MEDIDAS DE PROTECÇÃO E SEGURANÇA PARA TRABALHADORES EXPOSTOS A ATMOSFERAS EXPLOSIVAS EM POSTOS DE ABASTECIMENTO DE COMBUSTIVEIS A APLICAÇÃO DO DECRETO LEI 236/2003 INTRODUÇÃO A avaliação de riscos e o seu controle constitui não só um requisito legal mas também um factor critico para o sucesso do negócio. A avaliação de riscos não deve ser só por si um acto isolado mas sim fazer parte de um processo diário que interaja com objectivos, standards, procedimentos e controles. Pretende-se com este documento explicitar os passos necessários à tarefa de prevenir, controlar e minimizar o risco de explosão associado à armazenagem e venda de combustíveis líquidos em postos de abastecimento. Os produtos petrolíferos abordados neste texto – gasolina, gasóleo e gases de petróleo liquefeito - são voláteis e inflamáveis. Isto significa que libertam vapores que se misturam com o ar. A gasolina, por exemplo volatiliza a temperaturas inferiores a -40ºC. Também o gasóleo quando sujeito a temperaturas superiores a 55ºC (temperatura facilmente atingida pelo liquido em contacto com as paredes de um reservatório metálico exposto ao sol de verão)liberta vapores, que numa dada percentagem de mistura com o ar, são capazes de se inflamarem perante uma fonte de ignição. Quando a percentagem de vapores de hidrocarbonetos, presente na mistura com o ar é inferior a 1% a mistura não é inflamável, é designada como muito pobre para se inflamar ou abaixo do limite inferior de inflamibilidade. Quando esta percentagem está acima dos 8%, a mistura é muito rica ou acima do limite superior de inflamibilidade. Nesta duas situações mesmo perante uma fonte de ignição, não existem condições que permitam manter uma combustão. Pelo contrário se tivermos valores de mistura de vapores de hidrocarbonetos com o ar entre os limites inferior e superior de inflamibilidade e se houver uma fonte de ignição dá-se um incêndio (em espaço aberto) ou explosão (em espaço fechado). Uma explosão pode ser definida como uma libertação súbita, violenta e não controlada de energia mecânica, química ou nuclear que produz um incremento de temperatura ou pressão e som simultaneamente ou não. EX REQUISITOS LEGAIS A legislação portuguesa através do decreto lei n.º 236/2003 de 30 de Setembro, transpõe a directiva europeia n.º 1999/92/CE, relativa às prescrições mínimas de protecção e segurança dos trabalhadores expostos a riscos derivados de atmosferas explosivas. Por outro lado, a directiva nº.94/9/CE chamada directiva ATEX (do francês Atmosphères Explosives), transposta para a legislação nacional pelos DL 112/96 de 5 de Agosto e portaria n.º 341/97 de 21 de Maio, especificam as condições a que devem obedecer os equipamentos eléctricos ou mecânicos a utilizar em atmosferas potencialmente explosivas. METODOLOGIA Classificação das Áreas As área de perigo são aquelas onde se pode formar uma atmosfera explosiva em concentrações que exijam a adopção de medidas de prevenção especiais a fim de garantir a segurança e saúde dos trabalhadores abrangidos, e são classificadas, de acordo com o preconizado no Decreto – Lei n.º 236/2003 de 30 de Setembro, em função da frequência e da duração das atmosferas explosivas: Descrição Simbologia Área onde existe permanentemente ou durante Zona 0 largos períodos de tempo ou com frequência uma atmosfera explosiva constituída por uma mistura com o ar de substancias infamáveis Área onde é provável, em condições normais de Classificação Zona 1 das Áreas funcionamento, a formação ocasional de uma atmosfera explosiva constituída por uma mistura com o ar de substancias infamáveis Área onde não é provável, em condições normais de funcionamento, a formação ocasional de uma Zona 2 atmosfera explosiva constituída por uma mistura com o ar de substancias infamáveis, ou onde essa formação, caso se verifique, seja de curta duração Entendendo-se como condições normais de funcionamento a situação de utilização das instalações de acordo com os parâmetros que presidiram à respectiva concepção. Identificação das Áreas As áreas identificadas como aquelas em que existe o risco de formação de atmosferas explosivas são as que constam da portaria 131/2002 de 9 de Fevereiroque anexa o Regulamento de Construção e Exploração de Postos de Abastecimento de Combustíveis, nomeadamente: Áreas Laje de Abastecimento Zona de Descarga de Combustíveis Depósitos de Combustíveis Separador de Hidrocarbonetos GPL Sub - áreas Bombas Caixas de Enchimento Caixas de Visita dos Reservatórios Respiros Caixas de Visita Respiros Paletes da garrafas de Gás Bombas Enchimento de Reservatório Reservatório Explicitam-se