Relatório de Estágio: Muito Mais que um Jogo - Consultadoria em Psicologia do Desporto
numa Equipa de Futebol de Formação| Joana Ferreira
AGRADECIMENTOS
Agora que chega o fim desta aventura é altura de agradecer a determinadas
pessoas que fizeram parte dela.
Em primeiro lugar, como não poderia deixar de ser, aos pais e avó acima de tudo
pelos valores que me transmitiram ao longo dos anos.
Agradeço também aos amigos, aqueles que foram e continuam a ser as constantes
da equação e que sei que vou levar para a vida: à minha Li, ao meu Tiago, ao meu
Porti e à minha Mestre. Convosco tornou-se tudo mais fácil. Agradeço também ao
Gonçalo e ao Simões, os parceiros de viagens; ao Nelson, ao João Pereira, à Andreia,
à Aida, à Laura e ao Luís.
Agradeço a todos os professores que fizeram parte da minha formação, em
especial à professora Anabela Vitorino, ao professor Carlos Silva e ao professor Pedro
Almeida, peças fundamentais no meu regresso para finalizar o Mestrado. Agradeço
ainda à família NEPDE/AE da qual fiz parte e onde tive a oportunidade de contribuir,
não só para a divulgação do curso de Psicologia do Desporto e do Exercício mas
também da nossa escola. Agradeço também à ESDRM por acreditar e estimular o
potencial dos seus alunos.
Agradeço ao Futebol Clube de Alverca e a todas as pessoas que tão bem me
receberam durante o ano de estágio. Ao (eternamente) mister João por permitires que
chamasse as tuas equipas de minhas equipas, pela amizade e pela inspiração:
“Porque se os sábios afirmam que o importante é a jornada e não o destino final, sem
dúvida que é o apelo da chegada que inspira cada passo do caminho, que impulsiona
a mente quando o corpo diz não, que movimenta o sonho quando a realidade se abate
com a crueza dos factos consumados e, homens como tu sempre irão preferir ser
derrotados por um sonho do que desistir dele.” Ao Hugo, por acreditares, por
questionares mas principalmente pela amizade e desafios constantes; não me vou
esquecer do que me disseste no final do último dia de treinos. Ao Paulo, que mesmo
cheio de desconfianças acabava sempre por questionar. Por fim, mas não menos
importante, aos meus/nossos meninos, os de 2011 e os de 2012/2013: serão sempre
os primeiros. Eu já gostava de futebol mas foi convosco que ganhei a paixão pela
modalidade. Estarei sempre “na bancada” a apoiar-vos.
“Estamos Juntos!”
«Chega a onde tu quiseres mas goza bem a tua rota
Enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar a gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar»
Jorge Palma
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Índice
AGRADECIMENTOS ......................................................................................... 1
1. Introdução .................................................................................................... 3
2. Enquadramento ........................................................................................... 4
2.1. A Psicologia do Desporto e do Exercício e o Papel do Psicólogo do
Desporto e do Exercício .................................................................................. 4
2.2.
Caracterização da Entidade Acolhedora: Futebol Clube de Alverca ..... 6
2.3.
Caracterização Psicológica da Modalidade de Futebol ....................... 11
3. Áreas de Intervenção ................................................................................. 13
3.1.
Caracterização da População-Alvo ..................................................... 13
3.2.
Modelos de Base para a Intervenção .................................................. 13
3.3. Papel do Psicólogo do Desporto na Equipa de Juvenis do FCA:
Objetivos Específicos .................................................................................... 17
3.3.1.
Intervenção com os Jogadores ..................................................... 17
3.3.2.
Intervenção com os Treinadores .................................................. 21
3.3.3.
Intervenção Organizacional .......................................................... 22
4. Área Comunidade ...................................................................................... 25
5. Área Complementar ................................................................................... 26
6. Cronograma de Estágio ............................................................................. 28
7. Reflexão Crítica ......................................................................................... 29
Referências Bibliográficas ................................................................................ 35
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1. Introdução
O presente documento apresenta o trabalho efetuado ao longo do estágio
curricular do 2º ano do Mestrado em Psicologia do Desporto e do Exercício.
O estágio curricular é um espaço de interligação e implementação dos
conhecimentos proporcionados pelas várias unidades curriculares lecionadas
no primeiro e segundo ciclos de formação, onde o aluno é colocado em
contacto com o mundo do trabalho. Realiza-se em contexto real de intervenção
no contexto escolhido pelo aluno, de forma supervisionada por um docente da
Escola (o orientador) e por um responsável na Entidade de Acolhimento e,
abrange três áreas: 1. Intervenção em contexto de treino; 2. Área Comunidade
e 3. Área Complementar.
O estágio curricular deve possibilitar que o aluno recorra aos
mecanismos e instrumentos necessários para poder avaliar, analisar e
caracterizar os seus potenciais atletas, promotores e dirigentes e os recursos
existentes na entidade acolhedora, de forma a poder exercer tarefas de
promoção e organização das suas atividades na instituição em causa. Os
estagiários
devem:
aplicar
conhecimentos
ao
nível
da
avaliação
e
caracterização das principais competências psicológicas dos sujeitos com
quem trabalham; aplicar e explorar de forma ativa e autónoma, competências
ao nível do planeamento e intervenção com atletas, treinadores ou grupos
desportivos; recorrer a todos os mecanismos possíveis no sentido de promover
a melhoria do bem-estar dos sujeitos com quem trabalham, assim como da
satisfação geral da entidade acolhedora.
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2. Enquadramento
2.1.
A Psicologia do Desporto e do Exercício e o Papel do
Psicólogo do Desporto e do Exercício
A Psicologia do Desporto e do Exercício é o estudo científico das pessoas e
dos seus comportamentos em contextos desportivos e de exercício e as
aplicações práticas de tal conhecimento (Gill, 1979 cit. por Weinberg e Gould,
2001). Dosil (2008) refere que a Psicologia do Desporto e da Atividade Física é
uma ciência que estuda o comportamento humano no âmbito da atividade
física e desportiva, que procura o desenvolvimento das pessoas que intervêm
nestes contextos tanto no seu desenvolvimento pessoal como no seu
rendimento.
Teques (s/d) salienta que os âmbitos e contextos de prática e intervenção
da Psicologia do Desporto vão para além do desporto de elite, passando
também pelo desporto de crianças e jovens (iniciação e especialização
desportiva), pelo desporto sénior, pelo desporto e atividade física de recreação
e lazer, pelo desporto e atividade física de pessoas com necessidades
especiais, exercício e saúde, entre outros. A Psicologia do Desporto estuda o
comportamento
dos indivíduos nas diferentes situações da
atividade
desportiva: na aprendizagem, no treino, nos estágios, nas viagens, nas
competições (antes, durante e depois), na vitória e na derrota, nas lesões, na
fama e na glória, no infortúnio e no abandono; nas relações interpessoais, com
os colegas, adversários, treinadores, dirigentes, juízes. Estuda também o
público, a comunicação social e as suas influências sobre os desportistas,
assim como todo o conjunto de valores e símbolos, instituições e funções que
compõem ou integram o mundo do desporto (Alves, Brito e Serpa, 1996).
Teques (s/d) salienta que o psicólogo do desporto está capacitado para
realizar as seguintes funções: 1. Avaliar e diagnosticar pessoas e situações; 2.
Planificar e assessorar pessoas e organizações (clubes, sociedades,
associações e federações desportivas); 3. Intervir em consonância com o
treinador na modalidade desportiva e na otimização da sua prática; 4. Educar e
formar as demais pessoas implicadas na atividade desportiva a qualquer nível
(atletas, treinadores, dirigentes, pais, árbitros…); 5. Investigar a realidade
desportiva. De acordo com Cruz (2002), o psicólogo do desporto exerce a
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função de formador quando explica aos desportistas, pais, treinadores, árbitros
ou dirigentes, mediante cursos, conferências ou seminários: a) os processos
psicológicos implicados nos comportamentos no contexto desportivo; b) os
procedimentos metodológicos que se podem utilizar para observar as
interações que decorrem em situações desportivas; c) as técnicas e programas
psicológicos que permitem melhorar o rendimento e o bem-estar dos
desportistas e dos técnicos. O mesmo autor refere ainda que o psicólogo do
desporto desempenha a função de assessor quando oferece uma série de
serviços psicológicos de apoio a treinadores, desportistas e/ou dirigentes
ajudando-os a: a) identificar as variáveis psicológicas relevantes numa situação
desportiva; b) avaliar os dados de uma série de observações realizadas nos
treinos e competições para que o seu interlocutor tome as decisões oportunas;
c) ensinar técnicas psicológicas para melhorar a concentração, a motivação e o
controlo emocional dos desportistas, o estilo de comunicação dos treinadores e
dos árbitros.
A atuação do psicólogo do desporto deverá ser materializada pelos
seguintes aspetos: a) contribuir para a melhoria da prestação do atleta, em
conjunto com os outros especialistas; b) integrar uma equipa técnica
pluridisciplinar concertada e em cooperação; c) adequar o trabalho em função
