ORGANIZAÇÃO MILITAR PRESTADORA DE SERVIÇO “CONTROLE DE CUSTOS HOSPITALAR” Mauro Sergio da Silva1 RESUMO: As restrições orçamentárias por que passa atualmente o setor público no Brasil tem incentivado instituições a repensar seus modelos de administração de recursos humanos, materiais, financeiros e tecnológicos, buscando-se um melhor aproveitamento do seu emprego dentro da complexa dinâmica operacional. Com o intuito de resolver esses problemas, em 1994, a alta administração da Marinha do Brasil pôs em prática uma sistemática de controle gerencial dos custos das suas Organizações Militares, cujas ferramentas basilares foram o SIAFI (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (MB) e a contabilidade de custos. Com o intuito principal de demonstrar a importância da determinação dos custos para uma eficiente gestão econômicofinanceira de uma Organização Militar (OM), no caso em questão, uma hospitalar, utilizando-se dos fundamentos que norteiam a aplicação da contabilidade de custos, este artigo se amparou em diversas fontes de pesquisa bibliográfica como a leitura de trabalhos, livros e normas que versam sobre a contabilidade de custos e a realização de várias consultas às páginas de internet. Com base nas informações colhidas, demonstraremos que a implantação de um sistema de custo nos hospitais é de vital importância para o efetivo controle de gastos, indicaremos ainda, os procedimentos necessários para a implantação do referido sistema em um Hospital do Exército, permitindo-se calcular os custos departamentais e os das demais atividades desenvolvidas, transformando-se em informações úteis nas tomadas de decisão gerencial. Palavras-chave: Contingências Orçamentárias. Marinha do Brasil. Organizações Militares Prestadoras de Serviços. Contabilidade de custos. Exército Brasileiro ABSTRACT: The budget restrictions that the Brazilian public sector faces nowadays have encouraged the institutions to rethink its management models of human, material, financial and technological resources, seeking a better use of its employment inside the complex operational dynamics. Aiming at solving these problems, in 1994, the high Brazilian Navy Management implemented a system of cost management control of its Military, whose basic tools were the SIAFI (Federal Government Integrated System of Financial Management) and the cost accountingt. With the main objective of showing the importance of the cost determination to an efficient economic-financial management of an Military Organization, in this case, a hospital, using the fundaments that guide the application of the cost accounting, this paper had as basis several sources of bibliographic research like reading of papers, books, and rules about the cost accounting and also several consults to Internet pages. Basing at the collected information, we will demonstrate that the implementation of a cost system at the hospitals is of vital importance to the effective expense control. We will also indicate the necessary procedures to the implementations of the cited system in an Army Hospital, what will enable us to calculate the department costs and the others developed activity costs. These information will be turned into helpeful elements when management decisions are made. Keywords: Budget Restrictions. Brazilian Navy. Service Executer Military Organization. Cost Accounting. Brazilian Army 1 INTRODUÇÃO A Constituição da República Federativa do Brasil (CF), em seu artigo 37, 1 consagrou dentre os princípios orçamentários governamentais a necessidade de se alcançar eficiência na gestão da administração pública. O artigo 74 do mesmo instrumento Tenente Aluno do Curso de Formação de Oficiais. Bacharel em Ciências Contábeis. [email protected] 2 legal ratifica esse propósito ao esclarecer que os poderes constituídos deverão manter uma estrutura própria de controle interno, em que uma de suas várias finalidades é “comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal”. Eficiência, em seu conceito amplo, significa a ação de buscar os resultados planejados pela organização, seja pública ou privada, utilizando-se dos recursos humanos, materiais e tecnológicos no grau necessário para a execução das