2904im02:Layout 1 28/4/2011 17:38 Página 1 SEXTA-FEIRA 2 IMÓVEIS Recife, 29 de abril de 2011 FOLHA DE PERNAMBUCO É PRECISO RECUPERAR O CENTRO PARA ATRAIR MORADORES Vias devem receber layout diferenciado para receber contingentes residenciais Arthur Mota ROSÁLIA VASCONCELOS Pensar em otimizar os “espaços vazios” nas áreas centrais da Capital pernambucana é também refletir sobre a re-estruturação da Cidade. Se, hoje, circular pelo Recife e estacionar já se tornaram motivo de estresse, imagine com o incremento do fluxo de pessoas em bairros como a Boa Vista, Recife Antigo e Santo Antônio? É preciso que os envolvidos - prefeitura e empresariado - pensem em soluções que tragam um padrão de mobilidade eficiente, econômico e sustentável. “O Recife está uma Cidade travada. Todos nós reconhecemos que a questão da mobilidade está envolvida diretamente com a qualidade de vida do recifense e estamos tentando discutir soluções. Uma delas é justamente que o Centro seja novamente habitado, porque com isso você diminui a movimentação das pessoas”, afirma o presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE), Alexandre Mirinda. Segundo ele, a mesma ideia deve ser debatida quando se faz um programa incentivando as empresas a investirem no Centro. “Aí, o cidadão mora perto do trabalho. Se for um projeto consistente, conseguimos diminuir muito o deslocamento das pessoas através do automóvel”. O coordenador do Instituto Pelópidas Silveira, Milton Botler, acrescenta que outra discussão entre a prefeitura e o empresariado é a criação de um nicho de mercado, so- bretudo na região da Boa Vista e entorno, em que não haja a necessidade por garagem nos edifícios. “É uma área valorizada, mas as classes média e alta não querem morar lá porque uma garagem passou a valer tanto, ou mais, que um filho. A classe média prefere morar em um apartamento minúsculo, com duas vagas de estacionamento, do que em um prédio com maior área privativa, mas com uma ou nenhuma gara- gem. Mas se ele mora perto do local de trabalho, de estudo e de lazer, para que valorizar tanto o carro?”, questiona Botler. Segundo ele, se não houver a redução da necessidade do automóvel, as classes média e alta tenderão a se concentrar na rua Imperial, avenida Sul e Santo Amaro, onde não há restrição de ordem histórica ou ambiental para a construção desse tipo de empreendimento. Situação bem diferente, por exemplo, da Boa Vista e Santo Antônio. “Então, a solução é a gente começar a trabalhar com a perspectiva de Primeiro Mundo, colocando um bom plano de mobilidade, de transporte público, oferecendo qualidade de vida para quem já mora ali, que são a classe média baixa e baixa renda, para que os outros sintam como é bom e vantajoso morar nesses bairros”, defende o dirigente do Instituto Pelópidas Silveira. Botler também observa que outro ponto fundamental, quando se pensa em re-estruturação da Cidade, é a questão da conservação urbana. “É preciso um novo arranjo para manter a Cidade, criar estratégias para manter as calçadas livres, sem buracos, limpas, porque as pessoas que moram, e vão morar, precisam circular, ter facilidade para chegar ao transporte público. E, na verdade, as pessoas que vão procurar BOA Vista deveria ganhar nicho de mercado que não necessite de garagem nos edifícios o Centro para morar - e nisso você atrai em muito a classe média esclarecida - é porque ele é charmoso, o transporte público é de qualidade e você não precisa usar carro. É seguro andar de bicicleta ou a pé, seja de dia ou de noite”, reflete o arquiteto. Vias não devem servir como estacionamento Mesmo parados, os carros são grandes problemas urbanos. “É urgente tirar os automóveis da rua. O trânsito flui melhor se você não os têm estacionados nas faixas de rolamento, como é o caso das áreas de estacionamento Zona Azul. Hoje, há um debate intenso na prefeitura para a criação e regulamentação dos edifícios-garagem, no intuito de absorver essa demanda”, frisa o diretor regional da Moura Dubeux, Eduardo Dubeux. O presidente da Ademi-PE, Alexandre Mirinda, afirma que o grande entrave para a construção desse modelo de estacionamento ainda é o Zona Azul. “O empresário não vai construir um empreendimento em que ele tem como maior concorrente a própria prefeitura. Apesar de sair um pouco mais barato, os estacionamentos de rua ocupam uma, duas faixas de rolamento. O principal objetivo deve ser liberar as ruas para o tráfego de automóvel. E o usuário se sentirá mais seguro, porque ninguém vai precisar pagar flanelinha. Até mesmo para quem mora ali e não tem carro, e o prédio não tem garagem, pode se tornar um mensalista desse tipo de construção. Na verdade, acho que se precisa é de um grande programa de incentivo aos edifícios-garagem no Centro”, coloca Mirinda. Segundo ele, quem paga o Zona Azul, pode pagar um estacionamento privativo, desde que o cliente tenha conforto e segurança, com um preço acessível. É o caso, por exemplo, dos moradores da rua da União, que possuem o edifício Garagem Central, hoje com 620 vagas e todas ocupadas, como o principal espaço de estacionamento. Milton Botler, do Instituto Pelópidas Silveira, diz que para o consumidor esse tipo de empreendimento só é válido se esses edifícios estiverem interligados com transporte público eficiente no Centro, com integração entre os valores do estacionamento e da tarifa do ônibus. “Essa demanda come- Arthur Mota çou com os comerciantes que trabalham no Centro. Mas é preciso ressaltar que a lógica não é construir por construir, mas sim beneficiar o usuário que vai estacionar. Com vias mais livres, aumentamos as calçadas, criamos ciclovias e a circulação se torna melhor. Aí sim, começamos a criar uma cultura de transporte público”, completa Botler. EDIFÍCIO Garagem Central, na rua da União, tem 620 vagas. É um dos principais no gênero do centro do Recife