Análise do ciclo de vida das caixilharias: um estudo comparativo João Ferreira Gomes1 e A. Moret Rodrigues2 Caixiave – Indústria de Caixilharia, S.A. e-mail: [email protected] 1 Instituto Superior Técnico/DECivil/Secção de Construção e-mail: [email protected] 2 RESUMO A crescente preocupação com a qualidade do Meio Ambiente, que se evidencia pela legislação cada vez mais exigente que vem sendo introduzida e por uma maior consciencialização dos cidadãos face aos problemas ambientais, tem impulsionado o aparecimento de novas técnicas de apoio às empresas visando a criação de outros modelos de produção que sejam ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis. Entre estas novas técnicas, surge a Análise do Ciclo de Vida (ACV), que é um método de avaliação do impacte ambiental de produtos e serviços. Este método identifica e quantifica de forma sistemática os fluxos de materiais, energia, resíduos e emissões produzidos durante o ciclo de vida em análise, permitindo estimar previamente os impactes ambientais daí resultantes. No presente artigo faz-se uma aplicação da ACV a diversos sistemas de caixilharia fabricados com diferentes tipos de materiais, apresentando-se as características de cada um deles e a sua importância nos principais indicadores ambientais: consumos energéticos e emissões de CO2 para a atmosfera. Esta avaliação é por sua vez complementada com uma análise económica de forma a classificar os sistemas também sob este prisma. Palavras-chave: Análise do Ciclo de Vida, Análise económica, Sustentabilidade, Caixilharias, Consumo de energia, Emissões de CO2. 1 1 INTRODUÇÃO características do edifício em que é instalada, ou seja, a avaliação do Os sistemas de caixilharia são produtos da construção da maior impacte das caixilharias durante a sua fase de utilização exige que o importância para o desempenho energético dos edifícios e impactes estudo das mesmas seja efectuado em associação com o edifício onde ambientais associados, não só pela sua contribuição para a energia estão instaladas. Assim, para este efeito, foi tomado como referência consumida pelos edifícios para a satisfação de exigências de conforto um fogo corrente de um edifício de habitação, que serviu de suporte a térmico e iluminação ambiente, como também para a energia incorporada todo o estudo de avaliação do desempenho das caixilharias na sua nos mesmos, decorrente dos consumos requeridos pelas diferentes fase de utilização. Este edifício apresenta um conjunto de vãos de etapas do ciclo de vida dos seus componentes, desde a extracção das janela distribuídos pelas suas fachadas, nos quais foram instalados, à matérias-primas até ao processo de desactivação final, no termo da vez, os diferentes tipos de sistemas em análise – madeira, alumínio e sua vida útil. Dada a variedade de materiais e sistemas de caixilharia PVC –, para a avaliação dos respectivos consumos energéticos actualmente existentes no mercado, é assim inquestionável o interesse característicos da fase de utilização. Neste estudo apenas foram duma análise comparativa destes sistemas em termos energéticos e levantados os consumos energéticos para assegurar as exigências de ambientais, tendo em conta todas as fases do seu ciclo de vida, a qual conforto térmico, embora um estudo mais completo devesse abranger permitirá avaliar de uma forma mais sustentada o contributo de cada também os consumos que resultam da satisfação de exigências de um desses sistemas para o desafio energético e ambiental com que os iluminação ambiente. De facto, as caixilharias, podendo contribuir edifícios actualmente se defrontam. significativamente para assegurar estas exigências pelo menos numa Neste contexto, o presente artigo aplica o método geral de Análise do parte do dia, são também elementos importantes de redução dos Ciclo de Vida (ACV) a um conjunto de diferentes tipos de sistemas de consumos de energia eléctrica para esses fins. De referir, também, que caixilharia que são de utilização corrente em edifícios – caixilharias de as análises foram realizadas para o conjunto total de caixilharias do alumínio, de madeira e de PVC –, procurando quantificar o impacto fogo, por se considerar que os benefícios que resultariam de uma energético e ambiental dos seus materiais constituintes e respectivos