Carbonatação de Escória de Aciaria como Alternativa para o Seqüestro de CO2 III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação PUCRS Jonatã Rangel Nienczewski, Rosane A. Ligabue (orientador), Jeane E. L. Dullius (co-orientador) Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia e Materiais, Faculdade de Engenharia, PUCRS. CEPAC – Centro de Excelência sobre Pesquisa e Armazenamento de Carbono Resumo Atualmente, o dióxido de carbono (CO2) é o gás produzido pelo homem que tem gerado maior preocupação devido ao fato de estar diretamente relacionado ao aquecimento global. Muita pesquisa tem sido feita com o intuito de reduzir as emissões atmosféricas desse gás. Com esse objetivo, este projeto procura desenvolver um método de captura e armazenamento de CO2 utilizando um resíduo de pouco valor agregado, a escória de aciaria. Este co-produto possui um alto teor de óxidos de cálcio e magnésio, compostos essenciais para o armazenamento em longo prazo desse gás de efeito estufa. O método consiste na lixiviação dos componentes principais e uma posterior carbonatação através da passagem do fluxo de CO2 pela solução. Resultados preliminares mostram que com apenas 1,3 mL de HCl e sob condições brandas de reação, é possível extrair mais de 80% do cálcio contido na escória de aço carbono. Introdução Atualmente é fato incontestável que as emissões mundiais de gás CO2 têm aumentado significativamente e que este gás é um dos principais causadores do efeito estufa. A solução mais difundida nos dias de hoje em toda a comunidade científica tem sido a captura e armazenamento de CO2, como uma das principais opções para a redução das emissões de CO2 advindas de atividades antropogênicas (IPCC, 2007). A solução mais coerente encontrada até hoje pela humanidade para equilibrar a quantidade de CO2 liberada com a armazenada é o armazenamento de CO2 em grande quantidade. Dentre todos os métodos de armazenamento de CO2 disponíveis – armazenamento geológico, armazenamento oceânico, etc – a carbonatação mineral e de resíduos industriais é considerado um método bem promissor. III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008 A carbonatação consiste na passagem de um fluxo do gás CO2 numa solução que contenha uma concentração elevada de hidróxidos de metais alcalinos terrosos, e que quando transformados para carbonatos, precipitam, pois carbonatos de metais alcalinos terrosos (CaCO3 e MgCO3, principalmente) são muito insolúveis (Bennaceur, 2004). Sabe-se que as empresas siderúrgicas geram escória como resíduo de processo possuindo um elevado teor de óxidos de cálcio e magnésio. Assim, para que esse resíduo possa ser comercializado como agregado para cimento, pavimentos, entre outros, adota-se o procedimento de cura. Esse procedimento envolve deixar a escória à intempérie por seis meses ou mais para que os óxidos indesejáveis sejam lixiviados pela água da chuva. Como conseqüência, uma solução aquosa rica em cálcio e magnésio é gerada. Essa solução pode servir como fonte de matéria prima para o armazenamento de CO2, pois contém compostos essenciais para a precipitação de carbonatos de cálcio e magnésio, considerados uma forma eficiente de armazenamento de longo prazo para o carbono. Este trabalho tem como objetivo melhorar a extração de cálcio e magnésio – dando preferência aos sistemas de lixiviação já existentes – visando facilitar uma posterior precipitação dos respectivos carbonatos. Depois de estabelecidos os parâmetros de extração, serão estudadas as condições de precipitação e separação de carbonatos de cálcio e magnésio. Metodologia A escória aço-carbono proveniente da siderúrgica, foi seca durante 48 horas numa estufa à 100ºC para a retirada da umidade em excesso. A amostra foi então peneirada e separada por faixas (> 75 µm, 75-150 µm, 150-300 µm, 300-600 µm e 600-1180 µm). A reação consiste em se adicionar a solução de ácido clorídrico com a escória num reator de vidro com controle de temperatura e sob agitação magnética. Após o tempo de reação, a solução é filtrada. O filtrado é então analisado por Absorção Atômica de Chama e Cromatografia Iônica. Os parâmetros que estão sendo avaliados atualmente nesse estudo são: concentração da solução de extração, razão líquido/sólido, temperatura, tempo de reação e granulometria. Resultados Preliminares e Discussão Conforme mencionado anteriormente, de modo a estudar a influência da variação das condições de reação, três parâmetros foram fixados enquanto um deles era variado. A figura I III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008 apresenta variação da quantidade de cálcio extraído em função da concentração de ácido. Há um aumento gradativo na quantidade de cálcio extraído quando se utiliza concentrações de ácido até 0,8 mol/L. Concentrações acima desse valor, nessas condições, não aumentam significativamente extração de cálcio. É importante destacar que a extração máxima de cálcio nessas condições (razão líquido/sólido 50 kg/kg, 25ºC, 30 min. e tamanho de partícula 150300 µm) pode ser alcançada com uma solução ácida de aproximadamente 0,8 mol/L. Isso indica que em torno de 1,3 mL de HCl/g de escória são necessários para uma extração adequada de cálcio. Calcio Extraído (%) 100,00 90,00 80,00 70,00 60,00 50,00 40,00 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 Concentração da Solução (mol/L) Figura I Extração de cálcio em função da concentração da solução de extração. Condições de reação: razão líquido/sólido 50 kg/kg, 25ºC, 30 min. e tamanho de partícula 150-300 µm. Conclusão Levando-se em conta a quantidade de escória gerada anualmente no Brasil, pode-se dizer que, de acordo com os resultados desse trabalho, seriam armazenados por ano 1,74 milhões de toneladas de CO2; isso significa pelo menos 0,17% de todo o carbono emitido em um ano no Brasil. É pouco quando analisado de maneira isolada, mas deve-se lembrar que o sistema de mitigação é composto por várias alternativas e quando todas funcionarem juntas, os resultados serão facilmente perceptíveis (Pacala & Socolow, 2004). Referências BENNACEUR, K.; Gupta, N.; Monea, M.; Ramakrishnan, T.S.; Randen, T.; Sakurai, S.; Whittaker, S. CO2 Capture and Storage—A Solution Within. Oilfield Review, outono de 2004, vol 16, N° 3. Disponível em: <www.slb.com/content/services/resources/oilfieldreview/index.asp>. Acesso em: 24 dez 2007. IPCC. Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Fourth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Disponível em <http://www.ipcc.ch/>. Acesso em 30 out 2007. PACALA, S. e Socolow, R., 2004. Stabilization Wedges: Solving the climate Problem for the Next 50 Years with Current Technologies. Science, Vol 305, pp. 968 – 972. III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008