2011
NESTOR DOS SANTOS LIMA E A EDUCAÇÃO
NORTE-RIO-GRANDENSE NO PERÍODO DE 1911-1923
Sara Raphaela Machado de Amorim1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
RESUMO
Esta é pesquisa é vinculada ao projeto “Gênero, Representações e Práticas de Leitura”/CNPq que analisa
as contribuições de Nestor dos Santos Lima à educação Norte-Rio-Grandense no período de 1911-1923,
época em que por designação oficial, foi nomeado Diretor da Escola Normal de Natal, onde denota-se de
maneira concreta o ideário de modernidade que movia sua prática. Ele nasceu em Assu, no Rio Grande do
Norte, em 01 de agosto de 1887, filho de Galdino dos Santos Lima e Ana Souto Lima. Foi um intelectual
atuante, exercendo diversos cargos como o de diretor do Departamento de Educação do Estado, e neste
cargo implantou uma nova organização no sistema de ensino, criando regimentos internos para grupos
escolares, escolas isoladas, escolas rudimentares e conselhos de educação. Sua atuação no ensino remonta
a participação num movimento de educadores e políticos, que viam na educação uma das vias de formação
de identidade nacional e uma abertura para o mundo civilizado, introduzindo no ensino novos métodos
didático-pedagógicos. Outro aspecto presente na renovação escolar empreendida por Nestor Lima é a
reformulação das instalações físicas das escolas. Desse modo, as idéias reformistas tinham a preocupação
de estabelecer nas escolas uma nova organização, seja no seu sentido físico ou metodológico. A visão
inovadora de Nestor dos Santos Lima é revelada pela consideração histórica do processo educativo que lhe
é pertinente. Em um de seus livros, denominado “Um século de Ensino Primário” (1927), é notória sua
dedicação à educação, quando ele discorre sobre o grande avanço que o Decreto Imperial de 15 de outubro
de 1827 constituiu para a educação pública do país. A lei determinava que em todas as cidades, vilas e
lugares mais populosos haveria escolas de primeiras letras que fossem necessárias. Nestor Lima tece
importantes comentários acerca da Lei Imperial, ressaltando seu aspecto renovador, uma vez que este
documento representou a consagração de princípios educativos adiantados, servindo ainda, como norma
para muitas escolas, nas quais só resultados positivos produziriam a observância rígida dos seus preceitos.
É possível observar, ainda, a visão deste educador em relação à condição da mulher no processo
educativo, quando analisa e defende o celibato pedagógico feminino, publicado numa série de teses
especiais, oferecidas pela revista pedagogium. Este texto trata acerca da participação feminina na
educação uma vez que esta participação feminina era cercada de preconceitos, e quando exercida, era
regida por uma série de restrições. Neste contexto, a mulher só poderia ser professora se fosse solteira ou
viúva sem filhos. A metodologia utilizada nesta pesquisa é a análise das obras de Nestor Lima encontradas
no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, onde exerceu o cargo de presidente por 32
anos seguidos; documentos de ordem escolar, encontrados no Arquivo Público do Estado, acervos
particulares, e em outras instituições que possuam expressões do trabalho desse educador. A importância
de Nestor Lima tem relação com as características reformistas da educação, que resultam, portanto, numa
contribuição social viabilizada pelo avanço do ensino. Esta visão histórica privilegiada garante a Nestor
Lima a categorização como um educador que ultrapassou as limitações do tempo, lançando-se em direção
à renovação. Desenvolveu uma prática educativa com respaldo de revolucionária, marcando as mudanças
no ensino primário do Rio Grande do Norte e perpetuando um avanço significante para o complexo
processo educacional.
1
Bolsista de Iniciação Científica / CNPq
2012
TRABALHO COMPLETO
1.
Apresentando a trajetória da pesquisa
Esta pesquisa é parte do projeto “Gênero, representações e práticas de leitura” /CNPq, o qual
vincula-se à Base de Pesquisa Gênero e práticas Culturais: abordagens históricas, educativas e
literárias/UFRN, coordenada pela Profª Drª Maria Arisnete Câmara de Morais.
