XIX CONGRESSO BRASILEIRO DE FÍSICA MÉDICA 17 A 20 DE AGOSTO DE 2014 GOIÂNIA – GO LÁTEX DE HANCORNIA SPECIOSA PARA APLICAÇÕES BIOMÉDICAS: PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS, AVALIAÇÃO DE BIOCOMPATIBILIDADE E ATIVIDADE ANGIOGÊNICA. Lais N. Magno1, Luciane M. Almeida2 e Pablo J. Gonçalves1 1 Instituto de Física UFG, Goiânia, Brasil. 2 Universidade Estadual de Goiás, Ipameri, Brasil. Resumo: O látex obtido da Hancornia speciosa é utilizado em medicina popular para o tratamento de inúmeras doenças. Neste trabalho, descreveremos a biocompatiblidade e propriedades angiogênicas do látex de H. speciosa e sua potencial aplicação em medicina. A caracterização físico-química foi realizada a partir de diferentes metodologias. A biocompatibilidade foi avaliada através dos testes de citotoxicidade e genotoxicidade e as propriedades angiogênicas foram avaliadas usando o teste com modelo de membrana corioalantóide (CAM) de galinha. Os resultados físico-químicos mostraram que a estrutura da biomembrana de látex de Hancornia speciosa é muito similar ao da Hevea brasiliensis. Além disso, os testes de citotoxicidade e genotoxicidade mostraram que o látex de H. speciosa é biocompatível com sistemas vivos e pode ser um bom material para aplicações biomédicas. O teste CAM mostrou eficiente habilidade no látex de H. speciosa em neurovascularização de tecidos. Nossos dados indicam que o látex obtido a partir da H. speciosa e estabilizado em água, mostrou significante atividade angiogênica sem quaisquer efeitos citotóxicos ou genotóxicos em sistemas vivos. O mesmo não acontece para o látex estabiliazado com amônia. A adição de amônia não apresenta efeitos significativos na estrutura das biomembranas, mas mostrou uma menor sobreviência de células e um efeito genotóxico significante. Palavras-chave: Mangabeira; plantas medicinais; Citotoxicidade; Genotoxicidade; teste CAM; Neovascularização. Abstract: The latex obtained from Hancornia speciosa is used in folk medicine for treatment of several diseases. In this work, we describe the biocompatibility assessment and angiogenic properties of H. speciosa latex and its potential application in medicine. The physical-chemical characterization was carried out following different methodologies. The biocompatibility was evaluated through cytotoxicity and genotoxicity tests and the angiogenic properties were evaluated using the chick chorioallantoic membrane (CAM) assay model. The physical-chemical results showed that the structure of Hancornia speciosa latex biomembrane is very similar to that of Hevea brasiliensis. Moreover, the cytotoxicity and genotoxicity assays showed that H. speciosa latex is biocompatible with life systems and can be a good biomaterial for medical applications. The CAM test showed the efficient ability of H. speciosa latex in neovascularization of tissues. Our data indicate that the latex obtained from H. speciosa and eluted in water showed significant angiogenic activity without any cytotoxic or genotoxic effects on life systems. The same did not occur with H. speciosa latex stabilized with ammonia. Addition of ammonia does not have significant effects on the structure of biomembranes, but showed a smaller cell survival and a significant genotoxicity effect. Keywords: Mangabeira; medicinal plants; Cytotoxicity; Genotoxicity; CAM assay; Neovascularization. Introdução: A organização mundial de saúde estima que 80% da população mundial confia unicamente ou grandemente na medicina tradicional para cuidar da saúde [1], e há uma especulação de que mais de dois bilhões de pessoas possam confiar fortemente na medicina de plantas [2]. O látex assemelha-se a um leite que é exudado, cuja função é proteger a planta. O potencial para encontrar novos componentes no látex é enorme, haja vista que apenas 1% das espécies de plantas tropicais tem sido estudadas para sua aplicação farmacológica. Recentemente algumas pesquisas descreveram resultados promissores no uso do látex extraído da Hevea brasiliensis para produzir substutuição e regeneração de tecidos. Apesar do potencial farmacológico, algumas pessoas XIX CONGRESSO BRASILEIRO DE