da análise rigorosa do contexto desportivo em que se insere e é inerente à
correta identificação dos problemas; d) desenvolver a sua atuação muito mais
nos terrenos em que se movimentam os desportistas do que no seu gabinete
de psicólogo; e) trabalhar continuamente durante todo o processo de treinocompetição e não apenas nos momentos altos de expressão pública da
prestação desportiva; f) inserir as estratégias da intervenção psicológica do
contexto prático da intervenção física, técnica e tática; g) ajudar os atletas em
situações de crise na sua vida desportiva ou particular, respeitando um regime
de absoluto voluntarismo (Alves, Brito e Serpa, 1996).
Já Palmi (1991, cit. por Cruz, 2002) descreve cinco características do
modelo de intervenção do psicólogo do desporto: 1. O psicólogo é um treinador
de habilidades psicológicas; 2. O psicólogo atua como um assessor do
treinador; 3. O psicólogo deve ter uma visão multidisciplinar do rendimento
desportivo; 4. O treino psicológico deve produzir uma interferência mínima com
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o trabalho habitual do treino desportivo e 5. O psicólogo deve realizar uma
avaliação objetiva da eficácia do programa de treino psicológico. Paula Brito
(2009) refere que a psicologia do desporto apresenta múltiplas possibilidades
de intervenção e, sobretudo, exige uma adaptação constante.
É importante salientar que o psicólogo age em segredo profissional, ou seja,
não divulga publicamente os resultados ou apreciações acerca dos atletas, da
equipa, do clube; nunca refere nomes. Porém, o atleta tem o direito de saber os
seus resultados, apreciações ou dados, mas nunca os dos seus colegas (Paula
Brito, 2009).
2.2.
Caracterização da Entidade Acolhedora: Futebol Clube de
Alverca
- História -
O Futebol Clube de Alverca (FCA) é uma instituição
de utilidade pública fundada a 1 de Setembro de 1939 (dia
em que se iniciou a II Guerra Mundial).
Inicialmente orientado para a prática da modalidade
de futebol, só em 1942, com a construção do campo
pelado, inscreveu pela primeira vez uma equipa de futebol
sénior, então na Associação de Futebol de Santarém. No
entanto, devido a adaptações geográficas desde 1974,
Figura 1 – Emblema do
Futebol Clube de Alverca
pertence à Associação de Futebol de Lisboa (AFL). O FCA atingiu o auge na
sua história no final da década de 90, altura em qua competiu no principal
escalão do futebol português, o campeonato nacional.
Desde a sua fundação até aquela altura o FCA era um clube modesto,
amador e o seu percurso resumia-se às competições distritais ou na segunda
divisão do futebol nacional. Faz a sua estreia nas provas nacionais na
temporada de 1942/43 quando conseguiu ascender ao Campeonato Nacional
da 2ª Divisão. Na época seguinte voltou a disputar a mesma competição e
voltaria às competições nacionais de futebol na época de 1965/66 apesar de
efemeramente e, posteriormente, na temporada de 1971/72 para aí
permanecer, quase ininterruptamente, até ao princípio da década de 80,
6
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embora sem conseguir grandes feitos desportivos, limitando-se a garantir a
manutenção. No final da época de 1981/82 o FCA é relegado aos campeonatos
distritais da AFL. Na época 1986/87 ascende aos nacionais o que permitiu que
na época seguinte, 1987/88 disputasse uma das séries da 3ª divisão do
Campeonato Nacional.
A partir da temporada de 1995/96 começa a participar no Campeonato
Nacional da 2ª Divisão de Honra. Nesta altura o clube começa também a
assumir-se como equipa satélite do Sport Lisboa e Benfica (SLB), recebendo
vários jogadores provenientes da equipa de juniores desse mesmo clube. Na
época 1997/98, com uma equipa recheada de jovens valores, onde se
destacavam, naturalmente os médios portugueses Hugo Leal e, posteriormente
Maniche e o atacante brasileiro Deco, o FCA fez uma temporada sensacional
(mesmo quando os seus melhores jogadores eram solicitados pelo SLB)
alcançando o 3º lugar e cumprindo o sonho de subir à 1ª Divisão Nacional.
É, portanto, na época de 1998/99 que o FCA atinge o auge na sua
história e disputou pela primeira vez a principal competição portuguesa de
futebol. Contudo, essa participação esteve durante algum tempo em causa por
força da ligação com o SLB, que competia na mesma prova. Assim, o clube
decidiu colocar um ponto final, oficialmente, na parceria com o Benfica. Entre
os grandes protagonistas cravados na história desta ascensão do FCA no
futebol português está, naturalmente, o Presidente Luís Filipe Vieira, atual
presidente do SLB. Na época de 1999/2000, o FCA conseguiu a sua melhor
classificação de sempre na 1ª Divisão do Campeonato Nacional alcançando o
11º lugar da tabela geral e revelando-se um dos grandes incómodos dos
denominados grandes clubes, fazendo todos perderem pontos.
Desde sempre o FCA dedicou muita atenção à formação de jovens
futebolistas e, frequentemente criou boas equipas juvenis. Na época 2000/01 o
departamento juvenil do clube conseguiu o maior feito ao sagrar-se Campeão
Nacional de Juniores.
Depois de uma descida ao segundo escalão do futebol nacional – a Liga
de Honra – na época 2002/03, o clube viria a subir à 1ª Divisão Nacional. No
entanto, a temporada de 2003/04 foi mesmo a última participação do clube no
Campeonato Nacional.
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O clube voltou a disputar a Liga de Honra tentando regressar à 1ª
Divisão do Campeonato Nacional. Contudo, as dificuldades financeiras que a
Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do clube enfrentava eram já bem
evidentes e foi difícil conseguir uma equipa capaz de lutar pela subida de
divisão. Assim, na época 2004/05, foi extinto o futebol profissional e o FCA
ficou apenas com o futebol juvenil.
Depois de uma época de interregno, em 2006/07 voltou a existir futebol
sénior no FCA, mas agora competindo nos escalões distritais da AFL. Era o
regresso às origens do popular Futebol Clube de Alverca.
(Adaptado de http://gloriasdopassado.blogspot.com/2009/07/futebol-clube-de-alverca.html)
- Instalações e Recursos Materiais Estádio – campo relvado com uma
lotação
de
balneários,
cerca
posto
de
8000
lugares,
médico,
ginásio
equipado com máquinas, salas de apoio a
árbitros e treinadores.
Figura 2 - Estádio FCA
Pavilhão Desportivo – com lotação de
cerca de 2000 lugares, balneários e
diversas salas que albergam algumas das
secções amadoras, salas para reuniões de
trabalho ou convívio.
Figura 3 - Pavilhão Desportivo FCA
Campo Pelado – com cerca de 5000
lugares, respetivos balneários, cabines de
treinadores e árbitros, posto médico e
gabinete do futebol juvenil.
Figura 4 - Campo Pelado FCA
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Meios de Transporte – 1 autocarro e 3 carrinhas de 9 lugares.
Recursos Materiais – bolas, coletes, varas, arcos, cones, balizas, barreiras,
entre outros.
- Modalidades Apesar do Futebol ser a modalidade com mais atletas e pela qual a
instituição é reconhecida, o FCA possui uma vasta diversidade de
modalidades: Hóquei em Patins, Ginástica, Karaté, Krav Maga, Natação,
BTT/Cicloturismo, Patinagem, Danças Orientais, Ténis, Campismo e Tiro com
Arco.
Em relação do futebol, na época 2012/2013, o clube disputava as seguintes
competições:
 Seniores – Campeonato Distrital Seniores AFL: Divisão de Honra.
 Juniores – Campeonato Nacional Juniores da Federação Portuguesa de
Futebol (FPF): 2ª Divisão – Série D.
 Juvenis – Campeonato Distrital Juvenis AFL: Divisão de Honra
 Iniciados – Campeonato Distrital Iniciados AFL: Divisão de Honra
 Infantis – Campeonato Distrital Infantis AFL: Fut.11 Sub13 1ª Divisão –
Série 1
 Benjamins – Campeonato Distrital AFL Benjamins Fut.7 Sub11 Juniores
E2 – Série 2
 Escolas A – Campeonato Distrital AFL Escolas Fut.7 Sub11
 Veteranos – Jogos particulares de confraternização
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- Organigrama Futebol Clube de Alverca -
FCAlverca
Assembleia
Geral
Conselho
Fiscal
Direção
Presidente
Presidente Adjunto
Vice-Presidente Desportivo
Vice Presidente Administrativo
Vice-Presidente do Património
Modalidades
Futebol
Futebol de Formação
Equipa de Juvenis
Figura 5 – Organigrama do Futebol Clube de Alverca
Competências e Funções da Direção
Presidente – comunicação (site e estatísticas), imagem (publicidade e
marketing) e jurídica (contencioso e aconselhamento jurídico)
Presidente Adjunto – modalidades amadoras, veteranos, serviços gerais e
departamento clínico
Vice-Presidente Desportivo – futebol sénior, futebol de formação, coordenação
técnica, prospeção e observação e psicologia.
Vice-Presidente Administrativo – secretaria e serviços
Vice-Presidente do Património – manutenção e reparação, obras e
orçamentos
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2.3.
Caracterização Psicológica da Modalidade de Futebol
Llames (1999, cit. por García-Mas, 2002) refere que, para além das
características físicas, fisiológicas, e técnicas, as características psicológicas
que proporcionam mais probabilidades de um jogador progredir na prática do
futebol são: o controlo e gestão da ativação, a adequada focalização da
atenção, capacidade para enfrentar situações adversas e um nível ótimo de
autoconfiança. Seguindo a mesma linha, García-Mas (2002) aponta as
seguintes competências psicológicas relevantes na modalidade: controlo da
ansiedade
pré-competitiva
e
competitiva,
autoconfiança,
competências
atencionais; tempo de reação, tomada de decisão e inteligência de jogo.
Considera-se que existem fases intrínsecas ao próprio jogo que afetam os
jogadores de forma comportamental, cognitiva e emocional, como o passar do
tempo de jogo, o estado do marcador e, as mudanças físicas e psicológicas à
medida que o tempo de jogo vai passando. De acordo com Grarcía-Mas
(2002), podem-se destacar alguns momentos críticos:
 Relativamente ao jogo, cada jogador deve possuir estratégias para
enfrentar os seguintes momentos críticos:

