Vossa Eminência Reverendíssima,
Vossas Excelências Reverendíssimas,
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara,
Excelentíssimos Senhores Embaixadores,
Excelentíssimas Senhoras e Senores,
Caros convidados,
O poeta húngaro János Pilinszky escreveu assim:
As boas ações são praticadas, sobretudo, em segredo.
Nenhum instrumento as deteta, nenhum aparelho estatístico elabora gráficos sobre elas.
Mas a sua presença é tanto mais real e verdadeira.
Poucas palavras se escreveram sobre a bondade nos livros da história.
Mas se as ações de bondade deixassem de fazer parte da nossa vida na Terra, isso seria um
flagelo, uma calamidade tão grave e insuportável como se o nosso Globo perdesse, de um
momento para o outro, a sua atmosfera.
A presença da bondade faz lembrar o milagre das madrugadas, o sol invisível que embora
ainda encoberto pela escuridão, já está presente com uma força inigualável.
Luís Kondor, caros presentes, amava “o milagre das madrugadas”.
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Aqueles que o conheceram, sabem que muitas vezes, ainda antes do nascer do dia se
apressava em direção à colina do calvário.
Gostava de saudar os primeiros raios de sol com uma missa na Capela dos Húngaros.
Quem sabe se nesses momentos se lembrava da sua infância, da sua humilde aldeia de
nascimento, Csíkvánd, onde, na ausência de uma igreja edificada, apenas a igreja da alma se
lhe abria as portas.
Aos domingos, na companhia dos seus pais e irmãos fazia longas caminhadas através da
floresta, para chegar à terra vizinha, Gyarmat, para poderem ouvir a missa.
Poderão ter sido esses longos quilómetros percorridos que fizeram dele um peregrino eterno
de espírito missionário.
De qualquer modo, uma coisa parece certa: a dedicação à construção de igrejas foi uma
herança que recebeu dos seus pais.
A família Kondor deu tudo para conseguir que a minúscula aldeia que habitavam viesse ter
uma igreja.
Foi essa dedicação que tornou possível a construção da igreja de Csíkvánd, dedicada a Santo
Estevão, primeiro Rei da Hungria.
Luís Kondor tinha, nessa altura, 16 anos.
Foi com esta lição que a sua família e comunidade o prepararam para a vida.
E bem precisou dessa bagagem cheia de fé, amor e esperança para enfrentar o longo e difícil
caminho que se estendi à sua frente.
Comprometeu-se a servir Deus e as pessoas numa época em que os representantes húngaros
da ditadura comunista consideravam inimigos do povo a todos aqueles que escapavam ao seu
controlo.
Mas quem é que pode ficar acima de Deus?
Qual é o poder temporal capaz de controlar o espírito da fé, a voz da consciência e aqueles que
seguem as leis da moral?
A sombra da ditadura comunista que encobriu a Europa Central não conseguiu vedar a luz
matinal dos olhos do Padre Kondor, essa luz que o chamava todos os dias.
Assim, indiferente ao espírito da época, tomou a decisão de seguir o caminho do amor e do
serviço ao próximo.
Em 1946, com 16 anos de idade, entrou na Congregação do Verbo Divino na cidade húngara de
Kőszeg.
Fez os primeiros votos passados dois anos, mas quando se tornou evidente o destino que
estava reservado para a Hungria, ocupada mesmo depois da guerra, o seu superior mandou-o
para a Áustria.
Lá, estudou filosofia, primeiro em Mödling, a seguir em Salzburgo e, já na Alemanha, teologia.
Foi ordenado sacerdote na cidade de Bona.
Corria o ano de 1953.
No ano seguinte foi enviado para Portugal e em Fátima foi nomeado vice-prefeito da sua
congregação.
Nessa altura provavelmente nem suspeitava que Fátima se viria a tornar a sua casa, o seu lar
para o resto da sua vida, mantendo, ao mesmo tempo, a sua identidade de padre húngaro.
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Ao longo de toda a sua vida, o Padre Kondor seguiu e transmitiu para os seus próximos o
princípio da bondade.
Fez o bem através do seu trabalho relacionado com as aparições.
Devemos-lhe a ele também o facto de as mensagens de paz transmitidas pelos três
pastorinhos terem chegado a todas as partes do mundo, tornando Fátima num centro de
peregrinação cada vez mais procurado.
Fez o bem através do seu trabalho dedicado aos peregrinos: ano após ano, milhares e milhares
de pessoas que falam línguas diferentes mas procuram as mesmas verdades eternas
encontram a fonte do seu fortalecimento espiritual em Fátima.
