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CONHECIMENTO SOBRE O CÂNCER DE COLO UTERINO E O
ESTIGMA ACERCA DO EXAME PAPANICOLAU
CONHECIMENTO SOBRE O CÂNCER DE
COLO UTERINO E O ESTIGMA ACERCA DO
EXAME PAPANICOLAU
THE KNOWLEDGE ABOUT
UTERINE CERVICAL CANCER ANTE THE
STIGMA CONCERNING THE PAPANICOLAU TEST
Caroline Cintra DI LANNA *
Talita Vidotte COSTA **
João Lopes TOLEDO NETO ***
_____________________________________
* Enfermeira. E mail: [email protected]
** Docente. Mestre do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Norte do Paraná
(UENP) – Campus Luiz Meneghel. Bandeirantes – PR.
*** Docente. Doutor do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Norte do
Paraná (UENP) – Campus Luiz Meneghel. Bandeirantes – PR.
DI LANNA, C. C.; COSTA, T. V.; TOLEDO NETO, J. L. Conhecimento sobre o câncer de colo uterino e o estigma
acerca do Exame Papanicolau. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 14, n. 9, p. 531-545, set., 2014.
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CONHECIMENTO SOBRE O CÂNCER DE COLO UTERINO E O
ESTIGMA ACERCA DO EXAME PAPANICOLAU
RESUMO
O objetivo deste estudo foi investigar o conhecimento das
mulheres acerca do câncer de colo uterino e identificar os estigmas
relacionados ao exame preventivo. Trata-se de uma pesquisa exploratória
na abordagem quantitativa. A amostra correspondeu a 55 mulheres que
compareceram ao Centro de Atendimento Materno Infantil no Município de
Bandeirantes – PR, entre os meses de maio a julho de 2012. A tabulação
dos dados foi realizada por meio do programa Microsoft Office Excel 2007, e
a análise estatística ocorreu por frequência absoluta e relativa. Dentre as
entrevistadas, 15 (27,2%) tinham mais que 43 anos, 30 (54,5%) eram
casadas, 20 (36,4%) tinham o ensino fundamental incompleto. Relacionado
a atividade profissional, todas estavam trabalhando no momento da coleta
de dados, sendo que 28 (50,9%) tinham como renda familiar entre um a dois
salários mínimos. Relativo ao conhecimento sobre o câncer de colo do
útero, 53 (96,4%) tinham conhecimento sobre a existência da doença, no
entanto, 15 (45,5%) não sabiam como prevenir, 42 (76,3%) não conheciam
os fatores de risco e, 39 (71,0%) não entendiam sobre as possíveis
complicações. Quando abordadas sobre a realização do exame preventivo,
48 (87,3%) já o haviam realizado em algum momento de sua vida e, a maior
dificuldade encontrada para sua realização foi a vergonha, citada por 37
(67,2%) mulheres. Conclui-se que os profissionais de saúde devem traçar
estratégias de educação visando a adesão mulheres para a realização do
Exame Papanicolau, com o intuito de prevenir o aumento das taxas de
mortalidade desta doença.
ABSTRACT
The objective of this study was to investigate the knowledge of
women about the cervical cancer and to identify the stigmas related to the
preventive examination. It is an exploratory research in a quantitative
approach. The sample corresponded to 55 women who came to the Center
for Maternal and Child Care in the city of Bandeirantes - PR, between the
months of May and July of 2012. The data tabulation was performed utilizing
Microsoft Office Excel 2007 software, and the statistical analysis was made
by absolute and relative frequencies. Among the interviewees, 15 (27,2 %)
had more than 43 years, 30 (54,5 %) were married, and 20 (36,4 %) had
incomplete elementary education. Regarding their professional activity, all of
them were working at the time of the data collection, and 28 (50,9 %) had
family income between one to two minimum salaries. Concerning the
knowledge of the uterus cervical cancer, 53 (96,4 %) knew about the
existence of the disease, however, 15 (45,5 %) did not know how to prevent,
42 (76,3 %) from the risk factors and 39 (71,0 %) from the possible
complications. When they were asked about the realization of the preventive
examination, 48 (87,3 %) had already done it sometime in their lives, and the
greatest difficulty found for its completion was shame, cited by 37 (67,2 %)
women. It is possible to conclude that the health professionals must devise
strategies of education aiming the accession of women for the realization of
their Papanicolau Test, with the purpose of preventing the increase of
mortality rates of this disease.
