ANAIS REPERCUSSÕES ESTRATÉGICAS DOS PRODUTOS ECO-EFICIENTES E SEU IMPACTO NO DESEMPENHO DAS EMPRESAS: CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE AVALIAÇÃO BYRON ACOSTA ( [email protected] , [email protected] ) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ANTONIO DOMINGOS PADULA ( [email protected] , [email protected] ) UNIVERSIDADE DO RIO GRANDE DO SUL LUIS ZUCATTO ( [email protected] , [email protected] ) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDO DO SUL Resumo Com o aumento dos custos de matéria-prima e energia, e a escassez dos mesmos, conseqüência do deterioro ambiental, as firmas precisam reconfigurar suas estratégias atuais e desenvolver novas. O impacto ambiental não deve ser tratado pelas empresas só como um assunto de responsabilidade social; ele deve ser visto como um problema que cria oportunidades e ameaças. O artigo identifica as repercussões estratégicas do desenvolvimento de produtos eco-eficientes e os eventuais impactos no desempenho da empresa. Propõe-se um modelo que mensure e relacione o nível técnico e o nível econômico do desempenho das empresas, ao incorporarem mecanismos eco-eficientes em sua gestão. Palavras-chaves: eco-eficiência, desempenho, estratégia de negócio Introdução As atuais mudanças ambientais têm gerado mudanças na forma com que as empresas atuam em todos os setores industriais. Com o aumento dos custos nos insumos de produção, matéria-prima e energia, dentre outros, e de igual forma, com a escassez dos mesmos, conseqüência estas das mudanças no meio ambiente, as firmas tem sido obrigadas a reconfigurar suas estratégias atuais e desenvolver novas para se adaptarem e se manterem no mercado. Assim, empresas que buscam uma vantagem competitiva sustentável (PORTER, 1996) devem incorporar a dimensão ambiental dentro de sua estratégia de negócio. Aquecimento global, mudanças climáticas, impacto ambiental, seja como for chamada a degradação que está ocorrendo na natureza, esta não deve ser tratada pelas empresas apenas como um assunto de responsabilidade social corporativa. Se as firmas persistem em abordar a situação dessa forma, em vez de olharem para ela como um problema empresarial, arriscamse a conseqüências maiores (PORTER e REINHARDT, 2007) no seu desempenho a médio e longo prazo. Assim, a mudança climática poderá afetar o desempenho das empresas de forma positiva ou negativa, dependendo de como a firma olhar o impacto ambiental. A partir de um ponto de vista ecológico, o uso ineficiente de materiais e energia causa poluição, destrói ecossistemas e esgota os recursos naturais. A importância de economizar recursos naturais e minimizar a poluição, usando a produção industrial de forma mais eficiente, torna-se cada vez mais reconhecida tanto em níveis nacionais como internacionais. Assim, este artigo identifica as repercussões estratégicas do desenvolvimento de produtos eco-eficientes e os eventuais impactos no desempenho da empresa, propondo um modelo que 1/13 ANAIS mensure e relacione o nível técnico e o nível econômico do desempenho das empresas ao incorporar mecanismos eco-eficientes em sua gestão. O artigo está estruturado em cinco partes. Além desta introdutória, apresenta-se uma revisão da literatura de ecodesign e produtos eco-eficientes, suas fases e estratégias. Em seguida, descreve-se as repercussões estratégicas da eco-eficiência, em tecnologia, consumo, trade-offs e desempenho. A quarta parte propõe o modelo de mensuração do desempenho global (técnico e econômico). Por fim, apresenta-se uma discussão e posteriores considerações finais. 