Regional 11
AÇORIANO ORIENTAL
DOMINGO, 24 DE MAIO DE 2015
Entrevista
DIREITOS RESERVADOS
Margarida Fonseca Santos É a escritora quem o diz.
A autora estará em São Miguel ainda este mês
de maio para realizar atividades literárias
em parceria com a Leya e com o EscreVIVER (n) os Açores
“Não é fácil
viver com dor”
PATRÍCIA CARREIRO
Açoriano Oriental
“De zero a dez” é um livro diferente. A
dor e os seus contornos são abordados
neste seu novo livro. O que a fez escrever
sobre este tema?
Viver com dor crónica é o meu dia-a-dia.
Foi algo que tive de aprender a controlar, a
aceitar, a reenquadrar. Não é fácil viver com
dor. Quem lida todos os dias com este problema vai perdendo, por vezes, a esperança, ou vai-se isolando e escondendo o que
o perturba, cansa-se muito e sente que ninguém entende verdadeiramente o que tem.
Por outro lado, quando encontramos quem
nos ouve, nos mostra caminhos, nos faz ter
uma noção relativa da dor e dos obstáculos, tudo muda. Foi o que aconteceu comigo. E a diferença é tão grande quando temos quem nos compreende que resolvi
transportar esta temática para um livro.
Espero que dê apoio a quem dele precisa,
esperança a quem julga que a perdeu, consolo a quem se sente isolado.
Leonor é uma pessoa que sofre e que
revela o que é o sofrimento nesta sua história. Será que encontramos um pouco
da Margarida nesta personagem?
Encontram, sim, mas não só. Neste livro, estão histórias de muitas pessoas que
aceitaram partilhar as suas vidas comigo. Aí começou a magia: as histórias assemelhavam-se tanto que começámos a
ver quão importante é partilhar experiências. A escolha da artrite reumatoide
foi porque os médicos e enfermeiros achavam que seria a mais transversal de todas
as doenças. Há cerca de duzentas doen-
ças músculo-esqueléticas e eu entrevistei pessoas com muitos tipos de doença.
Eu própria não tenho este tipo de artrite,
mas são tantos os pontos comuns com o
meu dia-a-dia e com os de outros doentes que se torna evidente que este é um
grande grupo que vive da mesma forma.
Vários profissionais da saúde escreveram sobre este livro. Sente que contribuiu para o bem-estar de muitos portugueses com doenças crónicas?
A ideia era chegar aos portadores de
doença crónica e isso tenho a certeza de estar a fazer, pois nunca com outro livro tive
tantas reações, tantas conversas, tantas partilhas. Os profissionais de saúde interessaram-se pelo livro: primeiro, o professor
“Quando encontramos
quem nos ouve, nos mostra
caminhos, nos faz ter uma
noção relativa da dor e dos
obstáculos, tudo muda”
João Eurico Cabral da Fonseca, que leu todo
o livro e corrigiu a parte médica; também
outros reumatologistas e enfermeiros deram as suas opiniões; um laboratório farmacêutico, a UCB, tomou a seu cargo a tradução e produção em castelhano e inglês,
além de comprar livros para oferecer a
doentes; muitas associações de doentes
apoiaram o livro. Embora no meio literário esteja a passar despercebido, no da saúde não; é esse era o objetivo.
Teve, provavelmente, que investigar
Margarida Fonseca Santos transpôs a sua experiência e a de outros com a dor para livro ‘De zero a dez’
para escrever este livro. O que mais a chocou no percurso da escrita do mesmo?
Sim, claro. Houve muita pesquisa, muitas conversas, muitas dúvidas. O que mais
me chocou? É difícil dizer... Talvez a quantidade de doentes cujos familiares não
querem compreender a doença, afastando-se, inclusivamente, rompendo relações, enfim, fugindo para não lidar com
isto. Não estou a criticar: há pessoas que
realmente não aguentam ficar a assistir
ao sofrimento, mas não consegui ficar indiferente, isso não, talvez porque tenho
um marido e dois filhos que me apoiam
sempre, sabendo ralhar quando é preciso
- tantas vezes é, quando me esforço demasiado - e deixar-me chorar quando me
vou abaixo. Pelo meio, fica uma vida de
sorrisos, cumplicidades e muito afeto.
Como tem sido a reação dos portugueses ao ler este livro?
Tem sido incrível, ando muito feliz! Sou
convidada a falar sobre ele em muitos pontos do país e são sempre conversas tão intensas que me sinto uma privilegiada por
poder estar com as pessoas. Penso que todos crescemos com estas conversas.
Ainda neste mês de maio vem aos Açores. O que nos pode contar sobre esta sua
visita?
A ideia é fazer uma mistura de três coisas.
Irei a algumas escolas como escritora, pois
a esmagadora maioria dos meus livros é para
crianças. Contudo, é das coisas que mais me
desgasta e inflama, pelo que não serão tantas como desejaria. Também farei um
workshop de escrita criativa, em parceria
com o EscreVIVER (n) os Açores, que muito prazer me dá. E terei uma conversa sobre este livro numa livraria em Ponta Delgada. Espero estar à altura das vossas
expectativas! DIREITOS RESERVADOS
Povoação deve aproveitar apoios
para atividades marítimo-turísticas
Serrão Santos visitou o novo porto da Povoação e falou com o autarca Carlos Ávila
O deputado europeu Ricardo Serrão Santos deslocou-se ontem à
Povoação, tendo visitado seu novo
porto e disse que a vila deve aproveitar projetos comunitários para
potenciar as atividades marítimo-turísticas.
“Neste momento a União Europeia está a valorizar muito as
questões relacionadas com o turismo costeiro e com o turismo
marítimo e há de facto um grande mercado, neste âmbito. Por-
tanto, existem oportunidades
aqui para a Vila da Povoação seguir este trilho”, salientou. Segundo uma nota de imprensa,
Serrão Santos trocou impressões
com o presidente da câmara povoacense, Carlos Ávila, evidenciando que tem “trabalhado bastante nas questões da valorização
da biodiversidade, em atividades
alternativas e novas atividades e
há de facto uma procura cada vez
maior no âmbito do turismo e no
turismo costeiro, que são algumas
das atividades acarinhadas nas
perspetivas do ‘Crescimento Azul’
da União Europeia, nomeadamente no horizonte ‘20/20’. E é
neste âmbito que eu gostava de ver
os nossos Açores crescerem em
benefício da economia das localidades e da comunidade”, frisou. A
estratégia “Crescimento Azul” tem
por objetivo apoiar o crescimento sustentável no conjunto dos setores marinho e marítimo. PF
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