UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FACULDADE DE BIOMEDICINA ADRIANO DA PAIXÃO SOUTO COMPORTAMENTO CITOGENÉTICO ANÔMALO EM INDIVÍDUOS PORTADORES DA DOENÇA DE DARIER BELÉM 2012 ADRIANO DA PAIXÃO SOUTO COMPORTAMENTO CITOGENÉTICO ANÔMALO EM INDIVÍDUOS PORTADORES DA DOENÇA DE DARIER Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina. Orientador: Prof. Dr. Nelson Antonio Bailão Ribeiro BELÉM 2012 ADRIANO DA PAIXÃO SOUTO COMPORTAMENTO CITOGENÉTICO ANÔMALO EM INDIVÍDUOS PORTADORES DA DOENÇA DE DARIER Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina, aprovado com o conceito ________________. Belém (PA), 19 de dezembro de 2012. Banca Examinadora: _______________________________________ Profº Dr. Nelson Antonio Bailão Ribeiro UEPA/ IEC – Sessão de Hepatologia (Orientador) _______________________________________ Profº Dr.Edivaldo Herculano Corrêa de Oliveira (UFPA/IEC - Sessão de Meio Ambiente) _______________________________________ Drª Maria de Fátima Lima de Assis (IEC - Sessão de Meio Ambiente) _______________________________________ Profº Dr. Amauri Miranda Esteves – Suplente (UEPA - CCBS) i DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todos os meus colegas que escolheram a Biomedicina para ser sua profissão, em especial, aqueles que contribuem, todos os dias, para o entendimento da genética humana. ii AGRADECIMENTOS A Deus, pai de todos os viventes, Senhor do Céu e da Terra, criador de tudo o que existe, pelas bençãos que a todos os dias derrama sobre mim e minha família, dentre elas, minha aprovação no vestibular e a conclusão do curso de Biomedicina. Aos meus estimados pais, Claudio e Isolete Souto, aos quais atribuo toda a credibilidade por a minha formação acadêmica, profissional, pessoal e cidadã. A minha ilustríssima avó, Raimunda Palheta de Souza Filha, que com suas orações e conselhos colaborou de sobremaneira para a minha formação acadêmica. A Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará, na pessoa das professoras Rita de Cássia Moussinho e Karla Tereza Silva Ribeiro, que me permitiu adquirir o grau de Biomédico com a mais completa excelência e confiabilidade. Ao meu orientador, Professsor Doutor Nelson Antonio Bailão Ribeiro, que com empenho, paciência e dignidade, me ensinou muito e me acompanhou de modo especial na realização do meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Ao Instituto Evandro Chagas e todos os colegas de laboratório, em especial minha amiga Thamires Brandão, que compartilhou comigo ótimos momentos de aprendizado e muito me ajudou na realização do meu (TCC). A todos os meus prezados colegas de curso, em especial meus companheiros Joelma Costa, Bruno Martins, Ana Danielle Sena, Paula Frade, Bruna Lins e Stephanie Renteiro, que me fizeram rir, aprender e melhor entender o significado da verdadeira amizade. Aos demais colaboradores Dr. Manoel, Jéssica Gomes, Jéssica Gonzaga e Rafaela Guedes. SUMÁRIO DEDICATÓRIA .............................................................................................................i AGRADECIMENTOS ..................................................................................................ii LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................iii LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS ..............................................................iv RESUMO .....................................................................................................................v 1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................1 1.1 GENÉTICA MÉDICA .............................................................................................1 1.2 CITOGENÉTICA HUMANA ...................................................................................3 1.2.1 Cromossomos humanos .................................................................................4 1.2.2 Anormalidades cromossômicas .....................................................................6 1.2.2.1 Anormalidades do número de cromossomos ............................................6 1.2.2.2 Anormalidades na estrutura dos cromossomos ........................................8 1.2.1 Métodos de coloração para Análise de Rotina ..........................................14 1.3 DOENÇA DE DARIER .........................................................................................18 2 OBJETIVOS ...........................................................................................................22 2.1 GERAL ................................................................................................................22 2.2 ESPECÍFICOS ....................................................................................................22 3 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................23 3.1 ÁREA DE ESTUDO .............................................................................................23 3.2 LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTUDO .............................................................23 3.3. OBTENÇÃO DE CROMOSSOMOS METAFÁSICOS ........................................24 3.4 PREPARAÇÃO DE LÂMINAS .............................................................................25 3.5 TÉCNICAS DE COLORAÇÕES CONVENCIONAIS............................................25 3.5.1 Coloração convencional por giemsa ............................................................25 3.5.2 Bandeamento G, segundo Seabright (1971) com modificações ................25 3.5.3 Marcação de região organizadora de nucléolo, segundo Howell & Black (1980), com modificações .......................................................................................26 3.6 ANÁLISE CROMOSSÔMICA ..............................................................................27 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................28 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................36 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................37 iii LISTA DE FIGURAS Figura 1. Pápulas queratósicas de DD localizadas no lado esquerdo do peito inferior. (Fonte: Goldberg et al., 2001) ......................................................................21 Figura 2. Placa verrucosa de DD localizada no tronco de um homem de 40 anos de idade (Fonte: Puri, 2011) .............................................................................21 Figura 3. Família afetada pela doença de Darier. Probandos marcados em preto representam afetados. Tracejado representa ocorrência de demência...........31 Figura 4. Cariótipo com coloração convencional do indivíduo 7, indicando associação pelo braço curto de dois cromossomos do grupo D ...............................35 Figura 5. Cariótipo G-bandeado do indivíduo 7 indicando associação específica dos cromossomos dos pares 13 e 15 ........................................................................35 Figura 6. Regiões organizadoras de nucléolos em cromossomos do indivíduo 7 indicando associação de cromossomos do grupo D pela região satélite dos braços curtos e não pela região organizadora de nucléolo .......................................36 Figura 7. Cariótipo em coloração convencional do indivíduo 5, indicando associação pela região terminal do braço curto de dois cromossomos acrocêntricos .............................................................................................................36 Figura 8. Cariótipo G-bandeado normal do indivíduo 7.............................................37 Figura 9. Cariótipo G-bandeado normal do indivíduo 5 ............................................37 Figura 10. Cariótipo normal em coloração convencional do indivíduo do grupo controle .....................................................................................................................38 iv LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS 2n – Diplóide 3n – Triplóide 4n - Tetraplóide ATP – Adenosina trifosfato DD – Doença de Darier DNA – Ácido desoxiribonucleico del – Deleção FISH – Fluorescent in situ hybridization IEC – Instituto Evandro Chagas inv - Inversão iso - Isocromossomo KCl – Cloreto de Potássio MS – Ministério da Saúde NOR – Região organizadora de nucléolo p – Braço curto do cromossomo q – Braço longo do cromossomo RNA – Ácido ribonucleico RPM – Rotações por minuto SERCA 2 – Retículo endoplasmático/sarcoplasmático cálcio ATPásico isorforma 2 SSC – Solução de Citrato de Sódio SVS – Secretaria de Vigilância t - Translocação TCLE – Termo de consentimento livre e esclarecido v RESUMO Dentro da genética humana