ISSN 1982-5897
O BIÓLOGO
II
8 Out Nov Dez
8
O Biólogo e as
Unidades de Conservação
por Leopoldo Magno Coutinho e
Lilian Beatriz Penteado Zaidan
Leia também:
A comemoração do
Dia Nacional do Biólogo
Projeto Rondon: exercício
de cidadania
CRBio-01
ÍNDICE
ÍNDICE
O BIÓLOGO
Revista do Conselho Regional de Biologia 1ª Região (SP, MT, MS)
Ano II - Nº 08 Out/Nov/Dez 2008
ISSN 1982-5897
CRBio-01
Conselho Regional de Biologia 1ª Região-São Paulo,
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (CRBio-01)
Rua Manoel da Nóbrega, 595 - Conjuntos 121 e 122
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Delegacia Regional de Mato Grosso - CRBio-01
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Diretoria:
Wlademir João Tadei
Presidente
Luiz Eloy Pereira
Vice-Presidente
Eliézer José Marques
Secretário
Edison Kubo
Tesoureiro
Conselheiros
Mandato (2007-2011)
Efetivos:
Wlademir João Tadei; Edison Kubo; Eliézer José Marques; Murilo Damato;
Mário Borges da Rocha; Maria Teresa de Paiva Azevedo; Luiz Eloy Pereira;
Maria Saleti Ferraz Dias Ferreira; Rosana Filomena Vazoller; Giuseppe Puorto.
Suplentes:
Adauto Ivo Milanez; Sandra Farto Botelho Trufem; Ângela Maria Zanon;
Eliana Maria Beluzzo Dessen; Marlene Boccatto; Sarah Arana; Edison de Souza;
Normandes Matos da Silva; Regina Célia Mingroni Netto; Osmar Malaspina.
Revista do Conselho Regional de Biologia (CRBio-01)
Responsável:
Comissão de Comunicação e Imprensa
do CRBio-01
Editora:
Maria Eugenia Ferro Rivera
(MTb 25.439)
Periodicidade: trimestral
Tiragem: 16.000 exemplares
Editoração Eletrônica:
Mauro Teles
Ano II - Nº 08 - Out/Nov/Dez 2008
Ema em aceiro rebrotado
Foto: Alexandre Camargo Coutinho
Fotolito, impressão e
acabamento:
Rettec Artes Gráficas
Fone: (11) 2063-7000
www.rettec.com.br
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Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade de seus autores e
podem não refletir a opinião desta entidade. O CRBio-01 não responde pela
qualidade dos cursos divulgados. A publicação destes visa apenas dar
conhecimento aos profissionais das opções disponíveis no mercado.
Jan-Fev-Mar/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
22 Out-Nov-Dez/2008
Editorial..........................................................................
Os serviços do portal do CRBio-01, o convênio
de Saúde e comemoração do Dia Nacional do
Biólogo são alguns dos assuntos abordados
03
Ecos da Plenária ...........................................................
O que aconteceu nas 128ª e 129ª Sessões
Plenárias do CRBio-01
04
Tome nota ......................................................................
Lembretes importantes para os Biólogos
04
Acontece........................................................................
Notícias em destaque relacionadas ao CRBio-01
e aos Biólogos
05
EXPOPRAG 2008 .........................................................
A participação do CRBio-01 no maior evento da
América Latina do setor de controle de vetores e
pragas urbanas
07
Três de Setembro .........................................................
Homenagens ao Dia do Biólogo e a campanha
publicitária promovida pelo Sistema CFBio/
CRBios
08
Publicações ...................................................................
Lançamentos de livros de interesse aos Biólogos
10
Agenda ..........................................................................
Divulgação dos eventos científicos no Brasil e no
exterior
11
Do Arquivo do Biólogo ...................................................
Seção que publica fotos curiosas e interessantes
clicadas por Biólogos
11
Especial .........................................................................
O Biólogo e as Unidades de Conservação, artigo
assinado pelos Biólogos Dr. Leopoldo Magno
Coutinho e Dra. Lilian Beatriz Penteado Zaidan
12
Museu ............................................................................
Conheça o Museu de História Natural de Taubaté,
entrevista com o Dr. Herculano Alvarenga
18
Na Mídia ........................................................................
Sancionada Lei Arouca, Estado de São Paulo
divulga sua lista de fauna ameaçada
20
Em Foco ........................................................................
Projeto Rondon: Exercício de Cidadania,
entrevista com a Bióloga Viviane Aparecida
Rachid Garcia
21
EDITORIAL
Caros Biólogos:
Iniciamos este Editorial com um convite. Visitem o portal do CRBio-01! Além da legislação
pertinente e informações de interesse dos Biólogos, vários serviços foram colocados online, destacando-se dentre eles o registro de ART via eletrônica, cuja procura aumentou
porque, acreditamos, está atendendo às necessidades dos profissionais Biólogos. Para
acessar a Área Privativa, ou obter informações específicas, é necessário utilizar a senha
enviada via correios a todos os registrados ativos. Gostaríamos de conhecer a opinião
de cada um a respeito do novo portal. Utilizem o Fale conosco ou preencham o campo
da Enquete.
Chamamos a atenção dos Biólogos para o convênio assinado com a operadora Medial Saúde visando a prestação de serviços na área da saúde e destinado aos Biólogos
inscritos e suas famílias, com direito a vários benefícios exclusivos, incluindo econômicos.
Verifiquem! Comparem!
Entre as várias atividades desenvolvidas por este Regional destacamos a sua atuação
na comemoração do Dia Nacional do Biólogo, participando de campanha publicitária
nacional organizada pelo sistema CFBio/CRBios. Não poderíamos deixar de mencionar a
nossa já tradicional participação na EXPOPRAG, este ano na sua sétima edição. Também,
dentro dos parâmetros estabelecidos e já citados aqui, está sendo montado o programa
do 19º Congresso de Biólogos do CRBio-01. Acrescentamos que o Prêmio Painel outorgado na cerimônia de encerramento do evento receberá o nome da Bióloga Dra. Bertha
Lange de Morretes, doadora dos recursos para a premiação dos trabalhos.
Ao encerrar este editorial não poderíamos deixar de mencionar os nossos votos de um
Feliz Natal aos Biólogos e suas famílias e que o ano de 2009 seja portador de boas novas,
muita saúde, paz e sucesso no campo profissional.
Até a próxima oportunidade!
A Diretoria do CRBio-01
Antes de Emitir a 1ª ART Consulte o CRBio-01!
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LEMBRE-SE QUE O TRT DEVE
SER RENOVADO ANUALMENTE!
Toda a Legislação do
Mudou de Endereço?
Mantenha o seu endereço atualizado. Informe a
Secretaria do CRBio-01 quando mudar de endereço,
ou quando houver alteração de telefone, CEP ou
e-mail.
Biólogo está disponível no
Portal do CRBio-01:
www.crbio01.org.br
O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 3
ECOS DA PLENÁRIA
A 128ª Sessão Plenária realizada em
08/08/08 tratou de assuntos entre os quais
destacam-se sugestões para elaboração de
Resolução reformulando as áreas de atuação
dos Biólogos. Foi comunicado o início da
parceria com a DIVICOM Administradora
de Saúde: 1º de setembro, em comemoração
ao Dia Nacional do Biólogo, 03/09/08. Por
meio deste convênio o Biólogo, em dia com
suas obrigações perante o CRBio-01 (ativo/
regular), poderá adquirir plano de Saúde da
operadora Medial, com vários benefícios
inclusive abatimento de cerca de 30% na
mensalidade. A Plenária homologou 227
novos registros, sendo 154 definitivos e 73
provisórios, 29 reativações de registro, 39
cancelamentos; seis Biólogos solicitaram
transferência para o CRBio-01 e idêntico
número foi transferido para outros CRBios.
Foram concedidos três títulos de especialista, três solicitações foram negadas e uma
colocada em instrução; nove solicitações de
Termos de Responsabilidade Técnica foram
aprovadas, bem como o registro e/ou cadastro
de pessoa jurídica correspondente. A Comissão de Ética propôs, e a plenária aprovou, a
conversão da pena de suspensão para pena de
cancelamento do registro de 104 Biólogos. A
plenária referendou a aprovação do Balancete
do 2º trimestre de 2008 e a 1ª reformulação
do Orçamento de 2008 do CRBio-01.
A 129ª Plenária ocorreu no dia 3 de
outubro de 2008 e tratou, inicialmente, da
participação do Conselho na sétima edição da
EXPROPAG, realizada de 20 a 22 de agosto
em São Paulo. A presidência detalhou as providências tomadas visando a modificação de
legislação que restringe a atuação de Biólogos
na poda de árvores e concessão de responsabilidade técnica em análises clínicas. Foram
mobilizadas autoridades municipais, estaduais
e federais, dos três poderes. Na Ordem do Dia
foram homologadas 257 inscrições de pessoa
física, sendo 193 definitivas e 64 provisórias,
e reativados 30 registros. Além disso, o CRBio-01 recebeu cinco registros transferidos de
outros CRBios. Por outro lado, foram cancelados 42 registros e 15 Biólogos foram transfe-
ridos para outros Regionais. Três solicitações
de títulos de especialista foram aprovadas,
duas negadas e uma encontra-se em instrução.
Sete pedidos de termos de responsabilidade
técnica foram concedidos e um foi negado.
A plenária aprovou a substituição, a pedido,
do Delegado Regional do Mato Grosso, Dr.
Normandes Matos pela Profa Márcia Nassarden de Abreu, em virtude da transferência do
primeiro para outro CRBio a fim de assumir
cargo público. Foram aprovadas a denominação do Prêmio Painel: “Prêmio Dra. Bertha
Lange de Morretes” e a alteração dos valores
para R$ 1.000,00 (1º colocado), R$ 600,00
(2º colocado) e R$ 400,00 (3º colocado). A
plenária discutiu alguns parâmetros para o
19º Congresso de Biólogos do CRBio-01 - 19º
ConBio - a ser realizado no período de 18 a
21 de julho de 2009, no Estado de São Paulo;
as inscrições serão feitas antecipadamente e
somente via internet; realização de um “Fórum de coordenadores de cursos de Ciências
Biológicas”, além de atividades específicas
para profissionais e graduandos.
TOME NOTA
O Novo Portal do CRBio-01
Já Está no Ar!
Acesse:
www.crbio01.org.br
ATENÇÃO!
Biólogos que prestam serviços
como autônomos para o DEPRN
É obrigatório o registro de Anotação de
Responsabilidade Técnica – ART, junto ao
CRBio-01, referente aos Laudos Técnicos de
Vistorias elaborados no bojo dos processos
de Licenciamento e de Autos de Infração
Ambiental.
ATENÇÃO BIÓLOGOS!
De acordo com a Resolução n.º 11 de 05 de julho de 2003 o
registro de ART deve ser solicitado em até 30 dias do início das
atividades.
Desde 19 de novembro de 2007 é permitido, a partir da edição da
Resolução n.° 126 da mesma data, o registro de ARTs atrasadas e
retroativas mediante o pagamento de multa e da taxa de registro.
44 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
CRBio-01 e Revista
Terra da Gente
A Terra da Gente é a revista brasileira de
conservação ambiental e tem como base
a agenda positiva. Sua proposta é mostrar
a biodiversidade brasileira, a fauna, a flora
e o uso sustentável do meio ambiente.