análise individualizada não iriam compensar o custo do trabalho processos produtivos em todas as etapas do seu ciclo de vida, através implicado. Deste facto resultou que as comparações entre as diferentes de dois principais indicadores: soluções de caixilharia de madeira, de alumínio e de PVC – não tenham sido realizadas numa base individual e descontextualizada – mas sim a • O consumo energético ao longo do ciclo de vida; nível de conjunto e tendo em conta a forma de integração na edificação, • As emissões de CO2 para a atmosfera durante o processo de ou seja, englobando a totalidade das unidades de caixilharia associa- fabricação, no período de utilização, na reciclagem, no transporte e na das aos diferentes vãos e a sua disposição respectiva dentro do fogo. deposição final de resíduos. Como complemento da análise energética e ambiental dos diversos sistemas de caixilharia, apresenta-se ainda um estudo económico De entre as diferentes etapas do ciclo de vida de uma caixilharia, baseado no método do Custo Global ou Life Cycle Cost (LCC). assume importância fundamental a fase da sua utilização no edifício, durante a qual a caixilharia tem a sua quota-parte de contribuição para o consumo energético do mesmo. Daí que a energia que fica associada à fase de utilização de uma caixilharia não se possa dissociar das 2 2 PROBLEMA EM ESTUDO 91,1 m2 e localiza-se no último piso sob uma cobertura em terraço A Análise do Ciclo de Vida (ACV) foi realizada neste artigo para três tradicional (U=0.58 W/m2ºC). diferentes sistemas de caixilharia − alumínio com corte térmico, PVC e Relativamente aos sistemas de caixilharia a comparar, apresentam-se madeira de carvalho − instalados num fogo de um edifício corrente de na Tabela 1 as características geométricas e comportamentais das habitação. Trata-se de um edifício de 5 pisos localizado em Lisboa, diferentes tipologias de janela, fundamentais para a análise dos com dois fogos por piso, paredes duplas de alvenaria com isolamento impactes ambientais dos diversos sistemas de caixilharia na fase de térmico na caixa de ar (U=0,65 W/m2ºC), e estrutura porticada de betão utilização analisados neste artigo. armado. O fogo é o que se mostra na Figura 1, tem uma área útil de e N c d 1,10 m Ext. a Int. b Figura 1 – Características do edifício. 3 Tipologia l x h (m x m) Janela de alumínio com corte térmico 1,20 x 1,10 3,24 x 1,10 1,20 x 1,10 Vidro eg1/ea/ eg2 (mm) Ag (m2) Af (m2) A (m) B (m) C (m) D (m) E (m) Ucg (W/m2 ºC) Ueg (W/m2 ºC) Uf (W/m2 ºC) Q (m3/h/m2) Massa do caixilho + vidro (kg) Janela de PVC Janela de PVC 3,24 x 1,10 1,20 x 1,10 3,24 x 1,10 0,68 0,64 0,138 0,138 0,029 0,026 0,119 2,90 2,93 2,50 5 45,52 2,47 1,09 0,138 0,138 0,029 0,026 0,119 2,90 2,93 2,50 5 110,33 Duplo 4/12/4 0,78 0,54 0,115 0,115 0,005 0,005 0,110 2,90 3,48 2,45 9 29,72 2,51 1,05 0,090 0,090 0,005 0,005 0,110 2,90 3,48 2,45 9 77,80 0,68 0,64 0,138 0,138 0,029 0,026 0,119 2,90 2,93 1,35 1,1 30,70 2,47 1,09 0,138 0,138 0,029 0,026 0,119 2,90 2,93 1,35 1,1 82,04 Tabela 1 – Características dos vãos envidraçados. Na Tabela 1 listam-se, sucessivamente, os valores dos seguintes impactes causados no Ambiente, desde a extracção dos recursos parâmetros: largura × altura do vão (l×h), espessuras dos vidros e caixa naturais, passando pela fase de utilização dos materiais, até ao de ar (eg1/ea/eg2), área de vidro (Ag), área de caixilho (Af), geometria dos regresso destes ao ciclo natural. A norma internacional que fornece os perfis e seu posicionamento no vão de acordo com a Figura 1 (a, b, c, princípios, a estrutura e alguns requisitos metodológicos para a d, e), coeficientes de transmissão térmica da zona central do envidraça- realização de estudos com base no método ACV é a norma internacio- do (Ucg), da zona dos bordos do envidraçado (Ueg) e do caixilho (Uf), nal ISO 14040. Todos os detalhes adicionais relativos às várias fases permeabilidade do caixilho (Q) e massa do sistema (caixilho mais vidro). deste método são fornecidos pelas normas internacionais complementares: ISO 14041, ISO 14042 e ISO 14043. 