BIOMA PAMPA:
AMBIENTE × SOCIEDADE
Anabela Silveira de Oliveira Deble
Leonardo Paz Deble
Ana Lúcia Stefani Leão
(Orgs.)
BIOMA PAMPA:
AMBIENTE × SOCIEDADE
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
__________________________________________________________
B615
Bioma pampa: ambiente x sociedade / organizado por Anabela
Silveira de Oliveira Deble, Leonardo Paz Deble e Ana Lucia
Stefani Leão. – Bagé: Ediurcamp, 2012. 200p.
ISBN:: 978-85-63570-08-6
1. Bioma Pampa. 2. Fitogeografia – Rio Grande do Sul.
3. Meio Ambiente. I. Oliveira-Deble, Anabela Silveira de. Org.
II. Deble, Leonardo Paz. Org. III. Leão, Ana Lucia Stefani. Org.
IV. Título.
CDD:
___________________________________________________________
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581.98165
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Editora Chefe: Paulo Ricardo Ebert Siqueira
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Capa: Anabela Silveira de Oliveira Deble
Diagramação:
Anabela Silveira de Oliveira Deble
Fotografias da capa:
Serra das Asperezas, Pinheiro Machado, RS: Anabela Silveira de Oliveira Deble
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Telefone: (53) 32428244
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SUMÁRIO
PREFÁCIO.....................................................................................................................9
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................10
1.Panorama da família Iridaceae Juss. no Bioma Pampa
Leonardo Paz Deble......................................................................................................11
2.Amaranthaceae no Bioma Pampa: Quanto ainda necessita ser conservado?
Maria Salete Marchioreto..............................................................................................30
3.Diversidade florística e aspectos vegetacionais de Fabaceae na Região do Jarau –
Quaraí, RS.
Fabiano da Silva Alves & José Newton Cardoso Marchiori .......................................42
4.Diversidade da Família Asteraceae Berch. & J. Presl (Compositae Giseke) no Bioma
Pampa
Anabela Silveira de Oliveira Deble & Leonardo Paz Deble.........................................54
5.Cypella discolor Ravenna (Iridaceae: Tigridieae) é redescoberta nos campos do
Oeste e Sudoeste do Rio Grande do Sul
Leonardo Paz Deble; Anabela Silveira de Oliveira Deble & Fabiano da Silva Alves
.......................................................................................................................................68
6.Diversidade de Lepidoptera no Parque Municipal Porto dos Aguateiros,
Alegrete/RS.
Tiziane Fernandes Molina; Marilene De Lima Cortes; Rocco Alfredo Di Mare.........77
7.Influência da luz e condições de armazenamento na germinação das sementes de
Symplocos uniflora (Pohl) Benth. (Symplocaceae).
Simone Ribeiro Lucho; Letiele Bruck de Souza; Tiéle Stuker Fernandes; Tânia Maria
Boucinha Viana; Luciane Almeri Tabaldi; Juçara Terezinha Paranhos.......................89
8.Interações ecológicas de Xanthopsar Flavus (Aves:Icteridae), uma espécie
prioritária para a conservação, em uma nova área de ocorrência no Bioma Pampa, RS.
Luciane Rosa Da Silva Mohr; Vanda Simone da Silva Fonseca; Eduardo Périco;
Alexsandro Rodrigo Mohr..........................................................................................96
9.Extrato de aroeira (Schinus molle L.) sobre o crescimento in vitro de fungos da
cultura do arroz.
Clarissa Santos da Silva; Caroline Vieira Gonçalves; Roseane Maidana Moreira;
Marcelo Benevenga Sarmento....................................................................................104
10.Distribuição geográfica do gênero Croton L. (Euphorbiaceae) no Estado do Rio
Grande do Sul.
Rafael Plá Matielo Lemos...........................................................................................112
11.Levantamento preliminar da avifauna no município de Alegrete /RS.
Letícia Souto de Freitas...............................................................................................120
12.Qualidade de vida urbana: análise através de indicadores ambientais em Dom
Pedrito/RS.
Edilaine Antonello Marchezan & Anabela Silveira de Oliveira Deble......................129
13.Bet: alternativa para o tratamento de esgoto na área rural na região da Campanha,
RS.
Graziane Moraes Soares & Virginia Paiva Dreux......................................................141
14.Levantamento da arborização urbana em cinco logradouros no município de Dom
Pedrito/RS
Raquel Vieira Machado & Anabela Silveira de Oliveira Deble.................................147
15.Levantamento das cactáceas no Cerro do Graxaim, Dom Pedrito, RS.
Daiane Gonçalves Jacinto & Anabela Silveira de Oliveira Deble .............................160
16.A abordagem docente da educação ambiental nas áreas de Ciências Biológicas em
algumas escolas do município de Bagé/RS.
Bruna Robaina ............................................................................................................172
17.O cultivo de oliveiras em Dom Pedrito, RS.
Ingrid Goularte Pfeifer & Cristian Claudio Ribeiro dos Santos.................................186
PREFÁCIO
Ao iniciarmos o planejamento do 5º Bio Urcamp, na preservação do Bioma
Pampa, realizado pelo Curso de Ciências Biológicas da Universidade da Região da
Campanha e Prefeitura Municipal de Bagé, conseguimos elaborar o 2o livro com foco
principal no Bioma Pampa que tem três objetivos: primeiramente, de valorizar cada
região do Bioma Pampa em relação ao seu status de conservação elegendo um local
rico em diversidade evidenciando a preservação, o segundo de consolidar discussões e
contribuições científicas que permearão o conhecimento, a pesquisa e a educação
desta região, e o terceiro, de fortalecer a iniciativa para que este livro continue como
produto tradicional nos próximos eventos do Bio Urcamp.
Neste livro, o foco central é “O Bioma Pampa: Ambiente × Sociedade”, com
uma idéia original de convidar pesquisadores, professores e acadêmicos de Pósgraduação para produzir capítulos, que deem embasamento para futuras decisões de
manejo, sustentabilidade e preservação. Elegemos a “Serra das Asperezas” que possui
suas paisagens conservadas na região fisiográfica da Serra do Sudeste, no município
de Pinheiro Machado.
Na organização da programação do Evento teremos a 2a Mostra Científica, para
que os alunos, os professores, os pesquisadores e a comunidade em geral possam
submeter trabalhos científicos eleitos por um grupo seleto de pesquisadores como
iniciativa de entusiasmar pesquisas sobre preservação, manejo e conservação no
Bioma Pampa. Além disso, contamos com palestras, mesas redondas, mini-cursos,
trilhas ecológicas e acampamentos, procurando assim estabelecer um encontro de
atualização de conhecimentos e troca de experiências em benefício da sociedade.
Os Organizadores
9
APRESENTAÇÃO
O Bioma Pampa abrange ambiente e valor cultural bastante singular no tocante
ao restante do país, merecendo discussões sobre sustentabilidade e preservação, a
partir deste ponto de vista elaborou-se com a colaboração de pesquisadores este 20
livro, que engloba 17 capítulos com discussões que se fazem necessárias na
atualidade.
O livro apresenta importantes informações sobre botânica, zoologia, Meio
Ambiente e Sociedade. Os artigos publicados abordam estudos sobre a Família
Iridaceae no Bioma Pampa; a Importância da conservação da Família Amaranthaceae
no Bioma Pampa; a Diversidade florística e aspectos vegetacionais de Fabaceae na
região do Jarau, no município de Quaraí, RS; a Diversidade da família Asteraceae no
Bioma Pampa; o Redescobrimento de Cypella discolor (Iridaceae), espécie que não
havia registro há mais de 40 anos; Diversidade de Lepidoptera no Parque Municipal
Porto dos Aguateiros, no município de Alegrete/RS; a Influência da luz e condições de
armazenamento na germinação das sementes de Symplocos uniflora (Pohl) Benth.
(Symplocaceae); as Interações Ecológicas de Xanthopsar flavus (Aves: Icteridae), uma
espécie prioritária para Conservação; o Extrato de aroeira (Schinus Molle L.) sobre o
crescimento in vitro de fungos da cultura do arroz; a Distribuição geográfica do
gênero Croton L. (Euphorbiaceae) no Estado do Rio Grande do Sul; o Levantamento
preliminar da Avifauna no município de Alegrete /RS; a Qualidade de vida urbana:
uma análise através dos indicadores ambientais em Dom Pedrito/RS; Bet: alternativa
para o tratamento de esgoto na área rural na região da Campanha, RS; Levantamento
da arborização urbana em cinco logradouros no município de Dom Pedrito, RS;
Levantamento das Cactáceas no Cerro do Graxaim, Dom Pedrito, RS; Abordagem
docente da Educação Ambiental nas áreas de Ciências Biológicas em algumas escolas
do município de Bagé/RS, e O cultivo de oliveiras em Dom Pedrito encerram uma
importante reunião de trabalhos e estudos científicos desta obra.
Esperamos que esses capítulos contribuam para os objetivos desta publicação. A
valoração, a conservação e, sobretudo, o conhecimento gerado que a partir destas
informações sejam relevantes para as decisões da política em relação ao meio
ambiente.
Os Organizadores
10
PANORAMA DA FAMÍLIA IRIDACEAE
JUSS. NO BIOMA PAMPA
Leonardo Paz Deble1
1
Biólogo, professor adjunto do Curso de Ciências da Natureza, Universidade Federal do Pampa, Dom
Pedrito, Rua 21 de abril 80, CEP 96450-000.
Comuns em todo o Rio Grande do Sul, as
iridáceas são importante constituintes da vegetação
campestre desse estado, local onde crescem dois
gêneros endêmicos (Kelissa e Onira), além de espécies
exclusivas. No tocante ao conhecimento das espécies
ocorrentes no contexto regional, as Iridaceae têm sido
pouco coletadas e estudadas, possivelmente devido à
dificuldade de preservação de flores em exsicatas e,
sobretudo, pelo curto período de floração, que dificulta
a localização de espécimes em campo.
11
INTRODUÇÃO
Iridaceae inclui mais de 2000 espécies distribuídas em aproximadamente 70
gêneros, com importantes centros de diversidade na Eurásia e África. Na América do
Sul, a família está melhor representada em climas subtropicais e temperados, sendo
que no Brasil crescem 156 espécies e 19 gêneros, com maior número de espécies e
endemismos no sul do país (Goldblatt & Manning, 2008; Chukr & Capellari Jr. 2003).
Para Goldblatt & Manning (2008: 14) a família inclui sete subfamílias:
Isophysidoideae, Patersonioideae, Geosiridoideae, Aristeoideae, Nivenioideae,
Crocoideae e Iridoideae. Todos os representantes nativos pertencem à subfamília
Iridoideae, que, por sua vez, está separada em cinco tribos: Diplarreneae, Irideae,
Sisyrinchieae, Trimezieae e Tigridieae; dessas, as duas primeiras carecem de
representantes autóctones.
A família Iridaceae inclui diversas espécies cultivadas em jardins, como a frésia
(Fresia refrecta (Jacq.) Klatt), o íris (Iris germanica L.), a palma-de-santa-rita
(Gladiolus hortulanus L. H. Bailey), as moréias (Dietes bicolor Sweet ex Klatt, Dietes
iridioides (L.) Sweet ex Klatt) e a palminha (Watsonia spp.). Exóticas na flora
brasileira, essas espécies são provenientes da Europa e África, sendo cultivadas em
quase todas as partes do mundo.
O ginoécio do açafrão (Crocus sativus L.) é utilizado na culinária e como
cosmético, enquando a flor-de-lis (Iris pseudocorus L.) conforme informa Capellari jr.
(2000) consiste em símbolo de diversas monarquias europeias.
No tocante às espécies nativas, o lírio-roxo (Neomarica coerulea) e o lírio-dapraia (Neomarica candida) têm sido usados para fins ornamentais. Cypella herbertii
subsp. herbertii é cultivada na Europa desde o início do século XIX, enquanto o
marupari (Eleutherine bulbosa (Mill.) Urb.), além de ornamental é também
empregado no tratamento de diarréia e amebíase. O bulbo do bibi (Herbertia lahue
(Mol.) Goldblatt) e outras espécies relacionadas são utilizados como alimento
(Ravenna, 1983).
Com a divisão brasileira em seis distintos biomas (IBGE, 2004), a metade sul
do Rio Grande do Sul passou por processo de valoração biológica, ocorrendo
intensificação dos estudos referentes à biodiversidade e seu potencial. Vindo a lume o
resultado desses estudos, dezenas de novas espécies e citações novas para o estado
foram estabelecidas nos últimos anos.
Em relação à família Iridaceae, publicações recentes valoraram o conhecimento
da flora local, citando-se o levantamento das Iridaceae do Parque de Itapuã (Eggers,
2008) e a descrição de algumas espécies novas de Calydorea e Herbertia (Roitman &
Castillo, 2004; Roitman & Castillo, 2008; Deble, 2010; Deble, 2011b). Além desses
estudos, a partir da elaboração da “Lista de espécies da Flora do Brasil” (Eggers et al.,
12
2012) pode-se ter uma lista base para priorizar futuros tratamentos taxonômicos no
Rio Grande do Sul e, em especial no Bioma Pampa.
O Bioma Pampa inclui 63% do território sul-rio-grandense, sendo o único
bioma brasileiro restrito a um único estado (IBGE 2004). O termo “Bioma Pampa”
tem sido largamente utilizado em trabalhos recentes, embora a abrangência do mesmo
tenha sido motivo de controvérsias, tendo em vista as divergências terminológicas em
relação ao conceito da palavra Bioma e a diversidade de ambientes e distintas
fisionomias locais (Coutinho, 2006; Deble, 2011).
Este estudo destaca a importância da família Iridaceae na composição florística
do Bioma Pampa, apresenta uma lista atualizada de gêneros e espécies, assim como
inclui informações sobre a morfologia da família, com ênfase em espécies nativas e
proporciona informações para a identificação de gêneros nativos.
MORFOLOGIA GERAL
Iridaceae inclui ervas perenes, com órgãos subterrâneos que normalmente
emitem novas folhas em épocas favoráveis, raramente são plantas anuais (como
algumas espécies de Sisyrhinchium). Caule de dois tipos, um aéreo definido como
cormo e outro subterrâneo, do tipo rizoma ou bulbo (Figura 1). O cormo apresenta
anatomia similar ao encontrado em rizomas; o bulbo, por sua vez é distinto no tocante
a anatomia, podendo ser de dois tipos: protegido por escamas ou por túnica
externamente (inteira ou reticulada). Todas as espécies nativas apresentam bulbos
protegidos por escamas, essas escamas são designadas como catafilos.
Folhas basais e caulinares com lâmina plana, cilíndrica ou plicada, as basais
podem ou não ser contemporâneas com as flores (Figura 1). As folhas caulinares
também são definidas como brácteas caulinares ou tectrizes, destas crescem uma ou
mais espatas (Figura 1). A espata consiste de duas brácteas valvadas, de onde nascem
uma ou mais flores em inflorescência do tipo cimas umbeliforme ou ripídio, por vezes
reduzida a uma ou duas flores (como em Cypella).
Flores perfeitas, com perigônio petalóide, constituído de dois verticilos. Pétalas
externas (ou tépalas externas) maiores que as internas ou subiguais, vistosas (como na
maioria das espécies da tribo Tigridieae) ou não (como em muitas espécies de
Sisyrhinchium), providas de tricomas oleíferos (elaióforos), relacionados à polinização
(Figura 1). Pétalas internas (ou tépalas internas) normalmente menores, por vezes
geniculadas ou recurvadas, por vezes densamente cobertas por elaióforos (como em
Phalocallis).
O Androceu (também definido como androécio) é constituído de três estames,
normalmente alongados, com lóculos laterais e com conectivo largo, sustentados por
13
filetes filiformes ou não, frequentemente unidos na base ou aderidos ao estilete
formando coluna (Figura 1).
Gineceu (ou ginoécio) com ovário ínfero (exceto no gênero exótico Isophysis T.
Moore), trilocular, de placentação axial, apresentando óvulos abundantes, em duas
linhas por lóculo. Estilete trífido ou brevemente trilobado no ápice, a parte ramificada
pode apresentar-se com região estigmática petalóide e muitas vezes prolongado em
cristas em sua porção distal.
Os aparatos do androceu e gineceu são chamados em seu conjunto de
androginoécio, sendo a forma do androginoécio fundamental na separação de gêneros
(Figura 2A, D, F, G, I, K, M, N, P).
Fruto do tipo cápsula loculicida (Figura 1). Sementes secas, angulares ou
circulares, com epiderme estriada, papilosa ou estriado-papilosa (Figura 1), mais
raramente com prolongamentos alados.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a realização deste trabalho foram feitas excursões de coleta entre outubro
de 2006 e fevereiro de 2012, tendo sido contemplado os seguintes municípios:
Aceguá, Alegrete, Amaral Ferrador, Bagé, Barra do Quaraí, Barra do Ribeiro,
Caçapava do Sul, Cachoeira do Sul, Candiota, Capão do Leão, Chuí, Cristal,
Dilermando de Aguiar, Dom Feliciano, Dom Pedrito, Eldorado do Sul, Encruzilhada
do Sul, Formigueiro, Guaíba, Hulha Negra, Jaguari, Lavras do Sul, Maçambará,
Manoel Viana, Morro Redondo, Osório, Pantano Grande, Pelotas, Pinheiro Machado,
Piratini, Quaraí, Quevedos, Restinga Seca, Rio Grande, Rosário do Sul, Santa Maria,
Santana da Boa Vista, Sant’Ana do Livramento, Santiago, São Borja, São Francisco
de Assis, São Gabriel, São Pedro do Sul, São Sepé, São Vicente do Sul, Sentinela do
Sul, Tapes, Tramandaí, Unistalda, Uruguaiana e Vila Nova do Sul. Visando a
complementação dos dados obtidos foram consultados os seguintes herbários: CTES,
HAS, ICN, PACA, SI. Para análise de tipos nomenclaturais foram revisadas as
coleções dos typi dos herbários CTES, ICN e SI, assim como fotos digitalizadas dos
herbários B, C, K, P, S, US e NY. As siglas dos herbários estão de acordo com
THIERS (2011). A morfologia adotada baseia-se em Chukr e Capellari Jr. (2003),
Goldblatt & Manning (2008) e Ravenna (1983, 2009). Para elaboração das figuras 1 e
2 utilizou-se estereomicroscópio QUIMIS 760, com câmara clara acoplada. As fotos
constantes neste trabalho foram obtidas no ambiente natural.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
No bioma Pampa as Iridaceae estão representadas por 42 espécies distribuídas
em 11 gêneros, sendo seis táxones endêmicos, o que representa 14 % do total de
14
espécies nativas. Ao considerarmos o Uruguai e o nordeste da Argentina, o número de
espécies com distribuição geográfica reduzida a essas áreas corresponde a 47% das
espécies inventariadas, mostrando a necessidade do conhecimento e da valoração
desta família botânica.
O gênero mais representativo é Sisyrhinchium com quinze espécies, seguido por
Cypella (8), Herbertia (6) e Calydorea (5). Destacam-se, ainda, três gêneros
monotípicos com distribuição endêmica (Catila, Kelissa, Onira).
1. Calydorea Herb., Edwards´s Bot. Reg. 29: 85. 1843. Tipo: Calydorea speciosa (J.
D. Hook.) Herb. [= C. xiphioides (Poeppig) Espinosa]. Figura 2P-R, Figura 3D-E.
Plantas bulbosas, providas de folhas plicadas. Espatas bifloras. Flores brancas,
azuis ou lilases. Nas espécies nativas, as pétalas internas e externas são semelhantes
em cor, forma e tamanho, enquanto os estames, livres, de anteras lineares, torcidas na
deiscência, de filetes filiformes, ou dilatados em direção à base, são alternos ao
estilete. O gineceu, com estilete formando coluna em sua metade proximal,
brevemente trilobado até trífido no ápice, termina em estigma obtuso, captado ou
brevemente emarginado.
Gênero com cerca de 15 espécies distribuídas no sul da América, no Brasil
crescem cerca de 10 táxones, principalmente em áreas campestres no sul do País
(Eggers, 2012). As espécies do gênero são pouco frequentes, normalmente ocorrendo
apenas em locais bem preservados, Calydorea luteola (Klatt) Baker (Figura 2P-R,
Figura 3E) e C. riograndensis Deble (Figura 3d) são exclusivas em áreas campestres
da Campanha e Depressão Central.
2. Catila Ravenna, Nordic. J. Bot. 3 (2): 197. 1983. Tipo: Catila amabilis Ravenna.
Figura 2I-J.
Plantas bulbosas, providas de folhas plicadas. Espatas bifloras. Flores violetaazuladas, munidas de pontos violeta-escuros, com pétalas internas e externas
dissimilares em forma e tamanho, com estames unidos ao estilete, que forma coluna
em sua parte basal e apresenta-se trífido no ápice, terminando em estigma bilobado.
Gênero monotípico, Catila amabilis Ravenna (Figura 2I-J) cresce em campos planos e
hidromórficos nas províncias de Entre Rios e Corrientes (Argentina), noroeste do
Uruguai e extremo oeste do Rio Grande do Sul, onde foi colecionada apenas nos
municípios de Uruguaiana e Barra do Quaraí, sendo espécie rara na flora regional.
Goldblatt & Henrich (1991) propuseram à subordinação de Catila a Calydorea,
Di Tulio et al. (2008) sustentaram essa proposição e também adicionaram Tamia
Ravenna em Calydorea. Catila foi recentemente reabilitado por Ravenna (2009) e o
tratamento proposto por esse autor é aceito neste estudo.
15
Figura 1. Herbertia pulchella (bibi), exemplo de morfologia em Iridaceae (tribo Tigridieae).
16
Figura 2. A–Androginoécio de Cypella pusilla. B–Ginoécio de Cypella pusilla. C–Ginoécio de
Cypella exilis. D–Androginoécio de Onira unguiculata. E–Ginoécio de Onira unguiculata. F–
Androginoécio de Herbertia lahue subsp. amoena. G–Androginoécio de Kelissa brasiliensis.
H–Ginoécio de Kelissa brasiliensis. I–Androginoécio de Catila amabilis. J–Ginoécio de Catila
amabilis. K–Androécio de Phalocallis coelestis. L–Ginoécio de Phalocallis coelestis. M–
Androginoécio de Gelasine sp. N–Androginoécio de Gelasine elongata. O–Ginoécio de
Gelasine elongata. P–Androginoécio de Calydorea luteola. Q–Ginoécio de Calydorea luteola.
R–Calydorea luteola, ápice da rama do ginoécio, evidenciando o estigma. S–Onira
unguiculata, ápice da rama do ginoécio, evidenciando a linha estigmática.
17
3. Cypella Herb., Bot. Mag. 53: t. 2637 (texto II). 1826. Tipo: Cypella herbertii
(Herbert) Herbert. Figura 2A-C, Figura 3A-C.
Plantas bulbosas, com catafilos escuros, providas de folhas plicadas. Flores
brancas ou amarelas, frequentemente maculadas com estrias ou manchas marrom,
púrpuras ou negras, com pétalas internas e externas marcadamente desiguais; as
internas geniculado-recurvadas ou arqueado-recurvadas, menores. Estames com filetes
frequentemente aderidos à coluna do estilete, provido de anteras eretas, lineares ou
ligeiramente dilatadas em direção à base e portando conectivo normalmente espesso.
Estilete trífido no ápice, petalóide, provido de três cristas na parte distal, sendo duas
apicais, agudas no ápice e uma dorsal, mais curta e bilobada.
Gênero composto por 25 espécies, a maior parte dos táxones crescem no
nordeste da Argentina e áreas vizinhas, incluindo o oeste e sudoeste do Rio Grande do
Sul. Para a Lista de Espécies da Flora do Brasil, Eggers (2012) relacionou 13 espécies,
oito das quais são reportadas para o Rio Grande do Sul. No Bioma Pampa, conforme a
mesma autora, crescem seis espécies e duas subespécies. Cypella fucata (Figura 3B) e
Cypella exilis (Figura 2C) são as espécies mais frequentes, ocorrendo em campos e
campos pedregosos, Cypella hauthalii subsp. opalina (Figura 3a) é comum no planalto
médio e missões, Cypella herbertii (Figura 3C) é frequente em banhados e campos
pouco drenados na Campanha e Depressão Central, Cypella armosa foi recentemente
adicionada à flora sul-rio-grandense e, Cypella pusilla (Figura 2A-B), por sua vez, é
endêmica do Rio Grande do Sul.
4. Gelasine Herb., Bot. Mag. 66: t. 3779. 1840.
Tipo: Gelasine azurea Herb. [= G. elongata (R. Graham) Ravenna]. Figura 2M-O,
Figura 4E.
Plantas bulbosas, com catafilos alaranjados, lisos, providas de folhas plicadas,
infladas. Flores azuis ou lilases, com pétalas internas e externas semelhantes em cor,
forma e tamanho, com estames aderidos ao estilete, que é filiforme e forma coluna,
sendo trilobado no ápice, terminando em estigma reniforme ou largamente elíptico.
Gênero composto por quatro ou cinco espécies distribuídas no sul da América,
no Brasil, de acordo com Chukr (2012) há registro do gênero apenas para o Rio
Grande do Sul, onde cresce Gelasine elongata (Figura 2N-O, Figura 4E) comum em
campos pedregosos e encosta de cerros na metade sul do estado.
Quatro espécies de Gelasine descritas para o território nacional por Ravenna (G.
caldensis, G. gigantea, G. paranaënsis, G. rigida) foram interpretadas como
sinônimos de Alophia coerulea por Chukr & Capellari Jr. (2003) e Chukr (2012). Na
“Lista de espécies da Flora do Brasil” Alophia coerulea (= Gelasine coerulea) não é
mencionada como nativa no Rio Grande do Sul. Em estudo anterior, no entanto,
18
Eggers (2008) relacionou Gelasine coerulea e G. elongata para o Parque Estadual de
Itapuã. A comparação do material citado pela autora e as fotos constantes no trabalho
não deixa dúvidas sobre a ocorrência de Gelasine coerulea na flora autóctone do Rio
Grande do Sul.
5. Herbertia Sweet, Brit. Fl. Gard. [Sweet]: t. 222. 1827. Tipo: Herbertia pulchella
Sweet. Figura 1, Figura 2F, Figura 4A-B.
Plantas bulbosas, com catafilos enegrecidos, providas de folhas plicadas. Flores
frequentemente azuis ou violetas, maculadas com estrias ou manchas azuis, púrpuras
ou negras, com pétalas internas e externas marcadamente desiguais; as internas
geniculado-recurvadas, menores. Estames com filetes aderidos à coluna do estilete,
provido de anteras patentes, lineares, aderidas a parte ramificada do estilete. Estilete
trífido no ápice, provido de bifurcação distal, e estigma reduzido à porção final.
Gênero composto por sete espécies, seis das quais crescem no Brasil (Deble,
2010). O Rio Grande do sul, conjuntamente com o norte do Uruguai e nordeste da
Argentina encerram cinco espécies endêmicas. Herbertia lahue subsp. amoena (Figura
2F) é a espécie mais comum, ocorrendo inclusive em áreas antrópicas, enquanto H.
quaraimana (Figura 4A) e H. zebrina (Figura 4B) são espécies raras e com
distribuição geográfica bastante reduzida.
6. Kelissa Ravenna, Bull. Mus. Natl. Hist. Nat. Adansonia sér. 4, 3 (1): 106. 1981.
Tipo: Kelissa brasiliensis (Baker) Ravenna. Cypella brasiliensis (Ravenna) Roitman
& A. J. Castillo, Darwiniana 45 (2): 238. 2007. Figura 2G-H, Figura 4C
= Sympa Ravenna, Wrightia 7 (1): 10. 1981. Sympa riograndensis Ravenna, Wrightia
7 (1): 10. 1981.
Plantas bulbosas, com catafilos escuros, providas de folhas plicadas, infladas.
Flores azuis, providas de manchas púrpuras, com pétalas internas e externas eretas,
marcadamente desiguais; as internas longamente unguiculadas, menores. Estames
aderidos à coluna do estilete, provido de anteras eretas, ligeiramente dilatadas em
direção à base. Estilete filiforme, capitado ou brevemente trilobado no ápice.
Gênero monoespecífico, Kelissa brasiliensis (Figura 2G-H, Figura 4C) é
endêmica do Rio Grande do Sul onde cresce em áreas campestres principalmente na
Campanha e Serra do Sudeste.
Roitman & Castillo (2007) e Goldblatt & Manning (2008) trataram Kelissa
como sinônimo de Cypella. O gênero foi recentemente reabilitado por Ravenna (2009)
e aceito como válido por Eggers (2012). O reconhecimento de Kelissa como gênero
monotípico é perfeitamente aceitável, de acordo com as diferenças encontradas na
morfologia floral entre esse gênero e Cypella.
19
7. Neomarica Sprague, Bull. Misc. Inform. Kew 1928: 280. Tipo: Neomarica
northiana (Schneevogt) Sprague.
Plantas rizomatosas, providas de folhas planas. Caules que originam as flores
geralmente simples, marcadamente comprimidos, alados. Flores brancas, amarelas ou
azuis, frequentemente maculadas com estrias ou manchas marrom, púrpuras ou
negras, com pétalas internas e externas marcadamente desiguais; as internas
geniculado-recurvadas ou arqueado-recurvadas, menores. Estames com filetes
frequentemente aderidos à coluna do estilete, provido de anteras eretas ligeiramente
dilatadas em direção à base e portando conectivo espesso. Estilete trífido no ápice,
petalóide, provido de duas cristas obtusas na parte distal.
Gênero com cerca de 20 espécies, quase todas endêmicas do Brasil tropical e
subtropical. No Rio Grande do Sul é nativa Neomarica candida, principalmente na
orla de matas psamófilas do litoral norte e serra do sudeste. Neomarica coerulea é
cultivada como ornamental, podendo eventualmente ser encontrada em terrenos
baldios e beira de estradas, a partir de exemplares cultivados.
O gênero foi tratado como subgênero de Trimezia por Ravenna (1982), mais
recentemente, Chukr & Capellari Jr. (2003) e Gil (2012) reconheceram Neomarica
como independente, devido à forma plana dos escapos florais. Trimezia apresenta
escapos florais cilíndrico ou, mais raramente, comprimido. Salienta-se que a
morfologia floral de ambos os gêneros é idêntica.
8. Onira Ravenna, Nordic. J. Bot. 3 (2): 204. 1983. Tipo: Onira unguiculata(Baker)
Ravenna. Cypella unguiculata (Baker) Roitman & A. J. Castillo, Darwiniana 45 (2):
238. 2007. Figura 2D-E, Figura 4D.
Plantas bulbosas, com catafilos escuros, providas de folhas plicadas, infladas.
Flores azuis, maculadas com manchas púrpuras, com pétalas internas e externas eretas,
marcadamente desiguais; as internas longamente unguiculadas, menores. Estames
aderidos à parte ramificada do estilete, provido de anteras ascendentes, lineares.
Estilete filiforme, longamente trífido no ápice, provido de estigma curto 3-lobado no
ápice, com dois lóbulos apicais e um dorsal, sendo a porção estigmática reduzida à
faixa distal.
Gênero monoespecífico, Onira unguiculata (Figura 2D-E, Figura 4D) é
endêmica do Rio Grande do Sul e norte do Uruguai, crescendo em áreas campestres.
Roitman &Castillo (2007) e Goldblatt & Manning (2008) reconheceram Onira
como sinônimo de Cypella; no entanto, o gênero foi tratado como válido por Ravenna
(2009) e Eggers (2012). Devido às peculiaridades na morfologia floral de Onira esse
gênero é considerado separado de Cypella.
20
Figura 3. A–Cypella hauthalii subsp. opalina. B–Cypella fucata. C–Cypella herbertii
subsp. Herbertii. D–Calydorea riograndensis. E–Calydorea luteola.
21
9. Phalocallis Herb., Bot. Mag. 65: t. 3710. 1839. Tipo: Phalocallis plumbea Herb. [=
Phalocallis coelestis (Lehm.) Ravenna]. Figura 2K-L, Figura 4F
Plantas bulbosas, com catafilos externos escuros e internos alaranjados,
providas de folhas infladas, plicadas. Flores azuis, maculadas com estrias ou manchas
marrom, púrpuras ou negras, com pétalas internas e externas marcadamente desiguais;
as internas geniculado-recurvadas ou arqueado-recurvadas, densamente pilosas em
ambas as faces, marcadamente unguiculadas, menores. Estames aderidos à coluna do
estilete, provido de anteras eretas, de conectivo largo. Estilete trífido no ápice,
petalóide, provido de duas cristas obtusas na parte distal.
Gênero composto por três espécies sul-americanas, duas das quais crescem no
Brasil (Ravenna, 2009: 8). No Bioma Pampa é nativa Phalocallis coelestis (Lehm.)
Ravenna (Figura 2K-L, Figura 4F), crescendo principalmente em banhados.
10. Sisyrinchium L., Sp. Pl. 2: 954. 1753. Tipo: Sisyrhinchium bermudianum L.
Figura 5B-E.
Plantas anuais ou perenes, com rizomas ou cormos, frequentemente achatados
lateralmente, providas de folhas planas ou cilíndricas. Caules que originam as flores
geralmente simples, cilíndricos ou comprimidos. Flores brancas, amarelas ou azuis,
pequenas ou medianas, com pétalas internas e externas semelhantes e frequentemente
providas de venação paralela conspícua. Estames com filetes aderidos à coluna do
estilete ou livres, provido de anteras frequentemente divergentes. Estilete
normalmente muito curto, dividido em três ramas longas ou muito curtas, aparentando
um estilete capitado no ápice.
Gênero com cerca de 140 espécies das Américas, importante constituinte de
áreas abertas em toda a América do Sul. Para o Bioma pampa foram compiladas
quinze espécies, mas este número deve ser maior, tendo em vista à dificuldade de
identificação de alguns táxones. Sisyrhinchium micranthum (Figura 5C) é a espécie
mais frequente, ocorrendo inclusive em áreas alteradas, como jardins e praças.
Sisyrhinchium setaceum (Figura 5B) é típico de campos arenosos nativos,
Sisyrhinchium scariosum (Figura 5E) é de fácil identificação, pois suas folhas são
cilíndricas, ao passo que Sisyrhinchium palmifolium (Figura 5D) é espécie ornamental,
dado seu porte e flores relativamente grandes (2 cm) que se abrem ao entardecer.
11. Trimezia Salisb. ex Herb., Edwards´s Bot. Reg. 30 (Misc.): 88. 1844. Tipo:
Trimezia meridensis Herbert (= T. martinicensis (Jacq.) Herbert). Figura 5A.
Plantas com rizomas ou cormos, providas de folhas planas ou teretes. Caules
que originam as flores geralmente simples, cilíndricos ou comprimidos. Flores
brancas, amarelas, violetas ou azuis, com maculas, estrias ou manchas escuras, de cor
22
Figura 4. A–Herbertia quareimana. B–Herbertia zebrina. C–Kelissa brasiliensis. D–
Onira unguiculata. E–Gelasine elongata. F–Phalocallis coelestis.
23
Figura 5. A–Trimezia spathata. B–Sisyrhinchium setaceum. C–Sisyrhinchium
micranthum. D–Sisyrhinchium palmifolium. E–Sisyrhinchium scariosum.
24
marrom, púrpura ou negra, com pétalas internas e externas marcadamente desiguais;
as internas geniculado-recurvadas ou arqueado-recurvadas, menores. Estames com
filetes frequentemente aderidos à coluna do estilete, provido de anteras eretas
ligeiramente dilatadas em direção à base e portando conectivo espesso. Estilete trífido
no ápice, petalóide, provido de duas cristas obtusas na parte distal.
Gênero com cerca de 20 espécies da América do Sul e Central, com importante
centro de endemismos no Brasil tropical. No Rio Grande do Sul é nativa Trimezia
spathata (Figura 5A) principalmente em campos rupestres e topo de cerros na serra do
sudeste e encosta do sudeste.
CONCLUSÕES
A família Iridaceae inclui 42 espécies e 11 gêneros no Bioma Pampa, sendo
14% das espécies restritas a essa porção do estado.
Um total de 47% de espécies inventariadas possui distribuição geográfica
restrita ao Rio Grande do Sul, Uruguai e nordeste da Argentina (províncias de
Corrientes e Entre Rios) o que demonstra o alto índice de endemismos para esta
região.
O gênero mais representativo no Bioma Pampa é Sisyrhinchium com 15
espécies, o que representa 35,7% das espécies inventariadas. Cypella com duas
espécies endêmicas e oito táxones no total, representa 19% das espécies alistadas.
Herbertia tem seis espécies nativas, a maior parte delas com distribuição geográfica
reduzida, enquanto Calydorea inclui cinco táxones no Bioma Pampa, sendo dois
endêmicos.
Kelissa e Onira são dois gêneros monoespecíficos com padrão de distribuição
endêmico. Kelissa brasiliensis tem distribuição restrita as regiões fisiográficas da
Campanha, Serra do Sudeste e Depressão Central, ao passo que Onira unguiculata,
além dessas regiões fisiográficas é reportada igualmente para a Encosta do Sudeste,
Litoral e metade norte do Uruguai.
No Decreto Lei número 42099 de 31 de dezembro de 2002 da “Lista de espécies
da flora ameaçadas de extinção do Rio Grande do Sul” não foram incluídas espécies
de Iridaceae, demonstrando a necessidade de intensificação de estudos referentes à
ecologia e conservação para esta família botânica.
Tendo por base a análise bibliográfica se verificou que apenas duas espécies
nativas foram reconhecidas como ameaçadas de acordo com a União Internacional de
Conservação da Natureza (IUCN). Herbertia zebrina, considerada criticamente
ameaçada por Deble (2010) e Calydorea riograndensis, reconhecida como em perigo,
por Deble (2011b).
25
Tabela 1. Lista de tribos, gêneros e espécies representadas no Bioma Pampa.
Tribo Tigridieae (25 espécies)
Gênero/Espécie
Distribuição Geográfica
I. Calydorea Herb.
1. Calydorea alba Roitman & A. J. Campanha (Rio Grande do Sul) e noroeste do
Castillo
Uruguai.
2. Calydorea approximata R. C. Foster
Campanha e Depressão Central (Rio Grande do
Sul), Uruguai, nordeste da Argentina, Paraguai
e Bolívia.
3. Calydorea luteola (Klatt) Baker
Endêmica do Rio Grande do Sul (Campanha e
Depressão Central).
4. Calydorea nuda Baker
Campanha (Rio Grande do Sul) e Uruguai.
5. Calydorea riograndensis Deble
Endêmica do Rio Grande do Sul (Campanha).
II. Catila Ravenna
1. Catila amabilis Ravenna
Campanha (Rio Grande do Sul), nordeste da
Argentina e Oeste do Uruguai.
III. Cypella Herb.
1. Cypella aquatilis Ravenna
Sul do Brasil
2. Cypella armosa Ravenna
Missões (Rio Grande do Sul), centro e nordeste
da Argentina e Paraguai
3. Cypella exilis Ravenna
Rio Grande do Sul, Uruguai e nordeste da
Argentina.
4. Cypella fucata Ravenna
Rio Grande do Sul e Uruguai.
5. Cypella hauthalli (Kuntze) R. C. Foster Depressão Central, Planalto médio, Missões
subsp. opalina Ravenna
(Rio Grande do Sul), nordeste da Argentina e
extremo sudeste do Paraguai.
6. Cypella herbertii (Herb.) Herb. subsp. Rio Grande do Sul, norte do Uruguai e
brevicristata Ravenna
nordeste da Argentina.
6b. Cypella herbertii (Herb.) Herb. subsp. Rio Grande do Sul, norte do Uruguai, centro e
herbertii
nordeste da Argentina.
7. Cypella laxa Ravenna
Sul do Brasil, nordeste da Argentina e
Paraguai.
8. Cypella pusilla (Link & Otto) Benth. & Endêmica do Rio Grande do Sul (Campanha,
Hook. f. ex B. D. Jacks.
Depressão Central, Serra do Sudeste, Planalto
Médio e Missões).
IV. Gelasine Herb.
1. Gelasine coerulea (Vell.) Ravenna
Sul e sudeste do Brasil e Paraguai.
2. Gelasine elongata (Graham) Ravenna
Rio Grande do Sul, Uruguai e Nordeste da
Argentina.
V. Herbertia Sweet
1. Herbertia crosae Roitman & A. J. Rio Grande do Sul (Campanha) e norte do
Castillo
Uruguai.
2. Herbertia darwinii Roitman & A. J. Rio Grande do Sul (Campanha, Depressão
Castillo
Central), norte do Uruguai e nordeste da
Argentina.
3. Herbertia lahue (Mol.) Goldblatt Rio Grande do Sul e Santa Catarina, Uruguai,
subsp. amoena (Griseb.) Goldblatt
Paraguai e metade norte da Argentina.
26
4. Herbertia pulchella Sweet
5. Herbertia quareimana Ravenna
6. Herbertia zebrina Deble
VI. Kelissa Ravenna
1. Kelissa brasiliensis (Baker) Ravenna
VII. Onira Ravenna
1. Onira unguiculata (Baker) Ravenna
VIII. Phalocallis Herb.
1. Phalocallis coelestis (Lehm.) Ravenna
Tribo Trimezieae (2 espécies)
I.Neomarica Sprague
1. Neomarica candida (Hassl.) Sprague
II. Trimezia Salisb. ex Herb.
1. Trimezia spathata (Klatt) Baker
Tribo Sisyrinchieae (15 espécies)
I. Sisyrhinchium L.
1. Sisyrhinchium annum Ravenna
2. Sisyrhinchium avenaceum Klatt
3. Sisyrhinchium bromelioides R. C.
Foster
4. Sisyrhinchium claritae Herter
5. Sisyrhinchium dasypathum (Ravenna)
Ravenna
6. Sisyrhinchium laxum Otto ex Sims
7. Sisyrinchium megapotamicum Malme
8. Sisyrinchium micranthum Cav.
9. Sisyrinchium pachyrhyzum Baker
10. Sisyrinchium palmifolium L.
11. Sisyrinchium rambonis R. C. Foster
12. Sisyrinchium scariosum I. M. Johnst.
13. Sisyrinchium sellowianum Klatt
14. Sisyrinchium setaceum Klatt
15. Sisyrinchium vaginatum Spreng.
Rio Grande do Sul (Campanha, Serra do
Sudeste, Encosta do Sudeste e Litoral) e norte
do Uruguai.
Rio Grande do Sul (Campanha) e noroeste do
Uruguai.
Endêmica do Rio Grande do Sul (Serra do
Sudeste)
Endêmica do Rio Grande do Sul (Campanha,
Depressão Central e Serra do sudeste).
Rio Grande do Sul (Campanha, Serra do
Sudeste, Depressão Central, Planalto médio e
litoral) e norte do Uruguai.
Sul do Brasil, Uruguai e Argentina.
Sul e sudeste do Brasil e Paraguai
Sul e sudeste do Brasil, nordeste da Argentina
e Paraguai
Endemica do Rio Grande do Sul (Campanha e
Depressão Central).
Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai
Sul do Brasil.
Rio Grande do Sul (Campanha, Serra do
Sudeste) e Uruguai.
Sul do Brasil, nordeste da Argentina e
Paraguai.
Sul do Brasil, metade norte da Argentina,
Uruguai e Paraguai.
Sul do Brasil, metade norte da Argentina e
Uruguai.
América do Sul.
América do Sul.
America do Sul.
Sul do Brasil.
Rio Grande do Sul e Uruguai.
Sul do Brasil, Uruguai, Paraguai e nordeste da
Argentina.
Sul do Brasil, nordeste da Argentina e Uruguai.
América do Sul.
27
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29
AMARANTHACEAE DO BIOMA PAMPA:
QUANTO AINDA NECESSITA SER
CONSERVADO?
Maria Salete Marchioretto1
1
Pesquisadora e Curadora do Herbarium Anchieta, Instituto Anchietano de Pesquisas/UNISINOS, São
Leopoldo, RS. Doutora em Botânica
A preocupação com a conservação e o
conhecimento da biodiversidade para a manutenção da
biosfera e da vida tem sido enfatizada por inúmeros
autores. O conhecimento da flora nativa de cada estado
ou região passou a ser de fundamental importância
para o levantamento da biodiversidade e também para
o fornecimento de subsídios a programas de
conservação e manejo sustentável.
30
INTRODUÇÃO
“O Brasil é considerado um dos países mais megadiversos do mundo,
apresentando altos níveis de endemismo” (MITTERMEIER 1988; MITTERMEIER et
al, 1997; FORZZA et al, 2010:21-39). De acordo com Forzza et al, (2010:21-39), “o
Brasil apresenta 40.989 espécies de plantas e fungos, das quais 18.932 são endêmicas
do país; destas, 7.333 angiospermas são apontadas para a região sul e 76 como sendo
endêmicas do domínio fitogeográfico pampa”. Segundo Ilsi Boldrini (comunicação
pessoal), o Rio grande do Sul apresenta 506 espécies endêmicas, sendo que 160
pertencem ao bioma Mata Atlântica e 346 ao bioma Pampa.
“O Pampa é a única grande área natural restrita a um único estado, o Rio
Grande do Sul. Ocupa pouco mais de dois por cento do território nacional, de acordo
com o Mapa de Biomas do Brasil” (IBGE, 2004). De acordo com o IBGE (2004)
“duas áreas campestres destacam-se no Rio Grande do Sul: uma incluída no bioma
Pampa na metade sul e oeste do Estado e a outra no bioma Mata Atlântica nas partes
mais altas do planalto, onde os campos associam-se principalmente às florestas com
Araucária”. O bioma Pampa apresenta diversos tipos de solos com vegetação
predominantemente campestre, de acordo com Burkart (1975:53-66), “ocorrem
espécies megatérmicas e microtérmicas, com predomínio das primeiras. A ocorrência
de espécies do tipo C4 típicas de clima tropical e de espécies C3 de clima temperado
no mesmo bioma engrandece seu valor e fundamenta sua conservação”.
A preocupação com a conservação e o conhecimento da biodiversidade para a
manutenção da biosfera e da vida tem sido enfatizada por inúmeros autores. O
conhecimento da flora nativa de cada estado ou região passou a ser de fundamental
importância para o levantamento da biodiversidade e também para o fornecimento de
subsídios a programas de conservação e manejo sustentável. “Os botânicos vêm
realizando trabalhos que apontam para o crescente número de espécies ameaçadas de
desaparecimento, contudo estudos contendo estes dados ainda são escassos, ficando
clara a necessidade de maiores informações com a finalidade de preservar e conservar
espécies raras ou ameaçadas de extinção”(MARCHIORETTO et al, 2005:215-219).
“A família Amaranthaceae é considerada tropical e subtropical, e inclui cerca de
2.000 espécies inseridas em 170 gêneros. Para o Brasil são citados 20 gêneros nativos
com aproximadamente 100 espécies” (MARCHIORETTO et al., 2008 a: 159-170),
“enquanto que no Rio Grande do Sul são encontradas 43 espécies e 11 gêneros”
(MARCHIORETTO et al., 2008 b: 171-190).
“As Amaranthaceae são predominamente ervas, mais raramente subarbustos,
arbustos ou trepadeiras, anuais ou perenes, com folhas opostas, rosuladas ou alternas,
glabras ou pilosas. As inflorescências são espiciformes, capituliformes,
corimbiformes, em panículas ou glomérulos axilares ou terminais. As flores
31
unissexuais ou bissexuais, resultam frutos secos do tipo cápsula monospérmica,
polispérmica ou opercular” (SIQUEIRA, 2002: 11-30; MARCHIORETTO et al., 2008
b: 171-190).
