UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE - PROEX
ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS COM FOCO
EM RAÇA E GÊNERO
GISLAINE AURÉLIA TEODORO ASSIS
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: UM PROBLEMA QUE MERECE
ATENÇÃO ESPECIAL DA ESCOLA.
OURO PRETO
2012
GISLAINE AURÉLIA TEODORO ASSIS
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: UM PROBLEMA QUE MERECE
ATENÇÃO ESPECIAL DA ESCOLA.
Monografia apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Educação para
a Diversidade da Universidade Federal
de Ouro Preto, como requisito parcial à
obtenção do grau de Especialista em
Gestão de Políticas Públicas com
ênfase em Gênero e Raça.
Orientadora: Monalisa Pavonne Oliveira
OURO PRETO
2012
AGRADECIMENTOS
Agradeço, carinhosamente, à minha orientadora Monalisa Pavonne Oliveira
que sabiamente orientou-me na realização deste trabalho, sem ela acredito que
seria impossível concretizá-lo.
Aos meus familiares que são a base da minha vida.
RESUMO
O presente trabalho pretende abordar a questão da gravidez na adolescência,
não apenas como um caso de saúde pública, mas também como uma forma
que as adolescentes pobres têm de se firmar diante da sociedade em que
vivem, ou seja, quando estão grávidas acreditam ocupar um lugar de destaque,
deixam de ser meninas pobres para ocuparem o status de mãe. Para
compreendermos melhor o desejo de algumas meninas em se tornarem mães,
buscamos comparar a reação de uma família rica e uma pobre diante da
notícia de uma gravidez indesejada, a primeira dificilmente aceita, pois acredita
ser um atraso na vida escolar e profissional da adolescente. Já a segunda
aceita com mais naturalidade, sendo que na maioria das vezes é algo já vivido
pela mãe da adolescente.
SUMÁRIO
Introdução .......................................................................................................... 1
Capítulo I ............................................................................................................ 3
Os riscos da gravidez na adolescência: saúde, doenças e a evasão escolar .... 3
Capítulo II ........................................................................................................... 9
Significado de ser mãe para jovens pobres........................................................ 9
Projeto de Intervenção. .................................................................................... 17
Referências ...................................................................................................... 20
1
Introdução
A gravidez na adolescência é um assunto que sempre faz parte de
diversas discussões, na maioria das vezes é apresentado apenas como um
problema de saúde pública, por entender que a menina não está totalmente
preparada para a gestação e tampouco para o parto. Portanto, o presente
trabalho pretende abordar além dessa visão outra que é a afirmação da
adolescente como mãe diante da sociedade em que vive.
A primeira abordagem citada preocupa-se com a falta de cuidado que
muitas adolescentes têm durante o pré-natal, muitas não procuram cuidados
médicos corretamente e, sobretudo, não estão preparadas para cuidar dos
filhos o que gera problemas graves como maus tratos e em muitos casos
abandono.
Em se
tratando do
segundo posicionamento,
aquele em que
adolescentes ao engravidarem acreditam ocupar um lugar privilegiado, no qual
os familiares e as colegas passam a tratá-las com “regalias” e super-proteção
é menos debatido, nesse sentido ele ocupará lugar de destaque nesta obra.
Por acreditar nisso, resolvi estudar mais sobre esse último caso, pois até
então não havia analisado por esta ótica. Após várias leituras, pode-se afirmar
que não são poucas as meninas, geralmente pobres, que aceitam a gravidez
nessa fase da vida como algo natural e inevitável.
Outro assunto que também mereceu destaque ao longo desse trabalho
foi a questão das diferenças entre as classes sociais. Muitos autores
apresentam essas diferenças como determinantes para o comportamento das
famílias em relação ao recebimento de uma eventual notícia de gravidez na
adolescência.
Ao longo desse trabalho o leitor conhecerá opiniões de alguns escritores
a respeito desse assunto e poderá analisar sobre os mais diferentes
2
comportamentos das adolescentes. A ideia não é fazer pré-julgamentos e sim
conhecer as mais diferentes realidades, vez que a proposta do curso de
Especialização em Gestão de Políticas Públicas com Ênfase em Gênero e
Raça é justamente compreender a diversidade a qual a sociedade em geral
está submetida.
O tema em questão foi escolhido, porque sou professora numa escola
pública e frequentemente deparo-me com adolescentes grávidas, na maioria
das vezes despreparadas emocionalmente e financeiramente para serem
mães. Portanto, resolvi estudar mais sobre o referido assunto para poder
desenvolver um projeto eficiente na escola onde atuo.