1. EcoDesing e Produtos Eco-Eficientes Freqüentemente, a pura substituição de um material por outro não é suficiente para evitar um possível impacto ambiental. No caso do uso de matérias-primas, por exemplo, o design de componentes é necessário para obter uma máxima eficiência no aproveitamento de materiais (peso, durabilidade, desperdício), desde que esta medida represente uma combinação de soluções ambientais dos materiais, ciclo de vida do produto e do mesmo design (SCHMIDT, 2001). Da mesma maneira, uma empresa que produz emissões em excesso em suas operações também é operacionalmente ineficiente: está desperdiçando recursos, incorrendo em incremento de custos desnecessários. Para Porter e Reinhardt (2007), o uso de melhores práticas em gestão de custos relacionados às mudanças climáticas é o mínimo exigido para permanecer competitivo no mercado. A preocupação com os danos ambientais faz com que as empresas desenvolvam modelos para analisar o ciclo de vida de matérias-primas e energia utilizadas em seus produtos e processos. Como resultado deste processo, surge o ecodesign, entendido como o desenho de produtos que minimiza o consumo de recursos e energia, e maximiza os benefícios para os usuários durante todo seu ciclo de vida, desde a fase inicial de concepção do produto (JESWIET e HAUSCHILD, 2005; KARLOSSON e LUTTROPP, 2006). O ecodesign é uma metodologia para o desenvolvimento de produtos, útil para prever os impactos ambientais e realizar melhoras no ciclo de vida desde o processo de desenho. Para Peneda e Frazão (1994), o ecodesign é o desenvolvimento ambientalmente consciente de produto, em que há a inserção da dimensão ambiental no processo de desenvolvimento do mesmo. Isto torna os produtos eco-eficientes, criando uma relação entre eficiência dos recursos e responsabilidade ambiental: econômica, social e ecologicamente (HONKASALO, 2002). A eco-eficiência, por sua vez, é a entrega de produtos e serviços a preços competitivos, que satisfazem as necessidades humanas e trazem qualidade de vida, enquanto progressivamente se reduzem os impactos ecológicos e a intensidade do uso dos recursos ao longo de seu ciclo de vida, para um nível pelo menos igual à capacidade que a Terra pode suportar e produzir (WBCSD, 1996). Assim, a eco-eficiência gera uma melhora econômica nas empresas, eliminando os resíduos e utilizando os recursos de forma mais adequada. Empresas eco-eficientes podem reduzir custos e ser mais competitivas, aplicando procedimentos ambientalmente corretos, sem comprometer a qualidade do produto. Estes procedimentos se baseiam em conceitos como: prevenção da poluição, redução do consumo de matéria-prima, redução e minimização do desperdício e produção limpa (WBCSD, 1996). Para Johansson (2002), o impacto de um produto no ambiente é determinado na sua fase de design. Conseqüentemente, a importância do ecodesign e conceitos associados como ciclo de vida e desenvolvimento de produto, tornam-se prioritários para que as empresas, além 2/13 ANAIS de produzir bens rentáveis, tenham um mínimo impacto ambiental. Entretanto, a aplicação do ecodesign na indústria ainda é nova (JOHANSSON, 2006). A eco-eficiência deve estar diretamente relacionada ao processo de desenvolvimento de produto, cujos elementos principais são: tempo, qualidade do produto, desempenho financeiro e informações coletadas dos consumidores (JOHANSSON, 2006). Estima-se que o 70% do custo final do produto é determinado na fase de design (BOOTHROYD e DEWHURST, 1994, JESWIET e HAUSCHILD, 2005). A Figura 1 apresenta as fases do processo de ecodesign, que tem foco na otimização do uso dos recursos, reduzindo custos e aumentando a produtividade. Desta forma, para que exista um equilíbrio entre produção e ambiente, são necessárias ferramentas que identifiquem, desde o início, problemas funcionais, econômicos e ambientais, ou qualquer risco associado ao desenvolvimento de produto. Para Jeswiet e Hauschild (2005), parte dessa avaliação requererá uma análise de risco ambiental, que provavelmente será incluída no ecodesign. Fonte: Nascimento (2007) 1.1 A Teia das Estratégias do Ecodesign O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, para avaliar impacto ambiental de um produto e desenvolver estratégias de melhorias, utiliza a