atividades que permitam lograr os objetivos preestabelecidos. É otimizar a aplicação de recursos, evitando-se desperdícios ou malversação de ativos, objeto de vigilância de todo sistema de controle interno. Com a obrigação de se manter eficiente, A MB dedica-se no sentido de cumprir seu dever constitucional. No ano de 1994, foram criadas as Organizações Militares Prestadoras de Serviços (OMPS), cuja função primordial era possibilitar à alta administração naval o conhecimento dos custos operacionais de suas organizações de apoio logístico, especialmente aquelas voltadas para reparos de seus meios operativos, de forma a identificar a realidade econômica dessas organizações num contexto de crescente escassez orçamentária. Como forma de alcançar tal fim, era necessário se recorrer a conhecimentos técnicos que permitissem calcular o uso e o valor dos ativos organizacionais, demonstrassem a confrontação entre receitas, custos e despesas operacionais e apurassem o resultado da gestão econômico-financeira das OMPS. A contabilidade de custos é o ramo do conhecimento científico capaz de fornecer os elementos necessários para realizar a mensuração econômica das atividades das OMPS, permitindo à alta administração dispor de informações para planejamento e controle, úteis para o processo de tomada de decisão. Este artigo apresenta inicialmente um breve histórico da criação da sistemática OMPS, depois descreve-se os principais conceitos da contabilidade de custos aplicáveis em uma organização hospitalar da MB, fazendo uma correlação com o sistema do custo empregado nos setores hospitalares do Exército Brasileiro (EB). Por fim descreve como um sistema de custos hospitalares permitirá a obtenção de dados úteis, para os propósitos gerenciais de planejamento e controle. 2 CLASSIFICAÇÃO DAS OMPS Diante de um cenário externo de restrições orçamentárias, em 1994 o alto comando da MB procurou meios de resolver essa situação, sendo, procurou analisar o seu contexto econômico interno e identificar ações gerenciais exeqüíveis para melhorar a emprego dos recursos financeiros, humanos e materiais de suas Organizações Militares (OM), priorizando inicialmente aquelas que prestavam serviços afetos à manutenção naval, onde a complexidade das suas operações dificultava a visualização da sua eficiência organizacional. Sendo assim, foi de extrema necessidade criar-se uma nova sistemática para controle econômico-financeiro das atividades das OM industriais, principalmente no tocante ao faturamento dos serviços e mensuração dos custos operacionais, de modo a otimizar o emprego dos recursos a elas alocados e auxiliar na solução dos problemas existentes. Naquele mesmo ano, era criado o sistema OMPS – Organizações Militares Prestadoras de Serviço – buscando-se, fundamentalmente, o aprimoramento dos controles internos e a determinação mais eficiente dos custos das OM industriais e prestadoras de serviço. A operacionalização do sistema OMPS apoiou-se basicamente sobre duas ferramentas gerenciais: o SIAFI (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal), programa que possibilita lançamentos contábeis e patrimoniais das unidades governamentais (unidades gestoras) e a contabilidade de custos. O SIAFI permitiria a contabilização do fluxo financeiro entre as OMPS e as OM clientes, 3 enquanto a contabilidade de custos forneceria as técnicas que permitiriam mensurar os ativos envolvidos no processo de fabricação de bens ou na prestação de serviços decorrentes das atividades principais ou secundárias das OMPS. As OMPS são organizações que prestam diferentes tipos de serviços a outras OM (clientes), podendo prestar serviços a entidades privadas. São classificadas em: a) OMPS Industrial (OMPS-I): primeiras a serem criadas (1994), são aquelas que tem como atividade principal a prestação de serviços industriais na área de mecânica, elétrica, hidráulica, estrutura naval e afins. Cita-se o Arsenal de Marinha no Rio de Janeiro. b) OMPS de Ciência e Tecnologia (OMPS-C): tem por atividade principal a pesquisa e o desenvolvimento de ciência e tecnologia, prestando serviços relacionados à consultoria e apoio técnico em projetos. Citase o Instituto de Pesquisas da Marinha. c) OMPS