182 Grou CR, Cassiani SHB, Telles Filho PCP, Opitz SP ARTIGO ORIGINAL Conhecimento de enfermeiras e técnicos de enfermagem em relação ao preparo e administração de medicamentos Knowledge of licensed practical nurses and nursing technicians as to medication preparation and administration Cris Renata Grou1, Silvia Helena de Bortoli Cassiani2, Paulo Celso Prado Telles Filho 3, Simone Perufo Opitz4 ABSTRACT RESUMO Objective: The objective of this study was to identify, categorize and analyze questions raised by licensed practical nurses and nursing technicians regarding medication preparation and administration, as well as to propose educational strategies based on the data collected. Methods: Three clinics of a public hospital were randomly selected and the nurses were requested to write down all the questions that they were asked with regards to medication administration during one month. After approval by the Research Ethics Committee, data collection was initiated. Results: The questions (n = 103) were identified and categorized as: Patient’s conditions (21): medication administration in fasting patients with hyperthermia, hypotension and other alterations. General knowledge (19): medication knowledge, mathematical questions and prescription symbols. Dilution (17): type and amount of diluent used in certain medications. Preparation/Formulation (14): medication with a different formulation from that prescribed. Drug interaction (10): administration of two or more drugs at the same time and by the same route. Administration Route (09): form of application of certain drugs. Dose (07): dose presented and dose to be administered. Generic and Brand names (06): equivalence between brand and generic names in the prescription. Conclusions: Continuous supervision and improvement as well as development and implementation of protocols are required for medication administration actions. Objetivo: Este estudo teve como objetivo identificar, categorizar e analisar as dúvidas expressas por auxiliares e técnicos de enfermagem acerca do preparo e administração de medicamentos, bem como propor estratégias educativas a partir dos dados obtidos. Métodos: Três clínicas de uma instituição hospitalar pública foram selecionadas aleatoriamente e solicitou-se aos enfermeiros que anotassem, durante um mês, todas as questões a eles formuladas referentes à administração de medicamentos. Após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, iniciou-se a coleta dos dados. Resultados: As questões foram identificadas e categorizadas como: alterações nas condições do paciente (21): administração de medicamentos em pacientes em jejum, com hipertermia, com hipotensão e com outras alterações; conhecimento geral (19): conhecimento de medicamentos, questões matemáticas e símbolos na prescrição; diluição de medicamentos injetáveis (17): tipo e quantidade de diluente utilizado em determinados medicamentos; preparo/apresentação dos medicamentos (14): medicação com apresentação diferente da prescrita; associação de medicamentos (10): administração de duas ou mais drogas em mesmo horário e via; vias de administração (9): modo de aplicação de determinados medicamentos; dose apresentada e dose ministrada (7): a ser apresentada e a ser administrada; nome genérico e comercial (6): correspondência entre nomes comerciais e genéricos da prescrição. Conclusões: Há necessidade de supervisão constante para a ação da administração de medicamentos, constante aprimoramento, bem como elaboração e implantação de protocolos. Keywords: Professional practice; Health knowledge, attitudes, Practice; Pharmaceutical preparations; Nursing, team Descritores: Prática profissional; Conhecimentos, atitudes e prática em saúde; Preparações farmacêuticas; Equipe de enfermagem 1 Enfermeira do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. 2 Enfermeira. Professora Associada do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP. 3 Enfermeiro. Mestre e Doutorando pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP. Docente e Chefe de Departamento de Pesquisa de Universidade Camilo Castelo Branco – UNICASTELO. 