O referido trabalho foi subdividido em dois capítulos, sendo que o
primeiro refere-se à gravidez na adolescência como problema de saúde
pública, dificuldades para continuar os estudos, etc. O segundo preocupa-se
em mostrar o comportamento de algumas adolescentes, na maioria pobres,
que enfrentam a gravidez precoce com mais naturalidade. O presente trabalho
pretende contribuir para os estudos que vêm sendo desenvolvidos sobre a
temática e conhecer a realidade de muitas meninas que enfrentam este desafio
nesta etapa da vida.
3
Capítulo I
Os riscos da gravidez na adolescência: saúde, doenças e a evasão
escolar.
A gravidez na adolescência não é um fenômeno novo. Encontram-se
grávidas adolescentes em todos os estratos sociais, contudo parece ser mais
prevalente nas classes mais desfavorecidas. (RODRIGUES: 2010, p. 01).
Nas famílias de renda mais baixa, a probabilidade de gravidez na
adolescência é maior, pois de acordo com Rosa Maria Rodrigues o início
precoce da atividade sexual, a baixa autoestima, o abuso de álcool e drogas, a
falta de conhecimento a respeito da sexualidade e o uso inadequado de
métodos contraceptivos, são fatores que fazem com que as jovens encontremse em situações de vulnerabilidade. Desse modo, a gravidez inesperada
implica em uma série de fatores que afetarão a vida das jovens grávidas a
longo prazo, como: o abandono escolar, o baixo nível de escolaridade da
adolescente, companheiro e família, a ausência de planos futuros, a repetição
de modelo familiar (a genitora também foi mãe na adolescência), etc.
Dentre os fatores mencionados acima, o abandono escolar e o baixo nível
de escolaridade da adolescente encabeçam uma lista de fatores de risco
relacionados por Rodrigues para o surgimento de uma gravidez na
adolescência. Pode-se asseverar que esses dois fatores são realmente muito
evidentes para uma gestação precoce. A falta de perspectiva com relação aos
estudos faz com que as adolescentes não se preocupem com a sua formação
escolar. Para muitas, isso não fará falta, ou pelo menos por enquanto.
Rodrigues afirma, ainda, que as complicações mais associadas com a
gravidez na adolescência são a pré-eclampsia (problema grave que acontece a
partir da segunda metade da gravidez, e que exige acompanhamento médico
atento), a anemia, as infecções, o parto pré-termo ou nascimento pré-maturo
as complicações no parto e puerpério ou fase pós-parto e perturbações
emocionais bem como as consequências associadas à decisão de abortar
4
(RODRIGUES, 2010, p. 01). Muitas colocam suas vidas em risco procurando
clínicas clandestinas e/ou tomando remédios proibidos na tentativa de
interromper a gravidez, o que na maioria das vezes deixa sérias seqüelas na
vida da adolescente.
As complicações acima são, na maioria das vezes, decorrentes da falta de
um pré-natal adequado e do apoio dos familiares. Muitos casos de morte tanto
da mãe quanto do filho poderiam ser evitados se a adolescente tivesse sido
acompanhada por um médico durante a gestação. Esse atendimento pode ser
encontrado gratuitamente nas redes de saúde pública, apesar da precariedade
de muitos hospitais, pois de uma forma geral as grávidas devem ter
atendimento prioritário.
Além dos problemas de saúde que podem surgir de uma gravidez sem
acompanhamento, as mudanças decorrentes desta gestação são inúmeras e
irreversíveis. Pois, conforme Maria Amélia Gonçalves, cuidar de um filho exige
muita responsabilidade, essa menina terá que mudar sua rotina para conseguir
cumprir seu papel de mãe. Perante a sociedade a tarefa também não é fácil,
essa mãe, terá que enfrentar opiniões preconceituosas e muitas vezes olhares
enviesados. Ou seja, esta nova situação, a de mãe exige uma maturidade que
muitas das vezes as jovens mães não têm, principalmente por causa da idade
e, provavelmente, por falta de uma orientação familiar acerca da sexualidade.
Nesse sentido, pode-se afirmar que uma gravidez indesejada acarreta
muitas incertezas na vida de uma adolescente, pois ela se vê diante de uma
situação extremamente delicada. Como contar aos pais? Ao parceiro? E os
estudos como ficam? E os amigos? Enfim, a jovem sente-se perdida em meio a
tantos questionamentos. As que podem contar com o apoio dos familiares
sentem-se mais seguras, mas as que não encontram esse apoio sofrem
caladas com suas dúvidas.
As adolescentes precisam ter muita determinação para prosseguirem suas
vidas e atividades conjugadas com um filho não planejado, as meninas mais
obstinadas e melhor orientadas entendem que precisam retomar suas vidas,
estudar, trabalhar, enfim educar seus filhos. Já as com auto-estima baixa
5
caracterizam outro problema sério, pois, dificilmente, tomam iniciativa de
restabelecer seus projetos futuros.