“As espécies da família são encontradas em vários ambientes, como: bordas de
florestas, campos rupestres, cerrados, restingas, e até mesmo em terrenos baldios e
cultivados, sendo mais comuns em ambientes abertos, embora algumas sejam
encontradas principalmente no interior de florestas. No Rio Grande do Sul ocorrem
principalmente em borda e interior de florestas, campos secos e úmidos, restingas e
em áreas perturbadas” (MARCHIORETTO et al., 2008 b: 171-190). As espécies
ocorrentes no bioma Pampa são mais comuns em formações campestres, associadas a
solos arenosos.
Considerando que os ecossistemas do Rio Grande do Sul sofrem forte pressão,
principalmente nas regiões que abrigam o bioma Pampa, tais como, desmatamento,
queimadas, introdução de espécies forrageiras, atividades pecuárias, silvicultura e
agricultura de subsistência. E observando-se as listas de espécies ameaçadas, fica
revelado um lamentável retrato da degradação da natureza e um alerta à sociedade
para a gravidade do problema servindo as mesmas como bases essenciais no
planejamento de estratégias para preservação e conservação.
O objetivo deste estudo é apresentar as espécies de Amaranthaceae encontradas
no bioma Pampa, assim comom discutir seu estado de conservação verificando o
quanto ainda necessita ser preservado, para sua conservação.
METODOLOGIA
Para a realização deste estudo procedeu-se o exame do material da família
Amaranthaceae dos principais herbários do Rio Grande do Sul (HAS, HUCS, HUI,
ICN, PACA, PEL [THIERS, 2011]), verificando-se a procedência de cada exsicata e
anotando o município que pertence ao bioma Pampa, para cada espécie da respectiva
família. “Também foram consultados dados bibliográficos específicos da família para
o Rio Grande do Sul, tais como”: Vasconcellos, 1985:53-64, Vasconcellos, 1985: 107137, Vasconcellos, 1985:165-182, Vasconcellos, 1986: 3-15, Vasconcellos, 1986: 75127e Marchioretto et al., 2008 b: 171-190). Para o Brasil foram examinadas as
bibliografias, Marchioretto et al., 2002:7-46, Marchioretto et al., 2005: 215-219,
Marchioretto et al., 2008 a: 159-170, Marchioretto et al., 2009 a: 667-681,
Marchioretto et al., 2009 b: 783-798 e Marchioretto et al., 2010: 461-511.
O Rio Grande do Sul apresenta 43 espécies de Amaranthaceae, das quais 23
encontram-se na Lista das Espécies Ameaçadas do Estado, publicadas no Diário
Oficial em 01.01.2003, decreto número 42.099. Para estas foi assinalada a ocorrência
no bioma Pampa, com seu respectivo status de conservação.
32
Foram realizadas seis excursões botânicas, no período de fevereiro de 2010 a
janeiro de 2011, com o propósito de localizar populações de espécies consideradas
mais ameaçadas e buscar a ocorrência de novas localidades para elas Foram
contempladas as seguintes regiões fisiográficas propostas por Borges-Fortes (1979):
Campanha, Alto Uruguai, Missões, Campos de Cima da Serra, Encosta do Sudeste,
Litoral e Serra do Sudeste.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das 43 espécies de Amaranthaceae citadas para o Rio Grande do Sul, 34
ocorrem no bioma Pampa e 21 estão na lista de ameaçadas (Tab. 1).
Entre as espécies encontradas no bioma Pampa e consideradas ameaçadas,
algumas tiveram localizadas populações com poucos indivíduos, como é o caso de
Alternanthera hirtula (fig.1) nos municípios de Alegrete, Manoel Viana e São
Francisco do Sul, em campos secos, arenosos e pedregosos. Diante disso, a espécie
continua na mesma categorização do seu estado de conservação.
Alternanthera malmeana apresenta registros para o município de Rosário do
Sul; não foram localizadas novas populações e muito menos confirmada sua
ocorrência no local anteriormente citado; com isto seu status poderia ser alterado para
criticamente em perigo e acentuadas as buscas com a finalidade da sua conservação.
Tabela 1. Espécies da família Amaranthaceae ocorrentes no Bioma Pampa. CR= Criticamente
em perigo, EN= Em perigo, PE= Provavelmente extinto, VU= Vulnerável.
Espécies de Amaranthaceae no RS
Espécies do
Espécies
Status de
Bioma Pampa
Ameaçadas conservação
Alternanthera
bettzickiana
(Regel)
Standl.
X
Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze
Alternanthera hirtula (Mart.) R.E.FR.
X
X
EN
Alternanthera malmeana R.E.Fr.
X
X
EN
Alternanthera maritima (Mart.) A. St.
Hil.
Alternanthera micrantha R.E.Fr.
X
X
VU
Alternanthera paronychioides A.St. Hil.
X
X
VU
Alternanthera philoxeroides (Mart.)
Griseb.
X
Alternanthera praelonga A.St. Hil.
X
X
CR
Alternanthera reineckii Briq.
X
X
VU
Alternanthera tenella Colla
X
X
VU
Amaranthus blitum Baker & Clarke
X
33
Amaranthus deflexus L.
Amaranthus hybridus L.
Amaranthus muricatus (Moq.) Hieron.
Amaranthus rotoflexus L.
Amaranthus rosengurtii Hunz
Amaranthus spinosus L.
Amaranthus viridis L.
Blutaparon portulacoides (A.St. Hil)
Mears
Celosia argentea (L.) Voss
Celosia grandifolia Moq.
Chamissoa acuminata Mart.
Chamissoa altissima Nees & Mart.
Froelichia tomentosa (Mart.) Moq.
Gomphrena celosioides Mart.
Gomphrena elegans Mart.
Gomphrena globosa L.
Gomphrena graminea Moq.
Gomphrena perennis L.
Gomphrena pulchella Mart.
Gomphrena schlechtendaliana Mart.
Gomphrena sellowiana Mart.
Gomphrena vaga Mart.
Hebanthe eriantha (Poir.) Pedersen
Iresine diffusa Humb. & Bonpl. ex
Willd.
Iresine herbstii Hook.
Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen
Pfaffia gnaphaloides (l.f.) Mart.
Pfaffia tuberosa (Spreng.) Hicken
Pseudoplantago friesii Suess
Quaternella
glabratoides
(Suess.)
Pedersen
X
X
VU
X
X
VU
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
X
EN
VU
VU
CR
X
X
X
X
X
X
X
X
VU
VU
EN
EN
VU
VU
EN
X
X
VU
VU
PE
EN
Para Alternanthera micrantha foi confirmada a presença no bioma Pampa no
município de São Luiz Gonzaga, com populações não muito densas, em bordas de
pequenos fragmentos de floresta. Em outros municípios pertencentes ao bioma Mata
Atlântica a espécie foi encontrada, mas também com populações pequenas, alertando
para o estado de vulnerabilidade da espécie, tendo em vista o risco de potencial
desmatamento e forte pressão antrópica que sofre a região.
34
Alternanthera paronychioides possui registro para vários municípios do bioma
Pampa; no entanto, apesar de várias excursões na tentativa de localização de novas
ocorrências e/ou sua confirmação, a mesma não foi reencontrada. As buscas deverão
ser intensificadas, pois caso não se encontre mais populações da espécie, seu status de
conservação deverá ser alterado para em perigo (EN).
Alternanthera praelonga (fig.2) possuía registros para Torres, em dunas
litorâneas. Após inúmeras viagens para localização da espécie, a mesma foi
encontrada somente no município citado com populações apresentando número
relativamente pequeno de indivíduos. A região de sua ocorrência tem sofrido impacto
muito intenso, devido à intervenção do setor imobiliário para construção de
condomínios à beira-mar, quiosques, entre outros, tornando cada vez mais crítica a
situação de conservação desta espécie. Mesmo sendo área de preservação a região
onde a espécie foi localizada, a mesma é muito visitada principalmente no período de
verão, aumentando o impacto no local e em conseqüência muitas espécies estão
susceptíveis ao desaparecimento.
Alternanthera reineckii encontra-se na categoria de vulnerável. A espécie não
foi encontrada durante as expedições botânicas. De acordo com Smith & Downs
(1972: 110 p.) “a espécie muitas vezes passa despercebida por encontrar-se
parcialmente escondida entre Gramíneas e Ciperáceas em campos úmidos”. As buscas
devem ser intensificadas na tentativa de localização e manutenção de possíveis
populações.
De acordo com registros de herbário Alternanthera tenella é bastante rara,
ocorrendo em borda de florestas e também encontrada como cultivada. Durante os
trabalhos de campo pelas principais regiões fisiográficas do Estado a mesma não foi
localizada como nativa. Como Vasconcelos (1985: 277 p.) “afirma que a espécie é
cultivada como ornamental”, deverá ser intensificado seu cultivo para manutenção da
mesma e continuar sua busca para confirmar sua ocorrência como nativa.
Amaranthus rosengurtii apresenta registros somente para o município de
Alegrete, não tendo sido confirmada sua ocorrência neste município. Como já
destacado por Vasconcelos (1985, 7(2):107-137), “a espécie é raríssima no Estado”; se
não for mais encontrada, deverá ser reavaliada sua categorização.
No caso de Blutaparon portulacoides (fig. 3) tinham-se registros para vários
municípios do litoral norte e sul. Durante as expedições realizadas, a espécie foi
confirmada para os municípios de Imbé, Arroio do Sal e Torres. Como a mesma
ocorre principalmente nas dunas e estas são feições naturais da maioria das praias,
recebem contínuos aportes de areias, transportadas pelo vento; seu papel principal é o
de manutenção e preservação morfológica da costa, atuando como barreiras contra a
ação das ondas e tempestades; no entanto as áreas de dunas sofrem alterações,
35
principalmente com o crescimento das cidades litorâneas; realidade esta verificada em
diversos municípios do litoral, o que intensifica a preocupação com a manutenção do
habitat desta espécie.
De Celosia grandifolia os registros existentes para o bioma Pampa consistiam
de alguns municípios da região metropolitana de Porto Alegre, além de Osório e
Torres; no entanto, todas as coletas são das décadas 30, 40 e 50, com ocorrência no
interior de florestas pluviais. Como nestas regiões praticamente não existem
remanescentes de florestas nativas, é previsível a não confirmação da espécie nas
buscas.
Para Chamissoa acuminata (fig. 4) são citadas diversas coletas da espécie, mas
os únicos municípios pertencentes ao bioma Pampa são Torres, Montenegro e Santa
Maria. Nestes, a espécie não foi encontrada novamente, tendo apenas localizada em
municípios que pertencem ao bioma Mata Atlântica tais como Iraí, Palmitinho,
Taquaruçu do Sul e Três Passos.
De Chamissoa altissima, os registros apontam a ocorrência para Cerro Largo,
Montenegro, Novo Hamburgo, Osório e Santa Maria. De acordo com Vasconcelos
(1985, 7(3): 165-182), “a espécie é pouco frequente no interior e na borda da mata
pluvial, em margens de rios e riachos”, não tendo sido apenas localizada em buscas
recentes.
“Froelichia tomentosa (fig.5) ficou 179 anos sem registros de ocorrência no
Estado” (MARCHIORETTO, 2003:175-179). Atualmente foi localizada em campos
secos e arenosos de Alegrete e São Francisco de Assis, principalmente em
propriedades particulares, que, na maioria das vezes, estão sofrendo processo de
arenização. As populações encontradas apresentam poucos indivíduos, o que mais
chama a atenção para sua preservação e também para a não alteração do seu status de
conservação.
As informações sobre a ocorrência de Gomphrena graminea são das décadas de
50, 60, 70 e 80. Posteriormente foi recoletada em 2004 em Rosário do Sul, em 2006
em Porto Alegre no Morro São Pedro e Morro do Osso, e em 2007 em São Francisco
de Assis e Manoel Viana (Cerro do Tigre). Mas, segundo Vasconcelos (1986, 8(2):75127), “a espécie é muito rara em campos secos e pedregosos e também em declives
fortes”. Acentua-se a necessidade de sua conservação, tendo em vista a localização
dessas novas populações.
Embora as informações bibliográficas apontem Gomphrena perennis (fig. 6)
como sendo uma espécie pouco frequente no Estado e que apresente algumas coletas
mais antigas, a mesma foi reencontrada em vários municípios do bioma Pampa, tais
como: Bagé, Capão da Canoa, Dom Pedrito, Maquiné, Palmares do Sul e Torres.
36
Figura 1. Alternanthera hirtula (Mart.) R.E.FR.. Figura 2. Alternanthera praelonga A.St. Hil.
Figura 3. Blutaparon portulacoides (A.St. Hil) Mears. Figura 4. Chamissoa acuminata Mart.
37
Gomphrena pulchella é considerada raríssima em campos de solo arenoso, de
acordo com Vasconcelos (1986, 8(2):75-127), “passou muitos anos sem registros de
novas coletas (1849)”. Em 1977 foi recoletada em Itaqui e posteriormente, em outros
anos, em São Borja e Uruguaiana, carecendo de muita atenção para sua preservação e
conservação, não sendo possível sua mudança de status.
Gomphrena schlechtendaliana também é considerada raríssima no Estado, só
havendo registro, no bioma Pampa, para Pelotas e Osório nas décadas de 50 e 70,
respectivamente. Para o bioma Mata Atlântica têm-se informações de ser encontrada
em Lagoa Vermelha e Vacaria. Durante as excursões realizadas por estes municípios
não foi possível a confirmação, porém segundo Anabela S. de Oliveira Deble
(comunicação pessoal), a espécie foi coletada em Vacaria no ano de 2002.
Gomphrena sellowiana, espécie de distribuição geográfica apenas no Rio
Grande do Sul, mais precisamente no município de Pelotas, considerada raríssima, não
teve mais confirmada sua ocorrência neste município, carecendo de novas buscas na
tentativa de reencontrá-la.
Para Gomphrena vaga percebe-se, que com o passar dos anos foram diminuindo
os registros de sua ocorrência. Nas décadas de 40 e 50 são apontados pontos na região
metropolitana (Porto Alegre, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Montenegro). Já nas
décadas de 70, 80, 90 somente foi registrada a ocorrência no município de Torres e
mais recentemente, no ano de 2004, foi encontrada em Bossoroca. Como a espécie é
considerada pouco freqüente de acordo com Vasconcelos (1986, 8(2):75-127),
“ocorrendo em borda e clareiras de florestas e em florestas abertas”, sua tendência é de
ser encontrada cada vez menos em função da pressão antrópica que sofrem as florestas
no Estado.
Hebanthe eriantha, anteriormente denominada Pfaffia paniculata Mart., muito
confundida com Pfaffia glomerata, apresenta poucos registros no bioma Pampa,
somente das décadas de 40, 50, 60, 70, 80. A intensificação para confirmar estes
registros de ocorrência e busca de novos locais sem sucesso, remete-nos a verificar se
a mesma deva continuar somente na categoria de vulnerável.
Pfaffia glomerata (fig. 7) é espécie muito utilizada na fitoterapia, sendo por
este, motivo cultivada com frequência. Como nativa têm-se registros das décadas de
40 e 50 para os municípios de Cerro Largo, São Gabriel e São Miguel das Missões.
Em 2006 e 2010 foi reencontrada em Cachoeira do Sul. A espécie merece atenção
especial devido a sua utilização em grande escala e para que não entre em total perigo
de desaparecimento.
Pfaffia gnaphaloides (fig. 8), apesar de estar na categoria de vulnerável, foi uma
das espécies de que mais se teve novos registros no bioma Pampa, tais como em Bagé,
Dom Pedrito, Santana do Livramento, Quarai, Alegrete, Rosário do Sul e Uruguaiana.
38
Figura 5. Froelichia tomentosa (Mart.) Moq. Figura 6. Gomphrena perennis L. Figura 7.
Pfaffia glomerata (Spreng.) Pedersen. Figura 8. Pfaffia gnaphaloides (l.f.) Mart. Figura 9.
Quaternella glabratoides (Suess.) Pedersen
39
“Segundo Vasconcelos (1986, 8(1):3-15), Pseudoplantago friesii é uma espécie
muito rara, endêmica da América do Sul, encontrada em bordas e clareiras de florestas
na região do Alto Uruguai, mais precisamente nos municípios de Giruá e Nonoai”.
Mesmo não fazendo parte do bioma Pampa foram intensificadas as buscas da mesma,
sem ter-se obtido nem a confirmação de sua ocorrência e muito menos novos registros.
O caso de Quaternella glabratoides (fig. 9) é bastante semelhante à espécie
anterior; seu único registro no Rio Grande do Sul é no município de Derrubadas, no
Parque do Turvo, que não pertence ao bioma Pampa. A espécie foi confirmada no
mesmo local, não tendo sido registradas novas ocorrências.
CONCLUSÕES
Das 23 espécies consideradas ameaçadas para o Rio Grande do Sul, 21 ocorrem
no bioma Pampa, das quais somente 11 tiveram seus registros confirmados, sendo que
uma das espécies foi reencontrada somente no bioma Mata Atlântica.
Com estes resultados pode-se afirmar que várias causas ameaçam as espécies de
Amaranthaceae, principalmente por habitarem a vegetação campestre ou em bordas e
interior de florestas do Rio Grande do Sul.
As Amaranthaceae estão sofrendo cada vez mais as influências do
desmatamento, das queimadas, do sobrepastejo, das monoculturas anuais, dos
empreendimentos hidroelétricos, do desaparecimento das dunas, da falta de
implementação ou regulamentação de Unidades de Conservação.
Deverão ser incentivadas e investidas novas buscas na tentativa de salvaguardar
as populações ainda existentes de Amaranthaceae, não deixando desaparecer estas
espécies, porque além da importância no equilíbrio do bioma Pampa, muitas
apresentam potencial ainda não conhecido que poderá subsidiar muitas pesquisas de
valor científico e medicinal de interesse para toda população gaúcha.
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41
DIVERSIDADE FLORÍSTICA E ASPECTOS
VEGETACIONAIS DE FABACEAE NA
REGIÃO DO JARAU – QUARAÍ, RS
Fabiano da Silva Alves1
José Newton Cardoso Marchiori2
1
Prof. Dr. Fabiano da Silva Alves – URCAMP – Campus Universitário Alegrete, RS.
[email protected]; 2 Prof. Dr. José Newton Cardoso Marchiori – UFSM – Santa Maria, RS.
[email protected]
No município de Quaraí, um semicírculo de
morros se alteia na topografia monótona do Planalto
da Campanha: trata-se dos Cerros do Jarau, sítio
histórico, enriquecido de misticismo e tornado célebre
por uma das lendas mais famosas da literatura sul-riograndense. Apesar de sua notoriedade na cultura
sulina, a “Região do Jarau” ainda é pouco conhecida
sob o ponto de vista científico, não faltando, inclusive,
opiniões contraditórias a respeito de sua origem
geológica e geomorfológica.
42
INTRODUÇÃO
Unidade de paisagem anômala na Campanha Gaúcha, os Cerros do Jarau
intrigam pesquisadores há muitas décadas, gerando controvérsias a respeito de sua
gênese. As interpretações científicas a respeito são debatidas há mais de 40 anos, com
o objetivo de esclarecer a origem de sua estrutura, se derivada de fatores endógenos, a
partir de processos tectônicos, ou de agentes externos, tais como o impacto de um
meteorito. Destacam-se, neste sentido os trabalhos de Hachiro et al. (1995), Crósta &
Lorenço (2008), Crósta et al. (2010), Philipp et al. (2010) e Lourenço & Crósta
(2011), que apontam para uma estrutura de impacto meteorítico, considerando esta
feição como um astroblema: o “Astroblema do Jarau”.
Além de particularidades em seus aspectos físicos, o Astroblema do Jarau
também tem revelado novidades sobre o ponto de vista botânico, notadamente para a
família Fabaceae, destacando-se, neste sentido, os trabalhos de Rambo (1942, 1956,
1966), Burkart (1946), Alves & Marchiori (2010, 2011c), Marchiori & Alves (2010b,
2011b), Boldrini et al. (2010), Deble (2011) e Alves (2012), entre outros.
De distribuição cosmopolita, a família Fabaceae é uma das maiores das
Angiospermas, incluindo cerca de 650 gêneros e aproximadamente 18.000 espécies,
em todo o mundo, e cerca de 200 gêneros e 1.500 espécies, na flora brasileira
(SOUZA & LORENZI, 2005). No Rio Grande do Sul, a família também é uma das
mais numerosas, ao lado de Asteraceae e Poaceae.
O presente estudo visa a investigar a diversidade de Fabaceae e aspectos
vegetacionais na “Região do Jarau”, município de Quaraí/RS (Figura 1), além de
contribuir para o conhecimento da flora regional e a valorização do patrimônio natural
do Estado.
MATERIAIS E MÉTODOS
A área em estudo localiza-se no oeste do Rio Grande do Sul e, para o objetivo
proposto, consiste em um polígono de 135,16 km², limitado ao norte pelo arroio
Garupá, ao sul pelo arroio Quaraí-Mirim, e a leste e oeste por linhas imaginárias
correspondentes às longitudes de 56° 28’ 39” L e 56° 35’ 26” W.
Nos trabalhos de campo, valeu-se de quatro cartas topográficas da Diretoria do
Serviço Geográfico (DSG) do Exército Brasileiro, em escala 1:25.000 (Sanga
Nhanduvá – Folha SH.21-Z-A-I-2-SE; Sanga do Aldo – Folha SH.21-Z-A-II-1-SO;
Fazenda Santa Erondina – Folha SH.21-Z-A-I-4-NE; e Quaraí-N – Folha SH.21-Z-AII/3-NO), e de aparelho receptor GPS de precisão métrica, marca Garmin, modelo
GPSmap 60CSx.
Em laboratório, com auxílio do Software GPS TrackMaker Professional – GTM
PRO, versão 4.8 (desenvolvido por Odilon Ferreira Júnior), os dados levantados em
43
campo foram lançados em base cartográfica previamente selecionada, a partir de
Hasenack & Weber (2010), logrando-se, finalmente, o mapa de localização da
“Região do Jarau”. Este mapa, gerado em arquivo formato GTM (GPS Track Maker),
foi posteriormente transformado em arquivo formato Autocad DXF – Drawing
Exchange Format (desenvolvido pela Autodesk Inc.) e transferido ao software Corel
DRAW X5 (da Corel Corporation, 2010), para a edição gráfica final.
O levantamento florístico, com ênfase na família Fabaceae, foi efetuado durante
os anos de 2010 e 2011. Para os trabalhos de campo, adotou-se o método de
“caminhamento” (FILGUEIRAS et al., 1994), que inclui três etapas distintas:
reconhecimento das distintas fitofisionomias; elaboração da lista de espécies, a partir
de caminhadas aleatórias, ao longo de uma ou mais linhas imaginárias e análise dos
resultados.
Sempre que possível, a identificação das espécies foi realizada in situ. No caso
de dúvida, coletou-se material vegetativo e/ou reprodutivo para posterior análise e
identificação em laboratório, valendo-se, neste caso, de bibliografia especializada e
chaves de identificação. Nas tabelas de campo foram anotados: nome científico das
espécies, hábito vegetal, status de ocorrência e tipologia de vegetação.
O material coletado foi anexado ao Herbário da Urcamp, Alegrete, enquanto as
duplicatas foram doadas para o herbário da Unipampa, campus Dom Pedrito.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em estudo fitogeográfico recente (ALVES, 2012), realizado com base em
parâmetros fisionômicos, florísticos e fitoecológicos, foram reconhecidas seis
tipologias de vegetação natural na Região do Jarau: campos em colinas vulcânicas,
campos rupestres, campos em colinas de arenito, capões-de-mato, matas ciliares e
parque de inhanduvá.
Na área investigada, observou-se uma notável diversidade florística, comparada
ao restante do Planalto da Campanha, fato que se explica pelos distintos ambientes,
resultantes de variações no relevo, no substrato litológico, no solo, na disponibilidade
hídrica e, inclusive, no clima regional, aspecto abordado recentemente por Rossato
(2011).
O levantamento florístico revelou que Fabaceae é uma das três famílias
botânicas mais representativas na flórula do Jarau, juntamente com Poaceae e
Asteraceae (ALVES, 2012). Encontrada em todas as tipologias de vegetação, a família
mostrou alta diversidade de espécies e hábitos vegetais, com elevado número de
espécies raras e/ou endêmicas (Figuras 2 e 3). Além destes pontos, o levantamento
florístico revelou a existência de um parque de inhanduvá no interior do “Astroblema
do Jarau”, realidade de grande interesse fitogeográfico.
44
Figura 1 – Mapa de localização da “Região do Jarau”, Quaraí/RS.
45
Figura 2 – Diversidade de Fabaceae na Região do Jarau. A – Desmanthus virgatus. B
– Lathyrus nervosus. C – Lupinus albescens. D – Mimosa daleoides. E – Eriosema
tacuaremboense. F – Mimosa ramboi.
46
Figura 3 – Diversidade de Fabaceae na Região do Jarau. A – Vista parcial do Parque
de Inhanduvá (Prosopis affinis). B – Camptosema rubicundum. C – Centrosema
virginianum. D – Desmodium arechavaletae. E – Desmodium cuneatum.
47
Mais de 2/3 das Fabáceas (64%) têm ocorrência restrita aos campos rupestres e
campos em colinas de arenito; 11% são de campos de colinas vulcânicas; e 5% têm
distribuição mais ampla, ocorrendo nas três tipologias campestres reconhecidas para a
região (Gráfico 1). Deste conjunto, vê-se que 80% das espécies estão vinculadas à
flórula campestre, 9% são típicas de florestas (capões-de-mato e matas ciliares), outras
9% ocorrem tanto em formações campestres como florestais, e apenas 2%
correspondem ao parque de inhanduvá.
64%
11%
9%
7%
5%
2%
Gráfico 1 – Percentual de Fabaceae nas distintas tipologias de vegetação, para a Região do
Jarau (cr = campos rupestres; ca = campos em colinas de arenito; cv = campos em colinas
vulcânicas; cm = capões-de-mato; mc = matas ciliares; pi = parque de inhanduvá).
No que se refere ao hábito vegetacional (Gráfico 2), as espécies herbáceas
(anuais e perenes) e subarbustivas somam 64% das Fabáceas nativas, percentagem
esperada,aliás, em região majoritariamente campestre. Os subarbustos e arbustos,
presentes tanto em formações campestres como florestais, somam 7% das espécies.
Predominantes em áreas florestais, as árvores e arbustos representam 23% das
Fabáceas na Região do Jarau; nas formações campestres, todavia, estas plantas
também se encontram representadas e, por vezes, de forma conspícua. As trepadeiras
lenhosas, por sua vez, representam apenas 2% das espécies na área em estudo e se
vinculam, sobretudo, a formações florestais (capões-de-mato e matas ciliares).
Cabe salientar que a presença de espécies arbustivo-arbóreas nos campos sulrio-grandenses é referida na literatura desde a contribuição pioneira de Lindman
(1906, p. 115), autor que reconheceu ser “certamente difícil encontrar uma só milha
quadrada” de campo, no Estado, onde a paisagem não inclui “um grupo de árvores ou
uma parte florestal”. Sobre o mesmo ponto, Marchiori (2004) também ressalta a
48
expressiva contribuição do elemento fanerofítico na flórula campestre no Estado
sulino.
Quadro 1 – Fabáceas nativas na Região do Jarau (Quaraí/RS).
Legenda: Háb.= hábito: erv, erva; erv/enr, enredadeira; sub, subarbusto; arb, arbusto; arv,
árvore; trep/len, trepadeira lenhosa. Ocor. = ocorrência: nat, nativa; end, endêmica. Tipol. =
tipologia de vegetação: cv, campos em colinas vulcânicas; cr, campos rupestres; ca, campos em
colinas de arenito; cm, capões-de-mato; mc, matas ciliares; pi, parque de inhanduvá.
49
41%
23%
23%
7%
4%
2%
Gráfico 2 – Percentagem dos distintos hábitos vegetais de Fabaceae na Região do Jarau.
Em todas as tipologias de vegetação encontram-se endemismos até mesmo em
campos de colinas vulcânicas, vegetação reconhecida por Rambo (1942, p.115) – e em
pontos como na “descida para o Quarai Mirim” –, como tendo a “a flora mais pobre
que se pode imaginar”. Na área em estudo, destaca-se, neste sentido, Mimosa ramboi.
A respeito de Mimosa ramboi Burkart (Figura 2F), cumpre salientar que a
localidade típica indicada pelo eminente leguminólogo argentino situa-se cerca de
“100 metros da mata ciliar do rio Quaraí Mirim, no vértice formado por este rio e a
Sanga do Nhandubay” (BURKART, 1946, p. 229). Sobre o tema, Rambo (1966, p. 41)
agrega que a espécie-tipo (nº 26.144) foi coletada na Fazenda do Jarau, em campo
pedregoso com gramíneas (in campestribus saxosis graminosis).
Reconhecido por Alves (2012) como tipologia distinta na Região do Jarau, o
Parque de Inhanduvá, descrito originalmente por Alves & Marchiori (2010),
compreende centenas de indivíduos de Prosopis affinis, em vários fragmentos ao
longo do curso da sanga Nhanduvá, ao sul dos cerros do Jarau, em terreno sedimentar
aluvial, de solos francamente arenosos (Figura 3A).
Em favor de sua origem natural, o parque de inhanduvá do Jarau dispõe de
sólido embasamento documental. Entre outros, salienta-se uma esclarecedora nota de
Docca (1925) sobre o nome da sanga que drena toda esta área de solos arenosos:
“Nhanduvahy – c. nhandu-uva-y, o rio das fructas da avestruz. Sanga tributária do
Quarahy Mirim, no 1º districto do mun. de Quarahy; nasce ao S. dos cerros de Jarau;
seu curso é de 9 klms.” (DOCCA, 1925, p. 52). Em documento manuscrito ainda mais
antigo, Cunha (1903) reafirma a ocorrência natural da espécie no município: “A fauna
50
é pobre e nenhuma espécie della é digna de nota por não sahir do vulgar, bem como a
flora, de que não se destaca nenhum especimen de valor. Existe algum inhanduvá
entre costas do Quarahy e cerros de Jaráo, em forte vertente que tira o nome da
existência nella daquella madeira”.
A descrição do Parque de Inhanduvá do Jarau, ao mesmo tempo em que alterou
o mapa da distribuição geográfica da espécie no Brasil, fomentou uma investigação
mais ampla no oeste do Rio Grande do Sul, levando à descoberta de outros fragmentos
remanescentes (MARCHIORI et al. 2010a; MARCHIORI & ALVES 2011a; ALVES
& MARCHIORI, 2011a; ALVES & MARCHIORI, 2011b), assim como à discussão
de aspectos fitogeográficos e das possíveis rotas imigratórias da espécie, no estado
sulino (MARCHIORI & ALVES, 2010b, 2011b; ALVES & MARCHIORI, 2011c).
Deste modo, sabe-se, hoje, que a distribuição de Prosopis affinis no Rio Grande do
Sul não está restrita aos arredores de Barra do Quaraí, como afirmado por Galvani
(2003), nem aos terrenos aluviais existentes ao longo do tio Uruguai, entre Uruguaiana
e Barra do Quaraí (IBGE, 1986).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Região do Jarau, selecionada para a realização do presente estudo, apresenta
uma notável diversidade florística, comparada ao restante do Planalto da Campanha
gaúcha. Tal situação analisada apresentou estreita vinculação com os diferentes
habitats gerados a partir das particularidades do meio físico.
Com predomínio de formações campestres em relação às formações florestais, a
área em estudo, revelou possuir composição florística semelhante a outras áreas de
campo típico, com muitos representantes das famílias Poaceae, Asteraceae e Fabaceae.
No tocante à família Fabaceae foram encontradas 44 espécies, correspondendo a
16% da flórula regional, incluindo numerosas espécies endêmicas, raras e/ou
ameaçadas de extinção, aspecto que recomenda a adoção de medidas com vistas à
proteção e valorização deste importante patrimônio natural. No caso do inhanduvá
(Prosopis affinis Spreng.), além do valor fitogeográfico do parque existente na Região
do Jarau, resta salientar que a espécie, está protegida pelo Código Florestal Estadual
(Lei n° 9.519, de 21 de janeiro de 1992), mas até então, era desconhecida, por parte da
ciência e também dos órgãos oficiais de proteção ambiental, sua ocorrência fora do
“Parque Estadual do Espinilho”.
Frente às contribuições científicas expostas neste trabalho, espera-se que os
órgãos competentes e a sociedade em geral, venham a conhecer, valorizar e proteger o
patrimônio natural do Estado, em específico da Região do Jarau, buscando de forma
consciente, o desenvolvimento e a responsabilidade sócio-ambiental.
51
REFERÊNCIAS
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53
DIVERSIDADE DA FAMÍLIA
ASTERACEAE BERCHT & J. PRESL
(COMPOSITAE GISEKE)
NO BIOMA PAMPA
Anabela Silveira de Oliveira Deble1
Leonardo Paz Deble2
1
Bióloga, Dra. Prof. Curso Superior Tecnólogo em Gestão Ambiental da Universidade da Região da
Campanha – Dom Pedrito/RS. [email protected]; 2Biólogo, Dr. Prof. Adjunto Curso de Ciências
da Natureza, Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) – Dom Pedrito/RS.
As compostas são comumente encontradas em
formações abertas em todo o território gaúcho,
constituindo a família botânica com o maior número de
táxones no estado. No Bioma Pampa crescem diversas
espécies endêmicas desta família botânica e
representantes de Asteraceae são abundantes,
sobretudo em áreas abertas, formações rochosas,
banhados,
campos
antropizados
e
menos
freqüentemente em formações florestais.
54
INTRODUÇÃO
Difundidas em regiões tropicais, subtropicais e temperadas em todos os
continentes do mundo, com exceção da Antártida, a família Asteraceae Bercht. & J.
Presl (= Compositae Giseke) inclui cerca de 30.000 espécies (KATINAS et al., 2007),
constituindo a maior família das Eudicotiledôneas.
Para a Lista de Espécies da Flora do Brasil foram compilados 1.996 espécies e
271 gêneros pertencentes a 27 tribos (NAKAJIMA et al, 2010); embora esta
contribuição consista na mais importante compilação de dados feitos para a família no
Brasil, não se sabe ao certo o número de gêneros e espécies que compõem esta
importante família botânica para um país megadiverso como o Brasil.
Extremamente importantes do ponto de vista econômico, fazem parte desta
família muitas espécies de valor alimentício e ornamental, como a alface, o girassol, o
crisântemo, as camomilas e as margaridas, sendo a maior parte destas espécies
originárias de outros países. No tocante as espécies nativas muitas são utilizadas na
medicina caseira, como a macela, a carqueja e o guaco, porém a maior parte das
espécies não foi ainda estudada em relação à comprovação da sua eficiência como
fitoterápicas.
Muitos táxones se comportam como invasoras em culturas agrícolas, outras
espécies, como o mio-mio e a maria-mole são tóxicas, resultando prejuízo para a
pecuária.
As compostas são encontradas principalmente em áreas abertas, tais como
campos, campos rupestres, campos de altitude, savanas, banhados, dunas litorâneas,
formações montanhosas e, menos comumente, em florestas, constituindo uma das
famílias mais evoluídas em relação a sua eficiência na dispersão de sementes, o que as
torna capazes de habitar em quase todos os continentes do mundo.
As Asteraceae compreendem plantas herbáceas, subarbustivas ou arbustivas,
com poucas lianas e árvores, geralmente inermes. Folhas alternas, opostas ou
verticiladas, simples, por vezes profundamente lobadas ou partidas, inteiras a
denteadas. Flores dispostas em capítulos rodeados por invólucro de brácteas (filárias),
arranjado em sinflorescências terminais ou axilares; Estames geralmente cinco, com
filetes aderidos à corola. Ovário ínfero, com placentação basal, estilete ramificado no
ápice, com tecidos estigmáticos cobrindo a superfície interna ou em duas linhas
marginais. Fruto cipsela (ou aquênio), por vezes achatado, alado ou espinhoso,
endosperma escasso ou ausente. Papilho composto de uma a muitas escamas conatas
ou não, persistentes ou decíduas, barbadas ou plumosas, às vezes ausentes.
Os primeiros trabalhos com a família Asteraceae no Rio Grande do Sul foram
publicados por Malme (1899, 1831) que registrou 325 espécies para a flora sul-riograndense. Rambo (1952) realizou uma compilação de nomes e apresentou um
55
histórico sobre as Compostas no Rio Grande do Sul, enquanto Matzenbacher (1985)
listou as espécies de Asteraceae da fazenda São Maximiano, no município de Guaíba.
Mais recentemente, Azevedo et al. (2004) reconheceram 70 espécies e 36
gêneros ocorrentes no município de Terra de Areia, litoral norte do Rio Grande do Sul.
No levantamento da Asteraceae da Casa de Pedra, no município de Bagé, Ritter &
Baptista (2005) apresentaram lista de 87 espécies distribuídas em 47 gêneros. Beretta
et al. (2008) citaram 162 espécies e 56 gêneros para o Parque Estadual de Itapuã, no
município de Viamão, enquanto Fernandes & Ritter (2009) compilaram 154 espécies e
63 gêneros apenas para o morro Santana, em Porto Alegre.
Inúmeras revisões taxonômicas têm sido realizadas para o Rio Grande do Sul;
no entanto, a maior parte destes tratamentos está restrita a determinados grupos ou
gêneros, como é o caso de Eupatorium sensu lato (MATZENBACHER, 1979),
Vernonia Schreb. sensu lato (MATZENBACHER & MAFIOLETI, 1994),
Stenachaenium (MARODIN & RITTER, 1997), Pluchea (DALPIAZ & RITTER,
1998), Senecio (MATZENBACHER, 1998), Heterothalamus (DEBLE, 2005),
Mikania (RITTER & MIOTTO, 2005), Baccharis sect. Caulopterae (DIESEL, 1987;
HEIDEN, 2008; SCHNEIDER, 2008), Hypochaeris (GONÇALVES &
MATZENBACHER, 2007) e Pterocaulon (LIMA, 2008). Entre os estudos mais
abrangentes se destaca o tratamento de Mutisieae (MONDIN, 1996) e a revisão de
Heliantheae sensu lato (MONDIN, 2004).
Muitos destes estudos estão disponíveis apenas como dissertações e teses,
dificultando o acesso dos interessados. Na tentativa de identificação de espécies há
quase que a obrigatoriedade de se recorrer aos estudos clássicos de Cabrera (1963,
1971, 1974, 1978) e Freire (2009) para a Argentina, Cabrera & Klein (1973, 1975,
1980, 1989) e Freire et al. (2011) para Santa Catarina
Como é possível constatar, mesmo sendo a família botânica mais bem
representada no Rio Grande do Sul, as Asteraceae não foram ainda revisadas de
maneira mais ampla neste estado. Os estudos que incluem todo o espaço regional
consistem em listas de espécies, como a contribuição de Matzenbacher (2003), que
citou 76 gêneros e 357 espécies de Asteraceae para o Rio Grande Sul e, mais
recentemente, os dados de Deble & Oliveira-Deble (2011) que compilaram 555
espécies de Asteraceae, distribuídas em 127 gêneros e 20 tribos.
O objetivo deste trabalho é apresentar lista de tribos, gêneros e espécies de
Asteraceae ocorrentes no Bioma Pampa e fornecer informações referentes a espécies
endêmicas e ameaçadas, visando a colaborar com futuros planos de manejo e estudos
com a flora local.
56
MATERIAL É MÉTODOS
A lista de espécies tem por base coletas originais, realizadas pelos autores nas
diferentes regiões do Bioma Pampa ao longo de dez anos e a revisão dos herbários
(CTES, CNPO, CORD, FLOR, GUA, FEEMA, HAS, HB, HBR, HDCF, ICN, LP,
MBM, MVM, MVJB, PACA, PEL, R, RB, SI, SMDB, SP, SPF, UPCB [Thiers,
2011]). Para o levantamento das espécies foi utilizado o método de Caminhamento
(FILGUEIRAS et al, 1994), além de coletas aleatórias em diferentes pontos do Bioma
Pampa. Para a determinação das entidades taxonômicas utilizou-se bibliografia
específica, revisão de tipos nomenclaturais, consulta a especialistas, além de análise
dos tipos depositados nos herbários brasileiros e fotografias digitais disponíveis nos
Herbários: C, F, G, P, K, NY, S, US e W (siglas de acordo com Thiers 2011)
disponíveis na rede internacional de computadores (Internet).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
No Bioma Pampa as Asteraceae estão representadas por 418 espécies, 111
gêneros e 20 tribos. Todas as tribos apresentam espécies nativas, sendo que as
espécies subespontâneas totalizam apenas 6,7% do total das espécies inventariadas.
A Tribo Anthemideae apresenta cinco gêneros e nove espécies (Tabela 1),
sendo que somente Soliva possui táxones nativos, as outras espécies são
subespontâneas, por vezes se comportando como invasoras na beira das estradas e em
solos degradados.
As Astereae constitui o maior número de representantes da flora no Bioma
Pampa, com 104 espécies, distribuídas em 15 gêneros e 4 variedades (Tabela 1).
Baccharis é o gênero com maior número de espécies nativas com 15% do total das
espécies inventariadas.
De acordo com a “Lista de Espécies da Flora ameaçadas de extinção do Rio
Grande do Sul (2002)” apenas Baccharis penningtonii é citado como ameaçado na
categoria vulnerável. Deble & Oliveira-Deble (2010) incluíram mais três Astereae
como ameaçadas: Grindelia atlantica e G. gaucha como Em Perigo e G.
buphthalmoides como Criticamente Ameaçada.
A tribo Barnadesieae está representada por três espécies nativas (Tabela 1), as
espécies de Dasyphyllum são típicas de formações florestais e Schlechtendalia
luzulifolia ocorre em campos rupestres e encostas de cerros, sendo esta última espécie
considerada Em Perigo de acordo com a “Lista de Espécies da Flora ameaçadas de
extinção do Rio Grande do Sul (2002)”.
A Tribo Cardueae está representada por três gêneros e quatro espécies (Tabela
1), apenas Centaurea tweediei é nativa, sendo espécie comum, principalmente em
áreas campestres e beira de estradas.
57
A Tribo Cichorieae está representada por sete gêneros, dezoito espécies e duas
variedades (Tabela 1), com 11 espécies nativas e sete subespontâneas, não há
informações de espécies ameaçadas para essa tribo.
A Tribo Coreopsideae está representada por quatro gêneros, nove espécies e
uma variedade (Tabela 1); destas, cinco espécies são nativas e quatro subespontâneas.
O gênero Isostigma apresenta duas espécies nativas consideradas Em Perigo, de
acordo com a “Lista de Espécies da Flora ameaçadas de extinção do Rio Grande do
Sul (2002)”: I. peucedanifolium (como I. megapotamicum) e I. crithmifolium.
A Tribo Eupatorieae está representada por 49 espécies distribuídas em 18
gêneros (Tabela 1), consistindo na tribo com maior número de gêneros nativos.
Chromolaena angusticeps e Raldkoferotoma ramboi são endêmicas do Rio Grande do
Sul, a primeira é citada como provavelmente extinta na “Lista de Espécies da Flora
ameaçadas de extinção do Rio Grande do Sul (2002)”. Das dez espécies de Mikania
ocorrentes no Bioma Pampa, cinco constam na referida lista: M. anethifolia, M.
capricornii, M. pinnatiloba, M. variifolia e M.viminea.
A Tribo Gnaphalieae está representada por oito gêneros e 40 espécies (Tabela
1), todas nativas, muitos representantes são endêmicos, principalmente nos gêneros
Achyrocline e Gamochaeta. Não há referência sobre espécies ameaçadas, Deble
(2011) reconheceu três espécies de Achyrocline (A. anabelae, A. conduplicata e A.
marchiorii), cinco de Gamochaeta (G. argentina, G. camaquaënsis, G. difusa e G.
erecta), Micropsis ostenii e Pseudognaphalium leucopeplum em lista de espécies
presumivelmente ameaçadas ou com distribuição geográfica restrita no Bioma Pampa,
no entanto o autor não referiu categoria de ameaça para esses táxones.
A Tribo Gochnatieae apresenta um gênero, seis espécies e três variedades no
Bioma Pampa (Tabela 1). Todos os táxones são nativos, sendo Gochnatia mollissima,
G. orbiculata e G. ramboi endêmicas. Na “Lista de Espécies da Flora ameaçadas de
extinção do Rio Grande do Sul (2002)” são reconhecidos cinco táxones ameaçados,
além dos três anteriormente citados, a lista inclui G. cordata e G. sordida, esta última
na categoria de Presumivelmente extinta.
A Tribo Helenieae está representada por quatro gêneros e cinco espécies todas
nativas (Tabela 1). Não há informações sobre espécies ameaçadas.
A Tribo Heliantheae está representada por 35 espécies distribuídas em 10
gêneros (Tabela 1), com exceção de Sphagneticola trilobata e Xanthium strumarium
subsp. cavanillesii os demais táxones são nativos. Acmella pusilla, A. serratifolia e
Viguiera guaranitica são incluídas na “Lista de Espécies da Flora ameaçadas de
extinção do Rio Grande do Sul (2002)”. Deble (2011) reconheceu A. psilocarpa, e
Aspilia pascalioides como espécies de distribuição restrita.
58
A Tribo Hyalideae está representada por um gênero e espécie nativa (Tabela
12). Ianthopappus corymbosus é extremamente rara, com distribuição geográfica
reduzida ao nordeste da Argentina e extremo oeste do Rio Grande do Sul, sendo
considerada criticamente ameaçada, de acordo com a “Lista de Espécies da Flora
ameaçadas de extinção do Rio Grande do Sul (2002)”
A Tribo Millerieae apresenta quatro gêneros e cinco espécies (Tabela 1), com
exceção de Galinsoga parviflora as demais espécies são nativas. Smallanthus
connatus é incluído na “Lista de Espécies da Flora ameaçadas de extinção do Rio
Grande do Sul (2002)”.
A Tribo Mutisieae inclui três gêneros nativos, dezessete espécies e duas
variedades (Tabela 1). Chaptalia arechavaletae, Trichocline catharinensis var.
discolor, T. incana, T. macrocephala e T. maxima são citados como ameaçados na
“Lista de Espécies da Flora ameaçadas de extinção do Rio Grande do Sul (2002)”.
A Tribo Nassauvineae inclui seis gêneros, 20 espécies e duas subespécies
(Tabela 1). Holocheilus hieracioides, Panphalea araucariophila, P. bupleurifolia, P.
cardaminifolia, P. commersonii, P. maxima, P. missionum. Perezia multiflora ssp.
sonchifolia, P. squarrosa ssp. cubataënsis, Trixis pallida e T. thyrsoidea são incluídos
como táxones ameaçados na “Lista de Espécies da Flora ameaçadas de extinção do
Rio Grande do Sul (2002)”.
A Tribo Neurolaeneae possui dois gêneros e nove espécies nativas (Tabela 1).
Calea kristinae e C. clematidea são consideradas ameaçadas na “Lista de Espécies da
Flora ameaçadas de extinção do Rio Grande do Sul (2002)”.