e médica há muitos campos de interesse indicados pelas várias direções, sendo uma das principais áreas de especialização o estudo dos cromossomos, citogenética, pois, sabe-se, hoje, que os distúrbios cromossômicos constituem uma categoria importante de doenças genéticas. A doença de Darier (DD) é definida como uma doença genética autossômica dominante, cujas manifestações clínicas consistem, sobretudo, na formação de pápulas firmes, gordurosas e queratósicas na pele. Diversos estudos de famílias, gêmeos e adoção relatam casos de indivíduos apresentando, além das deformidades dermatológicas da DD, manifestações neuropsiquiátricas. A relação fenótipo/Genótipo desta doença ainda não está totalmente compreendida. Assim, faz-se necessário uma análise citogenética desta patologia, uma vez que, até o presente momento, não há qualquer estudo a nível cromossômico referente a DD presente na literatura. O presente estudo teve como objetivo geral estudar cariotipicamente indivíduos portadores da DD. Realizou-se a obtenção de cromossomos metafásicos pela técnica de cultura de linfócitos. O material foi submetido à coloração convencional por Giensa, bandeamento G e marcação de região organizadora de nucléolo. As melhores metáfases foram selecionadas para serem fotomicrografadas com objetiva de 100X. Os resultados deste estudo indicam fortemente a presença de rearranjo cromossômico peculiar a esta doença – cromossomo dicêntrico - ainda não apresentado na literatura científica. 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 GENÉTICA MÉDICA Este é um período em que a genética médica atingiu um papel reconhecido como disciplina central que lida com a variabilidade e hereditariedade humana e ao mesmo tempo desenvolve abordagens que permitem uma nova compreensão de muitas doenças, prometendo muito mais em um futuro breve, devido aos avanços da genética nos últimos anos. A genética é uma matéria multiforme, envolvida com a variação e hereditariedade de todos os organismos vivos. Dentro deste amplo campo, a genética humana é a ciência da variação e hereditariedade presente nos seres humanos, e em especial a genética médica lida com a variação genética humana de importância clínica. As duas áreas possuem uma extensa superposição e, de fato, para muitos geneticistas são sinônimos (Thompson et al., 1993). Dentro da genética humana e médica há muitos campos de interesse indicados pelas várias direções, sendo as principais áreas de especialização o estudo dos cromossomos, citogenética; o estudo da estrutura e função dos genes, genética molecular e bioquímica; e aplicação no diagnóstico e assistência de pacientes, genética clínica (Motta, 2000). Outros campos da genética humana, como a genética populacional, epidemiologia genética, genética do desenvolvimento e imunogenética, também apresentam relevância médica, especialmente no que se refere a compreensão e prevenção das doenças humanas (Thompson et al., 1993). Além da prática clínica, a genética médica é aplicada à assistência dos pacientes nas áreas de aconselhamento genético, triagem populacional para identificar pessoas sob risco de apresentar ou transmitir um distúrbio genético, e diagnóstico pré-natal, atuando assim no aconselhamento genético, o qual apresenta informações sobre os riscos de doenças genéticas. Esta atividade vem crescendo como uma nova profissão de saúde. A triagem populacional para as doenças genéticas tornou-se uma iniciativa importante para a saúde pública. O diagnóstico 2 pré-natal, que requisita muitas especialidades clínicas e laboratoriais além da genética, provavelmente, é a principal área de aplicação da genética a assistência de pacientes . Embora quase sempre estivesse ligada a pediatria, a genética médica também é relevante para muitas outras especialidades clínicas. Em obstetrícia, o diagnóstico pré-natal de certos defeitos genéticos tornou-se um aspecto básico da assistência pré-natal. Na clínica médica, sabe-se que muitos distúrbios comuns, como a doença das artérias coronárias, hipertensão arterial e diabetes mellitus, possuem componentes genéticos importantes, além de aplicações em outros campos como a neurologia, hematologia e oncologia (Borges-Osório & Robinson, 2002). Apesar de muito da genética médica estar dentro da corrente médica geral, ela difere das outras especialidades médicas no fato de se orientar usualmente para a prevenção, além disso, muitas vezes o tratamento e seu foco não são apenas o paciente, mas toda a família (Thompson et al., 1993). Ao longo de muitos anos de pesquisa vários foram os casos de distúrbios genéticos registrados pela genética médica, sendo os mesmos classificados em cinco grupos: a) Distúrbios monogênicos: Anemia falciforme, deficiência de adenosina-desaminase, deficiência de alfa1-antitripsina, deficiência de glicose-6fosfato-desidrogenase, distrofia miotônica, distrofia muscular de Duchenne, doença de Huntington, doença de Tay-Sachs, fenilcetonúria, fibrose cística, hemofilia A, hipercolesterolemia familiar, neurofibromatose tipo I, osteogênese imperfeita, retinoblastoma, síndrome do X frágil, talassemia, tumor de Wilms; b) Distúrbios multifatoriais: Malformações congênitas (cardiopatias congênitas, defeitos do tubo neural, fenda labial com ou sem fenda palatina), c) Doenças adultas: (algumas formas de câncer, diabetes mellitus, doenças das artérias coronárias); d) Distúrbios mitocondriais: Neuropatia óptica hereditária de Leber e e) Distúrbios citogenéticos: Síndrome de Down, trissomia do cromossomo 18, trissomia do 13, síndrome de Klinefelter, síndrome de Turner, síndrome do XXX, síndrome do XYY, síndrome de Prader-Willi, apresentando como objeto de estudo os cromossomos metafásicos, os quais, só podem ser visualizados individualmente por um breve período durante a divisão celular na metáfase, pois estão condensados ao máximo (Guerra, 1988; Thompson et al., 1993; Borges-Osório & Robinson, 2002). 3 1.2 CITOGENÉTICA HUMANA Uma nova era da genética médica foi inaugurada em 1959 com duas descobertas praticamente simultâneas: o achado de Lejeune e colaboradores de que crianças com mongolismo atualmente conhecido como síndrome de Down ou trissomia do 21 possuem 47 cromossomos em vez de 46 nas células somáticas, e as primeiras observações feitas por Ford e colaboradores e por Jacobs e Strong, de anomalias dos cromossomos sexuais em pacientes com distúrbios do desenvolvimento sexual (Motta, 2000). Sabe-se, hoje, que os distúrbios cromossômicos constituem uma categoria importante de doenças genéticas, respondendo por uma grande proporção de todo o desperdício reprodutivo, malformações congênitas e retardamento mental, além de desempenhar um importante papel na patogenia do câncer. As anormalidades cromossômicas são responsáveis por 60 % ou mais das síndromes identificáveis, que coletivamente são mais comuns que todos os distúrbios monogênicos mendelianos juntos (Borgaonkar, 1989). Estima-se que afetem 0,7 % dos nascidos vivos, 2 % das gestações em mulheres com mais de 35 anos de idade e 50 % dos abortos espontâneos no primeiro trimestre (Thompson et al., 1993). As anormalidades dos cromossomos podem ser numéricas ou estruturais e envolver um ou mais autossomos, cromossomos sexuais ou ambos (Thompson et al., 1993; Motta, 2000). Sem dúvida, o tipo mais comum de anormalidade cromossômica clinicamente significativa é a aneuploidia, um número anormal de cromossomos devido a um exemplar extra ou inexistente, que sempre está associada a mau desenvolvimento físico ou mental, ou ambos. As translocações recíprocas (troca de segmentos entre cromossomos não homólogos) também são relativamente comuns, mas não costumam ter qualquer efeito fenotípico, embora, estejam associadas a um risco mais elevado de prole anormal (Thompson et al., 1993). 