Uma situação de gestação precoce traz diversos problemas, principalmente
de ordem psicológica e social, pois além de implicar em uma responsabilidade
prematura, facilita a evasão escolar e diminui as chances profissionais para a
jovem, uma vez que ela tem que assumir o papel materno e os cuidados com o
filho. (GONÇALVES; OLLITA: 2000, p. 97)
Não são poucos os problemas ocasionados por uma gravidez indesejada,
portanto é imprescindível que os pais, a escola, as secretarias de saúde, não
poupem esforços para minimizar estes sofrimentos que geram tantos
transtornos à vida da adolescente e, consequentemente, à do filho que está por
vir. Essas instituições têm o compromisso de conscientizar e ajudar estas
jovens mães através de muito diálogo, da informação e das campanhas de
prevenção.
Nessa perspectiva, os jovens são bombardeados a todo o momento por
uma enorme gama de informações de diferentes procedências, como: a mídia,
que atualmente exerce grande influência sobre os adolescentes, a escola, a
família, etc., e nem sempre os jovens estão preparados para este turbilhão de
informações. Desse modo, é dever dos pais e da escola os prepararem para
recebê-las da melhor maneira possível. Apesar das novas tecnologias, as
famílias não podem perder a importância que têm na vida de seus filhos e
filhas. Infelizmente, nem todas as famílias oferecem uma boa base para o
diálogo, o que é fundamental na formação dos adolescentes.
Nesse contexto de excesso de informações, torna-se muito difícil
conscientizar adolescentes que vivem num ambiente propício a certas
situações: como famílias com vários casos de gravidez na adolescência,
filhos/as de mães adolescentes, falta de conhecimento e de acesso aos
métodos contraceptivos e a importância deles para a prevenção das DST’s,
principalmente a AIDS. Assim sendo, os órgãos competentes por essa
conscientização não podem desanimar frente às dificuldades, eles precisam
continuar investindo em campanhas que alcancem todas as camadas sociais,
6
vez que é um problema que atinge todas elas, de formas diferentes, mas não
menos traumáticas.
Pode-se afirmar que as adolescentes que pertencem a uma classe social
mais baixa estão mais vulneráveis à repetição de gestações, às doenças
sexualmente transmissíveis e à evasão escolar. Em contrapartida, as de classe
social mais elevada e com mais acesso à educação, previnem-se mais contra
uma gravidez indesejada e contra as DST’s. Para esse segundo grupo, uma
gestação precoce poderia prejudicar planos futuros. Por outro lado, para as
mais pobres a escola não é vista como prioridade, pois muitas não têm
motivação para reverter as difíceis condições de vida a que são submetidas,
aceitam apenas continuar a trajetória de vida dos pais que também não
estudaram. Para as que possuem um poder aquisitivo maior pode ser fator
determinante, ou seja, não desejam interromper os estudos, o que um filho na
adolescência poderia ocasionar.
A gravidez precoce não é um problema atual. A partir da década de 1960
os movimentos de contra-cultura trouxeram em seu bojo movimentos em prol
da liberação sexual, o sexo livre, de certa forma, seria o sexo sem
compromisso com o parceiro ou parceira que conviesse. Nesse ínterim, as
relações sexuais tomam novas conotações, que não só as relações
monogâmicas entre pessoas casadas.
Nesse sentido, a maneira de se
conceber as relações sexuais mudou, não necessariamente a mulher precisa
ser casada para exercer seu direito à pratica sexual, mas sim quando lhe
parecer conveniente.
Essa nova conquista da mulher sobre o seu corpo, acarretou, por sua vez,
em consequências como o caso das DST’s e a gestação inesperada, pois
muitas não sabem lidar com a questão da sexualidade de maneira responsável.
E é exatamente essa questão que buscamos reafirmar ao longo deste trabalho,
que meninas jovens praticam sexo sem as informações adequadas. Nesse
caso, o aumento de gestações na adolescência diz respeito ao envolvimento
com mais de um parceiro, a falta de preocupação com o uso de métodos
contraceptivos e a imaturidades de muitos casais formados por adolescentes
quanto aos cuidados que se deve ter com uma criança.
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A sexualidade quando não é bem compreendida, pode trazer sérias
consequências à vida dos adolescentes, como as DST’s e a gravidez precoce,
sendo essa última foco do presente trabalho. Muitos aprendem a lidar com ela
de maneira deturpada e não avaliam as consequências que uma relação
sexual impensada pode gerar à sua vida. Portanto, é de suma importância que
as adolescentes tenham uma orientação responsável, tanto no meio escolar
bem como no familiar.