Com altíssimo padrão gráfico e editorial,
Terra da Gente é mensal e possui tiragem de 25.000 exemplares, distribuídos
em todo o país. O CRBio-01 firmou uma
parceria com a Revista Terra da Gente, e
a partir de agora, todos os Biólogos inscritos têm condições especiais na assinatura da revista.
Confira as opções de assinatura no site
do CRBio-01: www.crbio01.org.br
ACONTECE
USP homenageia os 80 anos do Biólogo Prof. Dr. Oswaldo Fidalgo
O Biólogo Prof. Dr. Oswaldo Fidalgo
O Centro de Interunidade de História da Ciência da Universidade de São
Paulo (CHC/USP) prestou homenagem
ao Biólogo Prof. Dr. Oswaldo Fidalgo
pelos seus 80 anos de idade. A cerimônia
aconteceu no dia 27 de agosto na Sala do
Conselho Universitário da Reitoria da
USP. As diversas vertentes da carreira
do Dr. Fidalgo foram destacadas nos
pronunciamentos dos convidados: Dr.
Ruy Alberto Corrêa Altafim (Pró-Reitor
de Cultura e Extensão Universitária/
USP), Dra. Lilian Zaidan (Instituto de
Botânica), Dr. Júlio Roberto Katinsky
(FAU/USP), Dr. Horácio Santana Teles
(Presidente da APqC), Maria Cecília
Tomasi (Instituto de Botânica), Dra.
Olga Yano (Instituto de Botânica) e Dra.
Elisabete Aparecida Lopes (representando o CRBio-01). No seu discurso, Dr.
Fidalgo recordou e compartilhou com
os presentes os momentos marcantes da
sua trajetória profissional e citou aqueles
que o inspiraram na construção da sua
história pessoal.
Formado em História Natural pela
Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil (RJ); Doutor pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” (ESALQ/USP), Dr. Oswaldo
Fidalgo foi um grande incentivador do
estudo da Micologia no Brasil e contribuiu para a formação de inúmeros
pesquisadores nessa área. Ex-Diretor
do Instituto de Botânica de São Paulo
(1969-1972), atuou no desenvolvimento da instituição e auxiliou na
organização de múltiplas seções e no
aperfeiçoamento do corpo técnico.
Participou da luta pela regulamentação da profissão de Biólogo e da implantação da carreira de pesquisador
científico. Exerceu a vice-presidência
da Associação de Pesquisadores
Científicos – APqC (1978-1979) e
foi Conselheiro e Vice-Presidente do
CRBio-01 (1995-1997). No Centro de
Interunidade de História da Ciência da
USP fez parte da equipe multidisciplinar de entrevistadores dos expoentes
da Ciência no Brasil. É casado com a
artista plástica Carmen Zocchio Fidalgo, que durante 30 anos foi ilustradora
do Instituto de Botânica. Atualmente,
o casal dedica-se ao Espaço Oficina,
local onde são oferecidos cursos de
aquarela botânica e onde mantêm um
belo orquidário.
Biólogos participam de reportagem da
TV Câmara sobre poda de árvores
O IPESSP,
Foto: M. E. Rivera
referência em
saúde humana,
agora colaborando
com a saúde
do planeta.
Especialização - Latu Sensu
Em 19 de setembro, os Biólogos Dra. Sandra Farto Botelho
Trufem (Conselheira do CRBio-01), Eduardo Martins (Ecos Brasil),
Sandra Rossino (Instituto de Botânica), a paisagista Carla Ferreira
Martins (Ecos Brasil) e o vereador Adilson Amadeu gravaram
entrevista para o “Jornal da Câmara” da TV Câmara do Município
de São Paulo (TV a Cabo canal 12 – Net canal 13 e TVA canal 9)
sobre o corte e a poda de árvores na cidade. Na reportagem, os
Biólogos percorreram ruas do Ipiranga mostrando e explicando
as graves conseqüências ocasionadas por podas mal executadas e
pelo plantio de espécies de árvores inapropriadas para as calçadas.
A legislação municipal sobre o assunto também foi discutida.
•
Desconto
itado
•
O Biólogo Eduardo Martins sendo entrevistado
Lim
Imunologia • Toxicologia
r Tempo
po
Hematologia e Hemoterapia
40%
Biotecnologia • Imunogenética
Matutino
Manejo de Fauna Silvestre
25%
com Ênfase em Conservação
a tNoturno
8
é2
• Citologia Clínica • Gestão Ambiental
0. 1 2 . 0
• Análises Clínicas Humana e Veterinária
• Biologia Molecular • Microbiologia Clínica
•
•
•
•
• Aulas teóricas disponíveis para os alunos no site
• Corpo docente: 95% Mestres e Doutores - USP e UNIFESP
• Período mensal: aos sábados e domingos, uma vez ao mês
• 60 horas de inglês instrumental (técnico) gratuito
www.ipessp.com.br
Alameda Franca, 1604 • Jd. Paulista . São Paulo.SP
Próximo ao HC e INCOR •Entre as estações Clínicas e Consolação do Metrô.
Telefones: (11) 3539-5767 / 3539-5768 / 3539-5769 / 3539-5771 • Fax: 3088-5792
O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 5
ACONTECE
Vereador Adilson Amadeu propõe alteração na lei que disciplina o corte e a poda
de árvores
Foto: M. E. Rivera
O vereador Adilson Amadeu (PTBSP) enviou à Câmara Municipal o Projeto de Lei 624/07 que altera a redação
da Lei 10.365, de 22 de setembro de
1987, que disciplina o corte e a poda de
vegetação de porte arbóreo existente no
Município de São Paulo. Essa alteração
da lei vai proporcionar aos profissionais
Biólogos o direito legal de atuar em
atividades perfeitamente identificadas
com sua formação, qual seja o corte, a
poda e a remoção de vegetação de porte
arbóreo, atividades regulamentadas pela
Lei 10.365/87.
Segundo o vereador Amadeu “O
Biólogo por sua formação científica é um profissional notoriamente
competente para atender as exigências previstas na Lei 10.365/87 que
envolve vistoria, perícia, avaliação,
arbitramento, laudo e parecer técnico
sobre a supressão, o corte e a poda de
vegetação de porte arbóreo. Uma vez
aprovado o PL 624/07, a população
terá uma nova opção de profissionais
realizando essas atividades, o que
ampliará os serviços de poda na cidade de São Paulo, contribuirá para
a prevenção de acidentes e diminuirá
o tempo de espera para realização
desses serviços, que hoje ultrapassa
até dois meses de espera para atendimento”.
O Projeto de Lei 624/07 está tramitando pelas Comissões e o vereador
espera que após aprovação pelo plenário
da Câmara Municipal, seja sancionado
pelo prefeito.
Àrvore inadequada para calçada
Deputado Capez discursa na Tribuna da Assembléia Legislativa sobre a importância
da emissão de laudos pelos Biólogos para poda de árvores
Durante sessão da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, realizada
em 05 de setembro, o deputado Fernando
Capez (PSDB), atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Casa,
fez um discurso incisivo em favor da
inclusão dos Biólogos na Lei Municipal
n.º 10.365/87 como profissionais autorizados a trabalharem com o corte e poda de
vegetação de porte arbóreo no Município
de São Paulo:
“Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras.
Deputadas, gostaria de falar sobre uma
lei que não é estadual: a Lei Municipal n.
10.365/1987.
Ela é injusta. Estamos ocupando esta
tribuna para sensibilizá-los. Estamos
fazendo um trabalho com os nossos colegas vereadores para que essa lei injusta
e corporativista seja revogada. É uma lei
que excluiu a categoria dos Biólogos do
direito de exercer uma parte muito importante de suas funções, e que teria imensa
utilidade para a população.
Temos hoje em São Paulo quase
3.000 árvores doentes, mortas, prestes
a cair, esperando apenas a próxima
chuva, para provocar uma tragédia.
Estão com seus galhos crescendo em
direção à fiação elétrica, aos postes de
iluminação, podendo também causar
um acidente.
O grande número de Biólogos que
existe em São Paulo e que estaria capacitado, até pela sua própria formação
profissional, para emitir e assinar o laudo
que autoriza a poda de uma árvore doente
não pode fazê-lo. Foi alijado do exercício
de suas funções.
O argumento é que Biólogo não
entende de árvore. Vai entender, então,
do quê? Siderurgia? De ferro? Chega a
ser intrigante. Por que uma determinada
categoria profissional é beneficiada exclusivamente com uma função que nem é
típica de seu conhecimento profissional?
E os Biólogos, com sua formação, com
seu preparo, podendo emitir o laudo e
assiná-lo, são alijados.
Esperamos realmente que haja uma
mudança. Procuramos o Vice-Presidente
da Câmara Municipal de São Paulo, o
Vereador Adilson Amadeu, que já tem
um trabalho iniciado com os Biólogos,
para que essa situação tenha um fim. Foi
apresentado um projeto que me parece
óbvio, permitindo que os Biólogos desempenhem sua função profissional atinente
ao seu campo de conhecimento específico
e possam emitir os laudos autorizando a
6 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
poda dessas milhares de árvores doentes
que ameaçam crianças, pessoas, veículos,
imóveis e animais por toda a cidade.
Temos absoluta confiança. O Presidente do Conselho Regional de Biologia
da 1ª Região, Dr. Wlademir João Tadei,
pode ficar tranqüilo, pois o trabalho está
sendo feito, e feito com responsabilidade.
O interesse específico de uma categoria
profissional não pode suplantar o interesse
público. É importante que as pessoas defendam suas corporações, seus sindicatos,
mas isso jamais pode ser colocado como
prioridade.
Alguém entende por que um Biólogo
não pode emitir um laudo autorizando a
poda de uma árvore doente? No Brasil
inteiro pode, só na cidade de São Paulo
que não. Isso causa uma justa revolta nos
profissionais, que se vêem impedidos, de
maneira injustificável, de exercer sua função, e há prejuízos para a população. Que
seja, portanto, revogada essa lei municipal que proíbe os Biólogos de emitirem
laudos autorizando a poda das árvores e
que eles possam voltar a fazê-lo como
sempre o fizeram. Sr. Presidente, quero
cumprimentar a categoria dos Biólogos,
parabenizando-os por todo o serviço que
têm prestado a nossa sociedade.”
EXPOPRAG 2008
O CRBio-01 marca presença na EXPOPRAG 2008
Fotos: M. E. Rivera
No estande do CRBio-01, o Conselheiro Giuseppe Puorto, o Vice-Presidente Executivo da APRAG Sérgio
Bocalini, o Presidente do CRBio-01 Dr. Wlademir Tadei, Conselheira Sandra F. B. Trufem e os auxiliares administrativos William dos Santos e Elza Koyama Araujo
Entre os dias 20 e 22 de agosto, foi realizado no Pavilhão do ITM Expo em São
Paulo, a sétima edição da EXPOPRAG, o
maior evento da América Latina voltado ao
controle integrado de pragas urbanas. Pela
quarta vez consecutiva, o CRBio-01 esteve
presente como expositor e teve a oportunidade de divulgar o seu papel como órgão
fiscalizador e regulamentador e promover
a classe profissional dos Biólogos.
