Questões relativas à Provisão Universal de Saúde GHD-018 Abril, 2011 HIV/aids no Brasil: provimento de prevenção em um sistema descentralizado de saúde2 “Não é de dinheiro que precisamos agora. Precisamos de um novo olhar. Precisamos alterar a agenda estadual e municipal para que possamos planejar melhor. Encorajar e fortalecer esse tipo de estrutura é um processo de longo prazo. Não acontecerá durante a minha vida, mas toca diretamente a alma do governo brasileiro.” Dra. Mariângela Galvão Simão, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. “A descentralização é uma faca de dois gumes. Às vezes é muito boa e às vezes muito ruim.” Dr. Francisco Iganio Bastos, epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz Em dezembro de 2009, a principal autoridade brasileira em HIV/aids, Dra. Mariângela Galvão Simão, fez reflexões sobre o progresso do Brasil no combate à doença. A resposta imediata e agressiva do país ao HIV/aids, com base nos direitos humanos e na cooperação entre instituições da sociedade civil e do governo, foi considerada um sucesso pela comunidade internacional. Em 1996, o Brasil se tornou o primeiro país em desenvolvimento a oferecer tratamento antirretroviral com financiamento público para todas as pessoas vivendo com o HIV/aids. Em 2000, a epidemia do HIV havia se estabilizado e apresentava indicadores similares aos encontrados nos Estados Unidos e Europa Ocidental, sendo que as taxas mais altas da infecção concentravam-se nos grupos de alto risco, como os homens gays, profissionais do sexo e usuários de drogas injetáveis. Entretanto, o desafio permanecia e muito ainda estava por fazer. Em 2009, aumentavam os casos entre jovens homens negros e entre mulheres pobres de cidades pequenas, onde o sistema de saúde e a advocacia da sociedade civil eram mais fracos. Além disso, os índices de infecção cresciam em cidades onde os programas para o HIV tinham sido negligenciados após a transferência do poder financeiro e administrativo da esfera 2 Sarah Arnquist, Andrew Ellner e Rebecca Weintraub prepararam este estudo para impulsionar discussões em sala de aula e não para ilustrar práticas eficazes ou ineficazes de serviços de saúde. Apoio ao desenvolvimento do estudo foi parcialmente fornecido pela Bill & Melinda Gates Foundation. Sua publicação foi viabilizada sem custos, graças ao presidente e colegas do Harvard College e o Harvard Business Publishing © 2001. Esse estudo recebeu a licença Creative Commons AttributionNonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported. Convidamos os leitores a visitar as comunidades online do Global Health Delivery, GHDonline.org, e participar das discussões com milhares de implantadores de serviços de saúde e especialistas do mundo todo. federal para os governos estaduais e municipais. Em 2009, seis anos após o início do processo de descentralização, os resultados eram heterogêneos. Em seu escritório no Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, em Brasília, a Dra. Mariângela Simão afirmou que para manter os serviços de prevenção ao HIV em todo o território brasileiro, era necessário fortalecer a capacidade dos estados e municípios de prover serviços de prevenção e tratamento da aids por meio do sistema único de saúde. Contudo, tendo em vista a extensão do país, o departamento precisava priorizar os financiamentos e o apoio tecnológico para as regiões mais carentes. Visão geral do Brasil Em 2009, o Brasil era o quinto maior e mais populoso país do mundo, com 191 milhões de habitantes vivendo em 8,5 milhões de quilômetros quadrados. A composição racial do Brasil era de 53,7% de brancos, 38,5% de mulatos, 6,2% de negros e 1,6% de outras raças. Três quartos dos brasileiros se identificaram como católicos romanos, 15% como cristãos protestantes, 7% como não religiosos, e o restante como praticantes de outras religiões. Os 26 estados da federação, o distrito federal e os 5.500 municípios espalhavam-se por cinco regiões heterogêneas. As regiões sul e sudeste eram as mais populosas, ricas e desenvolvidas. As regiões nordeste e norte, que inclui a floresta amazônica, eram as mais remotas e pobres, com baixos níveis de desenvolvimento (acesse o quadro 1 para obter mapa).1 Entre 1964 e 1984, o Brasil foi controlado por uma ditadura militar. Protestos em massa e a mobilização da sociedade civil contra a ditadura levaram a eleições democráticas em meados da década de 1980. Em 1989, o Brasil havia adotado uma nova constituição e se tornado uma república democrática com um sistema de governo federativo.1 Em 2009, o Brasil era uma das economias do mundo emergente com maior crescimento.2 Após as eleições de 2002, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) implantou um programa popular e ambicioso de combate à pobreza, o Bolsa Família1, que distribuía um valor monetário mensal a 11 milhões de famílias.3 Entretanto, embora o Bolsa Família e outros programas de combate à pobreza ajudassem a reduzir o número de brasileiros vivendo em pobreza, o Brasil ainda possuía uma das distribuições de renda mais desiguais do mundo. Os 20% mais ricos controlavam 59% da renda nacional.4 O país urbanizava-se com rapidez e a pobreza tornava-se um problema urbano crescente. Nas megacidades, como Rio de Janeiro e São Paulo, um terço da população vivia em favelas. As disparidades raciais em relação à riqueza e saúde eram comuns.5 1 O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda com condicionalidades, que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza que atendem certos critérios comportamentais, geralmente relacionados aos cuidados de saúde e educação de crianças. Tabela 1: Indicadores socioeconômicos e demográficos básicos2 Indicador Índice de desenvolvimento humano da ONU (posição) População População urbana (%) Acesso à água potável (%) Taxa de pobreza (% vivendo com menos de US$1,25 por dia) Índice de Gini PIB per capita em US$ (preços constantes, base 2005) PIB per capita em US$ (preços constantes, base 2000) Índice de alfabetismo (%) (adultos e jovens) 75 191 milhões 85 97 5,0 ANO 2007 2007 2009 2008 2007 57 8.949 10.100 90,97 2004 2006 2009 2007 A saúde no Brasil Entre 1990 e 2007, a expectativa média de vida no Brasil subiu de 67 para 72 anos, e a taxa de mortalidade infantil caiu de 48 por 1.000 nascidos vivos para 18.6 As taxas de imunização eram altas e quase todos os bebês nasciam em hospitais.7 Havia disparidades significativas entre raças. Os brancos eram, no geral, mais saudáveis que os negros ou indígenas. A taxa brasileira de mortalidade materna de 2005 variava de 67 por 100.000 nascimentos no nordeste para 41 no sudeste.8 Na segunda metade do século 20, as doenças crônicas foram substituídas pelas doenças infecciosas como causas principais de mortalidade e morbidade. Cerca de um terço dos brasileiros morreram de acidente vascular ou doenças cardíacas, a principal causa de mortes. Em 2004, os homicídios eram a terceira causa de mortalidade, chegando a 5,3% de todas as mortes (veja o quadro 2 para obter a distribuição da mortalidade brasileira por causa).8 Sistema de saúde Paralelamente aos protestos pela democracia na década de 80, os sanitaristas (defensores públicos da saúde) protestavam contra as graves desigualdades no âmbito da saúde. Durante a ditadura, somente os trabalhadores do setor formal tinham segurosaúde, enquanto cerca de milhões de agricultores e outros trabalhadores do sistema informal ficavam sem atendimento. Em resposta ao movimento sanitarista, a nova constituição do Brasil declarou o acesso à saúde como um direito humano a ser provido pelo governo.9 O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado imediatamente com o objetivo de coordenar todos os serviços públicos de saúde e fornecer serviços gratuitos a todos. O sistema privado continuou a existir em paralelo ao sistema público. Governança O sistema de saúde brasileiro foi organizado em dois subsistemas: o SUS (Sistema Único de Saúde), financiado com recursos públicos, e o sistema complementar de atendimento médico privado. O SUS tornou-se o principal financiador e fornecedor de serviços de saúde para três quartos dos brasileiros. Os demais, formados pela população 2 Estes dados foram obtidos nas seguintes fontes: Nações Unidas (ONU), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Banco Mundial e a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). mais rica e localizada principalmente nas áreas urbanas das regiões sul e sudeste, compraram seguros-saúdes privados e obtiveram acesso a médicos e hospitais particulares.5 Os segurados privados mantiveram o direito de acessar os serviços de saúde do sistema público. Cinco princípios regeram o desenvolvimento do SUS: 1) cobertura universal e gratuita; 2) serviços abrangentes desde a prevenção ao tratamento; 3) igualdade; 4) descentralização e 5) participação pública.7 Durante a década de 90, leis e normativos descrevendo esses princípios foram regulamentados e implantados. A governança do SUS é descentralizada, com um centro de comando único nas esferas federais, estaduais e municipais.9 Em nível federal, o Ministério da Saúde desenvolve e implanta políticas nacionais. Nos estados, as secretarias de saúde distribuem os recursos para os municípios e coordenam diretamente alguns hospitais e serviços médicos oferecidos pelas universidades. As secretarias de saúde municipais organizam e prestam a maior parte dos serviços de saúde. Autoridades eleitas nomeiam os administradores dos serviços públicos de saúde. Em geral, as eleições governamentais levam a mudanças administrativas impulsionadas por interesses políticos que não consideram a competência técnica ou o sucesso dos programas.10 O princípio da participação pública (chamada “controle social”) é realizado em todos os níveis da governança mediante os conselhos de saúde pública. Esses são compostos de médicos, burocratas, pacientes e membros de organizações da sociedade civil que ajudam a estabelecer as políticas orçamentárias e programáticas. Os conselhos têm poder estatutário, mas sua influência depende do estado e da cidade.11 Financiamento Entre 2000 e 2007, o orçamento federal para a saúde mais que dobrou.12 O SUS foi financiado com receitas de impostos recolhidos em cada esfera governamental. Pela lei, os governos estaduais e municipais têm que investir pelo menos 12% e 15%, respectivamente, dos seus orçamentos em saúde e, combinadas, essas despesas representavam mais da metade de todo o investimento governamental em saúde. Por outro lado, não havia estipulação para o nível de gastos para o governo federal. Apesar dos aumentos nos financiamentos para a saúde, analistas das políticas governamentais afirmaram que o sistema sofria de subfinanciamento crônico e de distribuição desigual dos recursos.11 Em 2002, os gastos per capita com a saúde pública na região nordeste eram de US$ 84, enquanto no sudeste eram de US$ 125.5 Tabela 2: Indicadores do sistema de saúde e epidemiológicos3 INDICADOR Expectativa média de vida ao nascer (total, mulheres, homens) Taxa de mortalidade materna (por 100.000 nascimentos) Taxa de mortalidade infantil abaixo dos 5 anos (por 