alguns exemplos: Laje de Abastecimento Zona de Descarga de Combustíveis, Depósitos e Respiros Separador de Hidrocarbonetos Identificação dos Perigos e Avaliação de Riscos A identificação dos perigos e avaliação dos riscos são feitas tendo por base a recolha de dados sobre: Check-list de identificação dos perigos e cumprimentos das medidas de controle e minimização dos riscos, baseada na legislação aplicável e nas boas práticas do sector Lista e quantidades de produto presentes e manuseados Manuais de Segurança aplicáveis Planos de Manutenção e Inspecção dos equipamentos e instalações Equipamentos de protecção e primeira intervenção Formação dada ao Pessoal Sinalização dos Riscos A Avaliação de Riscos pode ser feita através do cálculo do Nível de Risco que permite a sua quantificação e estabelecer as prioridades de acção e controlo, através do Nível de Intervenção: Nível de Exposição Nível de Probabilidade Nível de Risco Nível de Deficiência Nível de Consequência Nível de Intervenção Critérios para estabelecer o Nível de Exposição (NE) O Nível de Exposição NE é uma medida de frequência da exposição ao risco, ou seja para o risco de explosão que existe nas áreas classificadas os tempos de permanência dos trabalhadores (ou clientes) nessa áreas. O Nível de Exposição é classificado de acordo com o seguinte critério: Nível de Exposição NE Significado Continuada 4 Continuamente. Várias vezes durante o dia com tempo prolongado. Frequente 3 Várias vezes durante o dia com tempos curtos ou algumas vezes durante a semana com tempo prolongado Ocasional 2 Algumas vezes durante a semana e com um período curto de tempo Esporádica 1 Irregular Critérios para estabelecer o Nível de Deficiência (ND) O Nível de Deficiência é função da probabilidade de existência de fontes de ignição nas zonas classificadas: Probabilidade de Existência de Fontes de Ignição Classificação de Zonas Improvável Provável Muito Provável Zona 2 Aceitável Médio Zona 1 Aceitável Muito Alto Muito Alto Zona 0 Médio Muito Alto Muito Alto Alto O Nível de Deficiência ND é quantificado de acordo com a seguinte tabela: Nível de Deficiência ND Significado Muito Alto 10 Detectam-se factores de risco muito significativos que determinam como muito possível a geração de falhas. O conjunto das medidas preventivas existentes em relação ao risco é ineficaz. Alto 6 Detectam-se factores de risco importantes que necessitam de correcção urgente. A eficácia do conjunto das medidas preventivas vê-se reduzida de forma apreciável. Médio 2 Detectam-se factores de risco de menor importância. A eficácia das medidas preventivas existentes não se vê reduzida de forma apreciável. Aceitável - Não se detectou nenhuma. O risco está controlado. Não se valoriza. Cálculo do Nível de Probabilidade (NP) O Nível de Probabilidade - NP é obtido pela multiplicação do Nível de Exposição – NE pelo Nível de Deficiência- ND: NP= NE x ND Sendo classificado de acordo com o seguinte critério: Nível de Probabilidade NP Significado Muito Alta Entre 24 e 40 Situação muito deficiente com exposição continuada ou frequente, ou deficiente com exposição continuada. Normalmente a materialização do risco ocorre com frequência. Alta Entre 10 e 23 Situação muito deficiente com exposição ocasional ou esporádica ou situação deficiente com exposição frequente ou ocasional. A materialização do risco pode acontecer algumas vezes. Médio Entre 6 e 9 Situação deficiente com exposição esporádica ou situação melhorável com exposição continuada ou frequente. A materialização do risco pode acontecer. Baixa Até 5 Situação melhorável com exposição ocasional ou esporádica. Não se espera que se materialize o risco, se bem que pode ser admissível. Cálculo do Nível de Consequência (NC) O Nível de Consequência classifica as consequências da materialização do risco de acordo com os danos físicos e materiais Significado Nível de Consequência NC Danos Pessoais Danos Materiais Mortal ou Catastrófico (M) 100 1 Morto ou mais Destruição total Muito Grave (MG) 60 Lesões graves que podem ser irreparáveis Destruição parcial Grave (G) 25 Lesão com incapacidade temporária Requer suspensão da actividade Leve (L) 10 Pequenas lesões que não requerem hospitalização Reparável sem necessidade de suspender a actividade Os danos físicos e materiais de uma explosão através do cálculo dos níveis de sobrepressão podem ser estimados: Danos Físicos - Ex.: Rebentamento do tímpano: Pico de Sobrepressão Probabilidade 0,22 bar 1% 0,43 bar 10% 1,04 bar 50% 2,40 bar 90% Danos Materiais Pico de Sobrepressão Danos Materiais 0,3 bar 90% de edifícios seriamente danificados 0,1 