DISCURSO “O Senado e a garantia de segurança pública” – FEVEREIRO 2013 Senhor Presidente, Senhoras Senadoras, Senhores Senadores, Cidadãos que nos acompanham pela Agência Senado, A Constituição de 1988, ao estruturar nosso país como um Estado Social e Democrático de Direito, trouxe significativos avanços em relação ao papel estatal e o a promoção de políticas públicas de viés social, sem perder de vista o caráter fundamental dos direitos individuais, especialmente os de liberdade. Isso significa que, sem abrir mão da livre iniciativa e da proteção dos indivíduos – primeira conquista moderna da cidadania – o Estado brasileiro deve atuar para promover e concretizar os direitos sociais, dentre eles, o de garantia da segurança pública, conforme expressamente previsto no art. 6º da CF/88, para que todos possam viver em paz. No entanto, é preciso romper velhos modelos. Não basta focar na repressão e no aumento de penas. Faz-se necessário uma política pública de segurança consistente, que envolva um projeto sofisticado e profundo de integração institucional e intersetorial, gestão de informação, formação de uma cultura da paz e prevenção ao crime. Daí a importância das iniciativas do Ministério da Justiça, especialmente da Secretaria Nacional de Segurança Pública que, por meio do Sinesp (Sistema Nacional de Estatísticas em Segurança Pública e Justiça Criminal), apresentou à sociedade brasileira um diagnóstico contundente sobre temas relevantes nessa matéria. Para nos circunscrevermos a apenas uma das pesquisas apresentadas, o “Diagnóstico sobre a Perícia Criminal no Brasil”, restou claro que há baixo investimento governamental – principalmente por parte dos Estados da federação – em perícias, em geral imprescindíveis na elucidação de crimes, especialmente os mais violentos e hediondos. A pesquisa revela baixa produtividade na realização de exames de confrontos balísticos, com atendimento médio de apenas 44% (em 17 entes federativos), o que praticamente inviabiliza a identificação do responsável pelo disparo e, assim, o autor do crime. Em relação aos homicídios, a situação é ainda mais grave. Há um passivo de 22 mil laudos, o que significa que não é produzida informação consistente sobre os fatos a serem apurados criminalmente em 22 mil investigações em andamento. Mesmo diante do fato de que 13 Estados não responderam o formulário nesse quesito – dentre eles São Paulo e Rio de Janeiro – há mais de 8 mil armas aguardando perícia nas unidades criminalísticas. A pesquisa aponta, ainda, que há 30 mil casos aguardando exame de necropsia e que há um alto número de pendência em laudos de lesão corporal (474.002, incluindo São Paulo, que sozinho contribui expressamente para esse resultado – 432.901). Ora, considerando que um dos graves problemas de segurança pública que temos é justamente a ausência de elucidação de crimes (de acordo com o Mapa da Violência 2012, em 50 mil assassinatos, apenas 4mil foram solucionados, ou seja, 8%), esse quadro chega a ser alarmante. Sem perícia, fica complicado elucidar. Daí a dificuldade da policia investigativa realizar seu trabalho, do Ministério Público aferir a viabilidade da denúncia e do Judiciário efetivar um adequado julgamento. A população, nobres colegas, sofre com essa situação e em sua maioria qualifica como ruim ou péssima a segurança pública no país. Pior, os próprios agentes da lei, policiais que saem de casa para proteger nossas vidas, nossa família, nossos amigos, tem sofrido incessante ataque por parte dos bandidos, que atuam de maneira organizada para aterrorizar a todos. Em meu Estado, Mato Grosso, houve um significativo aumento na morte de policiais – foram 14 mortes até o final de outubro de 2012. Cuiabá ficou em 5º lugar no índice de mortalidade policial no ranking publicado pelo Jornal Folha de São Paulo em reportagem da época. Quando morre um servidor público em serviço, senhoras e senhores senadores, morre também um pouco do Estado. Presto minha homenagem aos familiares e amigos desses profissionais que morreram fardados, na linha de