A Tribo Plucheae inclui 16 espécies distribuídas em quatro gêneros todos
nativos (Tabela 1). Stenachaenium macrocephalum foi incluído como vulnerável na
“Lista de Espécies da Flora ameaçadas de extinção do Rio Grande do Sul (2002)”,
mas a validade deste binômio é controversa, motivo pelo qual não é incluído na
presente lista.
A Tribo Senecioneae está constituída por três gêneros e 22 espécies sendo 21
táxones nativos no Bioma Pampa (Tabela 1). Não há registro de espécies ameaçadas,
no entanto Deble (2011) reconheceu Senecio cisplatinus e S. riograndensis como
espécies com distribuição geográfica restrita. Senecio cisplatinus não foi incluído na
lista devido a dúvidas sobre a identidade deste táxon.
A Tribo Tageteae está representada por dois gêneros e seis espécies (Tabela
1), sendo cinco nativas. Tagetes ostenii possui populações reduzidas a campos
arenosos e dunas litorâneas do Rio Grande do Sul, sudeste de Santa Catarina e
Uruguai. Não há informações sobre espécies ameaçadas.
A Tribo Vernonieae está representada por 37 espécies distribuídas em nove
gêneros (Tabela 1), apresentando elevado número de entidades taxonômicas com
59
distribuição restrita. Apenas Lessingianthus constrictus (sob o nome de Vernonia
constricta), espécie endêmica do litoral norte, é citada na “Lista de Espécies da Flora
ameaçadas de extinção do Rio Grande do Sul (2002)”. Deble (2011) inclui três
espécies de Lessingianthus presumivelmente ameaçadas: L. laniferus, L. magnificus e
L. macrocephalus. Enquanto Deble & Matielo (2011) reconheceram L. alegretensis
como Em Perigo, de acordo com as categorias da IUCN.
CONCLUSÕES
No presente trabalho foram levantados 418 espécies, 3 subespécies e 14
variedades, distribuídas em 111 gêneros pertencentes a 20 tribos, sendo a maior parte
das espécies representadas em áreas abertas.
A tribo com maior número de gêneros no Bioma Pampa é Eupatorieae (18),
seguido de Astereae (15) e Heliantheae (11).
O gênero Baccharis (tribo Astereae) é o mais diversificado com 64 espécies
nativas, seguido de Senecio (19), Gamochaeta (18) Lessingianthus (13), Mikania (10),
Achyrocline (9), Hypochoeris (9), Chromolaena (9), Pteriocaulon (9), Viguiera (9),
Chaptalia (8), Panphalea (8), Noticastrum (8) e Vernonathura (8).
Foi constatado que 39 táxones nativos no Bioma Pampa são citados na “Lista de
Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção do Rio Grande do Sul (2002)”, além dessas
espécies quatro binomios foram reconhecidos como ameaçados de acordo com o
IUCN, totalizando 43 entidades taxonômicas o que representa cerca de 10% do total
de espécies de Asteraceae ocorrentes no Bioma Pampa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Levantamento florístico da família Asteraceae no litoral norte do Rio Grande do Sul, Brasil, e
distribuição ecológica. Pesquisas, 55: 153-162.
AZEVÊDO-GONÇALVES, C.E. & MATZENBACHER, N.I. 2007. O gênero Hypochaeris L.
(Asteraceae) no Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia, 62(1-2): 55-87.
BERETTA, M. E.; FERNANDES, A. C.; SCHNEIDER, A. A.; RITTER, M. R. 2008. A
família Asteraceae no Parque Estadual de Itapuã, Viamão, Rio Grande do Sul, Brasil. Revista
Brasileira de Biociências. Porto Alegre, v. 6 (3): 189-216.
BOLDRINI, I. I. 2009. A flora dos campos do Rio Grande do Sul. In: Campos sulinos,
conservação e uso sustentável da biodiversidade. Brasília, MMA, 403p.
CABRERA, A. L.. 1963. Flora de la Provincia de Buenos Aires. Compuestas. Buenos
Aires: I.N.T.A. pt. 6, p. 393-406. (Colleccion Científica del I.N.T.A., 4).
CABRERA, A. L. Compositae. In: Flora patagónica. In: Correa, M. N., Tomo 8. Parte 7.
Buenos Aires: Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria. 1971. 451p.
CABRERA, A. L. 1974. Compuestas. In: Burkart, A. Flora Ilustrada de Entre Ríos
(Argentina). Buenos Aires: I.N.T.A. pt. 6, p. 512-525. (Colleccion Científica del I.N.T.A., 6).
CABRERA, A. L. Compositae. In: Cabrera, A. L. (Org.). Flora de la Provincia de Jujuy.
Buenos Aires: INTA. Tomo x, parte x. 1978. 726p.
60
Tabela 1. Lista das Asteraceae ocorrentes no Bioma Pampa. O * indica espécies subespontâneas
TRIBO ANTHEMIDEAE Cass.
I – Anthemis L.
1. A. cotula L.*
2. A. mixta L.*
II – Cotula L.
1. C. australis (Sieb.) Hook. f.*
2. C. coronopifolia L.*
III – Chrysanthemum L.
1. C. myconis L.*
IV – Matricaria L.
1 – M. chamomilla L.*
V – Soliva Ruiz & Pav.
1. S. anthemifolia (Juss.) R. Br. ex Less.
2. S. macrocephala Cabrera
3. S. sessilis Ruiz & Pav.
TRIBO ASTEREAE Cass.
I – Apopyrus G. L. Nesom
1. A. corymbosus (Hook. & Arn.) G. L. Nesom
II – Asteropsis Less.
1. A. megapotamica (Less.) Marchesi, Bonif. & Sancho
III – Baccharis L.
1. B. albolanosa A. S. Oliveira & Deble
2. B. anomala DC.
3. B. arenaria Baker
4. B. articulata (Lam.) Pers.
5. B. brachystachys (Baker) Malag. & J. Vidal
6. B. brevifolia DC.
7. B. breviseta DC.
8. B. caprariifolia DC.
9. B. cognata DC.
10. B. conyzoides (Less.) DC.
11. B. coridifolia DC.
12. B. crispa Spreng. (= B. trimera (Less.) DC.)
13. B. cultrata Baker
14. B. deltoidea Baker
15. B. dentata (Vell.) G. M. Barroso
16. B. dracunculifolia DC.
17. B. flabellata Hook. & Arn.
18. B. genistifolia DC.
19. B. gibertii Baker
20. B. glutinosa Pers.
21. B. gnaphalioides Spreng.
22. B. helichrysoides DC.
23. B. hirta DC.
24. B. illinita DC.
25. B. incisa Hooker & Arnott var. dentata (DC.) Baker
26. B. inexspectata Deble & A. S. de Oliveira
27. B. junciformis DC. (= B. usterii Heering)
28. B. leptocephala DC.
29. B. leptophylla DC.
30. B. leucopappa DC.
31. B. linearifolia (Lam.) Pers.
32. B. longiatenuatta A. S. Oliveira
33. B. maritima Baker
34. B. medullosa DC.
35. B. megapotamica Spreng.
36. B. microcephala (Less.) DC.
37. B. microdonta DC.
38. B. multifolia A. S. Oliveira, Deble & Marchiori
39. B. myriocephala DC.
40. B. notosergila Griseb.
41. B. ochracea Spreng.
42. B. oxyodonta DC.
43. B. pampeana A. S. Oliveira, Deble & Marchiori
44. B. patens Baker
45. B. pedersenii Cabrera
46. B. penningtoni Heering
47. B. pentaptera DC.
48. B. pentodonta Malme
49. B. phylicifolia DC.
50. B. phyteumoides (Less.) DC.
51. B. pluricapitulata Deble & Oliveira-Deble
52. B. punctulata DC.
53. B. riograndensis Malag. & J. E. Vidal
54. B. sagittalis (Less.) DC.
55. B. semisserata DC.
56. B. sessiliflora Vahl
57. B. singularis (Vell.) G. M. Barroso
58. B. spicata (Lam.) Baill.
59. B. subopposita DC.
60. B. tenuiptera Deble
61. B. tridentata Vahl
62. B. vincifolia Baker
63. B. vulneraria Baker
64. B. weirii Baker
IV – Conyza Less.
1. C. bonariensis (L.) Cronquist var. bonariensis
2. C. glandulitecta Cabrera
3. C. pampeana (Parodi) Cabrera
4. C. primulifolia (Lam.) Cuatrec. & Lourteig
5. C. serrana Cabrera
6. C. sumatrensis (Retz.) E. Walker var. sumatrensis*
V – Grindelia Willd.
1. G. atlantica Deble & A. S. Oliveira
2. G. buphthalmoides DC.
3. G. gaucha Deble & A. S. Oliveira
4. G. puberula Hook. & Arn.
5. G. pulchella Dunal var. pulchella
5b. G. pulchella Dunal var. discoidea Bart. & Tortosa
6. G. scorzonerifolia Hook. & Arn.
VI – Heterothalamus. Less.
1. H. alienus (Spreng.) Kuntze
2. H. psiadioides Less.
3. H. rupestris Deble, A. S. Oliveira & Marchiori
VII – Hysterionica. Willd.
1. H. filiformis (Spreng.) Nees
2. H. nidorelloides DC. (= H. montevidensis Baker)
3. H. pinifolia (Poir.) G. L. Nesom
VIII – Leptostelma D. Don
1. L. tweediei (Hook. & Arn.) D. J. Hind & G. L. Nesom
IX – Microgyne Less.
1. M. trifurcata Less.
61
X – Noticastrum DC.
1. N. acuminatum (DC.) Cuatrec.
2. N. calvatum (Baker) Cuatrec.
3. N. chebataroffii (Herter) Zardini
4. N. diffusum (Pers.) Cabrera
5. N. gnaphalioides (Baker) Cuatrec.
6. N. hatschbachii Zardini
7. N. malmei Zardini
8. N. psammophilum (Klatt) Zardini
XI – Podocoma Cass.
1. P. hirsuta (Hook. & Arn.) Baker
2. P. hieracifolia (Poir.) Cass.
3. P. spegazzini Cabrera
XII – Exostigma Sancho
1. E. notobellidastrum (Griseb) Sancho
2. E. rivularis (Gardner) Sancho
XIII – Solidago L.
1. S. chilensis Meyen var. chilensis
1b. S. chilensis Meyen var. megapotamica (DC.) Cabrera
XIV – Sommerfeltia Less.
1. S. spinulosa (Spreng.) Less.
XV – Symphyotrichum Nees
1. S. graminifolium (Spreng.) G. L. Nesom
2. S. laeve (L.) A. Löve & D. Löve*
3. S. squamatum (Spreng.) G. L. Nesom
TRIBO BARNADESIEAE (Benth.) Bremer & Jansen
I – Dasyphyllum Kunth
1. D. brasiliense (Spreng.) Cabrera var. brasiliense
2. D. spinescens (Less.) Cabrera
II – Schlechtendalia Less.
1. S. luzulifolia Less.
TRIBO CARDUEAE Cass.
I – Arctium L.
1. A. minus (Hill.) Bernh.*
II – Cirsium Mill.
1. C. vulgare (Savi) Ten.*
III – Centaurea L.
1. C. calcitrapa L.*
2. C. tweediei Hook. & Arn.
TRIBO CICHORIEAE Lam. & DC.
I – Hedypnois Schreb.
1. H. cretica (L.) Willd.*
II – Hieracium L.
1. H. commersonii Monnier var. commersonii
1b. H. commersonii var. megapotamicum Malme
III – Hypochaeris L.
1. H. albiflora (Kuntze) Azevedo-Gonç. & Matzenb.
2. H. chillensis (Kunth) Britton
3. H. glabra L.*
4. H. lutea (Vell.) Britton
5. H. megapotamica Cabrera
6. H. neopinnatifida Azevedo-Gonç. & Matzenb.
7 . Hipochaeris radicata L.*
8. H. tropicalis Cabrera
9. H. variegata (Lam.) Baker
IV – Lactuca L.
1. L. serriola L.*
V – Picrosia Don
1. P. cabreriana A. G. Schulz
2. P. longifolia D. Don
VI – Sonchus L.
1. S. oleraceus L.*
2. S. asper (L.) Hill.*
VII – Taraxacum Hall.
1. T. officinale Weber*
TRIBO COREOPSIDEAE B.L.Turner & A.M.Powell
I – Bidens L.
1. B. alba (L.) DC. var. radiata (Sch.-Bip.) R. E.
Ballard*
2. B. bipinnata L.*
3. B. laevis (L.) Britton, Sterns & Poggenb.*
4. B. pilosa L.
5. B. subalternans DC.
II – Coreopsis L.
1. C. lanceolata L.*
III – Cosmos Cav.
1. C. sulphureus Cav.*
IV – Isostigma Less.
1. I. crithmifolium Less.
2. I. peucedanifolium (Spreng.) Less.
TRIBO EUPATORIEAE Cass.
I – Acanthostyles R. M. King & H. Rob.
1. A. buniifolius (Hook. & Arn.) R. M. King & H. Rob.
II – Adenostemma J. R. Forst & G. Forst
1. A. brasilianum (Pers.) Cass.
III – Ageratum L.
1. A. conyzoides L.
IV. Austrobrickellia R. M. King & H. Rob.
1. A. bakeriana (B. L. Rob.) R. M. King & H. Rob.
2. A. patens (D. Don) R. M. King & H. Rob.
V- Austroeupatorium R. M. King & H. Rob.
1. A. inulifolium (Kunth) R. M. King & H. Rob.
2. A. laetevirens (Hook. & Arn.) R. M. King & H. Rob.
3. A. rosmarinaceum (Cabrera & Vittet) R. M. King &
H. Rob.
VI – Campovassouria R. M. King & H. Rob.
1. C. cruciata (Vell.) R. M. King & H. Rob.
VII – Campuloclinium DC.
1. C. macrocephalum DC.
VIII – Chromolaena DC.
1. C. angusticeps (Malme) R. M. King & H. Rob.
2. C. ascendens (Sch-Bip. ex Baker) King & Rob.
3. C. ivaefolia (L.) R. M. King & H. Rob.
4. C. laevigata (Lam.) R. M. King & H. Rob.
5. C. odorata (L.) R. M. King & H. Rob.
6. C. pedunculosa (Hook. & Arn.) R. M. King & H. Rob.
7. C. squalida (DC.) R. M. King & H. Rob.
8. C. squarrulosa (Hook. & Arn.) R. M. King & H. Rob.
9. C. verbenacea (DC.) R. M. King & H. Rob.
IX – Dysinaphia Hook. & Arn. ex DC.
1. D. calyculata (Hook. & Arn.) R. M. King & H. Rob.
2. D. ericoides (DC.) R. M. King & H. Rob.
3. D. ligulifolia (Hook. & Arn.) R. M. King & H. Rob.
4. D. calyculata (Cabrera.) R. M. King & H. Rob.
62
5. D. spathulata (Hook. & Arn.) R. M. King & H. Rob.
X – Grazielia R. M. King & H. Rob.
1. G. intermedia (DC.) R. M. King & H. Rob.
2. G. serrata (Spreng.) R. M. King & H. Rob.
XI – Gymnocoronis DC.
1. G. spilanthoides DC.
XII – Hatschbachiella R. M. King & H. Rob.
1. H. tweedieana (Hook. & Arn.) R. M. King & H. Rob.
XIII – Mikania Willd.
1. M. anethifolia (DC.) Matzenb.
2. M. capricorni B. L. Rob.
3. M. fulva Baker
4. M. micrantha Kunth
5. M. periplocifolia Hook. & Arn.
6. M. pinnatiloba DC.
7. M. thapsoides DC.
8. M. trachypleura B. L. Rob.
9. M. variifolia Hieron.
10. M. viminea DC.
XIV – Praxelis Cass.
1. P. kleinioides (Kunth) Sch.-Bip.
2. P. missiona (Malme) R. M. King & H. Rob.
3. P. sanctopaulensis (B. L. Rob.) R. M. King & H. Rob.
XV – Raldkoferotoma Kuntze
1. R. berroi (Hutch.) R. M. King & H. Rob.
2. R. cistifolia (Less.) R. M. King & H. Rob.
3. R. ramboi (Cabrera) R. M. King & H. Rob.
XVI– Stevia Cav.
1. S. cruziana Malme
2. S. saturejifolia (Lam.) Sch.-Bip. ex Klotzch
3. S. selloi (Spreng.) B. L. Rob.
XVII – Stomatanthes R. M. King & H. Rob.
1. S. oblongifolius (Spreng.) H. Rob.
XVIII – Symphyopappus Turcz.
1. S. casarettoi B. L. Rob.
2. S. reticulatus Baker
TRIBO GNAPHALIEAE Cass. ex Lecoq & Juill.
I – Achyrocline (Less.) DC.
1. A. alata (Kunth) DC.
2. A. anabelae Deble
3. A. conduplicata Deble (inéd.)
4. A. crassiuscula (Malme) Deble & Marchiori
5. A. flaccida (Weinm.) Dc. (= A. citrina griseb.)
6. A. luisiana Deble
7. A. marchiorii Deble
8. A. mathiolaefolia DC.
9. A. satureioides (Lam.) DC.
II – Berroa Beauverd
1. B. gnaphalioides (Less.) Beauverd
III – Chevreulia Less.
1. C. acuminata Less.
2. C. sarmentosa (Pers) S. F. Blake
IV – Facelis (Lam.) Sch.-Bip.
1. F. retusa (Lam.) Sch.-Bip.
V – Gamochaeta Weddel
1. G. americana (Mill.) Weddel
2. G. antillana (Urb.) A. Anderb.
3. G. argentina Cabrera
4. G. calviceps (Fernald) Cabrera
5. G. camaquaënsis Deble
6. G. coarctata (Willd.) Kerg.
7. G. diffusa Deble & Marchiori
8. G. erecta Deble
9. G. falcata (Lam.) Cabrera
10. G. filaginea (DC.) Cabrera
11. G. girardiana Deble & A. S. Oliveira
12. G. pensylvanica (Willd.) Cabrera
13. G. platensis (Cabrera) Cabrera
14. G. simplicicaulis (Willd. ex Spreng.) Cabrera
15. G. sphacelata (Kunth) Cabrera
16. G. stachydifolia (Lam.) Cabrera
17. G. subfalcata (Cabrera) Cabrera
VI – Lucilia Cass.
1. L. acutifolia (Poir.) Cass.
2. L. nitens Less.
VII – Micropsis DC.
1. M. dasycarpa (Griseb.) Beauverd
2. M. ostenii Beauverd
3. M. spathulata (Pers.) Cabrera
VIII – Pseudognaphalium Kirp.
1. P. cheiranthifolium (Lam.) Hilliard & B. L. Burtt
2. P. gaudichaudianum (DC.) A. Anderb.
3. P. leucopeplum (Cabrera) A. Anderb.
4. P. luteo-album (L.) Hilliard & B. L. Burtt
5. P. mendocinum (Phil.) Deble & Marchiori
TRIBO GOCHNATIEAE Panero & V.A. Funk
I. Gochnatia Kunth
1. G. cordata Less. var. cordata
2. G. mollisima (Malme) Cabrera
3. G. orbiculata (Malme) Cabrera
4. G. polymorpha (Less.) Cabrera var. polymorpha
5. G. ramboi Cabrera
6. G. sordida (Less.) Cabrera
TRIBO HELENIEAE Benth. & Hook.
I – Flaveria Juss.
1. F. bidentis (L.) Kuntze
II – Gailardia Foug.
1. G. megapotamica (Spreng.) Baker var. megapotamica
III – Helenium L.
1. H. alternifolium (Spreng.) Cabrera
IV – Hymenoxys Cass.
1. H. anthemoides (Juss.) Cass.
2. H. tweediei Hook. & Arn.
TRIBO HELIANTHEAE Cass.
I – Acmella Rich
1. A. bellidioides (Sm.) R. K. Jansen
2. A. decumbens (Sm.) R. K. Jansen
3. A. leptophylla (DC.) R. K. Jansen
4. A. psilocarpa R. K. Jansen
5. A. pusilla (Hook. & Arn.) R. K. Jansen
6. A. serratifolia R. K. Jansen
II – Ambrosia L.
1. A. elatior L.
2. A. polystachya DC.
3. A. scabra Hook. & Arn.
4. A. tenuifolia Spreng.
63
III – Aspilia Thouars
1. A. foliacea (Spreng.) Baker
2. A. montevidensis (Spreng.) Kuntze
3. A. pascalioides Griseb.
IV – Calyptocarpus Less.
1. C. biaristatus (DC.) H. Rob.
V – Dimerostemma Cass. (= Angelphytum G. M.
Barroso)
1. D. arnottii (Baker) M. D. Moraes
2. D. grisebachii (Baker) M. D. Moraes
3. D. oppositifolium (A. A. Sáenz) M. D. Moraes
4. D. tenuifolium (Hassl.) M. D. Moraes
VI – Eclipta L.
1. E. elliptica DC.
2. E. megapotamica (Spreng.) Sch.-Bip ex S. F. Blake
3. E. prostrata (L.) L.
VII – Melanthera Rohr
1. M. latifolia (Gardner) Cabrera
VIII – Sphagneticola O. Hoffm.
1. S. trilobata (L.) Pruski*
IX – Verbesina L.
1. V. glabrata Hook. & Arn.
2. V. sordescens DC.
X – Viguiera Kunth
1. V. anchusiifolia (DC.) Baker
2. V. guaranitica Chodat
3. V. immarginata (DC.) Herter
4. V. knobiana Mondin & M. Magenta
5. V. megapotamica Malme
6. V. meridionalis M. Magenta
7. V. nudicaulis (Pers.) Baker
9. V. tuberosa Griseb.
XI – Xanthium L.
1. X. spinosum L.
2. X. strumarium ssp. cavanillesii (Schouw) D. Löve &
Dans*
TRIBO HYALIDAE Panero
I. Ianthopappus Roque & D. J. N. Hind
1. I. corymbosus (Less.) Roque & D. J. N. Hind
TRIBO MILLERIEAE
I – Acanthospermum Schrank
1. A. australe (Loefl.) Kuntze
2. A. hispidum DC.
1. G. parviflora Cav.*
III – Jaegeria Kunth
1. J. hirta (Lag.) Less
IV – Smallanthus Mack.
1. S. connatus (Spreng.) H. Rob
MUTISIEAE Cass.
I – Chaptalia Vent.
1. C. arechavaletae Hieron. ex Arechav.
2. C. exscapa (Pers.) Baker
3. C. integerrima (Vell.) Burkart
4. C. mandonii (Sch.-Bip.) Burkart
5. C. nutans (L.) Polakowsky
6. C. piloselloides (Vahl) Baker
7. C. runcinata Humb., Bonpl. & Kunth
8. C. sinuata (Les.) Baker
III – Mutisia L.F.
1. M. campanulata Less.
2. M. coccinea var. dealbata (Less.) Cabrera
3. M. speciosa Ait. ex Hook.
III – Trichocline Cass.
1 T. catharinensis Cabrera var. discolor Cabrera
2. T. cisplatina E. Pasini & M. R. Ritter
3. T. humilis Less.
4. T. incana Cass.
5. T. macrocephala Less.
6. T. maxima Less.
TRIBO NASSAUVIEAE Less.
I – Criscia Katinas
1. C. stricta (Less.) Katinas
II – Holocheilus Cass.
1. H. brasiliensis (L.) Cabrera
2. H. hieracioides (D. Don) Cabrera
3. H. illustris (Vell.) Cabrera
III – Jungia L.f.
1. J. floribunda Less.
2. J. sellowii Less.
IV – Panphalea Lag.
1. P. araucariophila Cabrera
2. P. bupleurifolia Less.
3. P. cardaminifolia Less.
4. P. commersonii Cass.
5. P. heterophylla Less.
6. P. maxima Less.
7. P. missionum Cabrera
V – Perezia Lag.
1. P. multiflora (Humb. & Bonpl.) Less. ssp. sonchifolia
(Baker) Vuilleum
2. P. squarrosa (Vahl) Less. ssp. cubataënsis (Less.) B.
B. Simpson
VI – Trixis P. Browne
1. T. lessingii DC.
2. T. nobilis (Vell.) Katinas
3. T. pallida Less.
4. T. praestans (Vell.) Cabrera
5. T. thyrsoidea Dusén ex Malme
TRIBO NEUROLAENEAE Rydb.
I – Calea L.
1. C. clematidea Baker
2. C. cymosa Less.
3. C. kristiniae Pruski
4. C. phyllolepis Baker
5. C. paraguayensis (Kuntze) Deble
6. C. pinnatifida (R. Br.) Less.
7. C. uniflora Less.
II – Enydra Lour.
1. E. anagallis Gardner
2. E. sessilis (Sw.) DC.
TRIBO PLUCHEAE Anderb.
I – Pluchea Cassini
1. P. laxiflora Hook. & Arn.
2. P. oblongifolia DC. (= P. organensis Gardner)
64
3. P. sagittalis (Lam.) Cabrera
II – Pterocaulon Elliott
1. P. alopecurioides (Lam.) DC.
2. P. angustifolium DC.
3. P. balansae Chodat
4. P. cordobense Kuntze
5. P. lorentzii Malme
6. P. polypterum (DC.) Cabrera
7. P. polystachyum DC.
8. P. rugosum (Vahl) Malme
9. P. virgatum (L.) DC.
III – Stenachaenium Benth.
1. S. campestre Baker
2. S. megapotamicum (Spreng.) Baker var.
megapotamicum
3. S. riedelii Baker
IV – Tessaria Ruiz & Pav.
1. T. abisinthioides Ruiz & Pav.
TRIBO SENECIONEAE
I – Erechtites Raf.
1. E. hieracifolius (L.) Raf. ex DC.
2. E. valerianifolius (Wolf) DC.
II – Pseudogynoxys (Grenm.) Cabrera
1. P. chenopodioides (Kunth) Cabrera
III – Senecio L.
1. S. brasiliensis (Spreng.) Less. var. brasiliensis
2. S. brasiliensis (Spreng.) Less. var. tripartitus (DC.)
Baker
3. S. conyzifolius Baker
4. S. crassiflorus (Poir.) DC. var. crassiflorus
4. S. crassiflorus (Poir.) DC. var. subceratophyllus Cabr.
5. S. glandulifer Dematt. & Cristóbal
6. S. heterotrichus DC.
7. S. icoglossus DC. var. Icoglossus
7b. S. icoglossus DC. var. splendens
8. S. leptolobus DC.
9. S. madagascariensis Poir.*
10. S. montevidensis (Spreng.) Baker
11. S. paulensis Bong.
12. S. pinnatus Poir.
13. S. platensis Arechav.
14. S. riograndensis Matzenb.
15. S. selloi (Spreng.) DC.
16. S. subarnicoides Cabrera
17. S. trichochocaulon Baker
18. S. tweediei Hook. & Arn.
19. S. viravira Hieron.
TRIBO TAGETEAE Cass.
I – Porophyllum Vaill.
1. P. lanceolatum DC.
2. P. linifolium (Arduino) DC.
3. P. obscurum (Spreng.) DC.
4. P. ruderale (Jacq.) Cass.
II – Tagetes L.
1. T. minuta L.
2. T. ostenii Hicken
TRIBO VERNONIEAE Cass.
I – Centratherum Cass.
1. C. camporum (Hassl.) Malme
1. C. camporum (Hassl.) Malme
2. C. punctatum Cass.
II – Chrysolaena H. Rob.
1. C. cognata (Less.) Dematt.
2. C. flexuosa (Sims) H. Rob.
3. C. lithospermifolia (Hieron.) H. Rob
4. C. platensis (Spreng.) H. Rob.
5. C. propinqua (Hieron.) H. Rob. var. propinqua
5b. C. propinqua (Hieron.) H. Rob. var canescens
(Chodat) Dematt.
6. C. verbascifolia (Less.) H. Rob.
III – Elephantopus L.
1. E. mollis Kunth
IV – Lepidaploa (Cass.) H. Rob.
1. L. balansae (Chodat) H. Rob.
2. L. pseudomuricata H. Rob.
3. L. remotiflora (Less.) H. Rob.
V – Lessingianthus H. Rob
1. L. alegretensis Deble & R. Matielo
2. L. brevifolius (Less.) H. Rob.
3. L. constrictus (Matzenb. & Mafioleti) Dematt.
4. L. glabratus (Less.) H. Rob.
5. L. hypochaeris (DC.) H. Rob.
6. L. intermedius (DC.) Dematt.
7. L. laniferus (Cristóbal & Dematt.) Angulo
8. L. macrocephalus (Less.) H. Rob.
9. L. magnificus Deble, Dematt. & Marchiori
10. L. niederleinii (Hieron.) H. Rob.
11. L. plantaginoides (Kuntze) H. Rob.
12. L. rubricaulis (Humb. & Bonpl.) H. Rob.
13. L. sellowii (Less.) H. Rob.
VI – Orthopappus Gleason
1. O. angustifolius (Sw.) Gleason
VII – Stenocephalum Sch.- Bip.
1. S. megapotamicum (Spreng.) Sch.-Bip.
VIII – Vernonanthura H. Rob.
1. V. chamaedrys (Less.) H. Rob
2. V. discolor (Spreng.) H. Rob
3. V. divaricata (Spreng..) H. Rob
4. V. lucida(Less.) H. Rob
5. V. montevidensis (Spreng.) H. Rob
6. V. nudiflora (Less.) H. Rob f. nudiflora
6a. V. nudiflora (Less.) H. Rob. f. albiflora Deble
7. V. tweediana (Baker) H. Rob
8. V. westiniana (Less.) H. Rob
IX – Vernonia Schreb.
1. V. echioides Less.
2. V. incana Less.
65
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67
CYPELLA DISCOLOR RAVENNA
(IRIDACEAE: TIGRIDIEAE) É
REDESCOBERTA NOS CAMPOS DO OESTE
E SUDOESTE DO RIO GRANDE DO SUL
Leonardo Paz Deble1
Anabela Silveira de Oliveira Deble2
Fabiano da Silva Alves3
1
Biólogo, Dr. Prof. Adjunto, Curso de Licenciatura em Ciências da Natureza da Universidade Federal do
2
Pampa – Dom Pedrito/RS. [email protected]; Bióloga, Dra. Prof. Curso Superior Tecnólogo em
Gestão Ambiental da Universidade da Região da Campanha – Dom Pedrito/RS; 3Biólogo, Dr. Prof. Curso
de Ciências Biológicas da Universidade da Região da Campanha – Alegrete/RS.
Cypella é um gênero com cerca de 25 espécies, das
quais 13 crescem no Brasil, e oito são representadas no
Rio Grande do Sul. Pertencente à seção Nais, Cypella
discolor é espécie com escassas informações no tocante
a sua ecologia, distribuição geográfica e conservação.
Até o presente momento, os dados apresentados neste
trabalho eram desconhecidos, pois o táxon era
reportado apenas pelo material típico, coletado por
Ravenna na localidade do Passo da Guarda, centroleste do município de Quaraí, no ano de 1967.
68
INTRODUÇÃO
Cypella Herb. (Iridaceae: Tigridieae) inclui cerca de 25 espécies,
principalmente representadas em áreas abertas na América do Sul temperada
(Goldblatt & Manning, 2008: 239, Ravenna, 2009). No Brasil são aceitas 13 espécies
e duas subespécies, oito das quais crescem no Rio Grande do Sul (Eggers, 2012).
Ravenna (1981a: 489) propôs a segregação de Cypella em duas seções: Cypella
e Nais Ravenna. De acordo com o autor, Cypella sect. Nais pode ser separada de C.
sect. Cypella pelo perigônio marcadamente urceolado, portando pétalas internas eretoarqueadas, longamente unguiculadas em direção à base.
Roitman & Castillo (2007: 238) e Goldblatt & Manning (2008: 238) trataram
Cypella em sentido amplo, propondo a inclusão dos gêneros Kelissa Ravenna, Onira
Ravenna e Phalocallis Herb. como seus sinônimos nomenclaturais. O Conceito amplo
de Cypella não tem sido aceito em trabalhos recentes, tendo em vista a relevância das
características morfológicas que separam esses gêneros (Ravenna 2009, Eggers 2012).
Cypella discolor foi descrita por Ravenna (1981b: 16) tendo por base material
coletado em dezembro de 1967 na localidade do Passo da Guarda, centro-leste do
município de Quaraí, no estado do Rio Grande do Sul. O material coletado foi
cultivado em Buenos Aires, sendo feitas fotos e exsicata para a descrição original
(Ravenna, 1981b: 14-17). No protólogo de Cypella discolor, Ravenna (1981b: 17)
mencionou que dentro do grupo de espécies com uma flor por espata, Cypella discolor
é facilmente distinta, e suas flores brancas e púrpuras parecem não demonstrar relação
com outro táxon. O autor relata que Cypella osteniana Beauv., que igualmente possui
flores brancas, pertence a seção Cypella e não demonstra relação com Cypella
discolor.
Aparentemente rara, não são mencionadas outras coletas da espécie na obra
príncipes e nem em trabalhos posteriores. No “Catálogo de las Plantas Vasculares del
Cono Sur” (Roitman, Maza & Castillo, 2008) e na “Lista de espécies da Flora do
Brasil” (Eggers 2012) a espécie é citada como válida, mas o único voucher referido
em ambos os trabalhos é o holótipo (Ravenna 507).
Foi verificado que não existem coleções de Cypella discolor nos principais
herbários do Rio Grande do Sul, assim como no CTES, FLOR, HBR, MVM e SI, e,
tendo por base o acervo destes herbários, foi possível constatar que a espécie não é
coletada desde o material tipo colecionado há mais de 40 anos. Excursões a campo
visando à busca da espécie foram realizadas na localidade típica e em outras áreas
adjacentes. A espécie foi novamente encontrada, sendo adicionados dados ecológicos,
de conservação e ilustração do táxon.
69
MATERIAL E MÉTODOS
Foram realizadas excursões de coleta em todas as regiões fisiográficas do Rio
Grande do Sul (Fortes 1959). Os indivíduos coletados foram georeferenciados,
fotografados e identificados através de consulta bibliográfica e consulta a tipos
depositados em herbários nacionais e internacionais. As coletas foram depositadas no
Herbário da Unipampa, Campus Dom Pedrito, para fins de registro, no caso de
duplicatas foram enviadas a outras instituições. Para a realização deste estudo foram
analisadas exsicatas dos seguintes herbários: CTES, HAS, HBR, FLOR, ICN, PACA e
SI (Thiers, 2011). Na descrição morfológica foram utilizadas as terminologias
adotadas por Ravenna (1981a, 1981b), Goldblatt & Manning (2008) e Chukr &
Capellari Jr. (2003).
Para a ilustração da espécie utilizou-se lupa binocular QUIMIS 766 com
câmara clara acoplada, além do auxílio de material vivo, cultivado a partir de bulbos
coletados na localidade do Passo da Guarda (Quaraí).
Durante as investigações de campo, realizadas na região oeste e sudoeste do
Rio Grande do Sul, foram encontrados exemplares de Cypella discolor em cinco
locais distintos. Em todos os locais de ocorrência da espécie foram registradas as
coordenadas geográficas, com uso de aparelho GPS (Sistema de Posicionamento
Global), Garmim eTrex 30, precisão métrica de três metros.
Em laboratório, utilizando-se do Software GPS TrackMaker Professional,
GTM PRO, versão 4.8 (desenvolvido por Odilon Ferreira Júnior), todas as
coordenadas registradas em campo foram lançadas em uma base cartográfica regional,
previamente selecionada e determinada a partir da Base Cartográfica Vetorial
Contínua do Rio Grande do Sul (HASENACK & WEBER, 2010).
A partir da compilação destes dados com as informações levantadas em
campo, elaborou-se o mapa da área de ocorrência da espécie em questão. Por fim, este
mapa, gerado em arquivo formato GTM (GPS Track Maker) foi transformado em
arquivo formato Autocad DXF – Drawing Exchange Format/Drawing Interchange
Format (desenvolvido pela Autodesk Inc.) e transferido ao software Corel DRAW X5
(desenvolvido pela Corel Corporation, 2010), para a edição gráfica final.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Descrição botânica
Cypella discolor Ravenna, Wrightia 7 (1): 16. 1981. Tipo: Culta in Bonaria ex Bulbis
ad Passo da Guarda civit. Rio Grande do Sul Brasiliae collectis, Ravenna 507, XII1967 (Tipo: Herb. Ravenna). Figuras 1 e 2.
Planta com 15-25 cm de altura, caule subterrâneo com até 10 cm de
comprimento. Bulbo ovóide, irregularmente comprimido ou comprimido, catáfilos
70
enegrecidos, 20–30 mm de diâmetro, prolongado em um colar curto. Folhas na antese
2–4, plicadas, estreitamente lineares ou lineares, com 15–25 cm × 0.3–0.6 cm. Espatas
2–4, esverdeadas ou pálido-esverdeadas, 2-valvadas, pedunculadas, contendo uma
flor; espatas externas com 1.3–1.5 cm de comprimento; as internas com 2.2–2.7 cm de
comprimento, ambas membranáceas e pálidas nas extremidades; pedicelo filiforme, de
até 2 cm de comprimento. Flores brancas, com 3.2–4 cm de diâmetro, radialmente
simétricas, urceoladas, providas de pontos púrpuros na metade proximal. Série de
pétalas dissimilar. Pétalas externas obovadas, com 24–27 mm × 12–14 mm, provida
de pontos e máculas púrpuras na metade proximal e com nervuras escuras, base
côncava por cerca de 10 mm. Pétalas internas arqueado-recurvadas, unguiculadas na
base, de 17–18 mm × 8–8.5 mm, com pontos e máculas púrpuras na base e portando
mácula amarela e estrias púrpuras no ápice; unguículo com até 10 mm × 2 mm.
Estames com filamentos branco-creme, com manchas púrpuras, filiformes, de 5.2–5.8
mm, dilatados em direção à base; anteras oblongas, dilatadas em direção à base, de 5–
6 mm × 1.8–2 mm, conectivo rosado, lóculos enegrecidos; pólen verde-escuro. Ovário
esverdeado, 4.5–5 mm × 2.5 mm. Estilete de 4–4.5 mm, provido de ramas brancocreme, oblíquas, eretas de 3–3.4 mm. Cristas três, branco-creme a purpúreas; as
adaxiais elíptico-lanceoladas, de 2.5–3.3 mm, e a abaxial triangular, de 1–1.5 mm.
Cápsula obovada, 8–9 mm × 4–5 mm. Sementes levemente comprimidas, angulosas,
rugosas, de 2.2–2.4 mm × 1.8–2.2 mm.
Distribuição & habitat
Cypella discolor é endêmica no oeste e sudoeste do Rio Grande do Sul, onde
cresce em campos rupestres nos municípios de Alegrete, Quaraí e Santana do
Livramento (Figura 3). Os bulbos frequentemente apresentam-se com forma irregular,
pois crescem em fendas de rocha, e devido a esse fato, o seu formato é moldado com a
forma do espaço resultante para o seu desenvolvimento.
Fenologia
A espécie floresce e frutifica entre os meses de outubro e março, suas flores
abrem-se no início da manhã e fecham-se no início da tarde. O material cultivado
Deble 12901 floresceu intensamente durante a primavera-verão de 2011 e 2012, no
entanto sem produzir frutos, o que sugere a necessidade de polinizador específico.
Conservação
Os indivíduos foram encontrados apenas em locais bem preservados, entre
rochas, em ambientes especializados, em extensão geográfica estimada em cerca de
3000 km2 (Figura 3). As populações contêm poucos indivíduos e a área de ocupação é
inferior a 500 km2. A agricultura e a pecuária afetam diretamente a área de ocorrência
do táxon, sendo esta espécie considerada Em Perigo (EN), de acordo com os critérios
B1, B2a, b(iii) e D, da IUCN (2010).
71
Figura 1. Cypella discolor. A. Planta. B. Ramo florido. C. Flor. D. Flor com o perigônio
removido. E. Pétalas internas. F. Cápsula. G. Semente. H. Folha.
72
Figura 2. Quatro aspectos de Cypella discolor, A-B de Deble & Oliveira-Deble 12998. C-D de
Deble & Oliveira-Deble 12901.
73
Comentários
Cypella discolor é morfologicamente similar a C. pusilla (Link & Otto) Benth.
& Hook. f. ex B. D. Jacks., da qual difere pelas flores com perigônio branco (vs.
amarelo-limão), e pelas pétalas internas com sua parte recurvada estreita, acuminada,
com 2-3 mm de largura (vs. parte recurvada larga, obtusa ou levemente aguda, com 56 mm de largura). De Cypella laeta Ravenna facilmente separa-se pelas espatas
contendo uma flor (vs. duas) e pelo perigônio branco (vs. perigônio amarelo).
Material examinado
Alegrete, na encosta sudoeste do Cerro do Catimbau, [29° 57' 21,83''S 55° 39'
57,84''W], acesso pela estrada municipal do Catimbau – ALE 012 (continuação da
rodovia estadual - RS 806), 12-XI-2011, L. P. Deble & A. S. de Oliveira-Deble 13044.
Quaraí, na localidade do Passo da Guarda, em campo rupestre, [30°18’21.22”S
55°58’03.58”W], 16-XI-2010, L. P. Deble & A. S. Oliveira- Deble 12901; entre o
arroio Areal e o rio Cati, cerca de, 18 km a sudeste da cidade de Quaraí,
[30°29’04.72”S 56°16’57.69”W], em afloramento rochoso e no campo, rara, flores
brancas, pétalas internas com faixas vináceas e amarelas, 5-III-2011, L. P. Deble & A.
S. Oliveira-Deble 12966; em campo pedregoso, a noroeste da cidade de Quaraí,
aproximadamente 7 km de distância, próximo à rodovia estadual - RS 377, [30° 17”
44,05”S 56° 29’ 18,21”W], fl. brancas, pétalas com manchas vináceas e amarelas, 16XI-2010, L. P. Deble & A. S. Oliveira-Deble 12942 (MBM). Santana do
Livramento, no campo rochoso, entre os arroios Sarandi e Mata-Olho, próximo a
rodovia federal - BR 293, [30°34’41.31”S 56°02’25.28”W], 16-XI-2010, L. P. Deble
& A. S. Oliveira-Deble 12998.
CONCLUSÕES
Não mais registrada na natureza desde a coletada de seu material tipo, há mais
de 40 anos, Cypella discolor Ravenna é então redescoberta a partir da coleta e análise
de material vegetativo e reprodutivo, recentemente encontrados em área estimada de
3000 km2, entre os municípios de Quaraí, Alegrete e Santana do Livramento. Tendo
por base estes registros atuais, as bibliografias específicas e as exsicatas contidas em
herbários, é possível afirmar que a espécie, além de extremamente rara, é endêmica no
oeste e sudoeste do Estado do Rio Grande do Sul, onde ocorre, de forma restrita, em
campos rupestres.
O status de conservação desta espécie é reconhecido como “Em Perigo”, sendo
a primeira espécie do gênero Cypella a ser considerada exclusiva do Rio Grande do
Sul e ter seu status de conservação avaliado. Cypella discolor foi tratada com o status
de endemismo desconhecido na “Lista de espécies da Flora do Brasil” (EGGERS,
2012). Nesta lista são relacionadas duas espécies endêmicas: Cypella pabstiana
74
Ravenna e Cypella catharinensis Ravenna, a primeira restrita ao Paraná, e a segunda
com distribuição geográfica reduzida a Santa Catarina. Com os dados obtidos neste
estudo elevam-se para três as espécies de Cypella endêmicas do Brasil.
Figura 3. Mapa de Distribuição geográfica de Cypella discolor.
75
Ao mesmo tempo em que o presente trabalho registra a ainda existência na flora
nativa regional de Cypella discolor, também alerta sobre a sua fragilidade de
conservação “in natura" devido, principalmente, à escassez de populações da espécie,
o habitat especializado e à intensa ação antrópica exercida sobre as populações
conhecidas e atualmente descritas. Diante disto, acredita-se que seja necessária a
adoção de medidas prioritárias que impeçam a extinção definitiva de Cypella discolor.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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76
DIVERSIDADE DE LEPIDOPTERA NO
PARQUE MUNICIPAL PORTO DOS
AGUATEIROS – ALEGRETE/RS
Tiziane Fernandes Molina1
Marilene de Lima Cortes2
Rocco Alfredo Di Mare3
1,3
Universidade Federal de Santa Maria, Programa de Pós-graduação em Biodiversidade Animal. E-mail:
[email protected] e e-mail: [email protected]; 2 Universidade da Região da Campanha,
Curso de Ciências Biológicas – Alegrete. E-mail: [email protected]
A Classe Insecta é o maior grupo do Reino
Animalia, isto se deve à grande capacidade de
adaptação a diversos “habitats” e condições climáticas,
bem como a evolução quanto a meios de defesa,
comunicação, locomoção e reprodução. Ao analisar a
bibliografia sobre o grupo, é perceptível a falta de
estudos relacionados à entomofauna do município de
Alegrete e região.
77
INTRODUÇÃO
A Classe Insecta é o maior grupo do Reino Animalia, isto se deve à grande
capacidade de adaptação a diversos “habitats” e condições climáticas, bem como a
evolução quanto a meios de defesa, comunicação, locomoção e reprodução. Ao
analisar a bibliografia sobre o grupo, é perceptível a falta de estudos relacionados à
entomofauna do município de Alegrete e região. Este estudo justifica-se pela carência
de levantamentos da entomofauna da região e pretende descrever a fauna de
Lepidoptera existente no Parque Municipal Porto dos Aguateiros, município de
Alegrete, Rio Grande do Sul.
Os lepidópteros compreendem a segunda maior ordem da classe Insecta, com
aproximadamente 46.000 espécies no mundo. As borboletas somam na região
Neotropical, 7.100 espécies, enquanto que no Brasil ocorrem cerca de 3.200 espécies
(BROWN Jr & FREITAS, 1999, p. 227; HEPPNER, 1991 apud DESSUY &
MORAIS, 2007, p.108). Segundo Dessuy e Morais (2007), as borboletas estão
envolvidas em muitas interações ecológicas dentro das comunidades a qual pertencem,
como as mutualísticas e predação, entre outras. São utilizadas em estudos sobre a
ecologia de populações, comportamento, genética, seleção natural e em processos
relacionados com alimentação, parasitismo, competição e predação (BOGGS et al,
2003 apud DESSUY & MORAIS, 2007, p. 108).
Dentre os motivos para a aplicação de Lepidoptera em pesquisas cita-se o fato
de serem comuns o ano inteiro, apresentarem grande diversidade, facilidade de
amostragem e identificação, ciclos de vida relativamente curtos e facilidade de criação
em laboratório. Além disso, respondem rápido a alterações do ambiente por serem
especialistas em recursos específicos e possuírem fidelidade de microhabitat
permitindo ações rápidas como reação a degradação. A presença de espécimes da
ordem Lepidoptera indica uma continuidade de sistemas frágeis em comunidades ricas
em espécies, e sua ausência uma perturbação ou fragmentação forte para manter a
integridade dos sistemas e da paisagem (BROWN Jr & FREITAS 1999, p. 227).
Brown Jr. e Freitas (1999, p. 227) definem a ordem Lepidoptera como insetos
terrestres e holometábolos, em geral mastigadores de material vegetal no estágio larval
e sugadores de líquidos (néctar, seiva, água enriquecida, material orgânico em
putrefação) na fase adulta. Conforme os mesmos autores, representantes de
Lepidoptera habitam todos os ecossistemas terrestres, com adaptações especiais para
viver em desertos (formas de diapausa profunda, geralmente na pupa, que pode
esperar anos até eclodir), regiões árticas (estocagem de anticongelantes na hemolinfa)
e florestas tropicais com pressão exagerada de patógenos, predadores e parasitóides
(diferentes síndromes de camuflagem, construção de abrigos, atividade noturna,
78
esporões nas pernas e altas concentrações externas e internas de substâncias químicas
amargas ou venenosas).