De acordo com Meneses, Lopes e Magalhães a taxa de fecundidade no
Brasil em mulheres na faixa etária entre 15 e 19 anos, no período de 1986 a
1991, chegou a ser 40% maior entre aquelas que apresentavam renda familiar
de até um salário mínimo, quando em comparação com aquelas com renda
familiar de 10 salários mínimos (MENESES; LOPES; MAGALHÃES: 2008, p.
51). A estatística acima confirma que a diferença entre as classes sociais
interfere de forma considerável nos índices de gravidez na adolescência.
Para as autoras supracitadas, a queda das taxas de fecundidade desde a
década de 1970 parece caminhar contrariamente à crescente incidência de
gestação na adolescência, evento considerado em vários países um sério
problema de saúde pública em virtude do impacto que pode trazer à saúde
materno-fetal e ao bem-estar social e econômico de um país. Uma gravidez
nessa fase da vida acarreta sérios problemas quando as adolescentes não se
cuidam durante a gestação e um alto índice de gravidezes nesse período faz
com que seja necessário ampliar políticas públicas para atender a esse alto
número de gestações. Diante do exposto, é de suma importância que os
hospitais públicos se equipem adequadamente para atender esta demanda,
uma vez que presenciamos diariamente a morte de mulheres por falta de
atendimento médico quando necessário.
Pode-se concluir que muitos autores apresentam fatos convincentes que
comprovam que realmente a gravidez na adolescência consiste num problema
de saúde pública, pois muitas meninas não estão preparadas para enfrentar
uma gravidez e posteriormente cuidar de um filho, pois muitas não querem
perder a liberdade nessa fase da vida.
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Outro fator relevante que merece destaque é a forma como as famílias
de maior e menor poder aquisitivo recebem a notícia de uma gravidez na
adolescência, as famílias mais ricas recebem-na com mais impacto, pois elas
querem que suas filhas estudem e se destaquem no mercado de trabalho o
que uma gravidez pode adiar por um bom tempo. As famílias mais pobres não
sofrem tanto, pois em muitas é apenas algo que em algum momento iria
acontecer.
9
Capítulo II
Significado de ser mãe para jovens pobres.
Este capítulo tratará da gravidez na adolescência não como um problema de
saúde pública, mas como, um meio de identificação social no meio em que vivem,
no sentido de que ser mãe faz com que a jovem deixe de ser menina e se torne
mulher. No caso de jovens mães de estratos sociais mais baixos, elas passam a ter
um tratamento diferenciado pelos colegas na escola, na família, enfim deixam de ser
meninas comuns para se tornarem mães.
Os fatores supracitados são claros exemplos que predispõem adolescentes a
uma gravidez precoce, ou seja, elas reproduzem situações vivenciadas por elas ao
longo da vida. Não possuem perspectivas com relação a um futuro promissor, pois
na maioria das vezes o desconhece. Desse modo, a maneira que as meninas de
baixa renda encontram, muitas das vezes, para se afirmarem socialmente é por meio
da gravidez, por conseguinte, sua autoestima está diretamente ligada a tentativa de
tornar-se mãe. Meninas que alcançam determinada idade, mais ou menos vinte
anos sem se tornarem mães, são vistas em seu meio social de maneira diferente
das que se tornaram.
Segundo Lewis e Volkmar, em muitos casos existem um desejo inconsciente,
ou mesmo consciente, de engravidar (AMAZARRAY; MACHADO; OLIVEIRA;
GOMES: 1998, p. 03). Adolescentes sentem a necessidade de se firmarem em seus
grupos o tempo inteiro, portanto algumas meninas veem na gravidez a possibilidade
disso acontecer.
O desejo de ter um bebê pode estar ligado a determinados fatores como:
provar a fertilidade, solidificar o relacionamento com o parceiro, ter alguém para
amar e cuidar, mudar o status na família para adquirir independência, demonstrar
uma atitude rebelde contra a família ou libertar-se de um ambiente familiar abusivo.
(AMAZARRAY; MACHADO; OLIVEIRA; GOMES: 1998, p. 03) Em outras palavras,
as adolescentes querem provar algo a todo o momento, ou seja, querem ter
notoriedade, sair da condição de adolescentes para a de mãe.
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Mûelenaere Correa e Coates (1993) consideram a gravidez na adolescência
como de alto risco, segundo eles pode desencadear inúmeras complicações tanto
orgânicas como psicossociais. Entretanto, Stevens-Simon e McAnarney (1992)
salientam que os riscos associados a esse fenômeno não são resultado das
condições fisiológicas e psicossociais intrínsecas à adolescência, mas estão ligados
a fatores sociodemográficos (pobreza, educação deficiente, status de solteira e
cuidado pré-natal inadequado) que aumentam os riscos da gravidez e maternidade
em qualquer idade. (AMAZARRAY; MACHADO; OLIVEIRA; GOMES: 1998, p. 03)
Nessa perspectiva, a gravidez na adolescência vai muito além de um
problema de saúde pública, mas como um problema com várias outras vertentes,
dentre eles: a reprodução da pobreza, interrupção dos estudos, possíveis
reincidências,
etc.