O presente estudo analisa as contribuições de Nestor dos Santos Lima à Educação Norte-RioGrandense, durante o período de 1910 a 1920. A metodologia utilizada é a análise das obras de suas obras
encontradas no Instituto Histórico do Rio Grande do Norte, onde exerceu o cargo de presidente por 32
anos seguidos (1927- 1959), sendo reverenciado como presidente perpétuo desta instituição cultural. O
estudo também se estende a documentos de ordem escolar, encontrados no APE (Arquivo Público do
Estado), acervos particulares e em outras instituições que possuam expressões do trabalho deste educador.
É vasta a sua atuação educacional, mas neste trabalho analiso a sua prática durante as décadas de
1910 a 1920, em especial o período em que permaneceu como diretor da Escola Normal de Natal. Ele
nasceu em Assu, no Rio Grande do Norte, em 01 de agosto de 1887, filho de Galdino dos Santos Lima e
Ana Souto Lima. Foi iniciado nos estudos primários por sua mãe, e concluiu os Preparatórios no Liceu
Paraibano, em 1904. No ano seguinte matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife, onde recebeu o
título de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, em 16 de março de 1909. Casou-se com Helena Cicco
dos Santos Lima, em 14 de outubro de 1944 e faleceu no apartamento do pavilhão sul do Hospital Miguel
Couto, aos 72 anos de idade, sem deixar filhos. Homem de hábitos metódicos, estudioso, organizado,
dedicado ao trabalho, assim foi conhecido. Sua seriedade e determinação lhe valeram o reconhecimento e
respeito como educador, jurista, administrador e historiador.
Sua atuação no ensino remonta à participação num movimento de educadores e políticos que viam
na educação uma das vias de formação de identidade nacional e uma abertura para um mundo civilizado e,
de acordo com essa concepção, introduzia novos métodos didático-pedagógicos.
Em 1911, com sua nomeação como diretor da Escola Normal de Natal, obteve a possibilidade de
iniciar modificações no cenário educativo, buscando uma melhor qualificação dos professores para que
assim, o nível do ensino primário pudesse evoluir. No ano de 1913, por mando do governador do Rio
Grande do Norte, Alberto Maranhão, Nestor Lima visitou a Escola Normal de São Paulo e as Escolas
Profissionais de Artes e Ofícios, o que reforçou suas idéias reformadoras em parte já implantadas na
Escola Normal de Natal.
Foi um intelectual atuante, exercendo diversos cargos como o de diretor do Departamento de
Educação do Estado, no período de 1924 a 1929, onde recebeu total apoio do então governador José
Augusto Bezerra de Medeiros (1924-1927). Reformou o ensino primário com a introdução de novos
métodos didático-pedagógicos, criando e fazendo adotar Regimentos Internos para Grupos Escolares,
Escolas Isoladas, Escolas Rudimentares e Conselhos de Educação. Esses regimentos abrangiam desde a
organização do espaço físico da sala de aula até os procedimentos dos funcionários da instituição. No
decreto nº 178 de 29 de abril de 1908, quando foi restabelecida a diretoria geral da instrução pública,
consta que:
Considerando que o estudo das questões didáticas e as providências
administrativas deste importante ramo do público serviço, para os efeitos da
reforma, exigem um estabelecimento de uma repartição distinta, presidida por
um profissional competente. Considerando que as funções de Diretor Geral da
Instrução Pública, a quem incumbe a visita e a fiscalização pessoal das escolas
em todo o Estado estão sendo exercidas por autoridades de jurisdição limitada e
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permanente na capital, qual é um dos lentes e diretor do ensino secundário. (RN,
1908. p.46)
No ano de 1930 ocupou ainda o cargo de Secretário-Geral da Educação do Estado. Segundo ele,
colocar em prática os propósitos do ensino reformado “dependia, porém do pessoal que devia executar; se
fosse o professorado existente, sem a necessária preparação técnica nos métodos e processos de ensino
contemporâneo, havia de falhar” (1927, p.167).
O cuidado com a preparação dos mestres primários denota o teor de sua linha de ação, o que
pretendia fortalecer este âmbito. Outro aspecto presente na renovação escolar empreendida por Nestor
Lima é a reformulação das instalações físicas das escolas. Desse modo, as idéias reformistas tinham a
preocupação de estabelecer uma nova organização em ambos os sentidos: físico e metodológico. Em 1924
foi decisiva sua participação para a aprovação do Regulamento Geral do Departamento de Educação.
