Três contos
Três contos
Está escrito no capítulo 3: "E acreditaram os habitantes
de Nineve nas palavras de Deus e foi decretado (um dia
de) jejum e vestiram (roupas de) saco... e (o rei de
Nineve) se levantou de seu trono, tirou o seu manto e
se cobriu com saco, e sentou sobre cinzas... e rezarão
com todo o coração e cada um retornará de seu mau
caminho e do roubo que se encontra em suas mãos... e
viu Deus o que fizeram e eis que retornaram de seus
maus caminhos e Deus se arrependeu do mal que havia
dito que lhes faria, e não o fez."
Vemos neste trecho o poder do arrependimento e da
vontade do aprimoramento pessoal. Porém, não é
suficiente uma mudança superficial, mesmo que,
externamente, aparente ser uma nova pessoa, na
verdade a sua essência continua sendo a mesma. Como
ensinam os nossos sabios: "E viu Deus o que fizeram
(e eis que retornaram de seus maus caminhos)", e não
está escrito que Deus viu a roupa de saco que vestiram
e o jejum que fizeram. Deduzimos, portanto, que os
atos externos são secundários e o principal é a
consciência
da
importância
do
verdadeiro
arrependimento e a vontade de se conectar com
Hashem.
Os três contos têm como finalidade clarificar este
ensinamento que nossos sábios deduziram do livro de
Yona, e como expressá-lo dentro de nossas vidas.
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Três contos
A Pérola
U
m jovem aventureiro resolveu, como um grande
desafio, viajar a um local desconhecido, onde estaria
sozinho e, desta forma, "ampliar seus horizontes" em
um novo mundo. Ele se aproximou de um globo
terrestre, e pensou: "Vou girar este globo e onde meu
dedo apontar, não importa aonde for, para lá eu
viajarei"; e assim fez.
P
ara sua surpresa, viu que o seu dedo apontava para
um lugar desabitado no meio de uma grande floresta, e
mesmo assim resolveu cumprir com o seu desafio. E
começou uma longa viagem.
A
pós varios dias de viagem e longas caminhadas, ao
se aproximar do local desejado, ficou abismado, ali
existia uma aldeia indígena, que nunca esteve em
contato com uma sociedade.
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Três contos
.
P
egou o seu binóculo e começou a observar com
curiosidade como era a vida desta nova sociedade que
acabou de conhecer. E começou a olhar para dentro de
uma cabana onde havia uma mesa, e em cima dela
várias ostras, e uma senhora estava sentada frente à
mesa e com suas mãos abria uma ostra, e ao olhar ao
interior da ostra fazia uma cara de insatisfeita como se
estivesse falando: "Esta ostra está estragada". Retirou
de dentro da ostra uma pérola e a jogou pela janela, e
ela caiu no meio da lama que se encontrava do outro
lado da janela.
O
jovem aventureiro concentrou a sua visão no local
onde a pérola foi lançada, e seus olhos brilharam com a
imagem que viu, centenas de pérolas jogadas no meio
da sujeira, e sem pensar duas vezes correu para catálas. Entrou no meio da lama e começou a encher a sua
mochila com as pérolas.
T
odos os habitantes da aldeia começaram a se juntar
para ver este homem "louco" que estava disposto a se
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Três contos
sujar e se envergonhar para catar estas "pedrinhas" sem
valor.
A
mochila já estava cheia e não havia espaço para
novas pérolas. Imediatamente, o jovem aventureiro
tirou de sua mochila todos os objetos que não eram
indispensáveis, até que retornasse à sua casa, como
toalhas, excesso de roupas, espelho, etc.
O
riso foi geral, os índios não entendiam como podia
este "louco" estar jogando fora objetos tão valiosos
para poder acumular estas pedrinhas sem nenhum
valor. Porém, o jovem aventureiro nem percebeu o que
se passava ao seu redor, pois estava concentrado em
catar o maior número de pérolas possível, pois sabia o
quanto receberia por cada uma delas quanto voltasse a
seu lugar de origem.
