O USO DE IMAGENS DO FORTRACC/CPTEC/INPE NA INTERPRETAÇÃO DE
SISTEMAS CONVECTIVOS ATUANTES NA CIDADE DE FORTALEZA PARA O ANO
DE 2011.
Lucas Pereira Soares¹², Antônia Adnna Guedes da Silva¹, Maria Elisa Zanella¹
UFC-DG-PET - Brasil - Ceará¹ - [email protected]²
RESUMO
O presente trabalho considera a Climatologia da cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil, para o 1º
semestre do ano de 2011, analisando o ritmo climático desta. Será feito uso de imagens
produzidas por um software denominado FORTRACC, para o estudo dos Sistemas Convectivos
(SC), responsáveis por totais consideráveis de precipitação. Tais imagens, obtidas no site do
CPTEC/DSA/INPE servirão de ferramenta para o estudo destes SC, grandes produtores de
episódios climáticos extremos.
PALAVRAS-CHAVE: Climatologia, Fortaleza, FORTRACC.
ABSTRACT
This paper will consider the Climatology of the city of Fortaleza, Ceara, Brazil, for the first
semester of 2011, working the pace of climate. Will be done using a software for the study of
convective systems, responsible for considerable levels of precipitation for the period, so this
software, called ForTraCC, serve as a tool for the study of SC, provoking large local weather
events.
KEYWORDS: Climatology, city of Fortaleza, FORTRACC.
“Climate is your playlist, weather is the song that's playing.”
American Association of State Climatologists
INTRODUÇÃO
O primeiro semestre do ano de 2011 representou um total de chuvas bastante
elevado para a cidade de Fortaleza, visto o dinamismo atmosférico favorável a precipitação.
Trata-se de fenômenos oceânicos/atmosféricos como o ENOS, o Dipolo do Atlântico e a
participação ativa de Sistemas Atmosféricos (SAs) em praticamente todo o primeiro semestre
do ano.
Destaca-se neste paralelo, o ENOS, com sua fase fria (La Niña), favorável a
circulação atmosférica com margem habitual e positiva a precipitação no Nordeste do Brasil
(NEB) e a atuação do Dipolo do Atlântico Negativo, também favorável a chuva.
...nas primeiras semanas de fevereiro de 2011 observou-se uma evolução no
aquecimento da TSM no Atlântico Tropical Sul, e um resfriamento no setor norte da
bacia, indicando que há probabilidade de chuva em torno a acima da média na região
norte do Nordeste para os próximos meses. Destaca-se que este padrão termodinâmico
(de temperaturas) sobre o Atlântico é favorável à atuação da Zona de Convergência
Intertropical (ZCIT) sobre o estado do Ceará e norte da região nordeste do Brasil
(NEB), no período de fevereiro a maio... (FUNCEME, 2011)
Evidencia-se, pois, ainda, a participação de SAs responsáveis por níveis
consideráveis de precipitação. Pretende-se, então, desenvolver um trabalho capaz de observar a
Climatologia da cidade de Fortaleza, enfocando a participação de SAs responsáveis pela
formação de Sistemas Convectivos (SC) que favorecem a quantificação de valores positivos de
precipitação para a cidade. Para tanto, este estudo contará coma a ajuda de imagens do software
desenvolvido pelo CPTEC/INPE responsável pela identificação e acompanhamento de SCs
visto que o ritmo climático se mostrou descontínuo durante o período de instabilidade
evidenciado no 1º semestre do ano, fato este responsável por precipitações intensas,
principalmente, no mês de janeiro, classificado como um mês de chuvas excepcionais em 2011.
MATERIAL E MÉTODOS
A base de dados foi colhida, principalmente, junto ao CPTEC/INPE e a
FUNCEME. As imagens utilizadas são provenientes do satélite GOES 12; os dados de
pluviosidade são da estação pluviométrica do Campus do Pici, no bairro Planalto Pici, em
Fortaleza, Ceará, colhidas junto a FUNCEME; o software FORTRACC se encontra disponível
no endereço: http://satelite.cptec.inpe.br >, no site do CPTEC/INPE em sua Divisão de Satélites
Ambientais – DSA.
O FORTRACC servirá de ferramenta para o estudo dos Sistemas
Convectivos (SC), grandes provocadores de eventos pluviométricos locais.
DESENVOLVIMENTO
O uso do FORTRACC no estudo de sistemas convectivos
O Forecast and Track of Cloud Cluster (FORTRACC) é um software que usa
imagens do satélite GOES-12 para a previsão a curto prazo e análise da evolução de sistemas
convectivos. Estes sistemas convectivos são bastante atuantes na cidade de Fortaleza, visto a
existência de um favorecimento natural no desenvolvimento deles em bordas continentais,
causado graças as diferenças de temperatura e pressão entre oceano e continente. Monitorar o
surgimento e a evolução destes sistemas é de suma importância, pois,
Ressalta-se sua importância na definição das condições atmosféricas, com influência
direta na condição de nebulosidade, na quantidade da radiação solar incidente à
superfície, no regime de ventos e na precipitação de uma região. Em particular, são
reconhecidos os desastres produzidos por precipitações intensas, alta atividade elétrica
e vendavais na rede de distribuição de energia elétrica e em núcleos urbanos do
Sudeste e Sul do Brasil. (MACEDO, VILA e MACHADO, 2011)
Vários foram os sistemas convectivos atuantes em Fortaleza no ano de 2011, dentre