3 ANÁLISE DO CICLO DE VIDA (ACV) A Análise do Ciclo de Vida (ACV), ou LCA na terminologia original 3.1 O ciclo de vida da caixilharia anglo--saxónica (Life Cycle Assessment), é um método de avaliação do A metodologia da ACV aponta, numa primeira fase (conhecida por impacte ambiental de produtos e serviços. Mais precisamente, a ACV é inventário), para a obtenção de indicadores relativos aos consumos uma avaliação que “inclui o ciclo de vida completo do produto, energéticos e às emissões de CO2 para a atmosfera − segundo um processo ou actividade, ou seja, a extracção e o processamento de fluxograma de entradas (energia e/ou materiais) e de saídas (resíduos matérias-primas, a fabricação, o transporte e a distribuição, a utilização, e/ou emissões) − nas etapas principais do ciclo de vida de uma a manutenção, a reciclagem, a reutilização e a deposição final”[1]. caixilharia: extracção de recursos e produção de materiais, fabricação Nesta avaliação, a ACV identifica e quantifica de forma sistemática os da caixilharia, sua utilização no período de vida útil, desconstrução / fluxos de materiais, energia, resíduos e emissões produzidos durante o remoção e deposição final dos resíduos em lixeira / aterro sanitário, ciclo de vida considerado, permitindo estimar previamente os impactes reciclagem e transporte entre etapas (Figura 2). Numa segunda fase ambientais daí resultantes. (conhecida por avaliação), são quantificadas todas as entradas e saídas Com esta ferramenta pode avaliar-se de forma holística um produto ou do fluxograma e apurados os totais finais de energia consumida e de uma actividade durante todo o seu ciclo de vida e deduzir os potenciais emissões de CO2 produzidas em todas as etapas do ciclo de vida. Esta 4 sistematização da informação permite identificar as etapas onde são Relativamente ao consumo energético, a fase de extracção e produção produzidos os resíduos e/ou as emissões, as quantidades de energia de alumínio requer uma elevada quantidade de energia eléctrica que circulam e deixam o sistema, e avaliar os impactes ambientais associados a cada etapa do ciclo de vida. Fabricação da caixilharia Consumo de energia Extracção de matérias-primas e produção de caixilharia Consumo de energia Fabricação da caixilharia Emissão Reciclagem Outros usos Remoção/ deposição final Utilização Emissão Consumo de energia Consumo de energia Emissão Emissão Consumo de energia Emissão Emissão Figura 2 – Esquema do ciclo de vida de uma caixilharia. (45,56 kWh/kg), na qual se inclui a energia dispendida na extracção da Atendendo a que os sistemas de caixilharia em análise são fabricados matéria-prima, no tratamento da alumina e na obtenção final de com diferentes tipos de materiais, o seu ciclo de vida assume aspectos alumínio (WBG [2]). O consumo de energia envolvido gera ainda uma particulares consoante o material utilizado (perfis de alumínio, de PVC – elevada quantidade de cinzas e de elementos poluentes considerados incluindo os reforços de aço – e de madeira). A este conjunto de perigosos para a atmosfera, tais como, o dióxido de carbono, o ácido materiais utilizados pelas alternativas de caixilharia estudadas, deve sulfúrico, os hidrocarbonetos (PAHs) e a fluorina. acrescentar-se um elemento que é comum a todas elas – o(s) pano(s) O alumínio pode ser reciclado repetidamente sem qualquer deterioração de vidro. do material, representando o consumo de energia associado a esta No ponto seguinte apresentam-se as características de cada um fase cerca de 7% do total da energia correspondente à fase de destes materiais e a sua importância no consumo energético. produção. 4 MATERIAIS UTILIZADOS EM SISTEMAS DE Na Figura 3 apresenta-se o esquema relativo ao fabrico de uma CAIXILHARIA E SEUS IMPACTES caixilharia de alumínio. 4.1 Alumínio O alumínio não se encontra na Natureza no seu estado metálico, mas como parte integrante de vários minerais onde normalmente está combinado com silicone e oxigénio. A matéria-prima de base utilizada na produção do alumínio é a bauxite, que é um mineral muito abundante na Natureza. A produção do alumínio para a fabricação de caixilharia processa-se geralmente em três etapas: extracção da matéria-prima e processo de fabrico, processo de extrusão, e tratamentos e acabamentos. Extracção da bauxite Vidro e outros componentes Processo químico e electrólise Fundição do alumínio Processo de extrusão Perfis para caixilharia Lacagem dos perfis Produção da caixilharia Figura 3 – Esquema da produção de uma caixilharia de alumínio. 