denominada de “Teia das Estratégias do Ecodesign” (Figura 2). Por meio de uma avaliação qualitativa, um produto pode ser avaliado, bem como podem ser desenvolvidas estratégias para melhorar o seu desempenho ambiental 3/13 ANAIS Figura 2 - Teia das Estratégias do Ecodesign Fonte: Adaptado de Van Hemel e Cramer (2002), UNEP (1996). Cada círculo da Figura 2 representa um percentual de 20 pontos, que vai de 0% (centro da figura) até 100% (último círculo). O centro da figura representa um desempenho ambiental inadequado e o círculo mais externo, um ótimo desempenho. A figura está dividida em oito estratégias (VAM HEMEL e CRAME, 2002), as quais determinam o nível de desempenho ambiental de produtos em fase de desenvolvimento ou de produtos já existentes ao longo de seu ciclo de vida. A figura também apresenta 33 variáveis agrupadas nas oito estratégias, que contribuem para o aumento do desempenho ambiental dos produtos. A fabricação de produtos eco-eficientes procura, de forma sistêmica e consistente, melhorar o perfil ambiental de produtos em todas as fases de seu ciclo de vida, incluindo a reciclagem e a disposição final de seus componentes (VAM HEMEL e CRAME, 2002). Para adaptar este processo de forma eficiente, as firmas precisam identificar motivadores (externos e internos) e as barreiras que podem afetar o mesmo. O Quadro 1, apresenta os principais motivadores e estímulos que as firmas podem encontrar. Salienta-se que nem sempre todas as firmas serão influenciadas por todos eles; isso dependerá do tipo de negócio, setor de atuação e competências adquiridas. 4/13 ANAIS Motivadores Externos Legislação ou regulamentos do governo atuais e futuros; Pressão ambiental de organizações industriais; Demandas ambientais dos consumidores; Atenção negativa da mídia causada por grupos ambientalistas; Fornecedores que oferecem desenvolvimentos novos em materiais eco-eficientes; Competidores que já aplicaram opções específicas de ecodesign em seus produtos. Motivadores Internos Redução do impacto ambiental Redução de custos; Melhoramento da imagem; Novas oportunidades de mercado (vantagem competitiva, aumento do market share e acesso a novos mercados); Incremento da qualidade funcional dos produtos; Sinergia com requerimentos de produtos diferentes, em qualidade funcional ou baixos custos; Oportunidades de inovação a longo prazo Tipos de Barreiras Benefícios ambientais duvidosos; A empresa não se sente responsável dos danos; Relevante só se é suportada pela legislação; Relevante só se é suportada por demandas do mercado; Cria uma desvantagem comercial para a empresa; Conflito com as exigências funcionais dos produtos atuais; Não é uma oportunidade de inovação tecnológica; Nenhuma solução alternativa disponível; Se consideram investimentos infrutíferos; Falta de tempo; Falta de conhecimento. Quadro 1 – Motivadores e Barreiras do Eco-desing Fonte: Van Hemel e Cramer (2002 2. Eco-eficiência e repercussões estratégicas Segundo Porter e Reinhardt (2007), para algumas empresas, a aproximação com a mudança climática pode ir além da eficácia operacional e se tornar uma questão estratégica. Algumas firmas, no processo de atuação conforme as mudanças climáticas, podem encontrar oportunidades para aumentar e estender seu posicionamento competitivo, criando produtos que explorem a demanda gerada pelas mudanças climáticas. Esta posição leva à reestruturação das indústrias para tratar os assuntos climáticos mais eficientemente, ou para inovar em atividades que, afetadas pelas mudanças ambientais, geram uma nova e diferente vantagem competitiva. Entretanto, existem muitas empresas e setores que não enxergam as mudanças ambientais como uma nova oportunidade de negócio. Bakhshi e Krajeski (2007) identificam que as mudanças climáticas têm uma maior probabilidade de afetar três áreas dentro das empresas: carteira de produtos, ativos adquiridos e obrigações a longo prazo. Segundo Schwartz (2007), as