estes, destaca-se as Linhas de Instabilidade (LI) e os Complexos Convectivos de Mesoescala
(CCM). As LIs sendo “uma linha de cumulunimbus que se forma ao longo da borda de uma
ampla área de movimento descendente” (HAMILTON E ARCHBOD, 1945 apud COHEN,
1989) e os CCMs como "conjuntos de cumulunimbus cobertos por densa camada de cirrus que
podem ser facilmente identificados em imagens de satélite como sendo sistemas de nuvens
aproximadamente circulares e com um crescimento explosivo num intervalo de tempo de 6 a 12
horas" (SILVA DIAS,1987, apud SOARES e SILVA et al, 2010).
Sobre o uso do FORTRACC, ele é bastante didático e favorece uma compreensão,
um aprofundamento em estudos voltados a compreender a dinâmica de sistemas convectivos. O
programa é acessível, está disponível na página do CPTEC/INPE, referenciada ao final do
trabalho, e de fácil uso. Fornece informações importantes tais como: direção do SC, sua
posição, velocidade, tempo de vida do SC, temperatura mínima do SC e a fase referente ao ciclo
de vida do SC (se está intensificando, estável ou desintensificando), podendo ser observada na
tabela e imagem abaixo:
Imagem 1: Imagem advinda do FORTRACC de janeiro de 2011. Fonte:
CPTEC/DSA/INPE
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Climatologia de Fortaleza para o 1º período do ano de 2011.
Tem-se para o primeiro período do ano em Fortaleza precipitação acumulada na
casa dos 2181,2 mm, (janeiro a julho). De forma mais detalhada tem-se seguindo a tabela abaixo
os totais de precipitação para primeira metade do ano:
PERÍODO
PRECIPITAÇÃO (mm)
PERÍODO
PRECIPITAÇÃO (mm)
JANEIRO
681,6
JUNHO-JULHO
258,9
FEVEREIRO-MAIO (quadra chuvosa)
1240,7
JANEIRO, JUNHO E JULHO
940,5
Destaca-se, principalmente, os meses de janeiro, junho e julho, responsáveis por
mais da metade dos valores de precipitação de toda a quadra chuvosa. Em janeiro, mais uma
vez, observou-se a atuação de Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN), com um destaque
de valor extremo na precipitação, representando o mês mais chuvoso e cerca de metade do
percentual da quadra chuvosa. Este mês de janeiro foi considerado o mais chuvoso nos registros
históricos na FUNCEME. A partir das imagens do satélite GOES 12, sob uso do software
FORTRACC, observa-se uma intensa atuação de VCAN e vários Sistemas Convectivos na
cidade de Fortaleza, dentre estes Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) e Linhas de
instabilidade (LI), enquanto a ZCIT está em sua posição habitual no inicio do mês de janeiro.
Porém, a medida em que as condições oceânicas e climáticas da região favorecem o
deslocamento dela, esta tende a se posicionar mais para o sul, de forma rápida, com sua atuação
já evidenciada no final do mês de janeiro (XAVIER et al, 2000) , período de transição à entrada
da quadra chuvosa.
Considerando eventos diários intensos conforme tabela abaixo, 3 deles atingiram
valores acima de 100mm/24h, estes todos concentrados no mês de janeiro.
QUANTIFICAÇÃO DOS SISTEMAS
JAN
CLASSES
Quanti
dade
CLASSE 1 20-39mm
CLASSE 2 40-59mm
CLASSE 3 60-79mm
CLASSE 4 80-99mm
CLASSE 5 100-119mm
CLASSE 6 120-139mm
Total*
(%)
FEV
Quanti
dade
Total*
(%)
MAR
Quanti
dade
Total*
(%)
ABR
Quanti
dade
MAI
Total*
(%)
Quanti
dade
Total*
(%)
1
3,19
5
36,72
4
50,79
4
38,67
2
32,24
3
24,73
3
32,73
1
23,01
1
11,67
1
15,55
1
12,14
1
28,78
1
16,75
1
18,89
Tabela 2: Quantificação dos Sistemas Atmosféricos. *porcentagem retirada da precipitação total mensal.
JUN
JUL
Quanti
dade
Total*
(%)
Quanti
dade
Total*
(%)
1
1
-
23,40
37,44
-
1
1
-
26,77
42,08
-
Neste mesmo mês, observa-se uma quantidade maior de eventos de CLASSE 2,
cuja ZCIT ainda não encontra-se atuando. Já a partir de fevereiro até maio, destacam-se eventos
da CLASSE 1, o que evidencia a atuação da ZCIT neste tipo de evento.
Para junho e julho, na pós-estação chuvosa, destaca-se uma maior entrada de
sistemas padrão onda, ou seja, as Ondas de Leste (OL), responsáveis por precipitação
importante, nas CLASSES 1 E 2.
O principal episódio, ou evento climático, observado nesta análise temporal, é
aquele referente ao dia 10 de janeiro de 2011, com uma chuva de 128,8 mm, derivada do raio de
influencia de um VCAN, porém cujo sistema local e de menor escala é preponderante na
interferência do ritmo climático da cidade. No FORTRACC, observa-se um SC em
desenvolvimento as 9h da manhã, no prazo de 3 horas este vai de estável (as 8h) a intensificado
(9h), e depois novamente a estável (as 10h), na classificação do software. Estes sistemas são
formados devido a distúrbios nos alísios e tem sua atividade convectiva intensificada na
intersecção oceano-continente. O sistema formado, inicialmente, no Atlântico, graças a
nebulosidade associada ao vórtice, tem em seu decorrer uma formação marcadamente ligada a
de uma LI. Para este dia 10 observa-se, então, uma intensa cobertura de nuvens sobre a área que
compreende a cidade de Fortaleza, havendo no período de 9h-12h uma maior convecção.
B
C
A
Imagem 2: Referente ao dia 10 de janeiro de 2011. A e B advindas do FORTRACC e C advindas de softwares de classificação de nuvens. Fonte: CPTEC/INPE
CONCLUSÕES