de abastecimento (OMPSA): tem por atividade principal conferir maior rapidez e flexibilidade ao gerenciamento dos recursos destinados à obtenção do material necessário às OM da MB. Cita-se o Centro de Controle de Inventário da Marinha. d) OMPS hospitalar (OMPS-H): tem por atividade principal a prestação de serviços hospitalares, sejam médicos ou odontológicos. Cita-se o Hospital Naval Marcílio Dias. e) OMPS Especial (OMPS-E): são OM que prestam serviços especiais, não enquadrados nos tipos anteriormente descritos, como a prestação de serviços de comunicação pela rede interna da MB. Cita-se como exemplo o Comando do Primeiro Distrito Naval. Em um Hospital significaria a necessidade de mensurar os custos reais2 dos seus centros de atendimento, dos procedimentos médico-odontológicos e do custo médio de seus pacientes em um período, podendo mesmo fazer-se uma comparação com um custo-padrão preestabelecido para cada um dos diversos serviços e procedimentos, atendendo-se às normas de controle de gastos. Em uma OMPS-H, a contabilidade de custos destinase basicamente a: a) atender às funções administrativas de planejamento, organização e controle, pois permite mensurar os custos das atividades desenvolvidas; b) auxiliar a determinar a rentabilidade das operações internas, subsidiando o valor a ser faturado pelos bens e serviços prestados aos clientes, permitindo-se a devida confrontação entre receitas, custos e despesas; e c) subsidiar tomadas de decisão relacionadas à eficiência da instituição, fornecendo as informações econômicas decorrentes do emprego dos recursos disponíveis, possibilitando uma avaliação do desempenho organizacional. A contabilidade de custos é dotada de terminologia própria. Martins (2003) descreveu importantes definições, sendo apresentadas abaixo algumas delas: a) Gasto: representa um compromisso formal com terceiros à instituição, sendo pago mediante saída de ativos, normalmente dinheiro. Exemplo: uma aquisição de medicamentos. b) Custos: são bens ou serviços empregados na produção de outros bens ou de outros serviços. Exemplo: filmes empregados na clínica de radiologia. c) Despesas: são bens consumidos ou serviços prestados na área administrativa da organização, concorrendo para sua manutenção e funcionamento. Exemplo: tinta 3 O EMPREGO DOS CUSTOS NAS OMPS Para Martins (2003, p.21) a contabilidade de custos é um sistema de informação que permite à administração de uma instituição, empresa, departamento ou divisão obter registros confiáveis dos seus custos operacionais, auxiliando-a na tomada de decisões. 2 Diferentemente do que ocorre nas empresas privadas, a MB não inclui como custos reais aqueles relativos à depreciação, amortização ou exaustão de ativos, em virtude da Lei 4.320/64, que trata da contabilidade pública, não prever seu uso nos demonstrativos financeiros dos órgãos da administração direta e indireta. 4 consumida para delimitar as vagas de estacionamento. d) Receita: representa o recebimento de dinheiro ou o reconhecimento de direitos a receber pela organização, normalmente decorrente de bens fornecidos ou serviços prestados aos clientes. e) Perda: é um gasto não intencionado, decorrente de fatos imprevistos (fortuitos) ou da execução de processos internos, relacionados às atividades desenvolvidas pela OMPS-H. Exemplo: a quebra involuntária de vidros de antibióticos transportados em uma ambulância. f) Custo-padrão corrente: é o valor físico e monetário, fixado como planejado para um determinado produto ou serviço já ajustado pelas deficiências existentes, em virtude da qualidade dos materiais empregados, ou da mão-de-obra disponível ou do estado dos equipamentos, dentre outras possíveis razões. Estabelecido por especialistas, que podem utilizar-se de estudos de tempos e movimentos. Deve ser periodicamente atualizado em razão da variação das condições operacionais da organização (como por melhor treinamento dos enfermeiros). Exemplo: a confecção de uma lista-padrão de medicamentos, para partos do tipo cesárea, constando os tipos e quantidade utilizados durante a internação da paciente. g) Objeto de custos e os custos de produção do período: o primeiro é o que desejamos medir, no que se