Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
DIÁLOGOS INTERTEXTUAIS ENTRE LITERATURA E CINEMA: UMA ANÁLISE
CONTRASTIVA ENTRE HARRY POTTER E A PEDRA FILOSOFAL (1997) E
CINDERELA (1986)
Carina Pereira da Paula
(G – CLCA – UENP/CJ)
Juliana Aparecida Chico de Morais
(G – CLCA-UENP/CJ)
Luiz Antonio Xavier Dias
(Orientador – CLCA – UENP/CJ)
RESUMO
Harry Potter e a Pedra Filosofal (1997) é o primeiro livro da série de aventuras do jovem
bruxo criada pela autora britânica J. K. Rowling. Repleto de intertextualidades, essa obra
contém uma em especial: a grande semelhança da vida de Harry com a da famosa personagem
de conto de fadas: Cinderela, cujas versões mais conhecidas são a do escritor francês Charles
Perrault, baseada num conto italiano popular chamado A Gata Borralheira e a dos Irmãos
Grimm, a qual utilizamos. Diante disso o presente trabalho tem como objetivo analisar
comparativamente as semelhanças e diferenças básicas da vida das duas personagens. O
embasamento teórico da pesquisa se ancora em pressupostos da linguística textual e autores
como Koch e Elias (2007).
Introdução
Harry Potter e suas aventuras têm encantado e conquistado cada vez
mais leitores ao redor do mundo, chegando a ser traduzido para mais de 60 línguas, fato
decorrente, principalmente, da magia que a trama está cercada, “o que tira o leitor
momentaneamente da realidade em que vive, com seu cotidiano e rotina, transportando-o para
um mundo mágico, onde tudo é possível.” (DE PAULA; MORAIS, 2012, p. 01)
Além
dessa
magia,
Harry
Potter
também
está
repleto
de
intertextualidades em todos os livros da série. Em nosso trabalho, focaremos apenas no
primeiro livro: Harry Potter e A Pedra Filosofal (1997) o qual faremos uma análise
comparativa com um dos contos de fadas mais populares da humanidade: Cinderela.
Harry Potter e a Pedra Filosofal (1997) possui apenas intertextualidade
implícita, ou seja, aquela que ocorre sem citação expressa da fonte, ficando ao encargo do
interlocutor recuperá-la em sua memória para construir o sentido do texto, identificar os
objetivos do seu produtor e inseri-lo no seu discurso, de acordo com Koch (2006) e Marcuschi
(2008).
Importante salientar que intertextualidade não se refere apenas aos
textos escritos em que a obra foi baseada, mas também em aspectos culturais, imagens, enfim,
413
Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
qualquer traço externo que aponte para fora da mesma, sendo os conhecimentos de mundo do
leitor que o auxiliam a perceber as intertextualidades que permeiam a obra.
Optamos por comparar as aventuras do jovem bruxo com a vida sofrida
de Cinderela, por a mesma ser um conto de fadas atemporal, ou seja, em qualquer época é
passível de entendimento, além de nos trazer uma bela lição ao final.
Cinderela, como já foi mencionado, é um dos contos de fadas mais
populares da humanidade, sua origem possui diferentes versões, mas as mais conhecidas são a
do escritor francês Charles Perrault, de 1697, baseada num conto italiano popular chamado “A
Gata Borralheira” e a dos Irmãos Grimm, a qual nos baseamos.
Assim como Harry passou dos livros ao cinema, Cinderela não foi
diferente, pois, o cinema ciente do fato da atemporalidade desse conto de fadas o utilizou
como base para inúmeros filmes, cujos mais conhecidos são: Cinderela, filme de animação da
Disney feito em 1950; Para sempre Cinderela, de 1998; A Cinderella Story de 2004, e sua
continuação, Another Cinderella Story. Merece destaque também, o filme Uma linda mulher,
que foi sucesso de bilheteria nos anos 1990, também inspirado em Cinderela.
A literatura infanto-juvenil e sua influência na personalidade da criança
A literatura infanto-juvenil durante muito tempo recebeu pouca ou
quase nenhuma importância, vale ressaltar que ela surgiu no fim do século XVII e início do
século XVIII, primeiramente com fins pedagógicos.
“Por ter nascido com um caráter pedagógico e autoritário foi considerada por muito
tempo uma literatura menor. Inicialmente, essa literatura tinha como principal foco o
escritor e a obra, o autor e obra, mas com o advento da estética da recepção que
tinha como principal foco o leitor, essas obras ganharam imensa qualidade literária.”