Relacionados com rotinas: Concentração dos jogadores antes do
jogo; deslocação para o campo onde vai decorrer o jogo;
aquecimento; início do jogo, intervalo, recomeço do jogo (2ª parte);
final do jogo (últimos minutos e minutos de compensação, balneário
depois do jogo; viagem de regresso;

Todas as paragens durante o jogo: lesões, faltas, lançamentos
livres, substituições, jogadas de bola parada;

Marcação de um golo;

Sofrer um golo;

Diferenças no marcador.
 Relativamente à carreira desportiva:

Pressão/apoio parental;

Picos de crescimento físico;

Puberdade e adolescência;

Mudanças de treinador;

Primeiro contrato;
11
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
Situação: titular vs suplente;

Mudanças de equipa;

Lesões;

Retirada e abandono da prática da modalidade.
No futebol existem situações específicas que são possíveis de ser
estudadas em cada jogador ou equipa, em que se valoriza a intervenção e que
têm relação com o rendimento da equipa (García-Mas, 2002):
 Individuais:
 Alterações
dos
processos
básicos
(atenção,
concentração,
motivação, ativação, aprendizagem) em função das situações e da
dinâmica de jogo;

Alterações
dos
processos
cognitivos
(fundamentalmente
pensamentos irracionais, negativos) durante o treino e a competição;

Alteração dos processos de atribuição causal relacionados com as
causas de êxito e fracasso percebidas pelos jogadores;

Alterações dos processos emocionais quando predominam emoções
que o jogador (ou treinador) percebe como debilitadoras ou
bloqueadoras.
 Equipa: normalmente a maioria dos problemas da equipa relacionam-se
com a própria equipa e, consequentemente, com os mecanismos
internos relacionados com a coesão e com a cooperação, no entanto, as
causas que as desencadeiam podem ser variadas:

A chegada de novos jogadores;

Os jogadores suplentes;

Jogadores de culturas, religiões diferentes;

A mudança de treinador;

A alteração dos objetivos da equipa;