refere a custos. Pode ser uma organização, um departamento, um produto, um serviço ou mesmo uma atividade, como um procedimento médico. O segundo representa a soma de todos custos incorridos por um objeto de custos num determinado período, normalmente mensal. h) Centros de custos: uma organização é visualizada em seu organograma, no qual se vêem todos os seus departamentos e divisões. Esses setores representam centros de responsabilidade, pois executam atividades, normalmente homogêneas, que permitem à organização cumprir seus objetivos. Consomem recursos que geram custos a fim de que realizem suas atribuições com proficiência, necessários para se obter um adequado desempenho na produção ou nos serviços oferecidos aos clientes da organização. Cada clínica (nefrologia, pneumologia e outras) e setores que as apóiam (farmácia, diálise e outros) representam os centros de custos, cujo somatório dos custos mensais resultará no seu custo de produção do períodos. Os custos nas organizações hospitalares estão vinculados às suas atividades principais (pediatria, cardiologia, oftalmologia, ortopedia e outras) e às de apoio (lavanderia, farmácia e outras), que dão suporte às principais. Há também as atividades administrativas (vigilância, setor de contratos e outros) necessárias ao funcionamento e manutenção da OMPS-H. Quanto ao tipo, os custos podem ser: a) materiais diretos: são aqueles empregados e identificados claramente com o centro de custos. Exemplo: o oftalmologista que prescreve um colírio para um paciente. Feito o pedido do material ao almoxarifado, sabe-se onde será consumido o colírio (centro de custos oftalmologia), e classifica-o como material direto daquele setor. b) mão-de-obra direta (MOD): é a força humana de trabalho identificada, de forma clara, a um centro de custos da OMPSH. Aproveitando-se o exemplo anterior, seria o total da remuneração mensal recebida pelo médico oftalmologista (incluiria também todos os encargos legais, como gratificação natalina e do adicional de férias, parcelas computadas no cálculo da MOD) e dos demais servidores do centro de custos “oftalmologia” dividida pela jornada de horas de trabalho efetivas no mês à qual estão submetidos, obtendo-se o “homem/hora para custos (HHC)” do centro de custos. Não são computados no mapa de cálculo do HHC o tempo que esses servidores não tenham se dedicado às suas atividades nos centros de custos, como por motivo de licenças e feriados, tempo ocioso por falta de energia ou por falta do servidor ao serviço, sendo esse custo direcionado para despesas ou perdas. É importante mencionar que a MOD está sempre em consonância com a folha de pagamento. c) custos indiretos de fabricação: são custos que incorridos pela organização, não podem ser atribuídos, de forma clara, a uma atividade específica. Necessitam, entretanto, serem alocados às atividades hospitalares, utilizando-se de um critério de rateio (número de empregados, área ocupada, potencial de quilowatt/hora etc.) que indique 5 melhor relação “causa e efeito” para distribuir esses custos. São normalmente enquadrados nessa categoria os custos com água, energia elétrica, apoio de lavanderia, manutenção do ar-condicionado central, mão-de-obra indireta, materiais indiretos e outros serviços, inclusive os terceirizados. Os custos também podem ser classificados em: a) fixos, pois independem do nível de atividade da OMPS-H, não dependendo da existência de pacientes. Exemplo: contratos de aluguéis de equipamentos. b)variáveis, pois variam proporcionalmente direto com o nível de atividade da OMPS-H. Exemplo: medicamentos requisitados para atender os pacientes nas clínicas. Qualquer hospital necessita conhecer o custo de seus pacientes, ou pelo menos o seu “custo médio”. Ele pode ser calculado pela soma de todos os custos dos seus centros de custos durante um período e divididos pelo total de pacientes atendidos no mesmo período. Falk (2001, p.29) cita que “se os custos são fixos, quanto maior for o número de pacientes atendidos, menor será o valor dos custos fixos por paciente”. Um hospital não deve ser superdimensionado para a clientela que atende, sob o risco dos custos fixos, principalmente nos setores ociosos, onerarem o custo médio por paciente. 