[...] (DIAS, 2007, p.58)
Importante ressaltar que a literatura infanto-juvenil exerce um papel
fundamental na personalidade da criança, personalidade essa, que o indivíduo levará por toda
a vida.
“A importância da literatura infantil na formação do leitor e em sua
personalidade pode ser pensada no dizer de Zilberman (2001, p.122):
[...] a linguagem, que é o mediador entre a criança e o mundo, do modo que,
propiciando, pela literatura, um alargamento do domínio linguístico, a literatura
preencherá uma função de conhecimento o ler relaciona-se com o desenvolvimento
414
Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
linguístico da criança, coma a formação da compreensão do fictício, com a função
específica da fantasia infantil, com credibilidade na história e a aquisição do saber
[...]. (apud Diniz, 2007, p. 59-60)
Recordando aqui algumas das palavras de Bettelheim que nos faz refletir um
pouco sobre como uma história deve ser, visto que com o propósito de prender a atenção da
criança uma história deve entretê-la além de provocar sua curiosidade. Aliás, deve realçar sua
vida, despertar sua imaginação para ampliar sua inteligência e tornar claras suas emoções;
aliando aflições e anseios; admitindo suas dificuldades e simultaneamente propor um
desfecho para os problemas que a inquietar. Enfim, deve associar-se com todos os aspectos de
sua personalidade – e isso sem desprezar a criança, buscando dar inteiro crédito a suas
virtudes e, assim, promover a criança a ter confiança em si e no seu futuro.
“Sob estes aspectos e vários outros, no conjunto da "literatura infantil" - com raras
exceções - nada é tão enriquecedor e satisfatório para a criança, como para o adulto,
do que o conto de fadas folclórico. Na verdade, em um nível manifesto, os contos de
fadas ensinam pouco sobre as condições específicas da vida na moderna sociedade
de massa; estes contos foram inventados muito antes que ela existisse. Mas através
deles pode-se aprender mais sobre os problemas interiores dos seres humanos, e
sobre as soluções corretas para seus predicamentos em qualquer sociedades, do que
com qualquer outro tipo de estória dentro de uma compreensão infantil. Como a
criança em cada momento de sua vida está exposta à sociedade em que vive,
certamente aprenderá a enfrentar as condições que lhe são próprias, desde que seus
recursos interiores o permitam.” (BETTELHEIM, 2002, p.5)
Cada conto de fadas traz sempre uma moral; com uma punição para o
malfeitor e um final feliz para o herói. As histórias têm o poder de persuadir a criança e
convencê-las de que fazer o mal para alguém não compensa e por isso os vilões sempre se dão
mal e os moçinhos lutam para conseguirem seus objetivos e alcançam-nos no fim; como
Bettelheim diz:
“Não é o fato do malfeitor ser punido no final da estória que torna nossa imersão nos
contos de fadas uma experiência em educação moral, embora isto também se dê.
Nos contos de fadas, como na vida, a punição ou o temor dela é apenas um fator
limitado de intimidação do crime. A convicção de que o crime não compensa é um
meio de intimidação muito mais efetivo, e esta é a razão pela qual nas estórias de
fadas a pessoa má sempre perde. Não é o fato de a virtude vencer no final que
promove a moralidade, mas de o herói ser mais atraente para a criança, que se
identifica com ele em todas as suas lutas. Devido a esta identificação a criança
imagina que sofre com o herói suas provas e tribulações, e triunfa com ele quando a
virtude sai vitoriosa. A criança faz tais identificações por conta própria, e as lutas
interiores e exteriores do herói imprimem moralidade sobre ela.” (BETTELHEIM,
2002, p.6-7)
415
Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
Ainda de acordo com Bettelheim, 2002, os contos de fadas, assim como
toda grande arte agradam e instruem, falando diretamente à criança. Na idade em que esses
contos são mais significativos para a criança, eles podem colocar alguma ordem na
“confusão” de sua mente ajudando-a a entender-se melhor e colocar alguma lógica entre suas
próprias percepções e o mundo externo. As histórias “reais” sobre o mundo “real” fornecem
sim informações interessantes e até úteis, entretanto, o modo como essas histórias se
desenrolam é totalmente alheio ao modo como a mente da criança funciona em relação aos
eventos sobrenaturais do conto de fadas se comparado ao modo como o intelecto maduro
compreende o mundo.