4 Enfermeira. Mestre e Doutoranda pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da USP. Docente da Universidade Federal do Acre. Endereço para correspondência: R. Lafaiete, 805 - ap. 11 - CEP 14015-080 - Ribeirão Preto - SP - Tel.: 16 610 240 - e-mail: [email protected]. Recebido em 28 de novembro de 2003 - Aceito em 15 de abril de 2004 einstein. 2004; 2(3):182-6 Conhecimento de enfermeiras e técnicos de enfermagem em relação ao preparo e administração de medicamentos INTRODUÇÃO Uma das principais funções da equipe de enfermagem no cuidado aos pacientes é a administração de medicamentos, a qual exige dos profissionais: responsabilidade, conhecimentos e habilidades, fatores estes que garantem a segurança do paciente. O sistema de medicação nos hospitais incorpora as etapas da prescrição médica, distribuição, dispensação, transcrição da prescrição e administração propriamente dita. Para tanto, vários profissionais estão envolvidos, o que o constitui como multidisciplinar e multissistêmico. Erros na medicação podem ocorrer em qualquer momento, já que há um sistema com várias etapas seqüenciais, dependentes umas das outras e executadas por uma equipe multidisciplinar, como já mencionado. Por constituir-se de várias etapas e envolver vários profissionais, o risco de ocorrência de erro é elevado. Os enfermeiros e suas equipes estão na linha final desse sistema, podendo ser responsabilizados por erros em quaisquer etapas. Duas abordagens explicam a causa dos erros: a abordagem centrada na pessoa e na situação. Na abordagem centrada na pessoa, o erro ocorre como resultado direto da falta de cuidado, negligência ou esquecimento. Como conseqüências responsabiliza-se o indivíduo e impõe-se alguma ação disciplinar ou restringe-se suas ações. Desta forma, essa abordagem enfatiza a punição como o principal elemento para qualquer ação corretiva. Já a abordagem centrada no sistema enfatiza a condição humana e antecipa que erros ocorram. Focaliza a identificação de fatores predisponentes no ambiente de trabalho ou no sistema. A abordagem punitiva não se mostra efetiva à medida que, responsabilizando o indivíduo, nada é feito em relação ao “sistema”, que continua com o mesmo problema e não se elimina o erro humano. Assim, o erro pode ocorrer a partir de um conjunto de comportamentos humanos não evitáveis, independentemente da capacidade ou experiência que os indivíduos possuem. Na grande maioria dos casos, o erro não é sinal de não-profissionalismo, mas sim conseqüência do fato de que é inevitável, humano e que muitas instituições possuem sistemas altamente condutivos a ele. Há uma positiva correlação entre erros de medicação e a piora do quadro do paciente, já que ocorrem em decorrência disto úlceras de pressão, infecções, queixas, aumento da estadia no hospital e óbitos(1). No Brasil, a equipe de enfermagem é constituída por auxiliares e técnicos de enfermagem, além de enfermeiros, sendo os primeiros responsáveis, na 183 maioria das instituições, pelo preparo e administração de medicamentos. Estudos informam a insuficiência de conhecimento acerca da farmacologia entre tais profissionais. Além disso, acrescentam-se problemas como: a falta de um farmacêutico clínico, de literatura disponível e atualizada sobre medicamentos, despreparo da equipe de enfermagem, insuficiente qualificação profissional, inobservância de procedimentos técnicos, escassez de recursos materiais e inexistência de protocolos na assistência de enfermagem, dentre outros aspectos(2-4). Uma das causas da ocorrência de erros na administração de medicamentos é o conhecimento insuficiente acerca das indicações do medicamento, mostrando mais uma vez a insegurança e dificuldades enfrentadas por auxiliares e técnicos de enfermagem em administração de medicamentos, bem como suas conseqüências, confirmando a necessidade de estratégias educativas na