DI LANNA, C. C.; COSTA, T. V.; TOLEDO NETO, J. L. Conhecimento sobre o câncer de colo uterino e o estigma
acerca do Exame Papanicolau. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 14, n. 9, p. 531-545, set., 2014.
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CONHECIMENTO SOBRE O CÂNCER DE COLO UTERINO E O
ESTIGMA ACERCA DO EXAME PAPANICOLAU
UNITERMOS: Prevenção de Câncer de Colo Uterino. Neoplasias do Colo do
Útero. Teste de Papanicolaou. Enfermeiros. Orientação.
UNITERMS: Prevention of Uterine Cervical Cancer. Neoplasms of the Cervix
of the Uterus. Papanicolau Test. Nurses. Guidance.
INTRODUÇÃO
De acordo com Instituto Nacional do Câncer, estima-se que o
Brasil tenha em 2014, cerca de 15.590 novos casos de câncer do colo
uterino (BRASIL, 2013a). O câncer de colo uterino é considerado a
segunda causa de óbito no mundo e a terceira no Brasil (VERÍSSIMO
FERNANDES et al., 2009).
Os principais fatores de risco para o desenvolvimento podem
ser o tabagismo, alcoolismo, hereditariedade, uso de anticoncepcional por
tempo prolongado, condições de higiene, alimentação, multiplicidade de
parceiros sexuais, início precoce da atividade sexual e, a transmissão de
agentes infecciosos como Papiloma Vírus Humano (HPV) (FREITAS FI,
2011).
O controle do câncer uterino ocorre por meio da prevenção
secundária com base na citologia cervical, técnica de detecção, conhecida
como “Papanicolau” ou “Exame Preventivo”. É um exame inócuo, simples,
de baixo custo e boa eficiência (MERIGHI et al., 2002). Reduz cerca de
80% a morbimortalidade por esta neoplasia em mulheres na idade de 25 a
65 anos, quando realizam o exame rotineiramente (BIM et al., 2010).
As razões encontradas para a não realização da prevenção
são a dificuldade de acesso a Unidade Básica de Saúde (UBS), a forma
como é realizado o exame, pois envolve a exposição da genitália, o motivo
emocional para algumas mulheres, as condições socioeconômicas, a vida
ocupacional, as dificuldade de locomover e de com quem deixar os filhos ou
ainda até mesmo por falta de conhecimento sobre a importância da
realização do exame preventivo (AMORIM et al., 2006).
O exame citopatológico é primordial para detectar e
diagnosticar o câncer de colo do útero. A adesão e a busca para realização
deste exame deve-se integralmente a compreensão das mulheres sobre
este ato de manutenção à saúde (NASCIMENTO et al., 2012).
É importante que os profissionais de saúde orientem a
população feminina sobre a importância da realização do exame, evitando
desta forma o aparecimento de doenças que podem ser diagnosticada e
tratada precocemente, sem trazer tantos transtornos para o indivíduo e a
família (BRASIL, 2013a).
Este trabalho teve por objetivo investigar o conhecimento das
mulheres sobre o câncer de colo uterino, identificando os estigmas
relacionados ao exame preventivo, em um município do norte do Paraná.
REVISTA DA LITERATURA
ANATOMIA DO ÚTERO
O útero tem o tamanho e o formato de uma pera invertida, pesa
em torno de 25 a 90 gramas. É um órgão oco, muscular, que fica localizado
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no plano sagital mediado da cavidade pélvica, possuindo paredes espessas
e, sendo constituído principalmente por fibras musculares lisas (DANGELO;
FATTIMI, 2007).
Sua localização fica sobre a vagina, entre a bexiga urinária e o
reto. Mede em torno de oito centímetros de comprimento, cinco centímetros
de largura e, três centímetros de espessura nas mulheres nulíparas. Pode
variar de tamanho, forma, estrutura e localidade segundo a paridade, idade,
estado gravídico ou ainda, quando os níveis do hormônio sexual estão
abaixo do normal, como ocorrem nas mulheres que estão na menopausa
(GERK, 2002).