Diálogos Intertextuais entre Literatura e Cinema
Interessante refletir um pouco sobre os diálogos intertextuais explícitos
que ocorrem entre a literatura e o cinema, principalmente a literatura infanto-juvenil, a qual
utilizamos nesse artigo. “É inegável que a literatura infanto-juvenil foi e tem sido tomada
como referencial em muitas circunstâncias pelo cinema.” [...] (DIAS, 2007, p.58)
“Em se tratando de adaptações para o cinema Corseuil (2003) afirma que:
[...] o filme por sua vez, é visto como obra que pode ser, até certo ponto, criativa,
mas que está necessariamente em condição de dependência ao romance adaptado.
Dentro dessa perspectiva, tende-se a complexidade e a validade do filme a partir da
forma como ele vai representar certos temas, significados e questões formais que já
se apresentam na obra literária. (Corseuil 2003, p. 295) (p.60)
“Na questão semiótica fílmica Andrew (1984) afirma que os filmes podem
estabelecer uma relação com o texto literário que varia em grau de intensidade,
expandindo, criticando e reatualizando o texto original. Além dessa flexibilização, o
termo adaptação pode ser utilizado para definir qualquer relação semiótica de uma
forma de expressão com outra, evolvendo meios artísticos como a música, o teatro, a
dança ou a pintura.” (apud Diniz, 2007, p. 64)
Após essa breve explicação a respeito das duas obras, da literatura infantojuvenil que as caracteriza e dos diálogos intertextuais entre elas e o cinema exporemos seus
enredos e sequencialmente faremos uma análise contrastiva entre ambas.
Os enredos
Harry Potter e a Pedra Filosofal: O desprezado da família Dursley.
416
Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
A saga de Harry Potter inicia-se quando ele tem dez anos. Harry é um
garoto que até então vivera uma vida miserável e deprimente, além de ser constantemente
humilhado pelo primo e desprezado pelos tios, e que, de repente, se descobre bruxo,
percebendo não saber nada sobre sua história.
Harry é órfão, pois seus pais foram assassinados quando ele ainda era um
bebê, passando então a viver com seus tios Dursley que o maltratavam e humilhavam o tempo
todo.
A história se passa, principalmente, na Escola de Magia e Bruxaria de
Hogwarts, onde logo no início precisa passar pelo chapéu seletor, que seleciona os alunos
para suas respectivas casas: Grifinória, Lufa-lufa, Corvinal e Sonserina. Harry, Rony e
Hermione vão para a Grifinória e a partir daí surge grande amizade entre eles que irá perdurar
até o final da saga.
Após passarem por algumas aventuras, certo dia eles se deparam em uma
sala com Fofo, um cachorro de três cabeças, e descobrem que ele estava ali para proteger a
Pedra Filosofal. Desconfiados de que alguém estava planejando roubar a pedra, numa noite
eles descem até o alçapão onde a mesma se encontra juntamente com Fofo. Ao chegarem lá,
descobrem que alguém já havia passado pelo cão, pois o mesmo estava dormindo ao som de
uma harpa e deduzem que foi Snape. Entretanto, posteriormente para surpresa geral, Harry
descobre que na verdade fora o professor Quirrel.
Quirrel estava servindo de hospedeiro para Voldemort que havia se
transformado numa espécie de parasita, e para que pudesse sobreviver e ter o corpo de volta,
precisava da pedra filosofal.
Após lutar contra Quirrel, Harry o derrota e Voldemort sendo praticamente
um fantasma parasita, transpassa Harry e foge.
Dumbledore encontra o garoto caído e o leva a enfermaria, onde Harry
passa três dias inconsciente. Ao acordar, Dumbledore lhe conta que a escola toda já sabe do
ocorrido e que depois de conversar com Nicolau Flamel eles decidiram destruir a pedra.
Harry quer saber se com o fim da pedra Voldemort não poderia mais voltar,
entretanto, Dumbledore lhe diz que infelizmente existiam outros meios dele voltar, o que de
fato acontece nos demais livros que trazem a continuação da saga.
Ao fim do livro, há um jantar de despedida pelo final do ano letivo, após o
jantar Dumbledore faz o discurso para a entrega da taça das casas, e quem ganha é Grifinória,
por ter alcançado pontos extras devido os últimos acontecimentos em que Hermione se
417
Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
destacou pelo excelente uso da lógica, quando os outros corriam grave perigo, Rony pela
melhor partida de xadrez que Hogwarts já viu em muitos anos, Harry pela excepcional
coragem e Neville por ter tido muita coragem para enfrentar os inimigos e mais ainda os
amigos.
Quando estão prontos para embarcar no trem de volta para suas casas,
Hagrid entrega um presente para Harry, um álbum de fotografias de seus pais que ele
conseguiu com alguns amigos, e assim eles voltam para casa, mas Harry sente que sua casa, é
ali, em Hogwarts.