5 4.2 Madeira A madeira é um recurso natural constituído por celulose (70%) e outras Madeira retirada a partir das árvores Secagem e tratamento da madeira Perfis para caixilharia substâncias orgânicas como proteínas, açúcar, resina e água. Trata-se Envernizamento/pintura de um material renovável, 100% reciclável e bio-degradável, que continua a ser utilizado tradicionalmente na produção de caixilharia, por Vidro e outros componentes Produção da caixilharia Figura 4 – Esquema da produção de uma caixilharia de madeira. um lado devido à grande oferta que ainda existe em algumas zonas do 4.3 PVC Mundo, por outro, devido à vulgarização dos processos industriais O PVC é um polímero termoplástico (termo-moldável a quente, de envolvidos, nomeadamente na extracção, processamento e produção. forma reversível, sem modificação química) cujos componentes básicos Relativamente às espécies de madeira utilizadas na fabricação da são o cloro e o etileno, obtidos respectivamente do petróleo (43%), que caixilharia, existe uma grande variedade, desde as madeiras mais é um recurso natural não renovável, e do sal comum ou cloreto de vulgares até às madeiras mais exóticas (geralmente com uma elevada sódio (57%), que, ao contrário, é um produto abundante na Natureza e durabilidade e resistência). No que respeita às madeiras exóticas, o seu que se pode considerar inesgotável. A partir do cloro e do etileno é consumo tem vindo a crescer e com ele o acentuar da depredação de obtido o Monómero de Cloreto de Vinil e é depois da polimerização florestas tropicais, facto que tem intensificado as preocupações deste que se obtém o produto final – Policloreto de Vinil –, conhecido ambientais relativas à necessidade de garantir uma gestão sustentável pela designação de PVC. Este material sintético apresenta características das florestas. Por este motivo, tem vindo a exigir-se que as madeiras e propriedades diversificadas, em função dos compostos e tipo de utilizadas em caixilharia sejam originárias de florestas geridas de forma aditivos utilizados. Nesta área, têm sido efectuados avanços científicos sustentável e certificadas por uma avaliação independente. Embora e tecnológicos importantes, sobretudo no desenvolvimento e/ou existam diversos sistemas de certificação florestal, na Europa os mais substituição dos aditivos à base de cádmio e chumbo por outros à conhecidos são o Program for the Endorsement of Forest Certification base de cálcio e zinco, garantindo quer o cumprimento dos requisitos (PEFC) [3] e o Forest Stewardship Council (FSC) [4]. técnicos necessários quer o respeito pelo Meio Ambiente. Relativamente ao consumo energético, a produção de PVC requer um valor de cerca Relativamente ao consumo energético, a madeira apresenta um de 7,19 kWh/kg [7]. valor de energia incorporado de cerca de 0,58 kWh/kg, que pode ser considerado baixo sobretudo quando comparado com o de outros Aço materiais como o alumínio ou o PVC. Este valor de consumo energético Para a produção de caixilharia de PVC são necessários reforços em inclui as parcelas relativas à extracção, transporte (apontando-se para aço, colocados no interior das câmaras dos perfis. Para o consumo distâncias mínimas de 250 km) e secagem (Simapro5 [5]). energético que envolve as fases de extracção, transporte e produção Relativamente às fontes de energia envolvidas nestes processos, do aço, assume-se um valor total de cerca de 6,70 kWh/kg. Este valor aponta-se que 92% do consumo resulte da utilização de gasóleo, é obtido a partir do consumo energético da produção (5,03 kWh/kg) enquanto que 8% corresponda à utilização de electricidade [6]. Na (EPA [7]), que se admite corresponder a 75% do consumo energético Figura 4 apresenta-se o esquema de fabrico de uma caixilharia de total. Na Figura 5 apresenta-se o esquema de fabrico de uma caixilharia madeira. de PVC. 6 Produção do cloro a partir do sal Produção de etileno a partir do petróleo Aditivos Vidro e outros componentes Produção de 1-2, Dicloroetano Composto de PVC Produção do VCM e da resina de PVC Processo de extrusão Produção da caixilharia Perfis para caixilharia Figura 5 – Esquema da produção de uma caixilharia de PVC. 4.4 Vidro No que respeita ao consumo energético (energia eléctrica) dispendido Independentemente do