Cranston & Gullan (2007, p. 261) explanam sobre a diferença entre borboletas e
mariposas explicando que embora borboletas popularmente sejam consideradas
diferentes das mariposas, elas formam um clado bastante apical na filogenia de
Lepidoptera, embora, as borboletas não sejam o grupo-irmão de todas as mariposas.
As borboletas voam durante o dia, ao passo que a maioria das mariposas é ativa à
noite ou durante o crepúsculo. Quando vivas, as borboletas mantêm suas asas juntas
verticalmente sobre o corpo [...] , ao contrário das mariposas, as quais mantêm suas
asas estendidas ou encobrindo o corpo [...], poucas espécies de lepidópteros possuem
adultos braquipteros e, às vezes, fêmeas adultas completamente ápteras.
Segundo Freitas et al. (2006, p. 126), as borboletas compreendem
representantes de cinco famílias de Lepidoptera diurnas (Papilionidae, Pieridae,
Nymphalidae, Lycaenidae e Hesperiidae). Algumas espécies crepusculares voam nas
primeiras horas da manhã ou no final da tarde, mas a maioria é ativa no meio dia. As
mariposas grandes, mais bem conhecidas (famílias Arctiidae, Sphingidae, Saturnidae e
algumas Noctuidae e Geometridae) são noturnas (exceto Castniidae e muitos
Arctiidae) e atraídas pela luz.
Diante da diversidade existente nesta ordem, pode-se agregar que esta
característica está relacionada com a área de mata e com seu grau de isolamento. As
diferenças na diversidade entre “habitats” podem ser atribuído à variedade de
condições apropriadas para borboletas, o que inclui fonte de néctar, água, lama e
incidência de luz solar, como também a conectividade entre áreas de mata e jardins
cultivados (BROWN JR & FREITAS 2002; BROWN JR & HUTCHINGS; BAZ &
BOYERO1995 apud DESSUY & MORAIS 2007).
O estudo tem sua relevância na relação direta destes grupos com a ecologia da
área estudada e caracterização da fauna de Lepidoptera na localidade, através da
listagem de espécies e medida de diversidade. Esta pesquisa pretende fornecer dados
sobre a distribuição e “habitat” de Lepidoptera no município e no estado.
METODOLOGIA
Foram realizadas coletas semanais no local, durante o período de julho a
outubro de 2010, no horário compreendido entre as 9 e as 14 horas seguindo
metodologia proposta por Pollard (1977). O método de coleta utilizado foi rede
entomológica convencional, confeccionada conforme Borror & Delong (1988).
Com os dados obtidos, foram analisados o número de indivíduos registrados
(N), a frequência relativa de espécie (Fr.) e a diversidade existente na área amostral
(NOVOTNY & BASSET 2000; MORENO 2001; MURRAN 2004 apud DESSUY &
79
MORAIS, 2007, p. 110). Após o processo de determinação das famílias, gênero e/ou
espécie, os exemplares foram anexados a coleção entomológica do Laboratório de
Ciências Biológicas, URCAMP – Campus Alegrete e Laboratório de Biologia
Evolutiva da Universidade Federal de Santa Maria.
O método de identificação foi captura, identificação e soltura. Visando ao
testemunho de indivíduos, alguns animais foram sacrificados através de uma leve
compressão no tórax e acondicionados em envelope entomológico para posterior
identificação. Após cada etapa de coleta, os indivíduos foram transplantados ao
Laboratório de Práticas Biológicas do Curso de Ciências Biológicas da Universidade
da Região da Campanha - URCAMP, Campus Universitário de Alegrete onde foram
realizadas a análise e classificação baseada nas bibliografias especializadas de Lamas
(2004), Brown 1999, Brown 2003 e Di Mare 2003.
O Parque Municipal Porto dos Aguateiros (Fig. 1) foi estabelecido pelo Poder
Público Municipal através da Lei n° 1.593/84, de 20 de dezembro de 1984, assinada
pelo então Prefeito Municipal, Adão Dorneles Faraco.
De acordo com a Lei, ficou denominado Parque Municipal Porto dos
Aguateiros, o logradouro existente entre o rio Ibirapuitã e a Avenida Eurípedes Brasil
Milano, desenvolvendo-se do Presídio Estadual de Alegrete até o local onde os
aguateiros recolhiam água para o abastecimento da cidade.
O Parque Municipal Porto dos Aguateiros (29°47'30.43"S; 55°47'28.25"O), na
Avenida Eurípedes Brasil Milano, tem formato irregular, com área de dez mil,
setecentos e oitenta e dois metros quadrados e cinquenta e quatro decímetros
quadrados (10.782,54m2) com as seguintes confrontações: ao norte, com o terreno de
Eli Pacheco Cardona; ao Sul, com terreno de Neiva Cardona Peres; a leste, com Rio
Ibirapuitã; e a oeste, com a Avenida Eurípedes Brasil Milano. É um Parque de extensa
área verde, com vegetação nativa e exótica e com intensa influência antrópica.
A escolha do Parque, como área amostral para a realização das coletas, deve-se
ao fato de este apresentar limites divergentes quanto à geomorfologia do ambiente,
pois limita-se com uma avenida movimentada, próxima ao centro urbano do município
e com o Rio Ibirapuitã, o que coloca uma porção de sua extensão em Área de
Preservação Permanente. No entanto, toda a área do parque sofre constante influência
antrópica. Originalmente, a entrada do Parque constitui-se de área aberta para lazer,
com praça de diversão e quadras de esporte.
A área próxima ao Rio Ibirapuitã é de fácil acesso apesar de algumas trilhas se
fecharem durante a primavera. Apresenta descapoeiramentos, realizados para facilitar
a pastagem de animais. No entanto, em decorrência da ocupação residencial nos
limites da área, da expansão da criação de animais, exploração de madeira da mata
ciliar do Rio Ibirapuitã e da grande quantidade de lixo depositada nas áreas mais
80
afastadas da entrada, pode-se ressaltar que, no momento, a área próxima do Rio, que
deveria ser mais preservada, tanto por órgãos de Proteção Ambiental quanto pela
própria comunidade, apresenta praticamente o mesmo grau de antropização da área
aberta e descampada para lazer.
Quanto à vegetação, o estrato arbóreo e o estrato arbustivo são contínuos na
área de mata ciliar do Rio Ibirapuitã. De acordo com as observações de campo,
estruturalmente, a vegetação do parque é formada por espécies vegetais nativas e
exóticas, destacando-se as famílias: Fabaceae, Myrtaceae, Passifloraceae, Rutaceae e
Lauraceae.
Figura 1. Parque Municipal Porto dos Aguateiros (29°47'30.43"S; 55°47'28.25"O), em relação
a seus limites, com a área urbana do município de Alegrete e com o Rio Ibirapuitã. Fonte:
Google Earth.
RESULTADOS
Em sessenta horas de amostragem, foram registrados 273 indivíduos,
distribuídos em 32 espécies de Lepidoptera, seis famílias e treze subfamílias (Tabela
1). Destas, dezesseis (50%) pertencem a Nymphalidae, Hespiriidae e Pieridae
apresentaram cinco espécies cada (15,62%). A família Papilionidae teve quatro
81
espécies registradas (12,50%) e as famílias Arctiidae e Riodinidae, por sua vez,
tiveram apenas uma espécie amostrada, correspondendo a 3,12% do total de espécies.
Tabela 1. Lista e abundância (N) de espécies de Lepidóptera registradas no Parque Municipal
Porto dos Aguateiros –Alegrete/RS no período de julho a outubro de 2010. (*) espécies
representadas por um único indivíduo.
Família
Arctiidae
Subfamília
Peripiconinae
Espécie
N°
*Calodesma alpiabex (Hering. 1925)
Total Arctiidae
Biblidinae
Danainae
Heliconiinae
Nymphalidae Limenitidinae
Nymphalinae
Satirinae
Hesperiidae
Pyrginae
1
Eunica margarita (Godart, 1824)
14
Dannus plexippus (Linnaeus, 1758)
2
Actione thalia phirra (Fabricius 1775)
13
Agraulis vanillae maculosa (Stichel,1908)
18
Dione juno juno (Cramer 1779)
3
* Drias iulia alcionea (Cramer 1779)
1
Euptoieta claudia (Weymer, 1894)
2
Heliconius erato phyllis (Fabricius, 1775)
10
* Adelpha zea (Hewisto, 1850)
1
Anartia amathea roeselia (Eschscholtz, 1821)
3
Hypanartia lethe (Fabricius, 1793)
2
Ortilia ithra (W.F. Kirby, 1900)
47
Tegosa caludina (Eschscholtz, 1821)
3
Vanessa brasiliensis (Moore, 1883)
5
Vanessa carye (Hübner, 1812)
2
Hermeuptychia hermes (Fabricius, 1775)
33
Total Nymphalidae
Pyrrhopyginae
1
159
Misoria barcastus (Evans, 1951)
4
*Epargyreus barisses (Hübner 1819)
1
Pyrgus communis ( Grote, 1872)
18
Urbanus simplicius (Stoll, 1790)
Morfoespécie
14
24
Total Hespiriidae
Eurema sp. Hübner, [1819]
82
61
3
Coliadinae
Pieridae
Pierinae
Phoebis neocypris neocypris (Hübner, 1823)
2
Phoebis sennae (Linnaeus, 1758)
7
Ascia monuste orseis (Linnaeus, 1764)
4
Hesperocharis erota (Lucas, 1852)
2
Total Pieridae
Papilioninae
Papilionidae
Battus polydamas polydamas ( Linnaeus, 1758)
4
Heraclides anchisiades capys (Hübner, 1809)
* Heraclides thoas brasiliensis
(Rothschild & Jordan, 1906)
11
* Pterourus scamander (Boisduval, 1836)
1
Total Pailionidae
Riodinidae
Riodininae
18
Riodina lysippoides (Berg 1882)
1
17
17
Total Riodinidae
17
Total de indivíduos registrados
273
Riqueza e composição das espécies
A abundância de indivíduos durante as coletas realizadas no período de julho a
novembro de 2010 mostra um gráfico não estável quanto ao número de indivíduos
registrados por coleta. A estação fria e chuvosa não permitiu números mais
abundantes em registros, pois a partir das intensas chuvas no município de Alegrete e
região, ocorreu a cheia do Rio Ibirapuitã e pela localidade da área amostral do estudo
ter limite com as margens do rio, toda a extensão do Parque ficou inundada no período
de 1/8/10 a 15/8/10, impossibilitando a realização de coletas (Gráfico 1). Assim como
também mostra o gráfico que, em alguns dias, a coleta resultou em apenas dois
indivíduos, pelo intenso frio nos dias de coleta. Sendo que foram registrados ao final
das 60horas/rede, 273 indivíduos.
Do total de 32 espécies identificadas, o levantamento apresenta as seguintes
proporções quanto à diversidade de espécies por família 50% de Nymphalidae com 16
espécies registradas, Hespiriidae e Pieridae com cinco espécies, correspondem ambas
a 15,62%, Papilioninae com quatro espécies registradas na área (12,50%), Arctiidae e
Riodinidae apresentaram apenas uma espécie cada, o que corresponde a 3,12% para
cada família do total de espécies registradas na área amostral do Parque Municipal
Porto dos Aguateiros, proporções diferentes das apresentadas por Dessuy & Morais
(2007) que, em seu estudo de diversidade de borboletas na Floresta Estacional
Decidual em Santa Maria, cita como mais abundantes as famílias Hespiridae e
Nymphalidae, seguidas de Licaenidae, Papilionidae e Pieridae (Tabela 2). Os dados de
83
diversidade deste trabalho também diferem dos expostos por Brown Jr e Freitas (1999)
onde revelam que as famílias mais ricas em número de espécies no Brasil são,
respectivamente, Lycaenidae e Hespiridae, seguidas de Nymphalidae, Pieridae e
Papilionidae. Iserhard & Romanowski (2004) apresentam dados mais próximos aos
encontrados, pois a família Nymphalidae é apontada como a de maior riqueza de
espécies, assim como no presente trabalho.
Número de Indivíduos registrados por coleta
40
35
30
25
20
N° de Indiví duos
15
10
5
7/
se
t
12
/s
et
19
/s
et
26
/s
et
3/
ou
t
10
/o
ut
17
/o
ut
24
/o
ut
2/
no
v
4/
ju
l
11
/ju
l
18
/ju
l
29
/ju
l
1/
ag
o
8/
ag
o
15
/a
go
22
/a
go
29
/a
go
0
Gráfico 1. CURVA DO COLETOR. Número de indivíduos registrados por coleta no Parque
Municipal Porto dos Aguateiros no período de julho a outubro de 2010. Obs. No período de 1/8
a 15/8/10 não foi possível a realização de coletas devido a cheia do Rio Ibirapuitã ter inundado
a área de coleta, por isso o valor de zero nas respectivas datas.
Na área amostral do município de Alegrete não foi registrada nenhuma espécie
da família Lycaenidae, o que difere dos dados de riqueza abundante da mesma para o
Brasil, exposto por Brown Jr & Freitas (1999). Referente a esta observação, pode-se
acrescentar que é necessário mais estudos na região sul do Brasil, propiciando desta
forma uma maior abrangência de conhecimento sobre a fauna de Lepidoptera da
região.
Giovernardi & Di Mare (2007) mostram dados quanto à família Nympahlidae
semelhantes entre os percentuais encontrados neste estudo, pois registram que esta
apresentou maior diversidade de espécies, assim como o presente levantamento,
quanto a Pieriidae, os mesmos autores apresentam a segunda maior diversidade em
número de espécies. Outras semelhanças, entre os dados apresentados por Giovernardi
& Di Mare (2007), foram, o número de espécies quem manteve crescente durante o
período de amostragem e a representação da família Riodinidae ter sido a menos
expressiva em número de espécies.
Das 32 espécies registradas durante as coletas, apenas uma não foi identificada,
pertencente à família Hesperiidae, a referida espécie teve 24 indivíduos registrados
84
durante as quinze coletas realizadas. As 31 espécies identificadas no Parque Municipal
Porto dos Aguateiros não constituem registros novos para o Rio Grande do Sul, porém
não haviam sido registrados no município de Alegrete.
Tabela 2. Riqueza de espécies por família (%) em comunidades de borboletas no Brasil e no
Rio Grande do Sul. (B&F) Brown & Freitas (1999); (D&M) Dessuy & Morais; (I&S) Iserhard
& Romanownski (2004); Giovernardi & Di Mare (2007); Alegrete.
Família
Brasil
Rio Grande do Sul
B&F
D&M
I&R
G&D
Alegrete
Hespiriidae
36
58
33
34
5
Papilionidae
2
12
4
11
4
Pieridae
2
8
8
14
5
Lycaenidae
36
16
19
11
Nymphalidae
24
51
36
98
16
Riodinidae
6
1
Arctiidae
1
Analisando o Gráfico 2, é possível perceber que a curva de acumulação de
espécie na área de estudo é crescente, o que caracteriza que ainda não se obteve o
número total de espécies existentes na área e que esta pode ter uma maior diversidade
de espécies.
Diversidade e constância de espécies
As espécies mais abundantes, no local estudado, foram os ninfalídeos Ortilia
ithra (W.F. Kirby, 1900) (n=47) e Hermeuptychia hermes (Fabricius, 1775) (n=33).
Estas duas espécies pertencem à família Nymphalidae que se caracteriza por ser a mais
diversificada, sendo comum em vários “habitats” (Brown Jr e Freitas, 1999). As duas
espécies apresentam índices de dominância alto (Tabela 3) na área do parque que é
bastante perturbada pela urbanização.
Gráfico de acumulação de espécies por coleta
número de espécies
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
15
Série1 19 22 22 22 22 22 24 24 24 24 29 30 30 31
coletas
Gráfico 2. Curva de acumulação de espécies por coleta no período de julho a outubro de 2010.
Obs.: tabela de valores (quantidade) de espécies para cada coleta realizada.
85
Entre as espécies que obtiveram menor número de indivíduos registrados estão
(Tabela 3): Calodesma alpiabex (Hering. 1925), Adelpha zea (Hewisto, 1850), Drias
iulia alcionea (Cramer 1779), Epargyreus barisses (Hübner 1819), Heraclides thoas
brasiliensis (Rothschild & Jordan, 1906), Pterourus scamander (Boisduval, 1836).
Um dado que difere dos expostos por Dessuy & Morais (2007) onde Drias iulia
alcionea (Cramer 1779) foi uma das espécies mais abundantes nos fragmentos de
Floresta Estacional Decidual em Santa Maria estudados e no presente estudo mostrase como uma das espécies acidentais de menor índice de ocorrência na área.
Tabela 3. Porcentagem de espécies constantes, acessórias e acidentais. Valor menor que 25
acidental; Valor entre 25 e 50 acessória e valor maior que 50 constante.
N°
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
Espécie
Calodesma alpiabex
Euptoieta claudia (Weymer, 1894)
Eunica margarita (Godart, 1824)
Dannus plexippus (Linnaeus, 1758)
Actione thalia phirra (Fabricius 1775)
Agraulis vanillae maculosa (Stichel,1908)
Dione juno juno (Cramer 1779)
Drias iulia alcionea (Cramer 1779)
Heliconius erato phyllis (Fabricius, 1775)
Adelpha zea (Hewisto, 1850)
Anartia amathea roeselia (Eschscholtz, 1821)
Hypanartia lethe (Fabricius, 1793)
Ortilia ithra (W.F. Kirby, 1900)
Tegosa caludina (Eschscholtz, 1821)
Vanessa brasiliensis (Moore, 1883)
Vanessa carye (Hübner, 1812)
Hermeuptychia hermes (Fabricius, 1775)
Misoria barcastus (Evans, 1951)
Epargyreus barisses (Hübner 1819)
Pyrgus communis
Urbanus simplicius (Stoll, 1790)
morpho sp.
Eurema sp. Hübner, [1819]
Phoebis neocypris neocypris (Hübner, 1823)
Phoebis sennae (Linnaeus, 1758)
Ascia monuste orseis (Linnaeus, 1764)
Hesperocharis erota (Lucas, 1852)
Battus polydamas polydamas ( Linnaeus, 1758)
Heraclides anchisiades capys (Hübner, 1809)
Heraclides thoas brasiliensis
(Rothschild & Jordan, 1906)
Pterourus scamander (Boisduval, 1836)
Riodina lysippoides (Berg 1882)
86
Valor
6,66%
13,33%
46,66%
13,33%
20%
53,33%
13,33%
6,66
20%
6,66%
13,33%
13,33%
73,33%
13,33%
20%
13,33%
80%
20%
6,66%
53,33%
40%
66,60%
13,33%
13,33%
26,66%
26,66%
13,33%
20%
20%
6,66%
6,66%
26,66%
Quanto à constância das espécies, foram registradas 5 (15,62%) espécies
constantes; 6 (18,75%) espécies acessórias; e 21 (65,62%) espécies acidentais (Gráfico
3). As espécies com os índices maiores de constância foram Ortilia ithra (W.F. Kirby,
1900), 73, 33 e Hermeuptychia hermes (Fabricius, 1775), 80%. Todos os exemplares
das 32 espécies foram organizados em uma caixa entomológica que fará parte do
acervo do Laboratório do Curso de Ciências Biológicas – Campus de Alegrete.
Gráfico da porcentagem de espécies constantes,
acessórias e acidentais
65,62%
70,00%
60,00%
50,00%
constante
40,00%
acessória
30,00%
20,00%
15,62%
18,75%
acidental
10,00%
0,00%
constante
acessória
acidental
Gráfico 3. Porcentagem de espécies que se apresentaram constantes, acessórias e acidentais,
durante o período de amostragem realizado no Parque Municipal Porto dos Aguateiros.
CONCLUSÕES
Com os dados obtidos é perceptível que a fauna de Lepidoptera na área de
estudo se assemelha em alguns aspectos com comunidades amostradas em outras
regiões do Rio Grande do Sul e também no Brasil. Um exemplo é a ausência da
família Lycaenidae e a presença de Riodinidae e Arctiidae, que mesmo não sendo
numerosas e constantes, aparecem na área.
Os dados apresentados no presente trabalho condizem com as condições da área
amostrada, área de campo aberta, com excessiva influência antrópica, porém com
relação direta com a mata de galeria do Rio Ibirapuitã. Sugere-se o aumento no
número de horas das amostragens, realizando a pesquisa durante todas as estações do
ano.
O presente estudo fornece subsídios para a ampliação de conhecimento sobre a
ordem Lepidoptera no município de Alegrete e na região oeste do Rio Grande do Sul.
Enfatiza-se a necessidade de maiores pesquisas na região oeste do estado do Rio
87
Grande do Sul, pois são mínimos os dados conhecidos sobre a biodiversidade desta
região.
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88
INFLUÊNCIA DA LUZ E CONDIÇÕES DE
ARMAZENAMENTO NA GERMINAÇÃO DAS
SEMENTES DE SYMPLOCOS UNIFLORA
(POHL) BENTH. (SYMPLOCACEAE)
Simone Ribeiro Lucho1
Letiele Bruck de Souza2
Tiéle Stuker Fernandes3
Tânia Maria Boucinha Viana4
Luciane Almeri Tabaldi5
Juçara Terezinha Paranhos6
Autora, Bióloga, Mestranda Pós-graduação em Agrobiologia, bolsista CAPES, UFSM.
2
[email protected]; Bióloga, Mestranda Programa de Pós-graduação em Agrobiologia,
3
4
UFSM; Graduando, Curso Agronomia, UFSM; Bióloga, Mestre, Laboratório de Cultura de Tecidos
5
Vegetais, UFSM; Bióloga, Doutora, Professora Adjunta Programa de Pós-graduação em
6
Agrobiologia,UFSM; Agrônoma, Doutora, Professora Adjunta Programa de Pós-graduação em
Agrobiologia, UFSM.
1
Symplocos uniflora (Symplocaceae), conhecida
como pau-de-canga, maria-mole-do-banhado e setesangria, é uma espécie nativa do Rio Grande do Sul,
presente em matas ciliares, no qual desempenha função
vital na qualidade dos rios. Este trabalho objetiva
estudar a germinação das sementes desta espécie sob
duas condições de armazenamento e dois regimes de
luz.
89
INTRODUÇÃO
Symplocos uniflora (Symplocaceae), conhecida popularmente como pau-decanga, maria-mole-do-banhado e sete-sangria, é uma espécie nativa do Rio Grande do
Sul, presente principalmente em matas ciliares, no qual desempenha função vital na
qualidade dos rios. “Por ser uma árvore de pequeno porte, pioneira e de crescimento
rápido é bastante utilizada para reflorestamento e recuperação de áreas degradadas”
(LORENZI & MATTOS, 2008). Na medicina popular o chá da casca do caule auxilia
na digestão e combate às febres tropicais, terçã ou malária; a casca da raiz possui
funções adstringentes e seus frutos são comestíveis e servem de alimento para a fauna
silvestre. Praticamente inexistem estudos básicos dessa espécie, sendo de fundamental
importância investigar a propagação, visando a reposição e conservação da
diversidade biológica presente no Bioma Pampa.
Árvore de pequeno porte atingindo até 10m de altura, Symplocos uniflora ocorre
em todas as formações florestais do Rio Grande do Sul (SOBRAL et al., 2006.),
caducifólia, pioneira, heliófila, seletiva higrófila e de crescimento rápido,
recomendada para a arborização urbana e recuperação de áreas degradadas. A
madeira, pelas pequenas dimensões disponíveis é indicada para lenha e carvão,
possuindo pouco valor comercial (LORENZI & MATTOS, 2008).
As folhas são simples, alternas, espiraladas, obovadas a elípticas. A base e o
ápice são agudos, a margem é serreada, com pequenos múcrons em alguns dentes. A
lâmina foliar mede 1,5 cm a 14,5 cm de comprimento por 0,7 cm a 6,0 cm de largura e
peninérveas. O pecíolo mede de 4 mm a 8 mm de comprimento, é rosado e fracamente
piloso. A face superior é glabra e a face inferior fracamente pilosa. Apresenta tom
verde um pouco mais escuro na face superior e a consistência é subcoriácea.
Os frutos maduros ocorrem de dezembro a março e são drupas cilíndricas a
obovais, medindo de 0,8 cm a 1,5 cm de comprimento por 0,5 cm a 1,0 cm de largura,
apresentando o pericarpo passando de verde-claro para roxo-enegrecido (Figura 1-A).
Essa coloração também está presente nas partes carnosas do fruto, que também
apresenta sabor adocicado. O endocarpo, por sua vez, é demasiadamente duro,
dificultando e/ou impedindo a retirada das sementes.
As inflorescências apresentam-se em racemos paucifloros com 3 a 5 flores ou
reduzidas a 1 única flor e suas flores são monóclinas, de coloração branca, rósea e
roxa, isoladas ou aos pares, com sépalas ciliadas, medindo de 1,0 cm a 1,2 cm de
comprimento, com odor suavemente doce.
Segundo Caravalho (2008) Apesar da beleza de suas flores é pouco utilizada
como ornamental. A espécie floresce de outubro a dezembro e frutifica de dezembro a
março (HURREL & LAHITTE, 2004).
90
Figura 1: Frutos de Symplocos uniflora coletados em janeiro de 2012, em plantas crescendo
naturalmente no Jardim Botânico, Centro de Ciências Naturais e Exatas, Universidade Federal
de Santa Maria. A – detalhe dos frutos maduros (círculo contínuo) e imaturos (círculo
pontilhado) em um mesmo ramo. B – frutos maduros à esquerda antes da remoção da polpa
carnosa e à direita após a remoção.
As folhas dessa espécie são encontradas entre os adulterantes da erva-mate (Ilex
paraguariensis) e a casca da raiz é amarga, com função adstringente; os frutos são
comestíveis e servem de alimento para a fauna silvestre. De acordo com Tschesche et
al. (1980) o constituinte químico isolado nesta espécie foi o symplocosídeo, um
glicosídeo flavonóide.
Segundo Carvalho (2008), S. uniflora possui uma germinação epígea ou
fanerocotiledonar, e produz anualmente uma grande quantidade de sementes, porém as
sementes perdem rapidamente a viabilidade, quando mantidas em ambiente não
controlado, por apresentarem comportamento recalcitrante ao armazenamento,
dificultando a reprodução sexuada. O armazenamento de sementes recalcitrantes
apresenta um desafio maior, devido à alta suscetibilidade à perda de água, sendo
necessário manter o ambiente com alto grau de umidade, o que, por outro lado,
favorece o desenvolvimento de microorganismos.
“Diversos fatores podem afetar o potencial germinativo das sementes e
promoverem a formação de plântulas anormais, dentre eles, a presença de
microrganismos, especialmente fungos e bactérias” (CORDER & BORGES JUNIOR,
1999). De acordo com Martins et al. (2000), a germinação também pode ser afetada
por uma série de condições intrínsecas da semente, como o estádio de maturação, a
dormência e a longevidade, e por fatores ambientais, como a disponibilidade de água,
oxigênio, temperatura e luz.
91
A conservação das sementes, de modo geral, é de grande importância, uma vez
que tem função básica de preservar a qualidade fisiológica das mesmas. E essa
preservação é possível porque o armazenamento, uma vez aplicado de modo
adequado, irá diminuir a velocidade de deterioração, a qual se caracteriza por ser um
processo irreversível (DELOUCHE et al., 1973; MELO et al.,1998).
“Muitas espécies cultivadas são indiferentes à luz para germinar. Entretanto, o
estímulo luminoso é bastante variável em sementes de várias espécies nativas”
(MAYER & POLJAKOFF-MAYBER, 1979), podendo as mesmas ser afetadas
positiva ou negativamente pela luz, enquanto sementes que não são afetadas. (VIANA
& FELIPPE, 1986).
Neste contexto, o objetivo do trabalho foi estudar a germinação das sementes de
Symplocos uniflora sob duas condições de armazenamento e dois regimes de luz.
METODOLOGIA
O experimento foi desenvolvido no Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais
do Departamento de Biologia, do Centro de Ciências Naturais e Exatas, da
Universidade Federal de Santa Maria. Os Frutos maduros foram coletados em Janeiro
de 2012, de populações crescendo naturalmente no Jardim Botânico da Universidade
Federal de Santa Maria. Devido à dificuldade de retirada das sementes dos frutos,
realizou-se tratamentos físicos como a pré-embebição em água destilada, em
temperatura ambiente por 24h e 48h e também a retirada das sementes com o auxílio
de um pequeno martelo. Nenhum dos tratamentos mostrou-se viável, optando-se por
colocar para germinar os frutos com as sementes, retirando-se a polpa dos mesmos.
Após a coleta e remoção da polpa dos frutos, conforme Carvalho (2008), os
frutos foram armazenados em caixas gerbox na geladeira (± 10ºC), e em temperatura
ambiente, a 25 ºC ± 2, por 10 dias (Figura 1B). Antes da inoculação, em câmara de
fluxo laminar, os frutos sem polpa foram desinfestados em álcool 70% por 30
segundos, e imersos em hipoclorito de sódio a 2,5% por 15 minutos. Posteriormente,
esses frutos passaram por 3 enxágues em água destilada e autoclavada.
Após assepsia, os frutos foram inoculados em placas de petri com 90 mm de
diâmetro, estéreis, revestidas com três camadas de papel filtro previamente
autoclavadas e embebidas em 10 mL de água destilada e autoclavada. Utilizou-se 50
frutos por repetição e quatro repetições por tratamento. Após, o conjunto placa-frutos
com sementes foram mantidos ausência ou presença de luz (fotoperíodo de 16 horas).
Os tratamentos foram mantidos em câmaras de crescimento com temperatura de
25ºC ± 1n, sendo os seguintes: (T1) frutos armazenados em temperatura ambiente e
colocados para germinar no escuro; (T2) frutos armazenados em temperatura ambiente
e colocados para germinar na presença de luz; (T3) frutos armazenados na geladeira e
92
colocados para germinar no escuro; (T4) frutos armazenados na geladeira e colocados
para germinar na presença de luz.
As avaliações foram feitas semanalmente e consideradas germinadas as
sementes que apresentaram protrusão de 0,3 cm da radícula, determinando a
porcentagem de germinação (%G) conforme Labouriau & Valadares (1976) utilizando
a fórmula G= (N/A) x 100, onde N é o total de sementes germinadas e A é o número
total de sementes colocadas para germinar. Além disso foi determinado o índice de
velocidade de germinação (IVG) calculado segundo Maguire (1962). Os dados foram
submetidos à análise de variância e as médias dos tratamentos foram comparadas pelo
Teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Os tratamentos foram apresentados
como média ± S.D. de cinco repetições.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A maior porcentagem de germinação ocorreu nos frutos armazenados em
temperatura ambiente e colocados para germinar na presença de luz (Figura 2)
diferindo estatisticamente dos tratamentos cujos frutos foram mantidos no escuro.
Estudos realizados por Adami et al. (2008) mostraram que ao contrário de Symplocos
uniflora, as sementes de Erythrina verna germinaram indiferente do regime de luz
utilizado, podendo ser classificadas como fotoblásticas neutras (LABOURIAU, 1976),
porém essa categoria não pode ser considerada como definitiva, uma vez que outros
fatores podem alterar suas características fotoblásticas (BEWLEY & BLACK, 1994;
TAKAKI, 2001). Outras espécies florestais também apresentam sementes cujo
processo germinativo é indiferente à luz como Enterolobium contortisiliquum
(HEBLING,1997), Bauhinia forficata (ROSA & FERREIRA, 2001), Myracrodruon
urundeuva (SILVA et al., 2002).
O objetivo básico do armazenamento é manter o percentual de germinação ao
final do período o mais próximo ao do inicial, o acondicionamento dos frutos de S.
uniflora não é recomendado, pois independente dos tratamentos, observou-se baixos
índices de germinação. Conforme relatos na literatura, as sementes dessa espécie é
recalcitrante ao armazenamento e perdem rapidamente a viabilidade.
A menor temperatura de armazenamento em conjunto com a ausência de luz
propiciou os menores Índices de Velocidade de Germinação (IVG), comparados com
frutos mantidos em temperatura ambiente na presença de luz (Figura 3).
CONCLUSÃO
A forma mais adequada de armazenamento dos frutos de Symplocos uniflora é
em temperatura ambiente (25 ºC ± 2), por 10 dias e a presença de luz é determinante
para a germinação dessas sementes, sendo classificadas como fotoblásticas positivas.
93
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95
INTERAÇÕES ECOLÓGICAS DE
XANTHOPSAR FLAVUS (AVES:
ICTERIDAE), UMA ESPÉCIE PRIORITÁRIA
PARA A CONSERVAÇÃO EM UMA
NOVA ÁREA DE OCORRÊNCIA
NO BIOMA PAMPA, RS.
Luciane Rosa da Silva Mohr1,3
Vanda Simone da Silva Fonseca1,2,4
Eduardo Périco1
Alexsandro Rodrigo Mohr 1,2
1
Laboratório de ecologia e sensoriamento remoto/Museu de Ciências Naturais/Centro Universitário
Univates, Av. Avelino Tallini, 171, CEP: 95900-000, Lajeado-RS, Brasil.3Mestranda em Ambiente de
Desenvolvimento ([email protected] ),4Doutora em Biologia ([email protected]),
5
6
Doutor
em
Ecologia
([email protected]),
Graduando
em
Ciências
Biológicas
([email protected]). 2 BioImagens Consultoria Ambiental, Avenida Dr. Nilo Peçanha, 1221.
Conjunto 601. Boa Vista. CEP 91330-000, Porto Alegre, RS, Brasil.
Xanthopsar flavus, a popular veste-amarela, é
uma espécie prioritária para a conservação, sendo
considerada vulnerável à extinção em nível estadual,
nacional e mundial. A obtenção de informações sobre
esta espécie, com a observação de indivíduos em
habitat natural e interações ecológicas com outras
espécies torna-se de fundamental importância para a
preservação desta espécie no Bioma Pampa.
96
INTRODUÇÃO
A ave Xanthopsar flavus, popularmente chamada de veste-amarela, é uma
espécie prioritária para a conservação, sendo considerada vulnerável à extinção em
nível estadual, nacional e mundial. Sua distribuição geográfica inclui o Brasil,
Uruguai, Paraguai e Argentina. No sul do Brasil as maiores ameaças a esta espécie e
tantas outras, são a destruição dos campos e banhados, habitats que utiliza para
alimentação, repouso e nidificação. Isto ocorre principalmente em função da utilização
dos mesmos para uso agropecuário e silvicultura, ocorrendo principalmente a criação
de gado, drenagem dos banhados e introdução de espécies exóticas. Frequentemente
esta espécie é observada interagindo, entre outras espécies, com a ave Noivinha-derabo-preto (Xolmis dominicanus), também vulnerável à extinção no estado e em nível
mundial. As informações sobre X. flavus e outras espécies que habitam áreas de
campo e banhado são insuficientes e esta pesquisa, visou obter informações sobre esta
espécie, com a observação de indivíduos em uma nova área de ocorrência da espécie
no município de Rio Grande, RS, bioma Pampa. Buscou-se assim, ampliar o
conhecimento sobre a espécie, dos processos ecológicos em que está envolvida, das
espécies com as quais está associada e dos ambientes que habita.
Pertencente à família Icteridae, a ave X. flavus é popularmente chamada de
Veste-amarela (CBRO, 2011). Possui cerca de 21 cm e 43 gramas. A cabeça e a face
ventral são amarelo-vivo, a dragona, o uropígio e a face ventral das asas também, o
peito muda para cor de caramelo, resto da plumagem do corpo é negra (Figura 1). A
fêmea na face dorsal é pardacenta estriada de negro, com sobrancelha, dragona e
uropígio amarelo e lado inferior também (SICK, 1997).
Ocorre no sudeste do Paraguai, nordeste da Argentina, no Uruguai e no sul do
Brasil, onde se distribui apenas no Rio Grande do Sul (RS) e Santa Catarina (SC)
(BELTON, 1994; SICK, 1997; FRAGA 2005; FRACASSI, 2006). No RS é
considerado por Belton (1994) como um residente escasso. Distribui-se pelo Planalto
Médio e na parte mais alta do Planalto das Araucárias (onde é encontrado com maior
frequência e abundância). Ocorre também em localidades pontuais na Serra do
Sudeste (Planalto Sul-Rio-grandense), proximidades de Porto Alegre, fronteira oeste
(próximo à São Borja), Planalto das Missões (a noroeste de Santa Maria) e margem
oeste da Laguna dos Patos. Mais recentemente foi encontrada na Planície costeira
meridional, em Rio Grande; em Dom Pedrito na fronteira sudoeste e em áreas do
Planalto das Missões e no Planalto Sul-Rio-grandense, em Encruzilhada do Sul
(BELTON, 1994; COLLAR et al., 1992; DIAS; MAURÍCIO, 2002; BENCKE et al.,
2003; ACCORDI; BARCELLOS, 2006).
Os indivíduos desta espécie habitam áreas de campos entremeados por
banhados de turfa caracterizados pela presença de gravatás (Eryngium sp), ciperáceas,
97
gramíneas e asteráceas. Tem sido registrada em outros ambientes abertos, em campos
com pedras, “campo sujo”, em pastagens e em diferentes plantações (BELTON, 1994;
SICK, 1997; FRAGA et al., 1998; DIAS; MAURICIO, 2002; FONSECA , 2004). No
RS foi observado se alimentando em lavouras de milho, soja, feijão e em campos
arados ou com restevas (DIAS, MAURÍCIO, 2002, BENCKE et al., 2003). Alimentase de insetos, normalmente caminhando no solo (BELTON, 1994).
É uma espécie gregária que vive em bandos muitas vezes com outras aves. No
sul do Brasil é comumente encontrada com espécies como a noivinha-de rabo-preto
(X. dominicanus), com a qual possui uma forte relação de protocooperação. Também é
encontrado com o dragão (Pseudoleistes virescens), o chopim-do-brejo (P. guirahuro),
entre outras (BELTON, 1994; FONTANA, 1994; FRAGA et al., 1998; DIAS,
MAURÍCIO, 2002; FRAGA, 2005).
A época reprodutiva ocorre de outubro a dezembro, intensificada em novembro.
A postura de um a cinco ovos ocorre em um ninho em forma de tigela profunda
forrada com pastos e construídas com folhas de gramíneas, gravatás e outras plantas,
amarrado à baixa estatura na vegetação, normalmente a menos de um metro de altura,
na borda de banhados com pouca água (BELTON, 1994; DIAS, MAURÍCIO, 2002;
FONSECA et al., 2004).
X. flavus é considerada uma espécie prioritária para a conservação, classificada
como vulnerável à extinção no RS (BENCKE et al., 2003), no Brasil (MACHADO et
al., 2008) e também classificada como mundialmente vulnerável à extinção, segundo
IUCN (2012). No sul do Brasil, a maior ameaça a esta espécie é a destruição do
habitat, causada por plantações de monoculturas exóticas (principalmente Pinus sp. e
Eucalyptus sp.), drenagem dos banhados, uso agropecuário do solo e queimadas. A
queima dos campos reduz a disponibilidade de alimento e nos banhados afeta às áreas
usadas para dormitório e para a reprodução (MACHADO et al. 2008; AZPIROZ,
2000; BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2000; DIAS, MAURÍCIO, 2002).
Em escala global o decréscimo da população é atribuído a alteração e destruição
do habitat, à captura de indivíduos na natureza e ao parasitismo pela ave vira-bosta
(Molothrus bonariensis) que afeta o sucesso reprodutivo da espécie (COLLAR et al.,
1992; FRAGA et al., 1998; BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2000), principalmente na
Argentina e Uruguai (FRAGA et al., 1998; AZPIROZ, 2000).
No estado do Rio Grande do Sul, nas últimas décadas cerca de metade da
superfície originalmente coberta com os Campos foi transformada em outros tipos de
cobertura vegetal (PILLAR et al., 2009). As principais ameaças à fauna que habita os
campos e o Pampa, em geral, consiste na perda de hábitat pela substituição dos
campos nativos por agricultura, silvicultura ou pastagens exóticas; destruição de áreas
úmidas por drenagem ou barramento; queimadas freqüentes; descaracterização do
98
hábitat por sobrepastejo e pisoteio pelo gado; perseguição e caça; captura para criação
em cativeiro ou comércio de fauna, e efeito de invasões biológicas. Causas menores de
ameaça são a poluição, urbanização, atropelamentos, mineração, desmatamento e
efeitos de patógenos (FONTANA et al., 2003; GIACOMO; KRAPOVICKAS, 2005;
FONTANA et al., 2008; MACHADO et al., 2008; PILLAR et al., 2009).
O veste-amarela (X. flavus) é um exemplo de ave dependente de áreas de
campos e de banhados (BENCKE, 2009; PETRY; KRÜGER, 2010). Esta espécie
forrageia principalmente em campos nativos secos e ocasionalmente em pastagens
artificiais ou áreas de cultivo, mas busca abrigo e se reproduz somente em turfeiras e
em outros tipos de banhados densos que permeiam os campos (BELTON, 1994;
BENCKE et al., 2003).
Há a necessidade de se obter informações sobre espécies campestres ameaçadas
de extinção devido a acelerada degradação dos habitats de campo (BILENCA,
MIÑARRO, 2004; PILLAR, 2006). No sul da América do Sul o conhecimento da
distribuição das aves que são afetadas por estes fatores é incompleto (GIACOMO;
KRAPOVICKAS, 2005).
O veste-amarela é uma espécie prioritária para pesquisas e para a conservação
(STOTZ et al., 1996). No sul do Brasil Fontana et al. (2008) destaca a carência de
informações, publicações e pesquisas de longo prazo realizadas com aves campestres,
inclusive X. flavus e X. dominicanus.
MATERIAIS E MÉTODOS
A área de estudo se localiza no distrito de Povo Novo, município de Rio
Grande, RS e se caracteriza por áreas de campo “baixo”, com a presença de gado e
com a ocorrência de áreas úmidas próximas. O monitoramento das espécies ocorreu de
março de 2011 a janeiro de 2012. As observações ocorreram, em um dia de cada um
dos seguintes meses: março, abril, maio (outono), agosto (inverno), setembro, outubro,
novembro (primavera), dezembro e janeiro (verão). Consistiram na observação direta
dos indivíduos, do seu comportamento, na análise e anotação das informações, durante
30 minutos (após o primeiro contato visual com a espécie) no período vespertino e 30
minutos no período matutino, em cada dia amostrado.
RESULTADOS
Os indivíduos de X. flavus encontrados estavam principalmente se deslocando
pela área buscando alimento, frequentemente acompanhando indivíduos de X.
dominicanus (Figura 2). Foram observados principalmente em áreas de campo (Figura
3), raramente se deslocando em direção às áreas úmidas próximas.
99
No outono o maior número de indivíduos de X. flavus e X. dominicanus
encontrado foi de, respectivamente, 38 e 7 indivíduos, registrados simultaneamente no
período matutino em abril. No inverno, no monitoramento feito em agosto, não foram
registrados indivíduos de X. flavus, apenas 2 indivíduos de X. dominicanus. Na
primavera, em setembro foram encontrados 44 indivíduos de X. flavus pela manhã e
15 no vespertino e um casal de X. dominicanus nos dois períodos. Em novembro não
foram registrados indivíduos destas espécies. No verão o maior número de indivíduos
registrados foi de 6 X. flavus juntamente com 9 X. dominicanus no mês de dezembro.
As espécies foram observadas pousadas e voando, interagindo em busca de alimento
(Figura 3). Assim como observado por Belton (1994) e Sick (2001) os indivíduos de
X. flavus (geralmente em bando maiores) parecem seguir os indivíduos de X.
dominicanus (observados principalmente aos pares, trios ou dois casais). X.
dominicanus possui o hábito de pousar principalmente sob arbustos, palanques, na
ponta de plantas subarbustivas, e com menor freqüência no chão, parecendo ser uma
sentinela nesta interação. Em contrapartida, X. flavus pousa no chão e, ao menor
movimento e voo de X. dominicanus, a segue. Ao que parece o deslocamento de X.
dominicanus faz com que insetos se movimentem, o que atrai X. flavus. Uma
associação menos freqüente foi observada com P. virescens (Figura 4), assim como
em outros estudos (DIAS; MAURÍCIO 2002; DEVELEY et al, 2008). Em outubro foi
observada a interação de X. flavus com o tiranídeo migratório Tyrannus savana
(tesourinha) que apresentou comportamento semelhante a X. dominicanus, sendo que
o casal observado parecia agir como sentinela.
Não foram observados indícios de reprodução de X. flavus no banhado próximo
a área avaliada. No entanto em função do tamanho do mesmo (em torno de 1ha)
alguns indivíduos podem ter se reproduzido no local, sem que tenham sido avistados.
CONCLUSÕES
Devido às variações no número de indivíduos encontrados, acredita-se que os
indivíduos desta espécie façam migrações locais em busca de alimento, áreas de
repouso e nidificação. Além da perda de habitat, a perturbação e a modificação deste
podem afetar esta espécie, suas taxas de reprodução e o tamanho populacional como
um todo. X. flavus e X. dominicanus merecem especial atenção pois são prioritárias
para a conservação. A preservação das áreas úmidas deve ser considerada uma
prioridade para estas espécies, já que se reproduzem nestas áreas. Na próxima estação
reprodutiva serão feitas novas observações no local, visando a obtenção de dados que
evidenciem a reprodução no local.
100
Figura 1: Xanthopsar flavus: indivíduo macho. Figura 2: Indivíduos de Xanthopsar flavus com
Xolmis dominicanus. Figura 3: Bando de Xanthopsar flavus se deslocando em busca de
alimento. Figura 4: Indivíduos de Xanthopsar flavus com Pseudoleistes virescens.
101
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103
EXTRATO DE AROEIRA (SCHINUS MOLLE
L.) SOBRE O CRESCIMENTO IN VITRO DE
FUNGOS DA CULTURA DO ARROZ
Clarissa Santos da Silva1
Caroline Gonçalves Vieira 2
Roseane Maidana Moreira3
Marcelo Benevenga Sarmento4
1
Bióloga, Drª Instituto Biotecnológico de Reprodução Vegetal, URCAMP [email protected]
Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas, [email protected]. 3 Bióloga,
Mestranda em fruticultura, Universidade Federal de Pelotas [email protected]. 4 Eng. Agr. Dr.
Pesquisador Colaborador, URCAMP [email protected]
A avaliação do efeito de diferentes concentrações
de extrato hidroalcoólico de aroeira sobre o
crescimento in vitro dos fungos Fusarium sp. e
Drechslera sp. isolados de sementes de arroz consiste
em relevante contribuição para os estudos com este
cereal.
104
INTRODUÇÃO
O arroz irrigado (Oryza sativa L.) é a cultura mais extensamente cultivada no
mundo, constituindo-se a base da alimentação de vários povos, inclusive o brasileiro.
Somente o Estado do Rio Grande do Sul contribui com 50% da produção nacional
desse cereal (CONAB, 2011), participando com 3,6% do total do PIB agrícola
brasileiro. No entanto, ocorrência de doenças é um dos maiores fatores de restrição à
produção. A planta de arroz, em qualquer fase de desenvolvimento, está sujeita a
doenças que reduzem tanto a qualidade quanto a quantidade final do produto
(MIURA, 2002).