1.000 nascidos vivos) Taxa de mortalidade infantil (por 1.000 nascidos vivos) Taxa de vacinação (% da cobertura da DTP3) Desnutridos (%) 3 Estes dados foram obtidos das seguintes fontes: OMS, UNICEF, ONU 73, 77, 70 110 22 ANO 2008 2005 2008 18 98 6 2008 2007 2004 Prevalência do HIV em adultos (15 a 49 anos) (por 100.000 habitantes) Cobertura da terapia antirretroviral para o HIV (%) Prevalência da tuberculose (por 100.000 habitantes) Cobertura do DOTS (%) Casos de malária (por 1.000 habitantes) Gastos governamentais com a saúde (% do total de gastos governamentais) Gastos governamentais com saúde per capita (dólar internacional, US$) Gastos totais com saúde per capita (dólar internacional, US$) Densidade de médicos (por 10.000 habitantes) Densidade de enfermeiros e parteiros (por 10.000 habitantes) Número de leitos hospitalares (por 10.000 habitantes) 454 2005 78 55 75 7,3 6,0 2006 2006 2007 2006 2008 398.318 2008 904.722 12 38 26 2008 2000 2000 2002 Prestação de serviços de saúde Após a criação do SUS, os esforços do setor público mobilizaram-se em direção à mudança de um modelo de prestação de serviços de saúde centrado em hospitais, para um modelo com foco no atendimento ambulatorial, com ênfase nos cuidados básicos. Cerca de 25.000 das 35.000 unidades de saúde criadas entre 1976 e 1999 eram públicas, com 93% delas enfocando o atendimento ambulatorial. Entretanto, a demanda por serviços de saúde continuava muito superior à oferta, em especial nas zonas rurais. De acordo com uma pesquisa realizada pela Organização Pan Americana de Saúde, 58% dos brasileiros que responderam ao questionário mostraram-se insatisfeitos com o sistema de saúde do país.5 Em 2001, o Brasil tinha 1,2 médicos e 3,8 enfermeiros por 1.000 habitantes4 13; contudo, a densidade de médicos no sudeste urbano era o dobro do encontrado no norte e nordeste. A maioria dos hospitais públicos eram pequenos e superlotados. O corpo de funcionários recebia salários baixos e a prestação de contas pela qualidade e eficiência era, em geral, muito deficiente.14 Ainda assim, com frequência os hospitais públicos eram mais bem equipados do que os privados para tratamentos mais complexos. Consequentemente, a população que possuía seguro-saúde privado se dirigia ao sistema público em busca de tratamento gratuito para situações mais complexas, tais como o câncer e a aids. Em 1995, o governo lançou o Programa Saúde Família (PSF), com o objetivo de prover serviços básicos de saúde de maneira mais acessível ao cidadão mediante atendimento domiciliar, mais especificamente para os residentes das zonas rurais e das favelas urbanas. Em 2009, o PSF havia se tornado a espinha dorsal do sistema brasileiro de saúde básica. Cada equipe do PSF inclui um clínico geral, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e quatro agentes de saúde, e atende aproximadamente 1.000 famílias. As equipes visitam as famílias em suas residências, identificando necessidades, encorajando as mães a fazer o acompanhamento pré-natal e do bebê e promovendo a aderência aos tratamentos. Em 2005, mais de 20.000 equipes do PSF atenderam 73 milhões de pessoas em 4.800 cidades, cerca de 40% da população.5 Atribui-se ao PSF a rápida melhoria nas taxas de vacinação de crianças e a queda da mortalidade infantil.15 4 Em comparação, em 2002 a Suécia tinha 3 médicos e 10,2 enfermeiros por 1.000 habitantes. O pacote PSF não inclui a prevenção ou educação para o combate ao HIV ou a distribuição de camisinhas. Alguns programas incorporaram voluntariamente esses serviços. Ao enfatizar a importância do componente de atenção ao cidadão do programa e o uso de agentes comunitários de saúde, um diretor do PSF declarou que “algumas das áreas são tão remotas e algumas favelas tão perigosas que as ONGs [organizações não governamentais] não as frequentam. Nem os correios chegam lá, mas o Programa Saúde Família chega.” HIV/aids no Brasil Epidemiologia Os primeiros casos de aids no Brasil foram identificados em São Paulo, em 1982, na comunidade homossexual masculina. Durante a década de 1980, o SUS ainda dava seus primeiros passos e não operava nacionalmente. A limitada infraestrutura de vigilância epidemiológica dificultava o rastreio de novos casos de HIV. Na estimativa do Ministério da Saúde, entre 1987 e 1989, os novos casos de aids mais que triplicaram, passando de 2.600 para 9.000. A grande maioria estava na população de HSH (homens que fazem sexo com homens) da classe média e alta, residentes no eixo Rio-São Paulo.16 Em 1990, a aids já tinha sido diagnosticada em hemofílicos, heterossexuais, recipientes de transfusão sanguinea e recém-nascidos. A maioria dos novos casos se concentrava em usuários de drogas injetáveis (UDI) na zona urbana da região sul e entre homens homo e bissexuais das zonas urbanas do sudeste.17 No início da década de 90, a epidemia da aids no Brasil crescia no mesmo ritmo que na África do Sul. Os casos cumulativos de aids dobraram entre 1990 e 1992, passando de 25.000 para 51.000.18 No início da década de 90, analistas do Banco Mundial previram que, até o ano 2000, 1,2 milhões de brasileiros estariam infectados. Em 2009, contudo, a prevalência nacional do HIV na população adulta (entre 15 e 49 anos) foi estimada em 0,6% ou 630.000 habitantes. Em comparação, a prevalência do HIV na população adulta da África do Sul era de 18%, com uma estimativa de 5,7 milhões de infectados.19 Cerca de 33.000 novos casos de aids eram diagnosticados anualmente. A taxa de incidência do HIV era desconhecida. As 11.000 pessoas que morreram de aids representaram 0,01% de todas as mortes.20 A redução de 15% na incidência entre 1997 e 2007 foi conseguida em grande parte pela ocorrência decrescente de novos casos de aids em São Paulo e outras grandes cidades, onde 85% do total dos casos eram reportados. Entretanto, nessa mesma década, a incidência de aids em pequenas cidades quase que dobrou, passando de 4,4 para 8,2 por 100.000 habitantes (veja os quadros 3 e 4, contendo os dados epidemiológicos da aids).18 A relação sexual foi o meio de transmissão em 97% dos casos. A população entre 25 e 39 anos de idade tinha maior probabilidade de ser infectada, embora a aids permanecesse concentrada nos grupos de alto risco. A população composta por HSH e UDI masculinos apresentava o maior risco, com taxas de incidência 15 vezes maior que a população em geral.20 Contudo, as taxas de infecção que mais cresciam encontravamse entre as mulheres e a população pobre de pequenas cidades.18 As autoridades das agências de combate à aids referiam-se a essa tendência pelos termos “feminização”, “pauperização” e “ruralização” da epidemia. A resposta no início da década de 80 Como em outras partes do mundo, o HIV carregava um pesado estigma no Brasil. Em geral, o HIV era chamado de “câncer gay” ou “praga gay”. Os ativistas do movimento sanitarista adotaram a aids como uma causa de direitos humanos e uniram-se aos ativistas dos direitos gays para exigir uma resposta do governo. O setor de saúde brasileiro nunca havia enfrentado uma mobilização da sociedade civil tão forte como a que se desenvolveu em torno da aids.16,21 O Estado de São Paulo criou o primeiro programa nacional de controle da aids em 1983. O programa da aids de São Paulo trabalhou em conjunto com muitas ONGs recém criadas que ofereciam serviços para pessoas vivendo com o HIV e aids, levando mensagens de prevenção e distribuindo camisinhas. Quando o Ministério da Saúde criou o Programa Nacional de Controle da Aids5 em 1985, dos 26 estados brasileiros, 11 já tinham programas estaduais (Veja o quadro 5 com histórico da aids).22 Os primeiros programas de controle da aids foram desenvolvidos como uma resposta emergencial. Os líderes se movimentaram rapidamente e aprenderam com a experiência. “Não havia conhecimento sobre o que fazer e como lidar com o problema”, lembra o Dr. Pedro Chequer, representante do UNAIDS no Brasil e ex-diretor do PNA. O Ministério da Saúde criou a Comissão Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais (CNAIDS) em 1985, para orientar a resposta, oferecendo consultoria e apoio científico, técnico e político. A comissão era composta de membros da sociedade civil, do governo e acadêmicos. Foi buscada assistência técnica entre especialistas em saúde pública nos Estados Unidos para controlar o suprimento de sangue para doações no Brasil, estabelecer critérios de diagnóstico da aids e desenvolver o laboratório nacional e os sistemas de vigilância. A Comissão Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais também se tornou um importante veículo para o “controle social” ou a participação pública. Bases para a prevenção O Programa de Controle da aids de São Paulo continuou sendo o centro da resposta brasileira à aids durante a década de 1990. Lá, a sociedade civil organizada de maneira sofisticada, pressionou duramente o governo para expandir os serviços de tratamento e prevenção. Com base no exemplo de São Paulo, em 1992 o diretor do PNA trabalhou em conjunto com os líderes da sociedade civil a fim de conseguir um empréstimo do Banco Mundial para financiar projetos relacionados à aids.14 O projeto de US$250 milhões, com prazo de cinco anos, denominado AIDS I, entrou em vigor em 1994 e apoiou uma vasta expansão dos serviços de prevenção; tinha como alvo as populações de alto risco. Reconhecendo as limitações governamentais para alcançar as populações marginalizadas, o PNA contratou ONGs em todo o Brasil com o objetivo de oferecer serviços de prevenção. Dessa maneira, o PNA evitou governos estaduais e municipais conservadores e financiou programas mais controversos que incluíam: educação e empoderamento de profissionais do sexo; programa de troca de agulhas para usuários de drogas; paradas gays; distribuição de camisinhas em conjunto com campanhas de conscientização durante o período do carnaval, famosa festa brasileira associada a 5 NT – Atualmente, o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. festejos e liberação sexual que atrai milhares de turistas domésticos e internacionais. O influxo de novos recursos financeiros para a aids alimentou a rápida expansão de ONGs relacionadas com a epidemia, assim como de organizações da sociedade civil que, de menos de 50 na década de 1980, cresceram para mais de 500 em 2000.23 Os ativistas da sociedade civil desenvolveram redes sofisticadas e poderosas e fizeram lobbies em favor de questões relativas à aids e aos direitos humanos. Essas ações verificaram-se principalmente nas redes de direitos dos gays nas grandes cidades. Dois projetos adicionais de financiamento pelo Banco Mundial, o AIDS II e o AIDS III, continuaram a apoiar os programas brasileiros de combate à aids entre a década de 1900 e a década de 2000 (veja o quadro 6 para obter uma visão geral do AIDS I-III). Esses dois últimos programas apresentavam abordagens semelhantes ao AIDS I em relação ao financiamento dos serviços de prevenção por meio de ONGS, mas a ênfase mudou para a expansão da infraestrutura do programa e a melhoria dos sistemas de vigilância, monitoria e avaliação (M&A). Tratamento Em 1995, o total anual de mortes por aids no