O evento que congregou a Feira Internacional de Produtos e Serviços para
Controle de Vetores e Pragas Urbanas,
e o Congresso Internacional de Controle
de Vetores e Pragas registrou números
recordes. Realizada pela APRAG – Associação dos Controladores de Vetores
e Pragas Urbanas, a feira atraiu cerca de
3.000 visitantes, que puderam conferir de
perto as novidades em serviços e produtos
apresentadas pelos mais de 30 expositores. Além dos visitantes da feira, mais de
900 pessoas participaram do congresso e
dos cursos técnicos, ministrados paralelamente à exposição.
Esta edição teve como tema o “Controle Integrado de Pragas Urbanas – O
Profissional na Era do Desenvolvimento
Sustentável” e exibiu durante a feira o
que há de mais moderno em produtos e
serviços no setor, e no congresso debateu tópicos atuais e importantes sobre
reciclagem, formação e atualização do
profissional.
Carlos Watanabe, presidente da
APRAG, avaliou o evento de forma
bastante positiva. “Foi extremamente
positivo. Pelo resultado alcançado, pelo
número de participantes no evento e pela
mensagem de reforçar o momento associativo”, enumera. Além disso, Watanabe
reforçou como resultado desta edição o
anúncio feito durante o encerramento do
evento que irá concretizar os planos do
setor de criar a Federação Brasileira das
Associações dos Controladores de Vetores
e Pragas Sinantrópicas – a FEPRAG.
O Presidente do CRBio-01, Dr. Wlademir João Tadei, participou da sessão
solene de abertura do evento, sentando-se
à mesa das autoridades, representando o
Conselho e todos os Biólogos que atuam
na área. Ele comentou sobre a inserção do
Biólogo no campo do controle de vetores
e pragas urbanas: “O próprio tema da 7ª
EXPOPRAG vem de encontro ao trabalho
do Biólogo que é de responsabilidade para
com a saúde da população e de preservação do meio ambiente, na medida em que
este profissional conhece bem a biologia
e o ciclo de vida dos organismos envolvidos. O monitoramento das pragas possibilita delinear a ação e permite a seleção dos
métodos apropriados de manejo”.
No estande do CRBio-01, os visitantes receberam pasta com material de
divulgação especialmente preparada para
o evento, e foram recepcionados por Conselheiros e funcionários que prestaram esclarecimentos sobre como fazer o registro
de pessoa física e jurídica, como obter o
termo de responsabilidade técnica (TRT) e
a importância da atuação do Biólogo nesse
setor. A novidade do estande do CRBio-01
foi a exposição de terrário com filhote de
jibóia, cedido pelo Instituto Butantan e
devidamente autorizado pelo IBAMA, e
que atraiu muitos curiosos.
O controle de vetores de pragas urbanas é um mercado em ascensão, em
constante aprimoramento e cada vez mais
exigente. O Biólogo é o profissional com
o aporte científico necessário e a habilitação legal para atuar com segurança e
competência nessa área.
Carlos Watanabe, Dr. Tadei e Sérgio Bocalini
Entrada do evento
Atendimento no estande do CRBio-01
O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 7
3 DE SETEMBRO
Deputado Estadual Edmir Chedid faz requerimento em
homenagem ao Dia Nacional do Biólogo
Durante sessão na Assembléia
Legislativa de São Paulo, em 10 de
setembro, o deputado estadual Edmir
Chedid (DEM) lembrou o Dia do Biólogo, em um requerimento especial
de congratulação pela passagem da
data:
“A profissão de Biólogo foi regulamentada pela Lei n.º 6.684, de
3 de setembro de 1979, razão pela
qual esta data passou a ser dedicada
às homenagens que se presta a este
profissional e às quais eu tenho muita
honra em me juntar.
No campo das Ciências Naturais,
as diversas áreas das Ciências Biológicas são cada vez mais requerida
pelas sociedades humanas. No campo das Ciências Humanas o Biólogo
tem lugar cativo nos grupo multi e
interdisciplinares sendo imprescindível sua presença como educador
em vários contextos da atuação
profissional.
Sendo o Biólogo um profissional
“da vida”, sua atuação é fundamental
especialmente na produção agrícola e
industrial, no controle de pragas, na
preservação ambiental, no manejo da
biodiversidade, da bioprospecção, da
biossegurança, da engenharia genética, da parasitologia e muitos outros
campos de interesse para a formulação de políticas públicas em busca da
melhoria da qualidade de vida.
No Brasil os problemas ambientais emergentes do sistema econômico em vigor são muitos e em escala
Assembléia Legislativa
de Mato Grosso do Sul
congratula Biólogos
A Assembléia Legislativa de Mato Grosso
do Sul aprovou a Moção de Congratulação
aos Biólogos do Estado, pela passagem do
Dia Nacional do Biólogo, apresentada pelo
deputado Amarildo Cruz (PT), que ressaltou:
“O Biólogo, estudioso dos fenômenos da vida
e dos seres vivos, cumpre importante papel em
nossa sociedade, sendo indispensável à saúde
pública e contribuindo para o bem estar da
população e o desenvolvimento econômico de
nossa região.”
ANUNCIE NA REVISTA
“O BIÓLOGO”
Consulte tabela de preços no
Portal do CRBio-01:
www.crbio01.org.br
8 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
cada vez maiores. As enchentes, o
efeito estufa, a destruição da camada
de ozônio, os desequilíbrios ecológicos decorrentes de várias causas,
a extinção de numerosas espécies de
seres vivos, são apenas um pequeno
sinal de que a intervenção dos Biólogos é cada vez mais exigida na
busca incessante de soluções. Cabelhes satisfazer a demanda por novos
produtos e enfrentar os desafios da
prestação de serviços cada vez mais
avançados.
Hoje, mais do que nunca, o exercício da profissão de Biólogo se constitui
em exercício constante de cidadania e
por isso eu parabenizo toda a imensa
categoria desses profissionais.”
Sala das Sessões, em 10/09/2008
Edmir Chedid
3 DE SETEMBRO
Sistema CFBio/CRBios lança campanha publicitária
para comemorar o Dia Nacional do Biólogo
Para comemorar o Dia Nacional do Biólogo – 3 de setembro,
o Sistema CFBio/CRBios promoveu uma ampla campanha
publicitária. O CRBio-01 participou nas capitais dos Estados
sob sua jurisdição, utilizando duas artes elaboradas para esta
campanha por uma agência de publicidade, em dois tipos de
mídia: painel de estação de Metrô e busdoor (adesivo de vinil
aplicado na parte superior traseira de ônibus circular). Na
capital paulista, durante um mês foram expostos 10 painéis
em cinco estações do Metrô. As estações: Liberdade, Clínicas, Barra Funda, República e São Judas foram estrategicamente escolhidas por terem grande circulação de pessoas.
Em Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT) foram utilizados 15
busdoor em cada cidade, que circularam pelas principais ruas
e avenidas. Com a campanha, que teve duração de 30 dias,
o CRBio-01 objetivou homenagear o Biólogo e, também,
divulgar junto à sociedade este profissional essencial para
o desenvolvimento do país.
Foto: Monica Viana
Estação República do Metrô
Foto: M. E. Rivera
Busdoor em Campo Grande (MS)
Estação São Judas do Metrô
Busdoor em Cuiabá (MT)
CONVOCAÇÃO AOS BIÓLOGOS INSCRITOS NO CRBIO-01:
A Questão das Análises Clínicas
no Estado de São Paulo
O Conselho Regional de Biologia
– 1ª Região obteve duas importantíssimas vitórias em ações judiciais, que
consagraram o reconhecimento da
competência do Biólogo para exercer as
atividades ligadas às análises clínicas e a
assunção de responsabilidades técnicas
pelos Laboratórios Clínicos Autônomos
e Unidades de Laboratórios Clínicos.
As ações judiciais em questão devolvem ao mundo jurídico a Portaria
CVS-01, de 18 de janeiro de 2000,
que em seu item IV.2.3 dispõe que os
Biólogos estão habilitados a assumir
as responsabilidades técnicas pelos
Laboratórios Clínicos Autônomos e
Unidades de Laboratórios Clínicos
determinando a invalidação da Portaria CVS-13/2005, que retirava dos
Biólogos esta possibilidade, e, ainda,
que a CVS proceda à renovação de
todos os pedidos de licença feitos
por Biólogos desde 04 de novembro
de 2005, agora com base na Portaria
CVS-01/2000.
Portanto, CONVOCAMOS todos os
Biólogos que tiveram seus pedidos de
licença para assunção de responsabilidade técnica por laboratório de análises
clínicas negados ou indeferidos pelos
Centros de Vigilância Sanitária a renovar esta requisição, de forma a fazer
valer seu direito agora reconhecido
judicialmente, entrando em contato
com o CRBio-01 para efeitos de cadastramento para acompanhamento do
cumprimento da decisão judicial em
questão por parte do Centro de Vigilância Sanitária.
O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 9
PUBLICAÇÕES
MANUAL DESCOMPLICADO DOMÉSTICO DE CONTROLE DE PRAGAS URBANAS
Lucia Schüller
Editora All Print
199 p.
O objetivo deste livro é oferecer ferramentas e informações que permitam que o leitor possa
analisar melhor uma situação de infestação de alguma praga e tomar medidas de forma mais
cautelosa e mais permanente sem a utilização exagerada de produtos químicos. Conhecer melhor
esses animais que de forma extraordinária têm acompanhado o homem em seu processo evolutivo
é premissa básica para se obter um controle eficaz e seguro.
Preço: R$ 30,00
Vendas: www.eccoconttrol.com.br ou pelo tel.: (11)4330-6644
CADERNOS DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA – INSTITUTO BUTANTAN
Vol.3 – Número 1 – Janeiro / Junho 2007
Década de 80: O Programa de Autosuficiência em Imunológicos e o SUS
Laboratório Especial de História da Ciência 223 p.
“O tema central deste número foi escolhido em função da retomada atual da discussão pelo Ministério da
Saúde das questões pertinentes à política de ciência e tecnologia e inovação, numa óptica de desenvolvimento
nacional. Neste sentido, a década de 80 tem significados importantes para o tema pelas mudanças políticas,
econômicas e sociais ocorridas e a definição de alguns marcos importantes para a saúde, e, em especial,
para instituições de pesquisa e produção de imunobiológicos.” Comissão Editorial
E-mail: [email protected]
ÁRVORES FRUTÍFERAS EXÓTICAS
Gil Felippe
Editora Sarandi
64 p.
Neste livro, o autor, o Biólogo Gil Felippe apresenta 20 árvores exóticas, mostrando seus frutos, cores,
formas, texturas, aromas e sabores. Em linguagem acessível são introduzidos conceitos de metodologia
científica, taxonomia, morfologia e anatomia vegetal, além de fatos históricos, origens dos nomes populares, curiosidades e receitas envolvendo os frutos abordados.
Preço de capa: R$ 48,00
www.livrariaconceito.com.br
SIMPSONNICHTYS E NEMATOLEBIAS
Dalton Tavares Bressane Nielsen
Cabral Editora e Livraria Universitária
235 p.
Os Simpsonnichthys e as Nematolebias são considerados os mais belos peixes de água doce, chegando a
concorrer com os peixes marinhos de corais. Este livro aborda a morfologia, alimentação, comportamento
reprodutivo, reprodução no cativeiro, doenças, sistemática, distribuição geográfica, ecologia e classificação
dessas duas espécies de peixes.
