvimento do estágio e as experiências dos estudantes em processo de formação inicial, identificando seus sentidos e suas percepções. As narrativas são importantes instrumentos de socialização, pois “Os registros apenas terão sentido se servirem para a implementação de um debate e oferecer novos olhares sobre o Estágio” (LIMA, 2012, p. 81). Com isso, a autora afirma que a socialização dos registros é fundamental para a aprendizagem da profissão. “Os compartilhamentos de histórias e de saberes nos permitem viver com os diferentes outros, em um espaço não sem tensões, com divergências que se cruzam e produzem novas discussões” (COCÔ; SILVA, 2014, p.5). Também identificamos que pesquisas com narrativas de formação têm como possibilidade a perspectiva colaborativa, uma vez que a escuta das narrativas nos permitem compreender e ampliar nossas trajetórias de formação e nossas próprias histórias (SOUZA, 2006). A produção de escrita na formação inicial favorece a articulação entre o cotidiano escolar e a universidade, visto que os estudantes vão buscar sentidos entre a relação teoria e prática no desenvolvimento do estágio. Portanto, as narrativas propiciam aos estudantes exercerem papéis de protagonistas e autores da sua formação profissional, avaliando o sentido e significado do estágio para sua aprendizagem, caracterizando-se como excelente estratégia de formação (SOUZA, 2006). Nesse contexto, compreendemos a importância desse recurso metodológico para discutirmos o Estágio Supervisionado, na medida em que as vozes desses estudantes contribuem na caracterização do processo de estágio e ajudam a pensar nos limites e desafios da prática profissional. “A autobiografia permite reconhecer trajetórias que dialogam com as políticas sociais, com as iniciativas e esforços individuais, com os parceiros de jornada, enfim, com uma infinidade de dados sobre a constituição dos percursos dos sujeitos [...]” (COCÔ; SILVA, 2014, p.5). Nesse contexto serão analisadas as narrativas escritas de estudantes das disciplinas de Estágio Supervisionado da Educação Infantil, Estágio Supervisionado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e Estágio Supervisionado em Gestão Educacional, respectivamente, dos 7º, 8º, e 9º períodos do curso de licenciatura em Pedagogia noturno da UFES. Na totalidade o Estágio Supervisionado possui a carga horária de 405 horas, sendo distribuída nessas três disciplinas com 135 horas cada. A partir da perspectiva de rememorar as experiências vividas no decorrer da formação profissional, o processo de produção dos dados implicará dois momentos: o primeiro caracteriza-se como a identificação dos sujeitos com a narrativa; e o segundo, na vivência dos 21439 Estágios Supervisionados, com o processo de produção de narrativas escritas de formação situadas no início, no decorrer e no final do desenvolvimento das disciplinas de Estágio Supervisionado no semestre letivo 2015/02. Assim será possível acompanhar diferentes experiências distantes no espaço e no tempo de sujeitos com diferentes histórias e trajetórias de vida e formação. Entendemos que a formação docente não se limita a execução do próprio trabalho, mas envolve aspectos sobre a história de vida dos professores, permeada de experiências que lhes são particulares. Nesse sentido, evidenciamos que as experiências dos estagiários ao longo de sua trajetória contribuem na constituição de sua identidade profissional, uma vez que as dimensões pessoal e profissional se constroem concomitante ao processo identitário (SOUZA, 2006), visto que é inseparável a relação entre “[...] o eu pessoal e o eu profissional” do professor. (NÓVOA, 1992 p. 15). Nóvoa (2002) considera que os espaços de formação mútua são consolidados com a partilha de saberes e a troca de experiência, portanto os sujeitos envolvidos na dinâmica do estágio, direta ou indiretamente, compartilham seus conhecimentos uns com os outros. Nessa perspectiva, o estágio enriquece tanto os estagiários, que estão tendo um contato direto com seu futuro campo profissional, como também os docentes das instituições que recebem esses estudantes, pois o fato de compartilharem suas experiências com os graduandos promovendo assim uma análise acerca do seu fazer docente. Com isso compreendemos que o processo formativo não é apenas dos estagiários ou apenas dos docentes, mas de toda a comunidade escolar. O estágio também se apresenta como significativo espaço de interação, no qual o estagiário estabelece contato com professores, alunos, gestores, família e comunidade. Esse contato além de favorecer a troca de conhecimentos igualmente contribui com o movimento de aprender e ensinar. Para Lima (2012), essa interação é intrínseca ao desenvolvimento de construção da identidade do futuro professor. Nesse contexto, evidenciamos