Quando professores universitários podem manter
relações sexuais com seus alunos?
Por Stephen Hicks
Tradução de Matheus Pacini
Revisão de Vinicius Cintra
Dois
escândalos sexuais em departamentos de filosofia têm, de certa forma,
escandalizado o mundo acadêmico nos últimos dias.
Um deles, na Universidade de Miami na Flórida, levou à renúncia do professor Colin
McGinn. O outro, na Universidade do Colorado, Boulder, resultou na substituição do
chefe do departamento, Graeme Forbes.
O caso do professor McGinn diz respeito a uma série de e-mails e mensagens de texto
(SMS) entre ele e uma estudante de doutorado. O conteúdo não foi divulgado e ambas
as partes concordaram em não falar sobre o caso; no entanto, certamente, houve
insinuações sugestivas e indiretas indecorosas. O caso do Colorado, de acordo com um
relatório interno da Universidade, envolveu o departamento de filosofia e sua suposta
cultura de interação e abuso sexual em reuniões oficiais e compromissos sociais.
Os casos levaram a muita discussão com respeito aos indivíduos envolvidos, assim
como à questão mais ampla da filosofia acadêmica. Essa profissão é majoritariamente
masculina (80%), e esse desequilíbrio estatístico levanta questões mais profundas: o
estilo de argumentação confrontacional (e, às vezes, brutal) da filosofia é menos
atraente para as mulheres? A menor representação feminina, combinada com a
dinâmica de poder professor-estudante, levou a uma dinâmica sexual insalubre? Ou,
de forma mais grosseira, o mundo da filosofia profissional é um “clube do Bolinha”,
como um crítico ferrenho a denominou?
(Os sete departamentos acadêmicos dos quais fiz parte como estudante ou professor
sempre me pareceram totalmente assexuais, mas talvez eu simplesmente não tenha
sido convidado para as festas certas).
Os casos de Miami e Colorado levantam uma série de questionamentos. Carreiras são
importantes. Educação é importante. Sexo é importante. E, como seres humanos, não
somos estritamente compartimentalizados: agora eu sou somente um estudioso, agora
eu sou somente um ser sexual, agora sou somente um ser social. Regularmente,
perseguimos muitos objetivos simultaneamente – vamos a festas, por exemplo, para
socializar e comer e aprender coisas e flertar. Mas em outras situações, talvez não seja
apropriado perseguir alguns objetivos. Na vida profissional, especialmente de alto
risco, devemos identificar princípios que nos ajudem a decidir quais objetivos
deveriam ser ou não perseguidos.
Os casos do Colorado e de Miami são tidos como estereótipos – professores mais
velhos e mulheres (estudantes) mais novas – com três elementos em ação: 1) a
dinâmica de homens que procuram mulheres 2) diferença de idade: homens mais
velhos que procuram mulheres muito mais jovens e 3) diferença de poder: de uma
posição de autoridade, o professor procura o estudante.
Contudo, necessitamos de princípios mais amplos, pois outras combinações são
possíveis.
E se a diferença de idade for menor? Roberto é um professor de literatura de 29 anos e
Jane é uma estudante de doutorado de 25 anos.
E se os gêneros forem invertidos? Maria é uma professora-assistente de biologia de 26
anos e Gerhard é um estudando de graduação de 24 anos.
E o que dizer combinações entre gays e lésbicas? Tabitha é uma professora de 33 anos
e Marika é uma mulher de 33 anos que decidiu voltar à faculdade há pouco tempo.
E se o estudante iniciar o flerte, seja homem ou mulher, novo ou velho, gay ou não?
Quaisquer que sejam os princípios da ética profissional que inventemos, deveriam se
adaptar a todas as variantes.
A primeira coisa é identificar os valores envolvidos de cada uma das partes. A relação
é de diversão, educação, trabalho, romance ou o que? A segunda coisa é priorizar os
valores: os valores sendo perseguidos deveriam ter importância relativamente igual a
cada uma das patres e a satisfação daquele valor para ambas as partes deveria ser
mutuamente importante.
