A luz é como a água O mesmo desejo continuara todos os anos. Totó e Joel voltaram a pedir no Natal um barco a remos que os pais já lhes tinham prometido há tanto tempo. Mas a mãe não percebia para quê, visto que viviam num prédio e a única água que tinham era a da torneira. Mas tal como tinha prometido, sem sequer a mulher saber, o pai comprou um barquinho a remos. E anunciou-o depois do almoço. Mas ocorreu um problema. O barco não cabia no elevador, para o trazerem lá para casa e pelas escadas era muito pesado. Por isso, durante uns tempos ficou na garagem. Então, num sábado, chamaram os seus amigos para os virem ajudar a transportar o barco a remos pelas escadas. Conseguiram metê-lo no quarto de serviço. O pai deu-lhes logo os parabéns. Parece que o esforço deu resultado. À noite, como todas as quartas-feiras, os pais do Totó e do Joel, foram ao cinema e quem ficou a comandar a casa foram os dois irmãos. Fecharam as portas e as janelas e partiram a lâmpada do candeeiro da sala. Um jorro de luz doirada e fresca como a água começou a correr da lâmpada partida e eles deixaram correr até que a luz atingiu quatro palmos de fundo. Foram buscar o seu barco e navegaram por entre as ilhas da casa. Esta aventura fantástica foi consequência de uma participação do Joel num seminário sobre a poesia dos objectos domésticos. Totó perguntou-lhe porque é que a luz acendia só carregando num botão. E Joel respondeu-lhe que a luz era como a água, abria-se a torneira e saía água. E eles continuaram a navegar no seu barco a remos todas as quartas-feiras, aprendendo a utilizar o sextante e a bússola. Mas, como último pedido, pediram um equipamento de mergulho aos pais, barbatanas, máscaras, botijas de oxigénio e espingardas de ar comprido. Mas os pais acharam que já era demais. Joel sugeriu que se eles ganhassem a gardénia de ouro do semestre os pais lhe dessem o equipamento de mergulho. Mas a mãe recusou. O pai acusou-a de intransigência. Mas a mãe comentou que os filhos não ganhavam um cravo que seja para cumprir o seu dever, mas por um capricho qualquer poderiam ganhar tudo. Totó e Joel conquistaram em Julho as suas gardénias de ouro além do louvor do reitor. Nessa mesma tarde, o pai comprou-lhes o equipamento de mergulho sem hesitar. Assim, na quarta-feira seguinte os pais saíram para ir ao cinema e, os irmãos encheram a casa de água afundando móveis, camas… Na distribuição dos prémios da escola, Totó e Joel foram aclamados como exemplo para a escola. Como prémio, os pais deixaram os dois miúdos fazer uma festa em casa com os amigos, na quarta-feira. Na noite tão esperada, os pais saíram para ir ao cinema e, na cidade, uma cascata de luz iluminava as ruas todas. Chamados de urgência, os bombeiros forçaram a porta do quinto andar e deram com a casa cheia de luz até ao tecto. Estava tudo a flutuar por entre as divisões da casa. Ao fundo do corredor, Totó estava sentado à polpa do barco, com o fato de mergulho vestido, à procura do farol do porto, quando se lhe acabara o ar das garrafas. Joel, navegava em busca da estrela polar enquanto a sua casa estava ocupada pelos seus colegas. Os miúdos tinham aberto tantas luzes ao mesmo tempo, que a casa tinha ficado submersa e todos os amigos tinham ficado afogados. Em Madrid, uma cidade distante, de verões ardentes e ventos gélidos, sem mar nem rio, e cujos aborígenes nunca foram mestres na ciência da navegação da luz. Trabalho Realizado por: Maria Inês Ribeiro Data: 6-3-2007