Derrotas contínuas.
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3. Áreas de Intervenção
3.1.
Caracterização da População-Alvo
A população-alvo foi a equipa de Juvenis do Futebol Clube de Alverca. A
equipa competiu na Divisão de Honra do Campeonato Distrital de Juniores B
da Associação de Futebol de Lisboa. O plantel era constituído por 21 jogadores
com idades compreendidas entre os 15 e os 16 anos (sub-17), a maior parte
residentes na região da grande Lisboa, nos arredores de Alverca do Ribatejo.
A equipa técnica era constituída por três treinadores – um treinador principal
(Licenciado em Treino Desportivo pela Escola Superior de Desporto de Rio
Maior – ESDRM – e a frequentar o mestrado em Treino desportivo da
Faculdade de Motricidade Humana – FMH), um treinador adjunto (a terminar a
Licenciatura em Treino Desportivo da ESDRM), um treinador estagiário (a
frequentar a Licenciatura em Treino Desportivo da ESDRM) – e ainda um
massagista (a frequentar a licenciatura em Fisioterapia). Além destes
elementos a equipa técnica era ainda constituída por dois diretores de escalão.
Os treinos decorriam às terças, quintas e sextas-feiras das 20h15 às 21h45
(com exceção dos períodos de férias em que os treinos decorreram durante a
manhã) no campo pelado do Futebol Clube de Alverca e os jogos disputavamse aos domingos de manhã (salvo raras exceções).
3.2.
Modelos de Base para a Intervenção
O modelo ideal é o que permite que o jovem atleta tenha um
acompanhamento psicológico desde que inicia a prática desportiva. O
desenvolvimento do desportista é condicionado pela melhoria das suas
habilidades físicas e psicológicas e, por isso, deve existir uma preparação
integral em que ambas estejam presentes. Se existir este tipo de treino
(técnico, tático, físico e psicológico) desde a iniciação, o atleta enfrentará de
uma forma mais eficaz tanto os treinos como as competições.
Os elementos integrantes da iniciação desportiva são os próprios atletas, os
treinadores, os pais, mas também os dirigentes e os árbitros. Todos estes
elementos se relacionam e, as ações de todos e de cada um destes elementos
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tem influência na prática desportiva, logo, poderão ser alvo da intervenção do
psicólogo do desporto (ver figura 6).
Figura 6 – Pentágono da Iniciação Desportiva (adaptado de Dosil, 2008)
Apesar do pentágono representar os elementos da iniciação desportiva, e a
população-alvo, neste caso, ser uma equipa de juvenis (pré-especialização), os
elementos mantêm-se.
Se por um lado os atletas têm necessidades que podem influenciar o
seu rendimento de forma positiva ou negativa e cada desporto tem certos
fatores psicológicos que afetam mais diretamente o rendimento competitivo,
por outro lado torna-se necessário integrar estes dados para determinar quais
os fatores psicológicos que devem ser prioritários na preparação mental para a
competição (Taylor, 1995, cit. por Cruz e Viana, 1996). É com base nestas
informações que devem ser escolhidas as estratégias de intervenção
psicológica mais adaptadas para um determinado atleta, de determinada
modalidade (Cruz e Viana, 1996). De acordo com Vealey (1992; cit. por
Almeida, 2004) e tendo por base a Figura 7, existe um conjunto de
competências facilitadoras que deveriam estar previamente otimizadas antes
de haver espaço para o treino das Competências Básicas e Avançadas.
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Competências Avançadas
Autoconfiança
Motivação
Ativação
Stress e Ansiedade
Concentração
Lidar com a Adversidade
Competências Básicas
Relaxamento
Competências Interpessoais
Visualização Mental
Competências Interpessoais
Formulação de Objetivos
Gestão do Estilo de Vida
Controlo do Pensamento
Figura 7 - Hierarquização do Treino de Competências Psicológicas (Adaptado de Vealey, 1992; Cruz e Viana, 1996;
cit. em Almeida, 2004)
Sendo
uma
intervenção
vocacionada
para
a
consultadoria
e,
consequentemente, para o apoio dos atletas, treinadores e organizações
desportivas, com vista o desenvolvimento de competências psicológicas para a
melhoria do treino e do rendimento desportivo, a intervenção terá que passar
por algumas etapas e atividades correspondentes com base nalguns modelos
teóricos.
O modelo da Figura 8 tenta ilustrar o papel e as atividades do consultor em
Psicologia do Desporto (Bull, 1989, adaptado por Cruz, 1996) e, embora esse
modelo tenha subjacente o atleta como cliente do psicólogo, também outros
agentes poderão constituir o alvo da intervenção psicológica (e.g. treinadores),
aos quais o modelo se pode adaptar.
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Figura 8 – Modelo para o papel de consultor em psicologia desportiva (adaptado de Bull, 1989, cit. por Cruz,
1996)
Buceta (2004, cit. por Almeida, 2004) conceptualizou a intervenção
psicológica direta e indireta do psicólogo e do treinador sobre o funcionamento
psicológico do atleta. De acordo com esta conceptualização, quando a relação
profissional é saudável, há uma intervenção permanente entre o psicólogo e o
treinador, e este estabelece uma relação com o atleta, contribuindo para o
ajuste e desenvolvimento dos aspetos flexíveis do seu funcionamento
psicológico. Paralelamente, o treinador atua sobre o contexto onde todos os
agentes desportivos estão envolvidos, de forma a prevenir e regular os aspetos
que possam influenciar negativamente o funcionamento psicológico dos
futebolistas e potenciar aqueles que o possam favorecer. Finalmente, o
psicólogo desenvolve o seu trabalho com o atleta em todos os parâmetros do
seu funcionamento mental, no quadro da relação previamente estabelecida.
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3.3.
Papel do Psicólogo do Desporto na Equipa de Juvenis do
FCA: Objetivos Específicos
Como refere Cruz (1996), de um modo geral, a intervenção psicológica em
contextos desportivos poderá ter como objetivos centrais a promoção do
desenvolvimento e crescimento psicológico dos indivíduos e /ou grupos
desportivos, por um lado, e a promoção e otimização do rendimento individual
e/ou coletivo, por outro lado. Essa intervenção poderá ter como cliente e/ou
população-alvo não só atletas e treinadores, mas também dirigentes, outras
pessoas significativas e/ou clube/associação ou organização desportiva em
geral. Tendo como base este princípio e de acordo com as necessidades que
foram sendo identificadas ao longo da época desportiva a intervenção em
Psicologia do Desporto no Futebol Clube de Alverca foi realizada com os
jogadores, com os treinadores mas também ao nível da organização.
O psicólogo foi integrado na equipa técnica e, dessa forma, esteve sempre
presente quer nos treinos quer nas competições, fossem elas de carácter oficial
ou não. Durante os treinos encontrava-se no campo e equipado como os
treinadores, tendo sempre acesso aos balneários como qualquer outro
elemento da equipa técnica.
Numa primeira fase, a da integração na entidade acolhedora, a
preocupação foi estabelecer relações de confiança tanto com os jogadores
como com os treinadores e os demais agente desportivos, recolher o máximo
de informação disponível tanto através da observação (simples e participante)
do contexto como de conversas estabelecidas com esses elementos, assim
como perceber as suas expectativas e responder a questões acerca da
intervenção do psicólogo do desporto.
A fase seguinte caracterizou-se pela constante avaliação das necessidades,
intervenção e avaliação da intervenção realizada com jogadores, treinadores e
também ao nível organizacional.