Amazarray
afirma
que
fatores
sóciodemográficos
são
determinantes para que ela ocorra e realmente são, pois o maior índice de meninas
grávidas encontra-se nas classes sociais mais baixas, sendo que nelas estão
concentradas famílias com maior número de filhos, menos acesso aos métodos
contraceptivos, ou talvez de informações para adquiri-los.
Oliveira (2002) sugere que para adolescentes pobres, provenientes em geral
de núcleos familiares, nos quais as mães cuidam sozinhas de seus lares, pouco
provedoras de cuidado, proteção e carinho, observa-se uma maior atração
(consciente ou inconsciente) pela gravidez. Para estas adolescentes, a maternidade
não era significada como algo precoce, mas sim como mais uma etapa natural do
processo de desenvolvimento, sendo este aspecto também observado por Cardoso
e Duran (2001) (GONTIJO; MEDEIROS: 2004, p. 04).
Daniela Tavares Gontijo e Marcelo Medeiros ilustram bem a proposta do
presente capítulo, de que para muitas famílias pobres a gravidez não é vista como
um problema e sim como algo natural, em contraposição com famílias de renda mais
alta que procuram planejar a chegada de um novo bebê.
Um dos problemas acarretados pelo não planejamento de uma gestação é
grande a preocupação com a falta de acompanhamento médico, o que, por sua vez,
decorre em possíveis complicações no parto, mas para muitas a visão da gravidez
nessa fase da vida vai muito além, ou seja, elas recebem esse acontecimento como
algo natural, uma continuação do que vivenciam em seus lares. Apesar de muitas
11
não estarem preparadas para receberem um bebê, seja psicologicamente,
financeiramente, elas não se sentem intimidadas com tal situação, enfim, para elas é
algo que inevitavelmente aconteceria.
Um outro aspecto relacionado à maternidade de adolescentes em situação de
risco social e pessoal, diz respeito a maternidade enquanto forma de ascensão
social como um “passaporte” para a vida adulta, e como reforço para ser alguém na
vida com vistas a garantir a estima de outras pessoas e um futuro melhor para e
através do filho (FAVÉRO, 1997; PANTOJA, 2003 apud GONTIJO; MEDEIROS:
2004, p. 04)
De acordo com estudos realizados pelo Comitê on Adolescence and Comitte
on Early Childhood (2001) identificou a gravidez na adolescência à diminuição do
uso de álcool, cigarro, maconha e crack durante a gestação, sendo esta diminuição
constatada até 6 meses pós parto, no caso de cigarro e álcool. Estes achados
também são sugeridos por Oliveira (2002), que em seu estudo sobre gravidez e
maternidade de adolescentes de periferias sociais e ambientais, observou que
pontua o cuidado dos filhos (menores que 4 anos) aparentemente trazia benefícios
psicossociais, especialmente relacionados à convivência, administração e escape
dos riscos graves do mundo do tráfico, do abuso de drogas e da criminalidade.
(GONTIJO; MEDEIROS: 2004, p. 04)
Pode-se afirmar que, nesses casos, a chegada do bebê na vida das jovens
mães não tem apenas o lado ruim, mas a possibilidade de reestruturação de suas
vidas através da maternidade. O afeto que sentem pelos filhos pode ser a solução
para um comportamento mais saudável, longe das drogas.
Esses dados demonstram que para muitas adolescentes a gravidez na
adolescência é algo positivo, que ter um filho é sinônimo de ascensão no meio em
que vivem. Que esse filho pode ser a solução para muitos problemas enfrentados
por elas. Sabe-se que o amor de uma mãe por um filho é algo inexplicável, portanto
quando essa adolescente é acolhida pela família a possibilidade dessa adolescente
cuidar de si própria e de seu filho é muito maior.
Observa-se que a reação das famílias das adolescentes diante da gravidez de
suas filhas varia de acordo com a classe social. As famílias das jovens de classes
12
populares apresentam uma melhor aceitação dessa situação, especialmente a mãe
e a avó, contrariamente à famílias das adolescentes de classe média, que não
desejam a gravidez das filhas adolescentes (SILVA & PINNOTI, 1987 apud
DADOORIAN: 2003, p. 03). Mais uma vez vem em voga a questão das diferenças
sociais, elas incontestavelmente explicam como uma família rica e uma pobre
recebem a gravidez de suas filhas nessa etapa da vida. Diante do exposto, uma
família de classe popular aceita uma gravidez na adolescência com mais facilidade,
vez que uma família de poder aquisitivo maior encara isso como sendo um atraso na
vida de uma adolescente, principalmente na escola. Para os pais e para a menina
esse acontecimento acarretará no atraso dos estudos e na perda de realizações
futuras.