melhoria da qualidade nesta ação(5). Dessa forma, falhas no sistema influenciam o trabalho da equipe e podem determinar que erros sejam cometidos. Assim, as investigações devem ser conduzidas buscando-se evidenciar aspectos do sistema que necessitam de modificações. O aspecto eleito para essa investigação foi o conhecimento de técnicos e auxiliares de enfermagem no que concerne ao preparo e administração de medicamentos. OBJETIVO O objetivo deste estudo foi identificar, categorizar e analisar as dúvidas expressas por auxiliares e técnicos de enfermagem acerca do preparo e administração de medicamentos, bem como propor estratégias educativas a partir dos dados obtidos. MÉTODOS A pesquisa realizou-se em uma instituição hospitalar universitária localizada no interior do Estado de São Paulo. Trata-se de um centro de referência e excelência, que presta assistência complexa, valorizando a otimização dos resultados. A população em estudo foi constituída por todos os auxiliares e técnicos de enfermagem atuantes em unidades de internação clínica, cirúrgica e psiquiátrica. A amostra foi constituída pelos membros da equipe que se reportaram aos enfermeiros durante o preparo e administração de medicamentos com dúvidas no período da coleta de dados. A coleta de dados realizou-se no período de um mês (março a abril de 2003) e constou de levantamento einstein. 2004; 2(3):182-6 184 Grou CR, Cassiani SHB, Telles Filho PCP, Opitz SP das dúvidas apresentadas pelos profissionais de enfermagem (auxiliares e técnicos de enfermagem) responsáveis pelo preparo e administração de medicamentos. Para tanto foi fornecido aos enfermeiros das unidades de internação clínica, cirúrgica e psiquiátrica um formulário composto pelos seguintes itens: título do trabalho, data a ser preenchido, clínica a ser aplicada e questões apresentadas pelos auxiliares e técnicos de enfermagem, com o objetivo de que anotassem as dúvidas apresentadas pelos auxiliares e técnicos de enfermagem responsáveis pelo preparo e administração de medicamentos. Diariamente, no período de manhã, os investigadores recolhiam os formulários e entregavam um novo ao enfermeiro. As dúvidas eram esclarecidas no mesmo momento e anotadas à parte para subsidiar a análise e elaboração da proposta educativa. O projeto em questão foi submetido ao Comitê de Ética na Pesquisa do hospital em que o estudo foi desenvolvido; somente após a obtenção da aprovação, foi dado o início à coleta de dados. A organização dos dados procedeu-se da seguinte forma: após a coleta de dados, categorizaram-se as dúvidas em oito categorias. É importante ressaltar que a categorização das dúvidas foi feita através do agrupamento das mesmas (códigos) e as categorias nominadas de acordo com a literatura, por exemplo: para as respostas dos enfermeiros relacionadas às alterações nas condições do paciente (categoria), tevese administração de medicamentos quando o paciente está em jejum, com hipertermia, hipotensão, hemorragias e alterações nos sinais vitais. Tais categorias serão apresentadas a seguir sob a forma de tabela e posteriormente comentadas. Após os comentários, citam-se algumas das dúvidas de maior relevância para o estudo. RESULTADOS Foram registradas 103 dúvidas reportadas aos enfermeiros pelos auxiliares e técnicos de enfermagem referentes ao preparo e administração de medicamentos nas unidades clínica, cirúrgica e psiquiátrica de um hospital universitário. Os dados coletados foram agrupados em oito categorias, que quais podem ser observadas no quadro 1. A seguir, são descritas tais categorias. A categoria Alterações nas Condições do Paciente reporta-se àquelas dúvidas referentes à administração de medicamentos quando o paciente está em jejum, com hipertermia, hipotensão, hemorragias e alterações nos sinais vitais. Como as condições do paciente modificam-se no decorrer do dia, os técnicos e einstein. 