A Crise Econômica Mundial e as Economias Regionais Gráfico 1 – Efeitos da crise financeira sobre o emprego Dados dessazonalizados Abril 2008 = 100 104 103 O acirramento da crise financeira nos mercados internacionais provocou desvalorização acentuada de ativos em escala global, redução de liquidez nos mercados de crédito e deterioração das expectativas de consumidores e empresários, exercendo desdobramentos negativos sobre a evolução de variáveis reais importantes tanto em economias maduras quanto em economias emergentes. Nesse cenário, este boxe compara, inicialmente, a evolução na margem de indicadores relacionados às economias dos EUA e do Brasil, procurando identificar, em seguida, as distinções registradas em âmbito regional. 102 101 100 99 98 97 96 Abr Mai 2008 Jun Jul Ago Set Emprego EUA Out Nov Dez Jan Fev 2009 Mar Emprego formal privado Brasil Gráfico 2 – Efeitos da crise financeira sobre o consumo Dados dessazonalizados Junho 2008 = 100 104 102 100 98 96 94 92 90 88 86 Jun 2008 Jul Ago Set Vendas varejo EUA Out Nov Dez Jan 2009 Fev Mar Vendas varejo ampliado Brasil Fonte: U. S. Census Bureau/Retail total (excl udes food services);IBGE/PMC O setor real da economia dos EUA vem registrando impactos menos acentuados do que os experimentados pelo setor financeiro daquele país. Nesse sentido, conforme observado no Gráfico 1, o nível de emprego dos EUA recuou 3,7%1 de abril de 2008, período em que atingiu o maior valor no ano, até março de 2009, enquanto no Brasil a redução do emprego formal, considerados dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – Relação Anual das Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (Caged-Rais2/MTE), situou-se em 1,6%, de novembro de 2008, valor máximo no ano, até fevereiro de 2009. A evolução do volume de vendas do comércio, outro indicador abrangente que evidencia as restrições de crédito e a deterioração da confiança dos consumidores, encontra-se no Gráfico 2. O índice relacionado à economia dos EUA, após 1/ Current Employment Statistics (CES)/Household Survey Data / Employment Level. 2/ Considera a série de estoques com dados dos meses de dezembro, obtidos da Rais, encadeada pelos fluxos do Caged. A última Rais divulgada refere-se a 2007. Abril 2009 | Boletim Regional do Banco Central do Brasil | 91 registrar valor máximo recente em junho de 2008, recuou 11,5% até março de 20093, enquanto o relativo à economia brasileira, considerados dados do comércio ampliado da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, apresentou retração de 3,7% entre o valor máximo, em setembro, e o último disponível, relativo a fevereiro deste ano. Ressalte-se que, ratificando o fato de que o impacto do acirramento da crise internacional sensibilizou as variáveis financeiras da economia dos EUA de forma mais intensa do que as associadas ao setor real, enquanto as vendas do comércio recuaram 11,5% no período mencionado no parágrafo anterior, o índice S&P500, que registra o desempenho das ações de 500 empresas dos EUA, registrou perdas de cerca de 40% entre o início de julho de 2008 e o final de março de 2009. Gráfico 3 – Efeitos da crise financeira – Índices de bolsa de valores (média móvel de 30 dias) Ibovespa S&P 1 350 60 000 1 250 55 000 1 150 50 000 1 050 45 000 950 40 000 850 35 000 750 650 30 000 550 25 000 450 20 000 Ago 2008 Set Out Nov S&P500 Dez Jan Fev 2009 Ibovespa Mar Fonte: Bloomberg Adicionalmente, o comportamento das bolsas de valores dos EUA e do Brasil vem registrando trajetória distinta. Nesse sentido, conforme evidenciado no Gráfico 3, a tendência4 de recuperação registrada desde o início de dezembro de 2008 pelo Ibovespa, não se repete no caso da S&P500. No Brasil, indicadores econômicos regionais apontam, de maneira geral, os últimos dois meses de 2008, como momento mais crítico da crise. O comportamento recente do comércio ampliado, segmentado por regiões, encontra-se na Gráfico 4, onde são identificadas, adicionalmente, as trajetórias das produções industriais regionais. Os índices do comércio apresentaram, em todas as regiões, pontos de mínimo em novembro ou dezembro, acumulando, em relação a setembro, recuos de 13,1% no Sudeste; 10,9% no Sul; 9,8% no Nordeste; 9,4% no Centro-Oeste; e 8,3% no Norte. A partir de janeiro, os indicadores de todas as regiões passaram a apresentar recuperação, registrando, de setembro de 2008 a fevereiro de 2009, retrações respectivas de 2,4%, 4,6%, 3,1% e 1,2% nas quatro primeiras regiões mencionadas. Ressalte-se que no Norte, o comércio ampliado registrou expansão de 0,6%, nessa última base comparação. 3/ U.S. Census Bureau/Advance Monthly Sales for Retail and Food Services/Retail Total (Excludes Food Services). 4/ Considerada a média móvel de trinta dias, a fim de eliminar ruídos de curto prazo. 