Na perspectiva de Diana Dadoorian, as adolescentes que optam pela
gravidez, de uma visão mais abrangente sobre o seu estado gera
conseqüências que repercutem em dois níveis: no individual, que se
refere aos aspectos psicológicos expressos em cada uma dessas
adolescentes, e no social, isto é, nos aspectos sócio-econômicos, na
medida em que a gravidez em adolescentes, sobretudo em jovens
provenientes de classes populares, multiplica as condições de
reprodução da pobreza econômica e social. (DADOORIAN: 2003,
p.07)
Podemos perceber desse modo que a questão dessa reprodução da pobreza
econômica e social é um dos fatores mais agravantes, pois, infelizmente, na maioria
das vezes as crianças, frutos desta gestação, são reflexos da falta de perspectiva de
um futuro melhor assim como seus pais. Assim sendo, essas crianças crescem com
poucas perspectivas de um futuro melhor, privação muitas vezes de alimentos,
roupas, educação, etc. Realmente essa é a realidade, dessas famílias com o
recebimento de mais um filho e passam a ter mais dificuldades financeiras, mesmo
tendo o mínimo crianças necessitam de roupas, remédios, etc.
Autores como Madeira e Wong (1988) alertam que os índices de gravidez são
mais elevados entre jovens analfabetas ou com instrução mínima e que teriam
possibilidades
quase
nulas
de
escapar
do
círculo
da
miséria,
gerando
consequentemente a manutenção da reprodução da pobreza e da ignorância. A
preocupação com a manutenção do ciclo da pobreza tem orientado grande parte dos
estudos sobre o assunto, bem como a elaboração de políticas públicas voltadas a
essa parcela da população. (MEDRADO; LYRA, 2010, p.05)
13
É urgente a necessidade de políticas públicas voltadas para essas famílias,
políticas essas que se preocupem com a diminuição desse problema. As
adolescentes precisam ser assistidas de forma eficiente para que as mesmas não
sejam reincidentes, sejam auxiliadas por profissionais que as orientem a cuidar com
responsabilidade de seus filhos e aquelas que ainda não foram mães conscientizem
que há um momento certo para tudo na vida. É importante conhecer a realidade
dessas adolescentes para, posteriormente, elaborar soluções para a melhora de
qualidade de vida delas.
Dirce Bengel de Paula afirma que:
no momento em que a adolescente se agarra ao papel de mãe,
parece estar buscando a autoridade e o poder pertinente ao mesmo.
A gravidez na adolescência está sendo entendida como um modo de
resistência encontrado pela adolescente para contrapor-se à
autoridade do adulto [uma forma de] compensar a imagem do
adolescente imaturo e dependente através da função materna
socialmente valorizada (PAULA, 1992: 57 apud MEDRADO; LYRA,
2010, p.06)
Essa rebeldia, muitas vezes, encontrada nessa fase da vida é incontestável,
mas adolescentes sem uma estrutura psicológica e familiar acreditam que é
necessário confrontar-se com as pessoas que as rodeiam, sejam pais, amigos,
namorados, etc. A adolescência por ser ainda um período de formação para a vida
adulta, é o momento que se sofre muitos conflitos internos, pois é uma época de
muitas transformações físicas e psicológicas, portanto muitos não aceitam regras e
agem impensadamente, infelizmente a grande maioria não percebe que as
consequências de atos impensados recaem drasticamente sobre elas e pior sobre
os filhos.
A
marginalidade
econômica
e
a
vulnerabilidade
social
são
fatores
preocupantes em nossa sociedade. É assustador depararmo-nos com os noticiários
sobre o número de famílias que sobrevivem em condições subumanas, que não têm
o básico para suprirem suas necessidades e isso influencia na vida de muitas
adolescentes. É necessário que os recursos sejam melhor administrados, a renda
melhor divida e que todos tenham acesso a uma educação de qualidade, aí sim
esses problemas serão minimizados.
