XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A IMPORTÂNCIA DO PROJETO SÃO JOSÉ NOS INDICADORES SÓCIOECONÔMICOS DOS MUNICÍPIOS CEARENSES AHMAD SAEED KHAN; PATRÍCIA VERONICA PINHEIRO SALES LIMA; LUCIA MARIA RAMOS SILVA; VERONICA SOUZA. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARA, FORTALEZA, CE, BRASIL. [email protected] APRESENTAÇÃO ORAL REFORMA AGRÁRIA E OUTRAS POLÍTICAS DE REDUÇÃO DA POBREZA A importância do Projeto São José nos indicadores sócio-econômicos dos municípios cearenses1. Grupo de Pesquisa: Reforma Agrária e Outras Políticas de Redução da Pobreza Resumo O presente trabalho analisou a relação existente entre a implantação do Projeto São José e os indicadores socioeconômicos dos municípios beneficiados. Para tanto foram utilizados dados secundários para o cálculo dos coeficientes de correlação e estimação dos modelos de regressão. Os resultados mostraram que as correlações observadas entre os índices de desenvolvimento e demais indicadores e o número de subprojetos financiados pelo projeto São José são positivas Conforme os coeficientes estimados nos modelos de regressão a cada subprojeto implantado espera-se, em média, um aumento de 0,11 no valor do IDM global , 0,33 no índice dos indicadores fisiográficos, fundiários e agrícolas e 0,10 no índice dos indicadores de infra-estrutura de apoio, 38,45 MHW no consumo de energia elétrica rural, 36,19 no número de consumidores rurais de energia elétrica. Um aumento de uma unidade de subprojeto provoca o aumento de 12 matrículas de jovens e adultos na zona rural, 2,14 salas de aulas rurais e 1,02 escolas rurais. Observa-se ainda um aumento de R$ 359,82 no valor bruto da produção agropecuária, de 303,24 ha na área total com 1 Este trabalho é resultado da pesquisa “Evolução dos indicadores sócio-econômicos das famílias beneficiadas pelo Projeto São José – Estado do Ceará”, financiada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura - IICA, e executada por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará – UFC. 1 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" lavouras permanentes e temporárias e de 0,01 % na proporção da área com lavouras do município em relação à área total do Estado. O Projeto São José, grosso modo, proporcionou melhorias na qualidade de vida da população beneficiada no setor rural. Contudo, os recursos do projeto são destinados a famílias muito carentes não só em termos econômicos mas social e cultural. Assim, para que os ganhos de uma política como a que se está analisando sejam mais substanciais é necessário assistência técnica, extensão rural e políticas concomitantes em outros setores como saúde e educação. Palavras-chaves: Pobreza rural, políticas públicas The importance of rural poverty reducing program in socioeconomic indicators of countries of state of Ceará Abstract This paper analyzed the existing relations between the number of projects implanted and socioeconomic indicators of the benefited counties. For this purpose, secondary data were used to calculate the correlation coefficients and to estimate regression models. The results showed the existence of positive relationship between development index, other indicators and number of projects financed by rural poverty reducing program. The regression equation showed that each project implanted, on the average, may bring an increase of 0.11 in the value of global county development index, 0.33 in land and agriculture index and 0.10 in the support indicators of infrastructure, 38.45 in energy concomption, 36.19 in rural consumers of electric energy. An increase of one subproject will bring an increase of 12 enrolements of young and adults, 2.14 classrooms ans 1.02 schools in the rural areas. An increase of R$ 359.82 in gross income of farm income, 303.24 ha in temporary and permanent crop area and 0.01% in proportion of county crop area in relation to state crop area. The rural poverty reducing program in general, contributed to improve the quality of life of benefited population. However funds of the project are destinated to pool families not only in economic terms but also in social and cultural aspects. To improve the performance of public policy, such as discussed here, it is necessary to provide technical assistance and agricultural extension and concomitant policies in other sector as health and education. Key Words: Rural poverty, public policy 1 - Introdução O governo do Estado do Ceará, em 1995, na tentativa de minorar os problemas do setor rural e promover estratégias visando seu desenvolvimento utilizou a experiência positiva do Programa de Apóio aos Pequenos Produtores - PAPP cujo objetivo geral era erradicar a pobreza absoluta no campo segundo, Medeiros (2000), adicionando a experiência do Projeto Solidariedade do México, para fazer novos ajustes no PAPP criando assim o Programa de Combate à Pobreza Rural (PCPR) no Ceará ou o Projeto São José I (PSJ-1), como é também conhecido. 