Dois amigos indo ao cinema, por exemplo, sabem que a diversão é o propósito daquela
tarde, que ver o filme juntos é do que se trata, primeiramente, seu tempo junto, e que
aproveitar o tempo que passam juntos importa. Essa é uma relação saudável. Isso não
quer dizer que outros valores não podem ser introduzidos durante essa tarde –
desabafar sobre um duro dia de trabalho, flertar, falar sobre investimentos, debater
política e assim por diante – mas esses tópicos deveriam ser evitados se fossem de
encontro ao proposito principal da relação.
Especificamente no contexto do ensino superior, o valor central é o aprendizado, e a
relação central é a do professor-estudante. Cada parte na relação compromete-se a
alcançar aquele valor como seu objetivo primário. Cada qual contribui com algo para o
processo de aprendizado – conhecimento e tutoria vindos do professor, esforço vindo
do aluno. O professor receber valor como resultado – pagamento, a satisfação de
exercer a sua profissão e avanço profissional. O estudante também recebe valores –
conhecimento, tutoria para a sua carreira e, tomara, um diploma.
Ao mesmo tempo, cada um aderiu a um compromisso para com o outro. O professor
deve ser o tipo de professor e mentor que assiste o estudante no crescimento
educacional, e o estudante deve ser o tipo de aprendiz e futuro profissional que será
um mérito ao professor.
Nada disso exclui outros valores da relação. Professores e estudantes de graduação
podem ter se tornado amigos, amantes, casais e assim por diante. Eles podem
trabalhar em campanhas políticas ou frequentar a mesma igreja, ou até praticar juntos
os mesmos tipos de esportes. Porém, qualquer fator que possa conflitar com a busca
daquele valor principal do aprendizado deve ser avaliado com cautela, introduzido na
relação primária delicadamente, e, se necessário, colocado de lado para não interferir
com a busca do valor principal. Alternativamente, se existe um conflito, entretanto
ambas as partes acreditam que o relacionamento amoroso, digamos, é mais
importante, então eles deveriam parar de serem professor e estudante.
Combinar a relação professor-estudante com romance é possível, mas obviamente,
complicado. O estudante tem que se perguntar: estou conseguindo a nota, a
recomendação, o conselho por causa dos meus méritos – ou porque estou dormindo
com o professor? E do lado do professor: estou fazendo sexo porque eu sou um
trampolim para o avanço do estudante?
E os departamentos acadêmicos são conhecidos como lugares de fofocas. É necessário
proteger sua reputação contra ser visto como alguém que falta profissionalismo.
Professores não querem a reputação de usarem suas aulas locais de caçada de
parceiros sexuais, e os estudantes não querem a reputação de dormir com o professor
para alcançar seu objetivo.
Do lado positive, como membros de um departamento e de uma universidade, os
professores tem um dever para com as instituições e, portanto, tem a
responsabilidade de melhorar a reputação daquelas instituições em vez de depreciar.
Da mesma forma, os estudantes de graduação quando se juntam a um departamento
e a uma universidade.
Também é importante realçar o fato de que os estudantes de graduação são adultos.
Não estamos aqui falando de professores que têm relação com menores de idade ou
mesmo com jovens adultos, tais como os estudantes de graduação. O estudante típico
de doutorado é maduro o suficiente para ter se graduado em uma universidade, o qual
normalmente significa ter mais do que 22 anos de idade, e inteligência suficiente para
ser um candidato a um diploma de doutorado.
Então, minha resposta a questão de quando os professores podem ter relações sexuais
com seus estudantes é: raramente. Nenhuma decisão universal é possível para todos
os indivíduos. Os princípios mais importantes são o bom senso tanto do professor
quanto do estudante, e o comprometimento real de ambos à integridade da
experiência educacional.
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Stephen Hicks é o autor do livro Explicando o Pós Modernismo e Nietzsche and the Nazis. Ele
escreve regularmente no site StephenHicks.org.
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