que essa relação entre os atores envolvidos no campo educacional se manifesta como processo de ressignificação, possibilitando aos professores um novo olhar sobre o presente e ao estagiário problematizar o futuro campo de atuação. Estes sujeitos além de exercerem atividades juntamente com os professores, também podem realizar atividades de análise e avaliação dos processos pedagógicos, elaborando projetos de intervenção a partir das dificuldades e desafios encontrados na escola. Portanto, ressaltamos a partir de Nóvoa (2002), que vivenciar as tomadas de decisões dos professores possibilita a 21440 construção de instrumentos de formação, pois os estagiários agregam experiências para sua formação inicial enquanto os professores exercem uma análise dos seus atos, contribuindo assim para sua formação continuada. Compreendemos assim, que o processo de formação profissional se constitui de diferentes momentos e se efetiva na prática, por meio dos saberes construídos na experiência cotidiana. Considerando que essa construção de identidade profissional ocorre no contexto escolar, é interessante observar como se dá o processo de inserção dos docentes iniciantes na escola. Portanto, é nesse espaço-tempo que o estudante em formação pode ter contato com a realidade profissional, possibilitando assim articular os diversos conhecimentos de sua formação e, certamente, vivenciar de forma orientada a docência. Como recursos de formação e investigação, as narrativas sugerem o investimento no sujeito professor em formação inicial e no cotidiano do fazer docente como potencializador da criação da cultura escolar – dinâmica e heterogênea. Ao exteriorizar e investigar seus conhecimentos, sua rotina, suas relações, suas práticas/teorias, suas angústias e encantamentos, como expressão da sua história de vida e da cultura docente e escolar o aluno estagiário se insere na perspectiva qualificação do seu fazer (SOUZA, 2006). Assim, narrar-se, pode contribuir para descobrir-se, conscientizar-se de si e ressignificar-se. É nessa perspectiva que essa proposta de investigação caminha tendo em vista o tornar-se professor, pois conhecer-se vai além do simples fato de compreender como se processa a formação. Ao ter o espaço escolar e o universitário como os lócus de formação dos sujeitos e, assim, como momento de planejamento, reflexão, colaboração, trocas, experiências, essa proposta de investigação insere-se também nos estudos das práticas cotidianas e colaborativas, tendo em vista a importância das relações entre os contextos universitário e escolar e das teias ali tecidas no que diz respeito à cultura escolar e suas possibilidades. Considerações Finais Acreditamos que como lugar fértil de práticas formativas, as escolas, os praticantes que ali se encontram e os projetos de ensino planejados e realizados colaborativamente pelos estagiários e pelos professores agregam à investigação elementos capazes de fazer materializar propostas de ressignificação das práticas educativas pelo uso das narrativas na formação inicial no curso de Pedagogia Noturno. 21441 Neste movimento, de narrar-se, de (auto) formação a partir das biografias, competem tanto a esfera profissional quanto a pessoal, ganhando novos interlocutores com a inserção em outros espaços potencializando as discussões pertinentes a formação de professores (COCÔ; SILVA, 2014). Uma vez que, diante da complexidade do ser professor, é preciso um reconhecimento das diversas singularidades, dos sujeitos, dos espaços e dos contextos em constante prática de reflexão das experiências vividas e compartilhadas, processo que contribuirá diretamente para o desenvolvimento das disciplinas de Estágio Supervisionado dos cursos de licenciatura. O falar de si e de suas vivências em um determinado contexto, provoca um pensar e repensar sobre a prática, no ato de rememorar situações, podendo-se visualizar novas possibilidades de atuação, bem como o compartilhar dessas experiências pode ser um instrumento formador não só para quem narra, mas também para quem dar-se a ler, possibilitando novos olhares para uma mesma situação, aqui efetiva-se uma etapa da formação pessoal e profissional dos narradores e dos leitores. REFERÊNCIAS LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e aprendizagem da profissão docente. Brasília: Liber Livro, 2012. COCÔ, Valdete; SILVA, Aline Teixeira. Pet educação: a autobiografia como processo formativo. VI CONGRESSO INTERNACIONAL DE PESQUISAS (AUTO) BIOGRÁFICAS, 2014, p.1-10 (CD ROOM). NÓVOA, António. Vida de professores. Porto: Porto Ed, 1992. _______. António. Formação de professores e trabalho pedagógico. Lisboa: Educa, 2002. SOUZA, Elizeu Clementino de. O conhecimento de si: estágio e narrativas de formação de professores. Rio de Janeiro: DP&A; Salvador, BA: UNEB, 2006.