3.3.1. Intervenção com os Jogadores
A intervenção com os jogadores foi realizada de forma direta mas também
indireta (através dos treinadores).
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Após a apresentação aos jogadores, ao longo de várias semanas foram
realizadas pequenas entrevistas semiestruturadas (que assumiam a forma de
conversas informais) com os jogadores de forma a recolher informação,
desmistificar dúvidas em relação à figura do Psicólogo do Desporto mas
também com o objetivo de os jogadores se habituarem à presença da
psicóloga. A recolha de informação foi realizada também com recurso à
observação participante, umas vezes livre outras vezes com o objetivo de
observar comportamentos específicos.
Ao longo do ano foram surgindo várias situações passíveis de serem
resolvidas ou melhoradas com a intervenção do psicólogo do desporto mas
nem sempre as condições de base para a intervenção se verificaram: umas
vezes os jogadores não estavam interessados não se mostrando disponíveis,
outras vezes não era possível fazer a intervenção no momento e quando havia
oportunidade, já não era o timming indicado.
No entanto, destacam-se intervenções com jogadores lesionados, uma
solicitação de um treinador do escalão dos Iniciados para um jogador em
particular e algumas intervenções relacionadas com a gestão do estilo de vida
dos atletas.
A intervenção mais demorada que se realizou foi com um jogador titular do
setor defensivo que se lesionou num jogo de treino. A lesão, que ocorreu após
a 4ª jornada do campeonato, embora não implicasse uma diminuição da
capacidade do jogador aquando da sua recuperação, era uma lesão que
pressupunha uma recuperação demorada. Numa primeira fase o jogador
estava impossibilitado de treinar e apenas ia assistir aos jogos da sua equipa,
sendo nessas alturas que se aferia sobre a sua condição. O período de
imobilização foi longo, com diagnósticos (dos médicos do Sistema Nacional de
Saúde
e
dos
profissionais
do
departamento
médico
do
FCA)
que
pressupunham diferentes prazos para a recuperação mas que invariavelmente
acabavam por ter em comum o aumento do tempo de imobilização do jogador.
Dessa forma, durante esse período de imobilização os objetivos foram: avaliar
o alcance da lesão, o seu impacto emocional no jogador e a dor que
provocava; verificar se o apoio social estava a funcionar (não só por parte da
família do jogador mas também do clube, treinadores e jogadores) e ao mesmo
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tempo prestar apoio social ao jogador; controlar as expetativas do jogador em
relação ao prazo de recuperação da lesão e ao seu futuro como jogador na
equipa e no clube; avaliação e intervenção em variáveis psicológicas
essenciais não só na recuperação mas também para o regresso ao ativo.
Assumiu-se portanto fundamental utilizar técnicas como definição de objetivos
para a reabilitação primeiro em conjunto com o massagista da equipa e
posteriormente, quando o jogador começou a reintegrar os treinos, também
com o treinador. No entanto, como também tivemos que lidar com flutuações
de estado de ânimo, sentimentos de inutilidade, flutuações das expetativas
referentes à recuperação que, culminaram numa total desmotivação por parte
do jogador em relação à adesão para as tarefas de reabilitação, utilizámos
matrizes decisionais em que se pretendia consciencializar o jogador para as
consequências das suas ações e de que forma ele teria maiores benefícios. Foi
um processo bastante complexo visto que o jogador depois de recuperar da
primeira lesão, quando reintegrou os treinos voltou a lesionar-se noutra parte
do corpo o que, consequentemente voltou a aumentar o período de
recuperação. Com todas as alterações no estado do jogador houve a
necessidade constante de reformular os objetivos anteriormente definidos, de
voltar a ajustar as expetativas do jogador e de toda a equipa que o rodeava e a
necessidade de adaptação do jogador à nova condição de suplente,
impaciência pela não obtenção do rendimento ótimo imediato. No entanto,
como foi um período de recuperação bastante longo e prevendo a preocupação
em relação a novas lesões, tornou-se fundamental formar o jogador em relação
ao papel ativo que ele pode desempenhar na prevenção de lesões.
O outro caso de lesão que decorreu durante o estágio não teve um
período de recuperação tão demorado mas também implicou a paragem do
jogador e, no seu regresso ao ativo pressupunha a prática da modalidade com
uma máscara de forma a proteger a zona afetada. À semelhança do caso
anterior, houve a preocupação de verificar o apoio social que estava a ser
prestado ao jogador tanto por parte da família como do clube (jogadores,
treinadores e direção) e ao mesmo tempo prestar apoio social ao jogador e de
verificar como estava a ser a adaptação do jogador à máscara. No entanto, o
jogador apresentava diminuição do rendimento desportivo e, após avaliação da
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situação, percebemos que havia falta de autoconfiança do próprio jogador e
pensamentos negativos e irracionais que prejudicavam o seu rendimento.
Nesse sentido, começámos por fazer uma sessão com o jogador na qual era
explicada a influência que os fatores psicológicos tinham na fisiologia do corpo
e, consequentemente nos movimentos que os jogadores fazem ou desejaria
fazer. O jogador identificou-se bastante com o que tinha sido explicado e,
posteriormente iniciou-se o processo de mudança de pensamentos durante o
treino,
para
que
conseguisse
autonomamente
identificar
e
substituir
pensamentos negativos irracionais para pensamentos positivos racionais.
Outra intervenção com um jogador (guarda-redes) foi relacionada com a
gestão do estilo de vida do jogador, ajudando-o a conciliar a sua vida pessoal,
com a sua vida escolar e desportiva. A necessidade foi detetada quando as
notas da avaliação escolar do jogador começaram a diminuir e isso começou a
causar mal-estar no contexto familiar do jogador. O objetivo, como já foi
referido anteriormente foi ajudar o jogador a conciliar a sua vida pessoal, com a
sua vida escolar e a sua vida desportiva, ajudando-o a encontrar uma melhor
forma de gerir o seu tempo.
De salientar ainda uma solicitação do treinador do escalão dos iniciados
que pediu apoio para um jogador que apresentava problemas de indisciplina.
Após um período de recolha de informação foi possível identificar que os
problemas de indisciplina eram comuns aos vários contextos onde o atleta
estava inserido: contexto familiar, escolar e desportivo. Verificamos também
que o fator que poderia estar na origem desses comportamentos seria o
contexto familiar desestruturado. No entanto, a intervenção realizou-se apenas
com o jogador, em conjunto com o seu treinador e massagista mas também
com o apoio de um jogador mais velho (Júnior) que assumia um papel
significativo na vida do jogador. Assim, e de forma a promover a adoção de
comportamentos ajustados, recorremos a matrizes decisionais preenchidas
com o comportamento realizado pelo jogador e as suas respetivas
consequências positivas e negativas e, posteriormente com comportamentos
que o jogador considerasse adequados para as mesmas situações, seguindo a
mesma lógica de custo-benefício. Foi necessário proceder também à definição
de objetivos do jogador para a sua participação desportiva na equipa visto que
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os seus se encontravam desajustados. Esta tomada de consciência dos
comportamentos e respetivas consequências foi analisada não só no contexto