Acerca dessa reforma, em entrevista o educador declara:
Estou certo de que não precisamos de reformas integrais. Necessitamos, sim,
realizar a aparelhagem de que dispomos, completando-a com os institutos de que
carecemos e tornando eficiente e verdadeiro o trabalho das nossas escolas, por
meio da fiscalização imediata daquilo que já estamos fazendo cerca de quinze
anos (A Republica, 26 de julho de 1923)
2. Um século de Ensino primário: concretizando um ideário moderno.
A visão de Nestor dos Santos Lima é revelada pela consideração histórica de sua prática
educativa. Durante os meses de julho a outubro do ano de 1927, eram publicados no Jornal A Republica
textos de Nestor Lima, inicialmente na forma de artigos semanais, e depois diários, que foram
condensados em um único volume, intitulado Um século de Ensino Primário. Nele, delineia-se de maneira
concreta o ideal de modernidade que movia sua prática, onde é notória sua dedicação à educação, quando
ele discorre sobre diversos fatores que julgava importantes para a criação e manutenção das escolas, tais
como: edifícios apropriados para o ensino, a contratação de professores, as matérias do currículo escolar, a
remuneração dos docentes, entre outros, destacando também o avanço que a Lei-Geral de 15 de outubro
de 1827 constituiu para a educação pública no país.
Esta lei era constituída pelo ideal republicano, que tinha a escola como um meio de divulgação de
seus pensamentos de incentivo à democracia.
A proclamação da República, instituindo no Brasil, o regime democrático
representativo, veio encher de esperanças os espíritos apaixonados pelo
problema da educação, que descobriam na nova forma de organização e de
governo a solução do magno assunto. Que tão íntimo e visceralmente interessam
à coletividade nacional nos seus fundamentos essenciais. (LIMA, 1927, p. 133)
Nestor Lima acentua a importância da celebração do centenário da Instrução Primária Pública,
definindo como de incontestável importância, por ser este centenário dentre os muitos já relembrados ou
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comemorados, indiscutivelmente um dos mais ligados à base da verdadeira organização social e cultural
da nossa nacionalidade. (Lima, 1927 p.6)
A Lei foi assinada por Dom Pedro I e referendada pelo Visconde de São Leopoldo, Ministro do
Império, onde em seu artigo 1º determinava que em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos
houvesse escolas de primeiras letras, quantas fossem necessárias. A respeito do Decreto Nestor Lima
afirmou que:
Se tratava de uma grande e notável promessa ou fundamento, que se fez sentir
por todos os recantos do território brasileiro, onde ela mandava criar tantas
cadeiras de primeiras letras, para meninos ou para meninas, quantas fossem
necessárias. Era incontestavelmente um grandioso passo para a construção
consciente de nossa nacionalidade; era a base segura em que repousaria melhor o
futuro da nova pátria (LIMA, 1927, p. 3)
De acordo com os dispositivos da Lei de 15 de outubro de 1827, o ensino primário que até então
era livre e não oficializado, passou a ser tarefa do governo. Dentre as disciplinas encontravam-se: leitura,
escrita, as quatro operações matemáticas, noções de geometria, gramática da língua nacional, princípios de
moral cristã e doutrina católica e a leitura da Constituição de Império e da História do Brasil. Nestor Lima
ainda ressalta a importância do Ato Adicional na constituição da educação:
Quero crer que, se não fora o Ato Adicional de 1834, federalizando as antigas
províncias, para elas transferindo todas as iniciativas e encargos concernentes ao
ensino primário e desinteressando disso o poder central, a situação do ensino
nacional seria outra, atualmente. É certo que as províncias se desaperceberam do
elevado encargo do ensino primário e, somente nos últimos anos da Monarquia,
se verificou algum interesse por esse assunto (1927, p. 5)
Segundo o artigo 6º da lei de 1827, os professores deveriam ensinar a ler, escrever, as quatro
operações de aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de geometria
prática, a gramática de língua nacional, e os princípios de moral cristã e da doutrina da religião católica e
apostólica romana, proporcionados à compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a Constituição
do Império e a História do Brasil. (LIMA, 1927, p. 8)
A Educação feminina não foi esquecida. Desta maneira, o artigo 11 da lei de 1827 diz que
haveriam escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas, em que os presidentes, em conselho,
julgarem necessário este estabelecimento (Lima, 1927 p. 9). O artigo 12 deste documento assinala que as
mestras poderiam ensinar, e quais dentre elas estavam aptas à docência.
