CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO DE AGRICULTURA E POLÍTICA RURAL EVENTO: Audiência Pública N°: 1441/03 DATA: 16/9/2003 INÍCIO: 14h29min TÉRMINO: 17h07min DURAÇÃO: 02h38min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h37min PÁGINAS: 45 QUARTOS: 32 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO FÁBIO FLORÊNCIO FERNANDES – Chefe da Divisão de Classificação de Produtos Vegetais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. JOSÉ BATISTA – Representante da Gerência do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar — PRONAF, do Ministério do Desenvolvimento Agrário. WILSON RABUSKE – Representante do Movimento dos Pequenos Agricultores — MPA. ROGÉRIO ALUISIO HEINEN – Técnico Agrícola. HAINSI GRALOW – Presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil — AFUBRA. CLÁUDIO HENN – Presidente do Sindicato da Indústria do Fumo – SINDIFUMO. SÉRGIO IVAN MORAES – Prefeito do Município de Santa Cruz do Sul, Estado do Rio Grande do Sul. MARGARETH MATOS DE CARVALHO – Procuradora do Trabalho do Ministério Público do Paraná. SUMÁRIO: Debate sobre a situação da produção e comercialização de fumo no Brasil. OBSERVAÇÕES Houve falha na gravação. Há exibição de imagens. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Havendo número regimental, declaro abertos os trabalhos presente reunião da Comissão de Agricultura e Política Rural da Câmara dos Deputados, em que se discutirão as alternativas de produção e comercialização de fumo no Brasil. Foram convidados para participar desta audiência o Sr. Fábio Florêncio Fernandes, Chefe da Divisão de Classificação Vegetal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; o Sr. Adoniran Peraci, Gerente do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar — PRONAF, do Ministério do Desenvolvimento Agrário; o Sr. Wilson Rabuske, representante do Movimento dos Pequenos Agricultores; o Sr. Rogério Aluisio Heinen, técnico agrícola; o Sr. Hainsi Gralow, Presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil — AFUBRA, e o Sr. Cláudio Henn, Presidente do Sindicato da Indústria do Fumo — SINDIFUMO. Tenho o prazer de convidá-los para tomar assento à mesa. (Pausa.) Informo aos Srs. Deputados que os convidados terão 20 minutos para fazer suas exposições, prazo prorrogável, e não podem ser aparteados. Cada Deputado inscrito terá 3 minutos para interpelar os expositores, que disporão do mesmo tempo para responder, facultada a réplica e a tréplica, pelo mesmo prazo. Vou passar a palavra ao autor do requerimento, Deputado Adão Pretto, a fim de que profira algumas palavras, no intuito de nortear a nossa discussão. Tem a palavra S.Exa. O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, prezados colegas, prezados agricultores, representante do SINDIFUMO, pessoal do nosso Ministério, é com muita alegria que saudamos esses companheiros trabalhadores. Apresentamos o requerimento para ouvirmos os convidados de hoje em virtude da luta e da reivindicação dos nossos produtores de fumo. Eles têm aqui uma pauta bastante intensa e merecem a atenção desta Comissão. Um dos pontos da pauta dos nossos agricultores: diminuição do uso de veneno. No caso do fumo, utiliza-se muito inseticida. A cidade de Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul, é conhecida como a capital mundial do suicídio de agricultores, por causa da depressão que causa o uso freqüente de veneno. Os agricultores também requerem o direito — com o qual concordo — de ter um auxílio devido à insalubridade, em vista do contato deles com esse veneno. 2 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Pleiteiam também a participação nos lucros, porque entregam o produto por um preço e, depois, quando está na mão da indústria, o preço aumenta, e eles ficam no prejuízo. Os agricultores estão estabelecendo um preço justo para esse produto, para que não sejam lesados dessa maneira todos os anos. Eles entendem que deveria ser diminuído o número de classes do fumo, pois há muitas classes e isso faz com que o trabalho do agricultor seja ainda mais aumentado. De maneira geral, seriam esses os pontos da pauta dos agricultores. Eles dirão com mais propriedade o que realmente esperam da Comissão da Agricultura e Política Rural. Estamos ao lado deles. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Obrigado, Deputado Adão Pretto. Concedo a palavra ao Sr. Fábio Florêncio Fernandes, pelo prazo de 20 minutos. O SR. FÁBIO FLORÊNCIO FERNANDES - Boa-tarde, Sr. Presidente, Srs. Deputados, produtores e industriais da área de fumicultura. No início do ano, o Ministério da Agricultura recebeu a reivindicação do Movimento dos Pequenos Agricultores — MPA, do Estado do Rio Grande do Sul. Solicitaram análise do pleito relativo à revisão da portaria de classificação do fumo, reduzindo sua classificação de 48 para 12 classes. O Ministério, após receber essa demanda, fez algumas análises da propositura do segmento para verificar a viabilidade de acatar esse pedido. Antes de entrar na parte técnica da discussão da portaria, faço um esclarecimento sobre a legislação vigente no País sobre a classificação de produtos vegetais. Em 2000, o Congresso Nacional aprovou a Lei nº 9.972, instituiu a obrigatoriedade de classificação de produtos vegetais. Com isso, retirou da competência do Ministério da Agricultura a execução da classificação dos produtos vegetais. Isso seria feito somente pelos Estados ou pela iniciativa privada, mediante credenciamento realizado pelo Ministério da Agricultura. O Ministério não faz mais a classificação de produtos vegetais, como se exigia até o ano de 2000. Em 2000, época em que vigia a Lei nº 6.305, perdeu-se a obrigatoriedade de se fazer a classificação do fumo. Por ser um produto não destinado diretamente à alimentação humana, por não ser objeto de compra e venda pelo Poder Público e 3 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 por não ter origem de importação, não cabe a aplicação da Lei nº 9.972. Então, não está sujeito à classificação obrigatória. O que acontece? As negociações sobre qualidade são definidas entre as partes negociantes, entre o produtor e o adquirente do produto. Qual a norma a ser seguida? Não há necessidade mais de um padrão oficial estabelecido pelo Ministério da Agricultura, por não ser um produto de caráter obrigatório. O Ministério pode estipular um padrão oficial, atendendo à reivindicação dos segmentos, mas seria apenas uma referência para as negociações entre as partes. Não é necessário que uma das partes torne aquele padrão obrigatório no momento da aquisição. A fábrica pode instituir um padrão de compra independente daquilo que está estipulado no padrão oficial. Ela, achando que aquele padrão de compra é o melhor para sua aquisição, pode dizer o seguinte: “Este ano eu quero um padrão no estilo tal”. Não é obrigatório seguir a norma oficial do Ministério, porque não se trata de um produto sujeito à classificação obrigatória. Essa é a parte introdutória que queria apresentar aos senhores a respeito da legislação sobre classificação de produtos vegetais. Com a instituição dessa lei, o Ministério, saindo do circuito de classificação e definição da qualidade dos produtos vegetais, passando-o para a iniciativa privada, mediante credenciamento, passa apenas a controlar a qualidade mediante fiscalização daqueles produtos sujeitos à classificação obrigatória e também a fazer a classificação dos produtos importados. O fumo não está no âmbito de alcance da fiscalização do Ministério da Agricultura, por força da Lei nº 9.972. O que o Ministério está fazendo? Está estudando o pleito dos senhores, do Movimento dos Pequenos Agricultores, para verificar a mencionada redução, de 48 para 12 classes. Tecnicamente, foram levantados os estudos e verificamos que é inviável. Por quê? Poderia penalizar o agricultor, porque estaria ele suprimindo, às vezes, uma qualidade de um produto numa situação daquela classe. Não que toda a produção de fumo de um produtor esteja enquadrada nas 48 classes; trata-se de dar oportunidade àquele produtor de optar por uma das 48 classes. Então, não é complicado, como foi dito no documento. 4 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Então, não acreditamos que se queira penalizar o produtor, porque ele teria pouco nível de enquadramento do seu produto ali. Dependendo da situação, o pagamento que ele teria a receber seria bem menor. Durante a convocação feita na Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, apresentamos isso e também que o Ministério estaria viabilizando novos estudos para caracterizar um padrão, por solicitação dos senhores, a fim de atender o produtor. Existiria um padrão para a indústria também, não haveria problema. Entre as partes que vão negociar essa qualidade, o Ministério estaria apenas intermediando, oficializando o pleito daquele segmento. O padrão é uma referência, não tem caráter obrigatório. No caso dos demais produtos amparados, aí sim, o Ministério controla a qualidade. O proprietário, ou o beneficiador daquele produto, é obrigado a seguir essa qualidade. Por enquanto, são as explicações que teria a dar. Após ouvir os demais segmentos, poderemos voltar a discutir. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Muito obrigado, Dr. Fábio Fernandes. Como o Sr. Adoniran Peraci não pôde comparecer a esta reunião, enviou um representante, o Dr. José Batista, que, em nome da Gerência do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar — PRONAF, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, tem a palavra. O SR. JOSÉ BATISTA - Boa-tarde a todos. Saúdo o Presidente da Comissão, os Deputados, os agricultores e os demais presentes a esta audiência pública. Nós do Ministério do Desenvolvimento Agrário temos uma posição muito clara a respeito da agricultura familiar, principalmente de defesa dos interesses dos agricultores familiares e dos fumicultores. Hoje, considerando-se os 4,8 milhões de estabelecimentos, há 4,1 milhões de agricultores familiares. E esse enorme grupo ocupa apenas 25% das terras do Brasil. Mesmo assim, é responsável por 38% do valor bruto da produção. De acordo com os nossos dados, 153 mil agricultores trabalham e plantam fumo no País. Praticamente quase a totalidade é de agricultores familiares, diferentemente dos outros países, dos principais produtores de fumo no mundo, onde a produção é feita por médios e grandes. Aqui, é o agricultor familiar que se dedica ao cultivo de fumo. Essas famílias que se dedicam a isso empregam em 5 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 torno de 520 mil. Então, são 520 mil pessoas que vivem, que se ocupam da atividade de fumo no Brasil. No caso, a missão do Ministério do Desenvolvimento Agrário é desenvolver políticas e buscar a melhoria das condições de vida das famílias dos agricultores familiares. Nossa posição é, em primeiro lugar, de defesa e de solidariedade aos agricultores. Reconhecemos as dificuldades por que passam os agricultores, sobretudo os plantadores de fumo, estamos solidários no que se refere às suas reivindicações e, em muitos momentos, o Ministério procurou funcionar como uma espécie de mediador dos conflitos. Buscou também, ao longo do tempo, construir políticas alternativas. Está, lado a lado com outros órgãos do Governo, buscando soluções para essa questão do fumo. Também fomos desenvolvendo outras políticas. Embora o PRONAF tenha deixado de financiar a lavoura do fumo a partir de 2001, criamos um mecanismo nesse programa que permite que o fumicultor ou o agricultor que planta fumo possa ter acesso a recursos do PRONAF, no caso de outros produtos. Então, os plantadores de fumo compõem o único grupo que pode, relativamente ao PRONAF, ter acesso a 2 créditos. Ou seja, toma o crédito destinado ao plantio do fumo e tem acesso ao PRONAF. Dos 153 mil produtores de fumo, 120 mil têm acesso ao PRONAF. Os outros 33 mil não recorrem a esse programa porque não precisam, porque não querem ou porque têm algum outro problema — não sabemos. É considerável o número daqueles que tomam esse crédito. Também estamos buscando construir alternativas para os agricultores. No último Plano Safra para a Agricultura Familiar, estamos disponibilizando mais de 5,4 bilhões de reais para os agricultores familiares, por meio de diversas linhas de crédito; inclusive, há algumas linhas alternativas. Por exemplo, o PRONAF Agroecologia, que permite aos agricultores fazer essa transição ecológica. Na pauta, há uma reivindicação. O Deputado Adão Pretto falou a respeito de um modelo alternativo, no sentido de fugir dos agrotóxicos, dos inseticidas, dos pesticidas e dos fungicidas, usados na lavoura do fumo. Estamos oferecendo isso aos agricultores que querem fazer essa transição na sua propriedade. Também criamos o PRONAF Alimento. Inclusive, há um subteto, até 30% a mais daquele valor normalmente pleiteado pelo agricultor quando deseja plantar. 