2 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" O projeto São José I foi consubstanciado em um modelo de gestão compartilhada envolvendo entidades, Secretarias Co-participantes, Conselhos Municipais de Desenvolvimento Sustentável (CMDS) e Associações Comunitárias. Para o desenvolvimento desse projeto foi feito um acordo de empréstimo, firmado pelo Banco Mundial e o Governo do Estado. Este projeto objetivava combater a pobreza rural no Estado do Ceará, através de recursos não reembolsáveis e contrapartida dos beneficiários. Financiavam-se subprojetos selecionados e solicitados pelos produtores, através de suas associações comunitárias legalmente constituídas. Esta estratégia foi mantida respaldada por avaliações parciais indicativas de resultados positivos, porém com ajustes e correções ao longo de sua implementação, como forma de proporcionar a consolidação do referido projeto (Ceará, 2002). Um novo Contrato de Empréstimo foi firmado entre o Governo do Estado e o Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento - BIRD em fevereiro de 2002 dando início ao que se passou a denominar Projeto São José II (PSJ II). O referido projeto objetivava melhorar a qualidade de vida das famílias rurais, as mais necessitadas, através de financiamentos não reembolsáveis, pequenos investimentos e empreendimentos de infra-estrutura, produtivos e sociais, denominados Projetos Comunitários, selecionados e solicitados por grupo de famílias das comunidades carentes através de suas organizações comunitárias locais, denominadas Entidades Representativas – ERB’s (associações, clubes de mães, de jovens etc.) atuantes no âmbito local. Incluem, também, em perspectiva como ação piloto, financiamentos reembolsáveis de Projetos Comunitários Produtivos com orientação para o mercado, com recursos da contrapartida estadual, dirigidos ás comunidades rurais pobres, cumprindo as normas e procedimentos indicados no Manual do Projeto. Assim surgiram os projetos São José I e II com apoio e financiamento do Banco Mundial e com o propósito de implantar ações de desenvolvimento sustentável no Ceará com participação ativa das comunidades, com vistas a aumentar o acesso das populações rurais mais pobres às atividades de geração de emprego e renda, assim como a provisão de serviços sociais básicos e de infra-estrutura como meios para a redução da pobreza rural. A sua atuação concentrou-se, principalmente, em investimentos em subprojetos de mecanização agrícola, eletrificação rural e abastecimento de água. O total dos recursos orçados pelas fontes financiadoras para o projeto São José II por categoria de inversão foi: US$ 37.500.000,00 do BIRD e US$ 12.000.000,00 do Governo Estadual. Em razão de atraso na liberação da contrapartida dos recursos pelo Governo do Estado, parte dos recursos não foi aplicada no tempo previsto. Sendo assim, o Projeto São José II foi prorrogado para junho de 2005. Quando se analisa a distribuição dos projetos no período 2002 a 2004, observa-se a predominância dos subprojetos de abastecimento de água (75,6%) seguidos dos subprojetos de mecanização (18,5%) e por último os subprojetos de eletrificação (5,9%). De forma similar, os subprojetos de abastecimento de água beneficiaram maior número de famílias e obtiveram maiores financiamentos. 3 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A ênfase nos projetos de abastecimento de água foi motivada pela demanda das comunidades e pelo governo que demonstrava preocupação com os problemas advindos das estiagens nos últimos anos no Estado. Após dez anos da implantação do projeto torna-se relevante uma avaliação de seus impactos no meio rural cearense. Vários estudos foram realizados no sentido de avaliar o Projeto São José mas nenhum deles preocupou-se com o seu impacto nos indicadores sócio-econômicos dos municípios. Assim, o presente trabalho pretende analisar a relação existente entre a implantação dos sub-projetos do Projeto São José e os indicadores socioeconômicos dos municípios beneficiados. 