Preço de capa: R$ 60,00
www.livrariaconceito.com.br
10 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
AGENDA
XVIII ENCONTRO BRASILEIRO DE
ICTIOLOGIA
Data: 25 a 30 de janeiro de 2009
Realização: Sociedade Brasileira de Ictiologia e
Universidade Federal de Mato Grosso
Local: Campus de Cuiabá da UFMT, Cuiabá, MT
Informações: www.xviiiebi.com.br/
XLV CONGRESSO DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE MEDICINA TROPICAL
Data: 08 a 12 de março de 2009
Realização: Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical
Local: Centro de Convenções, Olinda, PE
Informações: www.medtrop2009.com.br
I SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE
GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE
ANIMAIS
Data: 11 a 13 de março de 2009
Realização: SBERA e EMBRAPA
Local: Florianópolis, SC
Informações: www.cnpsa.embrapa.br/sigera/
39ª JORNADA PAULISTA DE RADIOLOGIA
CONGRESSO FRANÇA-AMÉRICA LATINA
DE RADIOLOGIA
Data: 30 de abril a 03 de maio de 2008
Realização: Sociedade Paulista de Radiologia e
Diagnóstico por Imagem
Local: Transamerica Expo Center, São Paulo, SP
Informações: www.spr.org.br
AVISTAR 2009
Data: 21 a 24 de maio de 2009
Realização: Avistar Brasil
Local: Parque Villa Lobos, São Paulo, SP
Informações: www.avistarbrasil.com.br
61ª REUNIÃO DA SBPC
Data: 12 a 17 de julho de 2009
Realização: Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência
Local: Universidade Federal do Amazonas
(UFAM), Manaus, AM
Informações: [email protected]
ARQUIVO DO BIÓLOGO
A fotografia faz parte da rotina de trabalho de muitos Biólogos. Esta seção da Revista
publica fotos curiosas, interessantes, significativas e inusitadas da fauna, da flora,
e de paisagens, captadas por Biólogos.
Maritaca iniciando construção de ninho às margens da BR 419, no
trecho Rio Negro (MS) - Pantanal.
Foto da Bióloga Elizangela Maria dos Santos
Arruda, moradora de Rio Negro (MS) e
que trabalha em projetos de proteção ao
meio ambiente através da APREMARINE
(Associação de Preservação do Meio
Ambiente de Rio Negro - MS).
O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 11
ESPECIAL
O Biólogo e as Unidades
de Conservação
Leopoldo Magno Coutinho e
Lilian Beatriz Penteado Zaidan
Casal de veado-campeiro.
Foto: Alexandre C. Coutinho
Segundo dados divulgados pelo
ICMBio (Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade), num
site com data de julho de 2008, o Brasil
possui 299 Unidades de Conservação
(UC), incluindo-se entre elas 56 Reservas Extrativistas, com uma área de 11,92
milhões de ha, 65 Florestas Nacionais,
com 19,59 milhões de ha e 63 Parques
Nacionais, com 24,40 milhões de ha.
Se considerarmos todas as categorias de
UC chega-se a uma área total de 77,23
milhões de ha, ou seja, cerca de 9% do
território nacional. Sendo esses dados
confirmados, é uma área significativa,
equivalente a aproximadamente metade
do estado do Amazonas. Segundo outras
fontes, as UC têm dimensões variadas,
desde 3.882.121ha, como a das Montanhas de Tumucumaque, no PA/AP, a do
Jaú, no AM, com 2.272.000ha, a do Pico
da Neblina, no AM, com 2.200.000ha, até
unidades pequenas, como a de Jericoacoara, no CE, com 6.295ha.
Considerando-se a distribuição latitudinal de nosso país, sua diversidade
climática, geológica e pedológica, bem
como a sua biodiversidade, em termos
específicos e de formações ou biomas,
enfim, sua diversidade de “ambientes”
naturais que devem ser conservados,
acreditamos que há muita UC para ainda
ser criada. A porcentagem de área conservada como UC não deve nos impressionar
em demasia. O que realmente importa é
a porcentagem da diversidade protegida
nessas UC. Além disso, as UC existentes
estão mal protegidas ou conservadas, com
falta de pessoal, gerenciamento, material,
instalações adequadas a seus funcionários, sem dizer aos seus visitantes. É até
mesmo difícil fazer um contato com tais
unidades, para se conseguir autorização
para visitação. Não se trata de uma “política” conservacionista, mas de falta de
gerenciamento adequado. Segundo a mesma fonte do ICMBio, de julho de 2008,
82 (29%) UC não possuem um gestor,
173 (57%) não têm fiscais lotados, 226
(76%) não possuem planos de manejo e,
diga-se de passagem, quando os possuem
nem sempre seus chefes ou diretores os
obedecem. Dividindo-se a área total das
UC pelo número total de servidores,
conclui-se que caberia a cada servidor
cuidar da conservação de 47.235 ha. O
próprio Ministro Carlos Minc reconhece
que “É um quadro triste, inaceitável e
insustentável.”. Segundo ele, grandes
modificações serão realizadas pelo atual
12 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
governo nesse quadro. Tomara! Vamos
aguardar. Mas iremos fiscalizar e cobrar
também. Como o ICMBio tem uma Ouvidoria, mas esta não tem uma forma institucionalizada para receber reclamações,
sugestões, descobrimos alguns endereços
eletrônicos que poderemos eventualmente
utilizar (veja ao final do texto e anote para
quando precisar).
Talvez por estas razões, em parte,
as atuais UC estão literalmente isoladas
do público, com exceção de Iguaçu, no
Paraná, e Tijuca, no Rio de Janeiro. Em
muitas faltam estradas, luz, telefone,
internet, veículos, combustível etc., etc.
Isto pode ser positivo por um lado, pois
assegura de certa forma sua conservação
como um ambiente natural. Por outro,
Foto: Marcos E. L. Lima
Dr. Leopoldo Magno Coutinho e Dra. Lilian Zaidan
ESPECIAL
isto é negativo, pois inviabilizando sua
visitação, estas unidades não cumprem integralmente seu papel, não conseguem ter
nenhum rendimento financeiro próprio,
ficando totalmente dependentes de verbas
públicas. E estas, como se depreende, são
bem curtas. Não sendo visitadas, ficam
desconhecidas e fora da crítica do contribuinte. Ninguém está a par do que se passa
por lá, quanto às suas condições físicas e
biológicas. Convenhamos, entretanto, que
nos falta, a nós Biólogos, um pouco de
coragem e mesmo de espírito aventureiro
para enfrentar as enormes distâncias e as
más condições de estradas, de instalações,
de gerenciamento, etc. Se relevarmos um
pouco isso tudo, encontraremos nesses
parques um verdadeiro paraíso para aquele que escolheu a profissão de Biólogo, ao
se decidir no momento do vestibular. Por
outro lado, poderemos fiscalizar essas entidades públicas, o descaso existente por
parte de governantes, a falta de manejo
de tais áreas, ou seu manejo inadequado
por aqueles que as gerenciam e propor
soluções. É extremamente importante que
os Biólogos visitem essas UC, seja como
professores ou estudantes dos cursos de
Biologia, seja como profissionais de Bio-
logia. Universidades, Institutos de Ensino
e de Pesquisa, ONGs devem incentivar
essa visitação, criando facilidades para
que isso aconteça. Os Biólogos não devem
ser apenas os “intérpretes da vida e da
biodiversidade”, mas sim os seus “defensores” e os “fiscais” daqueles que detêm
o poder para assegurá-las. Contemplar a
natureza, deleitar-se, exultar-se com ela,
exaltá-la, sem dúvida são ações por vezes
apaixonantes. Mas isto não basta. Em
primeiro lugar é preciso conhecê-la “in
loco”, não apenas nos livros e vídeos, é
preciso marcar presença, monitorar, apontar erros e deficiências em sua conservação, reclamar, fazer movimentos objetivos
e diretos para sua conservação, propor
soluções, cobrar sua implementação.
Afinal, a diversidade, no seu sentido
mais amplo, é o encanto da vida. Ela é a antítese da mesmice, da monotonia, do tédio.
O Parque Nacional das Emas (PNE):
análise de um caso
Na Semana da Pátria passada tivemos
a oportunidade de visitar o Parque Nacional das Emas, a maior reserva de cerrado
do país, com pouco mais de 132.000 ha.
Este Parque fica no sudoeste de Goiás,
a 1.000km de São Paulo. Éramos um
grupo de 15 pessoas, sendo 10 alunos de
pós-graduação. Para ali chegar, pega-se
a Rodovia Bandeirantes, depois a Washington Luiz, passando por Rio Claro,
São Carlos, São José do Rio Preto, Votuporanga, Fernandópolis, Jales, até a ponte
que atravessa o rio Paraná e chegar a Aparecida do Taboado, já no Mato Grosso do
Sul. Ao longo deste trecho de pouco mais
que 600 km é interessante observar como
o uso da terra vai mudando, à medida que
nos dirigimos rumo ao interior. Depois de
passar por extensas áreas de canaviais e
laranjais, chama-nos a atenção a cultura
da seringueira (Hevea brasiliensis), ou
árvore da borracha, de origem amazônica,
mas bem adaptada à região do noroeste
paulista. Uma paradinha e podemos ver
como se extrai o látex dessa árvore. Embora o clima aqui seja tropical, com chuva
de verão e seca de inverno, não tão úmido
e chuvoso quanto o clima equatorial da
Amazônia, esta espécie consegue crescer
e ter alta produção de látex.
Já do lado de MS, seguimos para
Parnaíba, Cassilândia, Chapadão do Sul
e Chapadão do Céu, até aqui em estradas
“Inviabilizando
sua visitação, as
UCs não cumprem
integralmente seu
papel”
Rio Formoso
Foto: Leonardo R. S. Guimarães
O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 13
ESPECIAL
Foto: Alexandre C. Coutinho
Fêmea de veado-campeiro
asfaltadas. De Chapadão do Céu até o PNE,
já no Estado de Goiás, são 30 km de estrada
de terra. Foram aproximadamente 12horas
de viagem, numa Van, com tempo para
almoçar, à altura de São José do Rio Preto.
Chegando ao Parque, fomos recebidos cordialmente pelo chefe do PNE, Engenheiro
Eletricista Marcos Cunha (pnemas@gmail.
com), e pela sua auxiliar Bióloga Flávia
Batista, com quem havíamos mantido
contatos por e-mail para obter a autorização
para visita e alojamento. O Parque possui
condições básicas para alojar visitantes,
pesquisadores e estudantes, além de sala de
aulas, cozinha e sanitários. Os mantimentos
para alimentação, materiais de higiene,
limpeza e roupas de cama e banho devem
ser levados pelo visitante. Eventualmente
é possível contratar-se uma pessoa local
para os serviços de cozinha. Há energia
elétrica (220V), chuveiro quente, beliches,
colchões e condições para instalar equipamentos como computadores, data-show
etc. Uma vez alojados, permanecemos no
PNE por cinco dias, percorrendo cerca de
500 km por suas estradas de terra, com o
fim de conhecê-lo. É sempre bom lembrar
que no verão chove muito e as estradas de
terra ficam, por vezes, intransitáveis. Julho,
agosto e setembro são os meses ideais, pois
não são muito quentes e quase não chove.
Além disto é inverno, avizinhando-se a
primavera, que é um período de maior atividade dos animais. Também é uma época
em que o Parque realiza queimadas para
confecção de aceiros, o que nos permite
observar essa importante atividade de manejo. Dependendo de há quantos dias eles
tenham sido feitos, podemos ver como as
plantas rebrotam com grande vigor após o
fogo, muitas delas já florescendo. O verde
forte dessas faixas de aceiro contrasta
com o amarelo-palha das áreas vizinhas,
Foto: Alexandre C. Coutinho
que não foram queimadas. Muitos animais herbívoros concentram-se nas áreas
queimadas mais recentemente, atraindo
também seus predadores.
