REAL E FICTÍCIO NO LIVRO A CASA DAS SETE MULHERES
* Darlene Prado Kleinubing
** Luiz Fernandes Pavelacki
RESUMO
Este trabalho foi feito para que possamos ter clareza dos fatos reais e dos fictícios que estão
contidos no livro A Casa das Sete Mulheres. A pesquisa foi realizada através de críticas sobre
o livro, das quais eu escolhi uma para enfocar, daí em diante pesquisei em livros e em sites
para saber o que era real e o que era fictício. Neste trabalho constam os métodos e também o
resultado encontrado por mim, através do qual demonstro que realmente existe o fictício e o
real, inclusive retirando do livro essas partes.
Palavras-chave: romance-histórico, fictício, real, farroupilhas, imperiais.
INTRODUÇÃO
Este trabalho foi iniciado com uma pergunta de partida: O que existe de real e
o que há de fictício no livro A Casa das Sete Mulheres?(Wierzchowski, 2OO2). Escolhi essa
pergunta por ser de grande interesse meu, pois sempre tive vontade de estudar um romance
histórico. Partindo dessa vontade, delimitei meu tema fazendo a pergunta, que foi essa em
função do tempo de realização do trabalho.
Para explorar minha pergunta eu pesquisei críticas sobre o livro, a pesquisa na
Internet. Encontrei várias, mas escolhi apenas três: o primeiro texto de nome, As Sete
Mulheres e as Negas sem Rosto, na qual a autora afirma que o livro não é um romance
histórico; o segundo texto é fornecido pela própria editora do livro, que diz que ele é um
romance histórico, pois nele está contida a Revolução Farroupilha sem nenhuma alteração.
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* Acadêmica do curso de Letras da Universidade Luterana do Brasil – Campus Guaíba.
** Professor da disciplina de Metodologia Cientifica e orientador deste trabalho – Ulbra/Guaíba.
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O terceiro e último texto é de Stefania Chiarelli, que diz que o livro mescla
realidade e ficção. Partindo desses três textos, eu escolhi o segundo, que foi escrito pela
editora, por acreditar que ele é o que mais demonstra a minha opinião. Aceito que o livro A
Casa das Sete Mulheres (Wierzchowski, 2002) é constituído de realidade e ficção, colocando
o real como a história farroupilha e a ficção é à parte dos romances, da casa, das mulheres.
A partir dessa primeira pesquisa é que será desenvolvido o trabalho, primeiro
fazendo uma explicitação, ou melhor, um esclarecimento sobre o referencial teórico,
demonstrando o texto que escolhi e acrescentando o ele mais alguns que tenham o mesmo
enfoque.
Após demonstrarei a hipótese que eu formulei partindo desse referencial
teórico, também apresentarei os principais conceitos do já citado referencial. Seguirei
apresentando a maneira como pesquisei, partindo da minha hipótese e o material que eu
encontrei.
Finalizo com a análise desse material e a minha conclusão sobre o trabalho
realizado.
1 EXPLICITAÇÃO
Segundo o texto fornecido pela editora Kegler (2002), editora que lança o livro A
Casa das Sete Mulheres, o referido livro é um envolvente romance histórico, ou seja, é um
livro que conta uma história, utilizando-se de ficção e de fatos reais. O livro de Wierzchowski
(2002), que já foi adaptado para uma minissérie, mescla realidade e fantasia para mostrar a
Revolução Farroupilha na visão das mulheres.
Comparando minissérie e obra, Pallottini (2003, p.1) diz:
[...] uma coisa é história e outra é ficção. Isso tem sido dito e repetido muitas
vezes, sobre tudo pelos ficcionistas que, quando baseiam suas narrativas em
situações extraídas da história, não se sentem comprometidos com a absoluta
fidelidade aos fatos históricos, fatos que, aliás, já por terem sido tratados por seres
humanos, os historiadores, são bastante contaminados pela subjetividade. Trocando
em miúdos: qualquer fato histórico está sujeito a várias interpretações, dependendo
de quem os trata, interpreta, narra. Não existe absoluta objetividade em termos de
história. [...]
Então, segundo Pallottini, podemos afirmar que o livro possui fatos históricos
da Revolução Farroupilha que são narrados a partir do ponto de vista da autora. Seguindo a
idéia da autora vemos também que a história não é objetiva, por ser contada através das
décadas e séculos por homens que narram os fatos conforme as suas interpretações deixando
que o ouvinte ou o leitor passe adiante a informação conforme ele a compreendeu.
No texto de Chiarelli (2002, p.1) encontra-se uma frase que chama a atenção,
ela descreve a narrativa do livro assim: “Grande parte da história é conduzida pela voz de
Manuela, sobrinha de Bento Gonçalves, que escrevia um diário compreendendo desde sua
juventude até a velhice.” A visão da autora nos mostra a exata origem e fundamentação do
livro: o diário deixado por Manuela. A própria Letícia, autora do livro, diz que transcreveu
trechos inteiros do diário de Manuela.