O colo é a parte inferior do útero, encontrando-se ligado à
vagina, possuindo a forma cilíndrica e o comprimento entre 2,5 a 3
centímetros (FREITAS FI, 2011). A parte interna do colo do útero denominase canal cervical ou endocérvice, responsáveis pela produção de muco. Já
a parte externa, que mantém contato com a vagina, é chamada de
ectocérvice e, entre estes dois epitélios, encontra-se a junção escamo
colunar (JEC).
CÂNCER DO COLO UTERINO
O câncer é caracterizado por um conjunto de alterações que
determinam um crescimento celular desordenado, não podendo ser
controlado pelo próprio organismo, o que causaria o comprometimento de
tecidos e órgãos. Estatísticas revelam que até o ano de 2020 irão ocorrer 15
milhões de novos casos da neoplasia no mundo, com 12 milhões de óbitos
(FIOCRUZ, 2006).
O câncer de colo do útero é anormalidade que ocorre nas
células de maneira progressiva, sendo considerada uma doença que
causaria muito sofrimento para a mulher e à família devido ao seu alto grau
de letalidade e morbidade.
Entretanto, é uma patologia que se
diagnosticada precocemente existe uma grande probabilidade de cura
(ROMAN; PANIS, 2010).
Inicia
pela
formação
de
lesões
intra-epiteliais
comprovadamente precursoras do câncer pré-invasivo cervical ou, também,
invasivo, apresentando-se de forma lenta e progressiva. No entanto, quando
há o aparecimento de algum tipo de sintoma como secreção, sangramento
após a relação sexual ou sangramento irregular, isto indica que o câncer
encontra-se em uma fase avançada, dificultando ainda mais o tratamento e a
cura (GREENWOOD; MACHADO; SAMPAIO et al., 2006).
Pode ser diagnosticado precocemente, por existir tecnologias
capazes de detectar a patologia em seu estágio inicial, quando ainda
existem lesões indicando sinais preditivos da doença (FONSECA;
RAMACCIOTTI; ELUF NETO, 2004).
PREVENÇÃO
O exame citopatológico deve ser realizado anualmente em
mulheres com idade entre 25 a 60 anos ou ainda naquelas que possuem
vida sexual ativa. Quando se obtém dois exames negativos subsequentes, o
mesmo poderá ser realizado a cada três anos (SILVA et al., 2006).
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A realização do exame deve ser estabelecida pelo médico,
segundo os resultados obtidos, porém os profissionais de saúde devem
orientar as mulheres sobre a não utilização de duchas vaginais, a colocação
de cremes, não estar menstruadas e realizar atividade sexual três dias antes
de fazer o exame, por interferir no resultado (FERNANDES, 2001).
O exame citopatológico é considerado altamente confiável para
detecção de lesões cancerígenas, pois sua sensibilidade corresponde a
99,8% de casos verdadeiros (PINHO et al., 2002).
O procedimento da coleta do exame preventivo deve ser feito
primeiramente na ectocérvice com a utilização da espátula e, depois na
endocérvice com a escovinha. Porém, em mulheres histerectomizadas que
procuram realizar a coleta, deve ser obtido um esfregaço de fundo de saco
vaginal (BRASIL, 2013b).
FATORES DE RISCO
Existem vários fatores associados ao câncer de colo do útero,
porém a maioria é passível de prevenção por meio da atuação do
profissional de saúde (SILVA, 2010a). Alguns deles estão associados ao
alcoolismo, tabagismo, idade, multiplicidade de parceiros sexuais, paridade,
maus hábitos de higiene íntima, deficiências nutricionais, baixa escolaridade,
uso prolongado de anticoncepcionais orais, estado imunológico deficiente,
além da infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). O
Papilomavírus Humano (HPV) possui um papel de destaque no
desenvolvimento da displasia das células cervicais, causando modificação
nas células e, tornando-as cancerosas (BRASIL, 2013b).
O HPV é um dos responsáveis pelo câncer do colo do útero,
acometendo cerca de 90% dos casos.
É considerado um parasita
intracelular, com a capacidade de acelerar a velocidade das mitoses
celulares, aumentando a chance de desenvolvimento de atipias (ALMEIDA,
2005).