bar 10% de edifícios seriamente danificados 0,03 bar Danos por fragmentação de vidros de janelas que são projectados 0,01 bar Janelas partidas Nível de Risco Finalmente o Nível de Risco (NR) é determinado com base nos Níveis de Probabilidade e de Consequência : NR= NC x NP Ou sob a forma de uma tabela: Consequência Nível de Nível de Probabilidade 40-24 23-10 9-6 Até 5 100 I I I II 60 I I II 25 I II II 10 II II III III II III III III IV Após a Avaliação de Riscos é definido o Nível de Intervenção ( NI) permitindo desta maneira prioritizar as acções de controlo de riscos com o objectivo de eliminar os riscos existentes ou em caso de impossibilidade manifesta, controlar os mesmos para níveis toleráveis que não ponham em causa a segurança e saúde dos trabalhadores e clientes do Posto de Abastecimento: Nível de Intervenção NI= NR Nível de Intervenção I NI 4000-600 Significado Situação critica. Intervenção imediata. Situação Urgente. II 500-150 Corrigir e adoptar mediadas de controlo. Melhorável se possível. III 120-40 Justificar a intervenção e a rentabilidade. IV 20 Não intervir. MEDIDAS ORGANIZATIVAS E MEDIDAS DE PROTECÇÃO Medidas Organizativas De forma a assegurar o funcionamento da posição com as adequadas condições de segurança deverá ser garantido: 1. A Identificação das Áreas de Risco, a Quantificação do Risco e a definição do Nível de Intervenção; 2. Uma clara Definição de Procedimentos por parte da Gestão, incluindo: A definição de uma política de segurança e de como é implementada A definição da estrutura e responsabilidades de Segurança Os Procedimentos de recepção e entrada em funcionamento de novos equipamentos Os procedimentos para aprovação de modificações Os procedimentos de manutenção dos equipamentos de segurança ou a ela ligados Os procedimentos de controle dos trabalhadores das empresas contratadas que operam no Posto de Abastecimento O cumprimentos da norma de autorizações de trabalho – NPI AQS 001- que permite definir a preparação, o controle e as precauções requeridas para um determinado trabalho; 3. A Formação, Informação e Treino ao pessoal do posto de abastecimento, incluindo pessoal novo e pessoal já com formação (“refreshment” ), de forma a assegurar a sua capacidade de operar com o equipamento e instalações de acordo com as regras de segurança e de detectar situações anómalas e solicitar ajuda especializada; 4. A Formação, Treino e Controle dos trabalhadores das empresas externas que trabalham nos postos de abastecimento, com especial destaque das responsáveis pela manutenção dos equipamentos; 5. A selecção de adequadas soluções de engenharia e standards , a sua correcta implementação e acesso a informação dos fornecedores. Esta selecção deve ser precedida de uma analise de risco que permite assegurar a adopção de soluções compatíveis com os riscos; 6. O planeamento, a realização e o registo de programas de manutenção e inspecções regulares que assegurem que o equipamento e instalações se mantém adequadas aos riscos e com as características com que foram concebidas, construídas e instaladas; 7. As Inspecções Regulares dos meios de protecção contra explosões, incluindo: Vias de Evacuação Meios de Combate a Incêndios Meios de Detecção de Incêndios Meios de Detecção de Atmosferas Explosivas Selagens das tubagens eléctricas Inexistência de fontes de ignição em zonas classificadas Medidas de Protecção Contra Explosões Toda a libertação intencional ou não, de gases ou vapores combustíveis que possa dar lugar a riscos de explosão deverá ser desviado para a um lugar seguro ou, se não for viável , ser contido ou controlado com segurança por outros meios Os trabalhadores devem ter calçado anti-estático e roupa de trabalho adequada feita de materiais que não dêem lugar a descargas electrostáticas que possam causar a ignição de atmosferas explosivas. A instalação, os equipamentos, os sistemas de protecção e os seus correspondentes dispositivos de ligação à terra destinados a funcionar em zonas classificadas só se colocarão em funcionamento se o seu manual de instruções indicar que se podem usar com segurança numa atmosfera explosiva e possuam a marcação EX. Adoptam-se todas as medidas necessárias para assegurar de que as instalações, os equipamentos e os correspondentes dispositivos de ligação que se encontram à disposição dos trabalhadores e dos clientes foram concebidos, construídos, montados e instalados e se mantêm e utilizam de tal forma que, se reduzam ao máximo os riscos de explosão e, no caso de que se produza alguma, se controle ou se reduza ao máximo a sua propagação. Área da laje de abastecimento Para