E
ste conto é um exemplo do que pode acontecer em
nossas vidas. Em geral, a sociedade nos determina o
que tem valor e o que não tem valor e quem se
comporta de maneira contraditória a esses valores é
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Três contos
olhado da mesma forma que os habitantes desta aldeia
olharam para o jovem aventureiro, como um "pobre
coitado" que está perdendo o seu tempo "catando
pedrinhas sem valor". Porém, muitas vezes, os
verdadeiros valores se encontram em atos que são
desprezados pela maioria da sociedade e, inclusive,
eles jogam na "lama" e ridicularizam a quem se
preocupa com eles. Cada mitsvá (mandamento da
Torá) que uma pessoa cumpre tem um valor imenso,
um valor verdadeiro que o acompanhará em sua vida e
também em sua pós-vida. Não vale a pena deixar de
cumprir uma "mitsvá" pela ridicularização ou pelo riso
de pessoas sem consciência deste valor. Uma vez
estando concentrados em "catar as pérolas" não
devemos prestar atenção em quem as "joga na lama".
É
nosso dever fixar um tempo diário para estudar
Torá, pois além de ser uma mitsvá por si só, também
nos "ampliará os horizontes" para novos valores e
novas oportunidades de juntar valiosas pérolas.
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Os três amigos
(baseado no Midrash - Pirkei de R. Eliezer 34)
U
ma pessoa foi notificada que deveria comparecer à
Suprema Corte. Ela estava sendo acusada de um
grande delito, e todo seu futuro estava em jogo.
"O
que farei"? pensou o pobre homem no mesmo
momento em que recebeu esta amarga notícia. Um
grande medo o tomou, sua alma estava aflita e temia
chegar sozinho ao julgamento, "quem poderá me
acompanhar?"
I
mediatamente, foi ao encontro de seu melhor amigo,
explicou-lhe o acontecido e pediu que o acompanhasse,
porém para sua surpresa ele respondeu: "Eu estou
muito ocupado, não tenho tempo para te acompanhar.
Boa sorte!"
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Três contos
.
E
ntão resolveu perguntar ao seu segundo amigo se ele
poderia acompanha-lo; mesmo não sendo o seu melhor
amigo, talvez concordaria em ajudá-lo. Foi ao seu
encontro, explicou- lhe o acontecido e pediu que o
acompanhasse, porém ele respondeu: "Eu posso te
acompanhar somente até a entrada do juízo",
"M
uito obrigado" respondeu o homem aflito,
"porém eu preciso de alguém que esteja junto comigo
até o final do julgamento".
E
ntão resolveu perguntar ao seu terceiro amigo,
mesmo que em geral não tivessem maiores contatos;
era simplesmente um "colega", porém não havia outra
opção. Foi ao seu encontro, explicou-lhe o acontecido e
pediu que o acompanhasse, e para sua felicidade a
resposta foi: "É claro que eu vou, e faço questão de te
acompanhar até o final do julgamento e, inclusive,
quero participar do julgamento e interferir
testemunhando a seu favor!".
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Três contos
.
.
O
mesmo acontecerá com nossas almas. Quando elas
forem notificadas de que deverão comparecer perante o
Rei dos Reis, com grande receio de chegar sozinhas ao
grande julgamento, quem as acompanhará?! O seu
melhor amigo, ou seja, o dinheiro (e os seus bens) pelo
qual estavam dispostas a enfrentar grandes sacrifícios,
viagens, horas sobre horas de duro trabalho, falará: "Eu
não tenho como te acompanhar, boa sorte!"1. O seu
segundo amigo, ou seja, os familiares e amigos falarão:
"Nós podemos te acompanhar somente até a cova,
porém não podemos subir contigo". Somente o terceiro
amigo, o mais distante, ou seja, as boas ações e a Torá
que estudaram (os quais são desprezados por várias
pessoas), falará: "Eu ficarei contigo até o final!"
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1
Uma vez um velho amigo me perguntou: "Caso houvesse no
céu uma alfândega, o que passaria pela "alfândega do céu?"(ou
seja, o que levaremos conosco para o céu?). E ele mesmo
respondeu: "Na alfândega do céu não pode passar nem com o
chapéu!"(ou seja, nada).
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Quem sabe faz a hora
U
m grupo de camponeses foi contratado para
transportar certa mercadoria de uma cidade para outra,
tendo que percorrer, para isso, um longo caminho. Para
este fim foi oferecido um automóvel, para quem tivesse
interesse.
D
esconhecendo a utilidade de um automóvel, todos
preferiram seguir caminhando pelas longas estradas, e
não perder a liberdade sentados dentro de uma lata
montada sobre quatro rodas, limitados e sem a
oportunidade de se expressar com o mundo afora.