2. Metodologia 2.1 Origem dos dados 2.1.1 Municípios selecionados O estudo foi realizado com dados referentes a 30 municípios cearenses, beneficiados pelo Projeto São José através dos sub-projetos: abastecimento de água, eletrificação e mecanização agrícola, entre 1995 e 2004. Dos 30 municípios selecionados, 15 pertenceram ao grupo com maior número de subprojetos implantados (Boa Viagem, Brejo Santo, Canindé, Crateús, Icó, Iguatu, Itapipoca, Itarema, Jaguaribe, Missão Velha, Mombaça, Morada Nova,Quixadá, Quixeramobim, Tauá.) e 15 pertencentes ao grupo com menor número de subprojetos implantados (Alcântaras, Altaneira, Antonina do Norte, Baixio, Barroquinha, Chaval, Frecheirinha, General Sampaio, Graça, Guaramiranga, Maranguape, Martinópole, Santana do Cariri, Senador Sá, Tarrafas). 2.1.2 Caracterização dos indicadores selecionados A avaliação do impacto do Projeto São José na qualidade de vida da população rural cearense foi realizada a partir de 19 indicadores sócio-econômicos divididos em dois grupos.2 No primeiro grupo tentou-se caracterizar os municípios de uma forma mais geral. Para tanto foram selecionados o Índice de Desenvolvimento Municipal – IDM global - e seus correlatos: indicadores fisiográficos, fundiários e agrícolas, indicadores demográficos e econômicos, indicadores de infra-estrutura de apoio e indicadores sociais. Os dados relativos a esses indicadores foram obtidos junto ao Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará –IPECE e referem-se ao ano 2002, devido à disponibilidade de dados mais recentes. O Índice de Desenvolvimento Municipal – IDM global é um indicador elaborado pela equipe técnica do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará – IPECE, 2 O projeto São José poderia ser avaliado em diversos aspectos: saúde, educação, infra-estrutura, emprego, renda, condições de moradia. Cada um destes aspectos poderia ser avaliado através de uma série de indicadores. Porém, diante da dificuldade de obtenção de informações no nível que se pretende e nos anos específicos do estudo foram selecionados 5 índices (IDM global e seus componente)e 14 indicadores, o que não limita a sua relevância já que estes expressam as condições sócio-econômicas das populações, em especial, do setor rural dos municípios cearenses. 4 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" órgão da Secretaria do Planejamento e Coordenação – SEPLAN, do Governo do Estado do Ceará. O objetivo deste índice é mensurar o nível de desenvolvimento dos municípios do Estado do Ceará, com base nos indicadores já referidos (IPECE, 2004). Os indicadores relativos aos aspectos fisiográficos, fundiários e agrícolas se propõem a mensurar o grau de desenvolvimento alcançado relativamente aos referidos aspectos, são eles: precipitação pluviométrica, percentual de área explorável utilizada sobre a área dos imóveis, percentual do valor da produção vegetal sobre o total do Estado, percentual do valor da produção animal sobre o total do Estado, salinidade média da água e quociente locacional de energia rural. O índice dos indicadores demográficos e econômicos objetiva mostrar o grau de desenvolvimento econômico dos municípios cearenses através de: densidade demográfica; taxa de urbanização; produto interno bruto per capita; receita orçamentária per capita; percentual do consumo de energia elétrica da indústria e do comercio; percentual do produto interno bruto do setor industrial; percentual de trabalhadores do emprego formal com rendimento superior a dois salários mínimos. Os indicadores de infra-estrutura de apoio representam a disponibilidade de serviços ofertados à população tais como: telefones (por 100 habitantes), agências de correio (por 10.000 habitantes), % de domicílios com energia elétrica, coeficiente de proximidade, rede rodoviária pavimentada/área do município e veículos carga. Finalmente, os indicadores dos aspectos sociais fornecem informações sobre taxa de escolarização no ensino médio; taxa de aprovação no ensino fundamental; bibliotecas, salas de leitura e laboratórios de informática por escola pública; equipamentos de informática por escola pública; percentual de função docente no ensino fundamental com grau de formação superior; médicos por mil habitantes; leitos por mil habitantes; taxa de mortalidade infantil; taxa de cobertura de abastecimento de água, as quais refletem a qualidade de vida e bem-estar da população. Dada a generalidade dos índices selecionados no primeiro grupo, optou-se por adicionar à análise um segundo