4 1.2.1 Cromossomos humanos As primeiras técnicas de estudos em citogenética humana contavam apenas com métodos de coloração convencional os quais permitiram identificar inicialmente o que se pensou ser 48 cromossomos e mais tardiamente constatou-se que se tratavam, na verdade, de 46 agrupados em 23 pares. Destes, 22 são semelhantes em ambos os sexos e denominados autossomos. O par restante compreende os cromossomos sexuais: XX no sexo feminino e XY no masculino. Os membros de um par (descritos como cromossomos homólogos ou apenas homólogos) possuem informações genéticas equivalentes; isto é possuem os mesmos loci gênicos na mesma seqüência, mas em qualquer lócus específico eles podem ter formas idênticas ou diferentes, as quais são denominadas alelos. Um membro de cada par dos cromossomos é herdado do pai, o outro da mãe. Normalmente os membros de um par de autossomos são microscopicamente indistinguíveis um do outro. Nas mulheres, os cromossomos sexuais, os dois cromossomos X, também são indistinguíveis. Nos homens, contudo, os cromossomos sexuais diferem. Um é o X, idêntico aos Xs das mulheres, herdado de sua mãe e transmitido às filhas, o outro é o cromossomo Y, é herdado do pai e transmitido aos filhos (Thompson et al., 1993; Motta, 2000; Guerra, 1988). Os autossomos são numerados de 1 a 22 com base no seu comprimento total, sendo uma exceção o cromossomo 21, pois é um pouco mais curto que o 22. Entretanto, antes que seu tamanho menor fosse percebido, ele já era bem conhecido como cromossomo 21, presente em três cópias na maioria dos casos da síndrome de Down (Motta, 2000). A morfologia dos cromossomos é identificada a partir de uma de suas principais estruturas, o centrômero, ou constrição primária, que desempenha uma função-chave na divisão celular como a região na qual, as fibras do fuso se fixam, sendo um ponto de referência citológico básico, dividindo o cromossomo em dois braços, designados “p” para o braço curto e “q” para o longo. Os braços são indicados pelo número do cromossomo seguido da letra “p” ou “q”. Assim, “11p” siginifica braço curto do cromossomo 11 e “Yq”, braço longo do cromossomo Y. Os cromossomos humanos classificam-se segundo a posição do centrômero em três tipos: metacêntricos, com um centrômero relativamente central e braços de 5 comprimento aproximadamente iguais; submentacêntricos, com um cromossomo excêntrico e braços de comprimentos nitidamente diferentes; acrocêntricos, com o centrômero próximo a uma extremidade (Thompson et al., 1993). Os cromossomos acrocêntricos humanos (cromosomos 13, 14, 15, 21 e 22) apresentam apenas massas de cromatina (regiões satélites) fixadas aos seus braços curtos por pedículos estreitos, constrições secundárias, estas contendo genes que codificam o RNA ribossomal 45 S (Lewis, 2004). Embora os especialistas muitas vezes analisem dispersões cromossômicas diretamente ao microscópio, um procedimento comum é cortar os cromossomos de uma fotomicrografia e arranjá-los em pares na classificação padronizada. A figura montada passa a se chamar cariótipo. O mesmo termo, cariótipo, é usado também para o conjunto básico de cromossomos de um indivíduo (Thompson et al., 1993). Como citado anteriormente, os métodos de coloração originalmente disponíveis para análise citogenética humana permitiam apenas a avaliação de tamanho e morfologia dos cromossomos, mas não a identificação precisa dos 24 tipos de cromossomos (22 autossomos, X e Y). De fato, os cromossomos podiam apenas ser classificados em sete grupos, conhecidos pelas letras A a G, de acordo com seu comprimento total e a posição do centrômero. Contudo com as técnicas atualmente empregadas tornou-se possível a identificação de todos os cromossomos. Possibilitando a identificação dos cromossomos alterados em número e morfologia, surgindo então os primeiros trabalhos nesta área (Lewis, 2004). Imediatamente após as primeiras publicações descrevendo anomalias cromossômicas, ficou evidente a necessidade de uma padronização internacional da nomenclatura dos cromossomos humanos, feito nas conferencias de Denver, em 1960; Londres, em 1963; Chicago, em 1966; Paris, em 1971; Estocolmo, em 1977; além de outras de mapeamento cromossômico como a de Edimburgo, em 1979, e os relatos do Comitê de Nomenclatura de Citogenética Humana, como o de 1981, sendo aceito internacionalmente, o sistema uniforme de classificação de cromossomos, originalmente formulado na conferência de Paris, em 1971, com uma revisão feita após esse encontro, a fim de descrever os cromossomos vistos em preparações na prófase e prometáfase (Motta, 2000). 6 1.2.2 Anormalidades cromossômicas As anormalidades do número e estrutura dos cromossomos, que em geral são clinicamente significativas, podem surgir nas células somáticas e gametas por erros na divisão celular. No entanto, apenas àquelas presentes nas células de linhagem germinativa é que podem ser transmitidas aos descendentes (Motta, 2000; Borges-Osório & Robinson, 2002). 1.2.2.1 Anormalidades do número de cromossomos As alterações cariotípicas no número de cromossomos resultam de falhas na segregação dos cromossomos na formação de gametas que fecundarão ou serão fecundados, ou durante a divisão celular do zigoto. Neste último caso, surgem os mosaicos-indivíduos com linhagens celulares alteradas e normais (Thompson et al., 1993). Além do número diplóide (2n) típico das células somáticas normais, algumas vezes relatam-se dois outros complementos cromossômicos euplóides, triplóide (3n) e tetraplóide (4n). Até o presente momento foram observados poucos casos de triploidia e a tetraploidia em fetos, além disso, alguns bebês triplóides nasceram vivos, embora sua sobrevida fosse curta. A expressão fenotípica de um cariótipo triplóide depende da fonte do conjunto de cromossomos extras; os triplóides com um conjunto extra de cromossomos paternos têm uma placenta anormal e são classificados como molas idatiformes parciais, mas aqueles com conjuntos adicionais de cromossomos maternos não se classificam assim e são abortados espontaneamente mais cedo na gravidez (Motta, 2000). Os tetraplóides sempre são 92, XXXX ou 92, XXYY, sugerindo que a tetraploidia resulta de uma falha da conclusão de uma divisão por clivagem inicial do zigoto (Thompson et al., 1993). A aneuploidia é o tipo mais comum e clinicamente significativo de distúrbios dos cromossomos humanos, ocorrendo em pelo menos 3 a 4 % das 7 gestações reconhecidas. Embora por definição uma pessoa seja aneuplóide se possuir mais ou menos cromossomos do que um múltiplo exato do conjunto haplóide, a maioria dos pacientes aneuplóides apresenta trissomias (três cromossomos em vez de dois) ou menos, frequentemente, monossomia (apenas um representante de um cromossomo). Tanto a trissomia como a monossomia apresentam conseqüências fenotípicas severas (Borges-Osório & Robinson, 2002). A trissomia pode envolver qualquer cromossomo do conjunto, mas a trissomia de um cromossomo inteiro raramente é compatível com a vida. O tipo mais comum em recém-nascidos vivos é indubitavelmente, a trissomia do 21 (cariótipo 47, XX + 21 ou 47 XY +21), constituição cromossômica encontrada em 95 % dos pacientes com a síndrome de Down. A monossomia de um cromossomo inteiro quase sempre é letal, sendo uma exceção importante é a monossomia do cromossomo X (Lewis, 2004). Além das alterações numéricas são encontradas em populações humanas diferentes formas de alterações cromossômicas estruturais, as quais podem ou não levar a quadros clínicos graves. 8 1.2.2.2 Anormalidades na estrutura dos cromossomos Os rearranjos estruturais resultam de quebra cromossômica, seguida de reconstituição numa combinação modificada. O rearranjo pode ocorrer de muitas maneiras, sendo todas mais raras que a aneuploidia; o tipo mais comum uma translocação balanceada (recíproca ou robertsoniana), está presente em cerca de 1 em 500 recém-nascidos. A troca de segmentos entre cromossomos ocorre espontaneamente numa baixa freqüência e também pode ser induzida por agentes causadores de quebras (clástogenos) como radiação ionizante, algumas infecções virais e diferentes substâncias químicas. A exemplo das anormalidades numéricas os rearranjos estruturais podem estar presentes em todas as células de uma pessoa ou na forma em mosaico (Thompson et al., 1993). Os rearranjos estruturais são definidos como balanceados, se o conjunto de cromossomos possuir o complemento normal de informações genéticas, ou nãobalanceados, se houver informações a mais ou a menos. Alguns rearranjos são estáveis, capazes de passar por divisões celulares inalterados, enquanto outros são instáveis. Para ser estável, um cromossomo rearranjado deve ter elementos estruturais normais, incluindo um único centrômero funcional e dois telômeros (Motta, 2000). Nos rearranjos não balanceados, o fenótipo é provavelmente, anormal, devido a deleção, duplicação, ou ambas. A duplicação de parte de um cromossomo é comparável à trissomia parcial; enquanto que a deleção corresponde a uma monossomia parcial (Thompson et al., 1993; Motta, 2000; Lewis, 2004). Segundo Thompson et al. (1993) e Lewis (2004) deleção é a perda de um segmento cromossômico, resultando em desequilíbrio da composição gênica. O portador de uma deleção cromossômica (com um homólogo normal e um deletado) é hemizigótico para as informações genéticas no segmento correspondente do homólogo normal. As consequências clínicas dependem do tamanho do segmento deletado e do número