mudanças climáticas podem também afetar as empresas, na estrutura de sua cadeia de suprimentos, no aumento de doenças dos trabalhadores, ou até mesmo na reputação da firma. Para reduzir o risco desse impacto, as firmas precisam incluir iniciativas que atinjam os custos relacionados às mudanças climáticas e os riscos em sua cadeia de valor (PORTER e REINHARDT, 2007). Um exemplo de iniciativa é a responsabilidade compartilhada, que significa uma nova qualidade no melhoramento do desempenho ambiental de produtos e serviços, a partir de uma perspectiva global (SCHMIDT, 2001), no sentido de que o desempenho das empresas, relacionado à dimensão ambiental, não pode ser mensurado de forma isolada; ele deve incluir toda a cadeia que envolve o ciclo de vida do produto (fornecedor-empresa-cliente). 5/13 ANAIS Assim, o ecodesign emerge como uma importante estratégia para a realização de uma economia sustentável (NAKAMURA e KONDO, 2006). Segundo Honkasalo (2001), a adoção de uma estratégia eco-eficiente versus a proteção ambiental tradicional, traz vantagens que estimulam o desempenho da firma, conforme o que segue: • Ampla eficiência econômica e produtividade; • Visão integrada da área de produção com as demais áreas da organização; • Atenção direta às emissões de materiais e energia ocasionadas pelos fluxos de produção; • Foco em serviços ao invés de foco nos produtos. • Segundo Jeswiet e Hauschild (2005), existem quatro aspectos que devem ser considerados na formulação de estratégias eco-eficientes: • Produtos devem ser projetados para reutilização; • Devem ser desenvolvidas melhores tecnologias de reprocessamento integradas aos atuais processos de produção; • Integração de sistemas financeiros e ambientais (desempenho financeiro e desempenho ambiental); • Sistemas contáveis que mensurem o valor dos produtos eco-eficientes. 2.1 Tecnologia Muitas tecnologias ambientais têm sido introduzidas em veículos e equipamentos eletroeletrônicos, dentre outros. Os benefícios incluem, por exemplo, poupança de energia e redução de emissões de dióxido de carbono – CO2. Porém, isto deve considerar grandes quantidades de investimentos, que possivelmente podem ser alcançadas por grandes corporações, e em cooperação com stakeholders-chave dentro do ciclo de via do produto (SCHMIDT, 2001). Empresas que produzem ou vendem tecnologias e produtos ecoeficientes, tais como carros híbridos, ou qualquer outro produto ou serviço relacionados com o clima, tem uma alta atratividade para adquirir o investimento denominado “capital verde” (ROOSEVELT e LLEWELLYN, 2007). Vinculada à tecnologia ambiental, encontram-se as atividades de engenharia, as quais, segundo Jeswiet e Hauschild (2005), incluem a aplicação de tecnologias ou princípios científicos para projetar e fabricar produtos, com a meta de proteger o ambiente e conservar recursos. E, enquanto se estimula o progresso econômico, guarda-se em mente a necessidade de sustentabilidade, otimizando o ciclo de vida, minimizando a poluição e o desperdício. 2.2 Consumo As mudanças climáticas alteraram a produtividade relativa de várias regiões do planeta, regiões estas nas quais algumas firmas compram commodities agrícolas, insumos ou matériasprimas, afetando os custos dos inputs (PORTER e REINHARDT, 2007). Como resultado, o aumento da consciência ambiental na sociedade vem forçando muitas empresas em vários setores da indústria a considerar o efeito do impacto ambiental dentro de suas atividades (JOHANSSON, 2006). Sob tal perspectiva, o assunto fundamental do design é fazer um produto atraente, caso contrário não se venderá. Para alguns consumidores, o desempenho ambiental do produto é considerado um fator importante no seu processo de compra. Outros acreditam que produtos “verdes” são mais caros que seus similares. Um grupo grande de consumidores tem o desempenho ambiental como um assunto de prioridade baixa. Empresas que provêem 6/13 ANAIS produtos