Pode ser transmitido pela atividade sexual, possuindo a
capacidade de infectar o epitélio escamoso e, as membranas mucosas da
cérvice, da vagina, vulva, pênis, região perianal e, também, podem induzir o
surgimento de verrugas genitais, ou seja, condiloma acuminado, sendo
lesões intra-epiteliais pré-cancerosas (ALMEIDA, 2005).
MEDOS E TABUS PARA REALIZAÇÃODO EXAME PREVENTIVO
Muitas mulheres que procuram a Atenção Básica (AB) para a
realização do Exame de Papanicolau pela primeira vez, somente realizaram
depois de muitos anos do início da relação sexual (FREITAS FI, 2011).
Atualmente há o reconhecimento por instituições responsáveis
pela prevenção de patologias, de que existam muitas mulheres que os
programas não conseguem alcançar para realizar o exame de Papanicolau
por inúmeros fatores. Podem ser desde a desinformação, o medo,
insegurança frente ao resultado, a inatividade sexual, a omissão dos
profissionais, nível socioeconômico, falta de tempo, o trabalho, não ter com
quem deixar os filhos, além do desencorajamento pelo parceiro fazendo com
que as mulheres não realizem o exame. Desta forma, destaca-se a
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necessidade de um planejamento relacionado às áreas educacional, política,
econômica e social para a implantação de políticas de prevenção ao câncer
uterino (GOMES et al., 2008).
O medo que a mulher possui do câncer de colo do útero é um
dos principais motivos que levam as mulheres a realizarem o Exame de
Papanicolau e, não retornar para saber sobre o resultado (OLIVEIRA;
PINTO, 2007).
Um dos fatores responsáveis para a não realização do
citopatológico é o preconceito e a vergonha. A exposição do seu corpo para
ser examinada por um profissional da saúde acaba causando certo
constrangimento, demonstrando desta forma que a sexualidade possui
influência na vida da mulher (FERREIRA; OLIVEIRA, 2006).
É preciso que o profissional da saúde procure formas para
minimizar estes sentimentos de vergonha e constrangimento, demonstrando
empatia e, fazendo com que a mulher se sinta o mais à vontade possível,
requerendo maior sensibilidade e compreensão por parte do profissional
(DUALY et al., 2007).
Para que os profissionais proporcionem uma assistência
integral e preventiva, é preciso olhar o outro sem pré-julgamento das formas
de pensar, atitudes e concepções, acolhendo e promovendo a prevenção na
perspectiva do outro por meio de orientações. Que não seja somente
destinado ao procedimento técnico, por ser um exame que causaria medo e
insegurança, provocando reações na mulher, que muitas vezes não
expressa pela fala, mas observa-se pela fuga ao exame. Aquelas que nunca
realizaram o exame também têm representações negativas pelas
experiências de outras mulheres e, possuem a conduta de não realizá-lo
(LOPES, 1998).
AÇÕES DE ENFERMAGEM E
EQUIPE DE SAÚDE
É necessário que a enfermagem tenha uma comunicação clara
e objetiva com sua equipe de trabalho, transmitindo segurança, confiança, e
principalmente o espírito de uma equipe multiprofissional, fazendo com que
todos tenham consciência de sua função e da importância em participar de
programas e, procedimentos realizados na UBS para atender a população
(QUEIROZ, 2006).
É necessário que a equipe de enfermagem realize
constantemente ações educativas, demonstrando a importância da
realização periódica do exame citopatológico pelas mulheres, possibilitando
desta forma maior adesão ao exame, além de oferecer assistência
humanizada, contínua e com qualidade. Por isso, o enfermeiro deve
analisar as dificuldades encontradas pelas mulheres para a não realização
do exame, visando incluir ações na rotina do trabalho, que venham a facilitar
a informação e adesão aos indivíduos que não procuram a UBS (SILVA,
2010b).
As formas utilizadas pela enfermagem para a prevenção do
câncer de colo do útero é a consulta da enfermagem, o rastreamento, de
como realizar a técnica correta do exame preventivo, o conhecimento sobre
a anatomia do útero e, da cultura da população alvo. Ainda, é na consulta
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acerca do Exame Papanicolau. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 14, n. 9, p. 531-545, set., 2014.
