Pensar|Sentir |Agir Ação de Formação em Ourém Tráfico de Seres Humanos Tráfico (des)humano Os alunos começaram por visitar a exposição em que tiveram oportunidade de visualizar um conjunto de imagens alusivas ao tema e também de adquirir alguma informação – por exemplo, que “tráfico” designa algo que é comercializado ilegal e clandestinamente; que é considerado traficante o indivíduo que oferece, alicia, acolhe e/ou aloja a vítima por meio de violência, rapto, abuso de autoridade, aproveitamento de uma incapacidade psíquica ou outro tipo de vulnerabilidade; que são três as principais finalidades do tráfico de seres humanos: a exploração sexual, a exploração laboral e a extração de órgãos. De seguida, foi apresentado um pequeno documentário com testemunhos de indivíduos que haviam sido vítimas de tráfico humano e alguns gráficos que permitiram concluir que o tráfico de seres humanos é uma cruel realidade em pleno século XXI, difícil de desmantelar, pois as vítimas raramente contactam as polícias com medo de represálias por parte dos traficantes, ou então sentem tanta vergonha que preferem viver com o pesadelo a assombrá-las cada dia que passa: e esse pesadelo não é apenas físico, mas também psicológico. A análise dos gráficos permitiu também constatar que, em Portugal, a maioria das vítimas é traficada para exploração laboral, e que nessas predomina o sexo masculino. Um aspeto importante também abordado foi que o tráfico de seres humanos Mariana Vieira (11.º F) não implica necessariamente a transposição de fronteiras internacionais, as vítimas podem ser traficadas dentro do próprio país – tudo depende dos fins a que se destinam. Apesar de provavelmente serem estatísticas que, lamentavelmente, não correspondem à realidade, por todos os condicionalismos que dificultam este tipo de investigações por parte dos diferentes organismos envolvidos (Organizações Não Governamentais, Polícia Judiciária, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Polícia de Segurança Pública, Guarda Nacional Republicana), o Observatório de Tráfico de Seres Humanos (OTSH) contabilizou 71 casos de tráfico em 2011 no nosso país, dos quais apenas 23 foram confirmados, sendo que 15 remetem para homens vítimas de exploração laboral, 8 para mulheres vítimas de exploração sexual, e 3 para crianças. Nas palavras da Secretária de Estado, Teresa Morais, estes números «não revelam um crescimento significativo do tráfico nos últimos anos», revelam «um baixo número de casos detetados e confirmados de vítimas femininas para exploração sexual e uma predominância de casos relativos a homens para exploração laboral». Teresa Morais demonstrou não estar surpreendida com o facto de a exploração laboral ter expressão estatística num contexto de crise como o que vivemos na Europa, em Portugal, mas sim por serem tão poucos os casos sinalizados e confirmados de mulheres vítimas de tráfico para exploração sexual. Referiu, por isso, ser «necessária uma redobrada atenção a estas situações e uma especial preparação dos técnicos envolvidos nas inspeções e investigações.». Este é um alerta a considerar, sobretudo se for tido em conta que o tráfico de seres humanos tem mais expressão atualmente do que em séculos de escravatura. Informação a 10 minutos de distância A Ana Lisa Cordeiro, 11.º D os alunos dos 10.º e 11.º anos foi proposta uma visita à Câmara Municipal de Ourém com um propósito plausível: aumentar o conhecimento relativamente a um tema bastante atual, “Tráfico de Seres Humanos”. mostravam desinteressados e apenas reparavam nas imagens e nos títulos. Apesar de os professores nos terem transmitido, oralmente e por escrito, informação sobre a atividade, que consistia numa exposição e num debate, durante o tempo que estivemos à espera do autocarro, ouviam-se comentários: «Nem sei sobre o que é isto.», «Ao menos não temos aulas.»