Os Campos Hidrotermais e a sua Biosfera Ricardo Serrão Santos Departamento de Oceanografia e Pescas Universidade dos Açores Conferência Fórum do Mar EXPONOR – Matosinhos, 17 de Junho 2011 Dorsais Oceânicas • Os mais extensos sistemas vulcânicos do Planeta: 60 000 km. • Profundidade média: 2 600 m. • Taxa de afastamento: 0.25 a 20 cm/ano. Condições extremas de ambiente: Sem luz Elevada pressão Actividade sísmica e vulcânica Baixas taxas de oxigénio Gradientes de temperatura (até 350ºC) pH baixo Fluidos ricos em metais pesados Sulfuretos Polimetálicos As chaminés de depósitos minerais trazidos ao nível do solo submarino pela água aquecida que penetrou no subsolo onde se misturou com minerais. Estas crostas albergam alguns metais nobres. Estes sítios, quando activos, albergam comunidades faunísticas quimossintéticas únicas com grande interesse biológico e interesse biotecnológico. Um Habitat fragmentado - Populações isoladas (meta-populações) em constante estado de mudança O paradoxo dos ecossistemas hidrotermais Biomassas abundantes (+ de 20 kg/m2) Biodiversidade endémica Crescimento rápido conciliada com Elevada toxicidade (i.e. elementos-radão radioactivos + metais pesados: Cd, Hg, Cn, Pb, Zn, Fe, Ag) Sistemas Quimiossintéticos As comunidades hidrotermais são metabólica e fisiologicamente diversas e sobrevivem em condições extremas de pressão, temperatura, acidez, elevadas taxas de metais pesados e radioactividade sendo por isso particularmente promissoras quanto ao seu potencial biotecnológico. Simbioses: Os animais beneficiam das bactérias que transformam o CO2 em matéria orgânica. A bactérias beneficiam de protecção. Durante a Quimiossíntese – o sulfureto de hidrogénio é a fonte de energia. É utilizado por bactérias de vida livre, ou absorvido pelos hospedeiros invertebrados e transportados aos simbiontes. Assimilação de matéria orgânica dissolvida (POM) Riou et al. 2010 Marine Ecology Progress Series Valor potencial para a indústria biotecnológica: extremo-enzimas, desintoxicação, mecanismos de reparação de lesões do ADN, etc. Exploração de depósitos minerais (melhor conhecimento da génese de depósitos de minerais em terra). Uma janela para a evolução da vida. São visualmente espectaculares e geram interesse público alargado. Lucky Strike Lucky Strike • Dominado pelo mexilhão Bathymodiolus azoricus e pela poliqueta comensal Branchipolynoe seepensis. Formam grandes camadas que forram as paredes das chaminés. • As camadas de mexilhões com os seus bissus, formam micro ambientes que albergam inúmeras espécies de pequeno porte como pulgas do mar (antípodes), camarões, etc. • Os camarões também são abundantes com excepção do camarão cego. Outubro 2010 Cimo de um monte hidrotermal situado no campo hidrotermal Lucky Strike. Fotografia: ROV Victor. Zonamento biológico das comunidades e distribuição do substrato da Torre Eiffel(Lucky Strike) - 4 associações faunísticas principais Taxa de mudança na dinâmica das comunidades nas dorsais de separação lentas: pequenas flutuações LabHorta – “Large Scale Facility” para estudos experimentais com organismos de profundidade. NI “Arquipélago” e NI “Atalante” encontram-se no sítio do Menez Gwen para transferência de cientistas, material biológico e colocação de jaulas. LabHorta – “Large Scale Facility” para estudos experimentais com organismos de profundidade. As jaulas deixadas a 1000 metros de profundidade pelo ROV francês VICTOR 6000 ou pelo submersível Nautile, são recolhidas ao longo dos meses pelo NI “Arquipélago” e trazidas até ao porto da Horta, em 16 horas, para estudos experimentais no LabHorta. LabHorta – “Large Scale Facility” para estudos experimentais com organismos de profundidade. Aquários