e função dos genes que ele contém. Uma deleção pode ser terminal ou intersticial. As deleções podem originar-se simplesmente por quebra cromossômica e perda do segmento acêntrico. Por outro lado, um crossing-over desigual entre cromossomos homólogos desalinhados ou cromátides-irmãs é 9 responsável por deleções em alguns casos. As deleções também são geradas por segregação anormal a partir de uma translocação ou inversão balanceada. Em geral são identificadas numerosas deleções na investigação de pacientes dismórficos e no diagnóstico pré-natal, mas o conhecimento dos genes funcionais perdidos nos segmentos deletados e sua relação com as conseqüências fenotípicas é extremamente limitada no presente, sabendo-se apenas que diversas síndromes dismórficas estão associadas a deleções citogeneticamente visíveis (Thompson et al., 1993; Motta, 2000; Lewis, 2004 ). As duplicações, a exemplo das deleções, podem originar-se por crossingover desigual ou por segregação anormal da meiose num portador de uma translocação ou inversão. Em geral a duplicação parece ser bem menos nociva do que a deleção. Contudo, a duplicação presente em um gameta resulta em desequilíbrio cromossômico, e como as quebras cromossômicas que a geram podem romper genes, a duplicação frequentemente produz alguma anormalidade fenotípica (Motta, 2000). Embora muitas duplicações tenham sido descritas, bem poucas, foram estudadas até agora, e generalizações sobre fenótipos associados seriam prematuras. Apesar de que, certos fenótipos parecem estar associados a duplicações de determinadas regiões cromossômicas (Lewis, 2004). Os cromossomos em anel formam-se quando um cromossomo sofre duas quebras e as extremidades rompidas se reúnem numa estrutura circular. Se o centrômero estiver dentro do anel, os dois fragmentos distais, carentes de um centrômero são perdidos (Guerra, 1988). Segundo Thompson et al. (1993) os cromossomos em anel são bastante raros, no entanto já foram detectados em todos os cromossomos humanos. De acordo com Motta (2000) um isocromossomo é um cromossomo no qual um braço está ausente e o outro, duplicado. Portanto, uma pessoa com 46 cromossomos que possui um isocromossomo tem uma única cópia do material genético de um braço e três cópias do material genético do outro braço, sendo parcialmente monossômica e parcialmente trissômica. O tipo mais comum de um isocromossomo é o braço longo do cromossomo X, i(Xq), em alguns indivíduos com a síndrome de Turner. No entanto 10 também foram descritos isocromossomos de vários autossomos, incluindo o braço curto do cromossomo 18, i(12p). Os isocromossomos também são observados com freqüência em cariótipos de tumores sólidos e de cânceres hematológicos (Lewis, 2004). Os cromossomos dicêntricos são um tipo raro de cromossomo anormal, no qual, dois segmentos cromossômicos (de cromossomos diferentes ou das duas cromátides de um único), cada um apresentando um centrômero, fundem-se extremidade com extremidade, com perda dos fragmentos acêntricos. Em virtude dos seus dois centrômeros, os cromossomos dicêntricos tendem a quebrar-se na anáfase; contudo, se os dois centrômeros estiverem próximos, ou se um for inativado (Therman et al., 1974), um cromossomo dicêntrico pode ser estável. Tais cromossomos são designados pseudodicêntricos. Os pseudodicêntricos mais comuns envolvem um ou ambos os cromossomos sexuais (Thompson et al., 1993; Lewis, 2004). De acordo com Abramova et al. (1993) e Prokofieva-Belgovskaya et al. (1968), a associação de cromossomos acrocêntricos pelas regiões satélites tem sido alvo de variados estudos que investigam sua possível relevância na etiologia de anormalidades cromossômicas. Contudo, os resultados de tais investigações apresentam-se, às vezes, bastante contraditórios, especialmente quando se pondera a participação de regiões organizadoras de nucléolo neste processo ou sua relação com parâmetros de idade, sexo, genótipo, condições de cultivo, entre outros. Uma explicação aceita para a formação de cromossomos dicêntricos é baseada na habilidade de regiões heterocromáticas, localizadas no braço curto de cromossomos não homólogos, em conjugar-se. Assim, a associação de cromossomos acrocêntricos pode ser condicionada por alterações nas propriedades do nucléolo ou na natureza destas regiões heterocromáticas. Os rearranjos cromossômicos não costumam ter nenhum efeito fenotípico se forem balanceados, por que todas as informações genéticas estão presentes, embora acondicionadas de forma diferente. Contudo os rearranjos estruturais representam uma ameaça à geração seguinte, porque os portadores produzem uma alta freqüência de gametas não-balanceados e, portanto, têm um risco aumentado de uma progênie anormal com cariótipos não-balanceados. Há também a possibilidade de que uma das quebras cromossômicas destrua um gene, levando a mutação. Esta é uma causa bem documentada de doenças ligadas ao X em 11 mulheres portadoras de translocações X-autossomo, sendo um indício útil da localização do gene responsável por uma doença genética. As translocações balanceadas são mais comuns em indivíduos com retardamento mental, em casais que tiveram dois ou mais abortos espontâneos e em homens inférteis do que na população em geral (Motta, 2000). As translocações consistem em trocas de segmentos entre cromossomos não homólogos. Havendo dois tipos principais: a translocação recíproca e a robertsoniana (Guerra, 1998). Nas translocações recíprocas o rearranjo resulta da quebra de cromossomos não homólogos, com troca recíproca dos segmentos soltos. Estes rearranjos costumam ser inofensivos, para o portador, mas a exemplo de outros rearranjos estruturais balanceados, estão associadas a um alto risco de gametas não-balanceados e progênie anormal. Relativamente comuns e encontradas em cerca de 1 em 500 recém-nascidos, estas translocações são descobertas durante o diagnóstico pré-natal ou quando os pais de uma criança anormal com uma translocação não-balanceada são cariotipados. Já as translocações robertisonianas envolvem dois cromossomos acrocêntricos que se fundem próximo a região do centrômero com perda dos braços curtos. O cariótipo balanceado resultante tem apenas 45 cromossomos, incluindo o cromossomo com translocação que na verdade é constituído pelo braço longo dos dois cromossomos. Como os braços curtos dos cinco pares de cromossomos acrocêntricos possuem cópias múltiplas de genes do RNA ribossômico, a perda dos braços curtos de dois destes cromossomos não é nociva, exceto para a prole (Thompson et al., 1993; Motta, 2000; Lewis, 2004). Sabe-se que, estruturalmente, os braços curtos dos cromossomos acrocêntricos são semelhantes. Assim, especula-se que as propriedades compartilhadas por estes são cromossomos seja um fator causal de translocações robertsonianas (Cheng & Naluai-Cecchini, (2004). Ohno et al. (1961) observou que há uma tendência para cromossomos acrocêntricos em formar um nucléolo comum durante a mitose e postularam que translocações robertisonianas, portanto, poderiam ocorrer durante mitose ou meiose I como resultado da troca cromática entre acrocêntricos que foram associados pelos mesmos nucléolos. Uma inversão ocorre quando um único cromossomo sofre duas quebras, sendo reconstituído com o segmento intersticial invertido. As inversões são de dois 12 tipos: paracêntricas (sem envolver o centrômero), nas quais as duas quebras ocorrem em um único braço, e pericêntricas (envolvendo o centrômero), quando há uma quebra em cada braço. Como as inversões paracêntricas não alteram as proporções dos braços dos cromossomos, são identificáveis apenas por bandeamento. Já as inverções pericêntricas são mais fáceis de identificar citogeneticamente, porque podem alterar a proporção dos braços cromossômicos além do padrão de bandeamento (Thompson et al., 1993). Assim como as translocações as inversões geralmente não causam um fenótipo anormal nos portadores, pois é um rearranjo balanceado. Sua importância médica é para a progênie; o portador de um dos tipos de inversão corre o risco de produzir gametas anormais que podem levar a uma prole não-balanceada (Motta, 2000; Lewis, 2004). Poucos foram os casos de inversões identificados na espécie humana. No entanto, existe o registro de um com particularidades familiais interessante, o de uma inversão pericêntrica do cromossomo 3, observada inicialmente em uma família de múltiplas gerações da ilha de Terra Nova (Allderdice et al., 1975), é uma das poucas inversões para as quais se obtiveram dados suficientes para permitir uma estimativa da segregação do cromossomo com inversão na prole dos portadores. Desde então, a inv(3) (p25q21) foi relatada por vários centros norte-americanos em famílias cujos ancestrais provinham de Terra Nova. Os portadores dos cromossomos 3 invertidos são normais, mas alguns de seus filhos apresentam fenótipos anormal típico associado ao cromossomo 3 recombinante, no qual há duplicação do segmento distal 3q21 e deficiência do segmento distal 3p25. Nove indivíduos portadores da inversão tiveram 53 gestações registradas que resultaram em 7 abortos espontâneos, 31 crianças fenotipicamente normais e 15 crianças com anomalias congênitas múltiplas, das quais 12 morreram no primeiro ano de vida (Allderdice et al., 1975). Embora tais dados possam ser típicos por serem viciados devido a inclusão deliberada de portadores com fracas histórias reprodutivas, o elevado risco empírico de um resultado anormal da gravidez neste grupo (22/53, ou > 40%) indica a importância dos estudos cromossômicos das famílias para identificar portadores e oferecer informação genética e diagnóstico prénatal. 