Dentre as doenças de importância econômica para a cultura pode-se destacar a
Mancha Parda causada pelo fungo Drechslera oryzae (PRABHU e FILIPPI, 1997),
bem como a Mancha das Glumas causada causadas por fungos dos gêneros Phoma,
Curvularia, Fusarium, Alternaria e Nigrospora (RIBEIRO, 1984).
No combate a essas doenças, os agricultores têm utilizado diversos compostos
químicos tóxicos, os agrotóxicos, a exemplo dos fungicidas, e como consequências
desse aumento, há a contaminação do solo, da água, dos alimentos e dos ecossistemas
(CAMPANHOLA, 2003).
Frente a isso novas alternativas devem ser estudadas, visando à conservação do
meio ambiente e à qualidade de vida dos consumidores e trabalhadores, com práticas
de controle de doenças com uso de produtos ou substâncias naturais, objetivando
otimizar a produção de alimentos saudáveis, de alta qualidade e menor impacto ao
meio ambiente.
As pesquisas com o uso de substâncias orgânicas vegetais para o controle de
pragas e doenças na agricultura e pecuária intensificaram-se no mundo inteiro, dentro
do novo enfoque de desenvolvimento tecnológico que se tem proposto para a
exploração agrícola, revendo e revelando novos conceitos de sustentabilidade.A
agricultura sustentável, que pode ser definida como aquela que utiliza recursos
naturais racionalmente, visando suprir as necessidades das gerações presentes e
futuras, abrange a utilização de compostos químicos presentes nas plantas e que são
resultados do metabolismo primário e secundário (CRUZ et al., 2000).
As plantas possuem compostos secundários que tanto podem apresentar
atividade direta, por meio de extratos brutos e óleos essenciais de plantas sobre
fitopatógenos como bactérias, nematoides e fungos (FRANZENER et al., 2007), ou
indireta, ativando mecanismos de defesa das plantas aos patógenos (SCHWANESTRADA e STANGARLIN, 2005).
A diversidade de substâncias ativas em plantas medicinais tem motivado o
desenvolvimento de pesquisas envolvendo o uso de extratos e óleos vegetais, obtidos
105
de diversas espécies botânicas, no intuito de explorar sua atividade fungitóxica
(FRANZENER et al., 2003).
Trabalhos com extratos obtidos aquosos e óleos essenciais a partir de espécies
vegetais têm sido desenvolvidos e os resultados tem indicado um potencial favorável
no controle de fitopatógenos, devido a sua ação fungitóxica (SCHWAN-ESTRADA et
al., 2000; SCHWAN-ESTRADA et al., 2003; SALUSTIANO et al., 2006; SCAPIN et
al., 2010).
Percebe-se, desta forma, que estudos têm se intensificado no sentido de garantir
uma melhor qualidade de produtos e de vida. Em virtude da escassez de trabalhos com
extratos de aroeira no combate a fungos causadores de doenças de plantas, bem como
a importância dos fungos Fusarium sp. e Drechslera sp. em várias culturas,
destacando-se o arroz, que é uma das culturas de maior importância para o nosso
estado, se faz necessário o estudo do efeito de extratos vegetais sobre estes patógenos
como possível alternativa para o controle dos mesmos.
O presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de diferentes
concentrações de extrato hidroalcoólico de aroeira sobre o crescimento in vitro dos
fungos Fusarium sp. e Drechslera sp. isolados de sementes de arroz.
METODOLOGIA
O fungos Fusarium sp. e Drechslera sp. foram isolados a partir de sementes de
arroz, os quais foram cultivados em meio BDA (batata-dextrose-ágar) por período de
7 dias e após, mantidos em geladeira para posterior uso nos testes.
O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Fitopatologia vegetal
(Intec/Urcamp). Foram coletadas cascas de aroeira-piriquita (Schinus molle L.) na
região de Bagé/RS. O material foi submetido a um processo de trituração e
posteriormente foi imerso em um recipiente contendo álcool 70% na proporção 1:10,
onde permaneceu por um período de sete dias no escuro. Após, os frascos foram
mantidos abertos por sete dias para evaporação do álcool. Posteriormente, o extrato
hidroalcoólico foi filtrado com algodão e recolhido em erlenmeyer devidamente
identificado e em seguida, homogeneizado ao meio de cultura BDA (batata-dextroseagar) fundente, de modo a obter as diferentes concentrações de 0, 10, 20 e 25%.
O meio homogeneizado foi vertido em placas de petri e após a solidificação, um
disco de 8mm de diâmetro contendo micélio do patógeno foi colocado no centro de
cada placa, as quais foram mantidas a 25°C com fotoperíodo de 12h. O efeito dos
extratos sobre o crescimento micelial foi avaliado através da medição do diâmetro (em
cm) das colônias (médias de duas medidas opostas) às 48, 72, 96, 120 e 144 horas
após a instalação do experimento e comparado com o controle que não recebeu
extrato.
106
O delineamento experimental empregado foi inteiramente casualisado com
quatro repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância pelo programa
Winstat (MACHADO & CONCEIÇÃO, 2003), sendo as comparações de médias
feitas pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade, e o crescimento micelial do fungo
pela análise de regressão polinomial.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com os resultados obtidos, constatou-se que as concentrações do
extrato hidroalcoólico de aroeira utilizados foram eficazes na inibição do crescimento
micelial dos fungos Fusarium sp. e Drechslera sp. com relação ao tratamento
testemunha (Figuras 1 e 2).
Dados semelhantes foram obtidos por Carvalho et al. (2003), onde obtiveram
resultados satisfatórios in vitro e in vivo na inibição do crescimento micelial de
Fusarium subglutinans, usando extrato de aroeira em substituição aos fungicidas
durante o período de abertura das flores em abacaxizeiro. Lima et al. (2010),
corroboram com estes dados relatando que o extrato de aroeira mostrou resultados
efetivos na redução do desenvolvimento de Coletrotrichum gloeosporioide in vitro.
A inibição total dos fungos pelo extrato de aroeira neste trabalho (Figura 1 e 2),
difere dos dados relatados por Coutinho et al. (1999), onde menor incidência de
Aspergillus flavus em sementes de feijão, só foi encontrada na utilização deste extrato
com fungicidas. Souza et al. (2003) em trabalhos com sementes de algodão, não
verificaram controle de Fusarium sp. com a utilização de extrato de aroeira.
Observa-se ainda, que todas as concentrações do extrato hidroalcoólico de
aroeira utilizados, apresentaram uma inibição total do crescimento micelial para
ambos os fungos, não diferindo estatisticamente entre si (FiguraS 1 e 2). Assim, podese afirmar que, independente da concentração usada, todas as concentrações foram
eficazes na inibição fúngica, diferentemente de alguns autores, os quais encontraram
maior inibição de extratos à medida que se aumentou a concentração dos mesmos
(DOMINGUES et al., 2009; MILANESI et al., 2009). Uma visão da eficiência dos
tratamentos em relação a testemunha também é mostrada na Figura 3.
Lima et al. (2004) discutem que esta atividade antibacteriana e antifúngica está,
possivelmente, associada à presença de certos compostos químicos, em especial de
taninos, além de compostos presentes em menor quantidade, como os alcalóides,
esteróides, chalconces e urundeuvinas.
Em estudos de avaliação de extratos vegetais e/ou óleos essenciais de alho e
capim-santo, sobre o crescimento de Fusarium moniliforme, Owolade et al. (2000)
mostraram que esses produtos podem inibir ou até suprimir o desenvolvimento deste
fungo. Paul e Sharma (2002) ratificam esses resultados em avaliações do efeito de
107
extratos aquosos de folhas de nim (Azadirachta indica A. Juss.) na severidade da
doença causada por Drechslera graminea em cevada. Assim, estudos realizados in
vitro demonstram o potencial das plantas sobre o controle de fungos fitopatogênicos.
Figura 1. Crescimento micelial (cm) de Fusarium sp. em diferentes concentrações do extrato
hidroalcoólico de casca de aroeira em diferentes tempos de incubação.
Figura 2. Crescimento micelial (cm) de Drechslera sp. em diferentes concentrações do extrato
hidroalcoólico de casca aroeira em diferentes tempos de incubação.
108
CONCLUSÕES
O extrato hidroalcoólico de casca de aroeira inibe significativamente o
crescimento micelial. As diferentes concentrações do extrato não apresentam entre si
diferença de inibição fúngica.
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110
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DO
GÊNERO CROTON L. (EUPHORBIACEAE)
NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
Rafael Plá Matielo Lemos1
1
Universidade
da
Região
[email protected]
da
Campanha,
Universidade
Federal
do
Croton L. é o segundo maior gênero da família
Euphorbiaceae, sendo importante componente da flora
mundial. Estima-se que no Brasil ocorram cerca de 400
espécies com mais de 70% de endemismos. Croton
possui importância econômica, na produção de óleos e
fármacos, além de um caráter ornamental valioso, de
algumas espécies.
111
Pampa.
INTRODUÇÃO
Croton L. é o segundo maior gênero da família Euphorbiaceae, sendo
importante componente da flora mundial. Estima-se que no Brasil ocorram cerca de
400 espécies com mais de 70% de endemismos. Croton possui importância
econômica, na produção de óleos e fármacos, além de um caráter ornamental valioso.
É considerado por muitos autores como um “gênero problema”, em função do número
de espécies atribuídas ao gênero, sua diversidade, tamanho de estruturas florais,
caracteres de indumento e semelhança morfológica entre muitos táxones.
Em segmentos isolados do território nacional foram realizadas algumas
compilações, mas que estão longe de considerar toda a diversidade de espécies desse
gênero.
No estado do Rio Grande do Sul não há trabalhos recentes que contemplem o
gênero Croton, no entanto, há registros de coleta e endemismos, verificados e
analisados nesse trabalho por meio de revisões de herbários e busca de artigos
indexados.
Esse trabalho justifica-se pela necessidade de identificar os locais de ocorrência
e distribuição geográfica desse gênero no estado servindo de suporte para futuros
trabalhos com taxonomia e estudo do estado de conservação das espécies.
O Gênero Croton L. e a Família Euphorbiaceae
A família Euphorbiacae predominantemente distribuída na região pantropical,
incluí aproximadamente 300 gêneros e 6000 espécies, enquanto que no Brasil ocorrem
cerca de 70 gêneros e 1000 espécies (SOUZA E LORENZI, 2008).
Souza e Lorenzi (2008) informam que as euforbiáceas são compostas por ervas,
arbustos, árvores ou lianas, podendo ocorrer de serem áfilas e semelhantes a cactáceas,
geralmente com látex, às vezes espinescentes.
Segundo Glimn-Lacy e Kaufman (2006) e Simpson (2006) a família possui
grande importância econômica. Óleos para tintas e vernizes de secagem rápida,
borracha, a batata-doce, muitos táxons com potencial ornamental dos gêneros
Euphorbia, Croton, Pedilanthus, Riccinus entre outros. Na área médico-farmacêutica
diversos óleos e metabólitos secundários são aproveitados além de diversas espécies
que são venenosas cuja seiva leitosa causa dermatite grave, e também a mamona
(Riccinus communis) pode até levar a morte se ingerida.
De acordo com Lima e Pirani (2008) Croton é exemplo de “gênero problema”,
pois inclui elevado número de espécies, além de ser complexo taxonomicamente. Tem
sido negligenciado em favor de gêneros mais claramente delimitados e para muitos
botânicos Croton tem se provado uma incógnita taxonômica.
112
De acordo com Caruzo e Cordeiro (2007) o gênero Croton L. é composto por
subarbustos, arbustos ou árvores com indumento de tricomas estrelados, estreladolepidotos ou lepidotos. Possuem folhas simples, sempre inteiras, alternas, com
estípulas, o ápice do pecíolo ou base do limbo, frequentemente com glândulas,
estipitadas ou sésseis. As inflorescências, terminais, do tipo tirso ou cimeiras
geralmente portando flores pistiladas na porção proximal da raque e estaminadas na
terminal, mais raramente com flores pistiladas e estaminadas na porção proximal;
flores estaminadas diclamídeas, pétalas geralmente vilosas nas margens,
principalmente junto à base, com tricomas simples, longos e receptáculo piloso. O
disco, de cinco glândulas opostas às sépalas, raramente é inteiro, e os estames, em
número de 10-100, são encurvados no botão. Flores pistiladas com pétalas reduzidas
ou ausentes, disco inteiro, raramente dividido, estiletes bífidos a multifidos, alvos a
esverdeados, ovário 3-carpelar, 3-locular, um óvulo anátropo por lóculo. Fruto cápsula
septicida-loculicida, de deiscência explosiva; sementes globosas, subglobosas a
elipsóides, com carúncula, lisas a verrucosas.
Para o Rio Grande do Sul, Allem (1978) estimou cerca de 40 espécies, mas não
propôs uma chave de identificação o que segundo ele não foi possível pela carência de
dados ecológicos e taxonômicos para grande parte das espécies.
Webster (1993) fez o mais importante registro que se tem acerca desse gênero
até então. Em sua proposta de divisão infragenérica, Croton foi separado em 40 seções
e 5 subseções com descrição taxonômica detalhada o que permitiu que esse gênero
pudesse ser estudado mais afundo e com maior precisão a partir da década de 1990.
Pollito et al. (2004) estimaram em 750-1000 espécies válidas para Croton, das quais
400 são estimadas para a flora brasileira, sendo 300 endêmicas. Os autores ainda
citaram um total de 43 espécies para o Rio Grande do Sul sendo 18 destas endêmicas
para o referido estado.
O Rio Grande do Sul e seus Biomas
O Rio Grande do Sul está localizado no extremo sul do Brasil e delimita-se
pelas coordenadas 27º e 33º S e 49º e 53º W, contempla uma superfície de cerca de
280.000 km² e faz fronteira com o Uruguai, Argentina e o estado brasileiro de Santa
Catarina. Sua fitofisionomia é composta por dois importantes biomas: o Bioma Mata
Atlântica e o Bioma Pampa. (BOLDRINI, 2009).
O Bioma Pampa ocupa cerca de 2% do território brasileiro e no Brasil está
restrito ao estado do Rio Grande do Sul onde ocupa 63% de sua área. De acordo com
Boldrini et. al. (2010) e Deble et. al. (2011), esse Bioma, que se encontra situado ao
sul do paralelo 30ºS, está na fronteira entre as zonas climáticas tropical e subtropical
onde é evidenciada a interposição de campos e florestas em seu território geográfico.
113
Conceitua-se Mata Atlântica como a porção territorial recoberta por florestas
densas que acompanha o litoral do Oceano Atlântico e se estende do Rio Grande do
Sul ao nordeste adentrando no país por algumas faixas, inclui as florestas caducifólias
e semicaducifólias. O regime pluviométrico elevado determina a grande diversidade
biológica que ultrapassa 20.000 espécies com alto nível de endemismos (MMA,
1998).
METODOLOGIA
Foi realizada revisão de exsicatas dos seguintes herbários: CNPO, HAS
(incluindo o herbário particular de “João de Mattos” depositado neste acervo), ICN,
PACA além dos registros do INCT (Herbário Virtual da Flora e dos Fungos), da
“Flora del Conosur” (Herbário Virtual do “Instituto de Botánica Darwinion”) e do NY
(Herbário Virtual do Jardim Botânico de Nova York). Os exemplares foram,
fotografados com câmera digital semi-profissional da marca Nikon®, modelo D3000
com sensor CCD de 10.2MP, com lentes Nikkor® AF-S VR 18-55mm e Nikkor® AFS Micro 40mm 2.8G, de suas fichas catalográficas foram retirados os dados de coleta
que foram compilados no programa “GPS Trackmaker Pro” de onde foram retirados
os mapas para distribuição geográfica.
RESULTADOS
Registros em Croton L. foram obtidos por pesquisa no INCT (Herbário Virtual
da Flora e dos Fungos) onde dados confiáveis sobre o acervo nacional puderam ser
observados. Nesse registro constam 41 espécies diferentes de Croton somente para o
estado do Rio Grande do Sul das mais diversas regiões fisiográficas. Dados da “Flora
del Conosur” foram retirados do sistema virtual do “Instituto de Botánica Darwinion”
onde 54 espécies são citadas para o Rio Grande do Sul. Os dados de Pollito et al.
(2004) também foram compilados onde os autores citam 43 espécies sendo 18
endêmicas para o estado. Cruzando os dados com o INCT e com o Instituto de
Botánica Darwinion foi constatado que muitas das espécies registradas em uma
bibliografia não ocorriam nas outras o que, unindo a espécies registradas por outros
autores (ALLEM, 1978; DEBLE, 2011), demonstra que há um volume muito grande e
disperso de informação sobre as espécies que ocorrem nesse Estado. Outro dado
relevante é a quantidade de sinonímias encontradas dentro desse gênero visto que sua
diferenciação taxonômica infragenérica é bastante complicada.
Das 83 espécies citadas 53 apresentam pelo menos uma sinonímia destas foram
confirmados 70 nomes válidos sendo que 35 espécies foram encontradas nos registros
de herbários físicos contabilizando um total de 1588 fotografias de 508 exsicatas cujos
dados de coleta estavam completos.
114
Mediante os dados obtidos com a revisão de herbários, foi feita a compilação de
dados para a elaboração da tabela e a confecção do mapa.
Tabela 1: Lista de espécies do Gênero Croton L. encontradas com distribuição geográfica confirmada por
análise de exsicatas.
ESPÉCIE
C. aberrans Müll.
Arg.
REGISTRO DE HERBÁRIO
ICN 8831; 8799; 26971; 29944; 26907;
26866; 30273; 8997; 50181; 31432; PACA
9669; 9383; 53006; 9881; 56143
LOCAL DE COLETA
Sarandi; Passo Fundo; Giruá; Santa Rosa;
Cruz Alta; Ronda Alta; Natalino; São Borja;
Viamão; Torres; Jarí; Tupanciretã; Santo
Ângelo;
C. argyrophyllus
Kunth
ICN 163724
Bom Jesus
C.
calyciglandulosus
Allem
PACA 1450
São Leopoldo; Encruzilhada do Sul
C. campestris A.
St.-Hill
PACA 48037; 104426; 37007
São Luiz das Missões; Ijuí; Vale Vêneto;
Cerro Largo
C. ceanothifolius
Baill.
ICN 119865; 29447; 7041; 7060; 20786;
PACA 45985; 48970; 51550; 51763
Torres; Viamão; Vacaria; Osório
C. celtidifolius
Baill.
ICN 120553; 47095; 123657; 83884; HAS
28372
Morrinhos do Sul; Tajuva; São Francisco de
Paula; São José dos Ausentes; Torres
C. didrichsenii G.
L. Webster
ICN 152777; PACA 3000; 10147; 30039;
50000; 57809; 60298
São Francisco de Assis; Cruz Alta;
Tupanciretã; Passo Fundo; Ijuí
C. dracunculoides
Baill.
ICN 84475; 96840; 81483; 115777; PACA
70353; 68923; 74331; HAS 8299; 32262;
36589; 38616; CNPO 1133
Canguçu; Bagé; Gravataí; Santiago; Torres;
São Francisco de Paula
C. dusenii Croizat
HAS 10914; 17134; 12517; 18774; 13439;
4109; 12395; 12124; 5561; 10084; 12122;
11358; 10047; 10104; 11034; 10631; 10523;
10421; 12051
Porto Alegre; São Jerônimo; Alvorada;
Viamão
C. echinulatus
Griseb) Croizat
ICN 188628
São Francisco de Assis; Taquari
C. ericoideus Baill.
ICN 47470; 130220; 29761; 25278; 130219;
9267; 20802; 130221; PACA 110; 45186;
46768; 48773; 54764; 54824; 55886; 55887;
92037; 61458; 61459; 86465; HAS 306;
79955; 20075; CNPO 2428; 2639
Curumim; Arroio do Sal; Osório;
Tramandaí; Torres; Palmares do Sul; Bom
Jesus; Caçapava do Sul
C. glechomifolius
Müll. Arg.
PACA 3047; 28099; 56074
Cruz Alta; Nonoai; Dr. Pestana; Ijuí
C. gnaphalii Baill.
ICN 103629; 155144; 124882; 119870;
119869; 128435; 147957; 127222; 151635;
26938; PACA 107; 2515; 11955; 27165;
29001; 37338; 39168; 43333; 44163; 46745;
47092; 48880; 48802; 48806; 48838; 50563;
54425; 64311; JM 21119; 20862; 2969;
Caçapava do Sul; Porto Alegre; Bagé;
Guaiba; Viamão; Camaquã; Barra do
Ribeiro; Pelotas; São Borja
115
5320; 6874; 3727; 17385; 6692; 1160;
20922; HAS 614; 28462; CNPO 3156; 2599;
2177; 2176; 1221
C. helichrysum
Baill.
ICN 81501; PACA 48835; 48877; 55917;
49280; 61457; 86513; 61456; 86370; JM
3683; 3368; 22278; 17309; 1705; 19200;
18203; 4944; HAS 2148; 155; 2295; 1415
Santana da Boa Vista; Viamão; Osório;
Gravataí; Palmares do Sul; Barra do Ribeiro;
Pelotas; Encruzilhada do Sul; Bagé;
Caçapava do Sul; Passo Fundo; Sarandi;
Carazinho
C. hirtus L'Hér.
PACA 4799; 8991; 4842; 33343; 31092;
29982; 28797; 28711; 34779; 35848; 44968;
56139; 56553; 57184; 62782
Canela; Bom Jesus; Caxias; Vacaria; Dr.
Pestana; Ijuí; Rosário do Sul; Farroupilha
C. humilis Didr.
ICN 26925; 42969; 30243; 30258; 22128;
26973; 8504; 26906; 30222; 18669; 83409;
83402; 26970; 167188; 26867; 89337;
86128; 86133; 86147; 83400; 26988;
159864; 22090; 26933; 45376; 90339;
21125; 166561; PACA 1784; 3823; 10123;
28458; HAS 32307
Quaraí; Santo Ângelo; Santo Antônio; São
Luiz Gonzaga; São Borja; São Francisco de
Assis; Alegrete; Giruá; Santa Rosa;
Harmonia; Santana do Livramento; Ronda
Alta, Natalino; Carazinho; Cruz Alta; Três
Passos; Unistalda; Santiago; Vitória das
Missões; Ijuizinho; Tupanciretã; Nonoai
C. isabelli Baill.
ICN 47661; PACA 1457; 29735; 38593;
39004; 50569
Torres; São Leopoldo; Parecí; Montenegro;
Gravataí
C. julopsidium
Baill.
PACA 4735; 47400; 47797; 51114; 104427
Canela; Montenegro; Pinhal; Vale Vêneto
C. lanatus Lam.
ICN 29446; 4744; 67860; 1354; 81152;
25277; 96841; 29433; 40027; 42319; 88862;
155145; 119744; 119850; 127317; 92585;
119877; 119863; 47662; 34605; 42314;
27734; 27042; 16200; 7065; 30484; 27725;
3031; 20785; 31254; 84362; 67005; 9242;
30360; 119866; 119862; 119864; 119876;
92580; 18670; 31254; PACA 102212; 104;
106; 33144; 37492; 40888; 41054; 42968;
43830; 44432; 44535; 45211; 46770; 46958;
48745; 48846; 61460; 63559; 86736; 94138;
2211; 48073; 48165; 36220; 35642; 28463;
34774; 62597; 82136; 86621; HAS 32289;
127; 32302; 10708; 32293; 12345; 10503;
12015; 32281; 32271; 32270; 32261; 32311;
32303; JM 18691; 6860; CNPO 3014; 2773;
2832; 3165; 1138; 2833; 2829
Montenegro; Iraí; Cambará; São Francisco
de Paula; Nonoai; Vacaria; Farroupilha;
Salvador do Sul; Torres; Itapeva; Santo
Antônio da Patrulha; Cidreira; Caçapava do
Sul; Porto Alegre; Passo Fundo; Viamão;
Lavras do Sul; Viamão; Osório; Palmares do
Sul; Cachoeira do Sul; Tramandaí; Bagé;
São Luiz Gonzaga; Santana da Boa Vista;
Encruzilhada do Sul; Eldorado do Sul
C. lobatus L.
ICN 9658; 23642; 160454; 116302; 7467;
44459; 133899; 18664; 26965; 8937; PACA
98461; JM 16623; 19560; 22845
Porto Alegre; Itacurubi; Santo Amaro;
General Câmara; Não-Me-Toque; Tenente
Portela; Ijuí
C. malacotrichus
Müll. Arg.
HAS 3269; 20077; CNPO 3089; 1339; 3169;
1341; 2824; 2831; 2836
Caçapava do Sul; Bagé
C. montevidensis
Spreng.
ICN 120300; 151543; 118393; 85642;
59161; 167308; 42662; 85252; 152247;
61803; 35330; 92591; 42663; 92593; 67898;
59161; 40772; 95398; 40689; 167747;
40870; PACA 26013; 26358; CNPO 1079
Cachoeira do Sul; Santana da Boa Vista;
Guaiba; Taquari; Mariana Pimentel; Porto
Alegre; Encruzilhada do Sul; Eldorado do
Sul; Lavras do Sul; Piratiní; Caçapava do
Sul; Pantano Grande; Butiá; Santiago;
Quaraí; Bagé
116
C. myrianthus Müll.
Arg.
ICN 68940; 81464; 26918; 119885; 35924;
32629; 69866; 68262; 61826; 119881;
61812; 119867; 50463; 64468; 50462; 5727;
29428; 86866; 62675; 8124; 27357; 30505;
18671; 29427; 119886; 119882; 24068;
24311; 32891; 81213; 163693; 87027;
42104; 64303; PACA 1815; 2540; 4316;
4330; 4567; 4624; 4831; 4990; 8496; 8624;
8810; 11549; 11636; 28750; 31088; 32203;
32425; 34765; 35238; 35760; 52969; 53795;
53879; 53911; 53855; 53968; 53975; 55050;
55051; 56267; 56757; 57365; 61691; 66454;
66535; 76210; 85120; 85121; 4312; 44903;
45539; 45656; 46285; 47176; 49354; 49407;
50064; 50066; 50076; 50106; 50161; 50164;
50413; 50413; 50543; 52768; 52967
Esmeralda; Canela; Cambará do Sul;
Jaquirana; São Francisco de Paula; Caxias
do Sul; Canoas; Gramado; Ronda Alta;
Passo Fundo; São José dos Ausentes; Bom
Jesus; Pelotas; Vacaria; Barracão;
Farroupilha
C. nitrariifolius
Baill.
PACA 57285; 57290; JM 7172; 31333;
22214; 23895; 19183; HAS 9527; 3053;
3736; 8418
Porto Alegre; Bagé; Arroio dos Ratos;
Pelotas; Encruzilhada do Sul; Pinheiro
Machado; Guaiba; Gravataí
C. parvifolius Müll.
Arg.
ICN 159198
Manoel Viana
C. pycnocephalus
Baill.
ICN 19532; 129246; 42594; 124576; 59162;
118394; 110146; 31513; 119884; 31514;
34613; 95397; PACA 9878; 9907
Gravataí; Santa Cristina do Pinhal; Porto
Alegre; Mariana Pimentel; Guaíba; Arroio
dos Ratos; Barra do Ribeiro; Tupancieretã
C. pygmaeus L. R.
Lima
ICN 81535; 81534; 87377; 87376; 96842;
69904; 113388; 160835; PACA 74332
Caçapava do Sul; Bagé
C. reitzii L. B. Sm.
& Downs
ICN 30481; 26894
Giruá; Nonoai;
C. serratifolius
Baill.
ICN 29176
Taquari
C. splendidus Mart.
ex Colla
JM 23370; 22662
Bom Jesus; Cambará do Sul; Bom jardim da
Serra;
C. stenotrichus
Müll. Arg.
ICN 47050; PACA 105; 44349; 51692
Cambará do Sul; Canoas; Porto Alegre;
Gravataí; Vacaria; passo do Socorro
C. subpannosus
Müll. Arg. Ex
Griseb.
ICN 152729; 152714; 153154; PACA 60769
Alegrete; Manoel Viana; São Francisco de
Assis; Taquarí; Cerro do Tigre; Lajeado
C. triqueter Lam.
ICN 26961; 21646; 90822; 26893; 88025;
57510; PACA 28161; 28162; 48190; HAS
32279
Tenente Portela; Nonoai; Santiago; São
Francisco de Assis; Jaguarizinho; Iraí;
Manoel Viana
C. urucurana Baill.
ICN 5979; 26278; 29141; PACA 98472;
HAS 32260
Tenente Portela; Porto Alegre
C. uruguayensis
Baill.
ICN 166078; 9412; 119883; 167055;
119868; 26922; 155358; PACA 25756;
4293; 50949; CNPO 856
Bom Jesus; São José dos Ausentes; Cambará
do Sul; Itaimbezinho; Quaraí; Caçapava do
Sul; Santa Cecília; São Gabriel; São
Francisco de Paula; São Francisco de Assis;
Bagé
117
Figura 1: Mapa do estado do Rio Grande do Sul com marcação das cidades onde ocorre pelo menos uma
espécie registrada do gênero Croton L.
CONCLUSÃO
Através da análise desses dados pode-se concluir que o Gênero Croton L.
necessita de estudos mais detalhados, coletas mais recentes e análise mais aprofundada
dos espécimes depositados nos herbários, pois várias das exsicatas analisadas ainda
118
carecem determinação. Apesar da falta de trabalhos foi possível verificar a grande
abrangência e importância do gênero para o estado do Rio Grande do Sul, visto que
mesmo com registro de coleta de cerca de apenas 50% das espécies citadas há
ocorrência de espécimes em todas as regiões fisiográficas do estado. A complexidade
do gênero e dificuldade de determinações de suas espécies dificultam muito sua
análise.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALLEM, A. C. Preliminares para uma abordagem taxonômica do gênero Croton L.
(EUPHORBIACEAE) no Rio Grande do Sul, Brasil. Boletim do Museu Botânico
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..
119
LEVANTAMENTO PRELIMINAR DA
AVIFAUNA NO MUNICÍPIO DE
ALEGRETE /RS
Letícia Souto de Freitas1
1
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade da Região da Campanha-URCAMP, Alegrete, RS.
[email protected]
Diversos estudos revelam espécies endêmicas,
ameaçadas e migratórias que utilizam áreas campestres em
algum momento de suas vidas. O conhecimento da
distribuição destas espécies é de grande valia quando se fala
em preservação, uma vez que as aves são importantes
indicadores ambientais.
120
INTRODUÇÃO
Na área de vegetação campestre do Estado do Rio Grande do Sul, estão cerca de
21% das espécies de aves descritas para o continente americano. O município de
Alegrete está inserido nesta área e até o momento puderam ser observadas ao longo de
suas estradas cerca de 110 diferentes espécies de aves o que torna impossível não
imaginar seu real potencial no que diz respeito à biodiversidade.
Diversos estudos revelam espécies endêmicas, ameaçadas e migratórias que
utilizam áreas campestres em algum momento de suas vidas. O conhecimento da
distribuição destas espécies é de grande valia quando se fala em preservação, uma vez
que as aves são importantes indicadores ambientais.
Ao longo da história acredita-se que as aves tenham evoluído de um grupo de
pequenos dinossauros carnívoros há cerca de 200 milhões de anos, quando competiam
com pterossauros pelo domínio do ar. Porém há 65 milhões de anos, quando estes
foram extintos, aves e mamíferos tiveram a oportunidade de dominar a superfície
terrestre e dar início a uma nova fase de sua evolução (POPOLIO, 2008).
Hoje, no mundo, são cerca de 9700 espécies de aves, sendo que a região
neotropical possui alto índice de endemismos, pois durante muito tempo manteve-se
como uma ilha isolada até o soerguimento da América Central que funcionou como
uma ponte para a dispersão das espécies (ARES, 2008).
Os campos sulinos determinam uma província com diferentes “feições
morfológicas e condições ecológicas” (MARCHIORI, 2004:50), sendo caracterizados
por Lindman (1974) como transição entre o domínio de florestas e o dos pampas. São
dominados por planícies cobertas de gramíneas, muitas vezes com arbustos ou
arvoretas (LINDMAN, 1974). No Rio Grande do Sul, representam cerca de 2/3 da
cobertura vegetal (MARCHIORI, 2004), abrigando cerca de 21% das espécies de aves
descritas para o continente americano (BENCKE, 2009).
A região da Campanha, localizada a sudoeste do território riograndense, possui
cerca de 50.000 Km², onde a vegetação rica em gramíneas e leguminosas recobre
colinas de suave ondulado sendo interrompida por cordões de galeria ao longo dos
cursos d’água (RAMBO, 2000).
A avifauna na campanha gaúcha já foi estudada, entre outros, por Belton
(1994), Accordi (2003), Costa (2005), Efe et al (2007), Repenning & Fontana (2008) e
Sema (2001). Contudo, estes estudos ainda são poucos se comparados aos esforços
desprendidos no conhecimento da biodiversidade de outras áreas e biomas.
Desta forma, este estudo busca o levantamento de espécies da avifauna do
município de Alegrete, localizado na fronteira-oeste, onde são escassos são escassas as
informações nesse sentido.
121
METODOLOGIA
A obtenção de dados foi feita ao longo de rodovias distribuídas por todo o
território municipal de Alegrete, localizada na Fronteira-Oeste do Rio Grande do Sul.
Eventualmente foram realizadas paradas para observação em distintas fitofisionomias,
como campos com características herbáceas ou ainda com arbustos e árvores esparsas,
capões de mato e florestas de galeria. Também foram feitas observações enquanto o
veículo se deslocava. Para auxiliar no processo de registro foi utilizada câmera Canon
Power Shot SX10IS. De junho de 2011 a março de 2012, foram percorridos cerca de
218 Km.
O horário estabelecido para observação foi desde o nascer do sol (com variação
de horário ao longo das estações) até cerca de 4 horas após o mesmo. Deve-se ressaltar
que observações feitas ao acaso, no mesmo período de meses, fora dos dias e horários
estabelecidos para coleta de dados, também foram consideradas.
As aves registradas foram identificadas com base em Narosky & Yzurieta
(2010), Frisch & Frisch (2005), Belton (1994) e Sick (1997), a lista de espécies foi
elaborada de acordo com a taxonomia do Comitê Brasileiro de Registros
Ornitológicos- CBRO (2011). Finalmente, o estado de conservação de cada espécie foi
atribuído com base na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da
Natureza e dos Recursos Naturais – IUCN (versão 3.1). O status de ocorrência no
estado foi baseado em Bencke (2001).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao longo dos 7.803,990km² pertencentes ao território alegretense, foi até o
momento, observado um total de 110 espécies, distribuídas em 42 famílias.
A maior parte dos registros apresenta status pouco preocupante diante lista da IUCN
(versão 3.1), chamando atenção apenas para Rhea americana (LINNAEUS, 1758) que
configura como quase ameaçada.
Rhea americana (ema): observada em várias oportunidades, em bandos de vários
indivíduos, ao longo de todas as regiões amostradas.
De acordo com Bencke (2001), seis espécies enquadram-se como residentes de
primavera/verão, nidificando no estado: Mycteria americana Linnaeus, 1758,
Butorides striata (Linnaeus, 1758), Myiodynastes maculatus (Statius Muller, 1776),
Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819, Tyrannus savana Vieillot, 1808 e Progne
tapera (Vieillot, 1817). Duas espécies são visitantes migratórios vindos do hemisfério
norte: Tringa flavipes (Gmelin, 1789) e Calidris melanotos (Vieillot, 1819). Os
demais registros representam as aves residentes anuais, porém quatro destas são
assumidas, mas não confirmadas para o Rio Grande do Sul: Bubo virginianus
122
(Gmelin, 1788), Heliomaster furcifer (Shaw, 1812), Lepidocolaptes angustirostris
(Vieillot, 1818) e Poospiza melanoleuca (D'orbigny & Lafresnaye, 1837).
Mycteria americana (cabeça-seca): observado várias vezes em grupos principalmente
ao noroeste e norte do município, em lavouras de arroz e açudes, quase sempre
acompanhados de indivíduos de Platalea ajaja, Ardea alba, Egretta thula e Bubulcus
íbis.
Butorides striata (socozinho): observado em duas ocasiões. Um indivíduo adulto e
um imaturo a beira de uma estrada próxima a lavoura de arroz adjacente à área urbana
em direção norte. Outro indivíduo solitário foi avistado às margens do arroio Inhanduí
em direção noroeste.
Myiodynastes maculatus (bem-te-vi-rajado): apenas um registro feito em capão de
mato ao longo de estrada no sentido sudoeste no dia 3 de dezembro de 2011.
Tyrannus melancholicus (suiriri), Tyrannus savana (tesourinha) e Progne tapera
(andorinha-do-campo): Foram observados em todas as saídas a campo e inclusive na
área urbana do município.
Tringa flavipes (maçarico-de-perna-amarela): alguns indivíduos observados ao
noroeste do município em áreas úmidas, normalmente acompanhados de Amazonetta
brasiliensis, Plegadis chihi e Syrigma sibilatrix.
Calidris melanotos (maçarico-de-colete): vários indivíduos em lavoura de arroz em
estágio inicial, junto com Phimosus infuscatus, Plegadis chihi, Amazonetta
brasiliensis, Egretta thula e inclusive Milvago chimango. Registro sob as coordenadas
29°47’00 S 55°45’45º O, no dia 17 de janeiro de 2012.
Bubo virginianus (jacurutu): um indivíduo observado em borda de capão de mato
em direção sudoeste no dia 5 de janeiro de 2012.
Heliomaster furcifer (bico-reto-azul): registrado na região sudoeste do município e
inclusive na área urbana ao longo de todo período de pesquisa.
Lepidocolaptes angustirostris (arapaçu-do-cerrado): foi registrado em várias
localidades e inclusive na área urbana, vocalizando frequentemente em todo o período
de pesquisa.
Poospiza melanoleuca (capacetinho): foi observado em três instantes, sempre em
dupla ou grupos de poucos indivíduos, na região sudoeste do município, próximo as
coordenadas 29°55’54 S 55°52’28 O, em agosto de 2011.
Das espécies acima citadas, Mycteria americana, Calidris melanotos,
Heliomaster furcifer e Poospiza melanoleuca não foram observadas no município de
Alegrete por Efe et al (2007), Accordi (2003) e Sema (2001). Outras cinco espécies,
citadas por Bencke (2001) como residentes anuais no estado, são novos registros para
o município em relação aos trabalhos consultados, como é o caso de Theristicus
123
caerulenscens (VIEILLOT, 1817), Platalea ajaja Linnaeus, 1758, Satrapa icterophrys
(Vieillot, 1818) e Cyanoloxia glaucocaerulea (D'orbigny & Lafresnaye, 1837).
Theristicus caerulescens (maçarico-real): dois indivíduos observados em formação
campestre de beira de estrada, sob as coordenadas 29º46’40 S 55°43’27 O, no dia 22
de fevereiro de 2012.
Platalea ajaja (colhereiro): observado em várias ocasiões em lavouras de arroz e
açudes de beira de estrada, quase sempre acompanhado de Mycteria americana e
Ardea Alba. Houve registros de indivíduos imaturos na região norte do município.
Satrapa icterophrys (suiriri-pequeno): alguns registros na região sudoeste do
município.
Cyanoloxia glaucocaerulea (azulinho): um registro em ponte sobre o arroio Inhanduí
a noroeste do município, no dia 24 de janeiro de 2012.
Tabela 1. Avifauna observada ao longo de estradas no município de Alegrete – RS, no período
de junho de 2011 a março de 2012. R= residente anual; # = status assumido mas não
confirmado; M= residente de primavera/verão migratório; nidifica no Rio Grande do Sul; N=
visitante migratório vindo do hemisfério norte; LC = pouco preocupante; NT = quase
ameaçada.
Ordem/Família/Espécie
Struthioniformes
Rheidae
Rhea americana (Linnaeus, 1758)
Tinamiformes
Tinamidae
Nothura maculosa (Temminck, 1815)
Anseriformes
Anhimidae
Chauna torquata (Oken, 1816)
Anatidae
Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766)
Amazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789)
Anas flavirostris Vieillot, 1816
Anas georgica Gmelin, 1789
Galliformes
Cracidae
Penelope obscuraTemminck, 1815
Ciconiiformes
Ciconiidae
Ciconia maguari (Gmelin, 1789)
Mycteria americana Linnaeus, 1758
Suliformes
Phalacrocoracidae
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin,
1789)
Pelecaniformes
Ardeidae
Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783)
Butorides striata (Linnaeus, 1758)
Bubulcus íbis (Linnaeus, 1758)
Nome vulgar
Status de
Ocorrência no
RS
Status de
Conservação
Mundial
ema
R
NT
perdiz
R
LC
tachã
R
LC
marreca-piadeira
marreca-pé-vermelho
marreca-pardinha
marreca-parda
R
R
R
R
LC
LC
LC
LC
jacuaçu
R
LC
joão-grande
cabeça-seca
R
M
LC
LC
biguá
R
LC
socó-boi
socózinho
garça-vaqueira
R
M
R
LC
LC
LC
124
Ardea cocoi Linnaeus, 1766
Ardea Alba Linnaeus, 1758
Syrigma sibilatrix (Temminck, 1824)
Egretta thula (Molina, 1782)
Threskiornithidae
Plegadis chihi (Vieillot, 1817)
Phimosus infuscatus (Lichtenstein,
1823)
Theristicus caerulescens (Vieillot,
1817)
Theristicus caudatus (Boddaert, 1783)
Platalea ajaja Linnaeus, 1758
Cathartiformes
Cathartidae
Cathartes aura (Linnaeus, 1758)
Accipitriformes
Accipitridae
Heterospizias meridionalis (Latham,
1790)
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788)
Falconiformes
Falconidae
Caracara plancus (Miller, 1777)
Milvago chimachima (Vieillot, 1816)
Milvago chimango (Vieillot, 1816)
Falco sparverius Linnaeus, 1758
Gruiformes
Aramidae
Aramus guarauna (Linnaeus, 1766)
Rallidae
Aramides ypecaha (Vieillot, 1819)
Aramides cajanea (Statius Muller,
1776)
Charandriiformes
Charandriidae
Vanellus chilensis (Molina, 1782)
Charadrius collaris Vieillot, 1818
Recurvirostridae
Himantopus melanurus Vieillot, 1817
Scolopacidae
Tringa flavipes (Gmelin, 1789)
Calidris melanotos (Vieillot, 1819)
Jacanidae
Jacana jacana (Linnaeus, 1766)
Sternidae
Sternula superciliaris (Vieillot, 1819)
Columbiformes
Columbidae
Columbina talpacoti (Temminck, 1811)
Columbina picui (Temminck, 1813)
Patagioenas picazuro (Temminck,
1813)
Zenaida auriculata (Des Murs, 1847)
Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855
Psittaciformes
Psittacidae
Myiopsitta monachus (Boddaert, 1783)
garça-moura
garça-branca-grande
maria-faceira
garça-branca-pequena
R
R
R
R
LC
LC
LC
LC
caraúna-de-cara-branca
tapicuru-de-cara-pelada
R
R
LC
LC
maçarico-real
R
LC
curicaca
colhereiro
R
R
LC
LC
urubu-da-cabeçavermelha
R
LC
gavião-caboclo
R
LC
gavião-carijó
R
LC
caracará
carrapateiro
chimango
quiri-quiri
R
R
R
R
LC
LC
LC
LC
carão
R
LC
saracuruçu
três-potes
R
R
LC
LC
quero-quero
batuíra-de-coleira
R
R
LC
LC
pernilongo-de-costasbrancas
R
LC
maçarico-de-pernaamarela
maçarico-de-colete
N
LC
N
LC
jaçanã
R
LC
trinta-réis-anão
R
LC
rolinha-roxa
rolinha-picuí
pombão
R
R
R
LC
LC
LC
pomba-de-bando
juriti-pupu
R
R
LC
LC
caturrita
R
LC
125
Cuculiformes
Cuculidae
Piaya cayana (Linnaeus, 1766)
Crotophaga ani Linnaeus, 1758
Guira guira (Gmelin, 1788)
Tapera naevia (Linnaeus, 1766)
Strigiformes
Strigidae
Bubo virginianus (Gmelin, 1788)
Athene cunicularia (Molina, 1782)
Caprimulgiformes
Caprimulgidae
Hydropsalis parvula (Gould, 1837)
Apodiformes
Trochilidae
Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812)
Hylocharis chrysura (Shaw, 1812)
Heliomaster furcifer (Shaw, 1812)
Coraciiformes
Alcedinidae
Chloroceryle amazona (Latham, 1790)
Chloroceryle americana (Gmelin, 1788)
Piciformes
Picidae
Melanerpes candidus (Otto, 1796)
Veniliornis spilogaster (Wagler, 1827)
Colaptes melanochloros (Gmelin, 1788)
Colaptes campestris (Vieillot, 1818)
Passeriformes
Dendrocolaptidae
Lepidocolaptes angustirostris (Vieillot,
1818)
Furnariidae
Furnarius rufus (Gmelin, 1788)
Anumbius annumbi (Vieillot, 1817)
Schoeniophylax phryganophilus
(Vieillot, 1817)
Tyrannidae
Camptostoma obsoletum (Temminck,
1824)
Serpophaga subcristata (Vieillot, 1817)
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766)
Machetornis rixosa (Vieillot, 1819)
Myiodynastes maculatus (Statius
Muller, 1776)
Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819
Tyrannus savana Vieillot, 1808
Knipolegus cyanirostris (Vieillot, 1818)
Satrapa icterophrys (Vieillot, 1818)
Xolmis irupero (Vieillot, 1823)
Corvidae
Cyanocorax chrysops (Vieillot, 1818)
Hirundinidae
Pygochelidon cyanoleuca (Vieillot,
1817)
Progne tapera (Vieillot, 1817)
Troglodytidae
Troglodytes musculus Naumann, 1823
alma-de-gato
anu-preto
anu-branco
saci
R
R
R
R
LC
LC
LC
LC
jacurutu
coruja-buraqueira
R#
R
LC
LC
bacurau-chintã
R
LC
besourinho-de-bicovermelho
beija-flor-dourado
bico-reto-azul
R#
LC
LC
martim-pescador-verde
martim-pescador-pequeno
R
R
LC
LC
pica-pai-branco
picapauzinho-verde-carijó
pica-pau-verde-barrado
pica-pau-do-campo
R
R
R
R
LC
LC
LC
LC
arapaçu-do-cerrado
R#
LC
joão-de-barro
cochicho
bichoita
R
R
R
LC
LC
LC
risadinha
R
LC
alegrinho
bem-te-vi
suiriri-cavaleiro
bem-te-vi-rajado
R
R
R
M
LC
LC
LC
LC
suiriri
tesourinha
maria-preta-de-bicoazulado
suiriri-pequeno
noivinha
M
M
R
LC
LC
LC
R
R
LC
LC
gralha-picaça
R
LC
andorinha-pequena-decasa
andorinha-do-campo
R
LC
M
LC
corruíra
R
LC
126
LC
Polioptilidae
Polioptila dumicola (Vieillot, 1817)
Turdidae
Turdus rufiventris Vieillot, 1818
Turdus amaurochalinus Cabanis, 1850
Mimidae
Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823)
Thraupidae
Saltator similis d'Orbigny &
Lafresnaye, 1837
Saltator aurantiirostris Vieillot, 1817
Lanio cucullatus (Statius Muller, 1776)
Tangara sayaca (Linnaeus, 1766)
Tangara preciosa (Cabanis, 1850)
Paroaria coronata (Miller, 1776)
Pipraeidea bonariensis (Gmelin, 1789)
Emberizidae
Zonotrichia capensis (Statius Muller,
1776)
Ammodramus humeralis (Bosc, 1792)
Poospiza nigrorufa (d'Orbigny &
Lafresnaye, 1837)
Poospiza melanoleuca (d'Orbigny &
Lafresnaye, 1837)
Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766)
Sicalis luteola (Sparrman, 1789)
Cardinalidae
Piranga flava (Vieillot, 1822)
Cyanoloxia glaucocaerulea (d'Orbigny
& Lafresnaye, 1837)
Parulidae
Parula pitiayumi (Vieillot, 1817)
Basileuterus culicivorus (Deppe, 1830)
Icteridae
Icterus pyrrhopterus (Vieillot, 1819)
Pseudoleistes guirahuro (Vieillot, 1819)
Agelaioides badius (Vieillot, 1819)
Molothrus rufoaxillaris Cassin, 1866
Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789)
Sturnella superciliaris (Bonaparte,
1850)
Fringillidae
Sporagra magellanica (Vieillot, 1805)
Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766)
balança-rabo-de-máscara
R
LC
sabiá-laranjeira
sabiá-poca
R
R
LC
LC
sabiá-do-campo
R
LC
trinca-ferro-verdadeiro
R
LC
bico-duro
tico-tico-rei
sanhaço-cinzento
saíra-preciosa
cardeal
sanhaço-papa-laranja
R
R
R
R
R
R
LC
LC
LC
LC
LC
LC
tico-tico
R
LC
tico-tico-do-campo
quem-te-vestiu
R
R
LC
LC
capacetinho
R
LC
canário-da-terraverdadeiro
tipio
R
LC
R
LC
sanhaço-de-fogo
azulinho
R
R
LC
LC
mariquita
pula-pula
R
R
LC
LC
encontro
chopim-do-brejo
asa-de-telha
vira-bosta-picumã
vira-bosta
polícia-inglesa-do-sul
R
R
R
R
R
R
LC
LC
LC
LC
LC
LC
pintassilgo
fim-fim
R
R
LC
LC
CONCLUSÕES
Mesmo sendo realizado ao longo de estradas, onde a ação do homem é intensa,
afetando os ecossistemas campestres principalmente através do plantio de lavouras e
da criação de gado bovino, este estudo não deixa margem a duvidas sobre a real
diversidade de espécies de aves existente no município. A partir destas 110 espécies já
observadas compreende-se que, quando finalizado, este estudo trará resultados
promissores sobre a avifauna da campanha gaúcha, podendo vir a revelar espécies
raras ou ameaçadas que aqui ainda encontram abrigo e fornecendo dados que tornem
possível o resguardo desta riqueza biológica.