isolados, fornecidos com metano e sulfureto de hidrogénio, mantém em condições de estudo, durante meses, os mexilhões Bathymodiolus azoricus e as suas bactérias simbióticas. Aquários pressurizados IPOCAMP e sistema de regulação química (SYRENE) para estudos in vivo, sob pressão, no LabHorta. LabHorta – “Large Scale Facility” para estudos experimentais com organismos de profundidade. Recolha dasdas jaulas no Outono, Inverno e Primavera Deposição jaulas durante as missões de Verão Biologia extrema do Bathymodiolus azoricus. Ecotoxicologia e Proteómica Estudo de metalotioneínas que neutralisam os efeitos negativos da exposição a elementos tóxicos, tais como o cádmio e o mercúrio e protegem contra diversas condições de stress. Genómica - Transcriptómica Imunologia Estudo da danificação do ADN e enzimas de reparação. Transcriptoma do Bathymodiolus Estudos de imunoreacção. Biomineralização Resposta dos hemócitos na regeneração da concha. Factores anti-microbianos isolados no mexilhão hidrotermal azórico. Proteínas das brânquias (G) e hemócitos (H) têm propriedades anti-bacterianas contra algumas estirpes de bactérias (Bacillus subtilis). Hemócitos, biomineralização, regeneração de ossos. Este estudo estabeleceu a investigação relativa à influência da pressão hidrostática na biomineralização da concha de B. azoricus sujeito a simulações hiperbáricas pós-captura. Exopolisacarídeos microbianos isolados de hidrotermais profundas mostram propriedades interessantes e estão actualmente em avaliação para usos terapêuticos, principalmente em áreas de regeneração de tecidos e de ossos que podem vir a beneficiar o tratamento de doenças ósseas. 86065 genes potenciais foram sequenciados dos quais foram identificadas 44000 proteínas por pesquisa de homologias “Permitiu identificar genes envolvidos nas reações imunológicas e inflamatórias dos mexilhões”. O modelo de Erwin et al. (2010) prevê 250000 a 590000 novos químicos em organismos marinhos; 90 a 92% desses compostos permanecem desconhecidos. Prevê-se a chegada ao mercado de um total de 55 a 214 novos medicamentos anticancerosos originados principalmente em filos animais (Chordata, Mollusca, Porifera, e Byrozoa) e filos microbianos (Proteobacteria e Cyanobacteria). Ciência e Tecnologia na Fronteira do Mar Profundo Na Vanguarda dos Estudos Biologia de Extremófilos do Mar Profundo (2000-2009) Portugal tornou-se o 8º país do mundo em número de publicações científicas sobre os ecossistemas quimiossintéticos das fontes hidrotermais, tendo subido mais de 30 lugares relativamente à década precedente. Número crescente de cruzeiros científicos e planos para a instalação de um observatório - MoMAR 30 Nº acum ulativo de cruze iros 25 20 Menez Gw en 15 Lucky Strike 10 5 0 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Anos Ciência e Tecnologia na Fronteira do Mar Profundo Observatório dos Fundos Marinhos na Região dos Açores - MoMAR • FP6/ ESONET NoE - European underwater ocean observatory system (Network of Excellence) (2007-2011) (2009-2016) Outubro 2010 Workshop “Azores Triple Junction Hydrothermal Vents Marine Protected Area Management Plan” Horta (Açores): 18 e 19 de Junho 2002 As principais preocupações foram: Como combinar a(s) área(s) marinha(s) protegidas(s) com o projecto MoMAR e outra investigação em curso Caracterizar as ameaças do MoMAr para as áreas marinhas protegidas (ameaça caracterizada como uma actividade que possa comprometer o uso sustentável do ecossistema, ou diminuir, ou afectar de forma adversa, o uso ou o valor do recurso) Desenhar um plano de zonação para gerir objectivos particulares Desenvolver cooperação e coordenação CTT - 2006 Celebrando os sítios hidrotermais dos Açores