13 Apesar da inversão do cromossomo 3 ter se tornado um marco para estudos populacionais e de aconselhamento genético, a inversão mais comum dos cromossomos humanos é uma pequena inversão pericêntrica do cromossomo 9, que está presente em até 1% dos indivíduos testados por laboratórios de citogenética. A inv(9)(p11q12) não tem efeito nocivo conhecido sobre os portadores e não parece estar associada a um risco significativo de aborto ou prole não balanceada; por isso, geralmente é considerada uma variante normal (Lewis, 2004). Algumas vezes foram observados cromossomos marcadores muito pequenos em culturas de cromossomos, geralmente num estado em mosaico, existindo além do complemento cromossômico normal, cromossomos extras, denominados cromossomos supranumerários. Embora superficialmente pareça ser uma anormalidade numérica, um cromossomo marcador também é um rearranjo estrutural (Thompson et al., 1993). 14 1.2.1 Métodos de coloração para análise de rotina Vários métodos de bandeamento são empregados rotineiramente nos laboratórios de citogenética para identificação dos cromossomos e análise da estrutura cromossômica. Como a coloração convencional, que permite a visualização do tamanho e morfologia dos cromossomos; o bandeamento G que evidencia bandas claras e escuras distribuídas ao longo dos cromossomos, possibilitando a identificação dos pares de cromossomos homólogos assim como alterações estruturais que estes possam apresentar; o bandeamento C, que identifica regiões cromossômicas contendo heterocromatina constitutiva (classe de DNA altamente repetitivo), normalmente localizada nas áreas pericentroméricas; e marcação das regiões organizadoras de nucléolo (RONs), que identifica os cromossomos portadores dos genes codificadores de RNA ribossomal 45 S. Normalmente encontrados nas regiões de constrições secundárias dos cromossomos metafásicos (Borges-Osório & Robinson, 2002). Em virtude da complexidade e custo da análise dos cromossomos, seu uso costuma limitar-se a casos com indicações precisas. Além dos fenótipos mencionados, nos quais, a análise cromossômica é parte essencial da avaliação clínica, existem também quatro indicações clínicas gerais inespecíficas sugerindo a necessidade de análise citogenética: 1- Vários problemas do crescimento e desenvolvimento iniciais. Atraso do crescimento e desenvolvimento, fácies dismórfica, malformações múltiplas, baixa estatura, genitália ambígua e retardamento mental são achados freqüentes em crianças com anormalidades cromossômicas, embora não restritos a esse grupo. A menos que haja um diagnóstico não cromossômico claro, deve-se realizar a análise cromossômica dos pacientes que apresentam uma combinação desses problemas (Thompson et al., 1993). 15 2-Parto de natimorto e morte neonatal. Sabe-se atualmente que a incidência de anormalidades cromossômicas é bem mais alta entre natimortos do que entre nativivos. Também é elevada em bebês que morrem no período neonatal. A análise cromossômica deve ser realizada em todos os natimortos e casos de morte neonatal que possam ter uma base citogenética, a fim de, identificar uma possível causa ou, então, excluir uma anormalidade cromossômica como o motivo da perda. Em tais casos a cariotipagem é essencial a uma informação genética precisa, além de fornecer dados importantes para o diagnóstico pré-natal em gestações futuras (Thompson et al., 1993). 3-Problemas de fertilidade. Os estudos dos cromossomos estão indicados para mulheres que se apresentem com amenorréia e casais com história de infertilidade ou aborto habitual. Encontra-se uma anormalidade cromossômica (em geral um rearranjo estrutural ou mosaicismo dos cromossomos sexuais) em um ou outro genitor numa proporção significativa (3 a 6 %¨) dos casos que apresentaram dois abortos espontâneos sucessivos ou infertilidade (Thompson et al., 1993). 4-História familiar. Uma anormalidade cromossômica conhecida ou suspeita em um parente de primeiro grau é uma indicação de análise cromossômica em certas circunstâncias. A análise cromossômica em familiares com fenótipo normal é obviamente desnecessária quando se sabe que o probando tem a síndrome de Down com trissomia do 21. Por outro lado, se um paciente tiver a síndrome de Down por translocação, deve-se analisar os cromossomos dos pais e caso se constate que um genitor é portador de uma translocação, é necessário estender o estudo a outros familiares e algumas vezes a populações (Thompson et al., 1993). A incidência dos diferentes tipos de aberrações cromossômicas foi medida em grandes levantamentos populacionais, sendo identificados como principais distúrbios numéricos três tipos de trissomias autossômicas (do 21, do 18 e 16 do 13) e quatro tipos de aneuploidias dos cromossomos sexuais: síndrome de Turner (geralmente 45, X); síndrome de Klinefelter (47, XXY; 47, XYY e 47, XXX). A triploidia e a tetraploidia responsáveis por pequena porcentagem dos casos, sobretudo em abortos espontâneos (Thompson et al., 1993). No entanto, algumas patologias caracterizadas como de origem genética, menos freqüentes, não foram devidamente estudadas por meio de dados citogenéticos, tendo como conseqüência um diagnóstico inconclusivo. Assim, os estudos citogenéticos tem se tornado uma chave para a compreensão de alguns estados patológicos na espécie humana, sendo importante conhecer a distribuição e freqüência das numerosas alterações cromossômicas presentes, as quais, tem sido bastante úteis (Borgaonkar et al., 1978; Schinzel, 1984; Mitelman, 1985). Estudos citogenéticos realizados em pacientes com quadros clínicos sugestivos de mutações cromossômicas, tem levado a um crescente conhecimento e caracterização de doenças genéticas até então desconhecidas, muitas delas associadas a casos de câncer. Notou-se também nesses estudos que alguns tipos de tumores apresentam alterações cromossômicas particulares. Vários estudos têm sugerido que indivíduos com síndrome de Klinefelter (47,XXY), apresentam um risco aumentado de desenvolver câncer de mama (Coley et al., 1971; Lynch et al., 1974; Sanchez et al., 1986) e outras malignidades tais como tumores gonadais (Beker, 1972; Gustavson et al., 1975; Isurugi et al., 1977; Nagata et al., 1978). Dhaliwal et al. (1989) estudaram citogeneticamente o sarcoma dos pulmões e os sintomas clínicos da síndrome de Klinefelter em um homem branco de 20 anos de idade. Este paciente apresentava linhagens celulares múltiplas demonstrando polissomias de ambos os cromossomos sexuais, observando-se as seguintes constituições cromossômicas: 49, XXYYY, 48,XXYY, 47,XXY e 46,XY em sua primeira amostra de sangue. No entanto, na segunda amostra recebida um ano depois ele mostrou somente 49,XXYYY e 48,XXYY, indicando que as células mais alteradas do ponto de vista citogenético haviam tornado-se mais numerosas. Duarte et al. (1990) descreveram um caso raro de mosaicismo cromossômico 46, XX,r(13)/46,XX, iso psu dic (13) em uma paciente que apresentava sinais clínicos semelhantes aos observados na síndrome do cromossomo 13 em anel (Niebuhr, 1977), discutindo uma hipótese de origem 17 comum para as duas linhagens celulares e comparam os achados clínicos e citogenéticos aos descritos na literatura. Baseado nos trabalhos descritos acima, verifica-se que as anomalias fenotípicas geradas por alterações cromossômicas podem ser as mais variadas como: retardamento mental, microcefalia, dismorfismo, anormalidades ósseas e outras. Nesse âmbito, a citogenética vem sendo caracterizada como uma subdisciplina dentro da genética que associa variações cromossômicas a características específicas, inclusive doenças, sendo de grande utilidade na detecção de alterações cromossômicas numéricas e estruturais, além de desempenhar um importante papel no aconselhamento genético. Como exemplo mais claro, temos os dados do projeto genoma, que associados aos citogenéticos estão permitindo identificar os genes relacionados aos sintomas de síndromes cromossômicas pouco conhecidas (Lewis, 2004). 