127
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128
QUALIDADE DE VIDA URBANA: ANÁLISE
ATRAVÉS DE INDICADORES AMBIENTAIS
EM DOM PEDRITO/RS
Edilaine Antonello Marchezan1
Anabela Silveira Oliveira Deble2
1
Tecnóloga em Gestão Ambiental. Ex-aluna da Universidade da Região da Campanha –
Urcamp, Campus Universitário de Dom Pedrito, RS. 2 Bióloga, Dra. Orientadora, Profa.
Universidade da Região da Campanha – Urcamp, Campus Universitário de Dom Pedrito, RS.
A questão ambiental tem significativa relevância
na vida do ser humano, pois além da dependência do
meio ambiente para a sobrevivência da espécie, a
qualidade ambiental urbana se faz presente no dia a
dia das pessoas e está inserida como forma de avaliar a
qualidade de vida dos moradores, bem como aspectos
relacionados a saúde dos mesmos.
129
INTRODUÇÃO
Atualmente, o termo qualidade de vida é frequentemente, empregado em
discursos nos mais diversos segmentos da sociedade em geral, sendo um tema central
em todas as análises e políticas de planejamento e, em particular no que diz respeito às
cidades. Nos últimos anos tem-se verificado nos estudos da temática da qualidade de
vida, um enfoque crescente em torno da realidade urbana. Fatores como o crescimento
rápido e desordenado das cidades impedem a realização de um planejamento adequado
que abranja as questões básicas que envolvem a qualidade ambiental, tornando a
degradação do meio ambiente e a exclusão social maiores a cada dia. Um dos desafios
atuais sobre a qualidade de vida urbana consiste na elaboração de novos modelos de
abordagem que considerem as mudanças econômicas, sociais e tecnológicas que se
manifestam em grande escala nas cidades.
Nesse sentido, a utilização de indicadores ambientais se torna importante no
desenvolvimento de metodologias para expressar a realidade dos centros urbanos, bem
como avaliar a qualidade de vida dos seus habitantes, permitindo transmitir as
informações de maneira clara e objetiva, preservando o essencial dos dados originais e
utilizando apenas as variáveis que melhor expressem os resultados.
Os serviços básicos como coleta e disposição do lixo urbano, arborização,
fornecimento de água potável, rede de esgoto, drenagem, entre outros, exercem
influência direta no comportamento humano, e a população espera que os mesmos,
sejam executados de maneira eficiente, contribuindo para o bem estar, e mantendo a
qualidade ambiental necessária juntamente com o desenvolvimento sustentável. O
processo de ocupação urbana de maneira não planejada reflete diretamente na
degradação da área ocupada, juntamente com a carência dos serviços fundamentais e
básicos necessários a qualidade de vida de seus moradores, e com isso, está originando
novos estudos e investigações a partir de metodologias que analisam indicadores
ambientais, objetivando mensurar aspectos relevantes da qualidade de vida urbana nas
cidades.
Nesse contexto, o referido estudo, tem como objetivo geral analisar a qualidade
de vida através de indicadores ambientais em três bairros na cidade de Dom PedritoRS. O estudo pretende pesquisar ainda os serviços básicos prestados a comunidade
nos bairros mencionados; realizar uma análise comparativa dos dados obtidos nos
bairros e propor alternativas para solucionar os possíveis problemas e falhas
observados durante o estudo.
Qualidade de vida
A partir da década de 1960, ocorreram alterações nas relações de trabalho no
campo e na cidade que tiveram como consequências o êxodo rural e o crescimento das
130
cidades brasileiras. A população predominantemente urbana em 2000 era de 81,2%,
que antes se concentrava no campo, com percentual de 68,8%, em 1940. Este
crescimento ocorreu devido a falta de emprego no campo, fazendo com que grande
quantidade de pessoas migrassem para o ambiente urbano, causando diversas
modificações nas cidades. Essas modificações trouxeram consequências graves e
talvez irreversíveis ao meio ambiente, causando a deterioração do solo, modificação
da paisagem urbana com a desorganização social, carência de habitação, desemprego,
problemas de higiene e de saneamento básico (JUNIOR et al, 2007, p. 80).
A qualidade de vida tem se tornado um tema expressivamente importante para a
sociedade em geral, no meio científico, e especialmente no campo da saúde, pois o
crescimento e desenvolvimento tecnológico desenfreado trouxeram sérias
consequências à humanidade e ao meio ambiente, tornando-se um tema bastante
discutido nos diversos meios acadêmicos.
Qualidade de vida é a expressão que define o grau de satisfação atingido pelos
indivíduos ou população, no que diz respeito às suas necessidades consideradas
fundamentais. É a somatória de fatores decorrentes da interação entre sociedade e
ambiente, atingindo a vida no que concerne às suas necessidades biológicas, psíquicas
e sociais inerentes e/ou adquiridas (COIMBRA, 1985, p. 63).
A qualidade de vida coletiva pode ser considerada como a resultante de
condições sócio-ambientais e estruturais que se desenvolvem na sociedade.
Nesse contexto, a qualidade de vida urbana assume extrema importância, já que
a sustentabilidade do meio ambiente, no qual se insere a sociedade, deve ser repensada
e adaptada a uma nova realidade de grande consumismo e novas necessidades do ser
humano, onde o planejamento ambiental urbano se faz necessário, para que a medida
que a população cresça, as estruturas básicas se desenvolvam de maneira satisfatória.
A investigação sobre a qualidade de vida urbana confronta-se, com o desafio da
procura de novos modelos de abordagem que levem em conta as profundas mudanças
econômicas, sociais e tecnológicas em curso que, justamente, se têm vindo a
manifestar de forma particularmente expressiva à escala das cidades (ALKIRE, 2002,
p. 78).
De acordo com Frank (2000, p. 130), a qualidade de vida é a definição central
do problema ambiental e do desenvolvimento sustentável, pois representa, entre outros
aspectos, a disponibilidade total de infra-estrutura social e pública para atuar em
benefício do bem comum e para manter o ambiente sem deterioração e contaminação,
o que significa melhorar os aspectos habitacionais, bem como, a qualidade de vida e a
qualidade ambiental urbana.
De acordo com Forattini (1991, p. 75), atualmente presencia-se o efeito do
processo de urbanização, em cada vez maior número de núcleos, chegando a
131
praticamente excluir o ser humano de seu relacionamento com a natureza. O
desenvolvimento do meio urbano resulta em intensa e profunda manipulação do
ambiente. Com isso, decorrem acentuadas modificações que recaem sobre a paisagem,
a comunidade, o estado psicológico e fisiológico dos habitantes, além de darem
origem a fatores culturais, tanto econômicos como políticos que, isolada ou
coletivamente, influem ou mesmo determinam a qualidade de vida da população
residente no local.
Indicadores ambientais
Os indicadores ambientais começaram a ser estudados no final da década de 80
em trabalhos precursores no Canadá e Holanda, seguidos pelas propostas da OCDE
(Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que é uma
organização internacional composta por 30 países, que tem como objetivos, coordenar
políticas econômicas e sociais, apoiar o crescimento econômico sustentado, aumentar
o emprego e a qualidade de vida dos cidadãos e manter a estabilidade financeira, entre
outros. No ano de 1993, órgãos da ONU (Organização das Nações Unidas) formaram
um grupo de trabalho sobre o tema, e em 1994 e 1995 houveram conferências e
seminários, com o objetivo de ampliar o debate sobre o assunto (HERCULANO,
2000, p. 3).
Um indicador é aquela informação que explicita o atributo que permite a
qualificação das condições dos serviços, e por índice o parâmetro que mede o
indicador, atribuindo-lhe valores numéricos (BOLLMANN et al, 2001, p. 277).
Os indicadores, além de condensarem informações para as tomadas de decisões
referentes às escolhas políticas, constituem informações simplificadas, quantificadas,
que facilitam a comunicação, comparações e o processo de decisão (HERCULANO,
2000, p. 11).
Saneamento Básico e Ambiental
De acordo com a OMS, saneamento é definido como o controle de todos os
fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos danosos
sobre seu bem estar físico, mental ou social, compreendendo um conjunto de ações
sobre o meio ambiente no qual vivem as populações, visando garantir a elas condições
de salubridade, que protejam a sua saúde. Já o saneamento básico é definido por
Heller e Pádua (2006, p. 215), como o conjunto das seguintes ações: abastecimento de
água, esgotamento sanitário, limpeza pública, drenagem pluvial e controle de vetores.
A Fundação Nacional da Saúde Ambiental (FUNASA, s. d.) define saneamento
ambiental como um conjunto mais amplo de ações, que abrange ações sócia
econômicas que tem por objetivo alcançar níveis de salubridade ambiental, por meio
132
de abastecimento de água potável, coleta e disposição sanitária de resíduos sólidos,
promoção da disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana, controle de
doenças transmissíveis e demais serviços e obras especializadas, com a finalidade de
proteger e melhorar as condições de vida urbana e rural.
Qualidade de Água e Abastecimento Público
A água é um elemento indispensável à vida, porém pode trazer danos à saúde
em razão de sua má qualidade, servindo de porta de entrada para vários organismos
indesejáveis e prejudiciais a saúde do homem. Por isso, deve-se estar atento aos
fatores que podem interferir negativamente na qualidade da água que se consome e no
seu destino final.
A qualidade da água é resultante de fenômenos naturais e da atuação do homem,
ou seja, é função das condições naturais e do uso e da ocupação do solo nas bacias
hidrográficas (SPERLING, 2005, p. 266).
A água tratada e em condições para o consumo é colocada a disposição do ser
humano através do abastecimento público de água que, segundo Carvalho & Oliveira
(2003, p. 275), é um conjunto de atividades, infra-estruturas e instalações operacionais
de captação, tratamento, fornecimento e distribuição de água à sociedade em geral.
As ações referentes a melhoria da qualidade da água e abastecimento público
estão diretamente relacionadas a saúde da população, pois contribuem com melhores
condições nos serviços básicos ofertados pelo poder público.
Coleta e Destinação do Lixo Urbano
De acordo com Lima (2005, p. 154), a problemática do lixo pode ser explicada
pela análise e compreensão da importância dos vários fatores e mecanismos que
influenciam no processo de produção, manejo, tratamento e destinação final dos
resíduos, dentre eles pode-se citar: a antropogenia, aumento populacional, intensidade
do processo de industrialização, globalização da economia, irreversibilidade, entropia,
heterogeneidade, marginalidade, etc.
Um dos grandes problemas nas cidades é a coleta e a disposição do lixo urbano
produzido diariamente, visto que a quantidade de resíduos sólidos aumenta em grande
escala diariamente, e as soluções para a disposição do mesmo continuam sem um
efetivo comprometimento da sociedade em geral. Devido ao problema que é alocar o
lixo urbano, a coleta seletiva se adequa a necessidade de reciclar todo tipo de resíduo
recolhido, evitando a contaminação e gerando novas fontes de renda com o material
reciclado.
Carvalho & Oliveira (2003, p. 168), definem manejo de resíduos sólidos e
limpeza urbana como um conjunto de atividades, infra-estruturas e instalações
133
operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final do lixo
doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas.
A lei Nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, instituiu a Política Nacional de
Resíduos Sólidos, na qual cita a regularidade, continuidade, funcionalidade e
universalização da prestação de serviços públicos de limpeza urbana e manejo de
resíduos sólidos, com adoção de mecanismos gerenciais e econômicos que assegurem
a recuperação dos custos dos serviços prestados, como forma de garantir sua
sustentabilidade operacional e financeira, criando essas obrigações a órgãos públicos,
sujeito a multas pelo não cumprimento da lei.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos foi instituída em um momento que o
mundo está voltado as questões ambientais. É sem dúvida uma grande ferramenta para
que a sociedade e órgãos públicos atuem de maneira eficiente na questão dos resíduos
e tudo o que diz respeito aos impactos causados ao meio ambiente.
Rede de Esgoto
De acordo com Mendonça (1990, p. 134), esgoto é definido como sendo o
resultado dos despejos hídricos de uma comunidade ou de uma indústria ou mesmo
originados da coleta de águas pluviais.
A sua composição é dada por constituintes físicos, químicos e biológicos. Desde
que não haja significativa contribuição de despejos industriais a composição do esgoto
doméstico ou sanitário é razoavelmente constante. Este resíduo contém
aproximadamente 99,9% de água, e 0,1% de sólidos. Os esgotos industriais além da
matéria orgânica podem transportar substâncias químicas tóxicas ao homem e outros
animais (MOTA, 1997, p. 43).
A necessidade de tratamento e uma rede adequada de esgotos se faz necessária
pela composição desse tipo de resíduo, já que o percentual de resíduo sólido que
compõe o esgoto é altamente tóxico e nocivo a saúde do homem. Por isso, as estações
de tratamento de esgotos são tão necessárias quanto a canalização desse resíduo, pois
o esgoto a céu aberto pode acarretar inúmeras consequências, sendo as principais, a
contaminação da água e as doenças transmitidas ao ser humano.
Rede de Drenagem
Drenagem e manejo das águas pluviais são um conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, transporte,
detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento e
disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas (CARVALHO &
OLIVEIRA, 2003, p. 275).
134
As atividades de drenagem envolvem a coleta e condução das águas de chuva
para destinos convenientes, como reservatórios de amortecimento de cheias em áreas
urbanas ou outros tipos de receptores, bem como a canalização de córregos. Quando
essas atividades de drenagem não são suficientes e adequadas, causam um aumento
significativo de inundações, causando um grande impacto na qualidade da água e na
saúde da população, pois a água carrega consigo todos os resíduos e impurezas
indesejáveis, além da destruição da área urbana.
Arborização
A arborização exerce papel de vital importância para a qualidade de vida nos
centros urbanos. Por seus múltiplos papéis, a árvore na área urbana atua diretamente
sobre o clima, a qualidade do ar, o nível de ruídos e sobre a paisagem, além de
constituir um abrigo indispensável à fauna que ainda permanece nas cidades.
Nos últimos tempos, a concepção de meio ambiente se transformou perante o que era
tempos atrás. Os habitantes das cidades desenvolveram uma postura de valorização
das plantas reconhecendo os benefícios que as áreas verdes representam (SALATINO,
2001, p. 483).
A arborização é essencial a qualquer planejamento urbano e tem funções
importantes como: propiciar sombra, purificar o ar, atrair aves, diminuir a poluição
sonora, constituir fator estético e paisagístico, diminuir o impacto das chuvas,
contribuir para o balanço hídrico, valorizar a qualidade de vida local, assim como
economicamente as propriedades ao entorno (SANTOS, 2001, p. 3).
As árvores e áreas verdes urbanas tornam-se espaços territoriais importantes em
termos de preservação ambiental, bem como proporcionam um ambiente mais
agradável, propiciando uma melhor qualidade de vida aos habitantes.
Pavimentação de Ruas e Calçadas
1)
Pavimento pode ser definido como toda estrutura apoiada sobre a camada final
de terraplenagem e destinada a receber o tráfego fornecendo ao usuário segurança e
conforto, sendo constituída de várias camadas e vários materiais de diferentes
características de resistência e de formabilidade (MERIGHI, 2004, p. 45).
A ausência de pavimentação nas vias urbanas é um problema que merece maior
atenção por parte do poder público, já que esse fator pode trazer algumas
consequências a saúde e qualidade de vida da população. Por exemplo, em períodos
chuvosos, há dificuldade de trânsito, tanto de automóveis como de pedestres, e ainda
há maior ocorrência de doenças respiratórias, em virtude da intensidade da poeira,
durante o período seco.
135
METODOLOGIA
Os bairros pesquisados para o desenvolvimento do estudo foram: Bairro
Sagrada Face, São Gregório e Centro, ambos localizados na cidade de Dom
Pedrito/RS. Foram pesquisadas 30 casas em cada bairro, sendo que foram utilizados
dois instrumentos de pesquisa; um foi aplicado aos moradores, no qual analisou o
abastecimento de água, instalação sanitária, rede de esgoto, inundações, recolhimento
e destinação do lixo e o outro foi analisado pela autora do trabalho, que observou a
arborização, pavimentação de ruas e calçadas, utilizando-se uma escala de 0 a 5, onde
0 representa Muito Ruim e 5 representa Ótimo.
RESULTADOS & DISCUSSÕES
Como mostra a figura 01 no bairro São Gregório a qualidade da arborização
mais citada foi Muito Ruim, enquanto que nos bairros Sagrada Face e São Gregório
foi Razoável, demonstrando que mesmo no bairro Centro, onde os serviços básicos
são mais eficientes, a arborização carece de mais atenção por parte do poder público,
bem como dos moradores.
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Muito Ruim
Razoável
Razoável
São Gregório
Sagrada Face
Centro
Figura 01 – Arborização Urbana (Fonte: Dados da Pesquisa)
De acordo com a figura 02, o bairro Centro apresentou melhor qualidade na
pavimentação das ruas, justamente por se concentrar na área central da cidade o fluxo
mais intenso de pessoas e o centro comercial.
136
63%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
44%
41%
Muito Ruim
Ruim
Bom
São Gregório
Sagrada Face
Centro
Figura 02 – Pavimentação de Ruas (Fonte: Dados da Pesquisa)
Novamente, o bairro Centro apresenta melhores condições a população como
mostra a figura 03. Realmente se faz necessário a boa qualidade das calçadas na área
central, onde grande número de pessoas circula devido aos pontos comerciais, gerando
economia ao município.
53%
46%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
40%
Muito Ruim
Muito Ruim
Bom
São Gregório
Sagrada Face
Centro
Figura 03 – Pavimentação de Calçadas (Fonte: Dados da Pesquisa)
RESULTADOS E DISCUSSÕES
É importante salientar que os resultados do presente trabalho, são referentes às
residências pesquisadas, e não representam os bairros na sua totalidade, já que a
pesquisa foi realizada com uma amostra de residências em cada bairro.
Ao analisar a qualidade de vida em parte da cidade de Dom Pedrito, através dos
indicadores ambientais considerados, percebeu-se a excelência em alguns serviços
básicos de saneamento, bem como, a ausência e carência em outros, mostrando que,
137
como acontece em todas cidades, a falta de planejamento urbano e a iniciativa tardia
de investir em saneamento básico, causa conseqüências ao meio ambiente e a
população.
A existência do fornecimento de água tratada a toda população, bem como
todos os domicílios pesquisados possuírem instalação sanitária, demonstram que há
uma preocupação do poder público em alcançar melhores condições para a qualidade
de vida da população.
Entretanto, os aspectos que dizem respeito ao esgotamento sanitário e a coleta
de lixo causam preocupação. O baixo atendimento do serviço de esgotamento sanitário
coloca a saúde da população em risco, pois apenas 18% do esgoto da cidade é tratado,
e o restante é conduzido até o Rio Santa Maria sem tratamento algum, comprometendo
a qualidade ambiental e causando sérios impactos ao meio ambiente, tais como
contaminação do lençol freático; contaminação do solo; proliferação de insetos;
propagação de doenças; ocorrência de mau cheiro. Ressalta-se que durante a pesquisa,
não se observou esgoto a céu aberto, o que reforça a preocupação do poder público
quanto a saúde e bem estar da população.
No que diz respeito a coleta de lixo, é evidente que no bairro Centro a coleta é
eficiente, mas nos outros bairros o lixo não é recolhido diariamente o que propicia a
proliferação de insetos, mau cheiro, além de animais espalharem o lixo pelas ruas,
causando o entupimento de bueiros, que são utilizados para o escoamento da água da
chuva. No que diz respeito as inundações, os bairros Sagrada Face e São Gregório são
atingidos, onde a localização dos mesmos contribui de maneira significativa para a
ocorrência de enchentes, já que se localizam na parte mais baixa da cidade e próximos
ao Rio Santa Maria.
A arborização, pavimentação das ruas e pavimentação das calçadas são outros
fatores que deixam a desejar nos bairros mais afastados da cidade. A infra - estrutura
para o trânsito de veículos e pedestres é satisfatória no bairro Centro, sendo que nos
outros a estrutura é precária, causando desconforto e dificuldades de trânsito aos
moradores. E a arborização, que é tão essencial num centro urbano, poderia ser melhor
nos três bairros, já que as áreas verdes proporcionam áreas de lazer aos moradores,
locais de sombra, além de contribuírem no processo de formação de chuvas pela
fotossíntese.
Portanto, diante dos resultados, é possível concluir que a qualidade de vida dos
moradores dos bairros analisados é prejudicada por causa dos problemas identificados,
e poderia ser melhorada através de incentivos por parte do poder público, bem como a
educação ambiental por parte dos moradores, já que alguns problemas poderiam ser
amenizados se houvesse colaboração por parte da população.
138
CONCLUSÕES
Após a análise dos problemas identificados, pôde-se concluir que a implantação
de um projeto de educação ambiental, não só nos bairros analisados, como em toda a
cidade, poderá colaborar para a melhoria da qualidade de vida e qualidade ambiental,
bem como, a preservação dos recursos naturais.
O projeto poderia abordar questões referentes ao plantio de árvores na zona
urbana, com programas de conscientização quanto a importância das áreas verdes;
separação do lixo seco do orgânico para que os catadores que sobrevivem dessa ação
possam aproveitar melhor os resíduos e a prefeitura poderia incentivar essa atitude
com a doação de lixeiras com a separação do lixo; realização de oficinas para ensinar
como aproveitar melhor os alimentos diminuindo os resíduos orgânicos.
Portanto, a qualidade de vida dos habitantes de uma cidade, é conseqüência de
atitudes ambientalmente corretas, da preservação ao meio ambiente, e também, é
responsabilidade do poder público, que pode contribuir para um mundo
ambientalmente correto e sustentável.
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140
BET: ALTERNATIVA PARA O
TRATAMENTO DE ESGOTO NA ÁREA
RURAL NA REGIÃO DA
CAMPANHA, RS
Graziane Moraes Soares1
Virginia Paiva Dreux2
1
Tecnóloga em Gestão Ambiental, ex aluna da Universidade da Região da Campanha 2
URCAMP. E-mail: [email protected]. Orientadora, Professora, Universidade da
Região da Campanha, Campus Bagé, RS – Mestre em Planejamento Urbano e Regional –
PROPUR/UFRGS. E-mail: [email protected]
A falta de tratamento de esgoto causa muitas
consequências tanto para a saúde humana quanto para
o meio ambiente. O próprio plano de saneamento
básico do município de Dom Pedrito aponta que
apenas 17% do esgoto da cidade é tratado, ou seja, é
encaminhado para uma estação de tratamento de
esgotos e posteriormente, devolvido ao Rio Santa
Maria. Este percentual chega a ser quase inexistente
quando se trata da área rural.
141
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais as questões ambientais tomam bastante espaço no contexto da
mídia, tornam-se comuns os desastres ambientais, cada vez maiores em todo o mundo.
Ouvimos falar muito em educação ambiental, preservação do meio ambiente,
ecologia, dentre outros temas relacionados à problemática ambiental. Porém, mesmo
com a veiculação da Educação Ambiental pelos meios de comunicação, nos falta
prática ambiental, de modo que, o papel do gestor ambiental é ter um olhar mais
acurado dos problemas que estão ao nosso alcance, tentando buscar alternativas que
solucionem ou minimizem os impactos ambientais na comunidade que nos cerca.
A falta de tratamento de esgoto causa muitas consequências tanto para a saúde
humana quanto para o meio ambiente. O próprio plano de saneamento básico do
município de Dom Pedrito aponta que apenas 17% do esgoto da cidade é tratado, ou
seja, é encaminhado para uma estação de tratamento de esgotos e posteriormente,
devolvido ao Rio Santa Maria. Este percentual chega a ser quase inexistente quando se
trata da área rural.
No que diz respeito à saúde humana, o esgoto doméstico lançado a céu aberto é
fonte de proliferação de vetores causadores de doenças, como os mosquitos, as
moscas, os ratos, dentre outros, além do risco da ingestão de alimentos ou água
contaminados por fezes. Já no meio ambiente, o esgoto contamina o corpo hídrico,
seja por infiltração no lençol freático ou por escorrimento superficial e também
contamina o solo, além de causar mau cheiro e poluição visual.
Desta forma o presente trabalho se propõe a estudar, a utilização de um
tratamento de esgoto por evapotranspiração ou BET (Bacia de Evapotranspiração)
instalado e acompanhado sistematicamente no Assentamento Vista Nova, localizado
no 2º Sub Distrito Campo Seco, neste Município, com um período de observação de
aproximadamente 6 meses, contribuindo para a melhoria da saúde dos moradores e
destinando corretamente o efluente gerado pela água negra daquele local.
Este trabalho foi desenvolvido com a parceria da Emater-Ascar de Dom Pedrito,
entidade que acompanha e conhece as dificuldades enfrentadas pelos moradores do
assentamento no qual foi executado o referido estudo.
O material para a construção da bacia de evapotranspiração foi obtido através da
doação de comerciantes da cidade, que entendendo a necessidade de melhorias para a
questão estudada, colaboraram para a realização do mesmo.
Primeiramente foram estudadas as espécies de plantas a serem utilizadas na
bacia, face às peculiaridades de clima e solo.
Foram escolhidas, cinco espécies de plantas ornamentais a serem observadas:
Senecio bonariensis, Eryringium serra, Strelitzia reginae, Canna x generalis e
Philodendron tweedieanum.
142
O presente trabalho tem como propósito promover a melhoria da qualidade
ambiental no assentamento, através do estudo de um destino correto da água negra da
propriedade, inserindo assim, a gestão ambiental no meio rural.
Os objetivos específicos são:
- Construir uma bacia de evapotranspiração – a instalação da BET é o passo inicial
para todo o processo que propõe este trabalho;
- Testar alguns tipos de plantas na bacia de evapotranspiração de forma a obter o
resultado que melhor se adapte a nossa região e que produza os melhores resultados;
- Acompanhar e fazer medições na BET, por observação direta, para que o número de
plantas seja suficiente, evitando superlotação de efluentes – uma das preocupações é o
extravasamento da BET uma vez que o quantitativo de plantas deve ser suficiente para
a evapotranspiração de toda água existente na bacia.
Sabe-se que o lançamento indiscriminado de água negra (esgoto) no solo ou em
rios causa enormes prejuízos para o meio ambiente, particularmente em se tratando do
meio rural, aonde são produzidos grande parte dos alimentos que consumimos. Este
método não utiliza produtos químicos, não utiliza eletricidade, tem baixo custo de
operação e tem efeito paisagístico, justificando assim, o presente trabalho.
Neste trabalho procurou-se abordar, analisar e propor uma solução para o
tratamento final da água negra (aquela que sai da descarga de sanitários
convencionais) sem contaminar o solo e/ou a água. Implantando um sistema de
tratamento de esgotos (ou águas negras) temos, antes de tudo, a propriedade rural
demonstrando ética, cuidado com o planeta e com as pessoas que ali vivem.
Diante do exposto na justificativa e problemática acima citada, torna-se necessário
testar a viabilidade da BET no ambiente em que vivemos com as particularidades e
peculiaridades próprias da zona rural no Bioma Pampa.
A agropecuária é fonte de economia primária da região da Campanha do Rio
Grande do Sul, em especial à cidade de Dom Pedrito que tem na agricultura, pecuária
e mais recentemente, a vitivinicultura sua base de economia. Há uma grande
quantidade de propriedades rurais com atividades produtivas, seja de grande, média ou
pequeno porte. Estas propriedades rurais têm a obrigatoriedade e a necessidade de
zelarem pelo meio ambiente que os cercam, não só pela necessidade legal, mas
também para a sustentabilidade da própria atividade produtiva, tornando então, a
conservação uma necessidade estratégica, particularmente por tratar-se do Bioma
Pampa, característico, por suas particularidades e tradições.
Uma das preocupações que ainda não foram sanadas na área rural é o
tratamento de esgotos, podemos ressaltar que segundo o levantamento de empresa
contratada pelo município de Dom Pedrito, por exposição recente em audiência
pública, que no centro urbano o saneamento básico é de apenas 17%, quando
143
passamos para o campo, ele chega a ser inexistente (AGROSIG – Relatório Técnico
Parcial 2 – Plano de Saneamento Básico de Dom Pedrito/2011). Há uma preocupação
constante em evitar a poluição do solo e dos cursos hídricos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saneamento é o controle de
todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos
nocivos sobre o bem estar físico, mental e social. De modo que, pode-se dizer que
saneamento caracteriza o conjunto de ações sócio-econômicas que tem por objetivo
alcançar salubridade ambiental. (GUIMARÃES, CARVALHO E SILVA, 2007).
Sendo assim, a Bacia de Evapotranspiração é uma solução sustentável, tornando
um problema em solução, uma vez que é possível trabalhar com plantas ornamentais,
obtendo renda com a sua venda.
A Bacia de evapotranspiração é bastante divulgada em Santa Catarina pela Rede
Permear (VIEIRA, 2010), utilizando a bananeira. No presente estudo, buscou-se testar
pelas condições de clima e solo outras espécies, incluindo as nativas.
METODOLOGIA
O presente experimento foi realizado na área rural do município de Dom
Pedrito, mais precisamente no 2º Sub distrito Campo Seco, no assentamento Vista
Nova, distante 45 Km da sede e teve como parceira a Emater-Ascar do Município.
Para a realização do estudo, fez-se necessário construir a bacia de
evapotranspiração, que foi dimensionada da seguinte maneira: 1m de profundidade x 2
m de largura x 4 m de comprimento, conforme propõe Vieira (2010), estabelecendo-se
2m³ por morador habitual da residência. Para a escolha das plantas a serem utilizadas
no experimento, buscou-se como fonte de informação pesquisa bibliográfica e
orientação de botânicos especializados, sendo definidas: Senecio bonariensis,
Eryringium serra, Strelitzia reginae, Canna x generalis e Philodendron tweedieanum
que foram observadas num período de 42 dias, onde foi testada a adaptação das
plantas e se houve alguma morte. Por se tratar de um sistema fechado, não foi
necessário a análise da qualidade da água, uma vez que, não gera efluente e os
patógenos ficam enclausurados. Neste período, foi feito um levantamento fotográfico
para comprovar os resultados obtidos.
Em seguida foi usada uma tela de viveiro chapiscada e pregada nas laterais da
bacia, após foi preparada uma argamassa para impermeabilizar as paredes, na
proporção de 1 parte de cimento para 2 partes de areia a serem utilizadas nas laterais
da bacia e 1 parte de cimento e 3 partes de areia para o fundo, conforme figuras 3 e 4.
Depois desta etapa, a bacia ficou em repouso de 2 dias para a secagem do cimento.
Dando continuidade a montagem, foi feito o preenchimento da bacia, com os
pneus, as pedras, a areia, a brita, a terra e por fim a plantação das mudas, que é a parte
144
mais importante deste experimento, pois estas espécies é que farão com que este
experimento seja um circulo fechado, onde os pneus servem de câmara anaeróbia, as
camadas de brita e areia de perculadoras e as plantas vão fechar o sistema com a
evapotranspiração. Por fim, foi colocada uma camada de feno para que o solo não
fique exposto, evitando assim a sua degradação.
Quanto à segurança foi feita uma beirada mais alta que o nível do terreno onde a
bacia foi instalada, e colocada uma cobertura vegetal morta como proteção para a água
da chuva.
O experimento foi desenvolvido em um assentamento de Dom Pedrito, onde a
propriedade possui 20 hectares, que são destinadas a produção de leite, queijos e
agricultura familiar, sendo composta por 4 moradores, no total de 2 adultos e 2
crianças.
RESULTADOS
Como resultados parciais, pode-se observar que a construção da bacia trouxe
muitas melhorias para a propriedade, o que foi verificado através de acompanhamento
in loco durante 2 meses.
Destino final do esgoto da residência, antes da construção da bacia:
Pode-se verificar que o esgoto da residência estava sendo destinado
incorretamente, causando a degradação do meio ambiente, propiciando a proliferação
de vetores causadores de doenças, como moscas, ratos, baratas, etc; Trazendo riscos
para a saúde humana, também por ingestão de água ou alimentos contaminados com
fezes. Além de contaminar o solo, podendo atingir o lençol freático por infiltração e,
poluir o corpo hídrico existente abaixo do local onde estava sendo destinada a água
negra da propriedade, através do escorrimento superficial.
Destino correto da água negra da propriedade:
Como podemos verificar, a bacia de evapotranspiração é um sistema fechado,
ou seja, não geram efluentes, não contamina o meio ambiente, nem traz riscos para a
saúde humana. Pois a matéria orgânica existente será decomposta na câmara feita por
pneus usados (câmara anaeróbia) e o restante líquido é filtrado nas camadas de pedra,
brita e areia, saindo do sistema somente pela evapotranspiração.
O presente estudo teve como objetivo melhorar a qualidade do meio ambiente
da propriedade e inserir a gestão ambiental na área rural, através da instalação de uma
bacia de evapotranspiração em um assentamento rural de Dom Pedrito –RS. A bacia
foi instalada no dia 18 de outubro de 2011, e desde então já entrou em completo
funcionamento. O custo da construção foi de R$ 780,00, o que comparando a melhoria
da qualidade ambiental já observada, é um custo baixo. Sugere-se também a
145
substituição da técnica de ferrocimento por lona, considerando um solo argiloso, o que
reduziria significativamente este custo.
Quanto à manutenção da bacia, o maior cuidado é com a escolha das espécies
que serão utilizadas, pois, justamente elas é que são responsáveis para que o sistema
seja fechado e que o líquido que restou seja eliminado pela evaporação.
Quanto à limpeza do sanitário, foi orientado a moradora que utilizasse o
bicabornato de sódio para a limpeza, pois utilizando produtos químicos habituais, o
sistema seria interrompido, já que o cloro mata as bactérias responsáveis pela
fermentação que é feita dentro da câmara de pneus.
Este experimento deverá ser acompanhado por mais tempo e sugere-se que seja
feito o teste de plantas com espécies únicas em cada bacia, para que se saiba qual se
adapta melhor ao clima da região.
Observou-se que há interesse da população rural em melhorar o saneamento
básico, porém os custos e a distância, acabam se tornando um obstáculo. Percebeu-se
também que a bacia de evapotranspiração foi bem aceita pelos moradores e vizinhos
do experimento.
CONCLUSÕES
Os objetivos do estudo foram atingidos. Embora com pouco tempo de
instalação, a melhoria ambiental do local já pôde ser visualizada facilmente, as plantas
estão em fase de adaptação e demonstram estar reproduzindo brotos.
A bacia de evapotranspiração é uma solução sustentável para as propriedades
rurais, uma vez que, não utiliza energia elétrica, nem produtos químicos, tem efeito
paisagístico, melhora a destinação final da água negra e ainda pode ser fonte de renda,
pois a família poderá vender as espécies utilizadas que são ornamentais.
É indispensável que as políticas públicas incentivem as pesquisas na área de
meio ambiente, principalmente na área rural, onde são produzidos os alimentos que
consumimos. Esta pesquisa sugere que a população rural tem uma consciência voltada
para a preservação do meio ambiente, porém faltam profissionais habilitados a
trabalhar com esta população.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Constituição Federal do Brasil de 1988. Brasília. Disponível em:
www.planalto.gov.br/ccivil. Acesso em 02 de maio de 2011, às 15:00 hs.
GUIMARÃES, A. J. A.; CARVALHO, D. F. de; SILVA, L. D. B. da. Saneamento básico –
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007.
Disponívelem:www.ufrrj.br/institutos/it/deng/.../Apostila%20IT%20179/Cap%201.pdf.
Acesso em 08 de set. de 2011 às 16:31.
VIEIRA, Itamar – Bacia de Evapotranspiração, 2010. Disponível em: www.permear.org.br .
Acesso em: 15 de agosto de 2011.
146
LEVANTAMENTO DA ARBORIZAÇÃO
URBANA EM CINCO LOGRADOUROS
NO MUNICÍPIO DE DOM PEDRITO/RS
Raquel Vieira Machado1
Anabela Silveira de Oliveira Deble2
1
Tecnóloga em Gestão Ambiental ex-aluna da Universidade da Região da Campanha - URCAMP. Email: [email protected]. 2 Orientadora, Bióloga, Dra. Professora, Universidade da Região da
Campanha – Urcamp - Campus Universitário de Dom Pedrito, RS.
A arborização urbana vem se tornando tema
atual e debatido com mais frequência dentro do
planejamento urbano. Dentro de um contexto arbóreo,
o município de Dom Pedrito possui estrutura
construída adequadamente nas áreas pavimentadas
para uma introdução de paisagismo, no entanto, as
espécies implantadas não são adequadas para
arborização urbana gerando conflitos com redes
elétricas, calçamento e trânsito.
147
INTRODUÇÃO
Foi em 30 de outubro de 1832 que o município foi elevado à vila, emancipandose da cidade de Bagé, recebendo o nome oficial de Dom Pedrito. Desde então, a
cidade desenvolveu-se com ruas largas e, com canteiros centrais medindo
aproximadamente 1,20m de largura praticamente em toda sua região central. A
arborização foi sendo, introduzida pela população e governantes, este trabalho mostra
o fruto desta construção e como a gestão ambiental poderá proporcionar melhorias
neste aspecto.
Selecionar e catalogar as espécies desta arborização é fundamental para um
estudo paisagístico, ambiental e cultural. Buscou-se um diagnóstico parcial da
arborização na cidade. O levantamento das espécies encontradas em Dom Pedrito,
facilitará o seu manejo arbóreo, fornecendo subsídios para a elaboração de um Plano
de Arborização específico para o tipo de urbanização existente nesta cidade,
enfatizando o potencial do uso de culturas nativas da região. Harmonizar o convívio
dos seres humanos com seu ambiente local é a mais pura forma de desenvolver a
educação ambiental. O tema é de suma importância dentro do contexto de que a
população atualmente hoje é predominantemente urbana.
A arborização não serve apenas para embelezar a cidade, seu potencial vai
muito mais além; o que seriamos de nós sem estes seres vitais; existiríamos? Servindo
de alimento para uma infinidade de espécies da avifauna, trazendo conforto térmico
para a cidade e renovando nosso ar através da fotossíntese. A civilização levou séculos
para começar entender o quanto à urbanização modificou o meio natural do planeta e
não ao contrário. A idealização de sustentabilidade tão mencionada nos dias atuais só
se fará concreta quando a sociedade compreender a significância de crescimento
respeitando o que é da terra, o que torna o nosso ar puro, o que faz os ecossistemas
funcionarem tão ciclicamente.
IMPORTÂNCIA DAS ÁRVORES
As plantas arbóreas nativas do território brasileiro estão intimamente ligadas à
história e ao desenvolvimento econômico e social de nosso país. A mais antiga e
importante relação é com o próprio nome da nação “Brasil”, que foi emprestado da
árvore conhecida popularmente como “pau-brasil” (LORENZI, 1998).
Backes e Irgang (2002, p.04) determinam as árvores como seres onipresentes
nas nossas vidas. Começando pelo fato de que mais da metade do nosso território era
originalmente coberto por florestas quando os portugueses aqui chegaram. Nelas,
buscamos abrigo e segurança; com elas construímos casas, moldamos ferramentas e
utensílios, criamos beleza e arte, perpetuamos mitos e lendas.
148
Árvores são seres essenciais para as nossas vidas elas que sempre reinaram hoje
estão restritas a limitados espaços entre as pavimentações e construções das cidades;
para Teixeira e Santos (2001) esse convívio só será harmonioso quando as
planificações dos espaços permitirem a presença da vegetação e as arborizações forem
efetivamente implantadas, monitoradas e preservadas. As árvores urbanas são
patrimônios, cujo zelo compete a todos, pois guardam um pedaço da nossa história.
ESPÉCIES NATIVAS
Segundo Lorenzi (2009) a principal dificuldade na utilização de espécies nativas
em projetos de paisagismo é a indisponibilidade de mudas de grande porte e até
mesmo de qualquer porte em muitas regiões. A obtenção de sementes é a parte mais
importante do processo de produção de mudas de essências nativas para o uso na
arborização urbana ou reflorestamento, uma vez que existem poucos fornecedores
nesta produção.
Todas as espécies nativas reproduzem-se por sementes, apesar de algumas
também o fazerem por meios vegetativos. Geralmente as sementes possuem curta
viabilidade germinativa e por isso devem ser, em geral, plantadas logo que colhidas.
Muitas sementes necessitam de preparo e tratamento especial antes da semeadura para
aumentarem sua germinação, devendo ser escarificadas (mecânica, física ou
quimicamente) para enfraquecer seu tegumento e permitir a absorção de água. Outras
são fisiologicamente imaturas logo após a colheita, ou contém substâncias inibidoras
da germinação que precisam ser removidas para promover sua germinação
(LORENZI, 1998).
ESPÉCIES EXÓTICAS
Segundo Lorenzi (2009) a maioria das plantas arbóreas cultivadas em ruas,
avenidas praças e jardins de nossas cidades são de espécies oriundas de outros países
(espécies exóticas). Apesar da nossa flora contar com centenas de espécies de grande
beleza e qualidade paisagística, ainda não foram descobertas por nossos jardineiros e
paisagistas. Além de proporcionarem alimento à avifauna já habituada aos seus frutos,
o cultivo de essências nativas permite resgatar muitas espécies do limiar da extinção e
possibilitar às futuras gerações o conhecimento das espécies que um dia ocuparam
todos os espaços que hoje pisamos.
Em plena era da globalização, do mundo sem fronteiras, da massificação
econômica e cultural, a valorização e resgate de nossa flora é fundamental para a
preservação do imenso patrimônio ambiental e cultural do Brasil. Se o homem sempre
teve sua sobrevivência dependente de árvores, hoje são elas que necessitam de nós
para continuar existindo. É uma relação de simbiose, de interdependência mútua. E a
149
perpetuação de nossa espécie passa pela preservação, conhecimento e cultivo das
árvores (BACKES e IRGANG, 2002, p.04).
LEGISLAÇÃO
A legislação municipal tem participação ativa nas questões ambientais através
do SMMA - Sistema Municipal do Meio Ambiente, exercido através do Departamento
Municipal do Meio Ambiente, criada pela lei n° 1546 de 24 de dezembro de 2008, e
deste de 26 de outubro de 2005 vigora no município a lei que declara imune de corte
e/ou transplante no município de Dom Pedrito as árvores que especifica e determina
outras providências. No artigo 1° fica proibido no Município de Dom Pedrito, em
áreas públicas ou privadas, o corte ou transplante, das árvores conhecidas como
pinheiro brasileiro (Araucaria angustifolia), as palmeiras (Phoenix canariensis) e a
palmeira real australiana (Archontophoenix Alexandrae).
A lei n°1403 de 2007, no capítulo III diz da ação dos municípios posta no art. 4°
que ao Município, no exercício de suas competências, constitucionais e legais
relacionadas ao Meio Ambiente, incubem:
IPlanejar e desenvolver ações de licenciamentos, autorizações, promoção,
conservação, preservação, recuperação, reparação, vigilância e melhoria de qualidade
ambiental;
IIDefinir e controlar a ocupação e uso dos espaços territoriais de acordo
com suas limitações e condicionantes ecológicas e ambientais;
III- Elaborar e implementar o plano municipal de proteção ao meio ambiente
IV- Exercer o controle da poluição ambiental;
VDefinir áreas prioritárias de ação governamental relativa ao meio
ambiente, visando e preservação e melhoria da qualidade ambiental e do equilíbrio
ecológico.
BENEFÍCIOS DA ARBORIZAÇÃO
O Documento 42 da Embrapa 1517- 1973 Dezembro, 2002, enumerou
contribuições significativas na melhoria da qualidade do ambiente urbano, citadas a
seguir:
a. Purificação do ar pela fixação de poeiras e gases tóxicos e pela reciclagem de gases
através dos mecanismos fotossintéticos;
b. Melhoria do micro clima da cidade, pela retenção de umidade do solo e do ar e pela
geração de sombra, evitando que os raios solares incidam diretamente sobre as
pessoas;
c. Redução na velocidade do vento;
d. Influência no balanço hídrico, favorecendo a infiltração da água no solo e
provocando transpiração mais lenta;
150
e. Abrigo à fauna, propiciando uma variedade maior de espécies, em consequência
influenciando positivamente para um maior equilíbrio das cadeias alimentares e
diminuição de pragas e agentes vetores de doenças.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização deste trabalho utilizou-se de pesquisa bibliográfica, pesquisa
de campo quantitativa e descritiva. De acordo com Barros e Lehfeld (2008) na
pesquisa bibliográfica tenta se resolver um problema ou adquirir conhecimentos a
partir do emprego predominante de informações advindas de material gráfico, sonoro
e informatizado. Para realizar uma pesquisa bibliográfica, é fundamental que o
pesquisador faça um levantamento dos temas e tipos de abordagem já trabalhados por
outros estudiosos, assimilando os conceitos e explorando os aspectos já publicados.