6 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Normalmente, na resteva do fumo, após a colheita desse produto, pode-se plantar feijão, milho, mandioca, arroz, produtos para subsistência, para compor a cesta básica brasileira. De modo especial, são produtos que hoje estão sendo demandados pelo Programa Fome Zero. Essas são algumas questões que trazemos para iniciar a discussão, no sentido de buscar esse fortalecimento, de criar essas políticas. Temos dialogado muito com os movimentos sociais, com o MPA, que está presente, com a CONTAG, a FETRAF-Sul, o MST, para encontrar alternativas, políticas que proporcionem o crescimento e a consolidação desse importante setor para a economia do País. Com relação ao fumo, não estamos no momento discutindo essa questão internamente no Ministério. Podemos fazê-lo a partir de agora, se for o caso. Nas pautas que nos foram entregues há 2, 3 meses, quando recebemos todos os movimentos, não estava previsto o financiamento para o setor de fumo. Contudo, o Ministério está aberto para a discussão, está solidário nessa luta. Espero que possamos hoje, conjuntamente, Poder Executivo, representado pelos Ministérios, Poder Legislativo, neste diálogo com a sociedade, com os produtores e com os industrialistas do fumo, construir de fato uma agenda que venha a atender essa pauta, que para nós também é muito importante. Queremos, no fundo, a melhoria das condições de vida, a satisfação do agricultor na atividade que desempenha. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Muito obrigado, Dr. José Batista. Concedo a palavra ao Sr. Wilson Rabuske, representante do Movimento dos Pequenos Agricultores, que dispõe de 20 minutos. O SR. WILSON RABUSKE - Boa-tarde a todos. Representamos o MPA. Agradecemos à Presidência da Comissão de Agricultura o convite. Nossos agradecimentos a todos que compõem a Mesa pela presença. Estamos aqui para reforçar a pauta em que o MPA vem trabalhando há vários meses. Não é muito extensa, mas significa muito para os pequenos agricultores. A última safra de fumo, embora tenha sido atípica, deu uma quebra bem acima do que a prevista pela própria indústria, pela AFUBRA e por outros representantes, mas trouxe-nos os ingredientes que deixaram clara a verdadeira situação da fumicultura na Região Sul. Enquanto a indústria está muito bem, 7 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 enquanto diversos setores que estão nesta cadeia produtiva do fumo estão bem, o agricultor está cada vez mais descapitalizado. Foi dito há pouco que, dos cerca de 150 mil produtores, 120 mil têm acesso a financiamento do PRONAF, além de financiamento de insumos para o fumo. Nessa questão dos insumos para o fumo, daquilo que o agricultor necessita para produzir o fumo, questionamos o fato de ele muitas vezes precisar pagar bem mais caro para uma indústria do que para outra. Existem casos em que a diferença de preço de um mesmo adubo chega a 30%. Há a questão dos financiamentos. O agricultor, como foi dito, até 2001, financiava o fumo por meio do PRONAF. Desse tempo para trás, uma portaria dava 30% de rebate para todos os financiamentos contraídos pelo PRONAF. Estranhamente, há muitos agricultores que ainda não receberam essa devolução do rebate. Já solicitamos essa devolução várias vezes. A indústria, por intermédio de seus representantes, comprometeu-se a fazer isso na maior brevidade possível, e até hoje somos procurados por agricultores que nos perguntam sobre os rebates a que eles têm direito. A questão da renegociação das dívidas. Soubemos que, na última safra, muitos agricultores não conseguiram honrar os seus compromissos. E ficou definido, por intermédio do protocolo de negociação, que não se cobraria nada além de 8,75% de juros ao ano. Estranhamente, muitas empresas cobram patamares bem mais elevados, cobram muitas vezes 18,67% em contratos que às vezes duram 1 ou 2 meses. Consideramos isso totalmente ilegal. Nós queremos que juro algum seja cobrado acima de 18,67%, o máximo permitido por lei. Quanto à classificação, além de ser feita na propriedade, queremos que o número de classes baixe de 48 para 12. Antes mesmo da negociação da última safra, tínhamos certeza de que isso era viável. Após a comercialização da última safra, essa certeza aumentou, porque, nos últimos meses da compra de fumo, comprou-se esse produto dos agricultores a preço muito superior ao preço oficial sem classificação alguma. Simplesmente iam ao galpão do agricultor e ofereciam 80, 85, 90 até 100 reais por 1 arroba, enquanto o preço oficial negociado era de R$62,85, no máximo. Pagavam aos agricultores por um fumo sem classificação alguma. Esses apenas tiravam a taquara, o taco, faziam um monte de todos os tipos de fumo — muitas vezes, de acordo com a linguagem do agricultor, até ninho de rato ia junto — e recebiam até 100 reais por arroba. 8 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Naquele momento, confirmou-se que as empresas podem, sim, classificar fumo em casa. Num mesmo dia, os agricultores eram visitados por até 6 compradores de fumo. Alegava-se que havia a dificuldade de pessoal, de mão-de-obra, mas ficou provado que a indústria, quando quer, consegue mão-de-obra para comprar o fumo nas propriedades. Além disso, desde o ano passado, pleiteávamos preço mais justo para os agricultores. Pedimos, ainda no caso da pauta da safra passada, 117 reais por BO1. Para quem não entende de fumo, BO1 é a classe do melhor fumo, pelo qual se paga o preço mais alto. A indústria e outras entidades, após negociação, picharam o MPA, que, segundo eles, não tem representatividade. Porém, 50 mil produtores de fumo no Estado do Rio Grande do Sul estão com o MPA. A indústria e outras entidades chegaram a um preço de R$62,85 pelo BO1, e fincamos o pé em 117 reais. Passaram-se alguns dias e, terminada a negociação, já se confirmava o que o MPA dizia: a indústria tinha condições de pagar mais, tanto que começou pagando 65, 70, 80, 85 e chegou a superar a marca dos 100 reais, e não pelo BO1, por qualquer fumo. Os agricultores que conhecem fumo ainda questionam. No início da safra, eles venderam o fumo a 30, 40, 50 reais; no final, a indústria pôde pagar até 100 reais. Em outros anos, a classe BO1 dificilmente chegava aos patamares de 20%, 30% do total comprado; na safra anterior, chegou aos 40%; nesta última safra, então, superou, e muito, as expectativas. Por tudo isso, estamos aqui para reafirmar a nossa pauta e o nosso empenho em mudar o modo de produção. Queremos que o produtor continue plantando fumo, precisa plantar fumo, não estamos contra o plantio do fumo, só que devemos nos adequar à nossa realidade de hoje. O fumo não é totalmente saudável, mas, se optarmos pela forma orgânica de produção, poderemos reduzir os malefícios que causa tanto ao fumante quanto, principalmente, ao produtor, que está sempre exposto a tudo o que é insalubre, em decorrência do plantio do fumo. Por enquanto, é isso o que tenho a dizer. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Obrigado, Sr. Wilson Rabuske. 9 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Concedo a palavra ao técnico agrícola Rogério Aluisio Heinen, que dispõe de 20 minutos. O SR. ROGÉRIO ALUISIO HEINEN - Boa-tarde, Sr. Presidente, componentes da Mesa, representantes do Governo. Cumprimento o companheiro Deputado Adão Pretto pela iniciativa; o companheiro José Santana, da Direção Nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores; o Vereador Roque Weber, do meu Município, Venâncio Aires, que vem apoiar esta luta; o Prefeito de Santa Cruz, Sérgio Moraes, que está entre nós; os Deputados e os demais presentes. Inicio minha participação contestando uma afirmação do representante do Ministério da Agricultura, que declarou que as 48 classes são necessárias. Digo aos senhores que não são necessárias. No início do ano, quando o Movimento dos Pequenos Agricultores afirmava que 12 classes bastavam, o que fazia a indústria? Chamava as lideranças do MPA de pessoas que não entendiam de fumo e dizia que eram débeis mentais. O que vimos em maio — e a indústria confirma — é que não são 12 classes. A indústria compra o fumo por uma classe, senhores. Então, não há necessidade de 48 classes. A indústria oficializou a proposta das 12 classes que o MPA apresentava. Essa é hoje a realidade no contexto do fumo. Gostaria de deixar claro também neste plenário que os agricultores que produzem fumo não têm nenhum controle sobre a cadeia de produção. A indústria controla desde o tipo de semente e de adubo até a classificação e o ponto final, que é o cigarro que a pessoa fuma. O agricultor é um mero comprador de um pacote pronto que a indústria elabora, não tem alternativa. Hoje, os próprios agricultores começam a provar que existe outra forma de produzir, sem alta carga química, usada na Região Sul para a produção do fumo. São mais de 200 famílias que produzem fumo de melhor qualidade e em quantidade maior. Prioriza-se o orgânico, não o químico. Só que a indústria não tem interesse nisso. Esses agricultores agem por conta própria, sem incentivo governamental. Chamo a atenção da Câmara dos Deputados e do Governo Federal, do Poder Executivo, para o compromisso que têm de ajudar os agricultores a mudar esse modelo tecnológico. Se os agricultores, sozinhos, estão conseguindo produzir fumo sem química, por que não se investe mais nessa produção? Os milhares de reais que hoje se gastam em toda a região fumageira para desintoxicar agricultores nos hospitais poderiam ser usados para aprofundamento de estudos sobre doenças 10 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 graves como o câncer e outras enfermidades. Só que para isso não há dinheiro, porque estão sendo desintoxicados agricultores. Não haveria essa necessidade. É uma questão de modelo. Proponho tanto para a Câmara dos Deputados quanto para o Poder Executivo, cujo representante está presente, que seja feito um convênio com as cooperativas de crédito ou com os movimentos sociais. Se isso for repassado para a indústria, quando os nossos bisnetos tiverem a nossa idade, vão estar aqui debatendo ainda esse modelo de agricultura. Está provado, como citou o Wilson, que, em relação ao PRONAF, os agricultores antes não colocavam a mão no dinheiro. Hoje, no caso de qualquer recurso que o Governo financiar por meio do MCR62, a juros de 8,75%, por exigibilidade bancária, o produtor de fumo não coloca a mão em 1 centavo; passa todo por dentro da indústria, o agricultor não tem o controle. A maioria não sabe que assina para a indústria. Essa é a realidade dos agricultores, a realidade nua e crua. Muito desse capital é usado como capital de giro. Quando se empresta para o agricultor... Este ano é exceção, porque a indústria precisa aumentar a quantidade de fumo, porque o mercado internacional exige. Há uma demanda de 1 milhão de toneladas de fumo, e a indústria tem que produzir 1 milhão de toneladas. E a negociação era feita na base de troca-troca. No ano passado, muitas indústrias pegaram dinheiro a 8,75% de juros, e cobraram do agricultor 18,75%, muitas delas não cumprindo a negociação que foi feita. Foi assinado protocolo, mas muitas não o cumpriram. Então, chamo a atenção tanto do Governo quanto da Câmara dos Deputados para esse fato. Gostaria de deixar claro também que a nossa região é uma das mais ricas do sul do País. No entanto, é a região que mais pequenos agricultores tem. Na grande maioria, a média não chega a 10 hectares. É ali que se produz fumo. Em Venâncio Aires, Santa Cruz, Vera Cruz, em toda aquela região, quase 40% deles não têm terra. E o SINDIFUMO diz que a porcentagem é de 30%. De outro lado, grandes empresas internacionais têm grandes fazendas e cobravam, no troca-troca, mais do que o Governo emprestava para os agricultores com juros. Chamo a atenção para a Resolução nº 2.765. A matéria foi aprovada pela Câmara dos Deputados. Mas a resolução não está sendo cumprida. Se qualquer agricultor ou cidadão comum não tivesse cumprido a lei, estaria na cadeia. No entanto, nenhuma empresa fumageira foi responsabilizada por não ter devolvido o 11 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 rebate dos 30%. Então, exigimos do Poder Público que divulgue para os agricultores quem pegou dinheiro no PRONAF, porque nem isso as indústrias passaram para os agricultores. Muitos agricultores estão cadastrados no BNDES sem saber, assinam uma declaração no meio de um monte de papéis. Em pleno ano de 2003, isso lamentavelmente continua acontecendo. Gostaria ainda de expor mais algumas questões sobre o modelo de agricultura. Se continuar a persistir o modelo que a indústria fumageira aplicou na última década, faltará pouco para que volte a escravidão na região fumageira do Rio Grande do Sul, o que será vergonhoso. Cito um exemplo prático, para os senhores entenderem melhor a questão. Os 117 reais defendidos pelo MPA não representam um dado retirado de qualquer lugar. Apenas considerou o preço do insumo, calculado o preço de custo de quando entrou o Plano Real, em 1994, calculado pela própria indústria fumageira. Considerou o preço que atingiu o insumo até 2003 e chegou a esse valor. Em relação ao preço do fumo, foi apenas corrigido o preço do insumo. Podemos levar em conta o custo de produção da indústria em 