para o mercado se enfrentam com este desafio. O marketing de produtos ecoeficientes tem um limitado sucesso (KARLOSSON e LUTTROPP, 2006). Além disso, como toda inovação lançada no mercado, os custos e preços de produtos ecologicamente corretos são maiores em relação a seus similares. Schmidt (2001) identifica que, devido a seus altos custos, as tecnologias ambientais altamente avançadas são aceitas apenas por um pequeno grupo de consumidores, em nichos de mercado específicos, e que não provêem economias de escala ambientais. Porém, existe a esperança de que, com o tempo, tais custos possam diminuir, e que os nichos de mercado tornem-se mercados em massa (NAKAMURA e KONDO, 2006). Todavia, até que isso ocorra, esse tipo de produto será focado para mercados e segmentos específicos de alto poder aquisitivo, o que determinará a estratégia de negócio que as empresas devem adotar quando internalizam a dimensão ambiental em seu core business. Mas, sem uma introdução do produto a grande escala, seu potencial para reduzir o impacto ambiental será inexplorado (NAKAMURA e KONDO, 2006). Assim, se deve considerar que além do produto ter um indicador positivo de impacto ambiental, sua introdução e permanência no mercado deve ser economicamente viável. Isto se reflete nos resultados do desempenho financeiro da firma, e em ultima instancia no lucro atingido pelos acionistas. Para as organizações, poupança de custos a longo prazo ou benefícios diretos (redução de custos acima do tempo de vida dos bens comprados) e indiretos (boas relações entre skakeholders ou consumidores) são motivos comuns para adquirir, preferencialmente, produtos ambientalmente adequados (BYGGETH e HOCHSCHORNER, 2006). 2.3 Trade-offs Design e re-design de produtos requerem considerações de muitos fatores: qualidade/desempenho, ciclo de vida do produto, exigências legais, segurança, manutenção, demanda de mercado, capacidade de produção, custos e implicações ambientais (BARBIROLI, 2005). Obviamente, existem trafe-offs, uma vez que é raramente possível englobar todos esses fatores ao mesmo tempo. No desenvolvimento de produtos eco-eficientes, os trade-offs podem ser um conflito entre objetivos ambientais. Melhorar um conceito em uma área pode ocasionar efeitos negativos em outra. Por exemplo, entre tipos de materiais, matérias e energia, e materiais e custos (BYGGETH e HOCHSCHORNER, 2006). Os resultados serão diferentes, dependendo das diferentes perspectivas de consumidores, firmas e do ambiente. Ao escolher as características ambientais para o produto, possíveis trade-offs podem ocorrer, quando o fabricante ou o comprador devem decidir quais aspectos ambientais são mais importantes, por exemplo: materiais reciclados, eficiência no consumo de energia, consumo de água ou controle de poluição do ar (BYGGETH e HOCHSCHORNER, 2006). Da mesma forma, estas características ambientais podem ser relacionadas com outros requerimentos, tais como a legislação, a qualidade e a economia, o que origina uma constante escolha por unir melhores requisitos ambientais em um único produto. Segundo Byggeth e Hochschorner (2006), em muitos dos casos, quando aspectos ambientais são integrados ao desenvolvimento do produto, criam-se sinergias com outros aspectos do negócio, como melhoria da imagem, oportunidades novas de mercado e, às vezes, reduções de custos a curto prazo. As ferramentas de ecodesign tentam facilitar a integração de aspectos ambientais dentro dos processos de desenvolvimento de produto. 