As mestras, além do declarado no artigo 6º, com exclusão das noções de
geometria e limitando a instrução da aritmética, só as quatro operações,
ensinarão também as prendas que servem à economia doméstica; e serão
nomeadas pelos Presidentes em Conselho, aquelas mulheres que, sendo
brasileiras e de reconhecida honestidade, se mostrarem com mais conhecimentos
nos exames feitos na forma do artigo 7º. (LIMA, 1927 p. 10)
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Nesse momento histórico, a estratégia utilizada visava facilitar o acesso da população pelo menos
à educação básica. As escolas passaram, então, a preocupar-se em formar intelectuais, preparar quadros
para atender às necessidades da sociedade moderna e dar-lhes uma formação cívica e moral.
O Governo Brasileiro, após o aparecimento da República, visando construir uma sociedade letrada
passou a incentivar a educação dado que a instrução passou a servir como indício do desenvolvimento de
um país. Por conseguinte, a escola passou também a ser tida como uma forma de transmitir à população os
valores culturais e morais necessários à consolidação do Estado Moderno. Além disso, buscavam obter
novas formas de trabalho e perspectivas de vida.
A educação feminina representava uma vitória, visto que a instrução significava a ampliação de
seus direitos. A educação destinada à mulher nesta época deveria ser o suficiente apenas para torná-la
instrumento de transmissão de conhecimento aos futuros regentes da nação e não para enriquecimento
intelectual das educandas.
Com a influência dos ideais positivistas, a mulher passou a ser vista como responsável pela beleza
e bondade que deveriam estar presentes na sociedade, por possuírem características como a moralidade, o
patriotismo, a maternidade, a pureza, a doçura, etc. Com a divulgação sobre qualidades morais da mulher,
era reforçado o mito da inferioridade biológica feminina.
O acesso ao ensino era direcionado aos homens para que se educassem nas artes do falar e do
escrever, de forma que mesmo tendo conquistado um acesso restrito à educação, a situação das mulheres,
pouco se alterava haja vista que, apesar de terem obtido o direito às primeiras letras, raramente
conseguiam ir, além disso. Mesmo que recebessem na maioria das vezes um ensino diferenciado, no Rio
Grande do Norte tal fato representou um avanço uma vez que já no ano de 1850, as cinco escolas de
primeiras letras para o sexo feminino foram freqüentadas pó 96 meninas. (Lima, 1927 p. 68).
A educação como função social é o meio pelo qual o individuo se torna parte de uma dada
sociedade. Assim o ensino acadêmico para a sociedade brasileira, até a proclamação da República e
divulgação dos ideais positivistas, era tido como necessário apenas para o sexo masculino que tinha a
possibilidade de trabalhos em espaços privados e públicos utilizando dessa forma, os conhecimentos
científicos e técnicos aos quais tinha acesso por meio da educação.
Nestor Lima tece importantes comentários acerca da Lei Imperial, ressaltando sua insatisfação
com o estado da instrução primária e os problemas como a ausência de alunos e persistência em conserválos, bem como a inabilidade do professorado existente. Enfocou também seu aspecto renovador, uma vez
que esse documento representou a consagração de princípios educativos adiantados, e de oficialização do
ensino. Segundo ele:
O que tudo quer dizer, que há cem anos, já havia uma noção, mais ou menos
segura, do valor da profissão ensinante, que mereceria a consagração legal, e
especiais prerrogativas que hoje, um século após, ainda não existem alguns
departamentos da União Brasileira, não obstante os avanços que se tem realizado
nesse particular. (LIMA, 1927, p. 4)