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ESTIGMA ACERCA DO EXAME PAPANICOLAU
da enfermagem que poderá esclarecer dúvidas para as mulheres com
relação ao câncer de colo do útero, favorecendo assim a realização do
exame de Papanicolau. Realizar o agendamento da consulta médica
quando há suspeita de um tumor e, o encaminhamento das pacientes para
colposcopia quando necessário (QUEIROZ, 2006).
É importante orientar as mulheres, valorizar suas queixas
ginecológicas e ter conhecimento para esclarecer dúvidas que possam surgir
com relação ao câncer de colo do útero, pois entende-se que a mulher
informada sobre determinado assunto torna-se ferramenta fundamental para
adesão das outras mulheres na realização do exame citológico (BRASIL,
2013b).
MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de um estudo exploratório na abordagem quantitativa,
tendo sido desenvolvido no Centro de Atendimento Materno Infantil, no
Município de Bandeirantes-PR, sendo considerada uma unidade de
referência à saúde da criança e da mulher em todo o ciclo de vida.
Como critério de inclusão, todas as mulheres que procuraram o
Centro de Atendimento Materno Infantil para atendimento médico ou
realização do exame preventivo de câncer de colo uterino, foram convidadas
a participar, sendo os menores de 18 anos excluídos. A coleta de dados
acorreu as terças, quartas e quintas-feiras entre os meses de maio a julho
de 2012. Dentre as 88 consultas agendadas, 55 (62,5%) mulheres
responderam ao questionário. Houve 33 (37,5%) de perdas relacionadas a
31 pacientes que não compareceram na consulta e, 2 que não quiseram
participar da pesquisa.
Os dados foram coletados e organizados por meio do programa
Microsoft Office Excel 2007 e, a análise dos dados ocorreu por meio de
frequência absoluta e relativa.
Esta pesquisa foi realizada respeitando os princípios éticos
da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e, foi apreciada pelo
Comitê de Ética do Curso em Enfermagem da Universidade Estadual do
Norte do Paraná, Campus Luiz Meneghel, recebendo parecer favorável n.
014/2012.
Para a realização do estudo, as mulheres foram orientadas
quanto aos objetivos do estudo, ao sigilo de suas respostas e, ao direito de
desistência de participação da pesquisa em qualquer momento. Por meio da
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido as mulheres
aceitaram participar do estudo. Também, foi solicitado ao Secretário
Municipal de Saúde autorização para aplicação do questionário em uma das
instituições de saúde, obtendo resposta favorável.
RESULTADOS
Com o intuito de caracterizar o público alvo, foi questionada
a faixa etária, o estado civil, a escolaridade, raça e renda familiar dos
participantes (TABELA 1).
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CONHECIMENTO SOBRE O CÂNCER DE COLO UTERINO E O
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TABELA 1 – Caracterização de mulheres entrevistadas no Centro de Atendimento Materno
Infantil, frente à idade, o estado civil, a escolaridade e a raça. Bandeirantes, PR,
2012.
VARIAVEIS
Idade
18 a 22
23 a 27
28 a 32
33 a 37
38 a 42
> 43 anos
Estado Civil
Solteira
Casada
União Estável
Separada
Viúva
Escolaridade
Analfabeta
Ensino Fundamental Incompleto
Ensino Fundamental Completo
Ensino Médio Incompleto
Ensino Médio Completo
Ensino Superior Incompleto
Ensino Superior Completo
Raça
Branca
Negra
Parda
Amarela
Renda Familiar
< 1 salário mínimo
1 a 2 salários mínimos
2 a 3 salários mínimos
3 a 5 salários mínimos
n
%
9
10
10
4
7
15
16,4
18,2
18,2
7,3
12,7
27,2
13
30
3
2
7
23,6
54,6
5,5
3,6
12,7
1
20
7
7
16
3
1
1,8
36,4
12,7
12,7
29,1
5,5
1,8
25
9
21
-
45,5
16,3
38,2
-
11
28
14
2
20,0
50,9
25,5
3,6
Os fatores de risco associados ao desenvolvimento desta
patologia são a utilização de bebidas alcoólicas, tabaco e anticoncepcional
oral. Neste sentido, questionou-se sobre o consumo destes itens (TABELA
2).