7/13 ANAIS 2.4 Desempenho Para produzir produtos sustentáveis, uma gama ampla de estratégias potenciais é necessária. Estas estratégias podem incluir grandes investimentos de players globais e também atividades menores, como redes de ciclo de vida do produto, informação para o consumidor. Uma combinação de todas estas estratégias é necessária (SCHMIDT, 2001). No futuro, uma quantidade crescente de stakeholders deve ser envolvida nos esforços para desenvolver métodos mais eficazes e eficientes, que atinjam efeitos ambientais positivos e gerem lucro. A eco-eficiência não pode ser obtida apenas por meios técnicos, desenvolvendo máquinas e dispositivos, ou melhorando os já existentes. Inovações sociais também são necessárias. Novas formas de uso de produtos de maneira tão eficiente quanto seja possível; novas formas de cooperação; novos estilos de vida e hábitos de consumo são necessários (HONKASALO, 2001). Em outras palavras, produtos já não podem ser mais considerados sem seu uso social e a eco-eficiência de tal uso. Segundo Jeswiet e Hauschild (2005), certos bancos que identificam empresas com gestão ambiental mais responsável, consideram ser mais provável que estas tenham uma melhor gestão financeira, bem como melhor posição financeira nos seus resultados do que empresas similares sem a mesma gestão responsável ambientalmente. De igual forma, os bancos podem colocar interesses maiores em seus empréstimos a empresas que tenham um pobre desempenho ambiental, por causa de potenciais riscos financeiros altos. Em outras palavras, um desempenho ambiental negativo é um forte indicador de uma pobre gestão financeira, com riscos financeiros maiores. Para Barbiroli (2005), empresas que ignoram ou omitem os custos ambientais previsíveis, reduzirão a rentabilidade futura da firma. Um melhor entendimento da estratégia de negócio da empresa, associada ao impacto ambiental, pode ajudar a focalizar as questões que surgem a respeito de como prover um framework que mensure as causas e efeitos, e delineamentos de melhoria contínua, modificando o mix de produtos e as novas formas de produção. 3. Framework Eco-Eficiencia e Performance O Modelo proposto na Figura 3 relaciona os motivadores (externos e internos) e as barreiras para o desenvolvimento de produtos eco-eficientes (VAM HEMEL e CRAME, 2002) e as fases e estratégias do ecodesign (VAN HEMEL e CRAMER, 2002; UNEP, 1996). Cada uma das fases do ecodesign é mensurada em nível técnico e em nível econômico (BARBIROLI e RAGGI 2003). 8/13 ANAIS Figura 3 - Framework do Ecodesign Fonte: Adaptado de Van Hemel e Cramer (2002), UNEP (1996), Barbiroli e Raggi (2003). Os indicadores de nível técnico são nove segundo Barbiroli e Raggi (2003): • Matérias-primas: eficiência da transformação-utilização de matérias-primas no ciclo de produção. É medida calculando a razão porcentual entre a quantidade de matériaprima incorporada no produto, e a quantidade introduzida no ciclo de produção; • Energia: eficiência da transformação-utilização de energia no ciclo de produção. É medida calculando a razão porcentual de energia que é realmente usada na fabricação do produto, e a quantidade utilizada no ciclo de produção; • Materiais auxiliares: é um indicador medido calculando-se a quantidade de material auxiliar usado por unidade de produção (intensidade do material auxiliar); • Consumo da água: é medido calculando-se a quantidade de água usada por unidade de produção; • Poluição da água: é expresso como a quantidade de substâncias tóxicas por unidade de produção, liberada na água como desperdício. Esta quantidade é obtida calculando a média das quantidades de emissões de cada produto, ponderadas para considerar o impacto de cada substância sobre o meio-ambiente; • Emissões atmosféricas da produção: a intensidade da emissão atmosférica durante o ciclo de produção é expressa como a quantidade de substâncias, por unidade de produção, emitida na atmosfera durante o ciclo de produção. Esta quantidade é obtida calculando a média das quantidades de emissões de cada produto, ponderadas para considerar o impacto de cada substância sobre o meio-ambiente; • Emissões atmosféricas do ciclo de energia: a intensidade da emissão atmosférica do ciclo de energia é expressa como a quantidade global de substâncias emitida à atmosfera por unidade de produção durante a conversão de energia e