1994, mas nem isso ela está cumprindo em 2003. Existe muita manipulação de dados. Então, essa é a realidade. Somos um povo que tem um compromisso com o Brasil e queremos fazer deste País uma grande nação. Para sermos uma grande nação, precisamos de um povo que trabalhe e veja o resultado do trabalho. Não queremos acabar com a indústria fumageira. Nós do Movimento dos Pequenos Agricultores não vamos permitir que a indústria do fumo acabe com os pequenos agricultores, o que está acontecendo. Sr. Presidente, agradeço a oportunidade que me foi dada e me coloco à disposição para responder as perguntas, se for o caso. Obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Muito obrigado, Sr. Rogério Heinen. Concedo a palavra ao Sr. Hainsi Gralow, Presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil — AFUBRA. S.Sa. disporá de 20 minutos. O SR. HAINSI GRALOW - Boa-tarde a todos. Sr. Presidente, senhores membros da Mesa, Srs. Deputados, Sr. Sérgio Moraes, Prefeito de Santa Cruz, a Associação dos Fumicultores do Brasil trouxe dados de alguns Estados, que, às vezes, dizem mais do que as palavras, porque 12 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 nem sempre conseguimos mostrar a realidade. Gostaríamos de acionar as nossas informações e, com isso, passar ao nosso estudo. (Segue-se exibição de imagens.) Aqui já foi dito, e é verdade, que os fumicultores, no Brasil, no ano passado, eram 170 mil; 16,5%, ou seja, 28 mil não são proprietários, são fumicultores sem terra e plantam em parceria ou em terra arrendada. De 1 a 10 hectares são 37,4%, ou seja, 63.918 famílias. Apenas 1,8% dos fumicultores possuem mais de 50 hectares. Então, está confirmado que nós, os fumicultores, somos os pequenos. Quanto à mão-de-obra, há 512 mil famílias empregadas. Vou abandonar as frações. Foram contratadas mais de 170 mil famílias. Deputado Adão Pretto, que bom que V.Exa. se preocupa com fumicultura. Para nós ela é muito importante. Precisamos cuidar para que os nossos fumicultores cada vez mais obtenham melhores resultados. Mostro alguns dados sobre a renda. A renda de cada agricultor é diferente. No entanto, no ano passado, fez-se o cálculo médio do que ganha um agricultor que possui 17,9 hectares de terra, que plantou 2,47 hectares de tabaco, que lhe rendeu em torno de 16 mil reais; 1,36 hectares de feijão, que lhe rendeu 1 mil reais; 3,27 hectares de milho, que lhe rendeu 3 mil reais; 1,42 hectares em outras culturas, que lhe rendeu quase 2 mil reais. Então, ele tem uma receita de 22 mil reais. É pouco. Evidentemente queremos mais. Por causa disso, estamos sempre negociando. E vejam — pelo amor de Deus — no total da receita o que o fumo representa! Por causa disso, o Sr. Rabuske, o Sr. Heinen e eu dissemos que o fumo é extremamente importante. Às vezes, as pessoas perguntam por que não se planta feijão, milho. Está aí uma parte da resposta: a mão-de-obra aos valores ultrapassados agora entre 1 hectare de fumo, 2.500 em valores redondos; feijão, 300 reais, em valores redondos; milho, 250 reais. E o que mais o Brasil precisa é exatamente de atividades que necessitam de mão-de-obra. Existe mão-de-obra sobrando. No fumo, há muita mão-de-obra a ser empregada. Então, realmente temos essa grande idéia. Foi abordada aqui a classificação. Acredito sinceramente que se pode falar em classificação, em mudar a classificação. Isso é extremamente importante. O Ministério da Agricultura acompanhou muitos anos, quando se fazia modificações na classificação. E por que grandes alterações na classificação exigem cautela? A resposta talvez esteja nos números. Precisamos considerar a mão-de-obra, a 13 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 produção e a receita. E quando consideramos isso, vemos alguma coisa: famílias fumicultoras. Noventa por cento dos fumicultores são associados à AFUBRA. Por causa disso, os nossos números podem estar errado, mas muito pouco, porque os outros são realmente nomeados. Em 1976/77, trabalhamos com 105 mil famílias produtoras. Neste ano, chegamos a 187 mil. O Sr. Cláudio fala em 190 mil, não sei qual é o número das demais pessoas. Quanto a hectares plantados, começamos com 170 mil, não houve um ano em que se plantou e se colheu menos, a não ser o ano passado, uma frustração, por excesso de chuvas. Precisamos olhar para a exportação, porque 75% do fumo que produzimos são exportados. É igual ao frango: não podemos criá-lo e só comê-lo no Brasil. Não. Queremos exportá-lo. Dependemos 75% da exportação. Sei que o tempo é escasso. Vamos passar por cima desses dados, mas vemos o valor das exportações, elas são conhecidas. O produtor também precisa saber disso. Somamos o cigarro, porque afinal de conta é nossa matéria-prima. Olhem para essa bandeira. No poderoso Estados Unidos o modelo de produção e de classificação não deu certo. Vamos ver o que aconteceu com os Estados Unidos em relação ao Brasil. O Brasil é o maior produtor, excluindo a China, que produz 2 milhões de toneladas e, portanto, não pode ser comparada. O Brasil começou modestamente em 1980. Começamos a plantar fumo antes, mas a nossa estatística é de 1980, com 372 mil toneladas. No penúltimo ano, 669 mil toneladas. E agora, 635 mil toneladas. Esperamos chegar em torno de 750, 800 mil toneladas. Olhem os Estados Unidos, novamente considerado um modelo. Que modelo? Que produziu 800 mil toneladas e está em 400. Olhem em que situação está o Zimbábue. Também não é parâmetro para o Brasil. É bom observamos isso e vermos um pouco adiante. Afinal de contas, gostamos do Brasil, a nossa Pátria. Nós fumicultores gostamos disso. Vejam os maiores exportadores! Comparem! Faz bem para nós. Em 1980, exportamos 128.400 toneladas. No último ano, 474.470 toneladas. Este ano, vamos chegar a 500 mil toneladas. Olhem os Estados Unidos! Começaram como os maiores exportadores, 273.480 toneladas, e hoje estão com 160 mil toneladas. Olhem, como o Zimbábue! Cresceu e depois se arruinou. Não vou entrar no mérito do Zimbábue, porque todos conhecem a situação daquele país. 14 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Evidentemente, há ainda alguns dados importantes a mostrar. Outras informações importantes. Desse ponto não quero tratar, mas para nós fumicultores interessa quanto o Brasil, os Estados Unidos e outros países pagam de impostos sobre o cigarro. Esse não é exatamente o dado mais importante para nós. Vamos dar mais uma olhada. Esse é o faturamento total do setor fumageiro. E nós, como brasileiros fumicultores, estamos felizes, porque o nosso produto nos dá um total de 12 bilhões de reais; para o consumo doméstico, 9 bilhões e 750 mil reais; e para a exportação 2 bilhões e 349 milhões de reais. E se observamos para onde vai esse dinheiro, veremos que quase 6,4 bilhões de reais vão para o Governo; para a indústria, 3 bilhões; para nós, agricultores, apenas 1,8 bilhões; e o varejista está embolsando 823.875 milhões de reais. Um exemplo prático de mudanças que não geraram bons resultados. Contrabando de cigarros. A solução que o Governo encontrou, no ano 2000, foi a alta taxação, de 150%, sobre as vendas para países vizinhos. O que aconteceu foi um erro. Está lá escrito o nome da lei, só que foi um erro. O resultado está estampado na cara deste homem. Quando não estamos satisfeitos olhamos para o livro de resultados dessa maneira. Esta a nossa exportação de cigarro. Não produzo cigarro, mas gosto de ver os brasileiros trabalhando nas fábricas. Isso aconteceu até 1998, quando os nossos brasileirinhos das fábricas de cigarro exportaram 92,3 bilhões. Fizeram uma lei fantástica, maravilhosa, 150% para não exportar mais para o sul do Brasil. O que aconteceu? Lá está o resultado: ainda estamos produzindo 9,6 bilhões. O resto todos sabem onde está. Agradeço por essa grande oportunidade. Sempre que pudermos ser úteis, por favor, contem conosco. Talvez alguém não tenha conseguido anotar os Estados. Não se preocupem, logo mais estarão na Internet. Sr. Presidente e demais participantes, muito obrigado pela oportunidade. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Agradeço a participação ao Sr. Hainsi Gralow. Tem a palavra o Sr. Cláudio Henn, Presidente do Sindicato da Indústria do Fumo — SINDIFUMO, por 20 minutos. 15 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 O SR. CLÁUDIO HENN - Na pessoa do Sr. Presidente da Comissão de Agricultura, Abelardo Lupion, cumprimento os demais Deputados presentes. Cumprimento também o Prefeito Sérgio Moraes, de Santa Cruz do Sul, os integrantes de Ministérios e especialmente os colegas que compõem a Mesa. Parabenizo o Sr. Deputado Adão Pretto pela feliz idéia de realização dessa audiência pública que dá a todos nós a oportunidade de trazer dados e fatos sobre a realidade do setor fumageiro no sul do Brasil. Inicio fazendo uma correção. Referiu-se, por duas vezes, à devolução do rebate de 30% do PRONAF, da Resolução nº 2.765, que não teria havido ainda um pronunciamento do SINDIFUMO. Já nos manifestamos, há tempo, perante o MDA e a Secretaria do PRONAF, na pessoa do Sr. João Guadagnin. Essa afirmação de que o SINDIFUMO não teria se pronunciado não é correta. Infelizmente, a informação não chegou ainda aos nossos amigos, porque não faz sentido uma afirmação que não condiz com a verdade. Nas nossas contas, o setor envolve 950 mil famílias, quase 1 milhão de pessoas. A cada ano, aumenta extraordinariamente o número de pessoas envolvidas. Por exemplo, só neste último ano, são 20 mil famílias a mais produzindo fumo. Hoje, pelos nossos registros, são 193 mil famílias que produzem fumo. São mais de 400 mil hectares plantados. Há um constante crescimento. O uso do cigarro é polêmico, afinal é um produto que acaba na nossa boca, na nossa garganta. Precisa haver critérios em relação aos seus componentes. A cultura do fumo é hoje, no Brasil, a que menos usa agrotóxico. Nenhum outro produto usa menos. Está havendo uma redução, ano após ano. Hoje, usamos menos de 2 quilos de princípio ativo por hectare. Já se usou 10 ou 12. Nenhum país usa tão pouco. A isso se deve atribuir o sucesso do fumo brasileiro. Hoje, com a busca de baixos teores, light e ultralight, o fumo brasileiro se encaixa muito bem. As indústrias, há 4 anos, mudaram o sistema de tratos culturais, para produzir um fumo que tivesse mercado no mundo. Foi mencionado que os nossos grandes concorrentes são Estados Unidos e Zimbábue. Felizmente, o Brasil, hoje, produz 24% de todo o fumo exportado para o mundo. Até poucos anos, exportávamos 12%. Hoje, 85% do fumo brasileiro é exportado. Por quê? Porque de cada 3 cigarros que se fuma no País, 1 é contrabandeado. Deputado Adão Pretto, a questão do contrabando é do interesse de todos nós. É do interesse dessas 190 mil famílias. É do interesse, sim, dessas mais de 40 16 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 mil famílias de meeiros ou sem terra. Essas pessoas convivem na mesma escola. Inclusive, filhos de produtores e de meeiros se casam. Realmente, eles não têm propriedades, mas têm uma vida digna e continuam no campo. Foi o próprio setor fumageiro, a indústria, que pediu que excluísse a cultura do fumo do PRONAF, porque se alegava que os recursos iam para o fumo e não para o milho, para o feijão e para outros produtos agrícolas. Na área do fumo, não há inadimplência. Os bancos correm para oferecer financiamento, porque a indústria avaliza. Esses dias, ouvimos falar sobre o PRONAF Florestal, que estimula o reflorestamento para o pequeno produtor, concedendo-lhe prazo de carência e juros baixos. Isso é maravilhoso. Há duas semanas, descobri que o setor fumageiro, no sul do Brasil, só perde para celulose em matéria de reflorestamento. É o setor que mais refloresta, no País, depois da celulose. Hoje, de 26% a 27% das propriedades dos nossos produtores são reflorestadas. Fazemos campanhas e campanhas para recuperar a mata nativa de Santa Catarina e temos uma série de recuperações. O setor tem o maior programa de erradicação de trabalho infantil e irregular de adolescentes do meio rural do mundo, O Futuro é Agora, que, inclusive, está sendo copiado. Temos cursos de gestão rural e outros. Só no ano passado, tivemos mais de 2 mil alunos. Temos convênio com o SENAR. As fábricas têm creche, dentista, médico e PNR. A indústria realmente se esmera. O segmento cresce vertiginosamente, apesar de a produção legal, no Brasil, estar engessada. De acordo com dados da Receita Federal, o contrabando tira 1,3 bilhão de reais por ano de arrecadação, tira 4 mil empregos na indústria, que hoje tem 27 mil. A Philip Morris fechou, há 3 ou 4 anos, uma fábrica em Curitiba. Onde estão essas fábricas? O Paraguai tinha duas fábricas, hoje tem 29 e consome 3 bilhões de cigarros por ano. Produz 48 bilhões, dos quais 6 bilhões vão para a Argentina, no contrabando, e 39 bilhões vêm para o Brasil. Além disso, no País, existem fábricas que não recolhem seus tributos. Mais um detalhe: o cigarro é de péssima qualidade. O Brasil e o Canadá são os únicos países que têm advertência na embalagem de cigarros. Naturalmente, ficamos muito triste. O cigarro é um produto