tipo de material utilizado nos perfis, o vidro é na fabricação da caixilharia, aceita-se que, independentemente do tipo um elemento comum a todos os sistemas de caixilharia. Relativamente de material utilizado, o seu valor seja aproximadamente de 4,8 kWh por ao consumo energético para a sua produção, assume-se um valor de cada caixilho [6]. cerca de 2,70 kWh/kg (EPA [7]). Este valor é obtido a partir do consumo energético da produção (2,03 kWh/kg) (EPA [7]), que se 5.2 Fase de utilização da caixilharia admite corresponder a 75% do consumo energético total. Atendendo Numa caixilharia, os consumos energéticos e emissões de CO2 aos valores totais do consumo de energia, aponta-se ainda que 89% referentes ao período de utilização constituem uma percentagem dos desse valor corresponda à utilização de gasóleo/fuelóleo, enquanto que valores globais apurados para o espaço e/ou edifício onde está os restantes 11% respeitem à utilização de electricidade. integrada. O período de utilização, sendo normalmente muito alargado, representa a etapa mais importante do ciclo de vida de uma caixilharia 5 FASES DO CICLO DE VIDA (habitualmente considera-se que a caixilharia pode apresentar uma vida 5.1 Fases de extracção de recursos, produção de materiais e útil de 50 anos) em termos de consumo de energia e de emissões de fabrico da caixilharia CO2 para a atmosfera. De acordo com a descrição anterior relativa aos processos de extracção das matérias-primas e produção dos diferentes materiais Para a avaliação dos impactes ambientais de cada solução alternativa utilizados em sistemas de caixilharia, resumem-se na Tabela 2 os de caixilharia na fase de utilização, foi tido em conta o fogo de valores dos consumos de energia associados a esses processos. referência já descrito, para o qual foram calculadas, em função das características da envolvente construtiva e da zona climática de Lisboa, Material Consumo de energia (kWh/kg) Fonte as necessidades energéticas anuais de conforto e apuradas as parcelas atribuíveis às caixilharias [8]. Estas parcelas resultam do Aço 6,70 EPA - Environmental Protection Agency (2004) [7] Alumínio 45,56 WBG - Aluminium Manufacturing (2004) [2] Madeira 0,58 Base de dados do programa informático SimaPro 5.1 [5] PVC 7,19 Baldassano y Parra [6] 2005 ao fogo – aquecimento ou arrefecimento – é o estritamente necessário Vidro 2,70 EPA - Environmental Protection Agency (2004) [7] para manter a sua temperatura interior nos valores convencionados de Tabela 2 - Consumos de energia necessários à extracção das matériasprimas e à produção de diferentes materiais utilizados na fabricação de sistemas de caixilharia. balanço entre as perdas e os ganhos de calor que ocorrem através daqueles elementos, admitindo que o fornecimento de energia térmica conforto (acima de 20ºC no Inverno e abaixo de 25ºC no Verão). Dado que as caixilharias, para além das perdas de calor, são responsáveis 7 por uma importante parcela de ganhos, a sua contribuição para os aterros sanitários, assumiu-se um valor de 0,155 kWh por cada kg [6], consumos energéticos e emissões de CO2 é favorável se, no Inverno, considerando que a energia dispendida provém 100% do consumo de os ganhos se sobrepuserem às perdas (conduzem a poupança em gasóleo. energia de aquecimento do fogo) ou, no Verão, as perdas forem superiores aos ganhos (conduzem a poupança em energia de 5.4 Fase de transporte arrefecimento do fogo). Nos casos contrários, a contribuição das A necessidade de transportar em camiões de carga os materiais e caixilharias será obviamente negativa. Tanto a poupança como o produtos ao longo das diferentes etapas do ciclo de vida implica ainda consumo especificamente associados às caixilharias são quantificados considerar um importante consumo energético com origem em para o conjunto das 4 janelas do fogo. combustíveis fósseis (normalmente gasóleo). Nos estudos de ACV de caixilharia efectuados na Europa Ocidental, o consumo energético As necessidades de energia útil para assegurar o conforto térmico do geralmente aceite para a fase de transporte é de cerca de 0,00073 fogo apresentado foram obtidas através do programa EnergyPlus [9], kWh/km/kg [6], correspondendo a um percurso médio de 100 km. Este que é um programa informático de análise termo-energética de