Mais uma vez observa-se a interferência dos oceanos no clima da cidade de Fortaleza, estes
controlam boa parte do dinamismo climático da região;

A ZCIT não esteve tão forte, visto que as temperaturas do Atlântico não estavam tão quentes,
em compensação os VCANs estiveram muito atuantes, e foram responsáveis pelos totais diários
mais importantes de precipitação;

O FORTRACC se mostrou como uma excelente ferramenta para o estudo de SCs, visto sua
facilidade de uso e riqueza em informações, além de grande acervo de imagens;

As OLs foram atuantes no período pós-quadra chuvosa;

As estações pré-quadra chuvosa e pós-quadra chuvosa foram muito atuantes e representaram
boa espacialidade de precipitação frente ao período mais chuvoso (fev-mai)

Evidenciou-se maiores eventos de CLASSE 1 (20-39 mm) e 2 (40-59 mm), principalmente, no
período referente a quadra chuvosa. Eventos mais intensos foram evidenciados em janeiro,
como aqueles referentes as CLASSES 5 (100-119mm) e 6 (120-139mm)
AGRADECIMENTOS
Ao CPTEC/INPE por disponibilizar em seu site o FORTRACC e as imagens
necessárias para a confecção do trabalho, a profa. Dra. Maria Elisa Zanella pela orientação no
trabalho e a bolsa de estudos fornecida pelo PET Geografia UFC, responsável por municiar
subsídios a pesquisa em Geografia.
REFERÊNCIAS
CENTRO DE PREVISÃO DO TEMPO E ESTUDOS CLIMÁTICOS - CPTEC. Departamento de
Satélites Ambientais – DAS. Disponível em:< http://satelite.cptec.inpe.br/acervo/goes_anteriores.jsp>,
acessado em: 02/06/2011.
COHEN, Julia Clarinda Paiva. Um estudo observacional de Linhas de Instabilidade na Amazônia.
1989. Dissertação (Mestrado em Meteorologia). INPE. São José dos Campos.
FUNDAÇÃO CEARENSE DE METEOROLOGIA E RECURSOS HÍDRICOS - FUNCEME. Séries
históricas. Disponível em:<http:// http://www.funceme.br/index.php/areas/clima/boletins-quadrachuvosa/>, acessado em: 05/06/2011.
_________. Previsão climática para o estado do Ceará para o período de fevereiro a maio de 2011
(2° prognóstico). Disponível em:<http://www.funceme.br/areas/monitoramento/ download-de-serieshistoricas>, acessado em: 05/06/2010.
MACEDO, S.R.; VILA, D.; MACHADO, L.A. FORTRACC: Previsão a curto prazo e evolução dos
sistemas convectivos. FORTRACC V1.1 – Guia de Usuário. São Paulo: INPE/CPTEC, 2004. Disponível
em <http://moara.cptec.inpe.br/pdf/FORTRACC.pdf>.
Acesso em: 01/08/2011.
SILVA DIAS, Maria Assunção Faus da. Sistemas de mesoescala e previsão do tempo a curto prazo.
Revista Brasileira de Meteorologia; 1987; Vol. 2, 133-150.
SOARES, Lucas Pereira; SILVA, Antônia Adnna Guedes da; ZANELLA, Maria Elisa; MOURA,
Marcelo de Oliveira. Identificação dos sistemas atmosféricos produtores de chuvas em Fortaleza/CE:
episódios janeiro a julho de 2009. Anais do IX Simpósio Brasileiro de Climatologia Geografia. Fortaleza,
2010. CD-ROM.
XAVIER, Teresinha de Maria Bezerra Silva; XAVIER, Airton Fontenele Sampaio; DIAS, Pedro Leite da
Silva; SILVA DIAS, Maria Assunção Faus da. A Zona de Convergencia Intertropical – ZCIT e suas
relações com a chuva no Ceará (1964-98). Revista Brasileira de Meteorologia. v. 15, n. 1, 27-43,2000.
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