18 1.3 DOENÇA DE DARIER A doença de Darier (DD) é definida como uma doença genética autossômica dominante, cujas manifestações clínicas consistem, sobretudo, na formação de pápulas firmes, gordurosas e queratósicas na pele, localizadas predominantemente nas áreas seborreias da região anterior do tórax, costas, pescoço, couro cabeludo e nas flexuras (virilhas, axilas, região anogenital, entre outras). Apresenta uma expressividade diferenciada, variando de leve, assinalada por pápulas queratósicas esparsamente espalhadas ou lesões limitadas a uma ou duas por área (figura 1), a severa, assinalada por placas verrucosas ou flexuras grosseiramente hipertróficas (figura 2). A DD tem uma prevalência estimada de 1 em 55.000. A idade de início dos sintomas é tipicamente na secunda década de vida com pico entre 11 e 15 anos podendo, posteriormente, ocorrer pequena ou nenhuma regressão (Burge & Wilkinson, 1992; Cooper & Burge, 2003; Munro, 1992; Jacobsen et al., 1999). Figura 1. Pápulas queratósicas de DD localizadas no lado esquerdo do peito inferior. (Fonte: Goldberg et al., 2001) Figura 2. Placa verrucosa de DD localizada no tronco de um homem de 40 anos de idade (Fonte: Puri, 2011) 19 Dentre as outras manifestações clínicas da DD, a coceira tem o maior número de queixas por parte dos pacientes ocorrendo em cerca de 88% de uma série de casos. A dor também pode ser um sintoma, mas as pápulas podem ser assintomáticas. Muitos pacientes reclamam ainda de mau cheiro especialmente em locais de flexuras, onde infecções secundárias aparecem frequentemente. Calor, sudorese, luz solar, e estresse podem agravar as lesões. Uma minoria das mulheres afetadas relatam exacerbação dos sintomas no período pré-menstrual. O envolvimento de unhas é um sinal, muitas vezes, característico. Implicação oral, geralmente palatal, pode ser observada variando de um granulado fino para uma aparência grosseira de 'cascalho' no palato. Menos frequentemente, há o envolvimento lingual ou bucal (Burge & Wilkinson, 1992; Cooper & Burge, 2003). Diversos estudos de famílias, gêmeos e adoção relatam casos de indivíduos apresentando, além das deformidades dermatológicas da DD, manifestações neuropsiquiátricas tais como epilepsia, deficiência mental, transtornos de humor, comportamento suicida e psicose (Burge & Wilkinson, 1992; Jacobsen et al., 1999). O diagnóstico de DD é realizado através da análise clínica e da análise histológica de biópsias das lesões cutâneas. Histologicamente, as características típicas observadas são de áreas focais de separação entre células epidérmicas suprabasais (acantólise), fissuras e disqueratose suprabasal incomum (queratinização anormal) com queratinócitos disceratóticos redondos (corpos redondos). Análises em microscopia eletrônica revelam perda de anexos desmossomais, agregações perinucleares de filamentos de queratina e vacuolização citoplasmática. Tais observações permitem entender que as moléculas que medeiam a adesão entre os queratinócitos, tais como as caderinas desmossomais e proteínas de placa, ou proteínas dos filamentos intermediários podem estar envolvidas na perda de adesão célula-célula na epiderme (Burge & Garrod, 1991). O tratamento para DD é empírico a parcialmente eficaz em alguns pacientes. Porém, consiste, sobretudo, em controlar o sintoma mais frequente: a irritação da pele (Burge, 1999). Todos os pacientes devem ser orientados sobre emolientes simples e substitutos de sabão e a manter a pele sempre fresca, usando roupas de algodão confortável. Cremes corticosteroides de uso tópico podem ser 20 úteis em alguns pacientes. Protetor solar é recomendado para aqueles com um histórico de agravamento ao ter exposição à luz solar (Cooper & Burge, 2003). O gene causador da DD foi identificado na região cromossômica 12q23q24.1 e tem sido alvo de diversos estudos genéticos que consideram haver uma associação entre esta região e as manifestações neurológicas co-ocorrentes. Este gene foi aferido como o gene ATP2A2 afetado por várias mutações específicas descritas em famílias com histórico de DD. Este gene codifica SERCA2 - um retículo endoplasmático/sarcoplasmático cálcio ATPásico isorforma 2, o qual desempenha uma função importante na sinalização intracelular de cálcio (Bashir et al., 1993; Craddock et al., 1993; Sakuntabhai et al., 1999). Íons cálcio são conhecidos por participarem na regulação da diferenciação celular e na montagem de desmossomas. Ao que parece, as lesões ocorrentes na DD são resultado de perda de aderência como consequência de quebra dos desmossomas, proveniente da perda total ou parcial da função de \ (Cooper & Burge, 2003; Sakuntabhai et al., 1999). Jacobsen et al. (1999) realizaram um estudo onde confirmou haver uma associação entre as mutações no gene ATP2A2 (do exon/íntron 1 a 19) e a DD. Nele, foram identificadas 17 mutações possíveis, distribuídas por todo o gene ATP2A2 em um número de domínios funcionais considerados fundamentais para o correto funcionamento da molécula de SERCA2. Tais mutações podem causar um término precoce da tradução e também um decaimento acelerado de mRNA, que, por sua vez, leva a uma síntese deficiente de proteínas. Consequentemente, tem-se interrupções funcionais tais como: anormais transporte e processamento proteico no retículo endoplasmático ou sinalização cálcio-dependente alterada. É possível ainda que estas interrupções funcionais, em alguns indivíduos, interajam com fatores secundários de susceptibilidade relacionados aos fenótipos neuropisiquiátricos decorrentes. Estes fatores poderiam tratar-se de proteínas neuronal-específicas as quais possuem polimorfismos funcionais. Em outro estudo realizado por Jones et al. (2002) em uma família caucasiana de origem europeia, a qual alguns indivíduos apresentavam conjuntamente DD e transtorno afetivo e outros apenas transtorno afetivo, observouse que a tão somente mutação de Darier não é causa suficiente para a ocorrência de transtorno afetivo. Assim, apontam-se três hipóteses para a coocorrência de DD 21 e sintomas neuropsiquiátricos: (1) transtorno afetivo é uma reação psicológica paralela a doença crônica de pele e não relacionada a susceptibilidade biológica; (2) a mutação de Darier em si aumenta a vulnerabilidade a transtorno afetivo (hipótese de efeito pleiotrópico); ou (3) há uma ligação genética entre o gene da DD e um ou mais genes de susceptibilidade à transtorno afetivo individuais, localizados na mesma região cromossômica. Esta última hipótese está de acordo com Cordeiro et al. (2000) e Green et al. (2005), os quais reafirmam que, uma vez que ambos órgãos, pele e cérebro, compartilham a mesma origem embrionária, ectoderma, há a possibilidade de que a co-ocorrência de DD e os referidos sintomas neuropsiquiátricos se deva a uma associação entre o gene ATP2A2 e outros genes localizados na mesma região cromossômica (12q23-q24). Moriuchi et al.(2008) apontam, ainda, um caso incomum de uma paciente de 32 anos de idade, diagnosticada com DD, apresentando lesões cutâneas restritas as extremidades corpóreas e não nos locais habituais como face e regiões seborreias do tronco. A mesma não possuía histórico familiar de doenças de pele e não apresentava qualquer problema neurológico ou psiquiátrico. Este achado indica que se faz necessária uma análise mais aprofundada dos dados referentes a mutações no gene ATP2A2 para se elucidar precisamente a correlação genótipo/fenótipo na DD, a qual ainda não está totalmente compreendida (Cooper & Burge, 2003). Diante do exposto e tendo em vista a importância da caracterização cariotípica em doenças genéticas raras, sejam estas gênicas ou de causa cromossômica, pois permite a melhor compreensão dos mecanismos genéticos envolvidos e auxilia no diagnóstico, prognóstico e aconselhamento genético, faz-se necessária uma análise citogenética desta patologia, uma vez que, até o presente momento, não há qualquer estudo a nível cromossômico referente a DD presente na literatura. 22 2 OBJETIVOS 2.1 GERAL Estudar cariotipicamente indivíduos portadores da doença de Darier, provenientes de uma família com histórico da doença, residente no município de Terra Alta/PA/Brasil. 