Luís Kondor fez o bem através do seu trabalho dedicado a nós, húngaros, considerando-se
nosso irmão e compatriota.
Uniu a diáspora húngara no Ocidente, através da definição de uma missão para eles.
Teve um papel fundamental na construção da Capela de Santo Estevão e do Calvário Húngaro.
Sabia que as estações do calvário representarão um lugar de oração partilhado mesmo para
aqueles que viviam afastados da sua pátria.
E quis dar o exemplo de como um húngaro, filho de uma nação pequena mas que aspira o bem
poderá dar o seu contributo ao enriquecimento do nosso mundo.
Luís Kondor fez muito pela beatificação dos pastorinhos de Fátima.
Até ao fim da sua vida foi um arauto dos milagres de Fátima, das mensagens que Nossa
Senhora nos enviou em 1917.
Em 1917, ano em que os povos da Europa derramavam sangue num massacre que já durava
havia três anos.
Foi nessa altura que Jacinta, Francisco e Lúcia tiveram a visão de uma Senhora vestida de
branco e brilhante que lhes pediu orações pela paz e reparação dos pecados.
Ao princípio a notícia não foi bem recebida, nem pelos próprios pais dos pastorinhos.
Por terem insistido na verdade das suas visões e na promessa da Senhora de os visitar no dia
13 de cada mês, até tiveram que passar pelo cativeiro.
Seguiram em tudo as recomendações e pedidos da Senhora que acabou por lhes revelar ser a
Virgem Santíssima, Mãe de Jesus.
Na última aparição foram muitos milhares que presenciaram o milagre do sol e acreditavam
terem testemunhado uma advertência vinda do céu. Acreditavam no milagre. E, sobretudo,
acreditavam que valia a pena orar pelo futuro da humanidade.
Passados 13 anos, as autoridades eclesiásticas reconheceram como dignas de crédito as
aparições de Fátima.
Nessa altura dois dos videntes já tinham sucumbido à gripe espanhola.
Mas Lúcia sobreviveu.
Professou como Doroteia e dedicou a sua longa vida à reparação.
Foi em 1956 que o Padre Kondor conheceu a Irmã Lúcia que mais tarde teve um encontro com
o Papa João Paulo II que divulgaria ao mundo a terceiro segredo de Fátima.
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Nas suas revelações a Virgem partilhou uma visão de grande sofrimento, de perseguição à
Igreja, aludindo aos horrores do século XX, causados pelos pecados da humanidade e pelo seu
desvio do caminho da paz.
A mensagem de Fátima foi lentamente encontrando o seu caminho até aos corações –
veiculada através do resplendor da pureza dessas crianças e da humildade das suas condições.
No fundo, as mensagens e os segredos transmitiram-nos a mesma verdade:
Que através da fé e perseverança e das orações pela paz podemos acabar com as guerras.
Que o mal só poderá triunfar se os homens bons nada fizerem.
Que o nosso planeta poderá ser salva da destruição do mesmo modo que podemos salvar as
nossas almas das chamas do inferno e da perdição.
Não é fácil falar de milagres.
Depende da fé de cada um de nós até que ponto os deixamos de se aproximarem de nós.
Um dos segredos de Fátima só poderá ser entendido e assimilado através da nossa alma, da
nossa fé.
Mas Fátima revela um outro segredo também, esse acessível a todos.
Quem chegar aqui, levará consigo um pedaço desse segredo, independentemente das suas
convicções.
Porque aqui encontramos também o milagre de um Gólgota erguido por húngaros a milhares
de quilómetros da sua pátria. O milagre da união, das vidas vividas com dignidade, do bem
praticado pelos homens.
E a vida digna de admiração do Padre Kondor que trabalhou incansavelmente para que a
indiferença e implacabilidade do mundo que nos rodeia não nos sufoque.
Na sua mensagem para o Quaresma, o Papa Francisco pede-nos para superarmos a vertigem
da indiferença.
O padre Kondor nunca ficou indiferente aos seus próximos.
Foi um bom homem, foi um bom pastor.
Foi um daqueles que souberam estabelecer laços de compreensão e amor nas comunidades.
Nós, húngaros, constatamos com os nossos corações cheios de gratidão que o Padre Kondor
encontrou uma casa aqui em Fátima onde viveu a sua vida rodeado de respeito, trabalhando
no Secretariado dos Pastorinhos.
Devemos-lhe muito.
Muito mais do que as palavras poderão alcançar.
A partir de agora, esta estátua fará uma homenagem eterna à sua obra.
Abençoada seja a sua memória e que o seu exemplo encontre muitos seguidores.
János Áder, Presidente da República da Hungria
Fátima, 7 de março de 2015
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