Ao longo de nossa permanência, pudemos fazer diferentes percursos, como
o da ”Lagoa da Capivara”, “Nascentes
do Jacuba”, “Cabeceira-Alta” etc. São
distâncias longas a percorrer, que tomam
todo um período do dia, mas que nos
permitem apreciar diferentes fisionomias
do cerrado, como o campo limpo, o
campo sujo, o campo cerrado e o cerrado
sensu stricto, dominados em boa parte
por uma gramínea alta, o capim-flecha
(Tristachia leyostachia). Árvores e arvoretas tortuosas, com cortiças espessas
e enegrecidas por incêndios anteriores,
como o pequi (Caryocar brasiliensis), o
pau-terra (Qualea sp.), a perobinha-docampo (Aspidosperma tomentosum) e
tantas outras, ajudam a caracterizar esta
savana. Nas bordas da chapada, topo de
vertentes do rio Jacuba, num local conhecido como “Avoador”, pode-se apreciar
a imensidão do parque, ali coberto por
um bambuzinho amarelo (Filgueirasia
arenicola), de grande efeito ornamental.
Áreas representantes de outros biomas,
como a floresta tropical estacional semidecídua, com gigantescos jatobás-da-mata
(Hymenaea stilbocarpa), óleos (Copaifera langsdorfii) e jequitibás (Cariniana
legalis), também podem ser visitadas.
Uma trilha construída com tábuas largas
percorre um trecho da mata ripícola, ciliar ou de galeria, com seus solos muito
úmidos, vegetação e flora completamente
distintas. Talauma ovata, Tococa sp., Drymis winteri , lianas, orquídeas, aráceas e
samambaias diversas são frequentemente
encontradas ao longo dessa caminhada.
Foto: Alexandre C. Coutinho
Cupinzeiro com as larvas luminescentes de
um vaga-lume
14 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
Fêmea de tamanduá-bandeira com filhote
Nas cabeceiras dos ribeirões predominam
os buritizais (Mauritia vinifera), margeados pelo bioma dos campos paludosos,
encharcados, com seu solo negro, humoso, vegetação e flora característicos, onde
encontramos Lycopodium sp., Drosera
sp., gramíneas e ciperáceas várias, enfim,
um ambiente bastante diverso daquele do
cerrado predominante. Co-habitando esses espaços naturais é possível visualizar
animais de maior porte, como ema (Rhea
americana), veado-campeiro (Ozotoceros
bezoarticus), lobo-guará (Chrysocyon
brachyurus), anta (Tapirus terrestris),
tatú-canastra (Priodontes maximus),
tamanduá-bandeira (Myrmecophaga
tridactyla), gavião-casaca-de-couro (Heterospizias meridionalis), urubú-rei (Sarcoranphus papa) e tantos outros mais.
Até a onça-parda (Felis concolor) ou a
onça-pintada (Panthera onca) podem
aparecer, embora muito raramente. É
esta fauna de vertebrados de maior porte
a grande atração turística do PNE. Se
por alguma razão ela se tornar de difícil
visualização, a visitação a este parque se
reduzirá drasticamente. Entre os invertebrados, chamam-nos a atenção os cupins,
pertencentes a diversos gêneros, como
Cornitermes, Nasutitermes, Velocitermes
e outros, cujos cupinzeiros são estimados
em 25 milhões no interior do parque.
Ao realizar tais percursos, sempre
fomos acompanhados por um guia, funcionário do próprio Parque. Além disso,
é muito bom reservar um tempo livre
para caminhar pelo entorno da sede, num
raio de alguns quilômetros, tomando o
cuidado de nunca sair sozinho, mas em
grupos de no mínimo três pessoas. Por
ser mais silencioso, quando estamos a pé,
é possível cruzar com os animais, ouvir
ESPECIAL
suas vocalizações, além de encontrar suas
pegadas ou outros sinais, como fezes,
carcaças, pêlos ou penas, que denunciam
sua presença. De dia, ao redor dos alojamentos, podem ser observados bandos
de pássaro-preto (Gnorimopsar chopi),
mutum-de-penacho (Crax fascicolata fascicolata), papagaio-verdadeiro (Amazona
aestiva), quero-quero (Vanellus chilensis),
arara-canindé (Ara ararauna), curicaca
(Theristicus caudatus) e tantos outros. À
noite sempre aparecem alguns animais
notívagos, como jaratataca ou cangambá
(Conepatus semistriatus), lobinho-docampo (Dusicyon vetulus) e até mesmo
bandos de queixadas (Tayassu pecari),
que se aproximam à procura de restos de
alimentos. Caso alguma chuva já tenha
caído, nos meses de outubro e novembro,
e mesmo em setembro, é possível ver nos
cupinzeiros as famosas “luzinhas” da cor
de lâmpadas de neônio, produzidas pelas
larvas luminescentes de um vaga-lume
(Pyrearinus termitilluminans) que habita
pequenos orifícios à sua superfície. Este
é realmente um espetáculo que não deve
ser perdido. São verdadeiros “edifícios”
iluminados à noite.
Apesar de todos os seus atrativos, o
PNE não é o melhor exemplo de um parque com vocação para o turismo. O PN do
Iguaçu, com suas famosas cataratas, tem
uma vocação turística muitas vezes maior.
É preciso aceitar que cada parque tem
suas vocações próprias. O PNE deve ser
encarado muito mais como uma reserva de
biodiversidade, tanto em nível específico
quanto em nível de Bioma. O rio Formoso,
que o corta, e o Jacuba, que o contorna
ao norte e a leste, são pequenos rios bem
típicos do Brasil Central, com suas águas
cristalinas, frias e plantas aquáticas submersas. Neles, pequenas corredeiras e
remansos se alternam, possibilitando o
banho e a canoagem. Salto de parapentium e balonismo seriam outras atividades
esportivas eventualmente possíveis, desde
que tomadas as precauções necessárias
contra incêndios acidentais.
Foto: Paola M. A. Garcia
Rebrotamento de um aceiro queimado há 60 dias
O PNE e alguns de seus problemas de
manejo e conservação
Quando criado pelo governo de Juscelino Kubitscheck de Oliveira, através do
decreto 49.874, de 11/01/1961, este Parque tinha como vizinhos antigos criadores
de gado que usavam o próprio cerrado
como pastagem nativa. Hoje a situação é
bastante diversa. Em seu entorno encontramos imensas áreas cultivadas com soja,
algodão e outros produtos exportáveis. O
PNE é atualmente uma verdadeira ilha
de natureza, encravada em meio a áreas
destinadas à produção de “commodities”
agrícolas, isto é, “dólares”. Como os
solos da região de cerrados são ácidos e
Foto: Lilian B. P. Zaidan
pobres nutricionalmente, os produtores
utilizam enormes quantidades de calcário
para corrigir o pH e enormes quantidades
de adubos químicos para elevar sua fertilidade. “Em se adubando...tudo dá”. Só
que esse calcário e esse adubo, aplicados
ao redor do Parque, acabam por penetrar
em suas áreas marginais, carregados pelo
vento, podendo alterar aí as condições
naturais de distrofismo dos solos. Não
bastasse isso, os agricultores muitas vezes
fazem a aplicação de inseticidas em suas
plantações por meio de aviões agrícolas.
Como estas plantações se confrontam
diretamente com o Parque, os pilotos
manobram seus aparelhos por cima dele,
lançando aí restos do produto. O certo
seria que tais produtores mantivessem
uma faixa de “vegetação tampão”, natural
ou cultivada, ao redor do Parque, onde
não usassem inseticidas ou qualquer
outro produto químico. Todavia, nosso
MMA não os obriga a isso, embora esteja
previsto na lei do Sistema Nacional de
Unidades de Conservação (SNUC). O
confronto direto dos limites traz ainda
outro problema: os córregos e riachos
que percorrem propriedades particulares
podem carregar adubos e inseticidas
para dentro do parque, contaminando a
água do rio Formoso que atravessa seu
interior. Cabe a nós, Biólogos, protestar
contra essa situação, exigir de nossos
governantes medidas realmente efetivas
para conservar nossos parques, mantendoos livres de contaminantes químicos. Isto
deveria e teria que ser feito através de moções formalizadas por nossas sociedades
científicas, após resoluções tomadas em
reuniões plenárias, realizadas ao final de
seus congressos científicos.
Os limites norte e leste do PNE são
parcialmente determinados pelo rio Jacuba. No entanto, a maior parte dos demais
limites era estabelecida por uma cerca
Foto: Alexandre C. Coutinho
Queimada contra o vento, para alargamento de um aceiro
Pfaffia jubata em flor, trinta dias após uma
queimada
O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 15
ESPECIAL
Foto: Alexandre C. Coutinho
Ema atropelada e morta, à beira da estrada
de arame farpado, de oito fios, doada
pela WWF. O objetivo era impedir que
os animais atravessassem as rodovias
existentes ao redor do Parque, um outro
absurdo autorizado pelo nosso Ministério
dos Transportes e Ministério do Meio
Ambiente. Todavia, a construção dessa
cerca trouxe um outro problema. Certos
animais, como a ema, ao tentarem sair do
parque para se alimentar nas plantações
de soja, cheias de lagartas contaminadas
por inseticidas tóxicos, se enroscam nos
fios de arame e acabam morrendo. O que
fazer, então??? Determinou-se aleatoriamente a retirada dos quatro fios de arame
inferiores, dos oito existentes. Com isto os
animais poderiam passar sem se enroscar.
Mas, então, para que a cerca da WWF????
A solução teria que vir após um trabalho
de pesquisa que demonstrasse qual o mal
menor: mortandade por atropelamento,
por contaminação por inseticidas, ou
por enroscamento nos fios de arame?
Isso nunca foi avaliado. Coisas assim,
no mínimo curiosas, acontecem não
apenas no PNE, mas em outras Unidades
de Conservação. E nós Biólogos o que
fazemos??? Nada!!! Sequer protestamos,
porque não visitamos esses parques. Não
tomamos conhecimento dos problemas
que os afligem. Conseqüentemente não
tomamos qualquer atitude contra decisões
eventualmente tomadas pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio).
Precisamos visitar esses parques, nos deleitarmos, sim, com sua beleza, sua flora,
sua fauna, sem esquecer o que representam para a conservação da biodiversidade
que encerram. É por isso que devemos
fiscalizá-los, apontar suas falhas, exigir
que consultem especialistas no assunto,
antes de tomar medidas incoerentes e
cobrar dos governantes uma efetiva conservação dessa biodiversidade, principal
motivo que levou à sua criação. Isto é
nossa obrigação e responsabilidade.
Mas...a coisa não pára por aí. Os incêndios catastróficos são outro problema
no PNE. Mas...por que seriam catastróficos???? Porque de uma só vez eles podem
queimar até100% do Parque, destruindo
boa parte das populações de certos animais, como o tamanduá-bandeira, por
exemplo. Isto aconteceu em 1994, quando
cerca de 800 tamanduás-bandeira foram
mortos, segundo levantamento de um
Foto: Alexandre C. Coutinho
Vale do Córrego Avoador
16 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
Biólogo, que faz pesquisas naquela UC.