Cinderela: A garota que dormia literalmente no borralho, vivendo sempre suja e
empoeirada.
A história inicia-se quando a mãe de Cinderela, esposa de um homem muito
rico, adoece gravemente e pede que a filha seja sempre boa e piedosa, após o pedido, ela
acaba morrendo.
Depois de algum tempo seu pai casa-se novamente com uma mulher muito
má que possuía duas filhas de igual índole. Os dias de Cinderela passaram a ser muito tristes,
pois a pobre jovem era humilhada constantemente e tratada como empregada pela madrasta e
suas filhas que a obrigavam, inclusive, a dormir no borralho, razão pela qual a jovem vivia
sempre suja, e foi a partir daí que a apelidaram de Cinderela.
Certa vez, Cinderela plantou um ramo de aveleira na campa onde a mãe
havia sido enterrada. Todos os dias ela chorava naquele local, o que fez a planta crescer e se
tornar uma linda árvore; nessa árvore todos os dias pousava um pássaro que atendia a todos os
desejos que Cinderela formulava.
Certa vez o rei deu uma grande festa a fim de que seu filho escolhesse uma
noiva. Cinderela queria ir, mas a madrasta não permitiu, alegando que ela a envergonharia por
não ter roupas adequadas, deu-lhe então as costas e foi com as filhas à festa.
Estando só, Cinderela foi até a aveleira e clamou para que a mesma lhe
cobrisse de ouro e prata. O pássaro que estava pousado na arvorezinha, atendeu prontamente o
pedido da garota e ela, toda feliz pode ir à festa. Lá a madrasta e irmãs não a reconheceram,
tão linda estava e ela pôde dançar a noite toda com o príncipe que se encantou com ela.
Cinderela dançou até bem tarde e depois fugiu antes que a madrasta
chegasse em casa, assim ela não percebeu nada pois quando chegou Cinderela já estava
418
Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
dormindo no borralho. O fato prolongou-se por mais duas noites seguidas, no entanto, na
terceira noite, Cinderela, sem querer, perdeu seu minúsculo sapatinho esquerdo de ouro.
Na manhã seguinte, o príncipe foi até a casa da garota a fim de encontrar a
dona do sapato que se tornaria também a dona de seu coração. As irmãs de Cinderela tentaram
de todas as formas calçar o pequeno sapato; a irmã mais velha a mando da mãe cortou o dedo
polegar a fim de que o sapato lhe servisse. O príncipe então levou-a em seu cavalo como
noiva. Entretanto, ao passarem pela aveleira, duas pombinhas brancas que estavam pousadas
na árvore disseram que aquela não era a verdadeira noiva, pois havia sangue no sapato, o
príncipe então levou-a de volta à sua casa. Lá, a outra irmã tentou calçar o sapato e, a mando
da mãe, para que este servisse, cortou um pedaço do calcanhar. O príncipe então levou-a em
seu cavalo como noiva. Entretanto, ao passarem pela aveleira, duas pombinhas que estavam
pousadas na árvore disseram que aquela também não era a verdadeira noiva, pois havia da
mesma forma sangue no sapato, e o príncipe levou-a de volta à sua casa. Lá chegando, quis
saber se o homem possuía outras filhas, pois nem uma das duas era a verdadeira dona do
sapato.
O homem respondeu que não, que além delas, só havia na casa uma
Cinderela franzina e o príncipe quis vê-la. Cinderela então apareceu, e sem esforço algum
calçou o pequeno sapatinho de ouro, ao se levantar, o príncipe reconheceu que ela era a jovem
com quem ele havia dançado nas três noites seguidas, a pôs sobre o cavalo e levou-a como
noiva. Ao passarem pela aveleira as duas pombinhas disseram que aquela era a verdadeira
noiva.
No dia de seu casamento, as irmãs más a acompanharam, cada qual ficando
a um lado de Cinderela, a fim de compartilhar de sua sorte. Entretanto, as pombas arrancaram
um olho de cada irmã ao entrarem na igreja. Ao saírem, as pombas arrancaram o outro olho
das irmãs que foram assim punidas com a cegueira por terem sido tão falsas e perversas.
Análise comparativa acerca das intertextualidades que tornam as obras semelhantes
Após uma leitura atenta e reflexiva das obras, pode-se depreender que
ambas trazem como personagens centrais, jovens órfãos que sofrem muito nas mãos de seus
tutores. Além disso, há muitas outras semelhanças na vida dos protagonistas dessas duas
obras.
