Franklin Schargel: “Qualidade na educação se consolida a partir do primeiro passo” Especialista americano em Educação participa do III Congresso Internacional da Qualidade, em Porto Alegre O Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (PGQP) traz a Porto Alegre o consultor educacional Franklin Schargel, da Divisão Educacional da American Society for Quality como palestrante no III Congresso Internacional da Qualidade. Graduado na Universidade de Nova Iorque, Schargel possui mestrados em Educação Secundária e em Administração e Supervisão Escolar. Lecionou durante 33 anos e atuou por 8 anos como diretor administrativo e de supervisão escolar. Atualmente, ensina no Programa de MBA de Dowling College. Atuou no Comitê de Desenvolvimento das linhas de pensamento do Prêmio Malcolm Baldrige em Educação. Como presidente da empresa Schargel Consulting Group, tem desenvolvido trabalhos para grupos de educação, comunidade e negócios nos Estados Unidos, Europa, Canadá e América Latina. Seus workshops mostram às pessoas como transformar o seu sistema educacional em organizações de classe mundial. O especialista também irá participar do I Simpósio Internacional Qualidade e Educação que acontece no dia 29 de novembro, das 9 às 17h, na Unisinos, em São Leopoldo. PGQP: Quais foram os resultados atingidos a partir do trabalho desenvolvido pelo senhor na implantação da gestão pela Qualidade em escolas americanas? Franklin Schargel: Entre as nossas conquistas até o momento, os resultados das provas dos alunos melhoraram, assim como os professores e os alunos passaram a gostar mais das aulas e do método de ensino-aprendizagem. Se o professor gosta do que está fazendo e está satisfeito com o seu ambiente de trabalho e benefícios que recebe, ele ensina com mais entusiasmo. Isso é percebido e apreciado pelos alunos. PGQP: Quantas escolas estão envolvidas com o movimento pela Qualidade nos Estados Unidos? Franklin Schargel: Dentro do sistema educacional nos Estados Unidos, as escolas estão divididas em ensino Elementar, Primário, Médio e High School. Neste grupo, cerca de mil escolas estão utilizando as técnicas, ferramentas, práticas e filosofias do Malcolm Baldrige e do sistema de gestão pela Qualidade na Educação. PGQP: Após a implantação da Qualidade, as provas e o aproveitamento dos alunos em sala de aula melhoraram? Franklin Schargel: Sem dúvida. Temos excelentes resultados e estamos muito orgulhosos. PGQP: Quais as práticas que o senhor indica aos gestores na área da Educação e aos professores brasileiros que têm interesse em começar a aplicar o sistema de gestão pela Qualidade na Educação? Franklin Schargel: Durante o III Congresso Internacional da Qualidade, em Porto Alegre, estarei realizando cursos técnicos e apresentarei cases de sucesso nos Estados Unidos. No entanto, as pessoas que tiverem interesse também pode entrar em contato comigo via e-mail ([email protected]), que responderei todas as dúvidas. Iniciamos em 1988 a jornada das escolas americanas no movimento da Qualidade. Por isso, temos resultados que podem servir como benchmark para outros países. O que posso adiantar é que o processo é longo. Mas hoje, já é possível localizar exemplos e iniciar o processo com orientação. Quando se vê resultado, o incentivo aumenta e fica muito mais fácil.Um trajeto de 10 mil milhas começa com o primeiro passo. PGQP: Como mobilizar os professores a adotarem essas novas práticas? Franklin Schargel: Isso deve ser internalizado. A grande maioria dos professores quer fazer um bom trabalho, mas eles têm dificuldade porque este é um processo novo para a maioria. Eles sempre estiveram focados em ensinar, e não no aprendizado. E isso ocorre em todo o mundo. Os professores acreditam que, se aperfeiçoarem o método de ensino e trabalharem duro ensinando, as coisas irão ficar melhor. Mas é preciso focalizar os esforços no aprendizado. O que deve ser medido não é a maneira como os professores estão ensinando, mas, sim, como os alunos estão aprendendo e assimilando o conteúdo. PGQP: Exemplifique uma de suas experiências com as escolas americanas. Franklin Schargel: Um dos casos mais difíceis que solucionamos foi em Nova Iorque, com uma escola de crianças carentes. Em quatro anos, cerca de 50 crianças foram mortas a tiros no trajeto da escola. Precisávamos pensar em como trabalhar e avaliar a aprendizagem em um bairro onde as crianças corriam risco de vida ao irem para a escola. Não estávamos falando de uma escola perigosa, mas de uma região perigosa para se aproximar. Após o trabalho de conscientização e renovação do sistema de gestão escolar, reduzimos as faltas de 21.9% para 2,1% em quatro anos. A participação da família na Associação de Pais e Mestres passou de 11 representante para 212 em nove meses. A maioria das crianças se formaram na High School – elas foram as primeiras a conquistarem o diploma em suas famílias. Formamos acima de 90% e 72% dos estudantes foram para a Universidade, o que é acima da média nacional de americanos que vão para a faculdade. PGQP: Como o senhor avalia o mercado de trabalho para os recém formados? Franklin Schargel: É imprescindível investir nas escolas mundiais. Elas precisam ser tão competitivas como os ambientes de negócios. Assim como as empresas não são mais americanas ou japonesas e, sim, globais, os melhores estudantes nos Estados Unidos não estão competindo por emprego com os americanos. Eles estão competindo no mercado com os melhores especialistas da Coréia, do Brasil, de Cingapura, da Inglaterra, de Israel. A competição é global, mas os professores muitas vezes não visualizam isso. A maioria deles acredita que se tivermos os melhores profissionais em uma universidade, ou em um Estado, por exemplo, estaremos competindo com referenciais no Brasil. Mas esta visão de benchmark está errada. O que deve ser comparado são os melhores estudantes e profissionais no mundo. Precisamos estar preparados para a competição global. _______________________________________________________ Porto Alegre, 26 de novembro de 2001 Raquel Boechat Enfato Comunicação Empresarial (51) 3333.7832/ 9993.5727 [email protected]