4 MODELO CUSTOS HOSPITALAR Existem várias formas de se montar um sistema de custo. Cada um deve ser montado conforme as peculiaridades da organização onde será implantado, pois os tipos de dados que irá fornecer aos usuários internos (direção, chefes de clínicas, encarregado da contabilidade de custos e outros) devem observar as reais necessidades da organização a que servirá. Martins (2003) comenta que a primeira pergunta para se chegar à conclusão é: “Para que se quer um Sistema de Custo?” como resposta temos que serve para controle, para fornecimento rápido de informações para fins de decisões rotineiras e intempestivas, para decisões que não demandam tanta rapidez de dados ou ainda para simples avaliação de estoques [...]. A decisão de qual modelo usar depende de quem vai receber as informações na ponta da linha e o que fará com elas. Isso definirá o modelo. Os principais passos para a estruturação de um sistema de custos hospitalares descritos por Filho (2004, p.7) são: a) realização de um diagnóstico situacional, levantando-se a realidade fisicooperacional da entidade (fluxo de dados, centros de resultado e custos); b) Identificação e apoio da principal liderança do hospital e conseqüente designação da equipe gestora do projeto, envolvendo médicos e oficiais; c) Criação de uma Divisão de Contabilidade de Custos; d) Treinamento básico da equipe sobre “contabilidade de custos para nãocontadores e implantação de sistemas de custos”; e) Levantamento completo dos diversos procedimentos médicos e hospitalares, por centros de custos com seus respectivos quantitativos de insumos básicos e custos padrão-corrente; f) Levantamento dos diversos subsistemas de informações existentes, envolvendo os custos com pessoal, materiais e utilidades entre outros; g) Elaboração do modelo conceitual, identificando o tipo do sistema de custos a ser adotado e as técnicas auxiliares de custeamento. [...] o método adotado foi o de custeio por absorção, fundamentado no Princípio da Competência. Como técnicas auxiliares de custeio foram usados o custo padrão-corrente [...]; h) Identificação e apropriação de todos os custos diretos possíveis de se alocar quantitativamente aos procedimentos médicos (objeto de custo); i) Departamentalização dos custos indiretos, apropriando esses custos aos centros de custo, através de critérios racionais de alocação [...]. Os departamentos foram denominados de Centros de Custos; j) Distribuição dos custos indiretos dos departamentos aos seus próprios procedimentos médicos realizados no período, baseado na relevância dos custos diretos; e k) Desenvolvimento de um sistema dualista, ou seja, separado da contabilidade geral, apoiado em fundamentações doutrinárias [...]. 6 A respeito do exposto podemos fazer os seguintes comentários acerca da adequação de um sistema de custos às atividades hospitalares: a) há necessidade de se conhecer as atividades do hospital e o fluxo de recursos empregados na execução dos serviços; b) os materiais consumidos e a mãode-obra direta produtiva terão seus valores registrados nos respectivos centros de custos, havendo perfeita conciliação com os números e valores registrados no SIAFI, sistema de controle de material e folha de pagamento; c) os custos indiretos serão rateados pelos centros de custos conforme os critérios estabelecidos para a alocação desses custos; d) deve-se estimular uma cultura organizacional orientada para a importância da contabilidade de custos. Conjuntamente, as equipes da área de saúde e administrativa devem atuar na parametrização dos serviços a serem mensurados do sistema de custos, de forma que as técnicas de custeio sejam aplicadas sobre um banco de dados confiável; e) criar uma divisão de contabilidade de custos, chefiada por um encarregado preparado tecnicamente para a função e promover a divulgação de conhecimentos sobre custos para todos os profissionais participantes do sistema; f) na determinação dos custos hospitalares, corrobora-se a idéia de estabelecer os centros de custos como objeto de custos primário, utilizando-se uma técnica conhecida por departamentalização de custos, onde serão criados o de Produção, o de Apoio a