Mas...como isto pode ter acontecido, justo
numa UC??? Em boa parte porque não se
faz o manejo adequado do fogo naquela
reserva de biodiversidade. Já se sabe que
o fogo é um fator natural nas savanas,
no cerrado, portanto. Na natureza ele é
provocado por raios, principalmente no
início e final do período de seca (abril/
maio e setembro/outubro). Isto se deve ao
fato de que o capim está seco e ocorrem
tempestades eletromagnéticas, ateando
fogo à vegetação. Durante muito tempo
o IBAMA duvidava que isto acontecesse.
Hoje o ICMBio parece que não duvida
mais, felizmente. Também ocorrem incêndios antropogênicos, acidentais ou
criminosos. O aspecto catastrófico de um
Foto: Marcos E. L. Lima
Vereda de buritis
incêndio de vegetação depende, em boa
parte, da fitomassa combustível existente.
A melhor maneira de se prevenir isto é
evitar que a massa de capim se acumule,
ano após ano. Para isso é necessário que
se promovam queimadas periódicas,
programadas, prescritas, controladas, a
cada dois ou três anos, em áreas pequenas,
distribuídas pelo parque. Tais queimadas
deveriam ser efetuadas anualmente, porém em áreas em rodízio, de forma que
uma mesma área só fosse queimada em
intervalos de dois a três anos. É o que se
faz em outros parques nacionais de savanas, na África do Sul, na Austrália. Mas,
no Brasil não se faz. Deixa-se acumular
a fitomassa combustível por anos a fio,
podendo chegar a 12 – 15 toneladas por
hectare, até que acontece um incêndio e
queima tudo, ou quase tudo. Sem dúvida,
dá menos trabalho. Mas a biodiversidade
vai desaparecendo. Mas...por que não
fazem essas queimadas programadas???
Alega-se que há falta de pessoal para
controlar o fogo, faltam caminhões-pipa
para apagar o fogo, quando este escapa da
ESPECIAL
área prevista etc. etc. Mas...e o ICMBio,
responsável pela nossa biodiversidade, o
que faz???
Tem ainda mais. Nossas UC de vegetação aberta, como o PNE, estão sendo invadidas por gramíneas exóticas, africanas,
como o capim-gordura (Melinis minutiflora), a braquiária (Bracchiaria spp.) e tantas
outras. Isto acontece desde o Amapá até
o Rio Grande do Sul. Elas penetram em
quaisquer espaços deixados pela destruição
da vegetação nativa, como margens de estradas, drenos de águas pluviais, ou trilhas
provocadas pelo caminhão-pipa, quando é
impropriamente manobrado à margem da
estrada, por cima da vegetação. Elas são espécies oportunistas que vão tomando conta
de toda a área, competindo e “abafando” as
plantas de espécies nativas do estrato herbáceo, eliminando finalmente todas elas.
Uma área que tinha centenas de espécies
acaba por se transformar em um pasto de
gramíneas africanas, com uma, duas ou
três espécies delas. O que o Instituto Chico
Mendes de Biodiversidade tem feito para
combater essas invasoras??? Praticamente
nada. Adeus, biodiversidade!!!
Por que estes problemas estão por
décadas e décadas sem uma solução???
Ainda hoje sem qualquer perspectiva
dela??? Em boa parte porque nós, biólo-
gos, sequer sabemos desses problemas.
E a razão primordial disto é que não
procuramos visitar nossas UC, para
conhecê-las, apontar seus problemas,
fiscalizar as instituições governamentais,
verificar se estão atuando no seu manejo
e conservação, cobrar, exigir. Nossos
parques de biodiversidade estão à míngua, sem pessoal em número e qualidade
adequados, sem instalações dignas, sem
condições de trabalho também dignas. A
biodiversidade é um bem público e como
tal merece ser financiada pelos nossos
governos. Por que não se fazem projetos
científicos, técnicos, didáticos que visem
ao monitoramento de tais UC, apoiados
pelos órgãos de fomento????
Vamos lá, caro colega Biólogo. Vamos visitar nossos parques nacionais de
biodiversidade, conhecer suas belezas,
mas também suas mazelas. Não sejamos
apenas “passivos contempladores e intérpretes” da Natureza, mas sim ativos
“fiscais e defensores” da conservação da
Biodiversidade deste país. Visite, pesquise, fiscalize. Através de nossas sociedades
científicas, aponte, denuncie, proponha
soluções, cobre, exija. Caso contrário, esta
fantástica biodiversidade irá sucumbir
diante de tanta insensibilidade e incompetência. Amigo!!!! Vamos nos mexer!!!!
Já está mais do que na hora!!!!
Alguns endereços eletrônicos que
podem ser úteis:
[email protected] (ouvidor do
ICMBio) tel. (61) 3316 1680
[email protected]
http://www.icmbio.gov.br/
http://www.icmbio.gov.br/images/mapagrande.gif
http://www.ibama.gov.br/institucional/
ibama-nos-estados/
[email protected]
http://www.eco.ib.usp.br/cerrado
Leopoldo Magno Coutinho
Departamento de Ecologia
Instituto de Biociências
Universidade de São Paulo
[email protected]
Lilian Beatriz Penteado Zaidan
Seção de Fisiologia e Bioquímica
de Plantas Instituto de Botânica
Secretaria do Meio Ambiente do
Estado de São Paulo
[email protected]
Foto: Marcos E. L. Lima
“A biodiversidade é um bem público e como tal
merece ser financiada pelos nossos governos.”
Macho de ema com treze filhotes;ao fundo,
área particular, com terra preparada para o
plantio. Note o contraste da biodiversidade
O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 17
MUSEU
Museu de História Natural de Taubaté incentiva o estudo
da Paleontologia
Inaugurado em julho de 2004, o
Museu de História Natural da cidade de
Taubaté, interior do Estado de São Paulo,
é uma importante contribuição à pesquisa
sobre a Paleontologia do país. Atualmente, a exposição ocupa área de 600 m²,
e conta com auditório para palestras e
exibição de filmes. Quem visita o Museu
percorre um trajeto onde são mostrados
fósseis e representações dos principais
fatos evolutivos de cada Era e Período
geológicos e dessa forma é contada a
história da vida no planeta. Também estão
expostos dois grandes dioramas: o Vale do
Paraíba e da Mata Atlântica na Serra do
Mar, que mostram detalhes da fauna e da
flora desses ecossistemas.
A iniciativa de criar o Museu partiu
do médico ortopedista e paleontólogo Dr.
Herculano Marcos Ferraz Alvarenga, que
sempre nutriu interesse pela Zoologia, em
especial pelas aves. Foi ele quem descobriu,
em 1982, o fóssil do Paraphysornis brasiliensis uma ave carnívora encontrada na
Bacia de Taubaté. Esse fato curioso plantou
a semente do atual Museu. Entrevistamos o
Dr. Herculano que fala sobre essa descoberta e sobre como organizou o Museu.
A descoberta do Paraphysornis
brasiliensis
Dr. Herculano conta que o seu interesse pela Paleontologia surgiu muito cedo:
“Os fósseis sempre foram a paixão de
toda criança e eu não fui diferente. Tinha
conhecimento através da literatura de
que no Vale do Paraíba havia uma Bacia
fossilífera e existiam afloramentos não
longe da minha casa. Investi na busca
por um longo período e fui recompensado
com a descoberta desta ave gigante, a qual
batizei de Paraphysornis brasiliensis. Os
restos fossilizados dessa ave apareceram
durante mais de três anos e eu dependia
das escavações de uma mina de argila para
coletar os fragmentos. Recuperei cerca
de 70% do esqueleto de um exemplar (o
único). Também coletei muitos fósseis
de mamíferos e outras aves, muitos dos
quais já estão descritos.” Ele diz que
todos esses achados foram e são de extrema importância na reconstituição do
Dr. Herculano Alvarenga e o
fóssil do Paraphysornis brasiliensis
18 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
MUSEU
paleoambiente e também na datação da
Formação Tremembé e Bacia de Taubaté.
“Após estudar o Paraphysornis, estudei
quase todos os restos de Phorusrhacidae
de diversos museus da Europa, América
do Norte e América do Sul”. Em 1999,
com os dados coletados até então, concluiu a sua tese de doutorado “Anatomia
e sistemática das aves Phorusrhacidae”
na área de Zoologia no Instituto de Biociências da USP, sob a orientação da Dra.
Elizabeth Höfling.
O Museu
A sua descoberta chamou a atenção
de instituições de pesquisa nacionais
e estrangeiras. Assim, Dr. Herculano
teve a idéia de fazer réplicas da ave e
trocá-las com museus e pesquisadores
de outros países. “Após recuperar e
restaurar cerca de 70% do esqueleto do
Paraphysornis, a porção faltante (cerca
de 30%) foi restaurada em sua maioria
com base no lado oposto. Trouxe dois
técnicos da Argentina para Taubaté,
que em cerca de trinta dias fizeram as
réplicas do esqueleto. Outras partes,
sobretudo a pelve, a caixa craniana e
o esterno, foram restaurados com base
em outros exemplares da mesma família (exemplares da Argentina). Desta
forma, eu tive cerca de 12 esqueletos
replicados em resina, verdadeiros “clones” do Paraphysornis brasiliensis,
disponíveis para troca. Fiz permutas
com vários museus do mundo e consegui
peças espetaculares que se acumularam
em minha casa. O acervo criou volume;
somado às taxidermias que fazia e também à grande coleção de esqueletos de
aves que fiz para estudar os esqueletos
fósseis que coletava.”
Em 2000, com esse acervo formado,
Dr. Herculano criou a Fundação de Apoio
à Ciência e Natureza (FUNAT) para a criação de um Museu de História Natural em
Taubaté (MNHT). “O apoio da Prefeitura
local desencadeou o processo e em 2004
inauguramos o Museu.”
Taxonomia, Anatomia e Paleontologia de
Aves, Paleontologia da Bacia de Taubaté e
Mamíferos do Pleistoceno. “Estamos oferecendo 12 vagas de estágio por semestre.
Também mantemos um programa para
Aprimorandos (recém-formados), com
intenções de fazer mestrado ou doutorado
na área de Paleontologia e Zoologia de
Vertebrados”, complementa.
Fotos: Herculano Alvarenga
O acervo científico, a pesquisa e
estágios
Sobre o acervo científico, Dr. Herculano comenta: “Ele é rico em aves atuais,
mais de seis mil peles e mais de mil espécies em esqueleto. A coleção de mamíferos
(peles e esqueletos) é bem mais modesta,
porém está em franco crescimento. Outra
coleção importante é a de fósseis do Pleistoceno (mamíferos) e da Bacia de Taubaté
(Oligo-Mioceno)”. As linhas de pesquisa
que estão sendo iniciadas no Museu são:
Próximos projetos e o público
Os próximos projetos para o Museu
prevêem uma ampliação das suas instalações: “Já temos uma reserva técnica
considerável que não cabe na exposição.
Precisamos de um prédio maior. Nosso
projeto é de uma ampliação para cerca de
quatro ou cinco mil m².” Também estão
previstas a publicação de uma revista e
a organização da Associação Amigos do
Museu.
Sobre a reação do público, Dr. Herculano comenta: “O número de visitantes
tem sido crescente desde a inauguração.