Segundo o texto fornecido por Kegler (2002, p.1) o livro narra a história das
sete gaúchas familiares de Bento Gonçalves, chefe da Revolução Farroupilha. O autor afirma
que Wierzchowski fez uma detalhada pesquisa à procura dos fatos reais da vida dessas
mulheres durante o período em que ficam na fazenda, para onde foram mandadas por Bento
Gonçalves. Mas a falta de documentos e materiais que fizessem esse registro fez com que a
autora criasse algumas cenas fantasiosas, vestindo os personagens e suas fazendas com
elementos que não eram possíveis naquela época, mas tudo isso “bailava” em torno do grande
tema central, que era a Revolução Farroupilha mantida de forma quase integralmente
histórica.
Seguindo o raciocínio do autor, vemos que Wierzchowski descreve em seu
livro, grandes cenas de batalha, que são construídas a partir de documentos, de declarações,
anotações deixadas pelos farrapos. O autor transcreve uma frase de Wierzchowski que diz: “A
força motriz deste épico são as gentes, os agentes da Revolução Farroupilha, aqueles que
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lutaram nos campos de batalha, e aqueles que esperaram na estância, defendendo as
propriedades e seus filhos”, e é assim que o livro é escrito baseado nos fatos reais e sólidos da
Revolução Farroupilha, utilizando-se de seus grandes personagens centrais, das batalhas
sangrentas no grande pampa gaúcho e tudo isso permeado por um pouco de sutileza e beleza
fantasiosa para chamar a atenção dos leitores à difícil vida que era levada naquela época.
2 HIPÓTESE, CONCEITOS E MATERIAL COLETADO
Seguindo o material teórico, construí minha hipótese: o livro é constituído por
ficção e história real; a história real é a descrição da Revolução Farroupilha e a ficção é a
descrição das mulheres e de seus afazeres.
Apresentarei agora os principais conceitos da explicitação descrita no primeiro
item deste trabalho.
Romance histórico é um livro que conta uma história, utilizando-se de ficção e
fatos reais. É muito importante que através dos séculos se consagrem esses romances, pois
através da literatura conhecemos nossa história.
História, fato real que aconteceu em determinado ano e que nos é transmitido.
Ficção, algo que se cria, que é imaginado por alguém, é verossímil, mas irreal.
Partindo da minha hipótese, fiz nova pesquisa através da qual observei os fatos
históricos que estão contidos no livro e também os fatos fictícios, procurando no próprio livro
A Casa das Sete Mulheres e em outros, nos quais eu podia confirmar minhas observações.
Para fazer essas observações eu realizei uma pesquisa bibliográfica.
Os fatos que encontrei seguem a seguir. Comecei minha observação pelos fatos
fictícios, encontrando o seguinte: a autora cria seus personagens como se todos fossem
descendentes de imigrantes alemães e italianos e naquela época ainda não era assim, pois os
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imigrantes só chegariam ao Rio Grande do Sul três décadas depois desta revolução. Podemos
constatar esse fato nos trechos: “... Rosário era de consistência frágil, pele clara, olhos azuis,
cabelo claro e muito liso”.¹ Além do fato de todos serem brancos e belos, eram, no livro,
todos magros, como veremos neste pequeno fragmento do livro: “... D. Antônia cercou-lhe a
cintura fina...”². Sabemos, por meio de retratos, pinturas e álbuns que as mulheres daquela
época eram um tanto rechonchudas.
Outro trecho do livro que considero ficção é o que fala dos casamentos. Todos
parecem realizados por amor, mas a autora esquece que a trama se desenvolve em uma época
na qual os casamentos eram contratos e quando se casavam moças ricas e rapazes tão ou mais
ricos do que elas para unir as fortunas e os nomes de família. Quando chegavam as núpcias os
noivos mal se conheciam. O amor e o prazer sexual, para as mulheres, era uma descoberta do
matrimônio, para o homem, busca externa ao casamento. Quando acontecia do prazer e da
atração se intrometerem no casamento, isso permanecia escondido e relegado somente às
quatro paredes do quarto do casal.
Um fato que também chama a atenção no livro é no trecho seguinte: “...
Mariana ficou desolada, fugiu para a sanga, restou lá uma tarde inteira a chorar...”³. Como, em
uma época na qual os cuidados sigilosos com as moças eram enormes, uma menina poderia
sair de casa, ir a uma sanga sozinha? A autora do livro se esquece do detalhe de que as moças
eram vigiadas muito de perto por suas mucamas e os escravos de seus pais.
Outro item a ser citado aqui como fictício é quando, no livro, Wierzchowski
diz que “as viúvas mergulhavam em profundo sofrimento”. Muito pelo contrário; naqueles
longínquos anos, as viúvas sentiam uma espécie de libertação e seguiam sua vida sem abalos.
Para chorar a morte dos maridos socialmente, elas faziam novenas, missas, bolos, goiabadas,
visitas aos filhos e netos.
Mais uma falta de atenção de Wierzchowski é quando ela reproduz sentimentos
que ainda não existiam naquela época. Podemos perceber isso no trecho: “... João Gutierrez
percebeu que o mundo se resumia naquele serzinho delicado e morno, envolto em panos
bordados, cujos sonhos por vezes provocavam sorrisos no rostinho angelical...”. Esse
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transbordamento de emoções era tido como qualidade feminina, inaceitável em um homem,
quanto mais em um peão como era João Gutierrez.