desportivo mas também no contexto escolar.
3.3.2. Intervenção com os Treinadores
A intervenção com os treinadores foi baseada na assessoria, umas vezes
individualmente de forma a assessorar as funções de cada um, mas também
de forma a otimizar as suas relações.
A primeira preocupação foi estabelecer uma relação de confiança com os
treinadores, tentar perceber a visão de cada um sobre o papel do psicólogo do
desporto numa equipa/equipa técnica, perceber como é que os treinadores se
organizavam entre eles (competências e funções) para perceber também qual
a abordagem mais adequada ao contexto e a cada treinador. Foi também
importante
observar
a
relação
entre
os
treinadores,
os
diferentes
papéis/funções e as rotinas da equipa.
De um modo geral, o treinador principal era o responsável pelo
planeamento dos treinos (embora qualquer treinador pudesse dar feedback aos
jogadores) e também pelas palestras antes dos jogos. Como já foi referido
anteriormente, a equipa treinava 3 dias por semana sendo o treino iniciado com
uma parte mais teórica (à 3ª feira o treinador principal dava o feedback do jogo
do domingo anterior e fazia uma introdução à preparação do jogo do domingo
seguinte; à 5ª feira o treinador estagiário fazia o visionamento de um vídeo em
que mostrava o sistema de jogo, organização ofensiva e defensiva, transição
defensiva e ofensiva e jogadas padrão da equipa adversária; à 6ª feira o
treinador adjunto fazia o visionamento do vídeo em que mostrava os esquemas
táticos da equipa adversária).
O papel do psicólogo, na maior parte das vezes, é dar o seu parecer técnico
e científico sobre as variadas situações que foram ocorrendo ao longo da
época, ficando ao critério do treinador utilizar ou não as sugestões. Assim, o
trabalho de assessoria aos treinadores caracterizou-se pelas seguintes ações:
 Ajuda na elaboração das folhas colocadas nos balneários (ajuda o
treinador responsável por essa função a tornar o conteúdo mais
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apelativo sobretudo pela identificação e seleção da informação
relevante);
 Apoiar os treinadores nas questões logísticas e nas relações
interpessoais com os diferentes agentes desportivos (treinadores,
dirigentes, pais…);
 Ajudar os treinadores a compreenderem certos comportamentos dos
jogadores a partir daquilo que é observável e a interpretar as causas dos
diferentes acontecimentos;
 Montagem de dois vídeos com imagens da equipa (o primeiro a meio do
campeonato e o segundo no final do campeonato);
 Filmagem dos jogos do campeonato.
3.3.3. Intervenção Organizacional
No campo da consultadoria em Psicologia do Desporto realizou-se também
uma intervenção ao nível da organização, nomeadamente uma Análise
Organizacional (comummente conhecida como Análise SWOT) ao FCA, que
incidiu sobretudo no futebol de formação do clube.
A análise SWOT é uma ferramenta de gestão bastante utilizada pelas
empresas para o diagnóstico estratégico, no entanto, os clubes desportivos
com ou sem fins lucrativos, como qualquer outra organização, devem realizar o
mesmo procedimento a fim de atingirem dois principais objetivos: 1.
Sobrevivência e 2. Desenvolvimento (prosperidade/crescimento). A análise
organizacional assenta em 3 questões base: 1. Onde é que o clube está; 2.
Onde é que o clube quer chegar e 3. Como vai lá chegar. O termo SWOT é
composto pelas iniciais das palavras Strenghts (pontos fortes), Weaknesses
(pontos fracos), Opportunities (oportunidades) e Threats (ameaças).
No FCA, a análise organizacional surge como uma necessidade quando, a
determinada altura do campeonato, as decisões da direção do clube (e.g.
jogadores dos juvenis irem treinar com a equipa de juniores no último treino
antes do jogo; metade da equipa titular dos juvenis ser convocada para o jogo
dos juniores e, jogador titular dos juvenis jogar quase a totalidade do jogo dos
juniores na véspera do jogo dos juvenis) começam a interferir com o bem-estar
da equipa de juvenis – jogadores e equipa técnica – e, consequentemente
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passa a ter repercussões diretas e indiretas nos resultados da equipa quer no
treino quer nas competições. Nesse sentido, e após um período não só de
reflexão
mas
também
de
planeamento,
avançámos
com
a
análise
organizacional. O primeiro passo foi debater a ideia com o elemento da direção
responsável pelo futebol de formação de maneira a verificar o interesse,
explicando os objetivos e procedimentos. Como a ideia foi bem recebida, deuse início ao processo de recolha de informação.
Para isso foram realizadas entrevistas semiestruturadas baseadas num
guião elaborado para o efeito no qual constavam questões gerais (e.g. “Quais
os pontos fortes do FCA?” e “Quais os pontos fracos do FCA?”) como questões
mais fechadas (e.g. “Os valores do FCA são facilmente identificáveis?”).
Participaram nesta análise organizacional tanto dirigentes (Presidente e VicePresidente) como os treinadores dos escalões de formação do clube (infantis,
iniciados e juvenis) e os elementos do departamento médico do futebol de
formação. Apesar de no planeamento inicial estar prevista a participação
também dos jogadores, dos diretores de escalão, dos restantes treinadores da
modalidade de futebol do clube e outros elementos do Staff, isso não foi
possível devido ao momento em que nos encontrávamos (final do campeonato
o que fez com que nem sempre fosse fácil coordenar datas e horários) mas
também a outros constrangimentos próprios do clube.
Depois de todas as entrevistas executadas realizou-se a análise do
conteúdo das mesmas, que resultou num documento que foi posteriormente
apresentado à direção do clube que consistia em três pontos essenciais: 1.
Apresentação dos resultados da análise organizacional ao FCA (pontos fortes,
pontos fracos, oportunidades e ameaças identificados pelos participantes,
assim como sugestões que os próprios referiram durante as entrevistas); 2.
Proposta de um Projeto de Desenvolvimento Organizacional para o FCA com
base na implementação de um Gabinete de Psicologia para o futebol de
formação do clube e 3. Proposta da criação de um posto de trabalho em
Psicologia do Desporto tendo como base de financiamento os estágios
profissionais do Instituto do Emprego e Formação Profissional.
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Figura 9 – Organograma do trabalho do Gabinete de Psicologia do Desporto para o Futebol de Formação do FCA
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4. Área Comunidade
No âmbito da atividade da Área Comunidade, no dia 11 de Junho, no
Auditório do Centro de Alto Rendimento do Jamor, foi realizado um evento
denominado Open Day Psicologia do Desporto em colaboração com dois
colegas de turma. Esta ação de formação teve como objetivo a promoção da
área da Psicologia do Desporto baseado na partilha de experiências não só
dos alunos organizadores mas também dos convidados. Numa primeira parte,
dedicada à modalidade de futebol, as alunas estagiárias abordaram o início da
carreira profissional promovendo o seu trabalho nas entidades acolhedoras. De
seguida o Doutor João Lameiras, Psicólogo do Desporto e o treinador de
guarda-redes Paulo Marques (ambos do Sport Lisboa e Benfica) falaram sobre
a relação treinador-psicólogo e da intervenção em consultadoria e, o Dr.
Ricardo Aguiar (Psicólogo do Desporto, Atlético Clube do Cacém) abordou a
importância da implementação e o trabalho do um gabinete de psicologia do
desporto num clube. A segunda parte do Open Day Psicologia do Desporto foi