Acho que o público tem respondido ao
trabalho de toda nossa equipe e eu me
sinto muito feliz pelo empreendimento
feito. É extremamente gratificante ver
crianças e adultos ‘saboreando´ ciência
e cultura dentro do Museu.”
Mais informações:
www.museuhistorianatural.com
O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 19
NA MÍDIA
Sancionada lei que regulamenta uso de
animais em pesquisas científicas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
sancionou no dia 08 de outubro passado, a
Lei Arouca, lei que regulamenta o uso de
cobaias em pesquisas científicas no país.
O texto foi publicado no dia 09 de outubro
no “Diário Oficial da União”.
O estabelecimento dessa legislação
era uma reivindicação de grande parte dos
cientistas, já que até então, não havia uma
norma nacional que indicasse claramente
os limites da prática.
O projeto de lei sobre o assunto tramitou no Congresso por cerca de 13 anos,
até ser aprovado pela Câmara em maio e
pelo Senado em setembro deste ano. Com
a sanção de Lula, a lei promete acabar
com disputas locais sobre o assunto, como
aconteceu recentemente em Florianópolis
e no Rio de Janeiro.
Controle
O texto prevê a criação do CONCEA
(Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), que vai regulamentar
o uso de animais para pesquisa e estabelecer as normas e critérios éticos.
O órgão será presidido pelo Ministro
de Ciência e Tecnologia e integrado por
representantes de outros ministérios e de
órgãos como a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e o
COBEA (Colégio Brasileiro de Experimentação Animal).
Até hoje, a função de estabelecer os
parâmetros para a experimentação animal
ficava a cargo das comissões de ética de
universidades e instituições de pesquisa.
Caso esses órgãos não tivessem sido instituídos, as decisões cabiam a cada cientista
individualmente.
A lei também obriga as instituições de
pesquisa que quiserem utilizar cobaias a
instituir um CEUA (Comissão de Ética no
Uso de Animais), que vai regular a prática
em cada local. Além de especialistas como
médicos e Biólogos, representantes de
entidades protetoras dos animais também
devem fazer parte desses órgãos.
Dor
Entre as normas estabelecidas também está a aplicação de analgésicos ou
anestesias que aliviem o desconforto das
cobaias durante os procedimentos. Caso
os animais sofram “intenso sofrimento”
durante a pesquisa, eles devem ser sacrificados.
A matéria estabelece que, caso as instituições de pesquisa e ensino descumpram
as regras, estarão sujeitas a advertência,
multa de R$ 5.000 a R$ 20 mil, interdição
definitiva ou outras penalidades. No caso
de profissionais infringirem as regras, a
multa vai de R$ 1.000 a R$ 5.000.
O projeto enfrentou muita resistência
de entidades de defesa dos animais, que
chegaram a fazer um abaixo-assinado
contra o texto, entregue a parlamentares
em Brasília.
Para ler o texto completo da Lei Arouca acesse: http://www.mct.gov.br/index.
php/content/view/75669.html
Fonte: Folha Online
Estado de São Paulo divulga sua lista de
fauna ameaçada
No dia 1º de outubro, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente divulgou, após
dez anos, sem ser atualizada, a lista das
espécies ameaçadas de extinção no Estado
de São Paulo. O mico-leão preto, assim
como outras 435 espécies de vertebrados
(17% das existentes no Estado), está lá.
Isto significa que estes animais correm o
risco de desaparecer em um curto espaço
de tempo se nada for feito. Dentro das categorias de ameaça, as espécies que correm
risco maior de extinção são classificadas
como “Criticamente em Perigo” (CR), seguidas pelas categorias “Em Perigo” (EN)
e “Vulnerável” (VU) – na qual, apesar da
espécie ainda sofrer sério risco de extinção,
não está em situação tão crítica.
Em 1998, quando da publicação da
última lista de fauna, o mico-leão-preto
aparecia entre as espécies “Criticamente
em Perigo”. Dez anos depois, graças aos
esforços de conservação, sua avaliação
melhorou e agora ele foi classificado
como “Em Perigo”. Isto não garante que
a espécie esteja salva. A meta é retirar
a mesma da lista da fauna ameaçada.
“Precisamos nos apoiar em dois pilares:
fiscalização e pesquisa”, disse o secretário
do Meio Ambiente, Xico Graziano, em
cerimônia no Zoológico de São Paulo,
para divulgação da lista. Para o secretário,
o primeiro pilar deve proteger a fauna
silvestre dos criminosos, “muita gente
não sabe que comprar um papagaio, por
exemplo, é um crime”, o segundo pilar
auxiliaria na indicação do que deve ser
feito para salvar estas espécies.
Uma novidade na nova lista é a classificação das espécies com dados insuficientes
para classificação. São 161 espécies tão
pouco estudadas e conhecidas impossibilitando a definição da condição delas na
fauna paulista. Essa lista serve para mostrar
a necessidade de mais investimentos em
pesquisas de espécies pouco conhecidas.
“Esta lista mostra como devemos melhorar
nossas pesquisas e o graus de informações
contidas nelas”, explicou o secretário.
Resolução
Além da divulgação da lista de fauna,
o secretário Xico Graziano assinou uma
resolução que transfere novas atribuições
ao Estado de São Paulo na gestão dos
recursos faunísticos. O licenciamento
ambiental de atividades de manejo da
fauna, que antes era atribuição do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, agora
passa a ser responsabilidade do Estado.
Criação em cativeiro e pesquisas
científicas, por exemplo, são algumas das
atividades que passam a ser autorizadas
pelo Estado. É a primeira vez que um Estado
brasileiro assume esse compromisso sobre
sua fauna silvestre. “Nós temos potencial
para isso, não sei por que já não era assim
antes”, questionou o secretário do Meio
Ambiente. Agora, equipes da Polícia Militar
Ambiental, do Departamento Estadual de
Proteção dos Recursos Naturais - DEPRN
e pesquisadores terão que redobrar o seu
trabalho para garantir que a fauna do
Estado de São Paulo esteja protegida.
Conheça a lista acessando: www.ambiente.
sp.gov.br/listas_fauna.zip
Fonte: Secretaria do Meio Ambiente do Estado de
São Paulo
Foto: Alexandre C. Coutinho
Lobo-Guará
20 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
EM FOCO
PROJETO RONDON: EXERCÍCIO DE CIDADANIA
A participação de estudantes de Biologia da PUC-SP na Operação Xingu 2008
Desde a sua criação em 1967, o Projeto Rondon possibilita a oportunidade
única aos estudantes universitários de
entrarem em contato com a realidade
do país longe dos grandes centros e colocarem em prática o seu conhecimento
acadêmico em prol do desenvolvimento
de comunidades carentes. Coordenado
pelo Ministério da Defesa com apoio da
Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação, o Projeto Rondon
privilegia o desenvolvimento de ações
transformadoras e duradouras que influenciem as populações e as administrações
dos municípios atingidos.
Para falar sobre a importância de
participar de um projeto voltado a integração social e seus efeitos na formação
do estudante, entrevistamos a Bióloga
Viviane Aparecida Rachid Garcia, que
vivenciou essa experiência junto com
seus alunos, em julho deste ano, em
Altamira, Pará. Viviane é professora da
disciplina de Instrumentação para o Ensino de Ciências e Biologia na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo no
Campus Sorocaba, educadora ambiental
no Parque Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros”, chefe de Departamento
de Educação da Sociedade de Zoológicos
do Brasil, e fez mestrado na Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo.
Ela diz que a idéia de participar do Projeto
Rondon surgiu em 1998, quando ainda era
estudante de Biologia: “Naquela época eu
já trabalhava no Zoológico e não tinha
possibilidade de me ausentar na época
da operação. A vontade de participar de
um projeto dessa natureza ficou então,
‘guardada’. Participar do Projeto Rondon
foi um sonho de universitária realizado
como professora.”
As etapas para participação
As instituições de ensino superior
(IES) interessadas em participar do Projeto Rondon devem atender o convite que
a coordenação-geral do projeto divulga no
seu site: (www.defesa.gov.br/projetorondon , o convite referente ao próximo ano
já está disponível). Nesse convite, estão
especificados os municípios, os tipos de
ações que devem ser desenvolvidas, o
cronograma das atividades e demais informações que devem se seguidas pelos
rondonistas (como são chamados os universitários e professores participantes).
As IES podem escolher entre dois
conjuntos de ações: A) Cidadania e BemEstar ou B) Gestão Pública e Desenvolvimento Local Sustentável. A partir daí, as
A equipe na Abertura Oficial do Projeto Rondon em Brasília. Na frente, as estudantes Gimena Simon, Fabrícia
Madia, a Bióloga Profa. Viviane Garcia e a estudante Bárbara Magalhães. Atrás, os estudantes Diego da Silva,
Bianca de Góes e Rafael Lloret.
IES devem formular e enviar proposta de
trabalho que envolva as ações do conjunto
escolhido. A seleção das propostas apresentadas é feita pela Comissão de Avaliação de Propostas do Projeto Rondon
(CAPPR), que conta com representantes
de diversos ministérios, e baseia-se na
pertinência e exeqüibilidade da proposta
e na qualidade acadêmica da IES. Feita a
seleção, são designadas duas equipes para
cada município contemplado pelo Projeto.
Cada equipe desenvolverá um conjunto de
ações (A ou B).
Antes do início da operação, o coordenador de equipe realiza a viagem
percussora, visitando o município que lhe
foi designado com o objetivo de ajustar
as ações a serem realizadas, adequandoas às reais necessidades da comunidade,
com as lideranças comunitárias e com a
prefeitura.
O passo seguinte é a seleção da equipe
e construção das ações pelos alunos. O
diretor da Faculdade de Biologia, Prof.
Dr. Heitor Zochio Fischer fala sobre a
seleção dos estudantes e sobre os meios
empregados no desenvolvimento das
ações: “Procuramos selecionar rondonistas que tenham como característica
principal a humildade; que reconheçam
os limites de seu conhecimento e que
saibam que o ganho da sua interação com
a comunidade é substantivo. As ações de
nossas equipes estão sempre baseadas em
metodologias ativas e uma das estratégias
de ensino-aprendizagem mais utilizada é
a problematização, que tem o objetivo de
alcançar e motivar o habitante, pois diante
do problema, ele se detém, examina, reflete, relaciona a sua história e passa para
novas descobertas. Esta metodologia de
trabalho coloca o indivíduo em contato
com informações, produz conhecimento
com finalidade de solucionar impasses e
promove o desenvolvimento da pessoa,
direcionando para o exercício da liberdade e da autonomia.” A equipe deve ser
multidisciplinar e composta por alunos
cursando os últimos semestres.
Após a realização da operação, que
dura duas semanas, cada IES é respon-
O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 21
EM FOCO
sável por enviar à Coordenação Geral
do Projeto Rondon o relatório sobre as
atividades desenvolvidas no município.
O relatório permite a avaliação dos
resultados alcançados e fornece dados
importantes para o aprimoramento das
futuras operações.
O Projeto Rondon
prioriza os municípios
com maiores índices
de pobreza e exclusão
social, aqueles mais
distantes e isolados
do território nacional
e que precisam de
uma maior estrutura
A equipe no Hércules, avião da Força Área, a caminho
de Altamira
de serviços e bens.