edifícios valor deve ser considerado em todas as etapas de transporte que que permite simular também as condições de ventilação natural. seguidamente se apresentam: 5.3 Fases de desconstrução/remoção, reciclagem e deposição final da caixilharia Os trabalhos de desconstrução e/ou remoção da caixilharia consistem na desmontagem e separação de materiais e componentes para reciclagem. Geralmente, estes trabalhos exigem apenas utilização de mão-de-obra, sendo o consumo de energia envolvido normalmente • Transporte dos recursos e materiais desde o local de extracção até às unidades de produção; • Transporte dos diversos materiais até à unidade de produção da caixilharia; • Transporte entre a unidade de produção da caixilharia e o local da obra; muito reduzido (correspondente à utilização de pequenas ferramentas • Transporte dos resíduos desde a obra até ao local onde serão eléctricas). Nas operações de reciclagem, assume-se geralmente que depositados (em lixeiras e/ou aterros sanitários) ou até a unidades de 97% de materiais como o PVC, o alumínio e o vidro contidos numa reciclagem, após os trabalhos de remoção/desmontagem da caixilharia. caixilharia são recicláveis. Os restantes 3% constituem resíduos que se depositam em lixeiras e/ou aterros sanitários [6]. No entanto, quando se utilizam madeiras exóticas nas caixilharias, deve-se considerar que aquelas provêem de longas distâncias No que respeita às operações de reciclagem dos perfis de PVC, (geralmente da América Latina, África ou Ásia), sendo o seu transporte admitiu-se um consumo de energia eléctrica de 0,25 kWh/kg [6], geralmente realizado por via marítima. No caso dos perfis de PVC e de enquanto que para a reciclagem dos perfis de alumínio, dos reforços alguns perfis de alumínio, os seus países fornecedores localizam-se em aço e do elemento vidro, os consumos de energia eléctrica geralmente na Europa Central, pelo que o transporte desses elementos admitidos foram de 4,17 kWh/kg (WBG [2]), 5,03 kWh/kg (EPA [7]) e é normalmente realizado por via terrestre. Todas estas situações devem 2,03 kWh/kg (EPA [7]), respectivamente. Quanto ao consumo ser analisadas caso a caso, se se pretender um cálculo rigoroso quer energético relativo à deposição final dos resíduos em lixeiras e/ou do consumo de energia quer das emissões de CO2 para a atmosfera. 8 5.5 Factores de emissão de CO2 energia para assegurar o conforto térmico, foi admitido um tempo de Para cada etapa da ACV de uma caixilharia, além dos consumos de vida útil de 50 anos. Valores com sinal negativo significam poupança de energia, é fundamental apurar os factores de emissão de CO2 de base, energia e de correspondentes emissões de CO2, enquanto que valores que dependem da fonte de energia/tipo de combustível utilizado. positivos correspondem a consumo energético e a emissões de CO2 Assim, na Tabela 3 apresentam-se os factores de emissão de CO2 de para a atmosfera. Na fase de utilização, foi também prevista a base associados a cada etapa, de acordo com a composição do separação do consumo energético nas suas parcelas para aquecimento fornecimento de energia indicada para cada caso. e arrefecimento, pela possibilidade de se utilizarem fontes de energia, ou combustíveis para a sua produção, diferentes. Nos cálculos Fonte de energia/Tipo de combustível Factor de emissão (KgCO2/kWh) Electricidade 0,230 Electricidade* 0,284 realizados admitiu-se para o aquecimento uma caldeira a gás natural (GN) e para o arrefecimento um sistema de bomba de calor (BC) com Gasóleo/Fuelóleo 0,267 compressor accionado por um motor eléctrico. Dado que estes equipamentos têm um dado rendimento (η), a energia final que Gás Natural 0,2009 Gás Propano 0,227 Carvão 0,346 consomem relaciona-se com a energia útil de climatização através da expressão: * Factor correspondente à produção de PVC. E Tabela 3 - Factores de emissão de CO2 final = E útil η 6 RESULTADOS tendo-se admitido η=0,9 e η=3,0 (COP – Coeficiente de performance) Nas Tabelas 4 e 5 apresentam-se os resultados dos consumos e para a caldeira a gás natural e para o sistema de bomba de calor, emissões correspondentes às várias etapas do ciclo de vida, tendo em respectivamente. consideração que para a fase de utilização, em que é dispendida Das Tabelas 4 e 5 pode concluir-se que as etapas do