NO 1º SEMESTRE DE 2011: ! FALHOU O CONGELAMENTO DAS ADMISSÕES E ! A DESPESA COM O PESSOAL DERRAPOU! ONDE ESTÃO OS RESPONSÁVEIS? 1. FALHOU O CONGELAMENTO DAS ADMISSÕES! Segundo o Documento de Estratégia Orçamental – 2011/15 (DEO) divulgado pelo Ministério das Finanças, a 31 de Agosto de 2011, o emprego da Administração Central (AC) reduziu-se apenas em 0,9% durante o 1º semestre de 2011, ficando muito abaixo da meta traçada para o ano, que era de uma diminuição de 3,6%. Este facto vem indicar que face aos números conhecidos de novos aposentados registados durante este período na AC, assistiu-se a um número considerável de novas entradas de trabalhadores. Senão vejamos, existiam 512 355 pessoas empregadas na AC no final de 2010, se houve uma redução de 0,9% durante o 1º semestre de 2011, então a AC tinha menos 4 611 funcionários no final de Junho de 2011, isto é, 507 744 trabalhadores. Ora, como houve mais 7 850 trabalhadores que se aposentaram no 1º semestre, então foram admitidas 3 239 pessoas na AC (Quadro 1). Quadro 1 – Número de Funcionários da Administração Central (AC) Entradas da AC Saídas da AC para aposentação Número de Efectivos da AC Dez-10 1º Semestre 11 Variação (Jun/11-Dez/10) 3239 7850 512355 507744 -4611 Fontes: BOEP, Maio de 2011; CGA. Cálculos feitos pelo STE. 1 Ora, como a meta prevista para o ano de 2011 não vai ser cumprida conforme é dito no DEO, a qual seria uma redução do número de trabalhadores da AC em 3,6%, equivalente a uma diminuição líquida de 18 445 trabalhadores (que se situaria em 493 910 no final de Dezembro de 2011), então os próximos anos vão ser caracterizados por um novo aperto na redução do número de trabalhadores da AC, de quebra de 2% ao ano, em vez de uma diminuição de 1% ao ano previstos no Programa de Assistência Económica e Financeira negociado com a Troika. Face a esta situação, pergunta-se para onde foram admitidos os novos trabalhadores, para que Ministérios e Serviços? Qual é a penalização e sanção dos responsáveis que não cumpriram as metas previamente traçadas? Será que esta situação de descontrolo de admissão de trabalhadores na AC durante o 1º semestre de 2011 não poderá ser corrigida até ao final do ano? É que no conjunto dos 7 primeiros meses de 2011, já se aposentaram mais 8 995 trabalhadores da AC, incluindo as Forças Militares e de Segurança, representando mais 17% do que no mesmo período de 2010 (7 711) (Quadro 2). Quadro 2 – Número de Novos Aposentados da Administração Pública 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Jul-11 Administração Central 13078 18697 10237 10091 14949 10934 13988 14617 11962 7430 Administração Regional 696 1039 633 539 769 371 1071 873 726 472 Administração Local 3018 3861 2552 2041 2775 2087 2360 2683 2760 1877 Militares/Forças de Segurança 2293 2507 3339 1175 1293 1575 1386 1500 2119 1565 Outros 3617 7963 5503 5684 4926 4120 4610 4047 4558 3086 : Dos quais: Empresas Públicas 1746 2504 1224 1092 1682 552 621 693 688 TOTAL 22702 34067 22264 19530 24712 19087 23415 23720 22125 14430 Antecipada Em % do Total Fonte: CGA. 5629 24,8% 10056 29,5% 1884 8,5% 1576 8,1% 7295 4188 6215 10503 9150 29,5% 21,9% 26,5% 44,3% 41,4% Jul-10 6470 418 1567 1241 3003 : 12699 : : : : Não