Produção e o Administrativo; somente após atribuir os custos a esses centros poderá ser mensurado os custos dos procedimentos médico-odontológicos identificados com esses centros de custos (clínicas). Os procedimentos podem ser definidos como as tarefas realizadas em um centro de custos específico. Tomando-se como exemplo a pediatria, o procedimento “fazer nebulização” envolveria custos com material e mão-de-obra direta, além dos custos indiretos. O estabelecimento dos procedimentos e respectivos tempos-médios, por clínicas, impõe um minucioso estudo, processo que deverá ser continuamente aprimorado, tanto para identificar novos procedimentos quanto para melhor mensurar os custos daqueles já existentes. A técnica do custeio por absorção é a efetivamente empregada, e significa que todos os custos incorridos em um período mensal serão direcionados para um objeto de custos específico. Os centros de custos da produção e de apoio à produção absorverão todos os custos, cabendo aos administrativos as despesas. Cada clínica deverá abrir uma ordem de serviço, a fim de que sejam registrados todos os procedimentos médicos ou odontológicos realizados no período, permitindo posteriormente à divisão de contabilidade de custos mensurá-los em termos monetários. Inicialmente identificamos os custos e as despesas do período. Os custos diretos serão atribuídos aos seus centros de custos (produção e apoio à produção) e os custos indiretos são alocados aos centros de custos de produção e apoio à produção, utilizando-se do critério de rateio previsto na ordem interna da organização/normas gerais de ação (NGA). As despesas são diretamente atribuídas aos centros administrativos. Procede-se agora a alocação dos custos dos centros de apoio à produção aos centros de custos da produção, utilizando-se do critério de rateio previsto na norma interna da organização/ NGA. Ao concentrarmos todos os custos nos centros de custos de produção, faz-se sua distribuição pelos respectivos procedimentos médicos ou odontológicos. Esta etapa contém um grau elevado de subjetivismo, pois além de ser necessário identificar todos os procedimentos em cada clínica (centro de custos), há a possibilidade de omitir-se algum procedimento, por melhor que seja o especialista da área clínica. Esse processo deve ser continuamente aperfeiçoado. Mesmo quando padronizados, para fins de referência de custos, são aplicados a pacientes com características diferentes (sexo, idade, histórico de doenças anteriores, nível social etc.), o que impossibilita ter-se 7 uma perfeita uniformidade na mensuração de tempos e custos por paciente. 5 CONTROLE DOS HOSPITALAR NO EB CUSTOS No âmbito dos Hospitais do Exército Brasileiro, o controle de material é feito pelo SIMATEx3, que “é um sistema de informações automatizadas que tem a finalidade de prover o Exército Brasileiro de um controle de material que possa agilizar e uniformizar os procedimentos administrativos, além de tornar confiáveis e oportunas as informações para a tomada de decisão em todos os níveis da administração de material. As informações geradas por esse sistema são registradas no SIAFI. O controle realizado por esse sistema, como dito, se refere apenas aos materiais, não sendo realizado nenhum controle da Mão-de-Obra empregada nos mais diversos setores. O material utilizado pelos mais variados setores são adquiridos por meio de licitação, na medida em que se necessita renovar o estoque, a farmácia faz o pedido à empresa vencedora do item desejado. Ao recebê-lo, procede a guarda do material. Os centros de consumo, que seriam os mais diversos setores do hospital, nos locais de realização operações e consultas, fazem os pedidos na medida em que o paciente necessite de determinado medicamento. É aberto uma ficha para o paciente, onde pode se relacionar à contabilidade de custo, como se fosse uma Ordem de Serviço, a farmácia de acordo com os pedidos realizados lança na conta do paciente e repassa para as Contas Médicas, que ao final do tratamento contabiliza tudo que foi utilizado em cada paciente que fora internado ou teve uma simples consulta. De posse desses dados é realizada a soma de todos os materiais e deste total retira-se 20% (vinte