92 | Boletim Regional do Banco Central do Brasil | Abril 2009 Gráfico 4 – Efeitos da crise financeira sobre a produção e o consumo – Dados dessazonalizados Brasil 105 100 95 90 85 80 75 Set 2008 Out Nov Dez Jan 2009 Fev Sudeste 105 Nordeste Norte 105 100 95 90 85 80 75 Set 2008 Out 105 100 95 90 85 80 75 Nov Dez Jan 2009 Fev Sul 105 Set 2008 100 100 95 95 95 90 90 90 85 85 85 80 80 80 75 75 Set 2008 Out Nov Dez Jan 2009 Fev Nov Dez Jan 2009 Fev Jan 2009 Fev Centro-Oeste 105 100 Out 75 Set 2008 Out Nov Dez Jan 2009 Fev Produção industrial Set 2008 Out Nov Dez Vendas varejo ampliado A trajetória da produção industrial nas distintas regiões mostra-se consistente com os prognósticos apresentados no boxe Efeitos da Crise Mundial Sobre a Economia Brasileira – Uma perspectiva regional, na edição de janeiro de 2009 deste Boletim, onde se destaca que as regiões com (i) menor presença do setor público, (ii) maior participação da demanda externa e (iii) estrutura produtiva com demanda mais elástica à renda e mais dependente de crédito seriam mais afetadas pela crise. Nesse sentido, os recuos mais acentuados ocorreram nas regiões Sudeste, 22,2%, e Sul, 17,2%, ambos registrados de setembro a dezembro; enquanto as reduções correspondentes nas regiões Norte, 13,6%, e Nordeste, 12,9%, foram observadas de setembro a fevereiro e de setembro a dezembro, respectivamente. No Centro-Oeste, o recuo máximo da produção, observado em fevereiro, atingiu 3,6%. Ressalte-se que a trajetória declinante da indústria nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste apresentou reversão a partir de janeiro de 2009, compensando parcialmente as retrações registradas no final de 2008. Adicionalmente, o exame da evolução da produção industrial regional revela que o processo de retração do setor se seguiu à redução no ritmo de vendas no comércio, evidenciando a necessidade da indústria adequar seus estoques aos níveis desejados. Abril 2009 | Boletim Regional do Banco Central do Brasil | 93 A evolução recente do nível de emprego regional, incorporando o período de novembro de 2008, quando o emprego no país atingiu o patamar máximo, a fevereiro de 2009, pode ser visualizada no Gráfico 5 e no Gráfico 6. O emprego formal na região Norte reagiu com maior intensidade à crise, recuando 4,3% em fevereiro em relação a novembro, como resultado da eliminação generalizada de postos de trabalho em todos os setores, em especial na indústria, em trajetória declinante na região desde janeiro de 2008. A segunda retração mais expressiva no nível de emprego ocorreu no Centro-Oeste, 2,3%, com ênfase nos recuos assinalados nos setores industrial, em trajetória declinante desde julho de 2008, agropecuário e comercial. A redução do emprego na região Sudeste, 2%, refletiu, igualmente, o desaquecimento da indústria, que concentra, na região, os principais pólos de produção de bens de consumo duráveis do país, cujas vendas foram atingidas intensamente nos últimos meses de 2008. Gráfico 5 – Nível de emprego formal privado Variação % Fev/2009/Nov/2008 Dados dessazonalizados) BR N NE SE S -0,5 CO -1,0 -1,6 -2,0 -2,3 -4,3 Fonte: MTE / Rais-caged; elaborado pelo Banco Central do Brasil Gráfico 6 – Contribuição setorial à redução no emprego formal privado (p.p.) Dados dessazonalizados (Mar/2009/Nov/2008) Brasil Indústria Const. civil Comércio Serviços -0,17 -0,01 -0,05 Agropecuária Norte Indústria Const. civil Comércio Serviços -0,78 -0,20 -0,94 -0,59 Agropecuária Nordeste Indústria Const. civil Comércio Serviços -0,29 -0,26 -0,13 -0,20 -0,12 Agropecuária -0,06 -1,62 -1,08 Indústria Sudeste Const. Agropecivil Comércio Serviços cuária Sul Indústria Const. civil Comércio Serviços 0,44 0,24 Agropecuária Centro-Oeste Indústria Const. civil Comércio Serviços 0,02 0,00 -0,11 -0,06 -0,05 Agropecuária -0,02 -0,04 -0,22 -0,42 -0,64 -1,43 -0,84 -1,05 Fonte: elaborado a partir de dados do MTE/Caged, base RAIS (dez/2007) As reduções do emprego formal no Nordeste e no Sul atingiram 1% e 0,5%, respectivamente. Na primeira região, a retração concentrou-se no setor de serviços e no comércio, registrando-se recuo pouco significativo do setor industrial, cuja estrutura mostra-se mais dependente do mercado interno, favorecido pelo aumento do salário mínimo e pelos programas de transferência de renda do governo federal na região. A evolução do emprego formal na região Sul esteve condicionada pela geração de 94 | Boletim Regional do Banco Central do Brasil | Abril 2009 empregos no setor de serviços, que compensou, em parte, a eliminação de postos registrada na indústria, afetada, no novo ambiente econômico, com intensidade relevante na região. O exame dos indicadores relativos ao mercado de trabalho e à industria revelam, portanto, que: (i) os índices de produção e consumo superaram os níveis críticos observados após o acirramento da crise, revelando recuperação na margem que se dissemina regionalmente, embora no Norte e no Centro-Oeste ainda persistam processos de retração na produção industrial, iniciados anteriormente a setembro de 2008; (ii) a retração do emprego formal observada no final de 2008 não se manteve nos meses seguintes. Adicionalmente, os desdobramentos da crise sobre esse indicador ocorreram com expressiva distinção entre as regiões, registrando maior intensidade no Norte e o Centro-Oeste, enquanto no Sudeste e no Sul os impactos concentraram-se no setor industrial e, no Nordeste, no setor de serviços e no comércio. Abril 2009 | Boletim Regional do Banco Central do Brasil | 95