Brasil alcançou o recorde de 15.150.18 Nos países com economias avançadas, a terapia antirretroviral altamente ativa (HAART) mostrara-se eficaz no aumento da sobrevida dos pacientes com aids. Porém, apenas São Paulo e alguns outros estados brasileiros forneciam HAART gratuitamente para todos os pacientes. Organizações não governamentais defendiam o acesso universal ao HAART com base no direito constitucional à saúde. Fundamentadas nesse argumento, as pessoas vivendo com o HIV/aids podiam processar o governo legalmente por não fornecer drogas antirretrovirais (ARV) nem tratamento para as infecções oportunistas. As decisões judiciais em favor das pessoas vivendo com o HIV/aids em conjunto com o ativismo crescente, abriram caminho para uma lei federal, aprovada em 1996, que garantia o fornecimento de ARV para todos os pacientes com aids que atendessem aos critérios nacionais para tratamento6. Considerando os recursos limitados do país, muitas organizações internacionais, incluindo o Banco Mundial, advertiram o Brasil sobre essa lei.9 Ao rejeitar o argumento, o Brasil tornou-se o primeiro país em desenvolvimento a fornecer tratamento universal e gratuito da aids.16 Todo o atendimento e tratamento eram providos gratuitamente pelo SUS e fornecidos em centros de saúde especializados no atendimento ambulatorial de pacientes com HIV e em hospitais especializados em doenças infecciosas. O PNA supervisionava um sistema nacional de laboratórios e a cadeia de suprimento dos antirretrovirais – desde a negociação de preços à distribuição e monitoria. Os municípios e estados administravam a oferta dos serviços de saúde. Os recursos do PNA arcavam os custos com antirretrovirais, mas quase todas as outras despesas com atendimento e tratamento eram cobertas com recursos provenientes do SUS em seus diversos níveis. Os ativistas da sociedade civil continuaram a pressionar o governo para a aquisição das mais novas drogas disponíveis para o tratamento da aids. Esses medicamentos, caros e importados, consumiam uma fatia cada vez maior do orçamento nacional para o combate à aids. Em 2001, o Brasil recrutou o apoio de outros países em desenvolvimento e lançou uma campanha internacional para a disponibilização de 6 Indivíduos requerendo terapia antirretroviral foram classificados apresentando contagem das células TCD4 igual ou inferior a 200/mm3 drogas mais baratas, publicamente atacando as empresas farmacêuticas internacionais. Foram gastos milhões em propaganda nos principais jornais americanos, defendendo o acesso universal ao tratamento da aids como um direito humano. Entre 2001 e 2007, o Brasil iniciou três ações judiciais para quebrar acordos do comércio internacional e fabricar ou comprar versões genéricas dos ARV importados mais caros. Em cada uma dessas ocasiões, o país desistiu depois que os fabricantes reduziram seus preços.24 Em 2006, quase 80% dos US$500 milhões gastos pelo Brasil em ARV eram destinados a drogas importadas. Então, em 2007, após o fracasso das negociações, o mundo viu o Presidente Lula quebrar a patente do efavirenz, uma droga comercializada pela Merck. Lula emitiu uma licença compulsória para a produção doméstica da droga, gerando uma economia estimada em US$30 milhões para os cofres públicos. De acordo com a imprensa, Lula teria dito: “Entre nosso comércio e nossa saúde, escolhemos cuidar da nossa saúde”.25 Liderança Muitos dos ativistas que lutaram por uma abordagem para a aids com base nos direitos humanos, assumiram cargos de liderança nas ONGs e em programas governamentais de combate à aids. Outros entraram para as universidades. Nomes importantes dedicados à questão da aids se alternavam nos cargos no meio acadêmico, na sociedade civil e no governo. O Programa da aids do Estado de São Paulo, por exemplo, teve apenas três diretores em três décadas. Os dois primeiros saíram do programa para liderar o PNA e depois foram trabalhar na Organização Mundial de Saúde (OMS). O forte ativismo da sociedade civil em São Paulo garantiu que o PNA fosse financiado anualmente e protegeu os administradores e projetos dos caprichos políticos durante os períodos eleitorais. Essa estabilidade nas lideranças reforçou a visão unificada do PNA e foi fundamental para seu sucesso, declarou Maria Clara Gianna, diretora do Programa da aids do Estado de São Paulo, em 2009. Da mesma maneira, os líderes do PNA ganharam proteção política para seus projetos e orçamentos. Entretanto, o mesmo não ocorreu com o programa em muitos outros estados e municípios onde a sociedade civil estava menos organizada. Pedro Chequer atribuiu esse capital político a anos de resultados bons e continuados, baseados em uma boa fundamentação científica e trabalho árduo: Desde o começo, os funcionários do Programa Nacional de Controle da aids estão comprometidos com a causa e não apenas com a implantação burocrática de uma política nacional de saúde pública. Trabalham duro. Trabalham mais que oito horas por dia. Trabalham nos finais de semana. Estão sempre online para dar respostas. É muito diferente do sistema normal de saúde pública no Brasil. A resposta à aids é diferente por esse motivo. Mensuração e relatórios A cada projeto do Banco Mundial, o PNA financiava pesquisas epidemiológicas e melhorava seus sistemas de monitoria e avaliação. Entretanto, a coleta de dados confiáveis e tempestivos e a sua utilização para orientar a tomada de decisões continuava sendo a maior fraqueza dos programas de combate à aids em todos os níveis, especialmente na esfera municipal. O sistema nacional de M&A incluía as seguintes medidas em nível nacional, subnacional e na entrega dos serviços de saúde: monitoria rotineira do programa, vigilância e pesquisas, e estudos de avaliação. Embora carente de melhorias, o sistema de M&A para o programa da aids era, sem dúvida, o melhor de todos os programas de saúde brasileiros. Os casos de aids e mortes decorrentes dela, reportados publicamente, forneceram a base para os dados epidemiológicos do Brasil. As informações referentes à incidência do HIV não eram coletadas de modo sistemático. Um relatório do Banco Mundial sobre o Brasil comentou que um “sistema que se baseia apenas na notificação de casos de aids tem uma utilidade muito limitada para o planejamento em tempo real e para a avaliação dos programas de prevenção que têm como objetivo reduzir a transmissão do HIV”.26 A mudança para a notificação de casos de HIV foi proposta diversas vezes, mas nunca adotada. A maioria dos estados, especialmente os mais pobres das regiões norte e nordeste, opunham-se a normas que incorreriam em novos custos para seus sistemas de saúde já sobrecarregados. Em 2003, o PNA criou uma unidade de monitoria e avaliação separada e, utilizando recursos do Banco Mundial, desenvolveu o MONITORAIDS em conjunto com o MS, parceiros técnicos americanos e o Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde. O MonitorAids é um sistema com base na web que reúne dados dos cinco sistemas de informações do MS, de várias pesquisas epidemiológicas e estudos específicos. Seu objetivo inicial era fornecer informações para as políticas do programa e sua implantação, além de promover transparência. Noventa indicadores eram reportados a partir de três áreas: 1) contexto externo, incluindo indicadores socioeconômicos e demográficos, tais como distribuição etária da população, índices de pobreza e serviços de saúde disponíveis; 2) indicadores relacionados com o programa para medir saídas e resultados, tais como despesas com o programa nacional, distribuição do teste rápido e taxas, conhecimento sobre o HIV e uso de camisinhas; e 3) indicadores de morbidade e mortalidade, incluindo a incidência da aids, taxas de mortalidades, taxas da transmissão vertical e prevalência da sífilis por estado. O MonitorAids representou um avanço importante para padronizar e consolidar as informações relacionadas à aids em um único espaço público. Entretanto, de acordo com Francisco Inácio Bastos, epidemiologista do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, a ferramenta não era muito fácil de ser utilizada, especialmente por administradores de programas em nível local que não tinham acesso a dados em tempo real ou, quando tinham, os dados apresentavam-se muito limitados para orientar sua tomada de decisão. Segundo Bastos, “bons dados são necessários em todos os níveis para a atribuição de responsabilidades e tomada de decisão sobre como usar os recursos da maneira mais eficaz para ofertar prevenção e tratamento”. Descentralização Em 2001, todos os estados e centenas de cidades já tinham seu próprio programa de combate à aids, na maioria financiados pelas receitas de impostos locais. O PNA fornecia assistência técnica e financeira para todos os estados e 150 cidades. O PNA continuou a financiar projetos de ONGs diretamente de Brasília, o que lhe permitia investir em suas prioridades. Entretanto, a monitoria de centenas de projetos exigia muito tempo de seus funcionários. Além disso, os funcionários trabalhando em Brasília reconheceram que nem sempre sabiam o que era necessário em nível local. Assim, em 2001, os líderes do PNA decidiram abraçar o princípio da descentralização do SUS e planejaram a transferência de controles financeiros e administrativos para as secretarias estaduais e municipais. De acordo com o Dr. Paulo Teixeira, diretor do PNA em 2001 e diretor fundador do Programa da aids do Estado de São Paulo, o controle centralizado em Brasília tinha sido fundamental para sua expansão nos primeiros anos, quando o sistema de saúde brasileiro era frágil. Contudo, fazia-se necessário maior controle em nível local porque “o Ministério da Saúde em Brasília fica muito distante do processo de desenvolvimento, execução e criação dos projetos”. Entre 2001 e 2003, o Dr. Teixeira liderou o processo de planejamento da descentralização que consistia de oficinas e reuniões com inúmeros interessados, incluindo acadêmicos, líderes de ONGs e autoridades governamentais em todos os níveis. Todos os níveis do SUS adotaram a política da descentralização em 2003 e o PNA iniciou sua implantação em 2004. Os três principais objetivos da política eram: 1) transferir a responsabilidade pelo financiamento e monitoria dos projetos das ONGs para os estados; 2) melhorar a integração dos programas do HIV/aids no SUS em todos os níveis e 3) construir a capacidade local do programa e promover a comunicação entre os governos locais e as ONGs. De acordo com Teixeira, o fortalecimento dos programas estaduais e municipais exigia que o PNA cedesse muito do controle sobre o estabelecimento de prioridades e a entrega de serviços, mas a mudança era necessária para garantir a sustentabilidade a longo prazo. O Programa Nacional de Controle da aids transferiu 10% do seu orçamento para os 26 estados, o distrito federal e 480 municípios (de um total de 5.500). Essas cidades representavam 60% da população e 90% dos casos de aids. Fundos foram alocados com base na prevalência da aids na região, taxa de crescimento da epidemia e força do programa. Cada estado e cidade ficou com a responsabilidade de destinar a mesma quantia recebida