O município de Dom Pedrito, localizado na região sudoeste do Estado do Rio
Grande do Sul, abrange uma área de 5.192 km². Localiza-se a uma latitude 30°56’15”
sul, longitude 54°41’15” oeste e está a uma altitude de 141metros do nível do mar.
Está inserido na Microrregião Campanha Meridional e Mesorregião do Sudoeste Riograndense. Dentro do município foi escolhida para o inventário (figura 1) uma
avenida, a Barão do Upacaraí principal da cidade onde está localizado os principais
centros comerciais de Dom Pedrito, atravessando a Praça Central General Osório
ponto turístico da cidade onde foi construído um calçadão que passa nesta avenida,
grande atração para passeio da população. E mais quatro ruas citadas em ordem
alfabética: Rua Andrade Neves, o caminho desta rua do centro em direção norte leva
ao quartel da cidade; a Rua Borges de Medeiros, localizada paralela a Avenida Barão
do Upacaraí, junto também a Praça General Osório, rua que está localizada a
prefeitura municipal prédio histórico da cidade, a Rua Júlio de Castilhos que atravessa
a cidade muito utilizada como um acesso alternativo de entrada e saída da cidade e a
Rua Moreira Cezar maior rua estudada, com a presença de canteiros centrais utilizada
como caminho da entrada da cidade até chegar ao centro.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste trabalho, foram coletados dados de espécies arbóreas de todos os portes.
O resultado obtido foi de 1604 indivíduos ao total, sendo 15 destes considerados
mortos. Os espécimes foram agrupados 69 espécies distribuídas 35 famílias.
Identificação
Dentre as espécies identificadas Melia azedarach (Meliaceae) foi a que
apresentou maior número de indivíduos, seguida por Ligustrum japonicum (Oleaceae)
e Schinus molle (Anacardiaceae). Teixeira, I. F. (1999) em uma análise qualitativa
151
arbórea em Santa Maria RS, obteve uma distribuição totalmente irregular onde 14
espécies perfizeram 70,6% da arborização total, com destaque para Melia azedarach
com 18,1%. Como ocorre neste levantamento onde a Melia azedarach L. está em
primeiro lugar representando 12,7% da totalidade deste censo conhecido popularmente
como cinamomo este, segundo Santos e Teixeira (2001) é uma espécie exótica de
origem australiana com porte médio, de copa irregular e sua avaliação para o uso de
vias é o crescimento rápido, necessitando condução, produz ótima sombra, sendo
muito apreciada no sul do país e seus frutos são considerados tóxicos. Ligustrum
japonicum Trumb. conhecida como ligustro, está em segundo lugar representando
11,6% do total desta arborização, árvore exótica de origem do Japão, esta espécie o
ligustrum sp, embora não seja anemófilo, pode distribuir ao seu redor grande
quantidade de pólen fortemente alergizante segundo artigo publicado na Revista
Brasileira de Otorrinolaringologia 72 (4) de julho/agosto de 2006. Por este motivo o
município não distribui mais essas mudas para plantação. A popular anacauita
(Schinus molle L.) fica em terceiro lugar representando 8% desta amostra de
arborização, esta espécie segundo Backes & Irgang (2002) é considerada a árvore
sagrada dos incas que a denominaram “mulei”, de onde veio o nome espanhol
“molle”, é bastante marcante porque tem uma forma que não é frequente no reino
vegetal: ramos pendentes simulando um salso-chorão, o que pode atrapalhar a
visibilidade nas vias. As três espécies representam 32,3% do total arbóreo (gráfico 01)
dessas apenas a Schinus molle L. é considerada nativa do Brasil. É possível constatar
que nenhuma espécie ultrapassa 15% da totalidade de exemplares.
Biologia da espécie
De acordo com o gráfico 02, 88% das espécies encontram-se com quesito bom
para sua biologia, que é um número bastante favorável dentro da arborização urbana
que se desenvolve fora de seu hábitat natural. Apesar de gerarem alguns
inconvenientes estão adaptadas ao centro urbano. Nos exemplares regulares e
péssimos foram descritos aspectos visíveis de injúrias como: aspecto geral da planta,
presença de fungos, espécies parasitas como trepadeiras, espécies pintadas.
Conflito
Os conflitos existentes na arborização urbana são os aspectos mais relevantes
dentro do tema, por esta razão merecem atenção especial do poder público,
participação e colaboração dos moradores. Técnicas de conscientização e instrução
ambiental devem ser aplicadas com o intuito de amenizar possíveis conflitos como
com a pavimentação das cidades, a poluição urbana, a inadequação de porte perante
152
aos espaços urbanos, a falta de informação dos moradores no plantio, a rede viária e
telefonia, o vandalismo, falta de interesse com a causa e podas irregulares.
Rede elétrica
Segundo Milano e Dalcin apud Miranda e Carvalho (2009), árvores de grande
porte podem ser utilizadas sob redes com restritos problemas e baixa demanda de
poda. Neste trabalho as árvores que encostavam-se à rede somaram 224 representando
14% do total de indivíduos, denominadas de conflito atual quando com poda regular e
potencial se estava sujeita a danos.
Área livre no passeio
Outro conflito atual e potencial que ocorreu com frequência nos passeios foi a
inexistência ou insuficiência de área livre. Segundo Santos e Teixeira (2001)
denomina-se como tal, o espaço livre de pavimento que permitirá a infiltração da água
não inferior a 1m². Áreas livres pequenas ou inexistentes são resultados de covas mal
dimensionadas e da preocupação de manter o máximo de extensão da calçada com
pavimentação. Para Balmer e Zambrana apud Santos e Teixeira (2001) o tamanho da
cova deve permitir a colocação do torrão, a adição do substrato e o pleno
desenvolvimento do sistema radicular. Das 375 árvores analisadas do passeio
(calçada), 116 apresentaram insuficiência ou inexistência de área livre representando
7,3% do total das árvores como apresenta a figura 2.
Espécies inadequadas pelo porte, raiz e toxidade.
Segundo Miranda apud Teixeira (1999) em arborização de ruas é aconselhado o
uso apenas de espécies cujas raízes cresçam em profundidade, quanto a toxidade
muitas espécies são introduzidas e escolhidas pelos moradores pela sua beleza, muitas
espécies podem causar alergias e intoxicação. Ruschell apud Pires et al (2010)
recomenda a substituição por outras de porte semelhante e úteis à avifauna.
Ações de Gestão
Verificou-se que as ações de gestão foram consideradas 79% boas conforme
figura16, 18% regular e apenas 3% péssima. As podas inadequadas foram a principal
causa de escolha regular e péssima para as ações de gestão. A responsabilidade pelo
trabalho de poda é do poder público municipal. Segundo o diretor da distribuidora de
energia local CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica), árvores são problemas
constantes na distribuição de energia, ele mencionou um levantamento de 2008 onde a
CEEE (Companhia Estadual de Energia Elétrica), constatou que 70% de suas faltas de
energia eram ocasionadas interferências da arborização. Através deste levantamento
153
eles conseguiram autorização para contratar uma empresa terceirizada especializada
em podas urbanas, que trabalhou na cidade dois anos (2009/2010) e desde maio/2012
o contrato foi renovado onde uma empresa estará passando em cinco cidades desta
região para adequar as podas.
O ato de podar os exemplares anualmente faz parte da rotina dos moradores do
sul do país. Ao se aproximar o inverno, ou mesmo no outono, as árvores são,
literalmente, decapitadas. O fato não se prende às necessidades da planta, condição de
manejo, imposição do local ou riscos à população. É uma tradição: meses sem “r”,
árvores sem copa (SANTOS & TEIXEIRA, p. 25, 2001).
Por esta razão muitos moradores acabam fazendo podas em seus exemplares na
maioria das vezes sem nenhum auxilio técnico ou inspeção do órgão competente,
utilizando de podas drásticas como ocorreu na figura 5, ameaçando a integridade da
vegetação.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Observou-se que a estrutura urbana no município de Dom Pedrito apresenta
potencial para arborização, pois se constatou que ruas pavimentadas com canteiros
centrais são adequados e o tamanho dos passeios (3m de largura) também são
apropriados.
Em relação ao plantio inadequado de espécies constatou-se que o mesmo é
oriundo da falta de informação da comunidade em relação ao plantio adequado de
espécies apropriadas para introdução no meio urbano.
Dom Pedrito dispõe de um horto florestal em pleno funcionamento o Horto
Florestal Municipal Honorival Arrué Bacedo, aberto a comunidade para visitação e
distribuição de mudas. Cada morador tem direito a escolher três mudas gratuitamente
por visita, o horto oferece exemplares como: guajuvira, canafístula, acácia mudija,
pata de vaca, mandioquinha do mato, caroba, chuva de ouro, extremosa, uva do Japão,
timbauva, eucaliptus, goiabeira, ipê roxo, calistema, cinamomo, ameixa do Pará,
araçá, jacarandá, mamica de cadela, pitangueira, ipê amarelo, louro preto, aroeira
vermelha, angico, paina, espinilho, ipê champang, sibipiruna e anacauitas. Podendo
ser usado para a construção de viveiros para produzimos nossas mudas não precisando
comprar sementes de outros lugares.
Quadro 1: Indivíduos em ordem de quantidade de espécies, nome científico, nome popular e família
pertencente.
Espécie
Nome popular
Família
N. sp.
Melia azedarach L.
cinamomo
Meliaceae
204
Ligustrum japonicum Trumb.
ligustro
Oleaceae
185
Schinus molle L.
anacauita
Anacardiaceae
126
154
Lagerstroemia indica L.
Tipuana tipu (Benth.) Kuntze.
Schinus terebenthifolius Raddi.
Calistemon speciosus D.C.
Syagrus romanzoffiana (Cham.)
Glassman.
Hovenia dulcis Trunb.
Inga marginata Wild.
Tabebuia avellanedae Lor. Ex
Griseb.
Hibiscus rosa-sinensis Linn.
Rosa x grandiflora Hort.
Citrus limon L.
Morus sp.
Jacaranda mimosaefolia D. Don.
Tabebuia crrysotricha (Mart. Ex
DC) Standi.
Peltophorum dubium (Spreg.) Taub.
Nopalea cochenillifera (L.) SalmDyck
Cassia fistula L.
Duranta erecta L. ‘Gold Mound’
Psidium guajava L.
Nerium oleader L.
Yucca elephantipes
Eriobothrya Lindl.
Eugenia uniflora L.
Ficus sp.
Calliandra tweedii Benth
Citrus aurantium L.
Bauhinia fortificata Link.
Ipomea cairica (L.) Swett
Butia capitata (Mart.) Becc.
Brachychiton populneum (Shott) R.
Br.
Erythrina crista-galli (L.).
Chamaecyparis obtusa (Siebold &
Zucc.)
Prunus persica (L.) Batsch
extremosa
89
aroeira-vermelha
calistema
Lithraceae
Leguminoseae –
Papilionoideae
Anacardiaceae
Myrtaceae
jerivá
Palmae
51
uva-do-japão
Rhamnaceae
LeguminoseaeMimosoideae
41
ipê
Bignoniaceae
40
hibiscus
roseira
limoeiro
amoreira
jacarandá
Malvaceae
Rosaceae
Rutaceae
Moraceae
Bignoniaceae
39
35
35
31
30
ipê-amarelo
Bignoniaceae
27
canafístula
LeguminosaeCaesalpinoideae
26
cacto
Cactaceae
24
chuva-de-ouro
pingo-de-ouro
goiabeira
espirradeira
yuca
ameixa-do-pará
pitangueira
fícus
21
19
18
18
16
15
15
15
ipoméia
butiá
Caesalpinoideae
Verbeneaceae
Myrtaceae
Apocynaceae
Agaviaceae
Rosaceae
Myrtaceae
Moraceae
Leguminosae –
Mimosoideae
Rutaceae
LeguminosaeCaesalpinoideae
Convulvolaceae
Palmae
braquiquito
Sterculiaceae
9
corticeira-do-banhado
Leguminosae –
Papilionoideae
9
cipreste
Cupressaceae
9
pessegueiro
Rosaceae
8
tipuana
ingá
topete-de-cardeal
laranjeira
pata-de-vaca
155
76
67
60
40
14
13
12
12
10
Grevilea banksii R. Br.
Caesalpina peltophoroides Benth.
Enterolobium contortisiliquum
(Vell.)
Scheffera capitata
Espécie A82
Aloe arborescens Mill.
Pyrus communis
Araucaria columaris(Forst.) Hook.
Acacia podalyriaefolia A. Cunn.
Parkinsonia aculeata L.
Senna Multijuga
Philodendron cordatum Kunth ex
Schott
Aloisia gratissima
Espécie A70
Espécie A85
Platanus X acerifolia L.
Punica granatum L.
Grevillea robusta A. Cunn.
Ingá uruguensis
Acacia mearnsi De Willd.
Vachelia caven
Cydonia oblonga
Roystonea oleracea (Jacq.) O F.
Cook
Fuchsia hybrida Hort. Ex Siebert &
Voss.
Beilschmiedia emarginata (Meisn.)
Piptadenia paniculta
grevilha-anã
7
pau-cigarra
Proteaceae
Leguminoseae –
Caesalpinoideae
Leguminosae –
Mimosoideae
Aradiaceae
Asphodealaceae
Rosaceae
Aracauriaceae
LeguminosaeMimosoideae
LeguminoseaCaesalpinoideae
Leguminoseae
imbê
Araceae
3
cambarazinho
a70
a85
plátano
romã
grevilha-robusta
ingá
acácia-negra
spinilho
marmeleiro
Verbenaceage
Platanaceae
Punicaceae
Proteaceae
Leguminosae
Fabeaceae
Leguminosae
Rosaceas
3
3
3
3
2
2
2
2
2
2
palmeira-imperial
Palmae
2
brinco-de-princesa
Onagraceae
2
caneleira
angico
Lauraceae
Leguminosae
LeguminosaeMimosoideae
Lauraceae
Cupreaceae
Myrtaceae
Oleaceae
Apocynaceae
2
2
sibipiruna
orelha-de-macaco
capitata
a82
babosão
pereira
pinheiro
acácia-mimosa
cina-cina
Dimorphandra gardneriana Tul.
barbatimão
Espécie A41
Espécie A42
Espécie A72
Espécie A86
Espécie A87
Persea gratissima Gaert
Thuja occidentalis L.
Eucaliptus sp.
Olea europaea
Taberna emontana catharinensis
a41
a42
a72
a86
a87
abacateiro
tuia
eucalipto
oliveira
jasmim
156
6
6
6
5
5
5
4
4
4
3
2
2
2
2
2
2
1
1
1
1
1
Psidium acutangulum
Scheffera actimophyla
Schizolobium parahyba (Vell.)
Blake.
Euphorbia cotinifolia Linn.
Espécie A2
Espécie A5
Espécie A8
Espécie A11
Espécie A12
Espécie A16
Espécie A17
Espécie A20
Espécie A40
Espécie A53
Espécie A54
Espécie A72
Espécie A73
Espécie A74
Espécie A76
Espécie A83
Espécie A100
Espécie A101
Espécie A102
Espécie A103
Espécie A104
TOTAL
araçá
guapuruvu
euforbia
a2
a5
a8
a11
a12
a16
a17
a20
a40
a53
a54
a72
a73
a74
a76
a83
a100
a101
a102
a103
a104
árvore morta
Myrtaceae
Aradiaceae
Leguminoseae –
Caesalpinoideae
Euphorbiaceae
-
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
15
1604
Sugestiona-se neste trabalho a criação de uma campanha simples de arborização
para Dom Pedrito, onde os moradores possam ter informações de quais espécies
podem plantar, onde plantar e como plantar. Que todos tenham acesso às espécies
indicadas para arborização nas calçadas, esquinas e canteiros, para que as ruas
pavimentadas quando forem ampliadas sigam com esta estruturação de canteiros
centrais para que a comunidade tenha esta oportunidade de participar na construção da
arborização que traz tantos benefícios para as nossas vidas. A baixa utilização de
espécies nativas é perceptiva neste levantamento a produção de mudas nativas é
relativamente mais complexa pela falta de investimentos como já foi citado neste
trabalho. Mas, existem muitos benefícios neste aspecto pois a vegetação nativa adaptase melhor ao nosso clima é mais apreciada por nossas espécies de pássaros e possuem
uma importância cultural para a cidade. O próprio horto florestal local oferece entre
espécies exóticas algumas nativas indicadas para arborização urbana como:
157
Eugenia uniflora L. (pitangueira): espécie de sistema radicular profundo. Não é
exigente quanto a solos ou clima. Seu porte aponta aptidão para condições urbanas é
uma importante frutífera apreciada pela avifauna e cultivada em vários locais do
mundo (SANTOS & TEIXEIRA, 2001, P.83; BACKES & IRGANG, 2002, p.238).
Luehea divaricata Mart. (açoita-cavalo): embora pouco frequente, possui
potencial para uso em vias, principalmente canteiros centrais. Espécie rústica de
crescimento rápido (SANTOS & TEIXEIRA, P.95, 2001).
Peltophorum dubium (Spreg.) Taub. (canafístula): o porte inviabiliza sua
indicação para calçadas. Poderá ser utilizada em canteiros centrais, preferencialmente
sem a presença de redes aéreas (SANTOS & TEIXEIRA, P. 101, 2001).
Inga marginata Willd. (Ingá): espécie muito usada em paisagismo urbano,
como ruas, praças e estacionamentos, ou cultivada como frutífera. A infusão da casca
tem propriedades anti-sépticas (BACKES & IRGANG, P. 160, 2002).
Caesalpinnia peltophoroides Benth (sibipiruna): de crescimento rápido, rústica
com características estéticas recomendadas para uso em vias públicas (SANTOS &
TEIXEIRA, p.70).
Tabeluia avellanedae Lor. Ex Griseb. (ipê-roxo): a estrutura da copa permite
compatibilizar com a fiação, mesmo em caso de podas necessita de calçadas largas. A
florada exuberante induz seu uso (SANTOS & TEIXEIRA, p.116, 2001).
Tabeluia crysotricha (Mart. Ex DC) Standl. (ipê-amarelo): o porte favorece a
utilização em ruas com pistas e calçadas estreitas e sob fiação aérea. Não causa danos
ao pavimento (SANTOS & TEIXEIRA, p. 117, 2001).
CONCLUSÃO
Este levantamento realizado em uma amostra da cidade qualificou, quantificou
e caracterizou os exemplares arbóreos locais em um estudo inédito que teve por
objetivo trazer subsídios para um futuro plano de arborização municipal.
Planejamento é fundamental para re-arborização a, longo prazo, e para que as
arborizações construídas no presente não intervenham no meio urbano negativamente
no futuro. A população é controvérsa neste aspecto, precisando ter consciência o quão
é importante e significante a vegetação arbórea dentro das cidades, estamos em uma
era de mudanças, para valorizar, respeitar e adaptar-se a cada ser desse ecossistema
que nos faz ter a sensação de fazer mais parte dele.
Verificam-se aspectos negativos na arborização que podem ser amenizados com
mobilização do poder público e comunidade. Já os aspectos positivos, sobressaem-se a
cada canteiro, a cada árvore nos passeios, antes de gerarem conflitos, são monitorados
por moradores que se preocupam com a arborização. Muitos moradores expuseram
158
suas histórias curiosas durante pesquisa de campo mostrando interesse e cuidado com
a vegetação.
O ideal é que canteiros centrais e passeios largos existam em toda extensão da
cidade para que todos possam ter esta oportunidade de participar e compartilhar da
arborização urbana.
O tratamento dispensado à arborização urbana está interligado à qualidade de
vida dos homens nas cidades que se encontram cada vez mais populosa. Desta forma
uma arborização adequada e protegida, é um fator despoluidor em todos os níveis,
funcionando como quebra vento, fornecendo sombra e atraindo pássaros e,
ocasionando bem estar físico e psicológico ao homem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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município de Teresópolis/RJ. Monografia Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/RJ,
2008.
BACKES, Paulo; IRGANG, Bruno. Árvores do Sul: Guia de identificação e interesse
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DUARTE, F. Planejamento Urbano. Curitiba: Ilpex, 2007.
EMBRAPA. DOC 42 INSSN 1517 – 1973 DEZEMBRO DE 2002.
LAKATOS, E. M., MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Cientifica. 3. Ed. Ver.
e ampl.-São Paulo: Atlas 1991
LEI N° 1.250, DE 26 DE OUTUBRO DE 2005. MUNICIPAL
LEI N° 1.403, DE 13 DE JUNHO DE 2007. MUNICIPAL
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LORENZI, Harri; SOUZA, Hermes Moreira de. Plantas Ornamentais no Brasil: Arbustivas,
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_____________. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas
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MANUAL TÉCNICO DE ARBORIZAÇÃO URBANA PREFEITURA DE SÃO PAULO 2°
EDIÇÃO, 2005.
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PIRES, Núbia; ALVES Mariano Teixeira; MELO, Marina da Silva; OLIVEIRA Danilo Elias
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SANTOS, N.R.Z.; TEIXEIRA, I.F. Arborização de Vias Públicas: Ambiente x vegetação.
Santa Cruz do Sul/R$, 2001.
159
LEVANTAMENTO DAS CACTÁCEAS
NO CERRO DO GRAXAIM
EM DOM PEDRITO, RS.
Daiane Gonçalves Jacinto 1
Anabela Silveira de Oliveira Deble 2
1
Tecnóloga em Gestão Ambiental, ex. aluna da Universidade da Região da Campanha – Urcamp.
[email protected]; ²Orientadora, Bióloga, Dra. Professora, Universidade da Região da Campanha –
Urcamp - Campus Universitário de Dom Pedrito, RS.
Levantamentos
florísticos
consistem
em
importante recurso para o reconhecimento dos vegetais
nos mais variados ambientes. Estudos sobre a família
das cactáceas no Rio Grande do Sul são muito raros
mesmo sendo o Estado um importante centro de
diversidade que abriga muitas espécies endêmicas, as
quais estão sendo indevidamente extintas devido às
ações antrópicas e destruição de seus habitats.
160
INTRODUÇÃO
As constantes agressões ao meio ambiente como o desmatamento, a retirada
total da vegetação para a expansão da agricultura, das pastagens, e das áreas urbanas,
assim como a construção de estradas e barragens dentre outras atividades podem
resultar em extinção de espécies endêmicas da flora e da fauna.
A flora brasileira é conhecida como uma das mais importantes no mundo devido
a sua grande diversidade. No Brasil, há muitas espécies vegetais nativas ainda não
estudadas, muitas delas encontram-se em fase de extinção; outras, já foram extintas
antes mesmo de serem conhecidas cientificamente, este problema está ligado a falta de
investimentos, estudos ou programas de pesquisa sólidos e bem estruturados que
busquem a valoração da biodiversidade.
O foco do presente trabalho é a Família Cactaceae, uma importante
representante da flora brasileira devido seu potencial ornamental, econômico e sua
grande diversidade no Rio Grande do Sul.
A proposta de desenvolver este trabalho partiu da necessidade de catalogar as
espécies de cactáceas na região da Campanha, dado a pela escassez de informações
sobre esta importante família botânica. O Levantamento das espécies foi realizado no
Cerro do Graxaim na cidade de Dom Pedrito.
A família Cactaceae conta com 124 gêneros e aproximadamente 1.440 espécies
(HUNT et al., 2006) é predominantemente neotropical e encontrada principalmente
em ambientes áridos e semi-áridos, porém cerca de 220 espécies estão adaptadas à
vida epifítica em florestas tropicais e subtropicais úmidas (BARTHLOTT,1983).
De acordo com Taylor & Zappi (2004), no Brasil 26% das espécies ocorrem nos
campos rupestres e 31% na caatinga (incluindo o ecótono com a Mata Atlântica);
deve-se levar em conta que a extensão do Bioma Caatinga é muitas vezes superior
aquela dos campos rupestres, aumentando o significado do endemismo que ocorre nos
campos rupestres. Quanto ao habitat as cactáceas são terrestres, epifíticos ou rupícolas,
sem folhas desenvolvidas e fortemente suculentas, exceto Pereskia que possui folhas
laminares normais (JUDD et al., 1999).
No Brasil são conhecidos 37 gêneros e 233 espécies, onde 174 são endêmicas; o
Rio Grande do Sul abriga 12 gêneros e das 80 espécies reconhecidas, 39 são
endêmicas do Estado (LARROCCA, 1998).
De acordo com o trabalho clássico de Schumann (1898), as cactáceas se
dividem em três subfamílias: Pereskioideae,Opuntioideae e Cactoideae. Pereskioideae
possuem dois gêneros, são os cactos primitivos que apresentam folhas normais;
Opuntioideae possuem cinco gêneros, são os cactos do grupo de Opuntia, geralmente
com artículos em forma de raquete e apresentando gloquídeos; Cactoideae possuem 91
gêneros que inclui todos os outros cactos, desde colunares com porte arbóreo até os
161
pequenos e globosos e epífitos pendentes. Esta última subfamília está subdividida em
9 tribos, sendo considerada a maior das 3 subfamílias em número de espécies
(BARTHLOTT & HUNT,1993).
Segundo LARROCCA (1998), o Rio Grande do Sul possui representantes das
três subfamílias, sendo a Cactoideae representada por apenas quatro de suas 9 tribos:
Cereeae, Trichocereeae, Notocacteae e Rhipsalidae.
Os cactos têm a seguinte morfologia segundo Gibson & Nobel (1986), Terrazas
& Mauseth (2002), Nobel (1978), Scheinvar (1985): O caule pode ter forma alongada
(Cereus), esférica (Mammillaria) ou achatada (Epiphyllum). A forma alongada e
carnuda tem a função de acumular água, a esférica consegue obter o máximo volume
da água, as formas redondas que possuem a maior parte dos cactos fazem com que a
transpiração pelos seus poros se reduza consideravelmente. A pele ou cutícula dos
cactos é espessa e apresenta uma cera que ajuda a evitar a perda de água por
transpiração. Há cactos que têm o caule parecido com uma folha e outros que formam
grandes colunas mais ou menos grossas com inúmeras costelas. Um grande número de
cactos é globular e dentro destes esféricos temos cactos com costelas (Melocactus,
Echinocactus, etc.) e cactos com protuberâncias (Mammillaria, etc.). Os Cereus têm a
forma de árvore e de tronco grosso. Nem todos os cactos emitem ramificações. Alguns
cactos vivem com um corpo isolado e solitário para toda a vida. Há cactos que emitem
ramos a partir do seu tronco, como em Cereus ou desde a base do caule inicial, como
em Trichocereus, podendo crescer de forma vertical, inclinada ou rastejante. Há outro
tipo de cactos a que nascem filhotes que se podem separar do caule mãe, como em
Echinopsis, Mammillaria, etc.
Algumas espécies possuem raiz cônica e muito profunda que vai a busca da
umidade, em especial por baixo das pedras, onde se acumula água; outras possuem
raízes superficiais muito ramificadas e com pelos absorventes e, quando chega à época
das chuvas, captam a maior quantidade de água possível. A água absorvida na época
das chuvas é rapidamente armazenada nos tecidos esponjosos do corpo do cacto, que
possuem uma estrutura especial.
As folhas em muitas espécies evoluíram e se transformaram em espinhos;
cientificamente provou-se que os espinhos são formas reduzidas dos limbos das folhas
e que os tubérculos ou protuberâncias, onde se situam as aréolas e os espinhos,
correspondem à base das folhas. As folhas verdadeiras são encontradas em algumas
espécies dos gêneros Pereskia e Rhodocactus. Na generalidade as folhas estão
ausentes ou muito rudimentares.
Os espinhos são outra maneira de reduzir a perda de água, porque sem as folhas
eles evitam ainda mais a transpiração, eles nascem nas aréolas e são a única
reminiscência de existência de folhas e que não estão unidos à epiderme porque, ao
162
serem arrancados não danificam a planta. Os cactos que crescem em zonas muito
sujeitas ao efeito forte do sol apresentam uma densidade muito grande de espinhos
fortes que, quando fazem sombra, diminuem o efeito do sol sobre o corpo do cacto.
Todos os cactos florescem, porém alguns tipos somente irão florescer após os
80 anos de idade, elas são muito vistosas, e de diversas ciores, tais como róseas,
púrpuras, alaranjadas, avermelhadas, amarelas ou brancas; podendo chegar a 35
centímetros de diâmetro em algumas espécies. Quando uma flor tem hábitos noturnos,
geralmente é de cor branca, porque não fazem uso da cor para atrair os polinizadores
e, em contra partida, são muito aromáticas, outras são muito vistosas e atraem insetos,
pássaros e morcegos. As flores dos cactos são perfeitas, isto é, a mesma flor possui
tanto órgão masculino como feminino.
Os frutos geralmente são do tipo baga, mais raramente podem apresentar-se
secos.Algumas espécies produzem frutos comestíveis, como é o caso de Opuntia
ficus-indica, que produz o conhecido figo-da-índia.
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA
De acordo com Rocha & Agra (2002) muitas espécies de cactáceas possuem
importância econômica, principalmente pelo valor ornamental e forrageiro, além de
servirem para alimentação de bovinos, caprinos e ovinos, principalmente na época de
estiagem.
As Cactáceas, também são importantes na manutenção de vários organismos
vertebrados e invertebrados, na alimentação humana como no consumo de frutos dos
Cereus jamacaru, Hylocereus setaceus, Hylocereus undatus e mesmo Cipocereus; na
elaboração de doces caseiros é utilizado espécies de Melocactus, enquanto
Discocactus placentifomis é utilizado como fonte de madeira, para o paisagismo e na
medicina tradicional (Lima, 1996). Estudos realizados pelo mesmo autor
demonstraram que é possível usar farinha de ficheiro (Pilosocereus spp.) juntamente
com a farinha de trigo em pães, bolos e biscoitos. Os valores nutricionais da farinha de
ficheiro chegam a 8,36% no teor de amido e 7,87% de fibra.
Segundo Agra (1996); Andrade et.al.(2006) algumas espécies de cactáceas são
utilizadas na Medicina caseira ganham destaque Cereus jamacaru, cujo infuso da raiz
é utilizado para doenças renais e infecção urinária e diversas espécies de Melocactus,
cujo parênquima é utilizado para elaborar melaço para gripe, tosse e bronquite.
Os benefícios atestados vão desde a cura da ressaca até ao combate à diabetes.
Ao longo da história foram encontrados outros benefícios para a planta, ela é muita
rica em fibras de carboidratos, contém fibras que não se dissolvem na água, e pelo
contrário, absorvem água,esta propriedade faz com que os níveis de glicose no sangue
se estabilizem, sendo indicado para quem sofre de diabetes. Se aplicado diretamente
163
sobre a pele, amenizam as espinhas, acne e outras inflamações na pele, inclusive
aquelas provocadas por picadas de insetos. Pode atuar como analgésico, amenizando
os sintomas de reumatismo, asma, e hemorróidas.
CONSERVAÇÃO – AMPARO LEGAL
A família Cactaceae, está incluída no apêndice II da CITES (HUNT, 1992), da
qual o Brasil participa desde os anos 1980. Esta legislação impede que espécies
listadas atravessem fronteiras internacionais sem as permissões de exportação e
importação previstas por lei. Muitas espécies, em virtude de sua inclusão no apêndice
1 do CITES, são totalmente protegidas.
Segundo o anexo I da Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas
de Extinção são 36 espécies da família cactaceae onde estão incluídos todas as
espécies dos gêneros Discocactus, Uebelmannia e alguns Melocactus visando
protegê-los das atividades de coletores inescrupulosos. Para as espécies listadas sob o
apêndice I da CITES a emissão de licenças de exportação e importação não tem
validade, de modo a dificultar a exploração extrativista e comercial dessas plantas no
mercado internacional.
O Diário Oficial do Rio Grande do Sul divulgou em 31/12/2002 (SEMA 2002),
a Lista das espécies da flora ameaçadas de extinção no Rio Grande do Sul onde 213
táxons pertencentes a 23 famílias de campos secos e úmidos estão ameaçados. Destes,
146 táxons ocorrem no bioma Pampa e 85 no bioma da mata Atlântida, sendo 28
táxons comuns aos dois biomas. As famílias com maior número de representantes
ameaçados são: as cactáceas com 50 espécies ameaçadas de extinção.
METODOLOGIA
O levantamento foi feito através do método de caminhamento (FILGUEIRAS et
al.,1994), a área de estudo escolhida foi o Cerro do Graxaim que tem cerca 18 Km², as
coordenadas são 30º50´26.50"S e 54º31`41.97" O com elevação de 221 m no ponto de
começo do levantamento, enquanto no topo do Cerro as coordenadas são
30º50´35.02"S e 54º31`22.84"O com elevação de 237 m (Figuras 1, 2). Foi observado
que a mesma apresenta-se em bom estado de preservação com formações abertas,
afloramentos rochosos, e vegetação nativa preservada, tanto das áreas campestres e
rochosas como das matas ciliares; segundo Beck de Souza (2008) apresenta um relevo
ondulado a suave ondulado, onde os solos são bastante intemperizados, revelando-se
mais dissecado, bastante raso e pedregoso. As espécies foram identificadas através de
bibliografia específica e alguns indivíduos foram coletados para posterior confirmação
da identificação, devido à falta de floração ou frutificação.
164
RESULTADOS & DISCUSSÕES
Foram encontradas 10 espécies pertencentes a 7 gêneros e distribuídos em 4
tribos, sendo 3 da subfamília Cactoideae (Cereeae, Notocacteae, Trichocereeae) e 1 da
subfamília Opuntioideae.
No levantamento foi constatado que o gênero Parodia é predominante na área de
estudo, pois dos 901 indivíduos contabilizados, 587 são do referente gênero, sendo de
4 espécies diferentes.
A espécie com maior número de indivíduos encontrados foi Parodia ottonis
(266), seguida de Parodia langsdorfii (143), Echinopsis oxigona (133), Parodia
mammulosa (124), Wigginsia erinacea (92), Parodia nothorauschii (54), Opuntia
assumptionis (43), Cereus hildmannianus (32), Gymnocalycium uruguaiense (12) e
Frailea mammifera (2), destas Frailea mammifera é endêmica da região, no entanto
foram encontrados apenas dois indivíduos, o que comprova a raridade da espécie no
local estudado.
BREVE DESCRIÇÃO DOS GÊNEROS
Cereus Mill - este gênero possui cerca de seis espécies endêmicas da América do Sul
sendo que duas ocorrem no Rio Grande do Sul (KIESLING, 2005). São cactos
colunares de porte arbustivo ou arbóreo, possui cerca de 5 a 9 costelas, aréolas sem
gloquídeos, flores noturnas tubulosas brancas-rosadas e frutos podendo ser de cor
vermelho ou amarelo (OLIVEIRA, -DEBLE-2011 e LARROCA, 1998).
Echinopsis Zucc - possui cerca de 50 espécies no sul do Brasil, Uruguai, Bolívia e
Argentina (KIESLING, 2005 e BRITTON & ROSE, 1920). Este gênero de acordo
com Larroca (1998) apresenta muitas variações: está planta pode ser arborescente,
colunar, arbustiva ou globosa, espécies que possui muitos espinhos e outras quase
sem, com poucas costelas outras com muitas, algumas com florescimento noturno e
outras diurnos e os frutos globosos á ovóides, podendo ser carnosos ou secos.
Frailea Britton & Rose - segundo Machado (2007, part. 1 e 2 ) este gênero possui
cerca de 12 espécies, encontradas geralmente em locais com afloramentos rochosos,
campos e savanas no sul do Brasil, Paraguai, Uruguai, sudeste da Bolívia e nordeste
da Argentina.O Rio Grande do Sul é visto como um importante centro de diversidade,
pois possui muitas espécies sendo ainda algumas endêmicas de uma região especifica,
a maioria das espécies encontram-se criticamente ameaçadas devido a destruição do
seu habitat natural, pecuária entre outras ações antrópicas.
Gymnocalycium Pfeiff. ex Mittler - Ocorrem principalmente no Rio Grande do Sul, na
Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia o gênero é composto por cerca de 60 espécies
(KIESLING, 2005). Estes cactos possuem o corpo globoso com um verde mais escuro
na epiderme se comparar com o verde dos demais gêneros, poucos espinhos e poucas
165
costelas são encontrados em afloramentos rochosos, quando em flor são de fácil
reconhecimento devido ao cálice desprovido de tricomas.
Opuntia Mill.- segundo Kiesling, (2005) possui uma ampla distribuição com cerca de
200 espécies, a maior concentração encontra-se no México e também ocorre do sul do
Canadá até o Uruguai. Este gênero é composto por plantas arbustivas, possuem caules
articulados comprimidos lateralmente, com flores diurnas campanuladas de cor
amarela ou laranja com até 4 cm de comprimento, seus frutos são carnosos quando
maduro apresenta gabro rosado.
Parodia Speg - é representado por aproximadamente 70 espécies que ocorrem em dois
centros de diversidade: o primeiro na região dos pampas, Uruguai, oeste do Paraguai e
nordeste da Argentina; o segundo no oeste dos Andes e da Bolívia (MACHADO et al.,
2008). As características comuns a maioria das espécies desse gênero são: o caule de
forma globosa a cilíndrica, as costelas e tubérculos bem definidos, os espinhos rígidos
distribuído por todo o corpo da planta e as flores que não são tubulosas. Normalmente
a identificação das espécies não é fácil, pois em alguns casos a diferença pode ser
observada no número de costelas, cor e distribuição dos espinhos (OLIVEIRA,DEBLE-2011 e LARROCA, 1998).
Wigginsia Porter - representado por cerca de 5 espécies que ocorrem no Rio Grande
do Sul, no Uruguai e Argentina. Algumas espécies desse gênero podem ser
confundidas com as do gênero parodia devido à semelhança em sua forma, nas flores
e disposição dos espinhos; a diferença pode ser observada nos frutos que são de cor
avermelhada quando maduros e também a presença de pêlos densos e numerosos
cobrindo a região central dos caules formando um disco e assemelham-se a um
cefálio.
PRINCIPAIS CARACTERISTICAS DAS ESPÉCIES ENCONTRADAS
Cereus hildmannianus K. Schum. (figura 3) - podem alcançar até 8 metros de
altura, possuem muitas ramificações, com costelas de 6 à 9 bem definidas chegando
até 6 centímetros de altura,os espinhos que partem de aréolas com tomento cinza,
sendo em número de 5 à 10 radicais e rígidos de cor castanho ou até preto, suas flores
campanuladas com cerca de 10 à 18 cm de comprimento e o fruto de cor amarela
quando maduro sua polpa é branca e as sementes pretas. O período de floração e
frutificação da espécie é no verão (LARROCCA, 1998).
Echinopsis oxygona (Link & Otto) Pfeiff & Otto (figura 4) - apresenta corpo
globoso com costelas bem salientes, pequenos espinhos retos de até 2 cm de cor
levemente amarelados, as flores são infundibuliformes com cerca de 20 cm de
comprimento suas pétalas são rosadas e florescem a noite ou nas primeiras horas da
manhã.
166
Figura 1. Aspecto geral do Cerro do Graxaim. Figura 2. Vista panorâmica do topo. Figura 3. Cereus
hildmannianus. Figura 4. Echinopsis oxygona.
167
Frailea mammifera Buining & Bredero ssp. mammifera (figura 5) espécie
criticamente ameaçada encontradas somente nos campos rupestres ao norte de Dom
Pedrito e sul de São Gabriel; a mesma pode ser facilmente identificada por seus
espinhos amarelo-dourados e frutos densamente pubescentes, com tomento amarelado,
este cacto possui um corpo robusto fortemente tuberculado chegando até 8 cm de
altura e 4 cm de diâmetro (OLIVEIRA,-DEBLE 2011).
Gymnocalycium uruguayense (Arrech.) Britton & Rose Osten (figura 6) - possui
um corpo comprimido com cerca de 10 a 14 costelas, tubérculos com protuberância
notável na parte inferior, aréolas com 5 a 7 espinhos flexíveis chegando até a 2cm de
comprimento, suas flores são amarelas e os frutos são ovais com aproximadamente 5
cm de comprimento e 2cm de diâmetro. Normalmente se desenvolvem em fendas
rochosas como mostra a figura 3 A.
Opuntia assumptionis K. Schum.(figura 7) - esta espécie é um arbusto ereto
podendo alcançar até 2 metros de altura, apresenta articulações em forma obovada,
com cerca de 10 a 18 cm de largura e 7 a 10 cm de comprimento e 1 cm de espessura
onde possui de 15 a 20 aréolas de cada lado (com até 3 espinhos por aréola) e
praticamente cobertas por espinhos rígidos de cor cinza e tons marrons,
esbranquiçados com suas pontas mais escuras. Apresentam ainda flores amarela-limão
e frutos de cor rosada.
Parodia langsdorfii (Lehm.) D. R. Hunt (figura 8) – Sobre esta espécie não se
obteve informações nas bibliografias consultadas, sendo as características
apresentadas são as aparentes, ou seja, as que podem ser observadas em uma análise
holística; a mesma apresenta características comuns à espécie Wigginsia erinacea
(alguns autores consideram como Parodia erinacea) com corpo globoso, espinhos
rígidos que neste caso a Parodia langsdorfii possui uma quantidade maior do que a
Wigginsia erinacea. Foi observado também Parodia langsdorfii ocorre apenas em
uma latitude superior as outras já que a mesma só foi encontrada no topo do Cerro do
Graxaim.
Parodia mammulosa (Lem.) N. P. Taylor (figura 9) - possuem costelas e
tubérculos definidos, suas flores são amarelas com um tom rosado, no entanto, sua
principal característica que a diferencia das outras espécies são os espinhos grandes
centrais rígidos de aproximadamente 3 cm de comprimento e mais cerca de 6 menores
no entorno de cada uma das aréolas que apresentam um tomento de tom avermelhado.
Parodia nothorauschii D. Hunt (figura 10) - esta espécie pode ser facilmente
confundida com a Parodia mammulosa, entre as características que as diferenciam
destaca-se: a parodia nothorauschii possui uma quantidade maior de espinhos que
cobre todo seu corpo e também de aréolas que não possuem tomento, possui um
espinho central mais rígido que os demais em cada aréola.
168
Figura 5. Frailea mammifera. Figura 6. Gymnocalycium uruguayense. Figura 7. Opuntia assumptionis.
Figura 8. Parodia langsdorfii. Figura 9. Parodia mammulosa. Figura 10. Parodia nothorauschii. Figura
11. Parodia ottonis. Figura 12. Wigginsia erinacea.
169
Parodia ottonis (Lehm.) N. P. Taylor (figura 11) - espécie de pequeno porte que
varia de 2 a 4 cm de altura por 5 a 6 e diâmetro, que possui de 7 a 12 costelas as
demais características são comuns ao gênero; com exceção dos espinhos que neste
caso são encurvados são longos medindo até 4 cm de comprimento e de cor
avermelhada fator que facilita a sua identificação.
Wigginsia erinacea Haw (figura 12) - possui o corpo robusto com até 20 cm de
diâmetro, com poucos espinhos onde os mesmos são curtos e bem rígidos, as flores
são amarelo-rosadas de até 2 cm e seus frutos glabros, ocultos pelo tomento apical.
Encontradas em afloramentos rochosos e campos rupestres.
CONCLUSÕES
Considerando as informações contidas no trabalho conclui-se que muitas
espécies da família das cactáceas ainda não foram estudadas ou não contém dados
suficientes, principalmente, aquelas que estão criticamente ameaçadas de extinção
devido à falta de dados ou estudos específicos, também não estão no anexo I da
CITES estando sujeitas ao desaparecimento. Pode-se citar também o caso dos estudos
voltados para a medicina, como foi visto no trabalho os resultados são surpreendentes
sobre o poder medicinal e os benefícios das cactáceas.
Com relação aos objetivos do trabalho, todos foram atingidos, pois a área de
estudo proporcionou um levantamento qualiquantitativo rico em diversidade de
gêneros e espécies, onde foi contabilizada uma quantidade significativa de indivíduos.
Espera-se ter contribuído de alguma forma e que este trabalho sirva como base ou
estímulo para que mais trabalhos sejam feitos sobre o tema para enriquecer a
bibliografia existente.
Observou-se pelo levantamento da área que a mesma apresenta boas condições
de preservação através do número de espécies e indivíduos encontrados. Sugestiona-se
um estudo mais detalhado na época da primavera para a elaboração de chave de
identificação para as espécies ocorrentes no local.
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171
A ABORDAGEM DOCENTE DA EDUCAÇÃO
AMBIENTAL NAS ÁREAS DE CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS EM ALGUMAS ESCOLAS DO
MUNICÍPIO DE BAGÉ/RS
Bruna Gonçalves Robaina1
1
Bióloga. Rua General Neto, 19, 2º Andar, 96400380 Centro, Bagé/RS.
Quando se objetiva trabalhar verdadeiramente a
Educação Ambiental as dificuldades são grandes, mas
precisam ser enfrentadas, pois a maior parte dos
problemas ambientais tem suas raízes em fatores sócioeconômicos, políticos e culturais, e que não podem ser
previstos ou resolvidos por meios puramente
tecnológicos; corroborando a grande importância da
inserção da Educação Ambiental nas escolas, a fim de
conscientizar os alunos a se tornarem cidadãos
ecologicamente corretos.
172
INTRODUÇÃO
A escola tem papel fundamental na formação do indivíduo em termos de caráter
social e crítico com relação ao contexto em que se enquadra. Os professores, além de
cumprir com o conteúdo curricular devem ampliar o horizonte dos seus alunos
tratando, dentre outros aspectos, sobre a responsabilidade socioambiental.
O meio ambiente encontra-se em sucessivas transformações, onde o ser humano
é o principal causador destas. Os problemas ambientais devem desacelerar, sendo
necessária uma ação coletiva, onde o difusor é o professor. A criança e o adolescente
estão absorvendo todas as informações que o modelo de professor presente em sala de
aula os passa, e justamente por isso o docente deve ter em mente a importância da
conscientização ambiental que ele deve transmitir aos mesmos, desenvolvendo, desse
modo sujeitos desencadeadores de ações que irão beneficiar todos os que vivem no
meio.
Inúmeras são as formas de abordar a consciência ambiental com os alunos e
estas dependem quase que exclusivamente do interesse do docente. Faz-se necessário
criar uma rede permanente de informação para que os professores conheçam os temas
a respeito do meio ambiente, fazendo-os sensibilizarem para a necessidade de uma
mudança de comportamento frente às questões ambientais.
O objetivo deste trabalho foi verificar aforma em que os professores abordam os
temas ambientais nas escolas a partir da concepção de que estes têm a respeito do
tema, se há envolvimento com a comunidade escolar e se existe a interdisciplinaridade
no desenvolvimento das atividades.
REFERENCIAL TEÓRICO
A educação
De acordo com Schall (2007), pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) é preciso levar o conhecimento da ciência e desenvolvê-lo por meio da
crítica e de questionamentos, e quanto mais se aproveitara realidade local para inserir
a ciência, melhor será a dinâmica do aprendizado.
A profunda crise ambiental mundial coloca em risco não só a qualidade de vida,
mas a continuidade da mesma. A educação é o instrumento que a longo e médio prazo
seria capaz de modificar a relação prejudicial que se estabeleceu entre o homem e a
natureza ao longo de sua evolução. Nesse sentido, faz-se necessária uma compreensão
do que está acontecendo com o ambiente para que a busca por alternativas de
conservação seja efetiva. A percepção ambiental pode ser vista como um dos meios
para a compreensão do mundo pelos indivíduos, já que trabalha com os sentidos de
cada um (NUNES, 1988; SILVA et al., 2006; LARRATÉA, 2007).