grupo de indicadores, admitidos como mais representativos e com maior poder de captação dos efeitos do Projeto São José nos municípios selecionados no ano de 2004. • Taxa de mortalidade infantil: Número de óbitos em < 1 ano de idade, por mil nascidos vivos, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Estima o risco de morte dos nascidos vivos durante o seu primeiro ano de vida. Altas taxas de mortalidade infantil refletem, de maneira geral, baixos níveis de saúde e de desenvolvimento sócio-econômico da população. (Fonte: Secretaria da Saúde do Estado do Ceará – SESA) • Taxa de mortalidade por doenças infecciosas parasitárias: Número de óbitos por doenças infecciosas parasitárias por 100 mil habitantes, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Estima o risco de morte por doenças infecciosas parasitárias. Taxas elevadas de mortalidade por doenças infecciosas parasitárias estão associadas, entre outras causas, a problemas de saneamento básico. (Fonte: Secretaria da Saúde do Estado do Ceará – SESA) • Mortalidade proporcional por doença diarréica aguda em menores de cinco anos de idade: Percentual de óbitos por doença diarréica aguda, em relação ao total de 5 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" óbitos de menores de cinco anos de idade, por causas definidas, na população residente em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Percentuais elevados são indicativos de insatisfatórias condições socioeconômicas e de saneamento, além de insuficiente cobertura e qualidade da utilização de procedimentos básicos de atenção à saúde da criança. (Fonte: Secretaria da Saúde do Estado do Ceará – SESA) • Consumo rural de energia elétrica: Consumo de energia elétrica na zona rural do município, em MHW (megawatts). Consumo elevado é indicativo de melhoria na qualidade de vida da população e desenvolvimento rural. (Fonte: Companhia de Eletricidade do Ceará – COELCE) • Proporção do consumo rural no consumo total de energia do município: Participação do consumo de energia elétrica rural no consumo total de energia elétrica do município. Acredita-se que quanto maior esta proporção melhor será a qualidade de vida dos moradores da zona rural e maior o desenvolvimento rural. (Fonte: Indicador obtido a partir de dados da Companhia de Eletricidade do Ceará – COELCE) • Número de consumidores rurais de energia elétrica: Total de clientes, consumidores de energia elétrica, na zona rural do município. O aumento no número de consumidores sugere melhoria na qualidade de vida da população e desenvolvimento rural. (Fonte: Companhia de Eletricidade do Ceará – COELCE) • Proporção de consumidores rurais de energia elétrica em relação ao total de consumidores do município: Participação do número de consumidores rurais de energia elétrica no total de consumidores de energia elétrica do município. Quanto maior esta proporção acredita-se que melhor será a qualidade de vida dos moradores da zona rural e maior o desenvolvimento rural. (Fonte: Indicador obtido a partir de dados da obtidos Companhia de Eletricidade do Ceará – COELCE) • Quociente locacional de energia rural: expressa a razão entre a participação do consumo de energia elétrica rural municipal no consumo de energia elétrica total do município e a participação do energia elétrica rural estadual no consumo de energia elétrica total do Estado. Se esta razão for maior que um indica que o município tem um percentual de consumo de energia rural superior ao percentual do consumo médio de energia rural do Estado. (Fonte: Indicador obtido a partir de dados da Companhia de Eletricidade do Ceará – COELCE). • Matrículas de jovens e adultos na zona rural: Número de jovens e adultos matriculados na zona rural do município. A eletrificação rural cria a possibilidade de aulas no período noturno favorecendo assim, o acesso de trabalhadores à educação. (Fonte: Secretaria da Educação Básica – SEDUC) • Número de salas de aula na zona rural: Foram consideradas as salas de aulas permanentes. O aumento no número de matrículas de jovens e a eletrificação rural criam a possibilidade de aulas no período noturno e a construção de novas salas de aulas. (Fonte: Secretaria da Educação Básica – SEDUC) 6 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" • Número de escolas rurais: As matrículas de jovens e adultos bem como a eletrificação rural criam a possibilidade de aulas no período noturno e a construção de novas escolas rurais. (Fonte: Secretaria da Educação Básica – SEDUC) • Área