419
Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
Cinderela era muito amada por sua mãe, que inclusive disse-lhe que, se a
jovem fosse sempre boa e piedosa, Deus a ajudaria, e “eu, do céu, velarei por ti e te protegerei
sempre”. (GRIMM Irmãos p. 07). Assim também Harry fora muito amado pelos pais,
principalmente pela mãe, que morreu para lhe salvar “-Sua mãe morreu para salvar você. [...]
ter sido amado tão profundamente, mesmo que a pessoa que nos amou já tenha morrido, nos
confere uma proteção eterna.” (ROWLING, J.K. p.215).
Cinderela vivia com a madrasta que a maltratava muito, fazendo-a dormir
no borralho. Harry não era muito diferente, era também extremamente mal-tratado pelos tios
Dursley e dormia no armário sob a escada.
Cinderela era constantemente humilhada pelas meio-irmãs e Harry pelo
primo Duda, que o “infernizava” o tempo todo.
A garota era “protegida” e tinha seus desejos atendidos por um pássaro:
“todas as vezes, pousava na árvore um passarinho muito alvo, o qual, quando ela formulava
algum desejo, lhe jogava logo o que pedia” (GRIMM Irmãos p. 09). Já Harry tinha Hagrid, o
guarda-caça de Hogwarts: “[...] Trouxe um presente para você. [...] Parecia ser um belo livro
encadernado em couro. [...] Estava cheio de retratos de bruxos. De cada página, sorrindo e
acenando para ele, estavam sua mãe e seu pai.” (ROWLING, J.K. p.219).
Ao final, as meio-irmãs de Cinderela, tiveram o castigo merecido: “[...]
foram punidas, com a cegueira, para o resto da vida, por terem sido tão falsas e perversas”.
(GRIMM Irmãos p. 19). Da mesma forma, Duda, o primo chato de Harry também teve um
castigo proporcionado por Hagrid, que apesar de não ser definitivo, foi bem engraçado:
“Quando Duda virou de costas, Harry viu um rabo de porco enroscado saindo de um buraco
nas calças dele”. (ROWLING, J.K. p.48).
Considerações Finais
A análise comparativa realizada nesse artigo teve como principal objetivo
levar o leitor a reflexão sobre como muitas obras estão interligadas, muitas vezes pode ser de
forma sutil e implícita como foi o caso de Harry Potter e a Pedra Filosofal e o conto de fadas
Cinderela.
Além disso, é importante a consciência da enorme interligação existente
entre literatura e cinema, e também a grande influência que a literatura infanto-juvenil exerce
420
Anais do IX Seminário de Iniciação Científica SóLetras – CLCA – UENP/CJ - ISSN 18089216
na personalidade das crianças e jovens, por isso é necessário que se trabalhe com obras de
qualidade, que somem coisas boas ao leitor.
Diante do exposto temos a pretensão de suscitar no leitor o gosto por
diferentes obras, algumas das quais podem parecer bem infantis, mas se analisadas
profundamente, trazem belas lições e conhecimentos atemporais.
Concluímos o presente artigo com o desejo de poder levar aos leitores um
maior apreço pela literatura e por diferentes gêneros literários, não por obrigação, mas
realmente por gosto, visto que a literatura em geral é capaz de aumentar e muito o nível
cultural e a criatividade do leitor.
Referências
BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. 16a Edição - PAZ E TERRA – 2002.
DE PAULA, Carina Pereira de. MORAIS, Juliana Aparecida Chico de, Harry Potter e a
Pedra Filosofal (1997): Um estudo sobre o diálogo Intertextual entre a Fantasia e Mitologia.
2012.
DIAS, Luiz Antonio Xavier. Laços entre Literatura e Cinema: Uma Leitura de o Patinho
Feio (1981) e Shrek (2004), 2007.
GRIMM Irmãos. Contos e Lendas dos Irmãos Grimm. VOLUME II. São Paulo: EDIGRAF,
1986.
KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do
texto. São Paulo: Contexto, 2006.
ROWLING, J.K. Harry Potter e a Pedra Filosofal. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
Para citar este artigo:
MORAIS, Juliana Aparecida Chico de; PAULA, Carina Pereira de. Diálogos intertextuais
entre literatura e cinema: uma análise contrastiva entre Harry Potter e a pedra filosofal (1997)
e Cinderela (1986). In: IX SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SÓLETRAS Estudos Linguísticos e Literários. 2012. Anais... UENP – Universidade Estadual do Norte do
Paraná – Centro de Letras, Comunicação e Artes. Jacarezinho, 2012. ISSN – 18089216. p.
413-421.
421
Download

Carina Pereira da Paula