com recursos próprios, mas os investimentos locais variaram. Enquanto o Estado de São Paulo destinou um volume correspondente a 25% dos recursos federais recebidos para o combate à aids, o Amazonas contribuiu com 10%. Os Planos Anuais de Ações e Metas (PAM) tornaram-se a ferramenta administrativa básica do programa. Os PAM eram acordos com base em resultados descrevendo como os programas estaduais e municipais investiriam os recursos federais transferidos para alcançar as metas estabelecidas. Os PAM deveriam ser específicos o suficiente para atender às necessidades de cada comunidade, mas teriam que incorporar as orientações nacionais relacionadas à vigilância, prevenção, tratamento e direitos humanos. Cada estado e município tinha que atualizar anualmente seu PAM e as metas “específicas, mensuráveis, apropriadas, realistas e temporais com data final marcada”. Um programa estadual poderia receber um bônus de até US$ 100.000, caso vários requisitos fossem alcançados, tais como a realização de 100% das metas dirigidas aos grupos de alto risco e a transferência de fundos para ONGs por meio de processo licitatório. As cidades também poderiam receber bônus de até US$50.000, caso alcançassem metas similares. Além disso, a cada dois anos ofereceu-se um bônus nacional por inovação.14 Entre 2004 e 2009, o PNA continuou a implantar o processo de descentralização, também chamado de “política de incentivos”. A implantação foi irregular, com alguns estados e municípios assumindo a autonomia financeira adicional, enquanto outros apresentavam dificuldades para fazê-lo. Conforme uma ex-funcionária do PNA e diretora do programa de ONGs do Rio de Janeiro, os procedimentos para a transferência dos recursos financeiros e a responsabilidade pelas políticas para as diferentes esferas governamentais não estavam plenamente desenvolvidos quando as novas regras entraram em vigor em 2004, dificultando ainda mais um processo orçamentário já complexo. De acordo com seu ponto de vista, o processo poderia ter sido beneficiado com um treinamento sobre como executar as novas políticas e procedimentos. Adicionalmente, como a maioria das ONGs trabalhava diretamente com o PNA, seus laços com programas estaduais e municipais para a aids eram muito frágeis. O fortalecimento dos relacionamentos e a construção de laços de confiança mútua teriam auxiliado a transição. Teixeira explica os resultados variados: A política de incentivos não obteve sucesso em todas as regiões e estados, mas ainda é a melhor maneira de avançar. Onde o processo é gerenciado adequadamente, como em São Paulo e outros municípios, é possível ver claramente uma apropriação efetiva pelas instituições locais. As particularidades locais de cada região são mais claras nos projetos e planos desenvolvidos. O Departamento Nacional da aids em 2009 Em 2009, o PNA se tornou o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. A mudança representou uma institucionalização governamental, mas teve pouco efeito sobre as operações rotineiras. A missão do Departamento era “formular e fomentar políticas públicas de DST, HIV/aids e hepatites virais de forma ética, eficiente e participativa, fundamentadas nos Direitos Humanos e nos princípios e diretrizes do SUS”. O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais desenvolve e executa as políticas e normas nacionais, gerencia o sistema de vigilância nacional e os sistemas de informações, transfere recursos para os estados e cidades, fornece treinamento técnico e soluciona conflitos locais. Embora o Departamento monitore a implantação dos programas locais, tem pouco controle direto sobre o desenvolvimento e entrega de serviços e programas nas esferas estaduais e municipais. “Se as cidades ou estados não concordam com alguma coisa, é muito difícil forçar a agenda”, disse a Dra. Mariângela Galvão Simão, que trabalhou durante décadas em secretarias municipais e estaduais. “Decisões verticais, de cima para baixo, não funcionam mais. É preciso conversar com os parceiros”. Entre 2007 e 2009, o NAP criou metas e diretrizes para a prevenção do HIV visando três populações especiais: mulheres, incluindo profissionais do sexo e transexuais; homens gays e outros HSH; e a população indígena. Os estados e municípios deveriam incorporar essas diretrizes em seus PAM anuais. As diretrizes basearam-se em dados epidemiológicos relevantes e estratégias de prevenção comprovadas e estabeleciam atividades e objetivos específicos para cada nível do governo. O processo para a criação e adoção das diretrizes nacionais de prevenção exigiu a participação de organizações da sociedade civil e várias rodadas de negociação com autoridades locais e estaduais. Essas diretrizes foram aprovadas pelas secretarias de saúde estaduais e municipais, conselhos de saúde e, no final, pelo CNAIDS, antes de serem consideradas como a política oficial do governo. Mariângela Simão observou que o processo foi altamente inclusivo e, portanto, vagaroso e árduo, mas a inclusão legitimou as diretrizes e concedeu aos funcionários influência política para impor a implantação nos estados e municípios. Estrutura organizacional O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais tem como sede um novo edifício, todo de vidro, ao lado de um conjunto de escritórios do MS em Brasília. O Departamento foi organizado em nove unidades programáticas e sete unidades de suporte (veja quadro 7 contendo o organograma). Os chefes das unidades ficavam em carteiras entre os cubículos dos funcionários e não em escritórios fechados. As divisões baixas entre os cubículos facilitavam a comunicação interna. A unidade de relacionamento com a sociedade civil e organizações de direitos humanos ficou localizada perto da unidade de prevenção e a equipe de vigilância epidemiológica sentava-se perto da equipe de monitoria e avaliação. O andar superior do Departamento foi destinado ao Centro Internacional de Cooperação Técnica em HIV e aids. Seus sete funcionários haviam prestado consultoria, desde 2005, a 20 países para o fortalecimento de programas de combate à aids. Todos os 219 funcionários foram contratados como assessores por meio de organizações das Nações Unidas, excetuando-se 19 dos mesmos. Tal estrutura de contratação permitiu ao Departamento pagar salários maiores aos seus funcionários, em comparação com outros funcionários públicos, e evitar a burocracia governamental para contratações. Contudo, também reduziu a estabilidade no emprego e contribuiu para a rotatividade do quadro funcional. Ao instituir um “Departamento”, os gestores planejaram dobrar o número de funcionários públicos contratados. Mais da metade dos funcionários do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais trabalharam formalmente em ONGs de aids, incluindo o vice-diretor Eduardo Barbosa.27 Com o objetivo de expandir a cobertura nacional e compartilhar o financiamento dos programas, as autoridades coordenaram esforços com outros setores governamentais. Por exemplo, representantes de outros ministérios, incluindo educação, direitos humanos e o ministério da defesa, eram membros do CNAIDS. A secretaria de direitos humanos ajudou a organizar e financiar as campanhas de prevenção em eventos promocionais, tais como as paradas gays. O Departamento Especial de Políticas para Mulheres e três órgãos das Nações Unidas ajudaram a lançar o Plano Nacional de Combate à Feminização da Aids. Os Departamentos da aids e Políticas para as Mulheres também organizaram uma parceria para a campanha de prevenção para o Carnaval 2010, que tinha como alvo jovens mulheres, com o slogan: “Camisinha. Com amor, paixão ou só sexo mesmo. Use sempre”. Orçamento Em 2009, o orçamento do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais foi de US$ 845 milhões, representando 2,5% do orçamento do MS. Mais de 75% do orçamento do Departamento foi destinado aos cuidados e tratamento da aids e a maior parte dessa quantia foi investida na compra de ARV. A vigilância e prevenção respondeu por 13% do orçamento e 11% foi transferido para os estados e municípios mediante o plano de descentralização. Quase todas as despesas com a aids foram cobertas com recursos públicos. De acordo com a Dra. Mariângela Simão, a negociação por preços mais acessíveis para os ARV foi crucial para a sustentabilidade a longo prazo. A média de despesas com ARV por paciente caiu em 25% entre 2003 e 2009, enquanto a oferta de drogas aumentava (veja os quadros 8 a 11 contendo informações sobre orçamentos). Segundo Mariângela Simão, o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais era adequadamente financiado. Os governos estaduais e municipais ficaram responsáveis pela maior parte do financiamento e entrega dos programas de combate à aids. O apoio local dos estados e municípios foi variado. Na cidade de São Paulo, os recursos federais representaram apenas 8% dos dispêndios totais com a aids. Durante o ano de 2009, o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais negociou um quarto projeto com o Banco Mundial, chamado AIDS-SUS, para entrar em vigor em 2010, focando o fortalecimento do sistema de saúde e melhorando a governança em todos os níveis (veja o quadro 12 para obter uma visão geral do AIDS-SUS). O MS financiou US$133 milhões do projeto com valor total de US$200 milhões. A razão principal para trabalhar em conjunto com o Banco Mundial não era a obtenção de recursos financeiros; o Departamento valorizava a monitoria de um parceiro externo: “Eles nos mantêm organizados”, explicou a Dra. Mariângela Simão, “são extremamente exigentes”. Política Nacional de Prevenção A política para a prevenção e controle do HIV consistiu de três áreas de atividades integradas: 1) garantir o acesso universal e gratuito ao cuidado e à terapia antirretroviral; 2) expandir o acesso a diagnóstico e prevenção e 3) manter um relacionamento proativo com a sociedade civil independente. Para Mariângela Simão, todo o departamento trabalhava em conjunto contribuindo para a prevenção; mas uma equipe composta de 20 pessoas foi basicamente responsável pela coordenação das iniciativas de prevenção, incluindo a distribuição de camisinhas, material educativo e testes rápidos do HIV, além de gerar demanda por esses serviços por meio da mídia e de campanhas educativas. A unidade de prevenção também enfocou ações para reduzir a vulnerabilidade entre as pessoas vivendo com HIV/aids, profissionais do sexo, homens gays e outros HSH, usuários de drogas, prisioneiros, mulheres, travestis, população negra e indígena e os jovens (veja o quadro 13 para obter exemplos de intervenções com grupos de alto risco). A unidade de prevenção foi organizada em três áreas de foco: 1) integrar os serviços de prevenção no sistema de serviços de saúde pública; 2) ter como alvo os serviços para grupos vulneráveis; e 3) administrar a compra e distribuição de materiais de prevenção, tais como camisinhas, lubrificantes e panfletos educativos. O gerente assistente da unidade de prevenção descreveu a filosofia da unidade: Percebemos a prevenção como uma extensão do direito humano à saúde. Estamos tentando ir um pouco além ao insistir que o acesso a tudo