evitar a presença de cargas electrostáticas todas as bombas ligadas à terra. encontram-se Toda a zona de abastecimento encontra-se bem ventilada, pelo que o risco de presença de uma atmosfera explosiva é baixo; Para evitar este risco todos os equipamentos são anti-deflagrantes e existe sinalização de segurança com as indicações de: Atmosfera Explosiva Proibido fazer lume e fumar Proibido o uso de telemóveis Proibido o uso por crianças Desligue o motor e quaisquer outras fontes de ignição Imobilize a viatura com o Travão de mão Liberte a Electricidade Estática Evite o Sobreenchimento Em Caso de Fogo ... Área de armazenagem de combustíveis, área de descarga de combustíveis e área dos respiros Para evitar a acumulação de cargas electrostáticas todos os depósitos e tubagens anexas se encontram-se ligadas à terra por meio de um eléctrodo com uma resistência de contacto inferior a 10 ohms. Todas as tubagens de passagem de cabos eléctricos são seladas e as respectivas caixas cheias de areia de forma a garantir que vapores de hidrocarbonetos não possam migrar através delas para outras zonas. Antes de se proceder à descarga de combustíveis efectua-se a ligação do veículo cisterna ao terminal de terra do posto de abastecimento. Os respiros estão equipados, no caso das gasolinas, com uma válvula de vácuopressão que evita a saída de vapores potencialmente inflamáveis e assegura que o abastecimento dos reservatórios é feito em circuito fechado com retorno dos vapores ao veiculo cisterna. Área da laje de abastecimento GPL Para evitar a presença de cargas electrostáticas as bombas encontram-se ligadas à terra. Toda a zona de abastecimento encontra-se presença de atmosfera explosiva é baixo. bem ventilada, pelo que o risco de Para evitar este risco todos os equipamentos sinalização de segurança. são anti-deflagrantes e existe As áreas de abastecimento estão delimitadas de forma a permitir a sua fácil identificação. Não existem no interior da zona de segurança pontos baixos, sumidouros ou bocas de esgoto que possam permitir a acumulação de gás. O abastecimento de GPL às viaturas é feito por ligação estanque. O abastecimento de GPL às viaturas obriga ao accionamento de um botão de funcionamento de forma continua. Área de Armazenagem de GPL Esta área está localizada no possíveis fontes de ignição. exterior, em zonas bem ventiladas e isolada de Não existem no interior da zona de segurança pontos baixos, túneis, parques de estacionamento subterrâneos sumidouros ou bocas de esgoto que possam permitir a acumulação de gás. Para evitar a acumulação de cargas electrostáticas todos os depósitos e tubagens anexas encontram-se ligadas à terra por meio de um eléctrodo com uma resistência de contacto inferior a 10 ohms. Todos os equipamentos são anti-deflagrantes e existe sinalização de segurança. Todas as tubagens de passagem de cabos eléctricos são seladas de forma a garantir que vapores de hidrocarbonetos não possam migrar através delas para outras zonas. Antes de se proceder à descarga de combustíveis efectua-se a ligação do veículo cisterna ao terminal de terra. A armazenagem de garrafas de GPL é feita em paletes e com as garrafas na posição vertical proibindo-se fumar e fazer fogo nas suas proximidades. Área da Separador de Hidrocarbonetos Todos os equipamentos nesta são anti-deflagrantes e existe sinalização de segurança Todas as tubagens de passagem de cabos eléctricos são seladas de forma a garantir que vapores de hidrocarbonetos não possam migrar através delas para outras zonas BIBLIOGRAFIA Decreto Lei n.º 236/2003 de 30 de Setembro - Prescrições mínimas de protecção e segurança dos trabalhadores expostos a riscos derivados de atmosferas explosivas. Decreto Lei n.º 112/96 de 5 de Agosto - Condições a que devem obedecer os equipamentos eléctricos ou mecânicos a utilizar em atmosferas potencialmente explosivas. Portaria n.º 341/97 de 21 de Maio Portaria 131/2002 de 9 de Fevereiro - Regulamento de Construção e Exploração de Postos de Abastecimento de Combustíveis Evaluación de los Riesgos de Explosión – Servicio de Prevención Manconumado, Galp Energía España Manual Técnico de Ambiente Qualidade e Segurança do Posto de Abastecimento da Galp Energia ATEX Guidelines ( Second Edition)- Guidelines on the application of the council Directive 94/9/EC of 23 March 1994 on the approximation of the laws of the member states concerning equipment and protective systems intended for use in potentially explosive atmospheres - European Commission Design, construction, modification, maintenance and decommissioning of Filling Stations – APEA and Energy Institute