TABELA 2 – Identificação de fatores de risco entre as mulheres entrevistadas no Centro de
Atendimento Materno Infantil. Bandeirantes, PR, 2012.
Variáveis de Fatores de Risco
Bebida Alcoólica
Tabaco
Contraceptivo Oral
n
9
11
41
Faz uso
%
16,4
20,0
74,6
Não faz uso
n
%
46
83,6
44
80,0
14
25,4
Verificou-se ainda que 34 (61,9%) mulheres iniciaram sua vida
sexual entre os 16 a 20 anos e, que as mulheres casadas ou que possuíam
união estável, totalizando 33 (60,0%) respondentes, foram aquelas que mais
realizaram o exame preventivo.
Também, foi constatado que 48 (87,3%) já realizaram o
preventivo em algum momento da vida. Destas, 42 (76,3%) fazem o exame
anualmente, 4 (7,4%) semestralmente e, 2 (3,6%) raramente.
Sabe-se que o Ministério da Saúde nesta última década
investiu maciçamente em mecanismos para promoção de informação
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acerca do Exame Papanicolau. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 14, n. 9, p. 531-545, set., 2014.
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CONHECIMENTO SOBRE O CÂNCER DE COLO UTERINO E O
ESTIGMA ACERCA DO EXAME PAPANICOLAU
referente à prevenção do câncer de colo uterino. Assim, foram questionadas
se elas tinham conhecimento sobre a doença, prevenção, fatores de risco e,
possíveis complicações (FIGURA 1).
FIGURA 1 – Proporção das respondentes indagadas no Centro de Atendimento Materno
Infantil sobre o conhecimento prévio do câncer de colo uterino, da prevenção, dos
fatores de risco e das complicações. Bandeirantes, PR, 2012.
É de conhecimento que para a realização do exame citológico
a mulher deve expor parte do seu corpo ao profissional da saúde. Neste
sentido, verificou a existências de algumas barreiras relativas a adesão da
mulher ao exame preventivo (FIGURA 2).
FIGURA 2 – Descrição das barreiras encontradas para a realização do Exame Papanicolau
de acordo com as mulheres entrevistadas no Centro de Atendimento Materno
Infantil. Bandeirantes, PR, 2012.
DISCUSSÃO
Informações semelhantes sobre os dados sócios demográficos
e econômicos foram encontrados em estudo realizado em Florianópolis com
952 mulheres, demonstrando que 52,0% da amostra tinham entre 20 a 39
anos, 86,4% eram da raça branca, 61,0% estavam casadas ou viviam em
união estável, 75,5% tinham nove ou mais anos de estudo e 70,9% exerciam
trabalho remunerado (GASPERIN, BOING, KUPEK, 2011).
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acerca do Exame Papanicolau. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 14, n. 9, p. 531-545, set., 2014.
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CONHECIMENTO SOBRE O CÂNCER DE COLO UTERINO E O
ESTIGMA ACERCA DO EXAME PAPANICOLAU
A faixa etária de maior ocorrência de câncer de colo do útero
volta-se entre os 40 a 60 anos, sendo menos frequente antes dos 30 anos
(SILVA, 2006). Percebe-se que a maioria das mulheres está na idade de
maior ocorrência da doença, ou seja, acima de 30 anos, por esta razão seria
interessante que as mesmas realizassem anualmente o exame preventivo.
Mulheres casadas ou viúvas têm maior incidência de câncer de
colo uterino quando comparadas com as que nunca casaram, por não
utilizarem preservativos durante o ato sexual (QUEIROZ, 2006).
A raça também está diretamente ligada ao desenvolvimento do
câncer de colo do útero. Mulheres negras e pardas possuem um aumento
da mortalidade por esta neoplasia (MENDONÇA et al., 2008) e, apresentam
maior proporção de casos diagnosticados em estágios avançados, quando
comparadas as brancas (MEIRA, 2011).
Com relação à escolaridade das mulheres entrevistadas,
constatou-se que predomina a escolaridade do ensino fundamental
incompleto. Estudo realizado no Rio de Janeiro com 1.302 mulheres
demonstrou que 57% das entrevistadas com baixa escolaridade, nunca
haviam realizado o exame Papanicolau (CESAR et al., 2003).
