! A Ação Supervisora no Trabalho de Crianças com Dislexia Maria Neiva Maia Cidade Centro Universitário da Cidade/RJ Janeiro / 2009 ! RESUMO ! A finalidade deste artigo foi analisar a ação supervisora no trabalho de crianças com dislexia, que resultou de um estudo monográfico. O motivo do estudo foi o interesse em pesquisar até que ponto a atuação do supervisor pode interferir no processo de aprendizagem de crianças com dislexia, considerando o Ensino Fundamental. A pesquisa foi um estudo de caso utilizando uma entrevista com dois sujeitos, um supervisor escolar da rede pública e outro da rede privada e teve como referencial teórico os autores: Nico e Yanhez (2001), Selikowitz (2001) e Alarcão (2003). Concluiuse então que, o supervisor escolar precisa ser um profissional com ampla visão no processo educativo. Ele precisa estar em processo constante de formação continuada em relação às dificuldades de aprendizagem para melhor orientar o professor em relação ao desempenho escolar dos alunos. ! Palavras-chave ! Dislexia – aprendizagem – ação supervisora ! INTRODUÇÃO ! Este artigo é decorrente de um trabalho monográfico cuja temática focou a ação supervisora no trabalho de crianças com dislexia. O objetivo do estudo foi investigar a ação do supervisor em relação ao desempenho escolar de crianças com dislexia no Ensino Fundamental. ! O motivo que desencadeou este estudo foi o interesse em pesquisar: até que ponto a atuação do supervisor pode interferir no processo de aprendizagem de crianças com dislexia, considerando o Ensino Fundamental? ! Esta pesquisa foi classificada como estudo de caso, utilizando uma entrevista com dois sujeitos: um supervisor escolar da rede pública e outro da rede privada e teve como referencial teórico os autores: NIco e Yanhez (2001), Selikowitz (2001) e Alarcão (2003). Nico e Yanhez (2001) esclarecem como viver bem com a dislexia ou com qualquer distúrbio de aprendizagem através de uma orientação adequada. ! Selikowitz (2001) aborda as dificuldades específicas de aprendizagem dando ênfase aos meios simples de ajudar essas crianças disléxicas a adquirir habilidades e melhorar a auto-estima. A autora Alarcão (2003) aborda a necessidade do pensamento crítico e a relevância da supervisão na construção do conhecimento pedagógico. ! Desse modo, este artigo foi dividido em duas partes: a primeira tratou do conceito de dislexia e o papel do professor com esse tipo de aluno. A segunda parte focalizou a ação do supervisor no trabalho com a criança disléxica, considerando algumas falas da entrevista aplicada. Ao final, discorreu-se a conclusão do estudo. ! Concluiu-se que é de grande relevância a qualificação constante profissional do supervisor escolar no que diz respeito ao ensino-aprendizagem de crianças disléxicas, para que esse profissional possa orientar o professor e ambos contribuírem para um melhor desempenho escolar desses alunos. ! O conceito de dislexia: o papel do professor ! Para Nico e Yanhez (2001), a dislexia está relacionada a uma desorganização no processamento cerebral das informações recebidas pelo sistema visual. Sendo assim, devido ao esforço despendido no processamento das informações visuais, a leitura torna-se mais lenta e segmentada, o que compromete a velocidade de cognição e a memorização, produzindo cansaço, troca de palavras, desfocamento, fotofobia e distração, após um intervalo relativamente curto na leitura. ! Na visão de Selikowitz (2001), há muitas definições para estabelecer as causas da dislexia, porém a mais aceita é de que a dislexia é uma condição genética que apresenta alterações no padrão neurológico do indivíduo. ! Muitas vezes, continua o referido autor, uma dificuldade específica de aprendizagem apresenta-se inicialmente como um problema de comportamento ou como uma dificuldade de relacionamento com os colegas. Isso pode ser uma armadilha para os menos atentos, já que o problema pode ser atribuído à indisciplina e, consequentemente, não surgir a suspeita de uma dificuldade de aprendizagem. A esse respeito esse autor diz que: ! A criança pode tornar-se arredia, ou agressiva e ser rejeitada pelas outras crianças, tornando-se então socialmente isolada. Estes comportamentos podem indicar auto-estima baixa, como resultado das dificuldades com as tarefas escolares, ou imaturidade social que é na verdade