que você precisa para evitar uma infecção pelo HIV ou uma DST é um direito. Se precisa de camisinhas, tem de saber onde consegui-las. Se precisa de informações, tem o direito de obtê-las. Contudo, sabemos que apenas conhecimento não é o suficiente para mudar comportamentos e, portanto, perguntamos: o que mais é necessário? Fizemos grandes progressos com a prevenção no Brasil durante muitos anos, mas precisamos fazer mais, especialmente para os grupos vulneráveis. Exames e Tratamento A Drª. Mariângela Simão rejeitou a crítica de que o Brasil priorizou o tratamento às custas da prevenção. De acordo com seu ponto de vista, as duas metas são inseparáveis. “Se não houver ARV”, disse, “tudo o mais que fizermos vai por água abaixo. Temos que fazer tudo e bem”. Ela prossegue: “Do ponto de vista médico, não acredito que qualquer programa de prevenção possa ter sucesso se não cobrir o acesso universal ao tratamento porque não terá legitimidade. O centro da nossa resposta é o acesso universal ao tratamento, pois podemos relacionar tudo mais a ele; podemos falar sobre diagnóstico precoce porque vamos oferecer o tratamento”. O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais era responsável pela compra de ARV, pelo estabelecimento de padrões e diretrizes para o tratamento, pela certificação de instituições e a manutenção dos sistemas do laboratório nacional e o sistema de informações de rastreamento dos medicamentos. As secretarias estaduais e municipais de saúde ficaram responsáveis pela distribuição e monitoria do tratamento com ARV. Utilizando o Sistema Nacional de Controle Logístico de Medicamentos para rastrear todos os pacientes em tratamento, o Departamento estimou que 95% (cerca de 190.000) dos pacientes com diagnóstico de aids, precisando de ARV, estavam recebendo o tratamento. A maior parte do tratamento da aids era fornecido em 625 ambulatórios especializados em aids. Os pacientes recebiam a medicação em farmácias credenciadas. Essas instituições concentravam-se nas áreas urbanas; o sudeste contava com 320 locais de distribuição de ARV, enquanto que o extenso norte dispunha de apenas 29.16 Todos os serviços eram oferecidos gratuitamente pelo SUS, mas ainda havia barreiras, como Mariângela Simão descreveu em 2007, em artigo publicado no AIDS Journal: “Mesmo com acesso gratuito aos ambulatórios e laboratórios e uma rede de distribuição razoavelmente funcional, e apesar do tamanho continental do país, a expansão da epidemia nas pequenas cidades e nas populações carentes significa que muitos pacientes não conseguem ter acesso aos cuidados médicos nos pontos de distribuição porque não têm dinheiro para o transporte”.24 Em 2009, os pacientes aidéticos tinham acesso a 19 diferentes ARV, disponíveis em 32 combinações distintas, dos quais 13 eram produzidos no Brasil e 19 eram importados.28 Esses últimos respondiam por 70% dos custos com ARV. Mariângela Simão passou a maior parte do seu tempo gerenciando a logística dos ARV, incluindo negociação de preços com indústrias farmacêuticas internacionais. A equipe de prevenção do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais desenvolveu materiais para sensibilizar os profissionais de saúde com relação às necessidades das populações vulneráveis e para discutir a prevenção entre os portadores do HIV. A unidade de prevenção também trabalhou junto aos estados e municípios para aumentar as taxas de teste do HIV, particularmente na área de cuidados básicos para mulheres grávidas. Dois terços de todos os testes realizados no Brasil eram realizados no sistema público de saúde. As evidências sugeriam que as taxas de testes eram insuficientes; 44% dos pacientes com aids eram diagnosticados depois que apresentavam sintomas de imunodeficiência e 29% estavam tão doentes que morriam no início do tratamento.20 Externamente ao sistema de saúde básica, 384 centros de testagem e aconselhamento (CTA), espalhados pelo país, ofereciam testes convencionais e rápidos de HIV e DST, além de aconselhamento voluntário. Os CTA se concentravam em cidades com incidência média a alta de aids apresentando taxas de testagem duas vezes maior do que aquelas que não tinham CTA. Uma cidade no interior de São Paulo tornou-se uma referência nacional ao oferecer testes de HIV que atendiam a diferentes populações. Nos centros de saúde, ofereciam os testes especialmente para as mulheres; os homens gays e travestis eram atendidos nos CTA e uma clínica móvel levava o teste do HIV para a população da zona rural. O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais vinha trabalhando com o objetivo de aumentar o uso do teste rápido de HIV desde que o protocolo nacional foi adotado em 2005. A disponibilidade do teste rápido era essencial para melhorar a prevenção da transmissão vertical (da mãe para o filho), pois não exigia equipamento laboratorial, o que o tornava ideal para uso em áreas isoladas. Os resultados ficam prontos em menos de 30 minutos, permitindo imediato aconselhamento e encaminhamento. Trabalhando em conjunto com os Centros de Controles de Doenças dos Estados Unidos e o Global AIDS Program (CDC-GAP), o Departamento capacitou os órgãos estaduais para treinar sua força de trabalho no uso do teste rápido. O processo funcionou adequadamente em estados bem organizados, com recursos humanos suficientes, mas não em outros. O Departamento forneceu assistência técnica e recursos financeiros adicionais para ajudar os estados a fortalecer as cadeias de suprimento do teste rápido, evitando falta de estoque. Camisinhas O principal método utilizado pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais para evitar a disseminação do HIV foi a promoção do uso da camisinha. O Brasil era o maior comprador mundial de camisinhas. Em 2007, o MS comprou 1 bilhão de camisinhas masculinas, 8 milhões de camisinhas femininas e 15 milhões de unidades de lubrificantes para distribuição aos estados e ONGs.14 Em 2009, houve uma distribuição recordista de 465,2 milhões de camisinhas masculinas para os estados e ONGs. Os estados distribuíram seus suprimentos para cidades e ONGs, para serem entregues em locais de aconselhamento e testagem de HIV, clínicas de saúde, escolas e outros pontos. São Paulo, sozinho, distribuiu 8 milhões de camisinhas por mês.29 As vendas de camisinhas no setor privado também cresceram de maneira constante a partir de 1992, chegando a 422 milhões em 2008. Em 2002, uma lei federal permitiu a venda de camisinhas em qualquer ponto comercial. Em 2009, um pacote com três camisinhas custava cerca de US$ 1.30 Pesquisas indicaram que quase todos os brasileiros sabem que a camisinha pode evitar a transmissão de DST e HIV; contudo, estudos acerca de conhecimento e comportamentos nacionais revelaram que somente metade das pessoas a usavam de maneira consistente. “Alcançamos um ponto de saturação na promoção de camisinhas com a abordagem que temos usado”, informou um funcionário da unidade de promoção. “Pela primeira vez em 20 anos, observamos uma tendência de declínio no uso de camisinhas. É um imenso desafio... Tivemos grandes avanços na prevenção no Brasil durante muitos anos. Agora, estamos em um ponto que é bom, mas precisamos fazer mais, especialmente para os grupos vulneráveis”. Comunicação e campanhas educativas O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais trabalhou em conjunto com o Ministério da Educação para desenvolver e implantar, nas escolas, um currículo nacional de prevenção de DST/HIV e saúde sexual. Em 2009, 7% das escolas distribuíram camisinhas e 90% das escolas de nível médio do país tinham algum tipo de programa de prevenção de DST e HIV.28 Em torno de 20% adotara o currículo expandido criado em 2007, anunciado pelo Presidente Lula e financiado pelo Ministério da Educação. De acordo com Mariângela Simão, essa “foi a primeira vez na minha vida profissional em que o Ministério da Educação tirou recursos do seu orçamento e colocou-os no programa de saúde”. O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais patrocinou duas campanhas anuais na mídia nacional – no dia mundial de luta contra a aids, em dezembro, e no carnaval. Grupos da sociedade civil, entretanto, queixaram-se de que o governo, em todos os seus níveis, não estava fazendo campanhas de comunicação em massa em número suficiente. Chequer ouviu a crítica. Ao invés de duas campanhas por ano, sugeriu que houvesse pelo menos cinco, diferenciadas conforme cada região do país. “Ainda não há acesso universal à prevenção”, declarou. “Visite o Amazonas, por exemplo, ou regiões muito pobres onde há falta de informações”. Mariângela Simão discordou: “Não acreditamos que a falta de informações entre a população em geral seja o maior problema no Brasil hoje”, declarou. “Estamos tentando enfocar nossos esforços de prevenção nas populações de maior risco”. Monitoria e avaliação Três unidades do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais coletavam dados e realizavam M&A: a unidade de M&A, a unidade de vigilância e a unidade de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Não estava claro qual das unidades era responsável pelo desenvolvimento de uma estratégia de longo prazo. Cinco centros regionais de referência em M&A foram estabelecidos em 2005 para fornecer assistência técnica em nível local, mas três deles perderam o financiamento quando os estados assumiram a responsabilidade por sua manutenção. O Departamento queria construir uma cultura baseada em dados nos sistemas de saúde locais e na sociedade civil, mas houve muitas dificuldades, especialmente em decorrência do alto grau de rotatividade dos funcionários em todos os níveis. O Banco Mundial relatou em 2009 que, apesar de progresso significativo, as atividades de monitoria e avaliação existentes tinham obtido sucesso moderado na coleta de dados abrangentes que fossem capazes de orientar as decisões dos programas. Dados básicos fundamentavam-se em estudos pequenos e geograficamente limitados, e as informações sobre grupos remotos eram pobres e esparsas. Em 2009, a unidade de M&A do Departamento trabalhou em conjunto com pesquisadores em universidades para realizar 10 estudos sobre grupos de alto risco, montando o primeiro banco nacional de informações sobre HSH, UDI e profissionais do sexo. O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais identificou três problemas principais para abordagem no quarto projeto do Banco Mundial: 1) melhorar a compreensão e senso de propriedade de uma gestão baseada em resultados, especialmente nos níveis estaduais e municipais; 2) avançar com a descentralização do treinamento em monitoria e avaliação e 3) melhorar a conexão entre a monitoria das atividades e dos recursos financeiros utilizando o sistema de monitoria do PAM. A abordagem dessas questões exigiria um aumento dos recursos humanos, melhor qualidade na coleta de dados e melhoria na disseminação dos dados em nível local para a tomada de decisões. Descentralização em 2009 Desde 2004, o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais monitorava a implantação da política de descentralização por meio de um sistema de relatórios baseados na web e