FÍSICA MÉDICA 17 A 20 DE AGOSTO DE 2014 GOIÂNIA – GO mostram alergia a este látex. Este fato é uma boa razão para buscar outras espécies lactíferas que possam produzir látex bioativos com baixo potencial alergênico. O látex obtido da Hancornia speciosa, planta nativa do Brasil, e tipicamente encontrada no Cerrado, pode ser uma importante alternativa para a produção de biomembranas para aplicação médica. A baixa quantidade de proteínas da Hancornia, quando comparada à Hevea, é um dos achados mais marcantes de Malmonge et al. [3] que sugere que Hancornia tem potencial para ter menos components alergênicos. O objetivo deste trabalho é avaliar o potencial em medicina do látex de H. speciosa como biomaterial para estimular angiogênese. Para isto, as características das biomembranas foram estudadas, assim como os efeitos da coleta do látex e metodologia de esterilização. A biocompatibilidade foi avaliada através dos testes de citotoxicidade e genotoxicidade. Finalmente, o potencial angiogênico foi avaliado através do uso do modelo de membrane corioalantóde (CAM) de ovo de galinha. Material e Métodos: O látex utilizado neste trabalho foi coletado na estação experimental da Universidade Estadual de Goiás(UEG), no município de Ipameri-GO. Para preparar as biomembranas, o látex é centrifugado a 3.000 rpm durante 5 minutos, em seguida, depositado em placas de petri e então levado à estufa (55ºC) até sua completa polimerização. Para os testes biológicos é necessária a esterilização das biomembranas, que foi realizada no IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) em São Paulo, SP. As medidas para realizar a caracterização físico-química foram realizadas medidas de espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR), Termogravimetria (TG) e análise elementar (CHN). Os testes de viabilidade celular, citotoxicidade e genotoxicidade foram realizados com linhagens de células de fibroblastos de ratos. Para avaliar a citotoxicidade e a viabilidade celular, utilizou-se corante vital e em seguida, foram realizadas medidas espectroscópicas. Os danos ao DNA foram avaliados a partir do teste cometa. O potencial angiogênico foi realizado a partir do teste CAM, onde verificou-se vascularização na membrana corioalantóide de ovos. Resultados e Discussões: Os resultados de FTIR, TG e CHN mostraram que as biomembranas de H. speciosa são semelhantes estruturalmente às de H. brasiliensis e que a adição de amônia não altera a estrutura das biomembranas. No teste de viabilidade celular verificou-se que as biomembranas de H. speciosa além de não provocarem mortalidade celular, promovem proliferação das mesmas. O teste cometa mostrou que há um significativo dano ao DNA quando as células são expostas às biomembranas contendo amônia. O teste CAM mostrou a atividade angiogênica da membrana corioalantóide quando expostas às biomembranas de látex de H. speciosa. Conclusão: Nossos dados indicam que o látex obtido a partir da H. speciosa e estabilizado com água, apresenta significante atividade angiogênica e não apresenta efeitos de citotoxicidade e genotoxicidade em sistemas vivos. O mesmo não ocorre com o látex de H. speciosa estabilizado com amôonia. A amônia não causa significativos efeitos na estrutura das biomembranas, mas indicou causar uma menor sobrevivência celular e uma significativa genotoxicidade. O teste CAM comprovou a atividade angiogênica das biomembranas. Este trabalho contribuiu para compreender as potencialidades do látex de Hancornia speciosa latex como fonte para novos fitomedicamentos, Agradecimentos: Agradecemos às agências de fomento MCT/CNPq, FNDCT, CAPES, FINEP, FAPEG, FAPESP e FUNAPEP. Referências: 1. Bannerman RH. Traditional medicine in modern health care. World Health Forum 3, 1982; 8-13. 2. Lambert J, Srivastava J, Vietmayer N. Medicinal plants – rescuing a global heritage, Technical Paper, 355, Washington DC, World Bank; 1997. 3. Malmonge JA, Camilo EC, Moreno RMB, Mattoso LHC, McMahan CM. Comparative study on technological properties of latex and natural rubber from Harconia speciosa gomes and Hevea brasiliensis. Journal of Applied Polymer Science. 2009; 111: 2986-91.