dedicada à intervenção nas modalidades individuais onde, o aluno estagiário
abordou a experiência no seu local de estágio, seguido do Professor Pedro
Almeida (Psicólogo do Desporto) e o atleta Filipe Jervis (Surfista) abordaram a
relação treinador atleta e a experiência de trabalho em conjunto.
O evento tinha como população-alvo os vários agentes desportivos,
profissionais da área assim como os estudantes tanto do âmbito do desporto
como da psicologia.
Foi elaborado um questionário com o intuito de realizar uma avaliação do
Open Day Psicologia do Desporto pelo público que esteve a assistir. Esta
também era a forma da equipa organizadora receber um feedback acerca do
seu trabalho e que foi bastante positivo.
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5. Área Complementar
Complementarmente às atividades referidas anteriormente, assumiram um
papel de destaque as seguintes atividades:
 XI Encontro Nacional do Árbitro Jovem – APAF (Associação
Portuguesa de Árbitros de Futebol) Praia de Mira, Figueira da Foz 2012
(5, 6 e 7 de Outubro de 2012).
O Encontro Nacional do Árbitro Jovem é um acontecimento anual e tem
por objetivo proporcionar aos árbitros jovens de todo o país o seu
desenvolvimento intelectual, físico e cultural enquanto árbitros, pretendendo
igualmente ser um contributo para o enriquecimento da cultura desportiva dos
participantes. Este evento inclui-se no Programa de Atividades da APAF,
estando alinhado com um dos pilares estratégicos da sua Direção – a
Formação - e tem sido determinante na qualificação dos Jovens Árbitros
Portugueses, ao mesmo tempo que os motiva a continuar e consolidar a sua
presença no mundo da arbitragem de futebol.
O grande objetivo desta participação foi promover a consciencialização e
o desenvolvimento de competências pessoais e sociais dos jovens árbitros e
proporcionar aos participantes uma experiência particular de aprendizagem
através dos jogos psicológicos/dinâmicas de grupo. A atividade realizada
assumiu-se como forma de promover e consciencializar os jovens árbitros para
as suas competências pessoais e sociais, assim como da sua importância,
tanto no desempenho da função de árbitro como para a sua própria vida. Todas
as competências exploradas são utilizadas no ato de arbitrar e, por isso, a sua
integração em atividades que, embora não estejam diretamente relacionadas
com a arbitragem, promovem de outra forma o uso dessas competências:
compreender a importância das competências psicológicas e a sua relevância
para o sucesso no desempenho; promover o contacto e socialização entre
árbitros da mesma faixa etária e de diferentes zonas do país; aprender a gerir o
tempo de acordo com as exigências das tarefas e o objetivo final; vivenciar
situações novas e desenvolver recursos para lidar com a adversidade;
fortalecer a capacidade de resistir à frustração; desenvolver estratégias
cognitivas e comportamentais que ajudem o jovem árbitro a orientar a sua ação
para o sucesso.
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Apesar de ser um encontro com uma duração de 3 dias, esta atividade
ocupa apenas a manhã do último dia do encontro, e à semelhança dos últimos
dois anos é coordenado pelo Professor João Nuno Pacheco mas a sua
organização fica a cargo de um grupo de alunos da área de PDE da ESDRM
que, no dia do encontro, são também monitores das diversas atividades.
 Presença na Semana da Psicologia com o objetivo de assistir às
prelações dos oradores convidados. Através do relato de um antigo aluno, deuse a conhecer a aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos na formação em
Psicologia do Desporto e do Exercício noutro âmbito de aplicação, a assessoria
para empresas. Outra área também abordada neste dia do evento foi a
intervenção em ginásios através da aplicação dos princípios e a preocupação
com temas como a liderança, o coaching e a programação neurolinguística
(PNL).
 De forma a promover não só a entidade acolhedora como também o
trabalho realizado, foi elaborado um e-poster que foi apresentado na feira de
estágios da Escola Superior de Desporto de Rio Maior, BlastOff’ 2013.
 Presença nas reuniões de estágio em conjunto com outros colegas onde
através da partilha das experiências houve a possibilidade de ser discutido o
trabalho que estava a ser desenvolvido ou iria ser desenvolvido pelos
estagiários nas respetivas entidades acolhedoras. Estas reuniões foram
essenciais para o desenvolvimento do aluno como profissional e, para isso
contribuíram
fundamentalmente
a
partilha
de
acontecimentos/desafios/dificuldades e estratégias que cada um utilizou no seu
dia-a-dia como profissional.
 Realização de um curriculum-vitae, ferramenta essencial para a inserção
no mercado de trabalho;
 Realização de um portfólio – Dossier de Estágio – onde foram
arquivadas todas as atividades realizadas relativamente ao estágio curricular.
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6. Cronograma de Estágio
2012
Setembro
Outubro
2013
Novembro
Dezembro
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
1º Contacto
com entidade
acolhedora
Recolha de informação sobre a entidade
acolhedora e sobre as atividades da equipa
1ª Reunião com
o orientador de
estágio; início
do estágio
Integração na entidade acolhedora e na
equipa
Avaliação inicial da população-alvo através da observação
participante e de entrevistas semiestruturadas
Avaliação e intervenção constantes
Análise SWOT
Fim do
Estágio
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7. Reflexão Crítica
Terminado o Estágio Curricular torna-se essencial refletir mais uma vez
sobre o processo.
De uma forma geral, considero que foi um processo bastante positivo e
que decorreu de forma evolutiva. A integração na entidade acolhedora
demorou algum tempo, não por não ter sido bem recebida ou por não ser
aceite como membro da equipa e consequentemente do clube mas sim porque
não foi fácil encontrar o meu lugar na equipa. Quer isto dizer que, apesar de
saber, em teoria, qual era o meu papel, não foi fácil perceber como é que me
iria coordenar com a equipa técnica e, consequentemente quais seriam as
minhas funções na equipa. Acredito que a própria equipa técnica tenha
passado pelas fases do desenvolvimento de uma equipa (i.e. forming, storming,
norming e performing) mas que eu tenha sentido mais a fase do “storming”
essencialmente pelo facto de ser eu o elemento estranho. Existiam funções
bem definidas para o massagista, os próprios treinadores tinham funções bem
definidas e, por falarem a “mesma linguagem” foi mais fácil coordenarem-se.
No meu caso, e não havendo qualquer solicitação por parte do treinador, tinha,
aparentemente, as portas abertas para qualquer tipo de intervenção que
achasse necessário fazer. Digo aparentemente porque depois colocava-se a
barreira do tempo disponível para a intervenção com a equipa que já estava
todo ocupado com as funções dos treinadores. Cada um dos três dias de treino
estava atribuído a um treinador.
Aconteceu também os treinadores solicitarem o apoio para alguns
jogadores em particular quando consideravam que o trabalho da psicóloga
poderia ser essencial, no entanto os jogadores não se mostravam disponíveis
para qualquer tipo de intervenção. Poderia, nestes casos, colocar-se a hipótese
de a relação de confiança não estar totalmente estabelecida, mas o que se
destaca nestes casos são sobretudo dois aspetos: 1. Havia casos em que o
problema era claramente relacional mas não apenas com a psicóloga, ou seja,
o jogador tinha problemas de relacionamento também com os outros elementos