Operação Xingu
A PUC-SP Campus Sorocaba participa do Projeto Rondon desde 2007. No
total já foram enviadas cinco equipes,
sendo que a participação dos Biólogos
foi de quatro professores e dez alunos. As
operações anteriores foram em Calçoene
(AP), Tarauacá (AC), Melgaço (PA) e
Piratini (RS). Vale destacar que as áreas
de atuação que o Projeto Rondon prioriza
são os municípios com maiores índices de
pobreza e exclusão social, aqueles mais
distantes e isolados do território nacional
e que precisam de uma maior estrutura
de serviços e bens. Essas áreas são identificadas nos planejamentos setoriais e
regionais do Ministério da Integração
Social.
Neste ano, a equipe da PUC-SP Campus Sorocaba participou da Operação
Xingu, realizada entre 11 a 27 de julho,
em região próxima à cidade de Altamira,
no Pará. Participaram da operação 128
rondonistas, que atuaram em oito municípios da região: Altamira, Brasil Novo,
Medicilândia, Pacajás, Placas, Senador
José Porfírio, Uruará e Vitória do Xingu.
A Bióloga Viviane coordenou a equipe
composta por dois alunos de Medicina,
um de Enfermagem e três de Biologia,
ao lado do professor Adilson Souza de
Araújo da Faculdade de Educação. A
operação executada pela equipe foi em
comunidades de Altamira, Pará, cidade de
aproximadamente 100.000 habitantes, que
fica às margens do Rio Xingu.
A aluna Fabrícia (de avental) na parte prática da Oficina
Dieta Saudável, com a aluna Bárbara, preparando
um pão caseiro e suco com reaproveitamento de
alimentos na cozinha da escola. Grande parte das
atividades foram realizadas em uma escola estadual
no centro de Altamira.
A Bióloga conta que hospedados em
escola de Educação Infantil em bairro
afastado da cidade, vivenciaram fato
inusitado ao receber a visita inesperada
de uma iguana adulta, que permaneceu
durante dois dias no refeitório. “Todos
queriam se aproximar e tirar fotos. Ter a
iguana ali conosco era estar muito perto
da Natureza.”
As ações propostas e desenvolvidas
As ações propostas pela equipe da
PUC-SP Campus Sorocaba faziam parte
do conjunto A: “Cidadania e Bem Estar”.
“As atividades realizadas foram ações de
capacitação por meio de estratégias de
ensino e aprendizagem que envolveram
motivação e relacionamento interpessoal”, explica Viviane.
22 Out-Nov-Dez/2008 – CRBio-01 – O BIÓLOGO
As ações desenvolvidas foram:
- Oficina de incentivo a leitura realizada com professores e membros da
comunidade. Durante a atividade foram
trabalhados o conceito de leitura e as suas
diversas formas.
- Capacitação sobre Educação Sexual
e reprodutiva para professores, líderes
familiares e comunitários.
- Capacitações específicas para agentes de Saúde da zona rural e zona urbana,
abordando questões relacionadas às famílias e, de forma específica, na atenção
ao adolescente, ao idoso e à mulher no
climatério.
- Saídas (zona rural e palafitas) acompanhando as agentes de Saúde após a
capacitação nas visitas domiciliares, com
o objetivo de avaliar o trabalho realizado e
tomar contato com a realidade local.
- Capacitações de Saúde e Meio Ambiente, para agentes de Saúde, professores
da Educação Básica, estudantes universitários e líderes comunitários.
- Capacitações com o tema Esporte
e Saúde para professores de Educação
Física e Educação Básica.
- Olimpíadas do Rondon: atividades
esportivas (no final de semana) com partidas de futebol para participantes acima
de 12 anos, recreação para menores e
caminhada com a comunidade.
- Oficinas de Dieta Saudável, reaproveitamento de alimentos, horta e compostagem,
para professores da Educação Básica, líderes comunitários e familiares, cozinheiras
dos quiosques e estudantes universitários.
- Capacitações sobre Educação e Meio
Ambiente para professores de Educação
Básica, estudantes universitários, líderes
de ONGs, funcionários da prefeitura e
para todo o efetivo da guarda municipal.
Durante a realização da operação, a
pedido dos líderes municipais e comunitários foram também estruturadas e
desenvolvidas as ações abaixo:
- Capacitação para orientar a implantação do programa da prefeitura de inclusão
do jovem em condições de risco, o ProJovem. Os envolvidos foram orientadores
sociais e professores de Educação Física
e foram abordados diversos temas, desde
estratégias para trabalhar com esse público até conteúdos importantes (Educação
Sexual e Reprodutiva, Saúde, Esporte,
entre outros).
EM FOCO
A aluna Gimena desenvolvendo uma atividade de
recreação na “Olimpíadas do Rondon “ .
- Reunião com a equipe da Secretaria
de Saúde (secretária e coordenadores das
Unidades da Saúde da Família) sobre a avaliação do trabalho dos agentes de Saúde.
- “Bate- Papo” com os coletores de
lixo da rede pública, enfocando a importância do seu trabalho e questões relacionadas a disposição adequada do lixo,
vetores, reutilização e reciclagem.
- “Bate- Papo” com os estudantes
universitários da Universidade Federal
do Pará sobre possibilidades e desafios
da vida universitária, dando enfoque ao
Projeto Rondon.
- Reunião com os secretários da prefeitura (Educação, Meio Ambiente, Saúde,
Agricultura) sobre os conselhos municipais
e um Plano de Gestão Integrada do Município, elegendo dois temas prioritários: “Gerenciamento de resíduos” e “Manutenção e
recuperação dos recursos hídricos”.
O envolvimento com as comunidades
Viviane ressalta que ela e sua equipe
foram muito bem recebidos pelas comunidades: “Quando falávamos que éramos
do Projeto Rondon, as portas se abriam e a
responsabilidade aumentava, pois a cidade
de Altamira recebeu o Projeto na década de
70, quando se beneficiou e se desenvolveu
depois da passagem dos estudantes. A
calorosa acolhida não se restringiu apenas
às pessoas mais politizadas, mas veio de
toda comunidade. Quando fomos visitar as
palafitas dispostas ao longo do Rio Xingu,
entrávamos nas casas, e logo éramos convidados para sentar, conversar e ouvir as
estórias dos moradores, que visivelmente
eram pessoas sofridas, mas tinham alegria,
vontade de viver e sobretudo eram solidárias. Isso chamou muita atenção.”
A Bióloga recorda outro fato que
marcou durante a visita domiciliar às palafitas acompanhando as agentes de Saúde:
“Encontramos uma criança com necessidades especiais, que não recebia nenhum
acompanhamento e com uma situação
familiar totalmente desestruturada. Essa
situação chocou. Uma das alunas, muito
incomodada e abalada com a situação foi
atrás da APAE (Associação dos Pais e
Amigos dos Excepcionais) da cidade para
ver de que forma essa criança poderia ser
ajudada e até conseguiu uma `madrinha`
da comunidade local para ajudar com as
despesas do tratamento.”
A contribuição dos estudantes ao Projeto
Rondon e a interface com a Biologia
Sobre a contribuição dos estudantes
ao Projeto Rondon, Viviane analisa sob
o prisma das relações pessoais e do conhecimento acadêmico: “A motivação, a
energia que eles transmitem nas ações e na
fala, contagiam as pessoas. Como são idealistas, ‘provocam´ as pessoas no pensar e
no agir. São jovens que acreditam e estão
em busca de um Brasil melhor, assim oferecem o que têm de melhor. Além disso,
usam sua bagagem universitária com o
objetivo de contribuir para a melhoria de
determinado aspecto.”
Ela acredita que a Biologia possui
elementos para estabelecer relações com
o meio ambiente e o social: “Pois, ao falar
de conservação do meio ambiente, elencando seus elementos bióticos e abióticos,
não podemos deixar as questões humanas
de lado. Dessa forma, a Biologia consegue
envolver todos esses elementos.”
prática, eles também podem se relacionar
com outras pessoas, realidades, necessidades, culturas, diferentes, o que na opinião
da Bióloga contribui para a formação de
um profissional com uma visão integrada
do meio. “Por se tratar da Amazônia, a
operação possibilitou um novo olhar sobre
a profissão de Biólogo e também sobre a
região, não só por oferecer possibilidades
de trabalho, mas principalmente por ser
uma área de grande riqueza natural, que
abriga inúmeras pessoas que dependem
diretamente daquela região, do seu desenvolvimento paralelo à sua conservação.
Como educadora vejo incentivo no desenvolvimento do protagonismo, pois os estudantes são responsáveis por suas ações, e o
bom desenvolvimento do Projeto depende
só deles. Assim, a responsabilidade se faz
presente, as habilidades e competências
entram em cena, se manifestam, diria que
é um grande exercício. Do ponto de vista
das relações, eles aprenderam a viver em
grupo, a se conhecer melhor, a identificar
seus limites e potencialidades, a respeitar
as opiniões e as decisões e a se adaptar
num meio diferente. Eles voltaram com
‘bagagens´ bem maiores daquelas com as
quais partiram.” (leia quadro na página 24
com depoimentos dos estudantes de Biologia que participaram do Projeto Rondon)
Para a Bióloga e educadora Viviane
participar dessa operação foi uma experiência única e finaliza a entrevista dizendo:
“Como o próprio slogan do Projeto Rondon diz: é um curso intensivo de Brasil,
uma lição de vida e cidadania.”
A Biologia possui elementos
para estabelecer relações com
o meio ambiente e o social.
Um novo olhar sobre a profissão de
Biólogo
O aluno Diego desenvolvendo a atividade “Bate- Papo”
com os coletores de lixo da rede pública. O senhor
que aparece na foto, está sentado num “puff” feito
de garrafas Pet.
Além do Projeto Rondon oferecer a
oportunidade aos universitários de aplicarem os seus conhecimentos teóricos na
Estabelecendo contato com a comunidade local
em visita domiciliar a zona rural com os agentes de
Saúde.
O BIÓLOGO – CRBio-01 – Out-Nov-Dez/2008 23
EM FOCO
Os estudantes falam
“A característica do nosso curso de Biologia é ter um amplo olhar sobre
área. No Projeto Rondon pude vivenciar essa diversidade da área de trabalho do Biólogo. Fui da teoria para prática. Desenvolvemos capacidades,
habilidades, tivemos que por a mão na massa. Na área de licenciatura me
transformou num profissional melhor. Aprendi a ser cidadão e como um
ser humano pode exercer atividades com amor e carinho.”
Diego Ribeiro da Silva (aluno do 4° ano de Biologia)
O aluno Diego nas palafitas conversando com a agente
de Saúde.
“O slogan do Biólogo é ‘investigando a vida`, participar do Projeto
Rondon foi além. Foi descobrir maneiras de se relacionar com a
comunidade, investigando não só a vida, mas as relações humanas,
avançar fronteiras, sair do científico e ir para o humano. O Projeto
permitiu que eu compreendesse ainda mais a importância de valorizar
e respeitar os outros.”
Fabrícia Andreia Rosa Madia (aluna do 4° ano de Biologia)
“O Projeto Rondon foi importante, pois ajudou-me a questionar valores
acadêmicos e pessoais, instigou a investigação, ver outros caminhos,
possibilidades de trabalho, realidades diferentes, ainda mais quando se
trata da Amazônia.”
Gimena Andressa Venturini Simon (aluno do 3° ano de Biologia)
A equipe da PUC-SP Campus Sorocaba no Posto de
Saúde com os agentes que os receberam e os acompanharam nas visitas domiciliares na zona rural
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Revista ed.8 - Conselho Regional de Biologia