podemos esquecer que, em 2010, apesar de ter havido no conjunto da AC uma diminuição de 10 570 trabalhadores (-2%), houve Ministérios onde o emprego aumentou, como foram os casos dos Ministérios da Ciência, 2 Tecnologia e Ensino Superior (onde se incluem as Universidades), Defesa Nacional, Agricultura e Cultura (Quadro 3). Quadro 3 – Emprego na Administração Central (AC) Ministérios Org. de Soberania e Independentes (*) Pres. Conselho Ministros Min. Negócios Estrangeiros (**) Min. Finanças Administração Pública Min. Defesa Nacional Min. Administração Interna Min. Justiça Min. Ambiente Ord. Território Min. Economia, Inovação e Desenvolvimento Min. Agricultura Des. Rural e Pescas Min. Obras Pub. Transp. Comunicações Min. Trabalho Solidariedade Social Min. Saude Min. Educação (***) Min. Ciência Tec. Ensino Superior Min. Cultura Total 2009 2010 13.626 2.352 3.054 14.536 44.870 49.934 16.870 3.761 3.475 7.356 2.966 20.530 94.099 203.478 39.519 2.499 13.550 2.063 3.370 13.806 45.325 49.833 16.714 3.541 3.448 7.465 2.869 19.418 90.102 197.624 40.692 2.535 522.925 512.355 Variação 2010-2009 -76 -289 316 -730 455 -101 -156 -220 -27 109 -97 -1.112 -3.997 -5.854 1.173 36 -10.570 -0,6% -12,3% 10,3% -5,0% 1,0% -0,2% -0,9% -5,8% -0,8% 1,5% -3,3% -5,4% -4,2% -2,9% 3,0% 1,4% -2,0% Fonte: BOEP, Boletim do Emprego Público da DGAEP, Maio de 2011. * Inclui: Orgãos de Soberania e Independentes, Tribunais e Magistrados; ** Inclui todos os trabalhadores da rede do ensino de português no estrangeiro, que foram transferidos, em 2010, do Ministério da Educação para o Instituto Camões; *** Inclui pessoal não docente em exercício de funções nos estabelecimentos de educação e ensino básico e secundário ao abrigo do protocolo com as Câmaras Municipais (2009 e 2010). 2. A DESPESA COM O PESSOAL EM 2011 VAI SER SUPERIOR EM 1 200 MILHÕES, FACE AO PREVISTO NO OE EM 2011 ONDE ESTÃO OS RESPONSÁVEIS POR ESTA DERRAPAGEM? A despesa com o pessoal da AP em 2011 vai situar-se a um nível superior ao inicialmente previsto, não só face ao descontrolo nas admissões na AC (não cumprindo a regra do congelamento das admissões) referido anteriormente, mas também pela ausência de controlo nas promoções e progressões de “alguns” trabalhadores, com destaque para as carreiras 3 militares e certas categorias de corpos especiais, nomeadamente das forças de segurança. Mais uma vez se pergunta, quem foi responsabilizado por estas situações? Segundo o DEO, a despesa com o pessoal da AP vai situar-se em 19 873 milhões de ! em 2011, acima em 1 276 milhões de ! face ao valor que estava projectado no OE-2011. Mesmo que tenha havido uma alteração metodológica nesta rubrica, esta diferença necessita de ser muito bem explicada e trabalhada com algum detalhe, situação que não se verificou aquando da recente apresentação do DEO pelo Ministério das Finanças, visto que o valor em questão representa cerca de 0,7% do PIB, metade do montante revisto para o total da despesa (2 471 milhões de !, equivalente a 1,4% do PIB) (Quadro 4). A despesa com o pessoal deverá pesar assim 11,6% do PIB em 2011, em vez dos 10,6% estimados no OE-2011. Quadro 4 – Despesa Pública (Em milhões de !) 