2004; 2(3):182-6 Quadro 1. Distribuição das categorias de dúvidas apresentadas pelos auxiliares e técnicos de enfermagem. São Paulo, 2004 CATEGORIAS Alterações nas condições do paciente Conhecimento geral Diluição de medicamentos injetáveis Preparo/apresentação da medicação Associação de medicamentos Vias de administração Dose apresentada e dose ministrada Nome genérico/comercial TOTAL FREQUÊNCIAS 21 19 17 14 10 9 7 6 103 auxiliares recorriam aos enfermeiros na tentativa de se certificarem se a administração de determinado medicamento prescrito era apropriada ou não. Nesta categoria registram-se várias dúvidas, das quais citam-se como exemplos: “Paciente está em jejum para exames, deve-se fazer insulina?”; “Paciente em uso de anti-hipertensivo oral, PA 90 x 60 mm Hg, deve-se administrar”?” e “Paciente está apresentando vômitos contínuos, deve-se administrar medicação VO?”. A categoria Conhecimento Geral reúne as dúvidas dos profissionais em razão da redação das prescrições, o que se deve fazer caso o medicamento esteja em falta na instituição e uso de símbolos na prescrição. Destacam-se dúvidas quanto a prescrições manuais e mal redigidas, uso de símbolos e em situações que envolvem conhecimento de princípios farmacológicos dos medicamentos (efeitos colaterais, indicação, via de administração, tempo de ação, entre outras). Algumas frases ilustram tal categoria: “Está prescrito SF 1.000 ml e 1 ampola de carbonato de cálcio. Temos gluconato de cálcio. É a mesma coisa?”; “Paciente está usando varfarina VO, está prescrita também heparina SC, deve-se administrar ambas?” e “Qual proporção entre UI e mg?” A categoria Diluição de Medicamentos Injetáveis refere-se às questões apresentadas sobre o tipo e quantidade de diluente utilizada em cada um dos medicamentos. Neste momento, as dúvidas surgem relacionadas à diluição de medicamentos que precipitam quando em contato com os diluentes, como nos casos de sedativos e anticonvulsivantes (fenitoína), pois os auxiliares e técnicos de enfermagem não estão certos a respeito da eficácia do medicamento quando precipitado. Destaca-se, também, a dúvida freqüente quanto ao volume da diluição dos antibióticos a serem administrados por meio da via endovenosa, como gentamicina e amicacina. Surgem dúvidas, ainda, relacionadas à administração de medicamentos em crianças. Nesta categoria registram-se várias dúvidas, das quais citam-se como exemplos: “Deve-se ou não diluir fenitoína para administrar?” e “Como devo diluir a Conhecimento de enfermeiras e técnicos de enfermagem em relação ao preparo e administração de medicamentos heparina para utilizar na heparinização de cateter venoso periférico?” A categoria Preparo/Apresentação da Medicação relaciona-se às condições em que o medicamento se apresenta para ser preparado e administrado, administração de medicamentos gelados e de parte das doses de medicações injetáveis pré-preparadas. A seguir, registram-se algumas das dúvidas mencionadas pela amostra: “Qual a validade da penicilina após diluída?; Onde deve ser conservada?” e “Como devo proceder para obter solução fisiológica a 0,45%?” A próxima categoria, denominada Associação de Medicamentos, refere-se à administração de dois ou mais medicamentos em mesma via e horário. Surgem dúvidas quanto à administração de medicamentos simultaneamente com soro e infusão de eletrólitos, com hemoderivados e duas drogas ao mesmo tempo. Citam-se as dúvidas: “Pode-se administrar tramadol em equipe y com soro e eletrólitos?” e “Pode-se administrar antibiótico em equipe y com nutrição parenteral?” A categoria Vias de Administração apresenta dúvidas relacionadas ao modo de aplicação de determinados medicamentos, por exemplo, fenobarbital IM ou EV. Os profissionais envolvidos no preparo e administração de medicamentos estão relativamente acostumados a administrar certos medicamentos em uma determinada via e, na vigência de alterações, surgem as dúvidas e incertezas, principalmente quando os medicamentos são para ser administrados IM, demonstrando, dessa forma, a insegurança quanto à técnica de administração de medicamentos intramuscular. As