disponibilizados para o público. As três metas do sistema de monitoria eram: 1) gerar dados suficientes para informar o processo anual de planejamento do PAM e as decisões fundamentais dos programas; 2) assegurar a transparência no uso dos recursos financeiros e a capacidade dos gestores de utilizar esses recursos para implantar a resposta local e 3) monitorar a implantação dos acordos feitos entre as unidades do SUS nos níveis municipais, estaduais e federais, com relação à disponibilidade de camisinhas e medicamentos para DST e infecções oportunistas. O sistema de monitoria baseado na web permitia que os cidadãos acompanhassem os PAM e o progresso dos estados e municípios (veja o quadro 14 para obter os indicadores de M&A). Em 2007, o sistema registrou que 75% dos estados e municípios haviam alcançado pelo menos 75% das suas metas.14 No final de 2009, a cidade de São Paulo alcançou 99% dos objetivos. O coordenador do programa da aids da cidade comentou sobre a necessidade da política de descentralização: O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais trabalha com números e estatísticas, mas a cidade trabalha com pessoas e nós conhecemos as demandas da população. Um modelo único de prevenção e tratamento não consegue atender às necessidades de uma cidade. São Paulo é uma grande cidade e as populações dos diferentes bairros têm necessidades diferentes. No centro da cidade, moradores de rua e usuários de drogas são os principais problemas. Em outras áreas há muitos profissionais do sexo e podemos direcionar o programa para suas necessidades. Em 2009, o PNA transferiu cerca de US$ 90 milhões para os programas estaduais e municipais.31 Em alguns lugares, as quantias ficaram nas contas bancárias e não foram gastas. Um dos problemas básicos foi a falta de êxito na transferência de 10% do financiamento federal da aids para as ONGs trabalhando com populações vulneráveis. Além das dificuldades políticas, alguns estados e municípios não tinham contas organizadas para a saúde ou funcionários suficientes com experiência em contabilidade para executar as transferências de fundos. Adicionalmente, as complicadas leis orçamentárias do Brasil se tornaram imensas barreiras burocráticas para a contratação de ONGs em muitos estados. Cada orçamento governamental exigia a aprovação do corpo legislativo correspondente, o que significava que alterações do orçamento no meio do ano fiscal consumiam tempo e, às vezes, eram impossíveis. Outras leis limitavam aumentos no orçamento de um ano para o outro e o percentual que poderia ser gasto com recursos humanos. Um professor de políticas da saúde observou que são “tantas as condições e burocracias para o gasto do dinheiro público, criadas para combater a longa história de corrupção, que acabam criando um sistema muito complexo, dificultando a capacidade dos gestores de realizar seu trabalho”. Levando em consideração esses desafios, além das dificuldades políticas de interromper as transferências de fundos ou de buscar a devolução dos recursos de estados com desempenho insatisfatório, o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais escolheu não penalizar os estados e municípios. Em vez disso, o setor de planejamento e orçamento ofereceu assistência técnica para ajudar os programas com dificuldades a melhorar seu planejamento orçamentário e suas políticas de contratação. Primeiro, ofereceram assistência via telefone ou videoconferência e então, quando necessário, enviaram consultores em pessoa. O Departamento também patrocinou oficinas sobre orçamento e planejamento para funcionários de estados e municípios. Uma outra maneira utilizada pelas autoridades para influenciar os programas locais foi chamar a atenção para programas que não estavam cooperando. No Dia Mundial de Luta contra a aids de 2009, por exemplo, Mariângela Simão deu uma entrevista coletiva para anunciar onde os casos de aids estavam crescendo mais rapidamente e como esses estados e municípios haviam gasto os recursos financeiros federais. De acordo com Eduardo Barbosa, vice-diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, ela “publicamente comparou o desempenho de São Paulo com o do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, sabendo que esses governos teriam que explicar para a mídia porque não haviam gasto os milhões de recursos federais para implantar programas de prevenção enquanto os casos de aids aumentavam”. Rio de Janeiro Em dezembro de 2009, a cidade do Rio de Janeiro tinha alcançado apenas 53% das metas do PAM e estava 53 meses atrasada no investimento dos recursos federais para a aids. Milhões de reais de fundos federais destinados a programas contra a aids e ONGs encontravam-se paralisados em uma conta bancária.32 Da Vida, uma ONG fluminense que apóia os profissionais do sexo, recebia financiamento e camisinhas para seus programas de atenção e prevenção do HIV diretamente do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Como a maioria das ONGs do Rio de Janeiro, Da Vida não tinha recebido apoio público desde 2005, quando o estado ficou responsável pelo financiamento das ONGs. O suprimento mensal de camisinhas dessa ONG caiu de 20.000 para 5.000 porque o estado fracassou em manter o fornecimento. Os programas de redução de danos para UDIs no Rio de Janeiro também sofreu com a política de descentralização. Os programas de troca de agulhas da cidade haviam funcionado bem por cerca de 10 anos, mas a política de descentralização foi descrita como “o começo do fim” para eles. Além dos problemas burocráticos na gestão do novo fluxo de recursos, os líderes políticos do Rio de Janeiro não apoiavam os programas de troca de agulhas. Rio Grande do Sul Localizado no extremo sul do Brasil, o estado do Rio Grande do Sul e sua capital, Porto Alegre, estavam entre as regiões mais ricas e desenvolvidas do país. Em 2009, também apresentavam a taxa mais alta de novos casos de aids em nível nacional. A taxa de incidência em Porto Alegre era quatro vezes maior que a da cidade de São Paulo.18 Durante toda a década de 1990, os programas de combate à aids e as organizações da sociedade civil eram considerados como os melhores do país, especialmente os destinados à redução de danos de UDIs. Contudo, em dezembro de 2009, o Rio Grande do Sul e Porto Alegre tinham implantado, cada um, apenas 70% das metas do PAM e estavam 23 meses atrasados no gasto dos fundos federais para o combate à aids.32 O cargo de coordenador estadual para a aids estava vago há seis meses e milhões de reais aguardavam destinação. Em 2009, a maioria das ONGs de aids tinham se deteriorado em decorrência do financiamento insuficiente. Muitas já não eram mais capazes de continuar a fornecer serviços ou de protestar publicamente contra a negligência do governo. Frustração das ONGs Veriano Terto Jr., diretor da respeitada ONG nacional ABIA, em conjunto com outros líderes da sociedade civil, estavam perdendo a paciência com a abordagem da descentralização. Terto era favorável ao retorno para o sistema em que o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais financiava diretamente os projetos da sociedade civil. O Departamento relutava em atender essas demandas porque contrariavam o princípio da descentralização do SUS e acabariam por transferir de volta a responsabilidade pelos projetos das ONGs enquanto os estados e municípios usufruiriam dos benefícios. Outra solução proposta pelas ONGs foi o de reaver os valores não gastos pelos estados com desempenho insatisfatório e redistribuir os recursos para os estados que estavam atingindo as metas. Embora não pudesse provar, Terto acreditava que a incidência crescente de casos de aids no Rio Grande do Sul estava relacionada à negligência com os programas de combate ao HIV/aids. Terto expôs assim sua impaciência: Muitas das iniciativas que haviam sido desenvolvidas no sul, nos últimos 15 a 20 anos, tais como os programas de redução de danos, estão sendo negligenciadas, abandonadas, e estamos perdendo-as. Para as ONGs, as coisas funcionavam melhor antes da descentralização. O governo federal anunciava projetos e questões a serem financiadas e nós enviávamos os projetos para Brasília, participando de um processo licitatório para obter o financiamento. Então, era aprovado ou não. No final de um ou dois anos, quando o projeto terminava, passávamos por um processo de avaliação de responsabilidades. Ouvimos os ministros da saúde dizerem que a descentralização é uma coisa boa e que é uma boa solução para a gestão da saúde, mas, às vezes, a descentralização não é a resposta, pois não é uma questão técnica. É uma questão política. Fortalecimento da sociedade civil Como o Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais não precisava mais supervisionar todos os contratos com ONGs, a unidade de direitos humanos e sociedade civil concentrou esforços nos lugares que estavam enfrentando dificuldades com a descentralização. Em geral, eram áreas onde a advocacia da sociedade civil não tinha força e encontrava resistência por parte do governo. Um funcionário da unidade de direitos humanos e sociedade civil afirmou: “O que esta unidade percebe é que, onde a sociedade civil está bem organizada, como no Estado de São Paulo, tudo acontece com eficiência e os gestores públicos que são ineficientes não se mantêm no cargo. O mesmo não ocorre onde a sociedade civil não se encontra bem organizada”. A maioria dos 13 funcionários da unidade de direitos humanos e sociedade civil já tinha trabalhado em ONGs de aids. Suas responsabilidades incluíam coordenar a representação da sociedade civil nos comitês nacionais e apoiar as redes de ONGs por meio das quais ONGs mais experientes se uniam a outras mais fracas para compartilhar conhecimento e construir a capacidade política e técnica. Os funcionários buscaram criar oportunidades para a participação da sociedade civil nos processos de políticas estaduais e municipais e administraram os relacionamentos com membros do congresso que defendiam questões referentes à aids e direitos humanos. Um advogado, funcionário do Departamento, fornecia consultoria legal para as ONGs e para a Suprema Corte do Brasil em questões relacionadas aos direitos humanos e o HIV. Os funcionários federais foram cautelosos para não infringir a autonomia dos governos estaduais e municipais. Assim, a mudança ocorreu mais vagarosamente que o esperado. O vice-diretor do Departamento, Eduardo Barbosa, defendeu o trabalho de apoio à sociedade civil. Acreditava ser necessário pressionar a inclusão da questão da aids nas agendas políticas locais e melhorar a atribuição de responsabilidades. Barbosa passava apenas 10 dias por mês em seu escritório em Brasília e o restante do tempo viajando pelo país e se reunindo com líderes da sociedade civil e dos programas municipais de aids. “O principal foco das visitas é tentar ouvir as demandas da população e entender suas necessidades para que possamos ajudar os programas locais a atendê-las”, disse Barbosa. “Nem sempre é fácil, pois há diferenças políticas e conflitos nessas áreas”. Chequer acreditava que os funcionários do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais deveriam passar mais tempo fora de Brasília para fortalecer as ONGs nas zonas rurais. “No Brasil, as ONGs sabem falar com a imprensa sobre os problemas nacionais, mas não são organizadas o suficiente para pressionar os governos locais”, disse Chequer. “Há uma necessidade crescente de ajudar as ONGs a se organizar e aprender sobre o processo político. Localmente, não há pressão social suficiente para a implantação das atividades e o uso correto dos recursos financeiros”. Uma fonte de constantes debates era como tornar as organizações da sociedade civil independentes do governo, tendo em vista a sua dependência de financiamentos públicos. Líderes de organizações não-governamentais reconheceram o conflito de interesses inerente à dependência de recursos governamentais, mas, em 2009, alguns doadores internacionais patrocinaram os projetos de aids do país. Pelos padrões do Banco Mundial, o Brasil havia alcançado o status de país de renda média alta e já era considerado um sucesso por muitos. Progresso Uma pesquisa de 2008 revelou que 97% dos brasileiros sabiam que o HIV podia ser transmitido sexualmente e que a camisinha poderia protegê-los da transmissão. Os resultados da pesquisa nacional também mostraram que 46% dos brasileiros afirmaram usar camisinha ao fazer sexo com um parceiro casual, um aumento de 9% quando comparado com 1989.20 Em 2009, 47% das profissionais do sexo recebiam assistência de programas de prevenção. Destas, 77% recebiam camisinhas gratuitas e 57% sabiam onde realizar o teste gratuito do HIV. Metade dos profissionais do sexo relataram que sempre usavam camisinha com todos os clientes. Entre os UDIs, 40% informaram ter acesso a programas de prevenção, 49% sabiam onde realizar o teste gratuito do HIV e 28% recebiam camisinhas gratuitas. Metade dos UDIs relataram que não haviam compartilhado seringas nos 12 meses anteriores e 70% confirmaram o uso de camisinha na última vez que fizeram sexo com um parceiro casual.28 Cerca de um terço dos pacientes com HIV começaram a receber os serviços de saúde quando a contagem do CD4 estava abaixo de 200, indicando doença avançada, mas o teste de HIV e as taxas de mortalidade variaram conforme a região. A distribuição do teste rápido aumentou de 530.000 em 2005 para 1,75 milhões em 2008. Em 2008, 41% da população com idade superior a 14 anos na região sudeste tinha feito o exame do HIV, em comparação com 27% no nordeste.20 A sobrevida média entre os pacientes aidéticos na década de 1980 era de cinco meses. Entre os diagnosticados em 1996, era de 58 meses e, em 2009, as taxas de sobrevida média eram de 108 meses, comparáveis aos de países desenvolvidos.33,14 O risco de morte dentro de um ano após o diagnóstico da aids no norte e nordeste, entretanto, era três vezes maior que no sudeste.14 No âmbito nacional, 62% das mulheres grávidas fizeram o teste de HIV durante os exames pré-natais em 2006, um aumento de 52% com relação a 2000. Porém, 19% das mães nunca fizeram o exame e outras 19% receberam apenas o teste rápido durante o parto. As taxas de testagem variaram de 85% no sul para 40% no nordeste.14 As mulheres em pequenas cidades tinham menor probabilidade (51%) de fazer o teste do que as residentes nas grandes cidades (71%). Em 2007, 323 bebês foram infectados com o HIV por suas mães, uma queda quando comparado com o pico de 1.019 uma década antes.18 A porcentagem de bebês HIV-positivos, entretanto, é duas vezes maior no norte do que a média nacional de 6,8%.20 Entre 1997 e 2007, o MS estimou que o acesso ao HAART evitou 1,3 milhões de hospitalizações, representando uma economia de US$ 1,1 bilhões. O número médio de hospitalizações por paciente por ano em 1996 era de 1,65. A essa taxa, o MS esperava 1,6 milhões de hospitalizações relacionadas com o HIV/aids durante a década, mas apenas 293.074 foram registradas.34 O período médio de hospitalização relacionada com a aids em 2007 era de 17 dias, comparado a 5,8 para todas as hospitalizações pelo SUS.20 As evidências sugeriam que a resistência às drogas de primeira linha era baixa no Brazil, indicando aderência ao tratamento.24 Olhando para o futuro Todos os dias a Dr.ª Mariângela Simão refletia sobre os esforços dos funcionários para garantir que os 190.000 pacientes recebessem o tratamento antirretroviral necessário. Suas preocupações giravam em torno do que o Departamento Nacional poderia fazer a curto e longo prazo a fim de melhorar o atendimento aos pacientes, evitar novas infecções pelo HIV e assegurar que essas ações fossem mantidas indefinidamente. Em seu ponto de vista, a prevenção eficaz do HIV no Brasil tinha de enfocar as populações de maior risco, ser descentralizada e funcionar por meio do sistema de saúde. Entretanto, cada uma dessas áreas apresentava seus desafios. O Departamento Nacional era mais progressista do que muitos estados e municípios quando se tratava de trabalhar com as populações marginalizadas. Como seria possível pressionar por uma agenda de prevenção do HIV para proteger e apoiar as pessoas com maior risco de infecção e ao mesmo tempo respeitar a autonomia dos governos locais? Uma forte advocacia da sociedade civil e a provisão de serviços por meio de ONGs tinha sido a espinha dorsal da resposta brasileira ao HIV. Entretanto, em 2009, muitas ONGs estavam à beira de um colapso e as populações de alto risco estavam sendo negligenciadas nos locais onde o governo fracassara em lhes dar apoio. Os ativistas da aids se sentiam cada vez mais frustrados. O Departamento Nacional deveria continuar a prover assistência técnica ou adotar ações mais enérgicas nos locais onde a política da descentralização fracassara? Finalmente, a redução da transmissão vertical do HIV e a garantia do acesso tempestivo à testagem, ao tratamento e cuidados médicos dependia do fortalecimento do sistema de saúde básica do Brasil. Como o departamento da Dr.ª Mariângela Simão poderia fortalecer o sistema de saúde em meio à vasta desigualdade de um país tão extenso? Apêndice Abreviações ARV CNAIDS CTA DOTS DST DTP3 HAART HSH M&A MS ONG PNA PAM PIB PSF SUS UDI Drogas antirretrovirais Comissão Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais Centro de Testagem e Aconselhamento Tratamento diretamente observado de curto prazo Doenças sexualmente transmissíveis Terceira dose da vacina contra difteria, coqueluche e tétano Terapia antirretroviral altamente ativa Homens que fazem sexo com homens Monitoria e avaliação Ministério da Saúde Organização não governamental Programa Nacional de DST e Aids Planos de Ações e Metas Produto Interno Bruto Programa Saúde da Família Sistema Único de Saúde Usuário de Drogas Injetáveis Quadro 1 Mapa do Brasil Fonte: Disponível no domínio público Quadro 2 Óbitos por todas as causas, 2005 Número total de óbitos geral, 2005 Ferimentos 11% Deficiências nutricionais comunicáveis, maternas e perinatais 17% Diabete 5% Aids 0.01% Doenças Resperatôrias Crônicas 8% Doenças Cardiovasculares 32% Câncer 15% Fonte: Organização Mundial de Outras Doenças Crônicas Saúde 12% Quadro 3 Indicadores epidemiológicos da aids 1997 0,6% 17,2 23,4 11,1 2,1 27.403 12.078 7,6 1.041 22% 22,6% Prevalência total da infecção pelo HIV em adultos Taxa de incidência da aids (por 100.000 hab.) Taxa de incidência em homens (por 100.000 hab.) Taxa de incidência em mulheres (por 100.000 hab.) Razão homens/mulheres Novas infecções por aids, anualmente Número de óbitos por aids, anualmente Taxa de mortalidade por aids (por 100.000 hab.) Casos de transmissão vertical Proporção de casos entre HSH Proporção de casos entre UDIs Fonte: Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais Quadro 4 Prevalência da aids por região no Brasil, 2000-2008* Brasil Norte Nordeste Centro-oeste Fonte: Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais * por 100.000 habitantes Sudeste Sul 2009 0,61% 18,2 22 13,9 1,8 33.090 11.532 6,1 406 18% 7,4% Quadro 5 Histórico da resposta brasileira ao HIV/aids 1982 1983 Sete casos de aids entre homens gays são diagnosticados em São Paulo. A secretaria de saúde de São Paulo implanta o primeiro programa para a aids do país, regulamenta a notificação compulsória e lança uma campanha de conscientização. 1984 10 casos entre hemofílicos são diagnosticados. 1985 Eleições democráticas encerram duas décadas do regime militar. Onze estados implantaram programas para a aids e o Ministério da Saúde cria um programa nacional. 1986-1990 O Programa Nacional da Aids, centralizado, inicia implantação de programas. 1986 O governo federal brasileiro regulamenta a notificação compulsória de casos de aids. O Estado de São Paulo regulamenta testes dos suprimentos de sangue. A OPAS fornece assistência técnica. 1987 O Programa Nacional da Aids começa a coordenar as atividades; 26 bebês são diagnosticados com o HIV. 1988 O Brasil adota uma nova constituição federal declarando a “saúde como um direito humano básico”, exigindo que o governo forneça serviços de saúde gratuitos. O CNAIDS é formado. 1989 Previna, uma campanha nacional de prevenção, é lançada tendo como alvo os grupos de alto risco. Grandes empresas nacionais e as Forças Armadas lançam programas de prevenção do HIV. 1990-1992 O Programa Nacional da Aids chega a um impasse. O ministro da saúde desmonta o programa, mas é afastado após o impeachment do presidente brasileiro por corrupção. 1990 O Estado de São Paulo lança o programa de troca de agulhas. 1992 O quinto ministro da saúde em dois anos toma posse e reestabelece o Programa Nacional da Aids com seu antigo diretor. Várias leis são aprovadas para proteger os direitos civis dos pacientes e fornecer tratamento. Um estudo prevê que 1,2 milhões de brasileiros serão infectados pelo HIV até 2000. 1994-2003 Três projetos do Banco Mundial fornecem US$750 milhões para programas de atendimento e prevenção do HIV. 1993 O Brasil inicia a produção doméstica do AZT e elimina tarifas e impostos sobre a importação de camisinhas. 1994 O Programa Nacional da Aids adota a redução de danos como uma política explícita. Os primeiros recursos do empréstimo do Banco Mundial são distribuídos e um número crescente de ONGs começa a ofertar serviços. 1996 O congresso aprova uma lei garantindo o acesso universal à terapia antirretroviral. No âmbito nacional, estima-se que 600 ONGs trabalham com questões relacionadas à aids. 1997 O sistema de vigilância é revisto e protocolos nacionais para o tratamento são adotados. 1998 O Brasil vive uma crise financeira, mas os gastos com HAART aumentam. A USAID e o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas lançam programas estratégicos com investimentos de US$ 8,4 milhões e US$ 2,5 milhões respectivamente. O Banco Mundial contrata a UNESCO e a UNDCP para realizar atividades da segunda etapa do empréstimo para a aids. 2003 O Programa Nacional da Aids expande sua política de descentralização, transferindo para os estados a responsabilidade de financiar os projetos das ONGs locais e assinando acordos de gestão por resultados com 480 cidades e todos os 26 estados. 