legal. É o único produto legal que está proibido de se comunicar com seu consumidor. Nós queremos informar ao consumidor sobre o avanço que existe hoje do cigarro mais leve etc. Nós não recomendamos a ninguém fumar. É lamentável o que ocorre na compra de agrotóxico. No interior é possível comprar o que se quer sem o receituário agronômico. Pior: há produtos 17 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 contrabandeados, falsificados. Podem perguntar para a Syngenta, para a Bayer, para os grandes produtores se isso não é verdade. Endossamos a sugestão de que se fiscalize esses produtos. Quando dizem que há diferença de preços, o que ocorre é que há formulação diferente. Um tipo de adubo é usado 500 quilos por hectare, outro usa um pouco mais, o NPK é diferente. É necessário conhecer esses detalhes. O fumo tem de ser um produto limpo, não é qualquer fertilizante que serve. Um detalhe: os 405 mil hectares de fumo que vamos plantar neste ano vai elevar nossa produção de 600 para 800 mil toneladas, um aumento de 33% em um ano. Esse setor tem problema? Esse setor não trata bem seu produtor? Esse setor desvia verbas, não paga propriamente? Não parece ser assim. Dos 360 mil hectares plantados no ano passado, 235 mil foram plantados com milho e feijão, com incentivo da indústria e da Associação dos Fumicultores do Brasil. Com um pouco de uréia aproveita-se os resíduos para a produção de milho. Esse é um plano. Não queremos a monocultura. Então, que haja sugestões práticas para que o produtor não dependa só do fumo. Olhando tudo isso, ficamos tristes porque fazem afirmações inexatas, como por exemplo sobre o modelo de produção orgânica. Há 4 anos, existe um estudo da Fundação Gaia, da AFUBRA, da UNISC, a Universidade de Santa Cruz — que não é pequena, tem 13 mil alunos. Temos convênios com a Universidade de Santa Maria e outros. Não somos nós que estamos analisando o grau de toxicidade do produto, os resíduos que têm, são os laboratórios especiais, porque sempre somos suspeitos para apresentar esses dados, que estão disponíveis. Fizemos um programa com a Universidade de Santa Maria sobre o seqüestro de carbono. Vamos poder oferecer a essas 190 mil famílias uma renda. Os senhores sabem que esse programa já existe na Europa, no Japão e em países dispostos a comprar o produto. É esse tipo de trabalho científico que se faz. O objetivo é melhorar o dia-a-dia do produtor. Em outros países, como na Argentina, nos Estados Unidos e no Zimbábue, o fumo é produzido em grandes propriedades com mais de 100 hectares. Fui empregado de uma fumageira e me recordo de que há alguns anos, até hoje existe, plantaram fumo em 120 hectares. Foi dito aqui que a média é 2,5 hectares por produtor. Plantaram 120 hectares em terra plana, trouxeram máquinas do Canadá, 18 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 em vez de usar lenha foi utilizado gás, havia cadeia de estufas espalhadas, está produzindo até hoje. Perto de Candelária há duas. A indústria tem opção, inclusive há estudos em Goiás e Mato Grosso e, eventualmente, há fazendeiros querendo. E até, Deputado Luis Carlos Heinze, uma pessoa de São Borja há 3 anos nos procurou também, houve uma pesquisa, ele queria plantar fumo em grande propriedade. Na época, a FETAG, a AFUBRA, as Federações de Santa Catarina e do Paraná nos pediram. E há também o pequeno produtor que tem muita qualidade, muita dedicação, 92% da mão-de-obra é familiar, ele tem um emprego na própria casa. Para citar alguns dados, tínhamos 700 Municípios e hoje são mais; temos 190 mil hectares, a produção, como disse, é 33%. No ano passado injetamos na economia 2,4 bilhões de reais com a compra do fumo. Estamos calculando pagar mais 4 bilhões neste ano para comprar a safra de fumo. Temos nas fábricas, que eram 27 e agora são 29 mil, 1 bilhão e 200 milhões de dólares exportados, dos quais 1 bilhão saem do Rio Grande do Sul. Santa Cruz do Sul, o Prefeito Sérgio Moraes se orgulha disso, é a Capital Mundial do Fumo, tem sido exemplo no mundo inteiro. Foram comentados os fracassos de outros países que tentam derrubar a cultura do fumo. A Europa, por exemplo, gasta 1 bilhão de euros em subsídio ao produtor de fumo. Em Cancún isso foi discutido novamente. Os Estados Unidos subsidiam o fumo. Mesmo assim o Brasil está chegando lá. Um detalhe importante é o Sistema Integrado de Produção de Fumo, existe há mais de 80 anos, que planeja a safra. Pergunto: qual o outro produto agrícola que o produtor hoje já sabe quanto vai ganhar na próxima safra, o preço mínimo? Três mil produtores estão sendo entrevistados pela indústria e pela representação dos fumicultores, haverá uma negociação. É transparente, os dados estão disponíveis, são gerados em tabelas comuns e tudo isso. Oferece-se assistência técnica e financeira gratuita. Temos mais de 1.500 agrônomos e técnicos agrícolas circulando nessas áreas. Nossos insumos são de alta qualidade, por isso o nosso sucesso. A compra total da safra, volto a repetir, independe da qualidade e do volume. Há levantamento de custos e responsabilidade social. É incrível o que se faz em termos de meio ambiente. Recolhemos no ano passado, só no Rio Grande do Sul, mais de 500 mil embalagens. Somente um terço era do fumo, tinha muito do arroz e de outros produtos. Esse trabalho foi feito conjuntamente com a AFUBRA. 19 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Criamos uma logística, e fizeram a reciclagem na usina de Passo Fundo. Esse trabalho também já está em andamento em Santa Catarina e no Paraná. Temos incentivado a preservação ambiental; o produtor que corta a mata nativa é chamado e há um trabalho de conscientização. Então, há uma série de fatores. Há dados estatísticos que comprovam que o fumo está aumentando a exportação, a produção, a renda das famílias e o emprego. A única nuvem negra que vemos hoje, lamentavelmente, se chama contrabando. O Governo tem-se empenhado muito, e temos acompanhado o trabalho da CPI da Pirataria, e está de parabéns por estar combatendo o contrabando de fumo, de cervejas e refrigerantes, da indústria fonográfica, de combustível etc. Nós nos solidarizamos com a Comissão de Agricultura, com os representantes dos produtores e queremos somar esforços. Gostaríamos de rechaçar certas afirmações, que não têm embasamento, como dizer que Venâncio Aires é a Capital Mundial de Suicídios. Vejam quantos suicídios ocorrem na Suécia! São informações baseadas em dados de 5, 6 anos atrás. O que precisamos é olhar o lado bom disso tudo. Esse setor não cresceria dessa maneira se não houvesse o lado bom. Parabéns pela iniciativa! Colocamo-nos à disposição. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Obrigado, Dr. Cláudio. Com a palavra o Deputado Adão Pretto, autor do requerimento de realização desta audiência pública, pelo prazo de 5 minutos. O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, prezados colegas, depois dessa explanação dos órgãos do Governo, dos agricultores e dos representantes das fumageiras, temos uma noção melhor do que realmente está ocorrendo. Quero esclarecer que esses dados de que Venâncio Aires é a Capital Mundial de Suicídios não são do Deputado Adão Pretto, mas são estatísticos, inclusive anunciados em vários meios de comunicação. De acordo com a indústria, tudo corre às mil maravilhas. Se realmente fosse assim, só teríamos de aplaudir. Mas ouvindo os agricultores, os produtores, percebemos que o discurso é diferente. E nós que temos andado pelo Rio Grande, o Estado produtor de fumo, observamos que a produção de fumo vem aumentando, mas não estamos vendo produtor de fumo enriquecendo. Aquele produtor de fumo 20 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 que vai muito bem está estabilizado, mas a grande maioria está ficando cada vez mais pobre. As suas casas não são reformadas, as suas máquinas estão velhas. É isso que temos observado. A indústria, realmente, de acordo com o que V.Sas. dizem, está indo muito bem e até acreditamos e concordamos que está trazendo divisas para o Brasil. Isso é muito bom, mas esse grande crescimento da indústria deveria ser compartilhado com o sujeito da história: o produtor. Se a indústria vai bem e os colonos não vão bem, algo de errado está acontecendo. Seria preciso que os agricultores estivessem no mesmo ritmo de crescimento da indústria. Se assim fosse, realmente, deveríamos aplaudir. E queremos afirmar que não somos contra o fumo. Muitos estão defendendo acabar com o plantio, consideramos que esse não é o momento, e isso não está nos projetos deste Governo. Pelo contrário. A lavoura do agricultor deve ser diversificada. O agricultor não pode plantar apenas fumo e ir ao mercado comprar feijão, batata etc. Tem de plantar de tudo. No Paraná há uma experiência, o companheiro Assis Miguel do Couto é de lá, sobre utilização do galpão para guardar o fumo. No período em que o galpão está ocioso cria-se galinha, transforma-se em aviário. E quando chega a época da colheita de fumo, volta a ser um galpão de fumo. São idéias que podem ajudar o agricultor a ter dias melhores. Era isso, Sr. Presidente. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Obrigado, Deputado Adão Pretto. Vou abrir uma exceção, prerrogativa da Presidência. Já que temos a ilustre presença do Prefeito de Santa Cruz do Sul, vou abrir um espaço para que o líder da produção de fumo no Brasil possa se pronunciar em reunião tão importante. V.Exa. tem a palavra. O SR. SÉRGIO IVAN MORAES - Muito obrigado, Sr. Presidente. Cumprimento minha esposa, a Deputada Federal Kelly Moraes; os componentes da Mesa; o Deputado Adão Pretto, autor do requerimento. Presidente, na verdade, sou filho de produtor de fumo e moro até hoje no interior de Santa Cruz do Sul, a 25 quilômetros do Município. Todos os meus vizinhos, sem exceção, são produtores de fumo. Talvez eu seja o meio termo dessa discussão. 21 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Vejo as lideranças que aqui defendem o MPA, o produtor. Também quero fazer essa defesa e apoiar tudo que falaram, menos a palavra “escravidão” usada pelo companheiro e amigo Rogério. Não concordo com o uso dessa palavra. Eu moro junto dos produtores e sei que não é dessa forma que são tratados. Quanto ao preço do fumo, Sr. Presidente, a indústria realmente começou pagando muito menos. Depois que parte da produção havia sido vendida, por uma disputa interna, a indústria acabou pagando um preço bem mais elevado, levando prejuízos para aqueles que já haviam vendido. E o MPA busca a reposição que, no meu entendimento, é justa. Sr. Presidente, 1 milhão de pessoas são produtores ou trabalham na indústria fumageira, principalmente na minha região. Sou Prefeito reeleito de Santa Cruz do Sul, a Capital Nacional do Fumo. V.Exa. não tem idéia do que é a movimentação, a exportação, os contêineres, o que gera na economia regional. Se V.Exa. aceitar o nosso convite, meu e da Deputada, com certeza irá até a nossa comunidade. Cento e noventa mil famílias vivem da cultura do fumo, da produção, do beneficiamento e da exportação: 70% desse produto traz divisas. É o segundo maior exportador do Rio Grande do Sul e um dos maiores do País, ou seja, é daqueles que mais trazem receitas para o Brasil. Dez hectares é exatamente o tamanho da propriedade onde resido até hoje e onde meu pai plantava fumo. Lá, temos pasto para os animais, porque normalmente é usada tração animal nessas pequenas propriedades, e a reserva de lenha. Se o produtor não tiver de onde cortar lenha, não vai ter como fazer a secagem do fumo. Por isso, a área reflorestada é muito maior do que há 50 anos. O produtor de fumo e a indústria fumageira entraram com grandes projetos de reflorestamento. Com 2,5 hectares de lavoura de fumo, um produtor ganha 16 mil reais. Nenhuma outra cultura neste País consegue em 2,5 hectares render 16 mil reais ao produtor. É pouco? Claro que sim. O MPA fala que devia ser mais? Assino embaixo. Deveria ser mais. Porém, não há nenhuma outra cultura de produto que consiga obter desse valor. Sr. Presidente, a nossa região realmente é muito rica. Que pena não ser mais rica, pois 33% do cigarro consumido em nosso País vem, de forma pirateada, de outros países, sem que esta Casa perceba. V.Exa. me perdoe dizer, mas isso traz malefícios ao País. Vejam bem. Os empregos são gerados no outro país, assim como a receita. O produto contrabandeado não tem nenhum acompanhamento de 22 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 qualidade. Ninguém é responsável e ninguém nunca mediu quanto de nicotina e de outras substâncias há dentro desse produto, o que é muito mais grave. Nesta Casa, elaborou-se um projeto sobre proibição da venda do nosso cigarro, legalizada em bares e similares. Mas o sacoleiro que vende cigarro contrabandeado, Sr. Presidente, bate na porta. Aí é que está o perigo de o consumidor jovem passar a ser fumante. O jovem de 13, 14 anos está em casa e bate na porta um cidadão com um cigarro baratinho, um mata-rato, como popularmente se diz. Esse jovem, com mais alguns meninos e meninas em casa, faz uma vaquinha e compram o cigarro. É ali que começa o vício. Também não queremos que o povo fume. Queremos produzir cigarro e fumo e vendê-los para outros países. Existe uma contramão nessa história toda. Sr. Presidente, os pequenos produtores precisam ser muito melhor reconhecidos e remunerados. Renuncio ao meu mandato amanhã, se as fumageiras saírem da minha cidade. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Muito bem, Prefeito. Meu irmão já defendeu as cores do Corinthians de Santa Cruz do Sul, tendo sido vice-campeão brasileiro por esse grande time de basquete. O SR. SÉRGIO IVAN MORAES - Somos os campeões. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Ele foi vice. Não teve a competência de ser campeão brasileiro. O SR. SÉRGIO IVAN MORAES - Ele nos ensinou. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - E depois, representando o Corinthians, também fez parte da seleção brasileira. Não vou declinar do seu convite, porque tenho ótimas informações de Santa Cruz. V.Exa. prestou esclarecimentos extremamente importantes a esta Comissão, baseado no bom senso e em critério administrativo, pelo que lhe agradecemos muito. Tem a palavra o Deputado Luis Carlos Heinze. O SR. DEPUTADO LUIS CARLOS HEINZE - Sr. Presidente, colegas Parlamentares, meus cumprimentos aos membros da Mesa, que aqui vieram atendendo a convite do Deputado Adão Pretto, ao qual estendo meus cumprimentos 23 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 por trazer esse assunto extremamente importante à Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. Pelos números apresentados pelos produtores, pela representação dos produtores, o MPA, pelo próprio SINDIFUMO e pela AFUBRA, pudemos ver a importância desse setor. Os números foram ratificados pelo Prefeito, que está vivendo o problema no dia-a-dia, pois é dele a responsabilidade de administrar a Capital Brasileira do Fumo. Parabéns, Prefeito Sérgio, pela exposição! Inicialmente, chamo a atenção dos representantes dos Ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário e igualmente do Rogério para o sistema de produção. Sou produtor rural e agrônomo e tenho conhecimento, porque trabalho na área há muitos anos. Poucas atividades têm o atual sistema de produção que tem o fumo, especificamente pelos números que acompanhamos e pela possibilidade de o pequeno agricultor ter esse ganho. Vejo isso na minha região de fronteira. Sou natural de Candelária, no centro do Estado, a região do fumo. Nasci e cresci vendo o pessoal fazer isso. A respeito da escravidão, citada pelo Rogério, o padrão de vida que tem o fumicultor, apesar do grande trabalho que faz, é totalmente diferente de um agricultor que tem 50 ou 100 hectares na fronteira do Rio Grande, ou na região noroeste, que o Deputado Adão Pretto conhece muito bem. O produtor de lá que tenha 50 ou 100 hectares de plantação de soja ou de trigo ou de qualquer outra atividade, se não tiver um sistema organizado, não terá êxito. O Hainsi citou números sobre o sistema que os Estados Unidos adotaram. Acho que esse é um sistema que deve ser debatido, discutido, quem sabe até em uma outra reunião, Sr. Presidente. Com o sistema de produção integrado que temos, a produtividade e a qualidade avançaram, mas não há pesquisa oficial. Vamos iniciar pela pesquisa. A pesquisa é feita pelas empresas. Alguém tinha de bancar, e as empresas bancaram. Temos um padrão de qualidade que poucas atividades no Brasil têm. Comentamos a respeito da excelência da EMBRAPA, por exemplo, que produz maravilhas no Centro-Oeste. Mas quanto ao fumo, praticamente nada de oficial, seja dos Estados, dos Municípios ou mesmo da União. Não existe. São as empresas propriamente que estão fazendo. O Sr. Cláudio fala sobre 1.500 agrônomos e técnicos agrícolas. Eu sou agrônomo. Fiz assistência técnica para produção e vejo a necessidade de esse modelo ser copiado. E vale para o frango, 24 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 para o leite, para o suíno, para qualquer atividade. Precisamos discutir, por exemplo, a questão dos defensivos. Ele mesmo diz que são 2 quilos de princípio ativo por hectare. Já reduziu, e muito. Isso se deve à pesquisa que está sendo feita. E se quisermos diminuir mais ainda — vou mexer agora com os Deputados Assis Miguel do Couto e Adão Pretto —, vamos plantar transgênicos. Cláudio, as indústrias não querem o fumo transgênico. Já conversamos, e as indústrias de fumo não querem o transgênico devido ao pavor que há. Mas certamente a pesquisa virá daqui a 6 anos. Não será hoje, mas quando fizermos o que o pessoal do algodão do Centro-Oeste tem feito para baixar de 10, 12 aplicações de inseticida para uma. Rogério, no Rio Grande do Sul, usávamos 3,06 quilos de princípio ativo na soja, se tivéssemos que fazer duas aplicações de herbicida, com classe toxicológica 1, 2 e 3, extremamente tóxicos, que agridem o ambiente e o solo. Na cultura do transgênico, aplicamos somente um herbicida, o glifosato, cuja classe toxicológica, no nível IV, é muito menos poluente. Em vez de aplicar 10 milhões de quilos de herbicida tóxico no Rio Grande do Sul, usamos 5 milhões de herbicidas menos tóxicos. A pesquisa vai mostrar isso, não hoje, mas certamente deve estar trabalhando nessa direção. Então, vamos resolver o problema dos defensivos. Para encerrar — o tempo é curto —, vou falar sobre uma questão específica, Deputado Adão Pretto. Acho que temos de trabalhar juntos, o Deputado Assis Miguel do Couto, do Paraná, o pessoal de Santa Catarina. Nós, da Comissão de Agricultura da Câmara, temos uma vinculação com a produção e com os produtores. Essa é a nossa responsabilidade. Fábio, cumprimento o Ministro Roberto Rodrigues, por aceitar a criação da Câmara Setorial do Fumo, em que vão negociar os produtores — representados pelo MPA, FETAG, AFUBRA, FARSUL —, as indústrias e o Governo. Juntos, se sentarão para discutir as questões do contrabando, da pesquisa, da classificação, que é importante. O Rabuske inclui a questão das devoluções. Para discussão desses temas, vamos ter um fórum adequado, a Câmara Setorial. Nela os problemas vão ser discutidos na cadeia. Acho que esse é o grande ponto, e o mérito do Ministro Roberto Rodrigues é aceitar a proposição de criar a Câmara Setorial, em que toda essa problemática será discutida no próprio setor, frente a frente. Vamos discutir a classificação, o rebate, se houve ou não devolução, 25 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 vamos discutir a pesquisa, a assistência técnica, o seguro, tudo o que é fundamental. Parabéns aos senhores. Deputado Abelardo Lupion, há uma atividade que tem seguro rural: o fumo. A AFUBRA tem uma seguradora, e o Hainsi é um batalhador por essa questão, para não perder para as seguradoras multinacionais. Esse é um ponto extremamente oportuno que essa cultura mostra ao Brasil. Imaginem o dia em que o trigo, a soja, as frutas, os hortigranjeiros, enfim, todas essas atividades estiverem organizadas. Claro que temos de repartir o bolo, Rogério. Sou parceiro disso. Acho que a exploração não deve existir. Sei que numa ponta sempre há alguém que ganha mais, mas esse fórum vai ser adequado para tratar dessas questões. A partir dessa discussão, Deputado Abelardo Lupion, que fazemos na Comissão de Agricultura, vamos levar o tema à Câmara Setorial, cuja criação o Ministro já autorizou. A Câmara contará com representação própria do Ministério, quer dizer, o Governo negociará com a indústria e com os produtores. Acho que esse é o fórum adequado. Certamente, as coisas vão avançar mais ainda, as condições vão melhorar. Temos de atacar o contrabando, sim, que hoje é um problema sério. No dia em que resolvermos isso, também vai sobrar mais para o produtor. Vejam o que disse o Prefeito Sérgio: 29 mil famílias trabalham nas indústrias de fumo. No Município dele, 110 mil habitantes vivem da atividade. Os Municípios de Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul, Candelária, Vera Cruz têm 145 mil pessoas trabalhando nas indústrias de fumo. Vejam o que isso representa. Esse é o lado que os ambientalistas mostraram aqui. Há o pessoal contra o fumo. Temos uma atividade econômica gerando milhares de empregos e divisas para o Brasil. Vejam os números do Brasil batendo com os dos Estados Unidos, que sempre tomamos como referência. Somos campeões também nisso, pela eficiência da nossa gente. Isso se deve à integração. Esse é o modelo que não podemos desmontar. Temos, sim, que discutir. Sou parceiro nisso, para trabalhar junto com os produtores. Muitos daquela região votaram em mim para representá-los. Defendo o interesse deles, mas também essa atividade tão importante para a economia não só da região, mas do Rio Grande do Sul e do Brasil. 26 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Que tal se plantássemos fumo na fazenda São Gabriel? (Risos.) O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Quero convidar o Deputado Adão Pretto para assumir a presidência dos trabalhos. Estamos em votação nominal e precisamos votar. Vou puxar a brasa para o lado do Paraná, eu e o Deputado Assis Miguel do Couto. Está presente a Dra. Margareth Matos de Carvalho, Procuradora do Trabalho no Paraná, que pediu um minuto na nossa audiência. Como temos a obrigação de esgotar o assunto, acho extremamente importante darmos oportunidade para que todos possam se manifestar. Dra. Margareth, V.Sa. dispõe de 20 minutos para apresentar o seu trabalho. O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, também não votei ainda. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - V.Exa. vai ao plenário, vota e depois assume os trabalhos. A SRA. MARGARETH MATOS DE CARVALHO - Agradeço ao Deputado Abelardo Lupion, do Estado do Paraná, a oportunidade de discutir essas questões. Temos um procedimento investigatório no Ministério Público do Trabalho do Paraná desde 1998, que já conta com 11 volumes e estudos sobre diversos temas. A produção de fumo por pequenos agricultores tem trazido muitos problemas e temos tido muita dificuldade em resolvê-los. Creio que só vislumbraremos essa possibilidade por meio de uma articulação maior. Gostaria de chamar a atenção, em primeiro lugar, para o sistema de integração há pouco defendido pelo Deputado. É o que nos causa mais receio. Sou Procuradora do Trabalho e lido com questões trabalhistas. Verificamos que esses contratos de integração existentes na produção de fumo, na suinocultura, na avicultura etc., trazem muito mais subordinação do pequeno produtor que um contrato de trabalho clássico, com os quais estamos acostumados a lidar. Isso ocorre porque, além de as indústrias e as grandes empresas se apropriarem da força de trabalho do pequeno produtor rural — e de toda sua família —, também se apropriam de sua terra. Mais do que isso, nesses contratos os bens do pequeno produtor são colocados como garantia da produção, porque quem responde pelo financiamento, conseguido através da intermediação das empresas, das indústrias, é o pequeno produtor rural, que dá a terra como garantia. No Paraná, especialmente 27 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 em Piraí do Sul e Ventania, e em Irati, Santa Catarina — onde há mais de 1 mil e 200 produtores de fumo —, são inúmeros os casos de produtores que estão perdendo suas terras, que estão sendo executados, na Justiça Comum, por causa de contratos não cumpridos. Outra situação que nos chama a atenção diz respeito ao envolvimento de um número muito grande de crianças e adolescentes na produção. Conheço há muito tempo o Sr. Cláudio Henn, que falou sobre o Programa O Futuro É Agora, mas o fato é que esse programa não tem obtido resultados efetivos. Na verdade é muito mais marketing. Faço parte da coordenação colegiada do Fórum Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil e posso dizer que não avalizamos este programa, que, segundo entendemos, no momento atende apenas ao aspecto cultural. O aspecto econômico, também condicionante do trabalho infantil, não é discutido nem se tem a intenção de discuti-lo. Não temos conseguido levar esse aspecto adiante. O valor citado pelo representante da AFUBRA sobre o ganho de um pequeno produtor também não é real. Não conheço nenhum pequeno produtor que receba aquele valor, e nem de longe é a média recebida pelos pequenos produtores rurais. Diferentemente do Sr. Cláudio Henn, do nosso ponto de vista não existe a questão da negociação. Não reconhecemos a AFUBRA como representante dos pequenos proprietários rurais. Ela pode representar os grandes, mas não os pequenos produtores de fumo. Na negociação dos protocolos não se admite a entrada de representantes de pequenos agricultores, só a da AFUBRA, representando os fumicultores, e não se reconhece a representatividade do Movimento dos Pequenos Agricultores nem a legitimidade da FETRAF, que deveria estar presente a esta reunião. Temos tido dificuldade de levar essa questão às federações dos trabalhadores na agricultura. Outro ponto muito importante sobre o qual devemos refletir é que até pouco tempo atrás o financiamento para a garantia da produção do fumo era conseguido através do BNDES, ou