plantada com lavouras permanentes e temporárias (ha): Em razão da ausência de dados no período em análise, não foi possível incorporar a esse indicador a área destinada às pastagens. Um aumento na área plantada sugere melhoria nas condições de trabalho do produtor e um maior acesso desse aos meios de produção. (Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE) • Participação na área plantada com lavouras no Ceará (5%) : Razão entre a área do município plantada com lavouras temporárias e permanentes e a área total do Ceará plantada com estas lavouras. Um aumento nesta proporção aponta para o desenvolvimento rural do município. (Fonte: Indicador obtido a partir de dados obtidos junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE) • Valor bruto da produção agropecuária (R$ de agosto de 2005): Valor da produção vegetal e pecuária do município, expressos em R$ de agosto de 2005. Um aumento nesta proporção aponta para melhores condições econômicas no município. (Fonte: Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará –IPECE). 2.2 Métodos de análise 2.2.1Coeficiente de correlação de Pearson Para verificar a relação entre os índices de desenvolvimento, bem como dos demais indicadores selecionados e o número de projetos implantados nos municípios foram calculados coeficientes de correlação de Pearson a partir da expressão a seguir (Levin, 1987) n Corr ( X , Y ) = rxy = s xy sx sy = ∑ (x i =1 i − x )( y i − y ) n n i =1 i =1 ∑ ( xi − x ) 2 ∑ ( yi − y ) 2 − 1 ≤ rxy ≤ 1 Sendo X o número de subprojetos e Y índices desenvolvimento e demais indicadores utilizados no estudo. 2.2.2 Regressão linear simples 7 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A análise da correlação não permite quantificar a relação da influência do número de projetos implantados nos municípios e nos índices de desenvolvimento e nos demais indicadores considerados. Com o objetivo de quantificar esta relação, foram estimados modelos de regressão linear simples (Hair et al. 2005): Y = β 0 + β1 X + ε onde: Y = variável dependente ou endógena (índice ou indicador ) X = variável independente (número de subprojetos) ß0 = coeficiente linear da reta ou intercepto ß1 = coeficiente angular da reta ou declividade, o qual mede o impacto de X em Y ε = erro aleatório que representa o efeito de um grande número de fatores que afetam o valor de Y e não são provenientes de X 3. Resultados e discussão Os indicadores analisados nesta pesquisa foram escolhidos a partir de uma série de critérios que buscaram captar os impactos do Projeto São José, nos municípios. Sabe-se contudo que o comportamento dos indicadores selecionados não é resultado exclusivo dos impactos dos subprojetos implantados e pode inclusive não apresentar nenhuma relação com os mesmos. Sendo assim, optou-se por calcular o coeficiente de correlação entre cada um dos indicadores e o número total de subprojetos, o número de subprojetos de abastecimento de água, eletrificação e mecanização rural. Os resultados obtidos encontram-se na Tabela 1 Os indicadores mostraram o mesmo padrão de correlação quando comparados ao número total de projetos ou a qualquer uma das categorias de subprojetos. A ausência de correlação significativa referente ao índice dos indicadores demográficos e econômicos3 e ao índice dos indicadores sociais pode ser explicada basicamente pelas variáveis incluídas na sua composição, nenhuma delas voltada para o meio rural. Quanto aos indicadores de saúde: Taxa de mortalidade infantil (TMI), Taxa de mortalidade por doenças infecciosas parasitárias e Mortalidade proporcional por doença diarréica aguda em menores de cinco anos de idade, pode-se considerar que os efeitos indiretos dos subprojetos sobre os indicadores de saúde não devem ser perceptíveis o suficiente para serem captados pelos dados. Quanto à proporção de consumidores rurais de energia elétrica em relação ao total de consumidores do Estado é válido ressaltar que esse indicador pode estar muito mais associado aos outros consumidores do que aos consumidores rurais, o que limita os reflexos de mudanças no meio rural sobre seu valor. O mesmo raciocínio pode ser empregado para o indicador quociente locacional rural. As correlações observadas entre os índices de desenvolvimento e demais indicadores e o número de subprojetos financiados pelo projeto São José são, conforme o esperado, positivas4, ou seja, um maior número de subprojetos está associado a um maior 4 Espera-se que os indicadores relacionados à saúde apresentem uma relação negativa com o número de subprojetos implantados. 