3. A condição da mulher na educação: o celibato pedagógico feminino.
Dentre os inúmeros registros que relatam a participação de Nestor Lima na educação, é possível
observar, a visão deste educador na Revista Pedagogium. A primeira edição desta revista se deu no ano de
1921, sob direção do professor Nestor dos Santos Lima, que se encontrava na posição de Diretor da Escola
Normal. Este veículo de informação possibilitou inúmeras considerações intelectuais e se constituiu
referência no âmbito educacional. A Associação de Professores do Rio Grande do Norte (APRN), expôs
as estratégias de condução do movimento dos educadores, sistematizando as ações do todo no sentido de
suprir as necessidades da classe a qual faziam parte. Segundo este autor:
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A Associação dos Professores está reservada uma grande e importante missão no
futuro do Rio Grande do Norte, onde se desenvolverá um vasto programa de
combate ao analfabetismo, publicando-se o ‘Boletim Pedagógico’ com o intuito
de levar aos colegas do interior do estado tudo quanto interessar ao
ensino.(Revista Pedagogium, Jul.1921, p.27)
Nesta revista, Nestor Lima analisa o celibato feminino, com um texto publicado numa série das
teses especiais oferecidas pela Revista Pedagogium. Em seu texto, analisa a condição da mulher no
processo educativo.
É muito mais grave e seria do que a primeira vista parece a questão do celibato
pedagógico feminino ou da condição de mulher casada, em face da educação e
do ensino, como profissão habitual [...] A recente lei da reforma primária em
Minas Gerais só dá acesso ao magistério às professoras solteiras ou viúvas sem
filhos[..] A Baviera impõe o celibato às professoras. De mais a mais, contra o
magistério das professoras já se manifestaram as ‘ Sociedades de Professoras
Católicas Alemãs’ e a ‘Sociedade Bávara de Professoras Católicas. (.Jul. 1921,
p. 45-46
Nestor Lima demonstra a sua preocupação com as divergências existentes no âmbito educacional
em relação às mulheres que almejassem a profissão de educadora, e que fossem casadas ou tivessem
filhos. Também é possível observar sua visão ampla, quando faz alusão a situação do Brasil em relação à
Alemanha, citando a região da Baviera, onde era imposto o celibato pedagógico às professoras da
educação primária. Faz referência, também, às sociedades de professoras católicas que se manifestaram
frente a esta questão educacional.
O texto escrito por Nestor Lima, trata acerca da participação feminina na educação, uma vez que
esta participação era cercada de preconceitos e, quando exercida, era regida por uma série de restrições.
Neste contexto, a mulher só poderia ser professora se fosse solteira ou viúva sem filhos.
Estou informado de que outros Estados brasileiros proíbem terminantemente às
professoras publicas o casamento, sob pena de perda da cadeira, ou
disponibilidade forçada... A ser verdadeira a informação, está declarada guerra
ao matrimônio das educadoras oficiais, enquanto que aos profissionais do outro
sexo ninguém se lembrou de pôr-lhes restrições, quanto menos a proibir-lhes as
justas núpcias. (LIMA, 1921)
Reforçando seus argumentos acerca do celibato, Nestor Lima faz referências as disposições gerais
da Reforma do Ensino no artigo 224, da lei 405/1916, na qual evidencia as conseqüências da aplicação
desta lei nos meios escolares. O referido artigo registra que à professora publica em estado de gravidez
será concedida, com todos os vencimentos, uma licença especial de dois meses correspondente ao ultimo
mês que precede e ao primeiro que sucede ao parto.
A condição feminina na profissão docente foi uma temática amplamente discutida. Inicialmente
no Congresso Estadual de Professores no Rio Grande do Norte, promovido pela Associação dos
Professores do Rio Grande do Norte, realizado em Natal, em 23 de janeiro de 1922. Em continuidade a
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essa discussão, em 1927 o professor Nestor dos Santos Lima encaminha sua tese intitulada O Celibato
Pedagógico Feminino, à Primeira Conferência Nacional de Educação realizada em Curitiba. Na ocasião, o
educador incluiu a introdução elaborada em 1921, acrescentando a preocupação com os problemas
decorrentes das licenças autorizadas às professoras, concedidas através da lei 677/1927. Tal lei concedia
mais um benefício às professoras ao instituir a licença especial que em sua opinião vinha resultando
francamente desfavorável ao ensino público, sempre voltado com as ausências das suas regentes, em
virtude das licenças especiais e a seguir das comuns que se requerem para completar a cura ou
estabelecimento da puerpéra. (Lima, 1927 p. 5).