Somente um deles se interessou, e a ele foi ensinado a
utilidade de um automóvel e como dirigí-lo. Ao entrar
dentro desta "lata", todos os seus companheiros,
sentindo muita pena de seu querido amigo, tentavam
convencê-lo a não entrar dentro do automóvel,
argumentando: "Ficaste maluco? Como tu concordaste
com isso? Vais perder a tua liberdade. Como tu vais
poder correr, pular, deitar, ai ai ai..."
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.
P
orém, todos nós sabemos que, apesar da aparente
limitação, o prazer que será proporcionado está muito
além do sofrimento causado por tal limitação, de estar
sentado dentro do automóvel. É supérfluo
complementar que após certo tempo de viagem, todos
os seus "companheiros caminhantes" estavam em uma
situação muito menos agradável do que a do coitado
amigo que "enloqueceu" e resolveu viajar dentro de
uma caixa de alumínio.
A
estrada é uma alusão ao mundo em que vivemos
[que poderá nos levar ao objetivo desejado]; o
automóvel é uma alusão às mitsvót, que são os meios
que vão nos fazer chegar ao objetivo desejado (porém
quem resolver se sentar ou deitar ou "rolar" pela
estrada não poderá usufruir do proveito proporcionado
pela estrada) [Baseado no livro Messilat Yesharim
cap.1].
M
uitas pessoas, para não perder a sensação da
liberdade, argumentam que "cada um tem a sua
verdade". Desta forma elas criam uma ilusão de que se
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pode crescer espiritualmente e se conectar com o
Criador sem modificar a sua maneira de viver.
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Finalização
N
a verdade os três contos formam um conto só, o qual
expressa três etapas da consciência na vida de uma pessoa
que teve o mérito de optar pelo crescimento espiritual.
A
pérola: A descoberta da existência de novos valores e a
percepção da deturpação dos valores ditados pela sociedade
(ou seja, o desprezo ao objetivo da existência e a ênfase ao
materialismo).
O
s Três amigos: Na sequência vem a conciência de que,
na verdade, na maior parte do nosso tempo, nós nos
dedicamos à busca do dinheiro e prazeres que terminam
juntos com o ato, e deles não teremos proveito no futuro,
quando nossas almas regressarem ao mundo espiritual.
.
Quem sabe faz a hora
: A etapa em que os atos
entram em harmonia com a nova consciência, o começo de
uma vida construtiva de aprimoramento pessoal e formação
espiritual, o sentimento de um prazer qualitativo e a
claridade do vazio existente no mundo afora, gerando uma
grande vontade de investir no cumprimento das mitsvót.
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Conclusão
H
ashem Se revelou ao povo de Israel no Har (Monte)
Sinai e nos deu a Torá. Nós recebemos as "instruções
do fabricante", portanto está em nossas mãos ler as
instruções e nos esforçar em cumprí-las e desta forma
nos aprimorar e nos completar para que, quando chegar
o tempo designado, desfrutar eternamente pelo mérito
de nossos atos.
O
alimento de nossa alma é adquirido através do
cumprimento da Torá que é formada por 613 mitsvót
em paralelo aos 613 órgãos espirituais que formam a
nossa alma (os quais estão correlacionados com o
nosso corpo fisico, cada mitsvá ao ser cumprida pelo
nosso corpo físico alimenta o órgão espiritual referente
a ela). No futuro, quando a alma deixar a sua
vestimenta material, ou seja, o corpo, a mitsvá será a
vestimenta da alma (baseado no livro Shaarei Kdusha,
R' Chaim Vital z"l). [E quanto às mitsvót que estamos
impossibilitados de cumprir, ao estudá-las recebemos
sua influência].
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D
evemos fixar um tempo diário para estudar Torá, e
feliz é a pessoa que possa ter o mérito de passar pelo
menos um período de sua vida se dedicando
exclusivamente ao estudo da Torá.
A
nossa geração recebeu um grande privilégio, que a
Torá está acessível a qualquer pessoa do povo de Israel
que queira conhecer ou se aprofundar no Seu estudo. É
uma pena perder tal oportunidade.
(o livro se encontra a venda online no site da Sefer)
http://www.sefer.com.br/prodvar.aspx?codigo_produto=11173
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