8 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" valor do indicador. A maior correlação significativa ocorre entre o indicador consumo rural de energia elétrica o número de subprojetos de abastecimento.5 Isto pode ser explicado pelo uso de motor para bombeamento da água das fontes que será consumida pelas famílias beneficiadas. Os coeficientes de correlação apresentados acima apenas identificam uma associação entre variáveis sem, no entanto, quantificá-la. Portanto, a partir dos valores expressos na Tabela 1 não se pode inferir sobre qual o impacto da implantação dos projetos nos índices e desenvolvimento e indicadores sócio-econômicos do município. Dada esta limitação do coeficiente de correlação foram estimados modelos de regressão simples tendo como variáveis dependentes os índices de desenvolvimento e os indicadores significativamente correlacionados com as ações do projeto São José e como variáveis independentes o número total de projetos, o número de subprojetos de abastecimento de água, eletrificação rural ou mecanização agrícola. Tabela 1 – Coeficientes de correlação de Pearson entre os índices de desenvolvimento e indicadores selecionados e o número de projetos implantados Variável Total de subprojetos IDM –global Índice Fisiog. Fund. e Agrícola Índice Demog. e Econômic os Índice Infra-estrutura de Apoio Índice Sociais Subprojetos de abastecimento de água Coeficiente Sig. 0,484** 0,000 Coeficiente 0,460** Sig. 0,000 0,604** 0,000 0,566** -0,019 0,885 0,325* 0,186 Subprojetos de eletrificação Subprojetos de mecanização agrícola Coeficiente Sig. 0,339** 0,008 Coeficiente 0,397** Sig. 0,002 0,000 0,454** 0,000 0,523** 0,000 0,102 0,438 -0,143 0,274 -0,071 0,589 0,011 0,436** 0,000 0,318* 0,013 0,175 0,181 0,157 0,139 0,292 0,111 0,402 0,181 0,171 5 A aplicação da correlação de Pearson só é valida se as variáveis analisadas apresentarem uma correlação linear. A comprovação da hipótese de linearidade entre os indicadores e o número de subprojetos foi feita através do coeficiente eta. 9 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Taxa de mortalidade infantil Taxa de mortalidade por doenças infecciosas parasitárias Mortalidade proporcional por doença diarréica aguda em menores de cinco anos de idade Consumo rural de energia elétrica Proporção do consumo rural no consumo total de energia do município Número de consumidores de energia rural Proporção de consumidores de energia elétrica em relação aos consumidores totais Quociente loc. de Energia Rural Matrículas de jovens e adultos na zona rural Número de salas de aula na zona rural Número de escolas rurais Área plantada com lavouras permanentes e temporárias Participação na área plantada com lavouras no Ceará 0,019 0,886 -0,077 0,560 n.a n.a n.a -0,047 0,724 n.a n.a n.a -0,074 0,577 n.a n.a 0,742** 0,000 0,834** 0,000 0,716** 0,000 0,544** 0,000 0,180 0,168 0,133 0,312 0,177 0,175 0,208 0,111 0,721** 0,000 0,623** 0,000 0,490** 0,000 0,677** 0,000 0,614** 0,000 0,391** 0,002 0,416** 0,001 0,658** 0,000 -0,024 0,855 -0,084 0,522 -0,008 0,952 -0,012 0,929 0,683** 0,000 0,685** 0,000 0,369** 0,004 0,609** 0,000 0,681** 0,000 0,470** 0,000 0,412** 0,001 0,702** 0,000 0,540** 0,000 0,321* 0,012 0,301* 0,020 0,599** 0,000 0,588** 0,000 0,409** 0,001 0,507** 0,000 0,563** 0,000 0,526** 0,000 0,384** 0,002 0,453** 0,000 0,496** 0,000 10 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Valor bruto da produção 0,572** 0,000 0,385** agropecuária Fonte: Dados a pesquisa n.a. - Não se aplica (*) Significativo a 5% e (**) Significativo a 1% 0,002 0,425** 0,001 0,574** 0,000 A Tabela 2 apresenta os resultados das regressões estimadas entre o número total de subprojetos e os índices de desenvolvimento e demais indicadores selecionados6. Resultados similares foram encontrados utilizando-se número de sub-projetos de abastecimento de água, eletrificação rural e mecanização agrícola7. Como pode ser observado, todos os modelos estimados foram significativos, válidos, embora com baixo coeficiente de correlação, R2 8. Como o interesse na presente análise é apenas quantificar a relação entre as variáveis, um R2 baixo não caracteriza uma limitação do modelo. Conforme os coeficientes estimados, a cada subprojeto implantado espera-se, em média, um aumento de 0,11 no valor do IDM global , 0,33 no índice dos indicadores fisiográficos, fundiários e agrícolas e 0,10 no índice dos indicadores de