… com os microfoApesar de presde seres humanes que estasionados para nos tem um impacto vam à frente que a sessão económico comparável de cada lugar, terminasse – ao do tráfico de armas e e testámooutro grude droga. Este fenómeno, -los logo. que envolve milhões de pes- po já estava Passada a à espera –, soas todos os anos, existe euforia, vipenso que também em Portugal e tem mos um doa ideia de a ver com o crime organicumentário que a ativizado, a exploração sexual com testemudade fosse e laboral, questões de nhos de pessouma “seca” género e de direitos as traficadas que desapareceu e humanos, etc. abordaram aspetos deu lugar a um como a diferença ensentimento positivo: tre os vários tipos de tráfico, foi uma apresentação baso impacto na pessoa traficada, tante interessante que abordou o modo como os traficantes o tema de uma forma bem penconseguem manter as vítimas sada e que teve em conta o púcaladas. blico a que se destinava. Ao chegarmos, enquanto aguardávamos a nossa vez para entrar no espaço onde decorreria o debate, efetuámos uma visita à exposição e, embora os painéis fossem bastante elucidativos e contivessem bastante informação relativa ao tema, não faltavam alunos que, enquanto circulavam pelo espaço, se Seguidamente, foi projetado e comentado um powerpoint que mostrava estatísticas relativas Quando o grupo anterior saiu, a Portugal e que foi o ponto foi a nossa vez de ocupar os de partida para um debate de lugares no pequeno anfiteatro ideias e exposição de questões relativas àquilo que fora da sede do Concelho – apresentado. ficámos encantados O tráfico Sente, aprecia e valoriza… F oi em Ourém que vimos uma exposição e assistimos a uma palestra que marcaram muito a minha reflexão sobre um tema e uma realidade de que nem sempre nos lembramos porque pensamos só em nós. Pessoalmente, a exposição fez-me pensar em como é possível, por vezes, nós chatearmo-nos com os nossos pais por coisas insignificantes, apesar de, afinal de contas, nós os amarmos e eles a nós. Esquecemos que pelo mundo existem pais que vendem os próprios filhos como se fossem um simples objeto sem importância. E até ficamos tristes por simplesmente termos perdido um bem material. Como é que esse bem material pode ter um valor tão grande que possa substituir ou comparar-se à dor de uma pessoa desprezada, ignorada e até mesmo abandonada pelos próprios pais? Nós conseguimos esquecer a realidade que nos mostra que há pessoas livres como eu, e como muitas, mas que também há outras que são obrigadas a trabalhos duros, que são obrigadas a exporem-se seja como for, na rua, só para ganhar dinheiro e dá-lo ao seu traficante, traficante esse que não consideramos ser pessoa, no verdadeiro sentido do termo. Será que não lhe dói ver que está a maltratar uma pessoa? Porque é que para eles destruir um ser humano é sinónimo não só de dinheiro, mas também de prazer? A expressão das pessoas, vista em cada imagem que nos foi mostrada, era tão sombria que Sarina Neto Santos, 11ºB nem queria acreditar. Ninguém merece ser tratado daquela maneira e, muito menos, ser tratado como um objeto sem valor, ninguém! Todos nós temos uma vida, ninguém sabe o porquê de a ter e o porquê de sofrer e não poder saber o que é a felicidade. Há pessoas que se encontram nesta situação e perguntam a si mesmas: Porquê eu? Que mal fiz? São questões de pessoas vítimas de um crime que viola os direitos humanos. Todos temos sentimentos, todos crescemos, todos temos a nossa personalidade e todos temos o direito a uma vida condigna! Sentir é viver! Inforcef – n. 67 N o dia 3 de outubro, no âmbito das disciplinas de Português, Filosofia e EMRC, e também do Projeto de Educação para a Sexualidade, os alunos dos 10.º e 11.º anos deslocaram-se a Ourém para visitarem uma exposição e participarem num debate subordinados ao tema “Tráfico de Seres Humanos”. Estas atividades, a decorrer na sede do Concelho, foram promovidas pelo Observatório de Tráfico de Seres Humanos, organismo do Ministério da Administração Interna. 52