2.2 ESPECÍCOS Caracterizar citogeneticamente indivíduos portadores da DD, verificando a ocorrência de manifestações cromossômicas anormais. Comparar os dados obtidos neste estudo com os já publicados na literatura, a fim de propor (novas) alterações cromossômicas relacionadas à DD. Averiguar a coocorrência de DD e os sintomas neuropsiquiátricos associados em uma família com histórico da doença. Contribuir para o melhor entendimento da relação Fenótipo/Genótipo da DD. 23 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 ÁREA DE ESTUDO O presente estudo teve como alvo dois indivíduos pertencentes a uma família com histórico de doença de Darier, residente no município de Terra Alta/ Pará/ Brasil. Os mesmos se submeteram a coleta de sangue mediante a assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foi coletado também sangue de um indivíduo sem histórico de doença de Darier que representou o grupo controle do estudo. 3.2 LOCAL DE REALIZAÇÃO DO ESTUDO Os procedimentos de armazenamento das coletas de sangue, técnicas de bandeamento G, fotografia, montagem e análise dos cariótipos foram realizados no Instituto Evandro Chagas (IEC), localizado na Rodovia BR-316 km 7 s/n , bairro Levilândia – Ananindeua. O IEC é um órgão vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde (MS). Sua área de atuação está relacionada às investigações e pesquisas nas áreas de Ciências Biológicas, Meio Ambiente e Medicina Tropical. O instituto tem se notabilizado por inúmeras descobertas, o que o torna referência mundial como centro de excelência em pesquisas científicas. 24 3.3. OBTENÇÃO DE CROMOSSOMOS METAFÁSICOS Os cromossomos metafásicos foram obtidos pela técnica de cultura de linfócitos, com modificações: Nesse procedimento foram coletados de 3-5 mililitros (mL) de sangue periférico de cada indivíduo em seringa estéril e heparinizada. Em seguida, este sangue foi transferido para o meio de cultura 199, previamento acrescido de 0,2 ml de Fitohemaglutinina, onde foi misturado por meio de agitações suaves. A seguir, as culturas foram incubadas à 37° C em estufa durante 72 horas (h). Após essa etapa foi procedida a obtenção dos cromossomos, com as etapas de colchicinização, hipotonização e fixação. A colchicinização realizou-se 1 hora antes de se completarem as 72 h. Nesta, acrescentou-se 0,1 mL de solução de colchicina na concentração de 0,0016%. Ao término deste período, o material foi homogeneizado, transferido para tubo de ensaio e centrifugado a uma velocidade de 1000 rotações por minuto (RPM) durante 10 minutos. O sobrenadante foi desprezado, e o sedimento ressuspendido suavemente com 5 mL de solução hipotônica de Cloreto de Potássio (KCl) a 0,56 % (0,075 M) e mantido em estufa à uma temperatura de 37 0 C durante 10 minutos para se realizar a hipotonização das células. Após esses 10 minutos, realizou-se a fixação do material. Para tal, acrescentou-se 1 mL de fixador Carnoy (3 mL de metanol (MERCK) para 1 mL de ácido acético glacial (MERCK) - fixador (3:1), sendo a suspensão homogeneizada com auxílio de pipeta Pasteur. O material foi centrifugado a 1000 rpm por 10 minutos, o sobrenadante desprezado e o sedimento ressuspendido com pipeta Pasteur em 5 mL de fixador (3:1). Este procedimento foi repetido mais duas vezes, sendo que na última vez, após desprezar o sobrenadante, foi acrescentada uma pequena quantidade de fixador (3:1), suficiente para que a suspensão celular apresentasse uma concentração adequada. 25 3.4 PREPARAÇÃO DE LÂMINAS As lâminas, devidamente lavadas e mantidas em álcool a 70 %, foram secas com papel toalha e colocadas sobre um suporte no interior de um banhomaria a 600C, até ficarem umedecidas pelo vapor. A suspensão celular foi gotejada de três a cinco vezes em cada lâmina e então foram deixadas para secar a temperatura ambiente. As lâminas foram identificadas, guardadas em caixas plásticas apropriadas, e mantidas em refrigerador até o procedimento de análise. 3.5 TÉCNICAS DE COLORAÇÕES CONVENCIONAIS 3.5.1 Coloração convencional por giemsa As lâminas com o material fixado foram colocadas sobre um suporte e coradas com uma solução de Giemsa (MERCK), diluída em tampão fosfato (10,6794 g de Na2HPO4. 2H2O : 8,1654 g de KH2PO4 para 1 litro de água destilada, pH 6,8) na proporção de 1:30, por 10 minutos. Em seguida as lâminas foram lavadas com água destilada e secas a temperatura ambiente. 3.5.2 Bandeamento G, segundo Seabright (1971) com modificações As lâminas foram colocadas em solução de 2x SSC (Na3C6H6O7 . 2H2O citrato de sódio 8,82 g + NaCl cloreto de sódio 17,532 g para 1 l de água destilada) por 1 minuto. Foram lavadas em água destilada e secas. A seguir, foram coradas com solução de Wright (2,5 g do corante de Wright (SIGMA) diluído em 1000 mL de metanol MERCK) diluída a uma proporção de 1:3 (1 parte de solução estoque para 26 três partes de tampão, pH 6,8), durante dois minutos e trinta segundos. Então, foram lavadas e secas a temperatura ambiente. 3.5.3 Marcação de região organizadora de nucléolo, segundo Howell & Black (1980), com modificações As lâminas foram colocadas sobre um suporte e sobre elas foram despejadas duas gotas de solução de gelatina (5 g de gelatina + 25 mL de água deionizada à 600C + 0,25 mL de ácido fórmico), e quatro gotas de solução de nitrato de prata (AgNO3), a 50 %. A seguir, este material foi coberto com uma lamínula. As lâminas foram invertidas e colocadas em uma câmara úmida escura, que, em seguida, foi levada para a estufa e mantida à 600C por cerca de 5 minutos, estando este tempo sujeito a variações. Após isto, as lâminas foram lavadas, secas e coradas por 1 minuto com solução de Giemsa diluída em tampão fosfato pH 6,8 a uma proporção de 1:100. 27 3.6 ANÁLISE CROMOSSÔMICA As lâminas processadas com as técnicas descritas acima foram analisadas em fotomicroscópio Olympus, inicialmente com objetivas de menor aumento 10 X, 20X, 40X, ocular de 10X, e optovar 1,25, onde as melhores metáfases foram selecionadas para serem fotomicrografadas com objetiva de 100X, utilizando um sistema de captura de imagens do tipo Karyotyping em microscópio Axioskop 40. Para tal, utilizou-se o Sistema de software BandView para bandeamento G automático, incluindo PC/frame Grabber/VDS-CCD/windows MultiSpecies, para uso com BandView, C-mount de 0.63x para adaptação microscópio/câmera para uso com Softwares BandView/ Fish View/ CGH. O padrão de montagem dos cariótipos seguiu os já apresentados por Guerra (1988), Thompson et al. (1993), Motta (2000), Borges-Osório et al. (2002) e Lewis (2004). 28 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dois indivíduos analisados neste estudo, indivíduo 7 e indivíduo 5, pertenciam a uma família composta por 7 pessoas, sendo 5 destas diagnosticadas com DD dentre essas, 2 apresentado sintomas neuropsiquiátricos: uma menina de 2 anos de idade, afetada com DD, filha única de mãe afetada com DD e apresentando demência e pai não-afetado; avó materna afetada com DD e apresentando demência; tio e tia maternos afetados com DD e avô materno não-afetado (figura 3). 1 2 I 3 4 5 6 II 7 III Figura 3. Família afetada pela doença de Darier. Probandos marcados em preto representam afetados. Tracejado representa ocorrência de demência. Observando-se a figura 3, que contém o padrão de herança mendeliana da DD nesta família, pôde-se inferir que a mesma caracteriza-se como autossômica dominante, pois as manifestações fenotípicas surgem em todas as gerações (I, II e III) e têm incidência semelhante em ambos os sexos (Thompson et al.,1993; Motta, 2000). Este achado está de acordo com os dados apresentados por Burge & Wilkinson (1992); Munro (1992); e Jacobsen et al. (1999), que identificaram o mesmo padrão de herança gênica para a DD. Porém, um achado contrário ao destes autores foi o fato de o indivíduo 7 apresentar sintomas da referida doença de forma precoce, uma vez que o mesmo possuía dois anos de idade e os primeiros sintomas surgem, geralmente, a partir da segunda década de vida. No entanto, Dal Magro et al. (2003) relataram um caso de um indivíduo do sexo feminino cujas 29 primeiras manifestações da DD surgiram aos 18 meses de idade, semelhante ao ocorrido no indivíduo 7 deste estudo, o que permite inferir que esta doença, ainda que esporadicamente, pode iniciar nos primeiros anos de vida. Nota-se também que as manifestações neuropsiquiátricas apresentam-se em dois indivíduos das duas primeiras gerações, ambos portadores da DD. Este dado consente com a hipótese apresentada por Jones et al. (2002), Cordeiro et al. (2000) e Green et al. (2005) de que haja uma associação entre o gene responsável pela DD (ATP2A2) e um ou mais genes de susceptibilidade ao fenótipo neuropsiquiátrico anormal que leva a ambas ocorrências em