Vemos também que o livro é escrito em linguagem atual, em vez de apresentar
a linguagem da época. A autora também comete um pecado no romance histórico quando cria
lareiras, campos cercados, processos higiênicos modernos, telegramas e bombachas em 1835.
Após a apresentação dos fatos fictícios, eu apresentarei os fatos reais. O
primeiro deles é a data de início da Revolução Farroupilha, que é de 19 de setembro de 1835.
Os fatos pelos quais se começa a luta: deposição do presidente da província, os
problemas com o charque, pelo qual estavam sendo cobrados altos impostos, mas o preço para
venda era muito baixo.
Também alguns nomes são reais como: Fernandes Braga, Bento Gonçalves e
outros, personagens históricos.
Os trechos citados a seguir foram todos retirados do livro A Casa das Sete
Mulheres (WIERZCHOWSKI, 2002).
A fuga de Fernandes Braga é real, pois ele realmente foge de Porto Alegre
quando surge o boato de que os farroupilhas invadiram a cidade (p. 43).
A retomada de Porto Alegre pelos soldados do império em 15 de julho 1836 pelo
Marechal João de Deus Menna Barreto (p. 99).
A proclamação da República Riograndense nos Campos de Seival a 11 de
setembro de 1836 pelo General Antonio de |Souza Netto (p. 118).
_______________
¹Wierzchowski, 2002, p. 26.
² Ibid., p. 26.
³ Ibid., p. 132.
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A prisão de Bento Gonçalves da Silva, Onofre Pires, Tito Lívio Zambecari na Ilha
de Fanfa no rio Jacuí, no dia 4 de outubro de 1836 (p. 127).
A conquista de Rio Pardo em 1838 pelos farrapos (p. 201). A tomada de Laguna
pelos farrapos (p. 286).
Em novembro de 1840, Francisco Álvares Machado é nomeado presidente da
província (p. 366). A capital da República Rio-grandense passa a ser São Gabriel em 1841 (p.
375). No dia 9 de novembro de 1842, o Barão de Caxias é empossado presidente da província
(p. 444). A assembléia constituinte da República Rio-grandense é instalada em 1842 (p. 445).
Bento Gonçalves renuncia a presidência da República Rio-grandense e esta é
entregue a Gomes Jardim. Netto também renuncia ao comando dos exércitos republicanos,
que passa a ser de Canabarro (p. 469). Em 1843 ocorre o duelo entre Bento Gonçalves e seu
primo, Onofre Pires da Silveira Canto, que sai ferido e morre dias depois (p. 487 e 488).
A 14 de novembro de 1844 acontece a batalha de Porongos, que foi a última
grande tragédia da guerra (p. 498). Em fevereiro de 1845 é assinada a paz (p. 498).
Esse é o material que recolhi através da minha pesquisa, utilizando-me do livro
e também outros materiais encontrados.
CONCLUSÃO
Analisando as informações, vemos que elas são coerentes com minha hipótese e
que quando as informações são apresentadas, ela se completa. Vemos também que a autora
realmente constrói um romance histórico, utilizando-se bem da história da Revolução
Farroupilha para construir o seu romance. Apesar de sua linguagem ser bem atual, o livro nos
transporta àquela época, fazendo com que o leitor participe da história.
Este trabalho foi muito interessante e gratificante, pois aprendi como fazer uma
pesquisa e como é constituído o romance histórico, já que a minha pesquisa era sobre isso.
Gostaria de dizer aqui com esse trabalho que pude ver como alguns críticos são cruéis, pois
sem ler o livro A Casa das Sete Mulheres eles fizeram, baseados na minissérie, críticas
destrutivas à obra de Wierzchowski, dizendo, inclusive, que o livro não era um romance
histórico. Penso que os críticos deveriam primeiro ler os livros antes de criticá-los, pois se
analisarem apenas as superproduções televisivas, que são apenas “baseadas nos livros”, não
terão parâmetros para uma crítica coerente e profunda.
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
WIERZCHOWSKI, Letícia. A Casa das Sete Mulheres. Rio de Janeiro: Record, 2002.
MAESTRI,
Mario.
Revista
Espaço
Acadêmico,
2003.
disponível
em
http://www.espacoacademico.com.br acesso em junho de 2005.
KEGLER,
Michael.
Nova
Cultura,
Rio
de
Janeiro,
2002.
disponível
em
http://www.novacultura.de. Acesso em junho de 2005.
CHIARELLI, Stefania. Doutoranda em Literatura Brasileira, Rio de Janeiro, 2002. Disponível
em: <http://jboline.terra.com.br/jb/papel/cadernos. Acesso em junho de 2005.
QUEVEDO, Julio; TAMANQUEVIS, José C. Rio Grande do Sul, Aspectos da História. Porto
Alegre: Martins Livreiro-editor, 1999.
PALLOTTINI, Renata. Disponível em: <http://pallottini.terra.jus. Acesso em junho de 2005.
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Real e Fictício no Livro A Casa das Sete Mulheres