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Nessa direção,
pode-se indagar em que medida a ausência de uma perspectiva
profissional futura, associada à uma escolaridade errática, fomentam
a reincidência de gravidez na adolescência e/ou impermeabilidade
relativa de suas trajetórias anticoncepcionais frente à experiência da
primeira maternidade. Diante dessas condições, nem uma eventual
gestação na adolescência, nem sua reincidência, são encaradas
como problemas contra os quais elas devem se prevenir. Em
contraste, o caráter mais consistente das perspectivas profissionais e
dos percursos escolares das mulheres das classes médias pode
funcionar como antídoto contra eventuais gravidezes na
adolescência. (HEILBORN; SALEM; ROHDEN; BRANDÃO;
KNAUTH; VÍCTORA; AQUINO; McCALLUM; BOZON, 2002, p. 11)
Dessa maneira, podemos perceber que é de extrema importância que
políticas públicas sejam implementadas para que as adolescentes grávidas tenham
toda a assistência, pois devem se sentir amparadas. Observa-se as diferenças
sociais como fatores que explicam diferenças quanto ao recebimento de notícias de
gravidez na adolescência e que muitas meninas não a recebem como um problema,
mas
como
algo
que
deve
ser
aceita
com
muita
naturalidade.
No ambiente escolar o assunto gravidez/maternidade propicia o amplo
debate do tema entre os estudantes. Existe um circuito intenso de informações entre
eles – dedutivas ou não – a respeito de quem está ou não grávida (PANTOJA; 2003,
p.339). Na escola esses comentários são inevitáveis, por isso, os professores e
todos que compõem o ambiente escolar devem estar preparados para trabalhar esse
tema transversal e ajudar a esclarecer dúvidas, pois a função da escola e ensinar, e
ensinar coisas que ajudem seus alunos além da sala de aula.
As expectativas em torno da gravidez são traduzidas no cotidiano
da escola por meio de alguns comportamentos manifestados pelas
meninas, sendo estes, em geral, tomados por outras como indicativos de
uma suposta gravidez. Há, no entanto, casos em que preferem retrair-se,
mantendo-se silenciosas ou mesmo afastando-se, pelo menos num
primeiro momento, dos grupos de convívio e sociabilidades construídos
na escola. Concorre para o aumento da desconfiança, o fato de as
mesmas “encobrirem” mais o próprio corpo, seja usando uma “blusa
maior”, ou apoiando sempre o caderno ou a bolsa sobre o ventre. Essa
15
mudança de comportamento da menina em relação ao seu próprio corpo
se evidencia, pois em geral as mesmas procuram realçar as suas formas
usando microssaias, acompanhadas de miniblusas ou “top”, peças que
compõem um visual feminino em que costas, colo, ventre e coxas ficam à
mostra, regiões do corpo que não escapam aos olhares atentos dos
meninos. (PANTOJA; 2003, p.339)
Pantoja aborda visões diferentes de comportamentos na escola por
parte das adolescentes grávidas, umas querem esconder, sentem-se
envergonhadas, receosas com os comentários, outras já expõem suas
barrigas como troféus, enfim, não se pode resumir a gravidez na
adolescência apenas na visão da falta de pré e pós natal adequados, mas
de uma forma mais ampla. Adolescentes muitas vezes acreditam que ser
mães as colocarão num patamar de destaque, que aproximará os
parceiros, as atenções estarão voltadas para elas. Existem casos de
adolescentes que realmente apresentaram um comportamento maduro
com relação ao nascimento do filho, mas na maioria dos casos as jovens
mães encontram-se despreparadas para esta nova vida. Em geral, as
experiências já vividas por outras em relação à gravidez e maternidade
são repassadas para aquelas que se deparam com semelhante situação,
dando dicas sobre como conciliar gravidez/maternidade, escola e
trabalho. Mas é, contudo, o chá de bebê que expressa com maior nitidez,
o caráter positivo da experiência da gravidez/maternidade. Para as
professoras, a importância do mesmo é vista com base no aspecto
econômico, pois, quase tudo o que é necessário ao bebê, é presenteado
pelos participantes nessa ocasião. No entanto, o caráter social do qual se
reveste o mesmo, ficou patente tanto na forma coletiva de sua
organização,
quanto
na
maneira
como
todos,
indistintamente,
compartilharam do mesmo. (PANTOJA; 2003, p.340)
Nessa linha de raciocínio, pensamos o ambiente escolar como um
espaço em que as jovens mães encontram incentivo para comemorar a
gravidez, então, sentem-se acolhidas e importantes perante os colegas. É
preciso que esse assunto seja trabalhado de forma constante na escola,
16
na família e em todas as instituições em que as adolescentes estão
inseridas, pois elas devem estar realmente preparadas para encarar esta
escolha, se for este o caso.
Pode-se concluir que a gravidez na adolescência consiste sim num
problema que merece atenção por parte do governo, da família, da
escola, pois meninas despreparadas para cuidar de bebês, certamente,
sofrerão e farão seus filhos sofrerem, seja por falta de cuidados básicos,
possíveis abandonos e as vezes desafeto.
A escola, instituição mencionada como imprescindível para a
conscientização de adolescentes, precisa investir em atividades que
realmente as façam refletir sobre as conseqüências de uma gravidez
indesejada, dentre elas, a perda da liberdade, em muitos casos desprezo
do
parceiro
e
desavença
com
a
família.