O debate empreendido sobre o celibato pedagógico na Primeira Conferência Nacional de
Educação, resultou em um artigo publicado no jornal A República, um dos impressos de maior circulação
no Rio Grande do Norte, em março de 1928 com o título: Interdição do trabalho à mulher casada, de
autoria de Orminda Bastos, advogada, feminista e jornalista. Neste artigo a jornalista se posiciona
contrária à defesa do celibato pedagógico.
A importância de Nestor Lima tem relação com as características reformistas da educação, que
resultam, portanto, numa contribuição social viabilizada pelo avanço do ensino. Esta visão histórica
privilegiada garante a Nestor Lima a categorização como um educador preocupado com questões sociais,
o que contribuiu diretamente para o desenvolvimento do País, e em especial do Rio Grande do Norte.
Desenvolveu uma prática educativa com respaldo revolucionário, marcando as mudanças no ensino
primário do Estado e perpetuando historicamente um avanço significante para a educação.
Na criação da APRN (Associação dos professores do Rio Grande do Norte), em 04 de dezembro
de 1920, Nestor Lima se fez presente onde: “... fora especialmente convidado, fez então, uma bela
conferência, magistral na forma e nos conceitos, estudando o ensino publico no Rio Grande do Norte
desde os tempos coloniais até aquela data”.
A sessão especifica com a finalidade de definição do 1º Estatuto e Eleição da Primeira Diretoria,
ocorreu sob a presidência do Prof. Anfilóquio Câmara. Como orador oficial:
Propôs e foi unanimemente aprovado, que se lançasse na ata da sessão um voto
de louvor e agradecimento ao prof. Nestor Lima que, convidado para efetuar
uma conferência sobre a história do movimento escolar do estado, o fizera com
real brilho e maestria, escrevendo um importante trabalho pedagógico. (1985,
p.21)
Atualmente, existe na Cidade do Natal, mais precisamente na Rua São José, bairro de Lagoa Seca,
uma escola estadual com o nome deste educador, o que denota mais uma marca de sua atuação, do
reconhecimento dos contemporâneos, e da sociedade pelo trabalho que Desenvolveu.
Ao visitar esta instituição, fui em busca de tudo o que nela existisse sobre Nestor dos Santos Lima,
e dentre os materiais existentes, havia quadros e folhetos, dentre eles um que me chamou muito a atenção;
era um poema que descrevia a vida do professor Nestor Lima, citando suas atividades e sua participação
na educação Norte-Rio-Grandense, homenageando-o na data de seu aniversário:
Uma Homenagem ao inesquecível Dr. Nestor dos Santos Lima quando se comemora a data de
seu aniversário
Neste primeiro de agosto / È dia do aniversário / De Nestor dos Santos Lima / Um homem
extraordinário
2018
Foi consagrado patrono / Deste educandário. / Em oitocentos e oitenta e sete / A data em que ele
nasceu
Em um primeiro de agosto / Este gênio apareceu / Para o bem do nosso estado / Esta luz
resplandeceu.
A cidade do Açu / Foi sua terra natal / Onde viveram seus pais / Nobre, ilustre casal
Que encaminharam seus passos / Para um brilhante ideal. / Galdino dos Santos Lima / Respeitável
coronel
Era o pai de Nestor / Que sempre honrou seu papel / E dona Ana dos santos / A sua esposa fiel.
Continuou seus estudos / Ainda muito criança / Sua mãe lhe ensinava / Com amor, e confiança.
E assim fez o primário / Com muita perseverança. / Depois outros professores / Deram
continuidade
Tudo ele aprendia / Com muita facilidade / Tinha bom comportamento / E muito boa vontade.
E assim continuou / Sem nunca perder um ano / Fez o curso preparatório / No Liceu Paraibano
O sonho de uma formatura / Não lhe fugia dos planos / Na faculdade de Recife / Ele se matriculou
E em ciências jurídicas / Em que mais se dedicou / Em novecentos e nove / Nestor Lima se
formou.
Durante sua vida publica / Provou sua lealdade / Sempre cultivava o bem / Em favor da
humanidade.
Foram diversos encargos/ Que ele administrou / Do Departamento de Educação / Ele foi diretor
Todo ensino do Estado / Bem perfeito organizou. / Dr. Nestor dos Santos Lima / Foi um homem
preparado
Dos muitos encargos seus / Foi também advogado / Finalmente ele provou / Ser exemplo no
Estado.