seja, por meio de recursos públicos. Então, usamos recursos públicos para produzir fumo, e em última instância quem tem levado o lucro são as grandes indústrias, porque o pequeno produtor não está recebendo esse retorno. Concordo inteiramente com o Deputado Adão Pretto em relação a isso. Pior do que isso, mesmo que tenha havido um retorno maior do que o obtido em outras culturas, muitos se arrependeram amargamente do investimento que fizeram e só não mudam de cultura por falta de política pública que os apóie. O prejuízo causado 28 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 para toda a família é muito maior do que o retorno financeiro obtido. Vejam: se um pequeno produtor chegou a essa conclusão é porque realmente o problema é muito sério. Estive no interior do Estado do Paraná, onde entrevistei e fotografei inúmeros produtores. Posso disponibilizar esse material, bem como os 11 volumes do procedimento investigatório. Assim, os senhores conhecerão os prejuízos causados a milhares de famílias por causa desse tipo de produção. Se me perguntassem, responderia que sou favorável a acabar com a plantação de fumo... (falha na gravação). Ele falou em escravidão, mas eu não usaria esse tipo de expressão. Finalizaremos, na sexta-feira, um documento em que estão representados todos os Municípios produtores de fumo do Paraná, assim como todas as Secretarias de Estado com algum viés nessa área, como a do Trabalho, da Agricultura e do Meio Ambiente. Esse documento, que poderá ser disponibilizado aos senhores, será apresentado às indústrias fumageiras. Queremos que haja participação dos pequenos produtores na classificação e na fixação do preço do produto, que hoje é unilateral. Se não houver sucesso nas negociações, como representante do Ministério Público do Trabalho tenho a intenção de questionar, na Justiça do Trabalho, a natureza jurídica desses contratos, em razão da existência de grande subordinação, vinculação e exclusividade na fixação do preço e na indicação do produto a ser comprado. Além disso, a assistência técnica não é gratuita. Tudo isso, na minha opinião, é mais do que um contrato de trabalho típico. Não sei se as indústrias têm que formalizar os contratos de trabalho com todos esses milhares de pequenos agricultores, que têm mais requisitos do que os previstos no contrato de trabalho regido pelo art. 3º da CLT, o que é inusitado. Por fim, gostaria de chamar a atenção para a questão ambiental. No Paraná muitos produtores ainda secam o fumo através da queima de madeira, o que está causando grande devastação de florestas. O reflorestamento mencionado, pelo menos no Paraná, não é verdadeiro. Tem havido dificuldades na fiscalização, e o problema vai muito além do que imaginamos. Nas próximas discussões, gostaria de contar com a participação do Ministério Público do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, assim como das Delegacias Regionais do Trabalho. 29 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Está presente a auditora fiscal Eridan Magalhães, que fez um bom trabalho sobre os impactos do trabalho na produção do fumo entre crianças e adolescentes. Agradeço a todos a atenção. O SR. PRESIDENTE (Deputado Adão Pretto) - Agradeço à companheira do Paraná a intervenção. Com a palavra o Deputado Assis Miguel do Couto. O SR. DEPUTADO ASSIS MIGUEL DO COUTO - Meus cumprimentos à Mesa, às autoridades e ao Exmo. Deputado Adão Pretto, que agora tem a dupla função de ser autor do requerimento e Presidente da Mesa — saúdo S.Exa. pela dupla função e pela história de batalhador, de lutador e de companheiro dos pequenos do campo; os demais componentes da Mesa; os representantes da AFUBRA, do Ministério da Agricultura, do MDA, do MPA; as Deputadas e os Deputados; o Prefeito de Santa Cruz, e demais participantes deste importante encontro. Também sou do interior, da cidade de Planalto, no Paraná. Proporcionalmente ao número de produtores de fumo de galpão, creio que é a capital do fumo no Estado. Não sei se deixou de ser recentemente. Meus vizinhos plantam. Eu plantei somente uma vez, clandestinamente, sem o conhecimento da empresa. Há o plantador oficial e o plantador clandestino, aquele que pega a muda do vizinho e a vende em nome do vizinho, porque não está cadastrado. Por lei, não é proibido o plantio de fumo, mas pela norma da empresa, é. Realmente, do ponto de vista econômico, não podemos negar que é uma atividade importante, de custo social ainda não mensurado. Não há dimensão de quanto a sociedade brasileira está pagando por isso. A renda do fumo é um aspecto importante. Mas se compararmos à do leite, por exemplo, por hectare, há muitos agricultores familiares tirando mais renda do leite. É interessante compararmos isso, porque o leite, do ponto de vista social, econômico, ecológico etc., é também uma atividade de extrema importância. A Frente Sul da Agricultura Familiar fez um pleito junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e ao Ministério da Agricultura a fim de criar um programa de reconversão de produtores de fumo para produtores de leite, com altos incentivos. Como disse a representante do Ministério do Trabalho, muitas famílias gostariam, sim, de sair da atividade do fumo, mas não encontraram alternativa. Precisamos pensar nisso. 30 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Não podemos esconder que temos problemas sérios no leite e no fumo com os grandes monopólios e oligopólios. Precisamos descentralizar mais isso. Talvez os produtores orgânicos comecem a se organizar em pequenas cooperativas para industrializar o seu produto, o fumo orgânico. Não teria nenhum problema. Até eu começaria a fumar um pouco mais. A representante do Ministério do Trabalho tem razão ao dizer que o arrecadado com impostos não cobre o que o SUS paga, a custo altíssimo, devido a problemas de saúde de várias naturezas: câncer, doenças de pulmão etc. Essa questão tem de ser equilibrada, tem de ser debatida. Não queremos fazer nenhuma aventura com uma atividade dessa importância. Certamente, trabalhar com fumo em minha região é pesado, merece um pouco mais de atenção, de compensação. Carregar fumo nos meses de dezembro e janeiro, debaixo de um sol quente, de 40 graus, não é brincadeira. As pessoas sofrem muito com a atividade. Então, isso implica desgaste físico e outros problemas. Muitas pessoas com 50 anos já não conseguem fazer praticamente nada. Isso não ocorre só lá, mas em muitos lugares. É um trabalho forçado, como outros na agricultura familiar. Mas esse, pela importância econômica que tem para o País, merece compensação maior. Temos de pensar nisso. Há outro aspecto importante que teríamos de considerar. Esse debate apareceu na reforma tributária. O representante da Confederação dos Municípios, que inclusive é do Rio Grande do Sul, levantou tal problema. É um caso seriíssimo, que temos de assumir. Santa Cruz produz, industrializa e exporta, mas Municípios como o meu, que só produzem a matéria-prima, o que ganham? Sua herança é gente doente, gasto com saúde e pouquíssimo retorno. Tem de haver uma divisão melhor do bolo gerado, ou seja, da receita pública de impostos gerados pelo fumo, uma distribuição para os Municípios pequenos que produzem a matéria-prima. A situação como está configura uma injustiça, um disparate. Temos de considerar esse aspecto. Quero falar, por fim, da classificação. Temos o projeto do ilustre Deputado Adão Pretto, do qual fomos o Relator. Creio que precisamos levar adiante essa discussão, não podemos parar por aí. É possível encontrar saídas negociadas entre Governo, empresas e produtores e dar autonomia —praticamente não há nenhuma — e maior participação aos produtores na questão da classificação. Então, teríamos de criar um mínimo de possibilidades para isso. 31 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Ora, quando o mercado vai bem, as coisas não são tão drásticas, mas quando vai mal, sabemos o quanto é doído, por exemplo, voltar uma nota negativa do produtor. Eu já vi nota com 2 ou 3 reais positivos, ou com apenas alguns centavos positivos, justamente para não ser negativa. Isso é um drama para uma família. Talvez uma parte dos suicídios ocorridos no Rio Grande do Sul estejam ligados justamente a isso, inclusive, na época de maior crise da fumicultura. Tudo isso resulta num impacto psicológico sem medidas. Uma família trabalha o ano inteiro numa atividade extremamente pesada, dura e difícil, e, quando chega ao final da safra, recebe a notícia — pelo banco, pelo correio, pela empresa que transportou, pelo instrutor, que também não tem nenhuma explicação para dar, porque não é ele que decide essas coisas — de uma nota negativa. Assim, vejo que é importante avançar na questão. Não sei se o ideal é o que está no projeto, mas temos de encontrar uma saída que dê essa possibilidade de participação aos agricultores. Aí, apelamos também ao Ministério da Agricultura, ao MDA, para que possamos seguir nessa direção e ter logo essa decisão, esse encaminhamento. O Deputado Heinze falou da importância de uma câmara setorial que possa dirimir uma série de dúvidas, e que seja bem representativa dos produtores, principalmente do Governo e das empresas. Isso é possível, inclusive, não só nesta área, mas outras já apontam para isso. Junto com o Deputado Orlando Desconsi, apresentamos requerimento ao Ministério da Agricultura, há pouco tempo, para aplicar isso aos preços dos insumos. É lamentável que, em alguns insumos agrícolas, amarguemos altas de mais de 100% de uma safra para outra, como, por exemplo, de algumas sementes de milho. Não é possível continuar assim. Quando há alta do dólar, como dizem que a maioria dos preços é dolarizada, o insumo sobe, mas quando o dólar cai, o insumo não cai, fica pendurado. Precisamos encontrar alternativas. Portanto, creio que as câmaras setoriais representam caminho importante para encontrar acordos. Acho que já vivemos um capitalismo civilizado, que pode, pelo menos, repartir um pouco da riqueza produzida. Não vamos sonhar com o socialismo, mas, pelo menos, com um capitalismo mais humanizado, em que possamos fazer isso. Nessa atividade do fumo, creio também ser possível avançar nessa direção. Não criar radicalismo de uma ou de outra parte, mas avançar de forma mais — desculpem a expressão — civilizada, para garantir os direitos 32 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 mínimos do cidadão brasileiro, principalmente, desses milhares de famílias que vivem da atividade do fumo. Queria só reforçar o nosso empenho no sentido de discutir o projeto. Foi pedida vista, na última reunião da Comissão de Agricultura, pelo ilustre Deputado Abelardo Lupion, mas vamos retomar a discussão. Daqui a algumas semanas poderemos encaminhar algo nesse sentido. Quero ajudar no bom entendimento da matéria — bom para o País, bom para os produtores, bom também para os consumidores. Quero finalizar dizendo que, sem sombra de dúvida, o Governo do Presidente Lula tem toda a sensibilidade, conhecimento e compreensão do que representa a atividade, como tantas outras. Com certeza, haveremos de encontrar saídas satisfatórias para avançar na direção de um bom entendimento. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Muito obrigado, Deputado Assis. Passo a palavra ao Deputado Zonta. O SR. DEPUTADO ZONTA - Caro colega Deputado Lupion, quero cumprimentar todos os membros da Mesa, especialmente o Cláudio e o Hainsi, amigos há muitos anos, os demais, os colegas Parlamentares, técnicos, membros de representação e imprensa. Não pude participar de toda a audiência pública, mas também não podia furtar-me a estar presente, mesmo num interregno de votação, para acompanhar a importante discussão sobre a questão do fumo no Brasil — produção, comercialização, industrialização. Gostaria de trazer a contribuição vivida no Estado de Santa de Catarina. Se não me falha a memória, somos o segundo maior produtor de fumo no Brasil, envolvendo mais de 20 mil famílias de pequenos agricultores, especialmente no sul do Estado, no Alto Vale, e também no oeste de Santa Catarina. Pude viver 2 momentos distintos como Secretário da Agricultura. O primeiro período foi de 1985 a 1987. Em 1985, junto com os agricultores, ajudei a fechar algumas fábricas de produção de fumo em Santa Catarina. Isso como Secretário. Sentamos na porta das fábricas até resolver o problema da negociação do preço. Na época, a questão era o preço. Ninguém saía de lá, nem o Governador conseguiu tirar-nos de lá. Até que, finalmente, houve a negociação, em Santa Cruz do Sul. O 33 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Hainsi, à época, acompanhava o movimento muito de perto, com a participação da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de Santa Catarina, e que até hoje, segundo consta, acompanha toda a movimentação e coordena a negociação. Mais recentemente, de 1999 a 2002, vivi outra etapa, em que tivemos a oportunidade de fazer contato com regiões do sul do Estado, do Alto Vale do Rio Itajaí, e do oeste. Ora, havia um projeto de lei na Assembléia Legislativa para acabar com a produção de fumo. E a Secretária da Agricultura, com o serviço de assistência técnica, foi ao campo para saber a opinião dos pequenos agricultores. Ouvimos um sonoro “não”, porque eles não tinham outro caminho a não ser continuar produzindo fumo. Não tinham outro emprego. Assim, a idéia de substituir de uma hora para outra a atividade não encontrou aceitação. Entre a cruz e a espada, ficaram com a cruz, menos onerosa. O fumo tem aspecto econômico e social considerável. Se esses pequenos agricultores deixarem de produzir, o que vão fazer? Que outra atividade vão desempenhar? Vão produzir leite? É importante, só que há problemas também, como ocorreu na suinocultura e na avicultura, esta por excesso de produção. Temos que produzir de acordo com a demanda de mercado. Não dá mais para produzir o que se quer. É preciso produzir o que o mercado absorve e dentro dos custos, senão acaba-se não sobrevivendo. Esse aspecto do emprego é importante, mas é lógico que alguns fatores têm de ser urgentemente corrigidos. A questão de renda do pequeno agricultor é fundamental. Para permanecer na atividade, ele precisa de renda compensatória, de garantia da renda, de entrega do produto, transparência na transação do recebimento, da entrega da produção. O custo dos insumos é fundamental, assim como a classificação. Em Santa Catarina temos nas cidades um quadro de classificadores oficiais que representam o produtor, em última análise. Quando necessários na negociação, a entidade os usa. E a CIDASC, empresa do Estado ligada à Secretaria da Agricultura, os utiliza para classificar o fumo no Estado, porque não é possível ir ao Rio Grande do Sul ou ao Paraná para fazê-lo. É fundamental e vai ajudar muito os produtores classificar dentro do Estado por um órgão oficial. É uma sugestão que deu certo em nosso Estado e, acreditamos, deva funcionar nos demais. Para isso, os Governos Estaduais podem preparar um time, uma equipe técnica de 34 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 classificadores oficiais, que vão classificar em nome do produtor. É a palavra do produtor em contrapartida à da indústria, que a recebe e tem o direito também de observar. Então, queria deixar essa contribuição. A questão da saúde também necessita de cuidado. Os grandes complexos da indústria fumageira podem, através de pesquisas, buscar cada vez mais o combate biológico às pragas. É preciso avançar nisto: quanto menos veneno, melhor para evitar problemas de saúde dos produtores. Deve-se também determinar na legislação que só poderá trabalhar quem estiver na idade própria. É opção de cada família, de cada pai de família colocar o filho menor para trabalhar ou não. Tem-se de tomar cuidado muito grande. O aspecto da renda e os cuidados com a saúde e o meio ambiente também são fundamentais. Sugiro, quanto ao aspecto da negociação, que sempre haja representação do produtor através de classificação oficial. A organização do pequeno agricultor em cooperativa é fundamental. O sindicato defende os direitos, mas a produção é defendida dentro de um instrumento cooperativado, que pode ser a grande saída para que o pequeno produtor não abandone a atividade e não fique sem emprego definido. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Com a palavra o último inscrito, Deputado Adão Pretto. O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, prezados colegas, queria dizer que fui plantador de fumo, não clandestino como o colega Assis, pois plantava oficialmente. O pessoal da indústria disse que diminuiu radicalmente o uso de inseticida. Fico muito feliz, porque, quando eu plantava fumo, a primeira coisa que se jogava na terra era veneno. Antes de jogar a semente no canteiro, pulverizava-se várias vezes, semanalmente, e a última coisa que se usava antes da colheita também era veneno. Foi uma das razões que me fizeram largar o cigarro: a quantidade de veneno. O SR. DEPUTADO ASSIS MIGUEL DO COUTO - Ceda-me o aparte, Deputado Adão, porque o único ano em que plantei fumo é um caso interessante, folclórico. Era numa área de terra onde se havia desmanchado um chiqueirão. Tinha muito esterco, e foi esparramado com a máquina. Plantamos aquele fumo comum 35 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 de antigamente, que crescia. Carregar um pé era difícil. Improvisamos um galpão para colocar o fumo e chegamos a passar veneno dentro para combater o pulgão. Mesmo assim, o pulgão tomou conta. O fumo não secava fácil, e o pulgão tomou conta. Passávamos veneno em pó dentro do galpão. Imagine, quem está fumando aqui, fumar um cigarro que certamente tinha pó de veneno. O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Queria dizer que de todas as tarefas árduas que encontrei na plantação de fumo, a mais difícil foi a classificação. Na época havia 18 classes de fumo; agora, há 48. Um pé de fumo tem 20 e poucas folhas; pegava-se uma e percorriam-se 18 montinhos para ver onde ela servia, a cor, o tamanho, o padrão — agora, repito, há 48. O pior é que entregavam o fumo às fumageiras e lá reclassificavam. Entregava-se o produto e ficava-se na expectativa de saber quanto se ia receber porque a fumageira ia classificar de novo. Essa é a razão de apresentar esse projeto, do qual o Deputado Assis é Relator, ao qual o Deputado Lupion pediu vista e que está na pauta da Comissão de Agricultura para ser votado amanhã. Acho que esse projeto não trará despesa para a indústria, porque ela já tem funcionários para reclassificar o fumo. O que vai custar mais é deslocar esses operários até o interior para, junto com o agricultor, fazer a classificação. Também há os instrutores, que semanalmente estão com o agricultor. Nada melhor que, juntos, fazerem o processo de classificação. Claro, não queremos que a indústria compre o fumo classificado pelo agricultor. Este não pode simplesmente dizer que é B1 ou B2 e a indústria pagar. Assim, podem aparecer os picaretas. Mas alguém, junto com o agricultor, poderá fazer trabalho sem despesa e sem desconfiança. O agricultor ficará mais tranqüilo e terá relacionamento melhor com a própria indústria. Esse é o nosso projeto, que pretendemos aprovar amanhã. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Já levei um puxão de orelha do Presidente da Casa, quando cheguei ao plenário, porque a única Comissão que está em funcionamento é a nossa. Quando essa luz amarela fica piscando, temos de encerrar imediatamente a reunião. Quero agradecer a todos a presença e a manifestação. A discussão desse tema não acaba hoje. Queremos colocar a Comissão de Agricultura à disposição de todos os senhores. Muitos assuntos polêmicos podem ser mediados através de Subcomissões, e nos colocamos à disposição dos produtores, da indústria, de todos 36 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 os interessados no setor para dirimir dúvidas, para ajudar a fiscalizar e a negociar, porque esse é o nosso papel como representantes da população brasileira. Quanto ao mais, muito obrigado pela presença de todos. O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, sugeriria a V.Exa. que fizesse uma rodada de pelo menos 2 minutos para que cada convidado finalize sua participação. Acho que é um desejo dos companheiros. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Vamos apanhar quando chegarmos ao plenário, mas V.Exa., como autor do requerimento, tem a prerrogativa de fazer esse pedido, que acho extremamente importante. Pediria a todos que estão na Mesa que por cerca de um minuto façam o seu pronunciamento final. Vamos começar pela direita, com o Dr. Rogério Aluisio Heinen. O SR. ROGÉRIO ALUISIO HEINEN - Gostaria de, mais uma vez, agradecer a oportunidade. Quanto à classificação, gostaria que ficasse claro que ela é feita pelo agricultor e que, depois, a indústria mistura tudo de novo. Não tem por quê, e o agricultor faz isso sem remuneração. Outro ponto a ser esclarecido é que, quando o Presidente da AFUBRA fala em renda, ele se refere à renda bruta, e não descontou a despesa. Há quase 40% de despesa naqueles 22 mil reais. Temos que trabalhar claramente com os números. Essa é outra questão. Gostaria que os representantes do Governo e da indústria passassem o relatório das famílias que pegaram o PRONAF de 1997 a 2000. Não sou eu, do MPA, que estou dizendo que a indústria tinha que devolver. O Secretário do SINDIFUMO para assuntos de financiamentos rurais disse à Gazeta do Sul, em abril do ano passado, que a indústria tinha que devolver, além dos 30%, mais 8,8%. Não sou eu, do MPA, mas a própria indústria que disse isso, só que não devolveu. Então, temos que esclarecer alguns pontos e não colocar a responsabilidade no MPA. Precisamos ter clareza, em vez de atirar as coisas para cima dos outros. Então, fica a pergunta no ar: a indústria faz o custo de produção com base em quê? Era isso para finalizar. Muito obrigado, Sr. Presidente. 37 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Com a palavra o Dr. José Batista. O SR. JOSÉ BATISTA - Para complementar, faço 2 considerações. A primeira, sobre a comparação que o Deputado Assis, de certa forma, retomou. Se compararmos fumo a grãos, não tem coisa melhor do que plantar fumo, mas não se o grão for vendido do jeito que é colhido e entregue ao mercado. Criamos agora um programa de compra direta da agricultura familiar e vamos, através da CONAB, buscar o produto onde ele existe. Vou citar um exemplo: em Rondônia, o feijão estava sendo comercializado a 40, pelo próprio MPA que lá se organizou. Concluímos que poderíamos pagar 60, e não compramos. É engraçado, porque o mercado pôde pagar mais. O mesmo ocorreu com o milho, em São Paulo, e com o milho e o feijão, no Paraná. Estamos entregues a um mercado, como disse o Deputado Zonta, que precisamos buscar. Desse jeito, vai mesmo. Estamos criando a alternativa da compra direta para fortalecer os agricultores e outros mecanismos que agreguem valor à produção para que o grão não seja entregue dessa forma. Há um segundo elemento do qual precisamos cuidar. A Procuradora do Trabalho falou muito bem sobre o problema dos contratos, que também conhecemos. Essa forma de integração acabou com os suinocultores, por exemplo. Milhares de produtores viviam da suinocultura. Hoje, as indústrias continuam no mesmo patamar, muito mais ativas, com muito maior produção e com muito menos produtores. Quer dizer, concentrou e excluiu muita gente. Com o leite ocorre o mesmo. Na semana retrasada, houve audiência pública para tratar desse problema. Precisamos tomar providências. Devemos estar atentos, não só o Governo, que está buscando, nesses 8 meses, construir alternativas. Já apresentamos o plano safra e estamos criando um programa de agroindústria. Estamos nos batendo com a legislação sanitária, que não impede o pequeno produtor de produzir. Jamais abriremos mão da qualidade, mas esta não se produz só nos grandes. Hoje a fiscalização se dá na escala, e não no processo. Ninguém está fiscalizando se o processo vai bem ou mal. Fizemos essa proposta e queremos debatê-la com os Deputados e com esta Comissão, se for preciso, para oferecer mais uma alternativa de mexer nessa legislação. Aliás, o problema não é tanto a lei. O problema está em regulamentar a lei agrícola que já está aí há 5, 6 anos. Havia 38 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 um prazo de 90 dias e até hoje nada foi feito. Nós vamos mexer com ela para trazer essa alternativa aos nossos agricultores. Agradecemos e estamos à disposição desta Comissão. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Concedo a palavra ao Dr. Fábio Florêncio Fernandes. O SR. FÁBIO FLORÊNCIO FERNANDES - Quero esclarecer a parte da classificação. A nossa defesa em relação à decisão de manter as 48 classes é que entendemos que seria favorável ao produtor, porque se o produtor reduzir a classe, alguém vai sair ganhando. Como foi dito aqui pelo colega Rogério, a indústria chega lá e faz outra classificação, estratificando isso em mais de 100 classes, porque ela tem clientes que pagam um preço para cada classe dessas. Se o produtor reduzir isso para 12 classes, ele vai misturar várias classes em uma única, com preço único. Tecnicamente, reconhecemos que manter as 48 classes ou, se possível, aumentar para 52 ou para mais de 100 seria favorável ao produtor. Mas o Ministério está flexível e disposto a discutir com o segmento para verificar a viabilidade desse pleito. Com relação ao fato de a classificação feita pelo produtor ser desconsiderada pela indústria, isso ocorre porque o produtor não usa o sistema à disposição, que é o uso do classificador formado pelo Ministério da Agricultura, que tem credibilidade. Se o classificador definiu que o fumo é de tal classe, tanto a indústria como o produto estão garantidos. Tecnicamente ele tem a palavra para reconhecer, pois estudou para isso, foi formado para definir a qualidade do fumo. Se houver contestação, há os meios legais, como a arbitragem. Não basta a indústria desconsiderar a classificação feita pelo produtor e fazer outra. Se a indústria não reconhece a classificação do profissional, entra com a arbitragem e vamos discutir o assunto tecnicamente, havendo um árbitro de cada lado. Como o Deputado Zonta mencionou, há várias entidades que acompanham a entrega do produto à indústria, como, por exemplo, a CIDASC, em Santa Catarina, a ASCAR, no Rio Grande do Sul, e a CLASPAR, no Paraná. Esse é um trabalho fundamental para garantir ao produtor a qualidade de seu produto, para que não haja qualquer questionamento pela indústria. Não é que o produtor não tenha conhecimento, mas ele não tem habilidade técnica garantida e reconhecida pelo Ministério da Agricultura. O profissional habilitado para fazer a classificação é formado para isso e vai garantir e certificar a qualidade do fumo ao produtor e 39 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 entregar para a indústria. Se houver questionamento, a indústria entra com arbitragem para discussão técnica naquele momento. Coloco o Ministério à disposição e agradeço o convite para esta audiência. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Com a palavra o Sr. Wilson Rabuske. O SR. WILSON RABUSKE - Quero agradecer a oportunidade de estar aqui e também reiterar que hoje foi apenas um início, pois temos muita coisa para ser discutida e esclarecida, principalmente no que diz respeito aos números, que, em um primeiro momento, impressionam, pois são tantos bilhões de dólares, tantas mil famílias, tantos mil reais por hectare. Quem não conhece a realidade, acha que os representantes do MPA estão doidos ao falarem mal da cadeia produtiva do fumo, que emprega milhares e milhares de pessoas e possibilita o sustento de milhares e milhares de famílias. Mas temos a obrigação de fazer o contraponto, pois conhecemos essas famílias, fomos criados plantando fumo com 7, 8 anos de idade, trabalhando junto com nossos pais; vemos no dia-a-dia as famílias cada vez mais empobrecidas, e muitas crianças, filhos de agregados, tendo que ir com 7, 8 anos para a roça, embora haja o projeto Futuro Agora, conforme disse a ilustre Procuradora. No entanto, é mais mídia do que realidade. No dia-a-dia, vemos mães levando filhos de colo e tendo de amamentá-los junto à lavoura de fumo porque se não fizerem isso não sobrevivem. Se para quem tem terra está difícil manter-se na fumicultura, imaginem para aquele que tem que entregar a metade da produção. Essa é a realidade que conhecemos. E não conhecemos na teoria; conhecemos na prática. Por isso, temos a obrigação de trazer isso a público. E temos também a obrigação de vir aqui dizer que desses milhões e milhões que o fumo gera, conforme os próprios números da AFUBRA informam, apenas 10% chega ao agricultor; e 10% bruto. Aqui ninguém falou em renda líquida. Em uma próxima oportunidade vamos ter que pegar esses números e mostrar quanto efetivamente sobra por membro da família, para chegarmos à conclusão, que já foi tirada, de que o rendimento de quem planta fumo não chega a um salário mínimo por mês. Quanto ao aumento anual da área plantada, acompanhando a nossa região pudemos ver que houve um aumento superfaturado. Há produtores que, na 40 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 necessidade de pegarem mais recursos para poderem sobreviver, fazem um pedido de 50 mil pés de fumo quando, na realidade, na sua área de terra não cabem mais de 40 mil pés. Na nossa região já não há mais área de pequenos agricultores com capacidade para aumento efetivo de número de pés de fumo. O aumento que vem ocorrendo é justamente por causa da total descapitalização dos pequenos agricultores. Nós, que trabalhamos diariamente com financiamentos, buscamos um crédito mais justo no Pronafinho. Esse financiamento está ajudando o agricultor a manterse no campo. Mas se continuar dessa forma, em pouco tempo nossos agricultores deverão muito mais do que possuem. A indústria diz que é avalista desses financiamentos, mas temos dezenas, talvez centenas de casos de produtores que nos procuram com ações de cobranças em que a indústria, quando o produtor não serve mais para ela, simplesmente manda correspondência dizendo para o produtor que a sua dívida perante a empresa foi transferida para tal banco e que ele tem 5 dias para pagar a tal dívida, caso contrário, ela irá a protesto. E efetivamente isso ocorre. A situação dos pequenos agricultores que plantam fumo não está às mil maravilhas, como tentam mostrar aqui. Vamos continuar, aqui ou em qualquer fórum onde formos chamados, a contestar números que achamos serem irreais. Queremos também que a indústria e a AFUBRA, num próximo momento, tragamnos os números do rendimento líquido por família. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Muito obrigado. Com a palavra o Presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil — AFUBRA, Hainsi Gralow. O SR. HAINSI GRALOW - Muito obrigado, Sr. Presidente Abelardo Lupion. Mais uma vez, quero cumprimentar o Deputado Adão Pretto e, em seu nome, todos os demais Deputados, os componentes da Mesa, as senhoras e os senhores. E quero agradecer de forma especial todas as pessoas que vieram aqui com o objetivo de realmente contribuir para resolver o problema; a todas elas o meu muito obrigado, porque não aprendi a trabalhar diferente. Só sei trabalhar de uma forma construtiva. Até quando estou errado, acho bom quando conseguem corrigir-me. Sempre digo: se você quer que eu faça o que você me diz, é só me convencer de que você está certo. Que bom! 41 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Se, eventualmente, não cravei bem que isso era renda e não renda líquida, lucro líquido, quero deixar isso fixado, afinal de contas, quando produzimos o tabaco, temos custos; quando produzimos leite, temos custos; quando produzimos feijão, temos custos; e da mesma maneira quando produzimos o milho. Evidentemente, foi sobre isso que falamos aqui. O que é ruim e realmente não se pode conceber são dados estatísticos incorretos. Todos temos que nos esforçar de forma muito clara. Quero, realmente, agradecer por esta grande oportunidade e colocar-me à disposição de todos, mas de todos mesmo, para, de forma construtiva, aumentar a renda dos fumicultores, porque isso nos interessa. Muitas e muitas vezes, lutamos para aumentar renda. E quem quiser fazer isso com sinceridade pode contar com a AFUBRA. Um grande abraço e muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Com a palavra o Dr. Cláudio Henn, Presidente do Sindicato da Indústria do Fumo — SINDIFUMO. O SR. CLÁUDIO HENN - Gostaria, mais uma vez, de cumprimentar o Deputado Adão Pretto pela iniciativa e também todos os Deputados que estiveram aqui presentes, considerando que há votação em andamento e que esta é a única Comissão em funcionamento. Parabéns, agradeço-lhes pela atenção. Concordo com o Sr. Gralow — nem sempre, mas neste caso tenho que concordar — que devemos construir. Fico um pouco triste quando o Rogério Heinen volta à questão da devolução, quando digo que o SINDIFUMO já manifestou, por escrito, sua posição ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, à Secretaria do PRONAF. Isso está transparente nos bancos. Não é por aí que se constrói, Rogério. Outra coisa: falar em produção de fumo sem agrotóxicos ainda não é uma realidade. Estamos trabalhando nisso, já nos oferecemos para unir esforços. Mas não nos vamos iludir, porque esse fumo, economicamente, não é possível. Então, vamos construir em cima de fatos reais, de possibilidades. Estamos à disposição de qualquer Deputado de qualquer região, especialmente da região fumageira. Gostaríamos que nos chamassem para que muitos assuntos fossem analisados. Estamos dispostos a fornecer números e dados. Se informações nossas são contestadas, naturalmente, têm-se de 42 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 fundamentar. É muito fácil dizer que isso não é correto, que não é verdade; mas não deve ser assim, tem de haver transparência e objetividade. Mais uma vez, Deputado Abelardo Lupion, muito obrigado. Agradeço a todos. O Sindicato da Indústria do Fumo aplaude a iniciativa e coloca-se à disposição de todos. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Já estamos terminando a reunião, mas o nosso amigo, Deputado Dr. Heleno, acabou de chegar e não poderíamos deixar de conceder-lhe a palavra para que S.Exa., com o seu brilhantismo, pudesse encerrar a nossa reunião. O SR. DEPUTADO DR. HELENO - Obrigado, Sr. Presidente. Hoje posso dizer que estou à vontade para falar do fumo, porque sempre o combati neste grande Brasil, que de ponta a ponta tem vários brasis. Visitei as cidades de Santa Cruz e Venâncio Aires, entrei em contato com sindicatos e associações e estive in loco com cada produtor. São formadas em torno destes 164 mil produtores famílias que plantam em cima de barranco e auferem lucro de 10%, ou seja, cerca de 5 ou 10 vezes mais que em uma plantação de milho ou feijão. Mas esses produtores têm sua moto ou seu carro velhinho; seus filhos estão na faculdade; possuem uma higiene espetacular. E têm uma família formada. Hoje não se pode falar mais em comunidade, em povo, mas em família. No mundo inteiro é assim, a UNESCO refere-se a isso. Temos de nos segurar nesse ponto. Fiquei inebriado com aquilo. Contra o fumo há o fato de causar câncer. É verdade. Mas vi também que na Bahia estamos fazendo um charuto tão bonito, majestoso e gostoso — eu não fumo, é opinião dos colegas — quanto o de Cuba. O Brasil está crescendo. Após o período de plantação do fumo, eles passaram a plantar o milho no mesmo lugar; outros, até feijão. E têm o seu animal para abater nas horas de diversão. Percebi, então, que aquela comunidade era um céu. Na Associação dos Fumicultores vi o que ninguém viu em lugar nenhum: o seguro da lavoura, apesar de presidentes e políticos discutirem essa questão e até agora não ter sido encontrada solução para isso no resto dos brasis do meu Brasil. Tive a oportunidade de ver que na minha cidade, Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, há 3 fábricas de cigarros, onde trabalham 3 mil pessoas — 3 mil pessoas! Então, passei a analisar bem a questão do cigarro. Não posso pensar no cigarro só em relação ao câncer. Nas fábricas, nas indústrias fumageiras que beneficiam o 43 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 fumo, pode-se andar de bicicleta para poder alcançar... Vi laboratórios e segui o rastro de cada fumo, de cada partilha, de cada corte, até o seu final — não sei se era para equilibrar o alcatrão —, a fim de retirar as impurezas. Como posso ser contra? Com esse quadro, passei a defender a produção de fumo. Além disso, vi algo muito pior: a pirataria. Do total de fumo plantado no País, 80% são exportados e 20% são utilizados aqui. Sobre esses 20%, quando se fabrica o cigarro, parece-me que se paga 72% ou 74% de imposto. O Governo, às vezes, aumenta esse imposto mais e mais, abrindo um portão, nos limites do nosso País, para que entre o contrabando. No Paraguai, parece-me que existem 43 fábricas de cigarros que não pagam um tostão de imposto; os cigarros têm dejetos, excrementos de boi e as pessoas fumam. O nosso cigarro tem qualidade excepcional. Se não plantarmos naquelas cidades do nosso País, principalmente da Região Sul, elas vão perecer, haverá verdadeiros fantasmas morando ali e talvez uma guerra civil por falta de oportunidade de trabalho. Por quê? Porque no Paraguai esses mesmos cigarros entram no País sem que as indústrias paguem um tostão de imposto. Hoje, tenho coragem de falar isso. Não sou a favor do cigarro; fuma quem quiser, como é caso do charuto. Mas, pelo amor de Deus, deixem os outros viverem também. Se não plantarmos, a África e países de outros continentes vão nos enviar seus cigarros. Estamos fazendo prato para os outros? Vamos continuar pensando dessa forma? Não aceito a tese dos puritanos que dizem que o cigarro faz mal. Concordo que faz mal, que convençam as pessoas a pararem de fumar, mas não venham deturpar a economia e a estabilidade social em nosso País, porque aqui há uma voz que defenderá esses plantadores: Dr. Heleno. Constatei que na produção de fumo existe higiene, exercício da cidadania e uma preocupação de caráter social. Defendo a posição de que o fumante é o culpado. Já tive amigos que pereceram devido ao câncer. É um quadro horroroso. Aquilo me abateu muito e me fez tomar uma posição, até encontrar nessas cidades famílias que têm o direito de viver. Entendo que o mal está na pirataria, nas fronteiras, na falta de uma fiscalização firme e de estudos mais aprimorados. Não condenem esses homens, pois não são exploradores da Pátria. São pessoas que vivem como nós. E muito de nós, às vezes, apesar do nosso título, somos piores que eles. Era o que tinha a dizer. 44 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ Nome: Comissão de Agricultura e Política Rural Número: 1441/03 COM REDAÇÃO FINAL Data: 16/9/2003 Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Deputado Abelardo Lupion) - Muito obrigado, Deputado Dr. Heleno. Vou encerrar os trabalhos, antes convidando os Srs. Deputados a participarem da reunião deliberativa amanhã, às 10h, no plenário nº 6. Declaro encerrada a reunião. 45