2005 O Brasil rejeita o financiamento da USAID devido à discordância com as atividades de prevenção para os profissionais do sexo. 2007 O Presidente Lula emite licença compulsória para o efavirenz, droga produzida pela Merck, permitindo ao Brasil fabricá-lo domesticamente e comprar versões genéricas. 2009 O Programa Nacional da Aids torna-se um departamento do Ministério da Saúde. Fonte: Compilado a partir de estudos de casos disponíveis em fontes públicas de dados. Quadro 6 Resumo dos projetos do Banco Mundial para a aids Nome do Projeto Datas AIDS I AIDS II AIDS III AIDS-SUS Fonte: Banco Mundial 1993 – 1997 1998 – 2003 2004 – 2007 2010 – 2013 Valor total (US$, milhões) 250 300 200 200 Fatia financiada pelo Banco Mundial (US$) 160 (64%) 165 (55%) 100 (50%) 67 (33,5%) Quadro 7 Organograma do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, 2009 Comissão Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais (CNAIDS) Grupo Temático Ampliado da UNAIDS (GT-UNAIDS) Comitê Técnico de Assessoria e Gestão (COGE) Centro Internacional de Cooperação Técnica Conselho Empresarial Nacional para Prevenção Assessoria de Comunicação (ASCOM) Comissão de Articulação com os Movimentos Sociais (CAM) Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais Assessoria de Cooperação Internacional (ACI) Unidade de Assessoria de Planejamento (ASPLAN) Assessoria de Informática e Programação (ASIP) Assessoria de Monitoramento e Avaliação (ASMAV) Assessoria Jurídica (ASJUR) Unidade de Prevenção (PREV) Unidade de Logística (ASLOG) Unidade de Assistência e Tratamento (UAT) Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (UPDT) Unidade de Doenças Sexualmente Transmissíveis (UDST) Unidade de Administração (UAD) Unidade de Laboratório (ULAB) Unidade de Desenvolvimento Humano e Institucional (UDHI) Fonte: Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais Unidade de Informação e Vigilância (UIV) Unidade de Articulação com a Sociedade Civil e Direitos Humanos (SCDH) Quadro 8 Orçamento do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, 1998-2009 *em milhões Fonte: Orçamento do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais Quadro 9 Gastos do Brasil com ARV, 2003-2009 Ano Nº de pacientes Gastos com ARV/paciente (US$) Gastos com ARV (em % do PIB) 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 139.868 156.670 164.547 174.270 180.640 191.244 197.000 1.377 1.554 1.750 1.830 1.767 1.566 1.435 0,038 0,033 0,031 0,027 0,025 0,019 0,020 Fonte: Ministério da Saúde do Brasil, 2009 Gastos com ARV (em % do orçamento total do MS) 1,92 1,73 1,63 1,47 1,30 1,08 1,03 Quadro 10 Gastos nacionais com a aids, por categoria, em milhões de US$, 2006-2008 2006 Prevenção* Atendimento e tratamento Gestão do programa (por ex., monitoria e avaliação, planejamento, vigilância, infraestrutura de laboratório) Incentivos para recursos humanos (por ex., desenvolvimento e treinamento de pessoal) Proteção social e órfãos Criação de ambiente capacitador (por ex., promoção de direitos humanos) Pesquisa Total 2007** 2008 75,2 1.034,1 % 6,0 83,2 160,8 860,2 % 14,3 76,3 76,4 956,4 % 6,7 83,9 55,9 4,5 38,6 3,4 42,9 3,8 12,1 1,0 16,9 1,5 15,7 1,4 29,2 2,3 25,9 2,3 24,8 2,2 31,4 2,5 14,2 1,3 20,2 1,8 5,7 1.243,4 0,5 10,8 1,127,3 1,0 4,0 1.140,3 0,3 * Não inclui os gastos nos níveis estaduais e municipais. ** Pico dos gastos com prevenção devido à compra de 1 bilhão de camisinhas masculinas. Fonte: Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais Quadro 11 Gastos nacionais com a prevenção da aids em US$, 2006-2008 Segurança do suprimento de sangue Mobilização da comunidade Programas educativos para populações vulneráveis Fornecimento de camisinhas femininas UDIs Fornecimento de camisinhas masculinas Comunicação em massa, na mídia HSH Outros Pessoas vivendo com a aids Transmissão vertical Prevenção, diagnóstico e tratamento de DST Profissionais do sexo Testagem & aconselhamento voluntários Jovens Total da prevenção * Recebendo recursos do Banco Mundial ** Compra de 1 bilhão de camisinhas finalizada Fonte: UNAIDS 2006* 695.045 7.063.584 791.787 2007** 1.250.520 10.324.440 8.189.819 2008 1.080.340 10.092.046 4.728.571 2.496.895 757.903 21.785.522 78.431 21.203.112 59.388 11.341.484 2.882.840 6.321.585 43.683 67.991.988 29.834.802 3.705.315 1.422.791 7.239.892 3.579.523 47.760 167.497 29.720.864 99.500 2.707.773 6.952.792 4.418.474 55.676 5.401.381 537.118 75.150.165 17.436.693 3.431.629 160.772.680 35.820 14.579.160 1.788.687 76.419.285 Quadro 12 Componentes do Projeto AIDS-SUS do Banco Mundial Componente 1. Melhorar a vigilância, prevenção e controle de DST e HIV/aids Atividades Desenvolver políticas, diretrizes e regulamentações técnicas para a rede Formulação e de saúde de modo a melhor atingir os grupos de maior risco; melhorar o regulamentação de sistema de logística que fornece camisinhas e drogas. políticas Melhorar o sistema de vigilância de comportamentos e soroprevalência do Vigilância HIV/aids e outras DST, priorizando grupos de maior risco e as pessoas vivendo com aids. Avançar no desenvolvimento da monitoria e avaliação de programas; Gestão da informação coordenar a vigilância epidemiológica, P&D e M&A; monitorar e avaliar P&D e desenvolver ferramentas e processos para disponibilizar as informações aos principais interessados. Promover P&D nas áreas de inovação e prioridade para melhor atingir as Pesquisa e inovação populações vulneráveis, desenvolver vacinas e outros produtos para a tecnológica prevenção; desenvolver cooperação entre institutos de pesquisa, setor privado e órgãos de desenvolvimento e avaliar a tecnologia. Financiar programas de DST e HIV/aids que se baseiem em resultados Gestão descentralizada nos estados, municípios e organizações da sociedade civil relacionados com base em resultados com a vigilância, M&A, prevenção, tratamento e atendimento. Avançar na organização de rede de serviços de saúde básicos, secundários Organização da rede e terciários para expandir o fornecimento e melhorar a qualidade dos serviços nas áreas de prevenção, diagnóstico e tratamento de DST e HIV/aids, enfocando os grupos de maior risco. Transparência, atribuição Fortalecer a participação social na formulação e controle de políticas para o HIV/aids e outras DST e aumentar a transparência e visibilidade dos de responsabilidades, insumos, processos, atividades e resultados dos programas. controle social Desenvolver redes nacionais e internacionais para melhorar a resposta Cooperação nacional e nacional, com foco nos grupos de maior risco; integrar os esforços dos internacional subsetores de saúde relevantes, especialmente os relacionados com vigilância, cuidados de saúde básica e saúde reprodutiva, bem como os setores públicos e privados e a sociedade civil e aumentar a cooperação sul-sul. Componente 2. Construir governança descentralizada e capacidade de inovação Mapear a epidemia e as atividades de prevenção Vigilância Auditoria independente anual M&A Avaliação do impacto das intervenções para a redução de risco entre grupos de maior risco Financiamento com base em resultados Impacto fiscal do programa, enfocando a TAR Construção de capacidades em planejamento estratégico, gestão de Financiamento com base projetos e M&A para o Programa Nacional, secretarias de saúde em resultados (PAM) estaduais e municipais e organizações da sociedade civil Desenvolvimento de sistema com base em resultados e mensuração de custos para os PAMs Incentivos para o desempenho de secretarias estaduais e municipais e organizações da sociedade civil, com o objetivo de priorizar os grupos de maior risco Subvenções individuais para funcionários trabalhando com grupos de maior risco Fonte: Banco Mundial Quadro 13 Intervenções em grupos de maior risco Grupos Taman ho estimad o da populaç ão 630.000 Prevalência Intervenção comportamental Camisinhas Agulhas e seringas Teste rápido 100% Programa de prevenção positiva implantado em todos os estados Distribuição nacional com base no plano de necessidades 33 milhões, 2009 NA Gays e outros HSH 1,6 milhões 7,2% n=602 Cobertura com base no plano nacional Distribuição nacional com base no plano de necessidades 122 milhões, 2007 45 milhões, 2009 Redução de danos em 19 serviços em 5 regiões NA Profissionais do sexo 634.000 6,2% n=2712 Cobertura nacional de capitais e regiões metropolitanas. 82 milhões, 2009 NA Usuários de drogas injetáveis 521.000 12% Cobertura de capitais e regiões metropolitanas; e áreas de mineração no norte Cobertura de capitais e regiões metropolitanas e fronteiras Cobertura nacional de capitais e regiões metropolitanas. 13 milhões, 2009 Prisioneiros 460.000 5,7% n=333 homens Cobertura baseada no Plano Nacional de Saúde para o sistema prisional: 463 prisões Distribuição nacional com base no plano de necessidades 27 milhões, 2009 Mulheres grávidas 3 milhões 0,04% Plano nacional para combater a feminização da epidemia Distribuição nacional com base no plano de necessidades Redução de danos com troca de agulhas em estados com alto nº de UDI: sul e sudeste O Plano Nacional de Saúde para o sistema prisional inclui redução de danos NA Crianças na escola NA NA Saúde e prevenção nas escolas Distribuição nacional com base no plano de necessidades 47 milhões, 2008 Pessoas vivendo com HIV/aids n=20.000 Fonte: Avaliação do Projeto AIDS-SUS do Banco Mundial, 2009. NA Projeto piloto em duas regiões metropolitanas: Recife e Rio de Janeiro NA NA O Plano Nacional de Saúde para o sistema prisional inclui diagnóstico Testagem rotineira no contexto dos exames prénatais Kit de conscientizaç ão para o teste: Eu preciso fazer o teste? 300.000 kits Quadro 14 Indicadores M&A da política de descentralização Meta da diretriz Indicador Melhorar a qualidade dos serviços públicos oferecidos para pessoas com HIV/aids e outras DST. Nº de pacientes adultos recebendo TAR, por médico. Nº de pacientes pediátricos recebendo TAR, por médico. Nº de pacientes recebendo TAR e leitos para pacientes aidéticos Nº de unidades distribuindo ARV. Proporção de mulheres grávidas que fizeram o pré-natal e realizaram os exames da sífilis no primeiro e terceiro trimestre da gravidez. Prevalência da sífilis congênita. Indicador composto relacionado a DST. Reduzir a transmissão vertical do HIV. Aumentar a cobertura do diagnóstico e tratamento de DST Aumentar a cobertura do diagnóstico do HIV Aumentar a cobertura da prevenção para populações vulneráveis. Reduzir o estigma e a discriminação Melhorar a gestão e a sustentabilidade Cobertura estimada do teste do HIV. Nº de HSH que participaram em intervenções de prevenção estruturadas. Nº de travestis / transgêneros / transsexuais que participaram em intervenções de prevenção estruturadas. Nº de UDI que participaram em programas de redução de danos. Nº de outras mulheres vulneráveis à infecção pelo HIV que participaram em intervenções de prevenção. Nº de pessoas vivendo com o HIV/aids que participaram em intervenções de prevenção. Porcentagem das organizações da sociedade civil com projetos aprovados que enfocam as questões dos direitos humanos, advocacia e controle social. Proporção dos recursos locais em relação aos recursos federais transferidos para programas de combate ao HIV/aids e outras DST. 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