Gozou muito do conceito / Nos cargos que exerceu / Importantes elogios / Ele sempre recebeu
E com sessenta e três anos /Nestor Lima faleceu /Foi grande batalhador /Ao bem do nosso estado
Quem combateu com justiça / Naqueles tempos passados / Já morreu, mas o seu nome / Ficou
imortalizado.
Encerro minhas estrofes / Mesmo sem belezas mil / Tenho prazer de oferecer / A toda classe
estudantil
Sigam o exemplo de Nestor / Vamos estudar com amor / Para a grandeza do Brasil.
Autor: Antônio Nogueira Bessa
3. Considerações:
A atuação de Nestor dos Santos Lima refletiu na reforma do Ensino Primário no Rio Grande do
Norte, onde é possível perceber sua contribuição à educação, a partir de seu ideal de modernidade que
possibilitou a revelação de uma face do processo educacional até então desconhecida; uma educação
representadora de avanços relacionados à qualificação dos mestres, aos espaços destinados ao ensino e a
instituição de novas práticas, proporcionando em um desenvolvimento social, por parte dos docentes e
discentes, cumprindo a proposta de formação da sociedade moderna.
Nos diversos cargos que exerceu, dentre estes o de diretor da Escola Normal de Natal, denota-se
sua preocupação com a consideração histórica da educação, buscando garantir o aceso pa população ao
ensino, tendo esta como via de transformação social e de progresso nacional.
Além disso, publicou vários trabalhos como: Lições de metodologia (1911); Hino do Centenário
do Ensino Primário (1927); A Matriz de Natal (conferência apresentada a 25 de dezembro de1909 e que
lhe mereceu ingresso no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte/IHGRN).
Em todas as suas atuações públicas demonstrou afinco. Entretanto, a que perdurou por maior
tempo foi sua participação como membro do IHGRN a partir de fevereiro de 1910, quando tornou-se sócio
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efetivo, e nos anos que esteve nessa sociedade atuou como orador, secretário da revista publicada por esta
instituição e presidente.
Nesta pesquisa que realizo, busco evidenciar a importância de Nestor dos Santos Lima para a
Educação Norte-Rio-Grandense, traçando seu perfil biográfico, bem como desvelando sua atuação na
educação do Estado a partir da análise de seus escritos, observando suas idéias sobre os vários aspectos da
educação e em conseqüência disso, a sua presença na Historiografia da Educação do Rio Grande do Norte.
Devido a sua participação ativa nas questões educacionais do Estado, seus trabalhos tiveram
ampla repercussão, resultando nas marcas que denotam sua importância, e que se refletem nas estruturas
atuais de ensino.
São várias as alusões ao trabalho realizado por este educador, e alguns exemplos disso são: a
Biblioteca Nestor dos Santos Lima, situada no IHGRN; a Escola Estadual Nestor Lima situada na cidade
do Natal, bem como as várias publicações de pesquisas acadêmicas de cunho historiográfico e
educacional, desenvolvidas sobre este educador. Uma importante fonte para esta pesquisa é a Tese de
Doutorado do Professor Antônio Basílio Novais Thomaz de Menezes, intitulada Nestor dos Santos Lima e
a modernidade educacional: uma história e um discurso, onde o autor analisa a participação de Nestor
Lima no processo educacional, em especial, no Rio Grande do Norte.
Referências:
Livros:
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Editora da UNESP, 1998.
BURKE, Peter. (org.). A Escrita da História: novas perspectivas. Tradução por Magda Lopes. São
Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1992.
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. Traduzido por Álvaro Lorencini. São Paulo: Fundação
Editora da UNESP, 1999.
CHARTIER, Roger. A Historia Cultural: entre práticas e representações. Tradução por Maria
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Documentos:
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do Rio Grande do Norte. Natal, 2004.
Teses:
MENEZES, Antônio Basílio Novais Thomaz de. Nestor dos Santos Lima e a modernidade
educacional: uma história e um discurso ( 1911-1928). Natal: [s.n], 2003.
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NESTOR DOS SANTOS LIMA E A EDUCAÇÃO NORTE