17
Projeto de Intervenção.
O projeto de intervenção que pretendemos aplicar tem como
objetivo discutir a questão da gravidez na adolescência na escola.
A escola em que pretendemos aplicar o projeto é a Escola
Municipal Coronel Felício Miranda, Anexo Lagoa do Pau, Distrito da
cidade de Jaguaraçu/MG, entre os alunos do 9º ano do ensino
fundamental. Neste projeto serão contemplados dez alunos, dentro deste
universo quatro meninas e seis meninos com idades entre treze e
dezesseis anos.
Pretendemos com este projeto conscientizar os alunos sobre a
gravidez na adolescência, os problemas e riscos que ela pode acarretar
às suas vidas. E ajudar àquelas que por ventura já passaram por essa
experiência. Como a turma supracitada é muito pequena alunos do 8º
ano, quinze alunos aproximadamente, serão convidados a participar da
palestra.
Escolhemos a Escola Municipal Coronel Felício Miranda, Anexo
Lagoa do Pau, pois percebemos que a gravidez entre as adolescentes é
algo recorrente e, geralmente, as alunas adolescentes não continuam os
estudos.
Portanto, acreditamos que o nosso trabalho se justifica tanto pela
importância da temática. Dessa forma, o projeto que pretendemos
desenvolver buscará discutir a temática da gravidez na adolescência
entre os jovens do 8º e 9º anos do ensino fundamental, participarão das
atividades os meninos e as meninas, pois pensamos que este é um tema
de interesse de ambos os sexos.
O primeiro passo do projeto de intervenção será promover um
debate sobre sexualidade e gravidez na adolescência mediado por uma
enfermeira do Posto de Saúde da Cidade. Num segundo momento,
18
apresentaremos estatísticas de adolescentes grávidas pesquisadas na
Unidade de Saúde de Jaguaraçu/MG. Ao fim da palestra, pediremos para
que os ouvintes dividam-se em grupos de três pessoas e discutam o
ponto que mais lhe chamou a atenção durante a palestra e os números
apresentados. Ainda em grupo, pediremos para que cada grupo de alunos
confeccionem um cartaz com o ponto debatido e apresente para os
colegas, o tempo da apresentação será no máximo dez minutos. Ao
finalizarmos esta atividade, colaremos os cartazes pela escola para que
os estudantes que não participaram da intervenção tomem conhecimento
do tema.
O tempo previsto para a realização completa da intervenção é de
três horas e trinta minutos, sendo divididas da seguinte maneira: uma
hora e trinta minutos para a palestra, trinta minutos para a discussão dos
grupos formados pelos estudantes, trinta minutos para a confecção dos
cartazes, 30 minutos para a apresentação de todos os grupos e, por fim,
trinta minutos para o fechando da atividade e o retorno dado aos alunos
pelos organizadores do projeto.
A atividade será realizada no pátio da escola e os recursos
utilizados pelo palestrante são microfone, púlpito, hino nacional, bandeiras
e cadeiras, os materiais utilizados pelos estudantes na confecção dos
cartazes serão a cartolina, canetas, recortes de revistas e cola. A escola
dispõe de todo o material.
Finalizando o trabalho, um texto será produzido pelos/as alunos/as
da classe para ser postado no blog que será criado pela turma do 9º ano.
Esse texto deverá contemplar o que aprenderam, como por exemplo, o
que uma gravidez prematura acarreta à vida de uma menina, o que ela
será obrigada a abrir mão para cuidar do filho, etc. Em seguida, esses
textos serão socializados entre os/as alunos/as em sala de aula e em
seguida postados no Blog da escola.
O Blog também apresentará pesquisas e questionários que
servirão para manter os/as alunos/as bem informados, esse recurso é
19
bastante apreciado pelos adolescentes, portanto, a escola deve usar as
redes sociais a seu favor e isso é possível através do incentivo às
pesquisas conscientes. Pode-se pedir aos alunos que consulte outros
blogs que tratem da mesma temática. Na escola há um computador com
acesso a Internet, alguns alunos possuem computador em casa, também,
com acesso a Internet e finalmente, no Bairro, há um laboratório de
informática, com um instrutor, o que pode nos auxiliar na execução da
pesquisa de blogs.
No fim do projeto, previsto para o fim do ano de 2012, mais
precisamente no mês de novembro do ano em curso, outra pesquisa será
realizada na Unidade Básica de Saúde, do município de Jaguaraçu/MG,
para ser apresentada aos alunos que participaram do projeto e
verificarmos se o índice de gravidez na adolescência sofreu alguma
alteração na cidade.
20
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