ciclo de vida que Caixilharia de alumínio com corte térmico Consumo de energia Etapas ACV Extracção e produção Transporte para produção Fabricação da caixilharia Transporte até à obra Utilização (50 anos) Eaquec. (GN) Earref. (BC) Transporte para lixeira/aterro Remoção/deposição final Transporte para reciclagem Reciclagem Consumo e emissões Poupança BALANÇO kWh 3449,29 12,19 19,20 12,19 -27911,11 6720,00 0,35 0,75 11,81 473,98 10699,76 -27911,11 -17211,35 % consumo 32,24 0,11 0,18 0,11 62,81 0,00 0,01 0,11 4,43 100,00 Emissões de CO2 Kg 785,61 3,26 4,40 3,26 -5607,32 1545,60 0,11 0,22 3,15 109,01 2454,62 -5607,32 -3152,70 % emissões 32,01 0,13 0,18 0,13 62,97 0,00 0,01 0,13 1,35 100,00 Caixilharia de madeira * Consumo de energia kWh 456,18 21,32 19,20 21,32 -24316,67 6086,67 11,48 24,34 5,72 306,60 6952,83 -24316,67 -17363,84 % consumo 6,56 0,31 0,28 0,31 87,54 0,17 0,35 0,08 4,41 100,00 Emissões de CO2 Kg 113,64 5,69 4,40 5,69 -4855,22 1399,93 3,06 6,51 1,54 70,52 1610,98 -4855,22 -3244,24 % emissões 7,05 0,35 0,27 0,35 86,90 0,19 0,40 0,10 4,38 100,00 * Madeira de carvalho Tabela 4 - Consumo de energia e emissões de CO2 ao longo do ciclo de vida para todas as unidades de caixilharia do fogo. Solução de caixilharia de alumínio com corte térmico e de madeira com vidro duplo 4/12/4. 9 Caixilharia de PVC Consumo de energia kWh Etapas ACV % consumo 955,14 16,01 19,20 16,01 Extracção e produção Transporte para produção Fabricação da caixilharia Transporte até à obra Utilização (50 anos) Etc. (GN) Earref. (BC) Transporte para lixeira/aterro Remoção/deposição final Transporte para reciclagem Reciclagem Consumo e emissões Poupança BALANÇO Emissões de CO2 12,98 0,22 0,26 0,22 -27688,89 5840,00 0,47 1,04 15,54 492,31 7355,72 -27688,89 -20333,17 79,39 0,01 0,01 0,21 6,69 100,00 Kg % emissões 251,56 4,27 4,40 4,27 -5562,72 1343,20 0,12 0,28 4,15 142,87 1755,12 -5562,72 -3807,60 14,33 0,24 0,25 0.24 76,53 0,01 0,02 0,24 8,14 100,00 Tabela 5 - Consumo de energia e emissões de CO2 ao longo do ciclo de vida para todas as unidades de caixilharia do fogo. Solução de caixilharia de PVC com vidro duplo 4/12/4 mais condicionam os resultados finais são a etapa de utilização, custos iniciais e os custos de manutenção das diferentes soluções de emprimeiro lugar, e as de extracção e de produção, logo a seguir. De caixilharia, com base em informações dos fornecedores. entre os três sistemas comparados, o sistema de caixilharia de PVC é o Relativamente aos custos de exploração, eles dependem fortemente que apresenta um valor de sustentabilidade mais elevado (maior dos sistemas de climatização utilizados e das fontes de energia que poupança de energia e maior crédito de emissões), seguido da lhes estão associadas. Considerando a utilização de uma caldeira a gás caixilharia de madeira e, por último, da caixilharia de alumínio com corte natural, para o aquecimento, e de um sistema de bomba de calor térmico. funcionando a energia eléctrica, para o arrefecimento, o custo de Passando à análise dos custos, apresentam-se nas Tabelas 6 e 7 os exploração anual Cexp (€/ano), correspondente a um dado consumo Janelas de Alumínio Janelas de Madeira Janelas de PVC Dimensões (mxm) Unidades Vidro duplo (4/12/4) 1,20x1,10 3 364,00€ 495,00€ 3,24x1,10 1 540,00€ 660,00€ 420,00€ Cinicial (TOTAL) 4 1632,00€ 2145,00€ 1170,00€ 250,00€ Tabela 6 – Custo inicial das soluções de caixilharia (preços correntes de mercado em 2006). Custos futuros (€) Alternativas de caixilharia Custo anual de manutenção Custo de manutenção (cada 10 anos) Custo de manutenção (cada 20 anos) Vida útil estimada 4 janelas de alumínio 50,00€ 100,00€ 350,00€ 50 anos 4 janelas de madeira 100,00€ 100,00€ 350,00€ 50 anos 4 janelas de PVC 50,00€ 50,00€ 350,00€ 50 anos Tabela 7 – Custos de manutenção das soluções de caixilharia estimados ao longo do ciclo de vida útil. 10 energético anual Eútil (kWh/ano), vem dado por: Na Tabela 10 apresentam-se os resultados da avaliação económica para as três soluções alternativas de caixilharia quando instaladas no E útil . Cu PCI ×η Cexp = edifício apresentado. Estes resultados foram apurados através do em que PCI é o poder calorífico inferior (apenas para o gás natural) e Cu cálculo do Valor Actual do Custo Global de cada uma das soluções, é o custo unitário