ciclo de uso. Esta quantidade é obtida calculando a média das quantidades de emissões de cada produto, ponderadas para considerar o impacto de cada substância sobre o meio-ambiente; • Desperdícios perigosos e tóxicos: a quantidade global de substâncias perigosas e tóxicas gerada por unidade de produção pode ser expressa por meio de índices 9/13 ANAIS • • • • • concisos obtidos pelo peso de substâncias variadas de acordo com seu grau de toxicidade humana e ambiental; Desperdícios sólidos: quantidade desperdícios sólidos (excluindo os desperdícios tóxicos) gerada por unidade de produção. Por sua vez, no nível econômico (BARBIROLI e RAGGI, 2003), uma completa análise dos resultados de inovações ambientais, deve considerar que as melhoras se geram através de inovações em: Produtividade: usando métodos tradicionais de medição (quociente entre outputs e inputs, cujos grandes resultados são associados ao melhor desempenho); Qualidade global: medida com indicadores de desempenho global (lucro, crescimento das vendas, retorno sobre as vendas, retorno sobre os ativos, retorno sobre investimento); Mix de produtos: medido pelo número de artigos que podem ser produzidos. A taxa de eficiência global é obtida através da razão entre os resultados em produtividade, qualidade global e mix de produtos, e melhoria técnica ambiental global (Figura 3). Quando existe uma correlação positiva entre o nível técnico e o nível econômico, ou seja, entre uma melhora particular no desempenho ambiental e um incremento na produtividade e qualidade, o retorno econômico pode aumentar, porque a inovação ambiental não só traz melhorias ambientais, mas também gera retornos positivos em termos de eficiência global do negócio (BARBIROLI e RAGGI, 2003). O beneficio econômico global é avaliado quantificando a vantagem econômica global gerada a cada nível de mudança que a firma introduz para melhorar a eficiência ambiental e econômica. Para tanto, é preciso identificar todos os aspectos que estão relacionados, direta ou indiretamente, no processo de mudança gerado pela empresa (competidores, firmas que operam em outros setores, infra-estrutura, participação do mercado, componentes sociais, recursos ambientais, ecossistema). Redução de custos ou incremento de renda (ou outros benefícios não monetários) devem ser mensurados ou estimados, bem como o beneficio econômico que é gerado através da melhoria dos recursos naturais e ambientais. Discussão Atualmente, vinte e cinco países, que detém 70% da população global e são responsáveis por 85% do PIB, produzem 80% das emissões globais de dióxido de carbono. Ambientalmente, nenhuma estratégia a longo prazo poderá ter sucesso sem o comprometimento destes referidos países (CLAUSSEN e DIRINGER, 2007). Uma característica fundamental da eco-eficiência é que ela adere o conceito de criação de valor e o relaciona às preocupações ambientais. A meta é criar valor para sociedade, e para a companhia, fazendo mais com menos, trabalhando sobre a base do ciclo de vida do produto. Para alcançar sucesso em longo prazo, as empresas devem criar valor para seus acionistas e clientes. Com o passar do tempo, cada vez mais e em maior grau, os clientes exigirão que o produto além de que simplesmente execute a função para o qual foi criado; sua produção, os materiais utilizados, seu uso e sua disposição final sejam inofensivo ao ambiente (WBCSD, 1996), o que fará com que as empresas pensem e atuem em termos de criar valor como um todo para a sociedade e o ambiente. Com tempos cada vez mais curtos de introdução no mercado e produtos mais complexos, é preciso identificar os potenciais problemas ambientais de forma mais ágil, obtendo o foco correto no processo de design, incluindo os possíveis impactos ambientais. Paralelamente, as firmas devem analisar se essas novas configurações geram lucro, 10/13 ANAIS mensurando o impacto no desempenho da empresa (sob os aspectos