por cento), percentual esse definido no Fundo de Saúde do Exército (FUSEX4), valor esse que será cobrado do benificiário. No que se refere ao atendimento prestado aos demais pacientes não pertencentes ao FUSEX, é cobrado o valor integral dos materiais utilizados, juntamente com o valor referente a mão-de-obra empregada em todos os processos. Como se pode observar, o controle realizado é apenas referente ao consumo dos materiais são distribuídos aos pacientes, sem ter a preocupação de se fazer um controle mais minucioso do valor gasto em operações similares, nas clínicas, nos laboratórios e demais locais congêneres. No que se refere ao controle da mão-de-obra, não existe nem um tipo de controle, com isso não sendo possível a apuração do valor exato de quanto cada operação custou realmente para o Exército, e nem se o valor cobrado do nãobenificiário está correto. 6 CONCLUSÃO Por ser uma ferramenta muito poderosa, a Contabilidade de Custos possibilita aos Hospitais a mensuração do custo real dos serviços hospitalares, contribui efetivamente para a eficiência da sua gestão econômico-financeira e disponibiliza para a sua administração dados úteis para as decisões afetas ao planejamento e controle de suas atividades; ao mesmo tempo que possibilita à OM otimizar o emprego dos recursos orçamentários em prol da saúde do seu pessoal. A determinação dos custos hospitalares é um processo complexo, exigindo conhecimentos técnicos para que se possa obter os valores dos objetos de custos, em especial os dos centros de custos e dos procedimentos médicos e odontológicos. A implantação de um sistema de custos nos Hospitais necessita de um estudo preliminar da organização, a fim de que se 4 3 Sistema de Materiais do Exército Fundo constituído de recursos financeiros oriundos de contribuições obrigatórias e indenizações de atendimento médico-hospitalar dos militares, na ativa e na inatividade, e de pensionistas de militares, destinado a complementar o custeio da assistência médico-hospitalar para si e para os seus beneficiários 8 conheça suas peculiaridades administrativas e as características de suas operações. O apoio do pessoal da sua administração e da área de saúde é fundamental para a manutenção de uma “cultura de contabilidade de custos”, bem como de uma estrutura técnico-administrativa integrada, preferencialmente suportada pela tecnologia da informação. São elementos necessários para que os fluxos de dados contábeis possam ser corretamente registrados, de forma tempestiva e oportuna, gerando as informações gerenciais e viabilizando o alcance dos benefícios propiciados por um sistema de custos hospitalares. Ainda que pese o subjetivismo no processo de custeio dos procedimentos médicos e odontológicos, a técnica de utilização das atividades dos centros de custos constitui um importante passo gerencial para os Hospitais conhecerem seus custos operacionais. No caso específico do Hospital do Exército, seria de grande valia, a implantação de um sistema de custo nos moldes de uma OMPS, pois como dito anteriormente, faz-se necessário o controle mais detalhados dos materiais utilizados, da mão-de-obra empregada e de todos serviços empregados nos mais variados setores. Com isso se obteria um valor mais preciso dos gastos realizados, desde os realizados diretamente com o paciente aos indiretos, como os dos setores da administração, farmácia e tesouraria. Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. FALK, James Anthony. Gestão de Custos para Hospitais. São Paulo: Atlas, 2001. Gabinete do Comandante. Portaria nº 653 de 30 de agosto de 2005. IG 30-32. Instruções Gerais para o Fundo de Saúde do Exército. ______. Portaria nº 083-EME, de 07 de agosto de 2000. Diretriz para a Implantação do SIMATEx. Hospital Naval Marcílio Dias. Ordem Interna no. 35-01 de 28 de abril de 2006. LEONE, George S. G. Curso de Contabilidade de Custos. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2000. MARTINS, Eliseu. Contabilidade Custos. 9.ed. São Paulo: Atlas, 2003. de Sistema de Organização Militar Prestadora de Serviços Hospitalares do Hospital Naval Marcílio Dias. Secretaria-Geral da Marinha. SGM-301. 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