fogo, entre criminosos e cidadãos mato- grossenses. Também às famílias dos profissionais mortos indiretamente em razão do trabalho prestado. Por exemplo, durante momentos de folga, muita vezes após serem reconhecidos por criminosos. Famílias como do Policial da Rotam, Wilson Campos, executado em Várzea Grande. Do Policial Civil Manuel Alves de Almeida, 55 anos, morto em julho de 2012, durante tentativa de assalto no bairro CPA 4, em Cuiabá. Do Policial Militar Devanilson Gonçalves da Cruz, morto em Várzea Grande, no fim do ano passado. E do Policial Militar, Alex Oliveira Suzarte, executado após luta corporal com assaltantes em Poconé, portal do Pantanal matogrossense. Que Deus abençoe e ilumine esses valorosos profissionais do Estado do Mato Grosso e eles possam ser o orgulho de seus filhos e familiares. Senhoras e senhores senadores, A mesma reportagem mostra que o Brasil tem um policial morto a cada 32 horas. Só para se ter uma ideia, no EUA, no ano de 2010 foram registradas 56 mortes de policiais em razão de assassinatos – em serviço ou fora dele. Nesse contexto, sabe-se que o Poder Executivo, detentor do poder de agenda na implementação de políticas públicas, certamente tem grande margem de ação e maior proeminência nessas tarefas. Contudo, o Parlamento tem feito sua parte. Na Subcomissão Permanente de Segurança Pública da Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal – reinstalada em 2012 sob minha presidência – temos trabalhado com o objetivo de analisar proposições legislativas relativas ao tema da segurança pública, colher subsídios teóricos e práticos na matéria para bem informar os Senadores, debater com especialistas e instituir um canal de comunicação entre o Senado e a sociedade, com vistas a propor inovações normativas necessárias ao combate à criminalidade, além de, por certo, realizar a devida fiscalização das ações desenvolvidas pelos demais poderes da República. Seguindo tais diretrizes elaboramos, em diálogo com o Ministério da Justiça, uma sugestão de agenda para 2013 contendo ciclo de debates que possibilitem diálogo com a sociedade civil organizada, Academia e demais poderes públicos, de modo a aproximar o Senado Federal da população, a fim de conferir maior legitimidade à ação dos Senadores e instrui-los com informações preciosas para que possam apreciar com serenidade esses temas de alta complexidade e repercussão. A ideia é que sejam debatidos temas concretos, dentre eles, sugere-se, de maneira não exclusiva, a realização das seguintes audiências públicas e seminários: obstáculos de planejamento e execução orçamentária, sistema penitenciário e penas alternativas, segurança de fronteira, combate ao crime organizado nacional e transnacional, valorização dos profissionais de segurança pública e agentes da lei e política de drogas. Algumas deles, podem e devem, perfeitamente serem realizadas em conjunto com a Comissão Especial que estuda a Reforma do Código Penal. Superada essa etapa, recomendamos a elaboração de um grande seminário temático, envolvendo o Senado Federal, o Ministério da Justiça, meios de comunicação de massa, ONGs, OAB, entidades profissionais que de classe atuam na envolvendo área, para os fins comprometer toda a sociedade civil com os as deliberações e reformas a serem pensadas. Propusemos que, na primeira parte do seminário, sejam apresentadas experiências de políticas públicas exitosas no Brasil e no Exterior (p. ex. Colômbia, Jamaica, Nova York – EUA), com palestrantes de diversas partes do mundo. Ainda, opinamos que a segunda parte seja dedicada à análise do papel da polícia, especialmente das chamadas polícias comunitárias e/ou pacificadoras, bem como sejam estudadas as formas de estabelecimento de uma “cultura da paz”, em que todo cidadão brasileiro possa se sentir seguro para viver plenamente e sem medos. Esperamos que, cumprindo esse itinerário no ano de 2013, a Subcomissão de Segurança Pública e a Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal darão uma enorme contribuição ao país, bem concretizando seu papel constitucional.