alguns indivíduos. Além disso, vê-se que a hipótese de efeito pleiotrópico do gene ATP2A2 tende a ser refutada pelo fato de três indivíduos afetados pela DD não apresentarem qualquer alteração neuropsiquiátrica, reforçando o exposto por Jones et al. (2002) de que a mutação de Darier, por si só, não é causa suficiente de ocorrência de sintomas neuropsiquiátricos. Entretanto, não se descartam as possibilidades de que estes indivíduos desenvolvam sintomas neuropsiquiátricos em momento posterior e/ou que haja um ou mais genes, com padrão de herança diferenciado, localizados em outra região cromossômica, os quais assumam papel na regulação da expressão do gene ATP2A2 no tecido nervoso, uma vez que neste estudo não foi feita nenhuma análise gênica a nível molecular da DD. A partir da técnica de cultura de linfócitos dos dois indivíduos analisados, obtiveram-se cromossomos metafásicos de boa qualidade pelos quais foi possível realizar coloração convencional, bandeamento G e marcação de regiões organizadoras de nucléolo. Por coloração convencional notou-se, no indivíduo 7, a presença de um cromossomo dicêntrico (cromossomo com dois centrômeros) formado pela união dos braços curtos de dois cromossomos acrocêntricos do grupo D (Figura 4). Os cromossomos do grupo D (pares 13, 14 e 15) juntamente com os do grupo G (pares 21 e 22) são portadores de regiões organizadoras de nucléolo, localizadas no braço curto. Desse modo, algumas vezes são encontrados associados por essa região, devido ao estado homogêneo do nucléolo no núcleo interfásico (Ferguson-Smith & Handmaker's, 1961). No entanto, a frequência com a qual foram vistos associados neste indivíduo, 80 % das metáfases analisadas em um total de 141, é atípico, sendo sugestivo de rearranjo cromossômico. 30 A presença de rearranjo foi reforçada através do bandeamento G, no qual se identificou a associação de cromossomos específicos, um cromossomo do par 13 e um do par 15 (Figura 5). Este achado permite inferir que, já que as associações pelas RONs ocorrem de forma aleatória entre os cromossomos dos grupos D e G, tal associação não ocorreria se fosse uma simples associação de RONs, sendo portanto, qualificada como um rearranjo e não uma simples associação cromossômica de RONs. Este achado é reforçado ao se comparar com os de um estudo realizado por Hecht et al. (1968), o qual observou que, de um total de 33 translocações esporádicas dos grupos D e G, 30 envolviam o cromossomo 14 e apenas 3 destas envolviam o cromossomo 15, e aos achados de Shaw et al. (1969) e de Donahue & Jacobs (1982), que em seus estudos afirmaram que alguns indivíduos possam ter padrões particulares de associação cromossômica. Além disso, pela marcação das RONs, verificou-se que existe uma pequena porção de DNA entre as marcações (Figuras 6a, 6b e 6c), ratificando que a associação dos cromossomos não é pelas RONs. No indivíduo 5 (mãe do indivíduo 7) observou-se por coloração convencional a presença, novamente, de um cromossomo dicêntrico, em algumas células, formado pela união de dois acrocêntricos do grupo D (Figura 7), semelhante ao encontrado em sua filha, o que foi observado em 62% das metáfases analisadas em um total de 20. Por outro lado, não se observou qualquer manifestação atípica no cariótipo G bandeado do indivíduo 5, logo, não foi possível identificar quais pares cromossômicos estiveram associados pela coloração convencional. E assim, tanto o indivíduo 7 como o indivíduo 5 apresentaram cariótipos com constituições normais (Figuras 8 e 9, respectivamente). Estes dados sugerem três hipóteses explicativas: (1) há a possibilidade de mosaicismo cromossômico, no qual parte das células apresentam cromossomos associados e parte não, indicando a necessidade de estudos complementares, cujo intuito seja confirmar a presença do mesmo e identificar sua origem, caso confirmado; (2) as associações cromossômicas constatadas não tem relação com o fenótipo de Darier, sendo alegóricas de outras características genéticas dos indivíduos analisados, o que é relevado no estudo de Shaw et al. (1969), que observou que, em um total de 67 metáfases analisadas, provenientes de mulheres normais, 36 possuíam cromossomos acrocêntricos associados; e (3) este comportamento cromossômico está sujeito apenas aos 31 linfócitos (células utilizadas na técnica obtenção de cromossomos metafásicos desta pesquisa), às condições de cultivo aplicadas e/ou a indivíduos do sexo feminino, que foram o alvo deste estudo, pois, conforme abordado por Abramova et al. (1993) e Prokofieva-Belgovskaya et al. (1968), associações envolvendo cromossomos acrocêntricos ocorrem de maneira não totalmente compreendida, variando conforme parâmetros de idade, sexo, genótipo, tipo celular, alterações patológicas e condições de cultivo. Por outro lado, no indivíduo utilizado como grupo controle observou-se que 100 % dos cariótipos analisados, em um total de 20 metáfases, não apresentaram nenhum tipo de associação ou rearranjo cromossômico (figura 10), o que avigora a presença atípica das associações cromossômicas observadas nos indivíduos 7 e 5 e reduz a possibilidade de as mesmas serem resultado de falha nos métodos de obtenção dos cromossomos metafásicos ou análise dos mesmos. As observações do mesmo padrão cariotípico nos dois indivíduos alvo deste estudo, um cromossomo dicêntrico, sugerem tratar-se de um comportamento cromossômico anômalo característico da DD, com possibilidade de transmissão aos decendentes. Contudo, não há qualquer relato na literatura científica que apresente tal rearranjo como peculiar nesta enfermidade. Do mesmo modo, Bashir et al. (1993), Craddock et al. (1993) e Sakuntabhai et al. (1999) identificaram o gene responsável pela DD presente no cromossomo 12, porém, neste estudo, não se observaram alterações cromossômicas de nenhuma natureza neste cromossomo, o que o torna alvo de estudos futuros que visem encontrar relação entre ele e os cromossomos rearranjados presentes nos indivíduos 7 e 5. Em suma, faz-se necessária uma ampliação deste projeto, tanto a nível cariotípico quanto gênico, que se estenda a todos os constituintes da referida família, a fim de reforçar a presença do rearranjo cromossômico observado, verificando se o mesmo está, de fato, relacionado a DD, bem como de averiguar qual(is) mutação(es) ocorrem no gene ATP2A2 destes indivíduos e se as mesmas tem ligação com possíveis genes de susceptibilidade a fenótipos neuropsiquiátricos, o que permitirá contribuir para o melhor entendimento desta patologia. 32 Figura 4. Cariótipo com coloração convencional do indivíduo 7, indicando associação pelo braço curto de dois cromossomos do grupo D. Figura 5. Cariótipo G-bandeado do indivíduo 7 indicando associação específica dos cromossomos dos pares 13 e 15. 33 Figura 6. Regiões organizadoras de nucléolos em cromossomos do indivíduo 7 indicando associação de cromossomos do grupo D pela região satélite dos braços curtos e não pela região organizadora de nucléolo. Figura 7. Cariótipo em coloração convencional do indivíduo 5, indicando associação pela região terminal do braço curto de dois cromossomos acrocêntricos do grupo D. 34 Figura 8. Cariótipo G-bandeado normal do indivíduo 7. Figura 9. Cariótipo G-bandeado normal do indivíduo 5. 35 Figura 10. Cariótipo normal em coloração convencional do indivíduo do grupo controle. 36 5 CONCLUSÃO A DD apresenta-se como um instigante desafio para a genética médica, uma vez que, até o presente momento, carece de uma elucidação precisa de todos os fatores genéticos responsáveis por suas variadas manifestações clínicas. Os resultados deste estudo sugerem que a coocorrência de sintomas neuropsiquiátricos e dos sintomas dermatológicos típicos da DD, tal qual descrito na literatura, se deva a uma associação genética, ainda não totalmente compreendida, entre o gene de Darier (ATP2A2) e outros genes de susceptibilidade ao fenótipo neuropsiquiátrico. O estudo cromossômico de indivíduos portadores da DD pode ampliar a compreensão desta enfermidade, visto que os achados deste trabalho indicam fortemente a presença de rearranjo cromossômico peculiar a esta doença – cromossomo dicêntrico - ainda não apresentado na literatura científica. Faz-se necessária uma pesquisa ampla que busque descrever todas características genéticas da família analisada neste estudo, para fornecer informações relevantes ao estudo da DD. 37 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVA, E. et al. Increased Frequency of Acrocentric Chromosome Association During Colcemid Treatment. Cancer Genet Cytogenet, 68:52-59.1993. 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