Constatou-se que no momento da coleta de dados, todas as
respondentes estavam atuando no mercado de trabalho. Quanto menor é o
nível socioeconômico da população, maior a diminuição na cobertura do
exame preventivo do câncer do colo do útero. Há aumento significativo na
prevalência de mulheres que não realizam o rastreamento. Além disso, a
baixa escolaridade pode ser relacionada diretamente com atividades
profissionais menos qualificadas.
Estas constatações demonstram a
necessidade de ação dos serviços públicos de saúde no sentido de intervir
com mais efetividade nos segmentos da população mais vulneráveis ao
desenvolvimento do câncer do colo uterino, visando assegurar a cobertura
dessa população pelo exame preventivo (PINHO et al., 2003).
Um dos principais fatores responsáveis para o surgimento do
câncer de colo uterino é a multiparidade de parceiros sexuais (BRASIL,
2013b), além do início da atividade sexual precocemente (THUM et al.,
2008).
Pesquisa demonstra que se o início da atividade sexual ocorrer
antes dos 16 anos, o índice para o desenvolvimento do câncer de colo
uterino pode dobrar se comparado àquelas que iniciam depois dos 20 anos
(ALBRING, 2006).
Mulheres que fazem uso de bebida alcoólica e tabaco têm risco
para desenvolver o câncer de colo do útero e, necessitam ser orientadas por
profissionais de saúde (THUM, 2008). O tabagismo e o etilismo são fatores
de risco para o câncer de colo do útero, pois diminuem a quantidade e
função das células de Langerhans, responsáveis por apresentar antígenos
responsáveis pela ativação da imunidade celular local contra o HPV
(ALBRING, 2006).
A associação entre o uso de contraceptivos orais e o risco de
desenvolver câncer de colo do útero é realizada com dificuldade, pois os
contraceptivos orais são utilizados por mulheres sexualmente ativas e que,
em menor grau, usam métodos de barreira, ficando mais expostas ao risco
de contrair HPV (CASARIN, 2011).
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acerca do Exame Papanicolau. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 14, n. 9, p. 531-545, set., 2014.
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ESTIGMA ACERCA DO EXAME PAPANICOLAU
A periodicidade do exame preventivo é indispensável quando
se trata de qualidade de prevenção do câncer uterino, pois quando a mulher
deixa de fazê-lo com frequência, esta a deixa vulnerável podendo adquirir
agravos a sua saúde por não haver diagnóstico precoce (THUM et al.,
2008). Este estudo revela que a maioria das entrevistadas realizava o
Exame Papanicolau no intervalo preconizado pelo Ministério da Saúde, ou
seja, anualmente.
Isto pode ser um reflexo das ações de saúde
desenvolvidas pela equipe, mérito dos profissionais da área da saúde,
indicando que as mulheres estão sendo conscientizadas pela equipe de
saúde, antes mesmo de apresentar qualquer sintoma da doença.
Como observado, praticamente todas as mulheres
entrevistadas já ouviram falar sobre o câncer de colo do útero. Corrobora
com este achado, estudo realizado em Ananindeua – PR, constatando que
independente de se realizar ou não o exame, a maioria já tinha
conhecimento sobre esta doença (ASSIS et al., 2014).
A informação continua sendo a melhor estratégia para
prevenção do câncer de colo uterino, por esta razão faz-se necessário que
os profissionais estejam capacitados a ensinar esta população, que muitas
vezes não conhecem a doença (BRASIL, 2013a). Observa-se que quase a
metade das respondentes não sabia como realizar a prevenção do câncer
uterino. O exame preventivo é conhecido no mundo todo como uma
estratégia segura e eficiente para a prevenção e detecção precoce do
câncer do colo do útero na população feminina, pois quando realizado
anualmente diminui as taxas de mortalidade por esta doença (THUM et al.,
2008).