do consumo. entrando em conta com a soma de todos os custos significativos Na Tabela 8 resumem-se as características dos dois sistemas de (custos iniciais e custos futuros) que ocorrem num dado horizonte de climatização considerados. projecto de N anos, depois de devidamente ajustados ao tempo actual ou presente (descontados): Aquecimento Parâmetros Cu η PCI Unidades Arrefecimento t=N Gás Natural/Caldeira (GN) Electricidade/Bomba de Calor (BC) 0,5437/m3 0,0988/kWh - 0,9 3,0 kWh/m3 10,53 - € VA LCCA j = Ci + ∑ t=N Cexp t t =1 (1 + d) + ∑ t = N / 10 Cman 1 + t t =1 (1 + d) ∑ t =1 Cman 10 (1 + d) t ×10 t = N / 20 + ∑ t =1 Cman 20 (1 + d) t ×20 em que: VA = Valor Actual; LCC Aj = Life Cycle Cost associado à alternativa Aj; Ci = Custo inicial; Cexp = Custos de exploração anuais; Cman1= Custos de manutenção anuais; Cman10= Custos de manutenção em cada 10 anos; Cman20= Custos de manutenção em cada 20anos; d = Taxa de actualização real usada para ajustar os cash-flows para o valor actual (d=0,06); N = períodotemporal (N=50 anos). Tabela 8 – Características dos sistemas e das fontes de energia. Como se verifica pelos resultados da Tabela 10, se o processo de Com base nos valores da energia útil obtidos no balanço térmico das decisão se basear na óptica do custo global que atenda aos custos caixilharias [8], apresenta-se na Tabela 9 os custos de exploração iniciais e futuros (custos de exploração e de manutenção), à semelhança anuais para as quatro soluções alternativas de caixilharia para zona da análise ambiental apresentada nas Tabelas 4 e 5, a escolha recairia climática em estudo (Lisboa). sobre os sistemas de caixilharia de PVC. Janelas de alumínio Parâmetros Unidades Janelas de madeira Janelas de PVC Vidro duplo 4/12/4 Eaquec kWh/ano -502,40€ -437,70€ Caquec €/ano -28,82€ -25,11€ -498,40€ -28,59€ Earref kWh/ano 403,20€ 365,20€ 350,40€ Carref €/ano 13,28€ 12,03€ 11,54€ Cexp (Caquec+Carref) € -15,54€ -13,08€ -17,05€ Tabela 9 – Custos de exploração das soluções de caixilharia para a zona climática de Lisboa (l1,V2). Lisboa Janelas de PVC Janelas de madeira Janelas de alumínio 1952,09€ 2437,89€ 3897,34€ Tabela 10 - Custo Global das várias soluções alternativas de caixilharia para a zona climática de Lisboa 11 7 CONCLUSÕES Neste artigo foi efectuada uma Análise do Ciclo de Vida e uma avaliação económica para três sistemas de caixilharia alternativos de um fogo de habitação localizado em Lisboa. O estudo mostrou que os sistemas de caixilharia de PVC apresentam-se como a alternativa mais vantajosa do ponto vista ambiental e económico, tendo em conta os seguintes aspectos: - Do ponto de vista ambiental, a caixilharia de PVC é a que apresenta menores consumos energéticos e menor quantidade de emissões de CO2 ao longo de todo o ciclo de vida útil; - Do ponto de vista económico, os sistemas de caixilharia de PVC apresentam o menor custo global, assumindo-se como a escolha mais adequada quando comparados com outros sistemas de caixilharia alternativos, funcionalmente equivalentes. 12 REFERÊNCIAS [1] SETAC - Society of Environmental Toxicology and Chemistry - Guidelines for Life-Cycle Assessment: A Code of Practice, SETAC, Bruxelas (Bélgica), 1993. [2] WBG – Aluminium Manufacturing. The World Bank Group, 2004. http://www.wbg.org [3] Program for the Endorsement of Forest Certification (PEFC), http://www.certificationcanada.org [4] Forest Stewardship Council (FSC), http//www.fscus.org [5] PRé Consultants B.V. – SimaPro5 Life-Cycle Assessment Software Package, version 36. Plotter 12, 3821 BB Amersfoort, Holanda, 2001. http://www.pre.nl [6] Universitat Politècnica de Catalunya, Departament de Projectes d’Enginyeria, Laboratório de Modelización Ambiental – Estimación del consumo energético y de la emisión de CO2 asociadas a la producción, uso y disposición final de ventanas de PVC, alumínio y madera, Barcelona, Abril 2005. [7] EPA – About Brefs. Environmental Protection Agency, Dezembro 2004. http//www.epa.ie [8] Gomes, João Ferreira – Sistemas de caixilharia de PVC: Um Contributo para a Qualidade e Sustentabilidade da Construção, Dissertação de Mestrado em Construção, IST – Instituto Superior Técnico, 2007. [9] Lawrence Berkeley National Laboratory – EnergyPlus Engineering Document: The Reference to EnergyPlus Calculations, 2001.