financeiro, marketing, operações, recursos humanos) na integração desses processos com a estratégia de negócio. Para Jeswiet e Hauschild (2005), empresas que se preocupam com sua imagem ambiental, poderão ter um impacto positivo sobre suas vendas e sua marca. Benefícios como melhoramento da imagem corporativa, redução dos riscos de endividamento, melhora do desempenho empresarial e redução de custos operacionais são, também, resultado de internalizar a dimensão ambiental (ecodesign) dentro da firma (KARLOSSON e LUTTROPP, 2006). O ciclo de vida ambiental dos produtos pode ser promovido pela área de marketing como um aspecto novo dos objetivos ambientais da empresa. Porém, esta perspectiva que incentiva a criação de eco-produtos, ou produtos verdes, como uma forma de fortalecer a marca da empresa, inclui diferentes tipos de prioridades, que os produtos e serviços tradicionais não têm. Neste sentido, o objetivo do ecodesign compreende outros aspectos além do próprio impacto ambiental. Por exemplo, investimentos para melhorar a eficiência em processos de consumo de energia e impacto ambiental, além de gerar um rápido retorno, originam melhoras significativas no desempenho do próprio processo, como qualidade, taxa de utilização da planta e produtividade (BARBIROLI, 2005). Se o meio ambiente fosse considerado como uma oportunidade para a transformação do comportamento global das empresas, isto proporcionaria um aumento da vantagem competitiva (BARBIROLI, 2005). Assim, a relação entre recurso-ambiente poderia ser incorporada dentro de um conceito de longo prazo e, como tal, se tornaria parte da prática usual das firmas. As firmas que reagem só quando são pressionadas por agentes externos (consumidores e governo), perderão importantes oportunidades de mercado. Por outro lado, empresas que desenvolvem nova tecnologia para melhorar o desempenho ambiental de forma antecipada evitarão altos custos futuros. Da mesma forma, empresas que dão prioridade à produtividade dos recursos, mudanças de processos e inovações em produto alçarão um desempenho significativo e vantagem em custo. Considerações Finais A minimização do consumo de materiais, energia e empacotamento reduzem a produção de um tipo de desperdício (principalmente de tipo tóxico). Por outro lado, maximiza a durabilidade, melhora a manutenção, conserto e atualização de componentes, com vistas a uma fácil reutilização e reciclagem, assegurando a utilização eficiente do produto, e melhorando continuamente a qualidade em todos os níveis. Embora algumas empresas ainda pensem no aquecimento global como um assunto de responsabilidade social, é preciso que seus gestores enxerguem-no como qualquer outra ameaça ou oportunidade estratégica. O foco deve estar nas causas, e não nas conseqüências do impacto ambiental, para criar uma nova estratégia de negócio, que além de reduzir o risco ambiental, melhore o desempenho da empresa. Toda inovação ambiental deveria ser implementada em um contexto de inovação mais geral, que envolva todo o processo de produção e de eficiência da empresa. Embora o modelo proposto seja desenhado principalmente para ser aplicado em contextos específicos, como firmas individuais ou processos específicos, esta estrutura pode ser aplicada em contextos mais amplos ou num setor completo, dependendo da extensão de análise e da disponibilidade dos dados. 11/13 ANAIS Bibliografia BAKHSHI,Vicki, KRAJESKI, Alexis. Accounting for Climate Change: A Window on the Future. Harvard Business Review, vol. 85, n. 10, pp. 36, 2007. BARBIROLI, Giancarlo. Matching "environmental performance" and "quality performance": A new competitive business strategy through global efficiency improvement. The TQM Magazine, vol.17 n.6, pp. 497-508, 2005. BARBIROLI, G., RAGGI, A. A method for evaluating the overall technical and economic performance of environmental innovations in production cycles. 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