De acordo com o Ministério da Saúde, o exame citopatológico
deve ser realizado anualmente em mulheres com idade entre 25 a 60 anos
ou aquelas que possuem vida sexual ativa. Quando se obtém dois exames
negativos subsequentes, o mesmo poderá ser realizado a cada três anos
(BRASIL 2013). Atualmente, reconhecesse a existência de alguns fatores
que interverem na realizar do exame preventivo, tais como a desinformação,
o medo, a insegurança frente ao resultado, a inatividade sexual, o nível
socioeconômico, a falta de tempo, não ter com quem deixar os filhos durante
a consulta e o desencorajamento pelo parceiro (GOMES et al., 2008). A
maioria das entrevistadas não sabia informar sobre os fatores
predisponentes para o desenvolvimento do câncer de colo do útero, o que as
deixavam mais suscetíveis para a aquisição desta doença. Apenas 12
mulheres mencionaram que a má higiene, a não realização do exame
preventivo, a multiplicidade de parceiros, as doenças sexualmente
transmissíveis, o tabagismo e a hereditariedade podendo auxiliar na
aquisição do câncer de colo uterino.
O desconhecimento da neoplasia por algumas mulheres
aponta para uma fragilidade nas ações da atenção básica, principalmente no
que diz respeito a realização do exame preventivo (GONTIJO, 2005). Podese constatar que a maioria das entrevistadas não sabia quais são as
complicações do câncer de colo uterino. Dentre aquelas que conheciam,
nove respondentes mencionaram que poderia levar a morte e/ou a perda do
útero.
O desenvolvimento do câncer pode acarretar mudanças
psicológicas significativas no indivíduo. Quando a mulher descobre que está
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acerca do Exame Papanicolau. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 14, n. 9, p. 531-545, set., 2014.
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CONHECIMENTO SOBRE O CÂNCER DE COLO UTERINO E O
ESTIGMA ACERCA DO EXAME PAPANICOLAU
com câncer é comum diminuir a autoestima, tornarem-se desanimadas,
descrentes, desesperadas ou negarem a doença (BRASIL, 2013b). A
maioria das mulheres entrevistadas relatou que a maior dificuldade para
realizar o exame preventivo foi a vergonha do exame em si.
O sentimento de medo e vergonha vinculado à realização do
exame preventivo pode ser interpretado de modo negativo frente as
expectativas de sofrimento para a pessoa que o vivencia, pois há a
possibilidade de confirmação de uma doença, gerando diferentes
sentimentos como desespero e o medo constante da morte (OLIVEIRA et
al., 2007).
Além disso, há a questão relacionada ao pudor e a invasão de
privacidade que muitas mulheres carregam dentro de si. Por isso é
importante que o profissional da enfermagem esteja preparado para lidar
com esta situação, para que as mulheres se sintam acolhidas e à vontade
durante a realização do exame (FRIGATO; HOGA, 2003). Algumas
mulheres não realizam o preventivo devido ao horário de funcionamento da
Unidade Básica de Saúde, pois horário de funcionamento é conflitante com o
de trabalho (THUM et al., 2008).
Frente ao exposto, é necessário que as equipes de
enfermagem realizem constantemente ações educativas, demonstrando a
importância da realização periódica do exame citopatológico para as
mulheres. Possibilita desta forma maior adesão ao exame, oferecendo
assistência humanizada, contínua e com qualidade. Por isso, o enfermeiro
deve analisar e refletir sobre as dificuldades encontradas pelas mulheres
para a não realização do exame, visando desenvolver estratégias na rotina
do trabalho, que venham a facilitar a informação e a adesão (NASCIMENTO
et al., 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O acolhimento e a orientação são fundamentais e, devem fazer
parte do cotidiano das instituições de saúde. O profissional da saúde deve
promover e incentivar o conhecimento da comunidade sobre o câncer do
colo do útero visando a redução da morbimortalidade.
No presente estudo, a maioria das mulheres realizou o exame
para detectar o câncer de colo do útero, no entanto, pode-se verificar sua
falta de conhecimento quando questionadas sobre a prevenção, fatores de
risco e complicações da doença. Relacionado ao estigma, muitas mulheres
relataram ter vergonha em realizar o exame preventivo. Cabe à equipe de
saúde tecer estratégias que visam o aumento do vínculo e da confiança com
estas pacientes, para promover sua adesão ao programa de prevenção ao
câncer de colo uterino.
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* De acordo com as normas da ABNT e da Revista da ATO.
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