um distúrbio de aprendizagem (SELIKOWITZ, 2001, p. 14) ! No entanto, continua Nico e Yanhez (2001), muitas vezes o aluno disléxico apresenta problemas emocionais. Para evitar essa problemática é necessário um diagnóstico realizado por uma equipe clínica multidisciplinar formada por psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo e neurologista, trabalhando em parceria com o supervisor, professor e a família. Nessa avaliação devem ser considerados os inúmeros fatores e as características do aluno para se fazer um encaminhamento adequado a cada caso, pois podem ocorrer diferentes graus de dislexia. ! Desse modo, a situação dos disléxicos, conforme Nico e Yanhez (ibid) torna-se mais complexa pelo desconhecimento e falta de capacitação dos docentes. Sendo assim, o professor ganha papel de destaque por ele ser o principal agente do processo reeducador, cabendo a esse profissional usar o bom senso e não submeter esse aluno a pressões de tempo ou competição com os colegas. É necessário que os professores entendam as necessidades dos alunos disléxicos dentro e fora da sala de aula. Para as referidas autoras, o professor precisa entender que as respostas orais desses alunos são indicações melhores de suas habilidades do que seus trabalhos escritos. As autoras enfatizam que: “os disléxicos aprendem de maneira diferente, mas, podem acompanhar o ensino convencional”. ! A criança disléxica precisa de atendimento especializado, motivação, estabilidade emocional e ensino apropriado. O sucesso na reeducação de um disléxico está baseado numa terapia multisensorial , combinando sempre a visão, a audição e o tato para ajudá-lo a ler e soletrar corretamente as palavras. ! Sendo assim, são várias as alternativas disponíveis para que o aluno com dislexia possa acompanhar a turma e demonstrar o que aprendeu sem estresse. Todavia, a afetividade, a compreensão e a paciência são indispensáveis no processo de crescimento e aprendizagem do disléxico. Quando o professor consegue acolher esse estudante e respeitá-lo em suas diferenças, sem cair na armadilha do sentimento de pena, proporciona a ele um grande beneficio. Mais do que isso, o professor acaba oferecendo a toda classe uma rica experiência de convivência com a diversidade. Isso poderá ser mais eficaz na medida em que esse profissional tiver apoio e orientação do supervisor escolar. ! A ação do supervisor no trabalho com a criança disléxica ! Para Alarcão (2003), a supervisão escolar é uma atividade que visa o desenvolvimento profissional dos professores, na sua dimensão de conhecimento e de ação, desde uma situação pré-profissional até uma situação de acompanhamento no exercício da profissão e na inserção na vida da escola. Ou seja, a função da supervisão escolar é fundamental para atingir a formação dos alunos propiciando o desenvolvimento de capacidades, atitudes e conhecimentos, com o objetivo de compreender melhor para melhor agir. Na visão de Nico e Yanhez (2001), o supervisor escolar pode ajudar muito a esses alunos disléxicos orientando o professor, pois existem várias alternativas disponíveis que podem ser usadas em sala de aula como: substituir avaliações escritas por orais, usar recursos de apoio alem do quadro negro, dar um tempo maior para realizar trabalhos. Em relação a isso, as autoras ressaltam que: ! Todas as leis, legislação e diretrizes educacionais, não são específicas para os disléxicos, apenas engloba o que tange a inclusão escolar, como direito de qualquer cidadão. No entanto quando um indivíduo é avaliado pela Associação Brasileira de Dislexia (ABD), poderá apresentar esse laudo anexo a sua identidade, e terá o direito a avaliação diferenciada em ocasiões de provas, vestibulares, concursos públicos, exames da OAB e outros (NICO; YANHEZ, 2001, p.99). ! Nessa perspectiva, é de fundamental importância que o supervisor escolar além de sua capacitação, esteja atento a tudo que está relacionado aos alunos com dificuldades específicas de aprendizagem para que não ocorram obstáculos na aprendizagem desses alunos. A esse respeito, as autoras Nico e Yanhez (2001, p. 82) explicam que: ! Em são Paulo e Brasília já existem vestibulares direcionados aos disléxicos. Também foi aprovada a lei nº. 12.524 no dia 2 de janeiro de 2007 que obriga o Estado a criar o Programa de Identificação e Tratamento da Dislexia nas escolas estaduais de autoria da deputada Maria Lúcia Prandi (PT). ! O conhecimento e comprometimento do supervisor escolar e dos educadores em relação à dislexia são fundamentais, e isso se dá através do diálogo entre os mesmos a fim de alcançar a construção da relação de mediação. Nesse sentido é possível que o supervisor escolar seja fonte de inspiração dos seus professores, conduzindo-os a uma reflexão crítica da realidade e do mundo. ! Percebe-se portanto, nessa contextualização sobre o papel do supervisor escolar que esse profissional deve estar em processo constante de formação continuada e que realize o seu trabalho em parceria com o professor. Juntos eles poderão buscar a melhor maneira de auxiliar o desenvolvimento do educando, principalmente no que diz respeito ao aluno disléxico. ! No intuito de aprofundar mais este estudo no que diz respeito à ação do supervisor escolar e o aluno disléxico foi realizada uma entrevista com um supervisor da escola pública e o outro da escola particular. ! Os supervisores escolares ao serem abordados sobre a sua visão em relação ao aluno com dificuldade de aprendizagem responderam o seguinte: ! Faço um relatório alertando o professor e encaminho esse aluno ao posto de saúde (supervisor do Ensino Público). ! Se o aluno tiver dificuldade muito acentuada, converso com o psicólogo e comunico aos pais e dependendo da avaliação será usado o melhor meio para auxiliar o aluno (supervisor do Ensino Particular). ! Na segunda e última pergunta, sobre as atividades sugeridas aos professores com alunos com dificuldades, eles responderam: ! Existe um relatório notificando que o aluno tem dificuldade, então o professor faz o melhor que puder (supervisor do Ensino Público). ! Vamos ajudar o professor para que ele se prepare adequadamente para receber esse aluno e se for o caso o encaminharemos ao psicólogo (supervisor do Ensino Particular). ! Ficou evidente através das falas dos entrevistados, que faltam-lhes capacitação e habilidade em relação a melhor maneira de orientar os professores no que diz respeito às crianças com dificuldades de aprendizagem. Percebe-se claramente entre os supervisores escolares, tanto da rede particular como na rede pública, a defasagem no processo de formação pedagógica, verificando-se também que nem todos os programas regulares têm a qualidade desejada e nem serviços especializados para atender alunos com dificuldade específica de aprendizagem. ! Diante dessa análise, constata-se que as abordagens citadas pelos referenciais teóricos deste estudo, confirmam-se no que diz respeito à necessidade de capacitação do supervisor escolar, do professor e a ação conjunta de ambos, para auxiliar esse aluno com dificuldade. ! Conclusão ! Os dados apresentados neste artigo, sobre a atuação e interferência do supervisor escolar no processo de aprendizagem de crianças com dislexia, confirmou o objetivo deste estudo, ao verificar a grande relevância do trabalho desse profissional na sua função de gerir relações entre pessoas e entre saberes, podendo, portanto, contribuir e auxiliar no processo de aprendizagem dessas crianças. ! Com base nisso e nas análises aqui desenvolvidas, percebeu-se que só é possível ao supervisor escolar contribuir no ensino-aprendizagem de crianças disléxicas, quando ele tem competência comprovada no trabalho com essas crianças, para então poder orientar o professor nesse trabalho. Devem-se buscar métodos adequados para trabalhar as dificuldades desses alunos, evitando assim, futuros traumas e constrangimentos que a incompreensão e o desconhecimento acarretam em suas vidas. ! Concluiu-se então que, o supervisor escolar além de sua capacitação precisa ser um profissional com ampla visão no processo educativo, e estar em processo constante de formação continuada em relação às dificuldades de aprendizagem para melhor orientar o professor em relação ao desempenho escolar desses alunos. ! Referências bibliográficas ! ! ALARCÃO, Isabel. Professores Reflexivos em uma Escola Reflexiva. São Paulo: Cortez. 2003. ! NICO, Maria Ângela; YANHEZ, Maria Eugênia. Nem sempre é o que parece: como enfrentar a Dislexia e os Fracassos Escolares. 7ª ed. São Paulo: Campos, 2001. ! SELIKOWITZ, Mark. Dislexia e outras dificuldades de aprendizagem. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. !