dúvidas surgidas, então, são quanto ao local a ser administrado, o músculo a ser atingido, bem como suas vantagens e desvantagens. Seguem-se as dúvidas coletadas: “Estava prescrito para o paciente fenobarbital EV, anteriormente estava prescrito IM, pode-se fazer EV mesmo?” e “Pode-se administrar cetoprofeno via intramuscular, geralmente é administrado EV?” A categoria Dose Apresentada e Dose Ministrada destaca dúvidas relacionadas à diferença entre a dose apresentada e a dose a ser administrada, por exemplo, diazepam 10 mg, apresentação de 5 mg, divisão de cápsulas e uso de porcentagem na medicação, ou seja, cálculos na diluição. Acrescenta-se, ainda, a presença de dúvidas quanto ao conhecimento em matemática, relativos a porcentagens e vigência da falta do medicamento na instituição. Como dúvidas, obteve-se: “Está prescrito enalapril ½ cp VO, o medicamento é cápsula, como devo 185 preparar?”; “Está prescrito benzoato de benzila 25% tópico - 200 ml, posologia: 1:2, como devo administrar?” e “Está prescrito carvedilol 12,5 mg, 2 cp à noite, temos apenas carvedilol 3,125 mg, como devo administrar?”. A categoria Nome Genérico/Comercial trata das dúvidas referentes à correspondência entre nomes comerciais e nomes genéricos da prescrição. Neste momento destacam-se dúvidas referentes a medicamentos com nomes compostos como brometo de pancurômio, demonstrando a dificuldade dos auxiliares e técnicos para com os nomes genéricos dos medicamentos, tornando o preparo e administração dos mesmos uma tarefa pouco segura devido à falta de conhecimento. Têm-se as seguintes questões: “Comprimido de T3 ‘e o mesmo que a tiroxina (T4 PuranÒ)?” e “Vitamina K é o mesmo que kanakion?”. DISCUSSION Com relação a categoria Alterações nas Condições do Paciente, sabe-se que a idade, formas e vias de administração, peso, altura, anamnese, mudanças metabólicas e armazenamento da droga são considerados de grande importância, merecendo, portanto, especial atenção por parte dos enfermeiros. Para isto é necessária atualização dos profissionais responsáveis pelo preparo e administração de medicamentos quanto à farmacologia dos mesmos(6). Sugere-se, então, que no processo de enfermagem os dados relacionados aos medicamentos sejam valorizados e destacados, elaborando e aplicando protocolos conjuntamente com a equipe de enfermagem e multiprofissional. Em relação a categoria Conhecimento Geral, corroboram-se dados, um estudo que obteve registro de 6.180 pontos em categoria denominada “Preparo e administração de medicamentos”, o qual objetivou verificar necessidades educacionais de enfermeiros em um hospital universitário do interior do Estado de São Paulo(7) . Deve-se lembrar, no que concerne à categoria Preparo/Apresentação da Medicação, que as tendências atuais são de que os medicamentos sejam preparados para ser administrados pelos enfermeiros, auxiliares e técnicos, como no caso do sistema de distribuição por dose unitária, fato que já acontece nos casos de quimioterapia e nutrição parenteral na instituição em estudo. Há laboratórios que lançam no mercado determinados medicamentos na forma preparada já com a dose correta a ser administrada, como no caso da enoxaparina. Neste caso, a medicação vem do einstein. 2004; 2(3):182-6 186 Grou CR, Cassiani SHB, Telles Filho PCP, Opitz SP laboratório farmacêutico em seringa própria, especificando a dose contida na mesma, não podendo serem administradas frações de dose. Com isto, a atividade de quem administra a medicação torna-se difícil e confusa. No tocante à categoria Associação de Medicamentos, sabe-se que é imprescindível que a equipe de enfermagem, durante a terapêutica medicamentosa, observe e avalie o cliente quanto a possíveis interações medicamentosas e incompatibilidades farmacológicas, minimizando riscos ao mesmo(5) . Destaca-se que na categoria Vias de Administração alguns profissionais desconhecem a administração de medicamentos no músculo ventroglúteo, deixando clara a deficiência de conhecimento, inclusive