2010 2011 INE OE-2011 DEO 8858 8376 8223 -153 Despesas com Pessoal 21105 18597 19873 1276 Prestações Sociais -386 Consumo Intermédio Diferença 37707 38076 37690 Em dinheiro 29301 29905 29638 -267 Em espécie 8406 8171 8052 -119 Juros (PDE) 5195 6327 7195 868 Subsídios 1293 1350 1199 -151 Outras Despesas Correntes 4264 3613 3769 156 78423 76339 77950 1611 Formação Bruta de Capital Fixo 5653 3779 4283 504 Outras Despesas de Capital 3371 671 1028 357 Total Despesa de Capital 9024 4450 5311 861 87447 80789 83260 2471 Total Despesa Corrente Total das Despesas Fontes: INE; OE-2011; DEO – Documento de Estratégia Orçamental, MF, Ago/2011. 4 Apesar da despesa com o pessoal se situar, em 2011, acima do inicialmente previsto, ela representa menos 0,6 p.p. do PIB face a 2010 (-1 232 milhões de !), em resultado das medidas fortemente restritivas impostas aos trabalhadores, sendo a mais relevante a redução dos próprios salários nominais (Quadro 5). Dado que se mantém a imposição de medidas de forte contenção aplicadas aos trabalhadores da AP, nomeadamente ao nível do congelamento dos salários, do corte de horas extraordinárias e das ajudas de custo, a despesa com o pessoal vai continuar a diminuir nos próximos anos, estando previsto situar-se abaixo dos 10% do PIB em 2015 (9,9%). Para 2012, o congelamento de salários e de promoções/progressões na AP, a política de racionalização de horas extraordinárias e ajudas de custo e, o controlo do número de trabalhadores vão contribuir para uma redução de 421 milhões de ! na despesa com o pessoal, para se situar em 11,4% do PIB (11,6% do PIB em 2011). Esperemos que seja desta vez que o consumo intermédio diminua mais do que a despesa com o pessoal, conforme se encontra previsto no DEO, equivalente a uma redução de mil milhões de ! em 2012. Uma nova preocupação para os trabalhadores em geral reside nos cortes significativos previstos para o sector da saúde (incluídos na rubrica das Prestações Sociais em espécie, a qual tem uma redução de 715 milhões de !, em 2012) e na subida da generalidade dos impostos. Finalmente, a forte quebra do investimento público que se prevê de 870 milhões de ! em 2012, diminuindo-o para 2% do PIB, constitui motivo de grande apreensão em termos do desenvolvimento futuro do País e das suas repercussões em termos de emprego. 5 Quadro 5 – Despesa Pública 2010 2011 2012 Variação 2011-2010 Em % PIB 2012-2011 2011-2010 2012-2011 milhões ! em p.p. do PIB Consumo Intermédio 5,1% 4,8% 4,2% -635 -1057 -0,3 Despesas com Pessoal 12,2% 11,6% 11,4% -1232 -421 -0,6 -0,6 -0,2 Prestações Sociais 21,8% 22,0% 21,8% -17 -492 0,2 -0,2 Em dinheiro 17,0% 17,3% 17,5% 337 223 0,3 0,2 Em espécie 4,9% 4,7% 4,3% -354 -715 -0,2 -0,4 Juros (PDE) 3,0% 4,2% 4,8% 2000 995 1,2 0,6 Subsídios 0,7% 0,7% 0,6% -94 -175 0,0 -0,1 Outras Despesas Correntes 2,5% 2,2% 1,9% -495 -527 -0,3 -0,3 Total Despesa Corrente 45,4% 45,5% 44,7% -473 -1677 0,1 -0,8 Formação Bruta de Capital Fixo 3,3% 2,5% 2,0% -1370 -870 -0,8 -0,5 Outras Despesas de Capital 2,0% 0,6% 0,6% -2343 -4 -1,4 0,0 Total Despesa de Capital 5,2% 3,1% 2,6% -3713 -874 -2,1 -0,5 Total das Despesas 50,6% 48,6% 47,3% -4186 -2551 -2,0 Fontes: INE p/ 2010; DEO – Documento de Estratégia Orçamental, MF, Ago/2011 p/ 2011 e 2012. -1,3 LISBOA, 2011-09-12 A Direcção 6