173
Vianna et al. (1994) comentam que a educação é um instrumento de
transformação de percepções e atitudes pois, já que se acredita no papel da escola em
formar os cidadãos responsáveis pelo futuro da sociedade, nela é que se deve combater
a atitude de passividade diante das dificuldades, os autores ainda ressaltam que o
professor também deve desempenhar seu papel de cidadão e juntamente com a escola
promover ações em defesa do meio ambiente e da qualidade de vida, pois, ainda que
essas ações pareçam pequenas diante da dimensão do problema, elas servem para
mostrar aos alunos que algo pode e deve ser feito.
Histórico da Educação Ambiental
A expressão “environmentaleducation” foi ouvida pela primeira vez em 1965,
na Grã-Bretanha, por ocasião da Conferência em Educação, realizada em Keele. A
partir dessa data foi concluído que a Educação ambiental é a parte essencial de todo o
cidadão. Naquela época a EA(= Educação Ambiental) acontecia com enfoque para a
conservação onde o meio ambiente era visto como recurso,ao passo que na escolao
meio ambiente era tratadocomo expediente pedagógico (FERTONANI, 2003).
Em termos mundiais, a discussão deste tema intensificou-se na década de 1970.
A conferência de Tbilisi, em 1977, rompe com a EA meramente conservacionista, e
fundamenta a EA em dois princípios básicos: 1- Uma nova ética que orienta os valores
e comportamentos para os objetivos de sustentabilidade ecológica e equidade social;
2- Uma nova concepção do mundo como sistema complexo, a restituição dos
conhecimentos e do diálogo dos saberes, convertendo a interdisciplinaridade em um
princípio metodológico a ser privilegiado pela EA (DIAS, 1991, p. 34).
No Brasil o tema começou a ganhar importância a partir da década de 1980.
Desde então, criaram-se programas de capacitação de educadores ambientais.A EA
passa a ser abordada oficialmente através da Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de
1981. Essa lei surgiu pelo trabalho e entusiasmo de partidos de esquerda, ONGs,
acadêmicos e ambientalistas, a partir desta data vários órgãos passaram a contribuir
para a implementação de programas, como o PRONEA, Programa Nacional de
Educação Ambiental (KURY, 2009).
Em 1999 se criou a Política Nacional de Educação Ambiental, que estabelece
diretrizes da educação ambiental. Esta demanda decorrente dos problemas ambientais
vividos por toda a sociedade provoca a necessidade de profissionais aptos a trabalhar
com essa educação e assim formação de professores em educação ambiental é uma
necessidade reconhecida desde a realização da Conferência de Tbilisi, e ao longo de
inúmeros congressos e debates que a sucederam (BRASIL, 2008).
174
Educação Ambiental
A expressão “educação ambiental” surgiu como um dos resultados da
conscientização da grave crise ambiental pela qual passava o mundo industrializado e
estava relacionada ao componente educacional (KRASILCHIK, 1986).
Brack e Santos (1992) afirmam que um trabalho de Educação Ambiental não
deve priorizar em ter somente a comunidade como aliada formal, mas como principal
agente de defesa do ambiente e da vida contra os desequilíbrios ecológicos e sociais. É
necessário fazer com que as pessoas percebam que elas são as responsáveis pelo
cuidado do local onde vivem, e que isso deve começar na sua casa, rua, bairro e
cidade.
Reigota (1994) reconhece que a EA tem sido percebida como uma atraente
chave para a abertura das mais diferentes portas. Conforme o mesmo autoré
compromisso das políticas públicas a inclusão da diversidade com o questionamento
dos valores da sociedade de consumo, diante da busca pela qualidade de vida e
“felicidade material, física e espiritual”.Lindner (1996), seguindo a mesma linha de
pensamento, acreditaque a educação ambiental consiste em uma nova filosofia de
vida. Nessa mesma direção, Ferreira (2008) também acredita que o discurso ambiental
não representa somente o discurso voltado ao ambiente, abarcado também o processo
social, por meio do qual ele é construído e transmitido.
O CONAMA definiu a EA como sendo um processo de formação e informação,
orientando para o desenvolvimento da consciência crítica sobre as questões ambientais
e de atividades que levem a participação da comunidade na preservação do meio
ambiente, enquanto o art. Iº da Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, amplia o conceito
anterior e define a EA como os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do
povo, essencial à sadia qualidade de vida e sustentabilidade (BRASIL, 1998).
Conforme a definição de Loureiro (2004), a EA é uma práxis educativa e social
que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, atitudes e habilidades que
possibilitem o entendimento da realidade da vida e atuação lúcida e responsável de
atores sociais, individuais e coletivas no ambiente.
Para Trivelato e Silva (2011) a EA consolida-sepela prática educativa integrada,
que pode ocorrer em diversos contextos podendo oferecer uma contribuição muito
grande ao processo educativo em geral e à formação de cidadãos mais conscientes do
seu papel na sociedade, em relação aos outros e ao meio ambiente.
175
A Interdisciplinaridade
Os PCN’s foram lançados pelo MEC entre os anos de 1997 e 1999, a fim de se
tornarem uma referência curricular para os professores de todo o país, que podem
adaptá-los às realidades de sua região ou município (BRASIL, 1998).Neles estão
inseridos os chamados temas transversais, assuntos de grande importância social que
devem ser trabalhados em todos os conteúdos. São temas como ética, pluralidade
cultural, orientação sexual e Meio Ambiente, entre outros. É nesse contexto, portanto,
que deve ser trabalhada a Educação Ambiental.
As orientações dos PCN’S, a Educação Ambiental, assim como todos os
temas transversais devem ser trabalhados de forma interdisciplinar. A princípio, é isso
que se vê nos planos de curso da maioria, senão de todos os professores de escolas
públicas. No entanto, na prática, esse trabalho acaba não acontecendo.
A universidade não preparou os professores para a interdiciplinariedade, erro
esse ainda frequente nos cursos de licenciatura (BIZERRIL e FARIA, 2001). Diante
de tantos obstáculos, Berna (2007) sugere que a melhor forma de trabalhar a EA nas
escolas é o trabalho desenvolvido por meio de projetos, que integram os alunos e que
permitem que os mesmos exercitem sua criatividade e raciocínio.
Segundo Franco (2002), a interdisciplinaridade pressupõe interações dinâmicas,
assumindo uma finalidade humana e social. Não se dissipa o conteúdo específico de
cada ciência, ao contrário, a partir dessa integração buscam-se novas formas de
compreender a realidade, influenciando o desenvolvimento da sociedade.
Durante o desenvolvimento das sociedades, surgem temáticas difíceis de serem
abordadas isoladamente, nesse contexto surge o paradigma da interdisciplinaridade,
evidenciando um novo modelo de produção de conhecimentos, oposto ao modelo
fragmentado vigente (MORADILLO, et. al. 2004).
Do ponto de vista epistemológico, a interdisciplinaridade, consiste no método
de pesquisa e de ensino voltado para a interação em uma disciplina, de duas ou mais
disciplinas, num processo que pode ir da simples comunicação de idéias até a
integração recíproca de finalidades, objetivos, conceitos, conteúdos, terminologia,
metodologia, procedimentos, organização e sistematização de dados no processo de
elaboração do conhecimento (FERREIRA, 2008).
Para Berna (2007) “os projetos ambientais são a melhor forma de se trabalhar a
educação ambiental nas escolas”. Assim, os projetos fazem com que os alunos se
tornem co-responsáveis pelo trabalho desenvolvido e percebam que os conteúdos
vistos na escola fazem parte de seu dia-a-dia, pois segundo o Tratado de Educação
Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global (1992), “a
Educação Ambiental deve envolver uma perspectiva holística, enfocando a relação
entre o ser humano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar”.
176
Esse é um aspecto muito importante para o desenvolvimento da Educação
Ambiental nas escolas, e conformeBizerril e Faria (2001), “a maioria dos professores
concorda que seus alunos ainda não apresentam condições de debater as questões
ambientais locais e propor e participar das soluções, conforme seriam os objetivos
primordiais da educação ambiental”.
Segundo Pires (1996), em todas as etapas do processo é feita a avaliação do
trabalho por meio de pequenas medidas Quantitativas e Qualitativas. O autor explica
que quantitativamente, saberemos o quanto de conhecimento foi ministrado e
qualitativamente, como cresceu o bem-estar coletivo pela postura das pessoas
envolvidas no processo.
A Educação Ambiental na escola
A Educação Ambiental deve ser trabalhada na escola não por ser uma
exigência do Ministério da Educação, mas por ser a única forma de se aprender e
ensinarque os seres humanos, não são os únicos habitantes do planeta.
Os seres humanos, mais que atores de sua história, precisam ser conhecidos e
também se auto-reconhecerem como a própria história em permanente construção,
tanto que Barcelos (2002) relata que uma escola que mistura o formal e o não-formal
da vida, e que possibilita as pessoas um pouco mais de conhecimento sobre si
mesmos, sobre sua história, sua cultura, e sobre seu dever no mundo social. O mesmo
autor propõe que sejam feitos projetos baseados em interpretações textuais, pois
afirma que o mundo pode ser visto como um texto, onde existem várias possibilidades
de interpretação, já que cada um possui leituras e interpretações diferentes, e a partir
dessas diferenças,podem-se construir outros conceitos e ideais.
Segundo a UNESCO, a Educação ambiental consiste em disciplina estabelecida e
enfatiza a relação dos homens com o ambiente natural, as formas de conservá-lo,
preservá-lo e de administrar seus recursos adequadamente.
A Educação Ambiental deve ser iniciada nos primeiros anos de vida, quando as
crianças aprendem, com os exemplos dos pais, como deverão agir no presente e no
futuro (SCHALL, 2007). É dever da escola, mais do que ensinar termos técnicos e
definições, ensinar a amar o ambiente e a reconhecê-lo como um lar, respeitando-o e
preservando-o. Para isso, é necessário que os próprios professores entendam o
ambiente como tal, sem distinções entre casa, rua ou escola(ANGHER, 2006).
O ambiente, ainda que diferenciado, é único e ninguém tem o direito de destruílo, visto que é um bem comum, sem o qual a vida corre perigo de não mais existir,
conforme dispõe a Constituição Brasileira, em seu artigo 225 em que temos o direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, de uso comum do povo e essencial à
177
sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as gerações presentes e futuras.
Segundo Pontalti (2005), “a escola é o espaço social e o local onde o aluno dará
seqüência ao seu processo de socialização” iniciado com seus familiares. Assim, é
evidente a importância da escola no processo de formação, tanto social quanto
ambiental, dos seus alunos. Comportamentos ambientalmente corretos devem ser
assimilados desde cedo pelas crianças e devem fazer parte do seu dia a dia quando
passam a conviver no ambiente escolar.
A fim de tentar fazer dos temas ambientais presença constante nas salas de
aula, a EA foi inserida no currículo escolar, como tema transversal e, segundo Dias
(1992), apesar de ser uma exigência legal, a EA deve ser trabalhada de forma
prazerosa, ainda que difícil de ser desenvolvida, pois requer atitudes concretas, como
mudanças de comportamento pessoal e comunitário, tendo em vista que para atingir o
bem comum devem-se somar atitudes individuais.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram aplicados 20 questionários em 10 escolas de Ensino Fundamental e
Médio de escolas municipais de Bagé. O questionário foi separado em duas partes; a
primeira parte com a identificação do pesquisado e a segunda, com os
questionamentos referentes à pesquisa.
As escolas foram escolhidas aleatoriamente, sem qualquer requisito estipulado,
somente foram divididas de forma que incluísse escolas de Ensino Fundamental e de
EnsinoMédio.
As questões elaboradas foram fechadas sem a divulgação do nome dos
pesquisados. A aplicação dos questionários destinou-se aos professores que visitaram
o CEA (Centro de Educação Ambiental) com seus alunos e também aos docentes de
escolas do município de Bagé que apresentaram maior disponibilidade para responder
a pesquisa, onde o supervisor da escola se encarregou de distribuir os questionários
aos responsáveis pelas áreas de ciências e/ou biologia.
Após o levantamento de dados, realizou-se a análise dos mesmos, com a devida
discussão dos resultados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao se analisar sobre a preocupação que os professores têm a respeito das
questões ambientais, a totalidade dos entrevistados respondeu que sim e, faz-se
necessária uma compreensão do que está acontecendo com o ambiente para que a
busca por alternativas de conservação seja efetiva (Figura 1). A percepção ambiental
178
pode ser vista como um dos meios para a compreensão do mundo pelos indivíduos, já
que trabalha com os sentidos de cada um (LARRATÉA, 2007).
Em relação à questão sobre o docente acreditar na responsabilidade pelo meio
ambiente, 86% responderam que sim, restando 14% que apontaram que não,
demonstrando que ainda existem pessoas que não consideram estar inseridos no meio
ambiente (Figura 2). Esta pergunta traz a reflexão sobre a importância da percepção
ambiental que pode ser vista como um dos meios para a compreensão do mundo pelos
indivíduos, já que trabalha com os sentidos de cada um (LARRATÉA, 2007).
120%
100%
100%
100%
86%
80%
80%
60%
60%
40%
40%
14%
20%
20%
0%
0%
0%
Sim
Não
Sim
Não
Figura 1. Resposta dos professores quando questionados sobre sua preocupação com as
questões ambientais e Figura 2 se consideram responsáveis pelo ambiente em que vivem.
A respeito dos docentes terem o dever de desenvolver a educação ambiental
na escola e para tanto 79% dos entrevistados revelaram que sim, enquanto 21%
responderam que não (Figura 3). Conforme Loureiro (2004), a EA é uma práxis
educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, atitudes e
habilidades que possibilitem o entendimento da realidade da vida e atuação lúcida e
responsável de atores sociais, individuais e coletivas no ambiente.
O autor acima, só afirma que a escola tem o poder de não somente transmitir
conteúdos a qual sua disciplina o possibilita, mas também de que os docentes têm que
desempenhar o papel de formadores de opiniões e ações diante do mundo em que
vivem, ou seja; da responsabilidade que todos nós temos com o meio ambiente.
Mesmo assim, a questão trazida nesta pesquisa revela que existem professorem
atuando nas áreas de ciências e biologia, que acham não ter o dever de promover a EA
nas suas classes.
Em relação ao questionamento se o corpo docente das áreas de Ciências e
Biologia das escolas estão trabalhando com a temática de Educação Ambiental na sala
de aula, obteve-se que 90% dos pesquisados está trabalhando com essa temática,
179
restando 10% apenas que não, pois já está incluído, na ementa das disciplinas, temas
como lixo, economia de água e energia e reciclagem de materiais (Figura 4). Para
acrescentar, Schall (2007) afirma que é preciso levar o conhecimento da ciência e
desenvolvê-lo por meio da crítica e de questionamentos, principalmente nas áreas de
saúde e meio ambiente. E quanto mais aproveitarmos a realidade local para inserir a
ciência, melhor será a dinâmica do aprendizado.
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
79%
21%
Sim
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Não
90%
10%
Sim
Não
Figura 3 Resposta dos professores quanto ao dever de desenvolver a Educação Ambiental nas
escolas e Figura 4 se trabalham com temáticas ambientais.
Foram revelados os recursos que estão sendo utilizados pelos professores para
desenvolver atividades referentes à EA, onde 70% dos professores utilizam livros,
revistas e quadro, 12%; apresentações em Power Point, 8%; aulas práticas em sala de
aula ou laboratório e 10% aulas ao ar livre.Jacobi (2005) define a abordagem
conservadora como aquela que é pautada por uma visão reformista e que propõe
respostas instrumentais (Figura 5). Concordamos com ele quando diz que na EA
conservadora, “o modus operandi que predomina é o das ações pontuais,
descontextualizadas dos temas geradores, freqüentemente descoladas de uma proposta
pedagógica, sem questionar o padrão civilizatório, apenas realimentando uma visão
simplista e reducionista”.
Os professores foram questionados sobre a unidade de ação para realizarem
trabalhos de EA e 78% revelaram que sim, enquanto 22% não (Figura 6). Ressalta-se
que durante o desenvolvimento das sociedades, surgem temáticas difíceis de serem
abordadas isoladamente, nesse contexto surge o paradigma da interdisciplinaridade,
evidenciando um novo modelo de produção de conhecimentos, oposto ao modelo
fragmentado vigente (MORADILLO et al., 2004).
180
90%
70%
80%
78%
70%
60%
12%
8%10%
50%
Aulas ao ar livre
Aulas práticas em
sala de aula ou
laboratório
Apresentações
em Power Point
40%
Livros, Revistas e
Quadro
0,8
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
30%
22%
20%
10%
0%
Sim
Não
Figura 5. Resposta dos professores sobre os recursos didáticos utilizados em sala de aula e
Figura 6 se acreditam que a comunidade pode se unir para tratar questões de EA.
Verifica-se que apenas 25% dos professores entrevistados participaram de
algum projeto de Educação Ambiental extraclasse, enquanto 75% não (Figura 7).
Barcelos (2002) propõe que sejam feitos projetos baseados em interpretações textuais,
pois afirma que o mundo pode ser visto como um texto, onde existem várias
possibilidades de interpretação, já que cada um possui leituras e interpretações
diferentes, e a partir dessas diferenças podem-se construir outros conceitos e ideais.
Quando perguntados sobre projetos referentes à EA na escola e se os docentes
estão desenvolvendo os mesmos na sua comunidade escolar, concluiu-se que 50% dos
entrevistados estão executando projetos a respeito do tema e 50% não (Figura 8).
Segundo Berna (2007), a melhor opção para tratar de temas ambientais é o trabalho
desenvolvido por meio de projetos, que integram os alunos e permitem que os mesmos
exercitem sua criatividade e raciocínio.
Somente 33% dos docentes estão trabalhando com a interdisciplinaridade com
outros colegas professores a respeito da EA (Figura 9), isso demonstra a falta de
interatividade entre a comunidade escolar e do ponto de vista epistemológico, a
interdisciplinaridade, consiste no método de pesquisa e de ensino voltado para a
interação em uma disciplina, de duas ou mais disciplinas, num processo que pode ir da
simples comunicação de idéias até a integração recíproca de finalidades, objetivos,
conceitos, conteúdos, terminologia, metodologia, procedimentos, dados e formas de
organizá-los e sistematizá-los no processo de elaboração do conhecimento
(FERREIRA, 2008).
181
Para finaliza esta discussão revela-se que 100% dos docentes acreditam que
aulas práticas referentes à EA contribuem para o ensino e aprendizagem dos seus
alunos (Figura 10). Grumbine (1988) acrescenta que, programas de educação
realizados ao ar livre beneficiam não só os lados físicos, emocionais e espirituais, mas
também o intelectual dos aprendizes. O contato e a observação direta com a natureza
tornam as pessoas mais sensíveis para perceber a ação do ser humano no meio
ambiente (SILVA et al., 2006), e a percepção é o primeiro passo para se trabalhar com
educação ambiental.
75%
80%
70%
60%
50%
50%
Sim
Não
50%
60%
40%
50%
40%
30%
30%
25%
20%
20%
10%
10%
0%
0%
Sim
Não
Figura 7. Resposta dos professores sobre a participação de projetos extraclasse de EA e Figura
8 se já desenvolveram projetos de EA em sua escola.
80%
67%
70%
100%
100%
60%
50%
40%
120%
80%
33%
S… 60%
S…
30%
40%
20%
10%
20%
0%
0%
Sim
Não
0%
Sim
Não
Figura 9. Resposta dos professores quando questionados se trabalham com colegas de
diferentes áreas sobre EA e Figura 10 se acreditam que aulas práticas sobre EA facilitam o
ensino e a aprendizagem.
182
CONCLUSÃO
Através dos resultados obtidos, conclui-se que todos os professores pesquisados
nas áreas de Ciências e Biologia, preocupam-se com o meio ambiente, porém a
concepção destes a respeito do tema Educação Ambiental, revela que uma parcela dos
docentes não se sente comprometido com a preservação ambiental, e por isso não são
capazes de formar cidadãos críticos, atuantes no meio onde vivem, fazendo com seja
transmitido apenas o conteúdo presente na grade curricular.
De acordo com os dados obtidos, verifica-se que o corpo docente é
conservacionista, pois utilizam livros, revistas e quadro, demonstrando que o ensino
conservador se destaca ainda nos tempos de hoje. São necessários recursos
audiovisuais, aulas práticas e ao ar livre, visando a uma aprendizagem mais
significativa nas escolas.
Conclui-se também que há pouco envolvimento dos professores, visto que
estes não acreditam na unidade de ação entre eles e também na sua maioria não
realizam trabalhos interdisciplinares, porém 50% dos entrevistados fazem projetos de
Educação Ambiental. O trabalho com projeto propõe o dimensionamento dos valores
sociais e do potencial que cada sujeito tem para persegui-los, elevando sua condição
de indivíduo para a de agente comunitário.
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185
CULTIVO DE OLIVEIRAS EM
DOM PEDRITO, RS.
Ingrid Goularte Pfeifer1
Cristian Ribeiro 2
1
Acadêmica do Curso de Administração de Empresas, Campus Dom Pedrito, URCAMP, e-mail:
[email protected]. 2 Professor Orientador, Departamento Centro de Ciências da Economia e
Informática, URCAMP – Campus Dom Pedrito, BR 293, km 238, Dom Pedrito, e-mail:
[email protected]
O Brasil está despontando no comércio
internacional como um dos grandes importadores de
azeitonas de mesa e azeite de oliva, gastando em torno
de 400 milhões por ano nestas aquisições. Através da
informação do consumidor em busca de alimentos mais
saudáveis é que este nicho de mercado cresce
rapidamente. Em Dom Pedrito estão implantados
pioneiramente os primeiros hectares de um olival
comercial, através do Projeto da empresa Rigo
Vinhedos.
186
INTRODUÇÃO
Há séculos o pampa é ocupado por monoculturas, a região tem suas aptidões
para isso, porém causa concentração de renda e a empregabilidade diminui, ainda mais
ao longo da evolução da tecnologia com o incremento da mecanização.
A diversificação é assunto amplo e conflitante. É conhecida e comprovada a
capacidade geográfica e climática da região para Fruticultura.
Há alguns anos surgem várias alternativas como promissoras da região, são
alguns exemplos: silvicultura, pêssego, melão, canola, girassol e uma aposta pouco
percebida em oliveiras.
O que dificulta a ampla disseminação das culturas perenes são os altos custos de
implantação e demora da primeira colheita. A maior parte das frutíferas pode levar até
quatro anos para retirar uma quantidade de frutas que possa ser considerada como
primeira colheita.
A parte econômica seria o principal entrave para disseminação destas culturas,
mas ainda existe o desconhecimento técnico e a falta de assistência técnica nestas
culturas novas, o que traz para o produtor muita insegurança e desconfiança para
trabalhar em algo em que não conhece.
Utilizando-se projetos inovadores como o existente em Dom Pedrito, na Rigo
Vinhedos que através de recursos próprios implantou o experimento em parceria com
a Embrapa em 2005, é que se tem uma ideia técnica da capacidade produtiva da
oliveira nesta região.
Através desse trabalho procurou-se identificar os custos iniciais de implantação
de um olival, calcular as projeções de produção por hectare, viabilidade do projeto
entre outras inúmeras dúvidas.
O estudo se desenvolveu através de uma pesquisa bibliográfica sobre dados
técnicos da oliveira e, posteriormente, realizou-se uma entrevista com o proprietário
da empresa, Sr. José Rigo.
Atualmente, existem áreas com plantios comerciais nos estados do Rio Grande
do Sul (Bagé, Cachoeira do Sul, Caçapava do Sul, Dom Pedrito, Encruzilhada do Sul,
Rio Grande, Santana do Livramento e Vacaria), Minas Gerais (Maria da Fé) e em
Santa Catarina.
O principal interesse na cultura de oliveira é pelos seus nobres produtos:
azeitona e azeite de oliva. Sendo o Brasil um dos maiores importadores destes
produtos.
Características gerais da Oliveira
A oliveira é uma árvore perene, do grupo das angiospermas, cujas sementes
estão encerradas no pericarpo, ou seja, dentro da fruta. Pertence a família das oleáceas.
187
Nome científico da oliveira cultivada para produzir azeite é Olea europaea L. O
crescimento da oliveira é lento, a altura varia de 4 a 10m. As raízes podem se
considerar superficiais, pois penetram somente entre 1,5 a 2 m, mas estendem-se
horizontalmente, fixando-a firmemente ao solo e assegurando-lhe a absorção de água
(PERCUSSI, 2006, pg 32; OLIVEIRA, 2006, pg 46).
A flor, de cor branco-amarelo claro, é hermafrodita1, com cálice e quatro pétalas
na base, para reter o pólen. A polinização das flores pode ocorrer por anemofilia,
quando o pólen é transportado pela brisa. Porém muitas espécies resultam da
hibridação e devem ser fecundadas com o pólen de outras espécies. (PERCUSSI,
2006, pg 34; VILLA, 2007, p.22; OLIVEIRA E ABRAHÃO, 2006, pg 98).
O ciclo de desenvolvimento da oliveira compreende quatro fases:
Juventude: vai do plantio no viveiro até o início da produção no campo, esta pode
começar após o 5° ano de implantação;
Crescimento: Após o início da produção, pelos próximos 20 anos ela ainda estará em
desenvolvimento;
Fase adulta: raízes e copas chegam ao desenvolvimento máximo, e a produção, com
técnicas adequadas de poda e cultivo, mantém-se constante. Dos 30 aos 150 anos, ela
vive sua maturidade de onde obtém sua máxima de produção.
Senescência: período de envelhecimento, que pode durar séculos, durante o qual a
quantidade de frutos diminui e a produção se torna irregular, produzindo anos sim e
outros não. (COUTINHO et al.,2009, p. 30).
Clima
Em 2008 foi concluído o zoneamento agroclimático, com indicações das
melhores regiões para o plantio de oliveiras. As regiões Oeste e Metade Sul (longe das
regiões serranas e do litoral), onde a umidade relativa do ar é menor, principalmente
na fase de florescimento, favorecendo a produção de frutos, com esse zoneamento
confirma-se que as condições históricas de regiões são aptas ao cultivo de oliveiras,
baseadas que as condições do mediterrâneo são similares as do Rio Grande do Sul.
Nestas regiões raramente a temperatura ultrapassa os 35°C e caem abaixo de
0° C, exceto em anos atípicos e por períodos curtos. O Rio Grande do sul apresenta
índice pluviométrico entre 1.000 e 1.900mm, acima do necessário para o
desenvolvimento da oliveira (650-800 mm) e apresenta-se bem distribuídas ao longo
do ano. Pode ocorrer excesso na primavera, próximo ao florescimento e estiagem no
verão, por isso o uso de irrigação como suporte (COUTINHO et al.,2009, p. 48).
1
Possui gineceu e androceu.
188
Solos, adubação e correção
A textura de solos arenosos são os mais indicados ao cultivo da oliveira, apesar
de dependerem de irrigação.
O preparo do terreno é igual ao de qualquer outra frutífera, com operações de
roçada, aração e gradeação, a uma profundidade de 40 cm. A oliveira é considerada
planta rústica, pouco exigente em fertilidade do solo, contudo cultivos comerciais de
grande produtividade exigem solos bem férteis. Os solos do Rio Grande do Sul são
naturalmente pobres em nutrientes, por isso deve-se aplicar em quantidades
recomendadas de acordo com os resultados de análise do mesmo. Importante à adoção
de práticas conservacionistas neste preparo de solo, por isso, recomenda-se de três a
seis meses antes do transplante das mudas, o cultivo de espécies capazes de promover
rápida agregação ao solo, a fim de evitar erosão. A oliveira é originalmente cultivada
em solos alcalinos (pH > 7,0). Os solos brasileiros são ácidos (pH natural entre 4,5 e
5,5), inclusive do Rio Grande do Sul (COUTINHO et al.,2009, p.31).
Variedades de oliveiras
A família da oliveira inclui trinta tipos e seiscentas espécies diferentes,
distribuídas por quase todas as regiões do mundo. Embora não se saiba exatamente
quantas sejam as variedades de oliveiras hoje cultivadas, calcula-se que haja mais de
duas mil cada uma delas geneticamente diferente de todas as demais, embora as
características morfológicas possam ser similares (MELARATO, 2010, p.56).
Conforme TESTA (2009, p.88) a finalidade a que se destinam os frutos das
oliveiras podem ser classificadas em três grandes grupos:

Variedades para azeite: produzem azeitonas pequenas, devem ter rendimento
constante em quantidade e qualidade, com o peso do azeite obtido representando pelo
menos 18% do peso das azeitonas. As variedades mais conhecidas e recomendadas
para nossa região são: arbequina, picual (variedade mais importante do mundo),
koroneike, frantoio, arbosana, galega.

Variedades de mesa: produzem os frutos destinados ao consumo direto. As
azeitonas devem ser de tamanho médio a grande, com polpa espessa, mas ter em
rendimento de azeite inferior a 17%. As principais variedades são: ascolana, cordovil
de Serpa e Manzanilla de Sevilha (cultivar mais famosa internacionalmente e
apreciada).

Variedades de dupla finalidade: frutos de tamanho médio e com rendimento
médio para azeite, bastante em desuso.
Implantação do Olival
Depois de decidido a escolha do local, feito as correções necessárias no solo e
escolhida às variedades a serem cultivadas, existem mais detalhes a ser seguidos.
189
Polinizadores
A oliveira é uma espécie que geralmente não requer a polinização cruzada. Isto
quando as condições de plantios são adequadas, algumas variedades se comportam
como autoférteis em algumas localidades e outras, como autoestéris. Quando é uma
região nova a ser explorado o cultivo da oliveira, sempre optar pela introdução de
polinizadoras. A oliveira por si só, produz abundantemente pólen durante a sua
floração, que é levado, por gravidade, para o estigma das flores e por ação do vento
(VILLA, 2007, p.105).
Densidade e época de plantio
Os olivais tradicionais da Europa costumam ter menos densidade de plantio,
cerca de 100 árvores/ha, isso caracteriza baixa produção e elevado custo de produção.
A partir dos anos 70, começou-se a utilizar plantios mais adensados, com objetivo
principal de aumentar a utilização da área e mecanizar as operações, a partir de várias
pesquisas, nesta década, surgiu às novas indicações de “Novos Olivais em cultivo
intensivo”, sendo implantados olivais com plantio de 8,0 x 5,0, 8,0 x 4,0 e 7,0 x 4,5m
e irrigados (OLIVEIRA, 2010, p.63).
O plantio das oliveiras pode ser em qualquer época do ano, porém o
recomendável é no fim do inverno, considerado um período chuvoso, para garantir
uma boa adaptação das mudas ao solo e adequar para que não sofra a ação de geadas.
Logo após a colocação da muda na cova, para manter o tronco das plantas jovens na
vertical, deve-se colocar tutor. Estas mudas jovens devem estar sempre limpas, sem a
concorrência com invasoras, o que aumenta a disponibilidade de água, luz e nutrientes
(COUTINHO et al.,2009, p.64).
Manutenção do Olival
Como toda a cultura após a implantação é necessário dispensar-lhe alguns
cuidados que contribuirão para o bom êxito da cultura, estes começam pela formação
das árvores de molde a que estas tomem a forma adequada, incluem os tratamentos
fitossanitários e passam pelos cuidados a dispensar ao solo, adubações e rega,
contribuindo todos eles para uma mais rápida entrada em produção (BARRANCO,
2008, p.45).
Poda
As plantas provenientes de viveiro são, habitualmente, de reduzidas dimensões
e, muitas vezes, mal estruturadas, é normalmente necessário proceder à poda de
formação. A árvore deve ter um molde de tronco único sem ramificações laterais, com
formação da copa a partir de um metro de altura aproximadamente.
190
Irrigação
A irrigação depende muito características do solo, do clima bem como da
disponibilidade de água, há casos em que logo após o plantio, as plantas por serem
muito novas, devem permanecer irrigadas durante todo o primeiro ano, mas se as
condições de chuvas nesse período forem regulares, dispensa-se a rega. Mas todas as
pesquisas demonstram que na entrada da produção, torna-se indispensável à utilização
de irrigação. O sistema de irrigação via gotejamento é o mais aconselhável, pois
permite uma maior economia de água, pois distribui a água exatamente onde é
necessário, na raiz da planta. As plantas jovens exigem baixa quantidade de água, mas
não admitem a falta, a quantidade fica entre 10 e 15 lt semanais por planta, ocorre que
o sistema radicular de oliveiras em plantações regadas não é profundo, há necessidade
de garantir uma boa fixação da árvore ao solo, o que obriga a que os gotejadores se
coloquem a alguma distância do tronco, promovendo um bom desenvolvimento das
raízes na horizontal e, desta forma, também a fixação das plantas (BARRANCO,
2008, p.87).
Doenças e pragas
Desde a antiguidade, os olivais foram vítimas de ataques de pragas, como
insetos, fungos e ervas daninhas.
Entre os insetos que atacam as oliveiras, os mais comuns são a mosca-daazeitona, a traça-da-oliveira, a cochonilha-preta, o algodão, o caruncho, o trips e a
pirale-da-oliveira (PRADO e SILVA, 2006, p.62).
Bactérias e fungos provocam nas oliveiras diversos tipos de doenças, das quais
as mais conhecidas são a gafa, o olho-de-pavão e a ronha ou tuberculose da oliveira
(VILLA, 2007, p. 552).
Quanto a ervas daninhas, antigamente a única opção possível era capiná-las,
pelo menos em torno das árvores. Nos dias de hoje esse método é pouco usado, por ser
de custo excessivamente elevado: por isso o combate é feito, geralmente, pela
aplicação de herbicidas no olival (OLIVEIRA, 2006, p.89).
Colheita
A colheita é umas das fases mais importantes de todo o processo: é preciso ser
de qualidade para garantir a excelência do produto final. Assim, é importante o
máximo de cuidado para não alterar ou danificar a qualidade dos frutos. Além disso, o
valor dessa fase pode representar mais da metade do custo de produção, visto que, na
olivicultura tradicional, quase todos os sistemas de colheita são manuais ou semimanuais, exigindo, nos olivais mais extensos, grande quantidade de mão-de-obra por
longos períodos. A colheita da azeitona deve ser realizada na época mais adequada
para cada cultivar e para cada região, porém evitam-se colheitas muito tardias que
191
afetam negativamente a qualidade do azeite e a produção do ano seguinte
(COUTINHO et al.,2009, p.101).
Para as azeitonas que se destinam a conserva a colheita deve ser manualmente,
ou mecanicamente utilizando-se vibradores ou outro equipamento quando aquela seja
para azeite. O desbrote dos ramos que provoca uma excessiva queda de folhas e
raminhos é proibido, porque serão eles os responsáveis pela próxima produção. O
transporte da azeitona para a indústria deve ser efetuado o mais rapidamente possível
após a colheita devendo acondicionar-se a azeitona em caixas perfuradas. Também se
admite o transporte a granel (ALFEI & PANELLI, 2002, p.122).
Mercado do azeite de oliva
O azeite de oliva é um dos mais importantes extratos vegetais do ponto de vista
econômico. Representa 3% do volume mundial, porém entre 10 e 20% do valor
comercial, é um produto subsidiado na Grécia e Portugal, e o mais típico da costa do
mediterrâneo, onde está concentrada cerca de 75% da produção mundial e 68,5% do
consumo mundial. A produção mundial de azeite de oliva, em 2008, foi de
aproximadamente 2.870 milhões de toneladas.
Atualmente, o país que mais importa azeite de oliva é os Estados Unidos
(250.000 toneladas), seguido da Comunidade Européia (188.000 toneladas) que
também é o maior exportador. O Brasil começa a despontar como um grande
importador e desperta o interesse dos principais países exportadores. Em 2010 o
volume importado foi de 79 mil toneladas. O volume total de importações mundiais
foi de 668.500 toneladas e exportações o volume 635 mil toneladas.
O Consumo mundial de azeite de oliva alcançou 2.875 milhões de toneladas, no
ano de 2008, dos quais 68,5% foram consumidos pelos países da Comunidade
Européia.
Mercado de azeite de oliva no Brasil
O Brasil possui uma população de aproximadamente 190 milhões de habitantes,
sendo três milhões considerados como potenciais consumidores de produtos
importados com elevado valor. Acredita-se que, entre 25 e 33 milhões dos
consumidores, possuem condições financeiras para consumir produtos como o azeite e
a azeitona de mesa. O Brasil depende de importações tanto dos frutos para mesa
quanto dos azeites, importando 86,5% da Comunidade Européia e 13,4% da
Argentina, com gastos anuais em torno de 400 milhões de reais. Nos últimos anos o
consumo e importação de azeite de oliva e azeitona tiveram aumento de 120 % e 45%.
Este aumento deve-se principalmente a fatores como: divulgação dos benefícios da
dieta mediterrânea na saúde, entrada de produtos no mercado interno com preços mais
192
acessíveis e aumento de poder aquisitivo de algumas classes sociais (BERTONCINI,
TERAMOTO, & PRELA-PANTANO, 2010, p. 2).
METODOLOGIA
A escolha da metodologia deste estudo monográfico recaiu nas pesquisas que
privilegiam a investigação qualitativa. A qual tem como objetivo principal interpretar
o fenômeno que observa: a observação, a descrição, a compreensão e o significado.
Aplicou-se uma análise qualitativa temática aos dados obtidos. Para tanto, realizou-se
a leitura e releitura do conteúdo, organizou-se os núcleos de sentido e, por fim, se
agrupou os dados por temas (SILVERMAN, 2009, p. 35).
Essa pesquisa se respalda nas técnicas e métodos conhecidos como pesquisa
qualitativa uma vez que o trabalho com oliveiras esta ligado a elementos concretos e
abstratos. Não quer dizer, porém que não possamos aproveitar dados quantitativos
para enriquecer o estudo, todos os dados serão aproveitados, mesmo os quantitativos
que serão o resultado de uma projeção, amparado no estudo de CERVO et al., (2002,
p.67) e respaldado nesta opção metodológica, como pesquisa qualiquantitativa em
relação a uma projeção escolheu-se o modo explicativo e exploratório para ajudar na
coleta de dados.
A Empresa Rigo Vinhedos, fundada em 2002, constituí-se de 150 hectares,
localizada no município de Dom Pedrito, distrito de Santa Maria Chico, popularmente
conhecido como Ramona, distante 50 km da cidade.
A propriedade tem uma grande diversidade agrícola, sendo sua área dividida em
plantios de oliveiras, maçãs e uvas viníferas. A empresa já possui no mercado Vinhos
com a marca Dom Pedrito e comercializa as maçãs in natura no comércio local e
regional, com qualidade destacada.
RESULTADOS
A empresa em 2004 a convite da Embrapa Clima Temperado aceitou fazer
parte de um estudo da instituição para definir o zoneamento agroclimático do cultivo
de oliveiras no Rio Grande do Sul, para isso a Embrapa implantou uma unidade com
20 variedades de oliveiras diferentes, importadas de diversos países, a área utilizada
foi de dois hectares.
Acompanhando o desenvolvimento destas variedades, em 2008 a propriedade
recebeu a visita do Globo Rural, para colheita da azeitona e levar esta produção até o
país vizinho, Uruguai para fazer a extração do azeite, onde obteve excelente resultado
de acidez com 0,27%, sendo considerado extra virgem.
Já em 2008 a Embrapa conclui e divulga o zoneamento agroclimático com as
regiões aptas ao cultivo de oliveira e as variedades que mais se adaptaram, conforme
193
já citado no trabalho e a Rigo Vinhedos começa o desenho do plantio comercial na
empresa.
Em Julho de 2009 a empresa prepara o solo, fazendo os processos de gradagem
e calagem para corrigir a acidez. Em Outubro do mesmo ano fez-se o plantio dos
primeiros 13 hectares de oliveiras, com as variedades koroneike, arbequina, arbossana
e picual, distribuídas em fileiras paralelas para se autopolinizarem, importadas da
Espanha.
No plantio utilizou-se espaçamento de 7m entre fileiras e 5m entre plantas =
35m² por planta, isto propiciou um olival adensado de 285 plantas por hectare,
totalizando nos 13 hectares um total de 3.705 plantas.
Procurando demonstrar os custos deste investimento, no ano do plantio a
empresa desembolsou R$ 77 mil, para a construção de um açude de irrigação
exclusivo para as oliveiras, para cumprir com a recomendação que logo após o plantio
as mesmas deveriam ser irrigadas. O que não foi necessário devido o clima ter
propiciado chuvas constantes, dispensando mais um custo inicial com as mangueiras
de irrigação.
Para fazer cálculos básicos de investimento inicial utilizou-se como base uma
tabela com base dos investimentos iniciais nos primeiros anos de olival da Embrapa
Clima Temperado. Destes custos extraíram-se alguns dados que não condiziam com a
realidade deste empreendimento e acrescentou os dados reais da propriedade.
Na tabela 1: demonstra-se uma projeção dos custos iniciais investidos pela
empresa no ano de 2009 e 2010.
Tabela 1: Custos de Implantação e Manutenção do Olival
Produtos
Custo/Unit
Custo/ha
Custo/Total
2009
Custos Gerais Embrapa
R$
7.870,00
R$
102.310,00
Calcário
R$
65,00
R$
975,00
R$
12.675,00
Custo Muda
R$
10,00
R$
2.850,00
R$
37.050,00
Tutor
R$
3,00
R$
855,00
R$
11.115,00
Tela proteção
R$
2,00
R$
570,00
R$
7.410,00
R$
13.120,00
R$
170.560,00
Produtos
Custo/Unit
Custo/ha
Custo/Total
2010
Manutenção Embrapa
R$
Fonte: Embrapa e Rigo Vinhedos
194
4.048,00
R$
52.624,00
DISCUSSÃO
Concordando com Coutinho et al. (2009, p. 27) o resultado do zoneamento é
ainda preliminar, com indicação da cultura como um todo, sem entrar ao nível de
detalhamento de cultivar, mas é um primeiro passo no desenvolvimento desta cultura
no município.
Taricco (2008, p.23) descreve que a oliveira tem um bom comportamento nos
solos de texturas médias, que permite uma boa permeabilidade e aeração adequada ao
sistema radicular, concordando com o que foi avaliado no olival, que algumas
condições físicas e químicas do solo são fundamentais para a implantação.
As variedades koroneike, arbequina, arbossana e picual, foram utilizadas por
recomendação da Embrapa, distribuídas em fileiras paralelas para se autopolinizarem,
sabendo que essas variedades são as que mais podem se adequar as nossas condições
climáticas concordando com os autores, Villa (2007, p.67) e Coutinho et al., (2009,
p.55).
A recomendação que logo após o plantio as oliveiras deveriam ser irrigadas, o
que não foi necessário devido o clima ter propiciado chuvas constantes, mas segundo
os autores Gallo e Martin (2008, p.78) os requerimentos hídricos dependem de uma
série de fatores climático (ventos, temperatura e umidade relativa) e de cultivo
(densidade de plantio, desenvolvimento da planta, característica da folha) e em relação
a esse cultivo optou-se conforme recomendação pelo espaçamento de 7 x 5m entre
plantas = 35m² por planta, isto propiciou um olival adensado de 285 plantas por
hectare. Os cultivos modernos, compostos de oliveira de um só tronco, permitem além
da maior densidade, uma maior mecanização de cultivo, em especial da colheita,
concordando com Alvarenga; Oliveira; Abrahão. (2006, p.45).
O experimento confirmou o que a bibliografia já dizia que se espera que no
início da produção até 10 anos a expectativa é que se colha 20 kg fruto/planta, dos 10
anos aos 20 anos, 40 kg/planta e a partir dos 20 anos, em torno de 80 kg/planta
(COUTINHO et al.,2009, p.66). Junto com estes dados, foi confirmada a projeção de
que para extrair-se 1 litro de azeite é necessário em torno de 5 a 6 kg, dependendo da
variedade e do peso da azeitona. Para cálculos de viabilidade, e neste caso de ser um
olival sem produção, fez-se projeções de produção baseados nas perspectivas de
produtividade da unidade experimental da propriedade (OLIVEIRA e
ABRAHÃO,2006, p.77).
Baseado nos dados acima se obtém uma projeção do que este olival poderá
produzir quando efetuar a primeira colheita considerada comercial, prevista para
acontecer em março de 2013, conforme demonstra a Tabela 2.
195
Tabela 2: Projeção de produção e Renda Bruta
Ano
Kg azeitona/planta
2013-2023
2024-2044
20
40
5.700
11.400
74.100
148.200
950
1.900
Lt de azeite/13ha
12.350
24.700
Vendas totais R$
185.250
370.500
Kg azeitona/ha
Kg azeitona/13ha
Lt de azeite/ha
Fonte: Rigo Vinhedos
Para o cálculo da receita bruta fez-se uma média de preço dos melhores azeites
comercializados nos mercados brasileiros, azeites de oliva Borges e Gallo, em média o
valor do Azeite de 500 ml destas marcas é R$ 10,00. Como média para os cálculos
acima se utilizou o preço do litro de azeite em R$ 15,00.
Ainda contabilizando em investimentos, está previsto a parte da irrigação que
tem custo elevado, que consiste em distribuição de mangueiras por todo o olival com
gotejamento em cada planta. No ano de colheita, previsto para 2013, prevê-se gastos
elevados com mão-de-obra e aquisição de todo o equipamento para auxiliar na
colheita como: caixas, sacolas, escadas, vibradores de mão, redes, equipamentos de
proteção individual, etc.
No mínimo seis meses antes da colheita, já deverá ter sido adquirido e
preparado à unidade industrial de elaboração do azeite, que é bastante simples, porém
de investimento alto por se tratar de produtos importados.
O projeto total da empresa é de futuramente implantar 50 ha de oliveiras na
propriedade, 10 hectares a cada dois anos.
CONCLUSÃO
Percebendo a perspectiva do município de Dom Pedrito, tradicional produtor de
culturas de grande volume como arroz, soja e gado e a dificuldade geográfica para
implantação de indústrias conforme clama a população para que se empreguem as
pessoas, vislumbra-se a realidade de que o nosso potencial é agrícola. Não adianta
fugir das raízes para o qual a terra desta região é apta: produzir alimentos.
196
Tendo o Brasil como um dos promissores países a alimentar o mundo é que as
pessoas devem encarar a produção agrícola como um grande mercado necessitando de
mão-de-obra tecnificada.
Especificamente no caso do azeite de oliva, analisando indicadores que
demonstram a produção mundial em déficit com o consumo; os olivais do
mediterrâneo estão com idade de 50 a 100 anos com baixa produção; o aumento da
conscientização do consumidor em busca de alimentos saudáveis e principalmente o
consumidor brasileiro, este país em dois anos dobrou a quantidade importada de azeite
de oliva.
Enxergando estes indicadores positivos, não há como um empreendedor
brasileiro, dedicado à produção agrícola não enxergar este novo nicho de mercado que
cresce no País. É vital que invista em uma produção ousada e inovadora. Existe a
vocação da terra, a vocação do empreendedor e um país ávido por um azeite de oliva
genuinamente nacional, e fazendo um comparativo de produções e custos da cultura
da oliveira com outras culturas comuns a região, é visto que o retorno econômico é
bem atrativo.
É por estes motivos que conclui-se com este trabalho a perspectiva positiva da
viabilidade econômica do investimento inicial deste empreendimento, que terá seu
êxito total quando houver a primeira colheita comercial, prevista para março de 2013.
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198
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