quanto à técnica; daí necessitam de atualização a respeito dos princípios que permeiam o preparo da medicação (assepsia, diluição) e na administração (técnica, anatomia). Na categoria Dose Apresentada e Dose Ministrada, depara-se com situações cotidianas em que os profissionais apresentam dificuldades na realização dos cálculos dos medicamentos pelo não domínio de questões matemáticas. É fundamental, também, o conhecimento sobre os princípios que envolvem a administração de medicamentos, ações, interações e efeitos colaterais, uma vez que um erro pode trazer graves conseqüências aos clientes sob responsabilidade desses profissionais(8). Pôde-se identificar a maior parte das dúvidas na categoria Alterações nas Condições do Paciente, as quais podem estar relacionadas às diferentes condutas adotadas pelos enfermeiros ou determinadas equipes médicas, expressando, assim, a necessidade da elaboração de protocolos para que a conduta possa ser a mesma, facilitando tanto o trabalho dos enfermeiros quanto dos auxiliares e técnicos de enfermagem. O atual desenvolvimento tecnológico dos produtos farmacêuticos, envolvendo os medicamentos quanto a diferentes embalagens, apresentação, diluição, modo de preparo e administração gera dúvidas significativas. Neste contexto, ressalta-se a importância da educação continuada e do conhecimento atualizado por parte einstein. 2004; 2(3):182-6 dos enfermeiros. Assim, estratégias educativas, tais como discussão em grupo a partir desses questionamentos, grupos de estudos, estudos clínicos, reuniões multiprofissionais e elaboração de protocolos a partir dessas questões e de outras que porventura vierem a surgir são propostas que se apresentam a partir dos dados emergidos. Há de se ressaltar a importância da utilização dessas estratégias educacionais, em conjunto, com a elaboração de protocolos que visem a um esclarecimento acerca de todas as categorias identificadas no estudo e conseqüentemente a uma maior segurança na realização do processo da administração de medicamentos. CONCLUSÕES Esse estudo identificou, a partir das dúvidas apresentadas, a necessidade de supervisão contínua para a ação do processo da administração de medicamentos, o constante aprimoramento através das estratégias sugeridas, bem como a elaboração e implantação de protocolos. A falta de conhecimentos e de atualização na temática “administração de medicamentos” tem possibilitado a ocorrência de erros no processo da administração dos mesmos(3,7,9). Tal cenário faz ressaltar a necessidade de educação permanente, já que na prática de pesquisa pode-se observar que a educação e supervisão contínua, realizada pelo enfermeiro em seus diversos ambientes de trabalho é prática altamente fecunda. A elaboração de protocolos especificando o que deve ser feito em determinadas situações auxilia significativamente a assistência de enfermagem. Reconhece-se que, em nem todas as situações, caberiam protocolos, mas em algumas poderiam ser implantados, facilitando e melhorando a assistência de enfermagem. Há de se destacar a importância da realização de outros estudos, com objetivo semelhante, que investigassem uma amostra maior de auxiliares e técnicos de enfermagem, bem como de outras instituições para a proposta de outras alternativas em busca crescente de estratégias que visassem a uma eficiente qualidade da assistência de enfermagem. 187 Grou CR, Cassiani SHB, Telles Filho PCP, Opitz SP REFERÊNCIAS 1. Reed L, Blegen MA, Goode CS. Adverse patient occurrences as a measure of nursing care quality. J Nurs Adm. 1998; 28(5):62-9. 2. Arcuri EAM. Reflexões sobre a responsabilidade do enfermeiro na administração de medicamentos. Rev Esc Enfermagem USP. 1991; 25(2):229-37. 3. Oliveira VT, Cassiani SHB. Análise técnica e científica da administração de medicamentos por via intramuscular em crianças por auxiliares de enfermagem. Acta Paul Enfermagem. 1997; 10(2): 49-61. 4. Cassiani SHB, Rangel SM, Tiago F. 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