infra-estrutura de apoio, 38,45 MHW no consumo de energia elétrica rural, 36,19 no número de consumidores rurais de energia elétrica. Um aumento de uma unidade de subprojeto provocam aumento de 12 matrículas de jovens e adultos na zona rural, 2,14 salas de aulas rurais e 1,02 escolas rurais. Observa-se ainda um aumento de R$ 359,82 no valor bruto da produção agropecuária, de 303,24 ha na área total com lavouras permanentes e temporárias e de 0,01 % na proporção da área com lavouras do município em relação à área total do Estado. Os sinais dos coeficientes estimados demonstram os impactos positivos dos subprojetos nos municípios onde são implantados. Tabela 2 – Estatísticas obtidas no modelo de regressão com número total de projetos como variável independente de Variável dependente Coeficiente Nível de Coeficiente estimado significância9 determinação (R2) IDM – Global 0,11 0,002 0,16 Índice – Fisiográficos, 0,33 0,000 0,41 Fundiários e Agrícolas Índice – Infra-estrutura de 0,10 0,060 0,06 Apoio Consumo rural de energia 38,45 0,003 0,18 elétrica Número de consumidores 6 A ausência de heterocedastidade foi verificada através do teste White. Os resultados dos modelos com variáveis independentes: número de subprojetos de abastecimento de água, eletrificação rural e mecanização agrícola encontram-se no anexo. 8 O baixo ajustamento do modelo pode ser explicado pela não inclusão de outras variáveis explicativas e pela heterogeneidade verificada entre os municípios analisados. 9 Como se trata de um modelo de regressão simples, o nível de significância do coeficiente estimado é o próprio nível de significância do modelo estimado ( “t” = “F”) 7 11 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" rurais de energia elétrica Matrículas de jovens e adultos na zoa rural Número de salas de aula na zona rural Número de escolas rurais Área plantada com lavouras permanentes e temporárias Participação na área plantada com lavouras no Ceará Valor bruto da produção agropecuária Fonte: Dados da pesquisa 36,19 0,000 0,52 12,00 2,14 0,000 0,000 0,47 0,46 1,02 0,000 0,29 303,24 0,000 0,23 0,01 359,82 0,000 0,000 0,36 0,27 4. Conclusões A implantação de subprojetos de abastecimento de água, eletrificação e mecanização agrícola esta correlacionada com diferentes segmentos econômicos e sociais do Estado do Ceará podendo-se destacar aspectos relacionados aos indicadores fisiográficos, fundiários e agrícolas, à infra-estrutura de apoio, consumo rural de energia elétrica, número de consumidores rurais de energia elétrica, proporção do número de consumidores rurais de energia elétrica em relação ao número de consumidores totais de energia elétrica do município, número de matrículas de jovens e adultos na zona rural, número de salas de aula na zona rural, número de escolas na zona rural, área plantada com lavouras, participação da área plantada com lavouras no município em relação à total plantada com lavouras no Ceará e valor bruto da produção agropecuária. A acreditar que a implantação dos referidos subprojetos contribuiu para melhorar o desempenho indicadores nos municípios beneficiados. O Projeto São José, grosso modo, proporcionou melhorias na qualidade de vida da população beneficiada no setor rural, contudo, como se sabe, os recursos do projeto são destinados a famílias muito carentes não só em termos econômicos mas social e cultural. Assim, para que os ganhos de uma política como a que se está analisando sejam mais substanciais é necessário o apoio de assistência técnica, extensão rural e políticas concomitantes em outros setores como saúde e educação. Referências bibliográficas CEARÁ, Projeto São José. Relatório de Avaliação 1996/2001. Fortaleza: SDR, 2002 mimeo. HAIR, J. F.; ANDERSON, R. E.; TATHAM, R. L.; BLACK, W. C. Análise multivariada de dados. 5 Ed.. Bookman, 2005. IPLANCE. Instituto de Planejamento do Estado do Ceará. Anuário Estatístico do Ceará, 2001,2002. 12 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" IPECE. Instituto de pesquisa e estratégia econômica Desenvolvimento Municipal 2002. Fortaleza, 2004. do Ceará. Índice de LEVIN, J. Estatística Aplicada às Ciências Humanas 2 ed. São Paulo, Editora HARBRA..392p 1987. MEDEIROS, E.J.R.de. Avaliação socioeconômica do programa reforma agrícola solidária: estudos de caso nos imóveis Barra I e Cacimba Nova – Estado do Ceará. Fortaleza: UFC/Departamento de Economia Agrícola, 2000, 173p. (Dissertação de Mestrado). 13 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural