AGROECOLOGIA E PROMOÇÃO DA SAÚDE Pâmela Gioza da Silveira Vivianne Libanio Lima O conceito de sustentabilidade foi pela primeira vez discutida em caráter ambiental, em 1983, organizado pela ONU para compreender a relação entre desenvolvimento e meio ambiente e criar uma nova visão para abordar debater tais questões. Dessa forma, o desenvolvimento sustentável retoma questões como equidade social; distribuição de riquezas; fim da exploração dos seres humanos; eliminação das discriminações de gênero, raça, geração ou qualquer outra; garantia de direitos a vida, felicidade, saúde, educação, moradia, cultura, emprego e envelhecimento com dignidade; democracia plena, além de responsabilidade ecológica e de participação cidadã como partes indivisíveis do desenvolvimento1. Com isso, a sustentabilidade se torna o eixo central da agroecologia, na qual através do manejo produtivo do uso da terra é possível garantir em algumas comunidades a autossuficiência alimentar2. Na década de 60, em nosso país, a chamada “Revolução Verde”, que consistia em uma forte influência do sistema econômico sobre o sistema agroalimentar. Este processo estimulou a utilização de sementes híbridas selecionadas, fertilizantes químicos, agrotóxicos, drogas veterinárias e maquinário pesado na agricultura. O que gerou um aumento da produção de alimentos, porém, não resolveu de forma eficaz o problema da fome, além de ocasionar transtornos negativos à saúde humana e ambiental3. Tal aumento da tecnologia na produção de alimentos acentuou o crescimento da exclusão social. E para modificar o quadro instaurado na agricultura, surge na década de 70/80 uma grande mobilização de agricultores e de representantes do campo em prol de uma agricultura independente do uso de insumos químicos e de tecnologias, ficando assim conhecida como agricultura ecológica ou agroecologia3. A agroecologia é uma nova área de estudo que busca compreender os agroecossistemas, compondo conhecimentos de agronomia, ecologia, economia, sociologia, entre outros3. Sendo caracterizada como uma reforma sociopolítica de empoderamento do agricultor ao encontro de sua identidade e participação ativa no processo produtivo 1. Essa nova proposta deve abranger aspectos sociais e culturais, preservar recursos ambientais, inclusão política e autonomia dos seus atores, mediante a ação social coletiva. Sua realização leva a resultados econômicos positivos para sociedade, a longo prazo, ou seja, uma agricultura sustentável. Além disso, a Agroecologia baseia-se no SAN (Segurança Alimentar e Nutricional) que a define como “a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis”1. Dessa forma, a Agroecologia tem se mostrado como uma alternativa concreta no âmbito de promoção da saúde social e da sustentabilidade. Alguns estudos demonstram a relação entre as práticas da Agroecologia, a promoção da saúde socioambiental e da sustentabilidade em seus diferentes níveis1. A definição de sustentabilidade vem sendo estudada por diversos olhares e agregando contribuições para sua estruturação, um exemplo de tal construção pode ser analisado na perspectiva da Agroecologia e do sistema agroalimentar, a partir do debate que envolve a Promoção da Saúde1. Na Carta de Ottawa, a Promoção da Saúde é conceituada como um processo que confere ao povo os meios para assegurar um maior controle e melhoria de sua própria saúde, não se limitando a ações de responsabilidade do setor da saúde3. A Organização Mundial da Saúde – OMS decidiu determinar como iniciativas de promoção de saúde os programas e as atividades planejadas e executadas de acordo com os seguintes princípios: (a) concepção holística, que reforça a saúde física, mental, social e espiritual; (b) intersetorialidade, compreendida como a união de saberes e experiências no planejamento, na realização e na avaliação de ações para obter um acordo em situações complexas, visando o desenvolvimento e inclusão social; (c) participação social, que prevê formas de atuação ativa dos cidadãos no planejamento, execução e avaliação dos projetos, visando à equidade e a sustentabilidade; (d) equidade, que consiste na persistente busca pela justiça que trate cada indivíduo segundo sua natureza particular; (e) sustentabilidade, que objetiva à formulação de iniciativas que estejam de acordo com o princípio do desenvolvimento sustentável e garantia de um processo duradouro e forte3. A predominância do modelo curativo, medicamentoso e especializado no atual contexto da saúde demanda cada vez mais a efetivação de políticas que tenham como foco a Promoção da Saúde. Podemos destacar, dessa forma, cinco campos de atuação da mesma, tais como: a elaboração de políticas públicas saudáveis, criação de ambientes favoráveis, desenvolvimento de habilidades pessoais, reorientação dos sistemas e serviços de saúde, e reforço da ação comunitária. Podemos destacar a participação social, que valoriza os determinantes sociais da saúde e a intersetorialidade para criação de políticas promotoras de saúde com enfoque no coletivo 2. A alimentação saudável representa um dos campos de atuação da promoção da saúde. A II Conferência Internacional de Promoção da Saúde (1988) destacou a alimentação e a nutrição como prioridades para a sua efetividade, “A eliminação da fome, da má nutrição e dos agravos relacionados ao excesso de peso, foi considerada meta essencial para a melhoria da qualidade de vida das coletividades” 2. Da mesma forma, torna-se indispensável a discussão sobre o meio ambiente nos determinantes da saúde, pois as constantes contaminações por substâncias químicas utilizadas nos processos industriais e na agricultura, vem causando grandes prejuízos na natureza, refletindo indiretamente na saúde coletiva dos indivíduos. Assim, a agroecologia como forma de promoção da saúde resulta em uma melhora no estado de saúde individual, com menor incidência de doenças, e o processo de sensibilização familiar, em contato com os princípios da mesma , resulta na busca por uma maior qualidade de vida, valorizando e incorporando práticas que contribuem para um bom estado de saúde2. Portanto, acredita-se que a agricultura urbana só pode ser considerada como promotora da saúde se praticada à luz da agroecologia, pois essa propõe uma interação harmônica com os recursos naturais, minimiza as agressões ao meio ambiente e considera todos os seres presentes na natureza como aliados, utilizando indicadores biológicos para analisar suas práticas na busca por melhor qualidade de vida. Ao minimizar os impactos sobre a saúde humana, a agroecologia oferece a possibilidade de se obter uma vida mais saudável3. Referências Bibliográficas 1. Azevedo E, Pelicioni MCF. Promoção da Saúde, Sustentabilidade e Agroecologia: uma discussão intersetorial. Saúde Soc. São Paulo, v.20, n.3, p.715-729, 2011. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902011000300016 > Acesso em 29 Abr. 2015. 2. Navolar TS, Rigon SA, Philippi JMS. Diálogo entre Agroecologia e Promoção da Saúde. RBPS, Fortaleza, 23(1): 69-79, jan./mar., 2010. Disponível em: < http://www.unifor.br/images/pdfs/rbps/artigo10_2010.1.pdf > Acesso em 28 Abr. 2015. 3. Ribeiro SM, Azevedo E, Pelicioni MCF, Bógus CM, Pereira IMTB. Agricultura Urbana Agroecológica - Estratégia de Promoção da Saúde e Segurança Alimentar e Nutricional. Rev Bras Promoç Saúde, Fortaleza, 25(3): 381-388, jul./set., 2012. Disponível em: < http://ojs.unifor.br/index.php/RBPS/article/view/2269/2496 > Acesso em 29 Abr. 2015.