da equipa técnica e recusava a ajuda através de comportamentos de
evitamento e, 2. O atleta negava a existência de qualquer problema, achando
que o seu comportamento era o mais adequado. Tais situações provocavam
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sentimentos de frustração para os quais tive que encontrar estratégias para
que o estágio não se tornasse penoso para mim e, por isso, recorri aos
princípios da intervenção psicológica aprendidos nas aulas do professor Palmi,
aquilo que ele designava como “leis de ouro”: 1. Nem todos os problemas têm
solução (mas podem ser tratados com mais eficiência); 2. Nem todas as
pessoas podem ser ajudadas, só ajudamos quem quer ser ajudado e 3.
Podemos não ser nós a pessoa mais indicada para resolver determinada
situação. Apesar de ter sempre estes princípios presentes, nunca deixei que
eles servissem de desculpa para desistir ou para não tentar resolver qualquer
situação.
Ao longo do ano também foi notório que o sucesso do estágio só iria
acontecer se conseguisse conjugar o conhecimento nas matérias tanto da
psicologia geral, da psicologia do desporto em particular mas também da
modalidade de futebol com as minhas competências enquanto pessoa.
Assim, foi fundamental estabelecer relações de confiança com todas as
pessoas envolvidas no contexto, com os meus treinadores como com os meus
jogadores, mas também com os outros agentes desportivos que frequentam a
instituição: treinadores e jogadores de outros escalões, diretores de escalão,
dirigentes, departamento médico e também os pais dos jogadores. O ditado
popular diz que “antes sê-lo do que parecê-lo” mas eu considero que é tão
importante ser confiável como parecer confiável. Ser confiável facilitou a
intervenção com os elementos da equipa da qual fiz parte, no entanto, o
parecer confiável permitiu que outro treinador solicitasse a minha intervenção
para um jogador em particular e, permitiu poder chegar aos pais dos jogadores
e, permitiu ainda, desenvolver a análise organizacional ao FCA.
A resistência à frustração foi fundamental, como já foi descrito
anteriormente, principalmente na fase inicial quando a equipa (jogadores e
treinadores) se estava ainda a habituar à minha presença – um elemento
feminino numa equipa de adolescentes masculinos, uma função que ainda está
associada a alguns mitos que suscitam desconfiança – em que é normal o
estagiário querer demonstrar trabalho e resultados.
Passar sempre a imagem da psicóloga como elemento atenuador de
conflitos e não como fonte porque, numa fase inicial, quando ainda estava a
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recolher informação sobre a opinião dos treinadores acerca do papel do
psicólogo numa equipa desportiva, identifiquei que cada um dos três
treinadores tinha opiniões bastante distintas acerca da importância do
psicólogo do desporto, da posição que deve ocupar no clube ou na equipa e,
consequentemente nas funções que deveria desempenhar. Um dos elementos
da equipa técnica tinha uma opinião que ia contra à posição que me tinha sido
designada pelo treinador principal, o que fez com que existissem alguns
problemas. Como esse elemento não via a psicóloga como elemento
constituinte da equipa técnica, não havia partilha de informação. Seria fácil esta
situação evoluir para uma forma de conflito constante, no entanto, e sendo o
elemento especialista em relações e comportamento humano, o objetivo foi
sempre minimizar a situação, nunca deixar transparecer qualquer mal-estar
quer para os restantes treinadores, quer para os jogadores, havendo uma
preocupação constante em sensibilizar aquele elemento para a importância de
equipas multidisciplinares e para o papel do psicólogo do desporto numa
equipa técnica, sem que isso fosse retirar alguma liderança aos treinadores.
O controlo emocional foi essencial para transmitir tranquilidade tanto aos
treinadores como aos jogadores. Por um lado, muitas foram as vezes em que
se tornava importante não me deixar contagiar pelas emoções negativas (e.g.
ansiedade e frustração) sentidas pelos elementos da equipa e, quando
contagiada, não deixar transparecer porque o objetivo seria sempre que
qualquer elemento encontrasse um ambiente emocional estável necessário
para alcançar o melhor rendimento possível. Neste sentido, posso afirmar que
o meu comportamento poderia servir como modelo de autocontrolo perante
situações imprevistas, difíceis e stressantes.
Capacidade de adaptação a equipas heterogéneas refletiu-se na
capacidade de adaptação aos elementos da equipa técnica com diferentes
experiências e personalidades, capacidade de adaptação aos jogadores,
capacidade de adaptação ao Futebol Clube de Alverca, o que permitiu superar
com sucesso as dificuldades e limitações com que me fui deparando ao longo
do estágio. Capacidade de trabalho em equipa de forma a poder realizar uma
intervenção o mais completa possível (multidisciplinar). Tentei sempre realizar
a intervenção em colaboração com os outros elementos da equipa técnica e
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estive sempre disponível para ajudá-los na concretização de qualquer tarefa
que tinham em mãos.
Durante o estágio curricular foi também importante desenvolver a
capacidade de observação, quer durante os treinos, quer durante os jogos
porque essa era a ferramenta que permitia recolher mais informação sobre a
população-alvo. E esse conhecimento das rotinas de treino, das rotinas em
dias de competição, das reações comportamentais à alteração das rotinas era
fundamental até porque durante o treino muitas vezes os treinadores
salientavam ou comentavam comigo situações específicas e ter dados
concretos em relação a essas mesmas situações foi essencial para fomentar a
relação com os treinadores.
Comunicação. Todo o trabalho do psicólogo do desporto assenta nesta
competência: saber o que se quer transmitir e transmitir exatamente isso sem
margens para interpretações erradas; ter o cuidado de adequar ao recetor a
linguagem que se utiliza; mostrar, pela postura corporal que se está disponível.
Não restringir as interações comunicacionais apenas à equipa na qual estava
inserida mas também tentar interagir com os jogadores e treinadores dos
outros escalões, com o pessoal do posto médico, com os dirigentes
desportivos, restante staff do clube e também com os pais dos jogadores.
A assertividade foi uma característica que esteve sempre presente na
comunicação e nas relações estabelecidas com qualquer elemento do escalão
no qual estive inserida mas tomou especial importância quando foram
transmitidos os resultados da análise organizacional à direção. Existiam
assuntos mais difíceis de abordar por representarem, aos olhos de quem
participou nesta atividade, falhas de organização e tomadas de decisão erradas
por parte da direção, no entanto era fundamental que essas questões fossem
abordadas com confiança e sem reprimir nada com medo de represálias, com a
confiança de que, no final, relações pessoais se manteriam positivas.
A capacidade de mostrar empatia e/ou criar relações empáticas, ou seja, a
capacidade de se conseguir colocar a posição do outro e ver a situação pela
sua perspetiva, de entender as suas emoções também assumiu um papel
preponderante. Essa empatia foi outro dos fatores-chave para o sucesso no
relacionamento estabelecido com as pessoas da equipa/clube e fez com que,
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muitas vezes os jogadores conseguissem quebrar a barreira do “medo do
desconhecido” e recorressem à psicóloga para contar aquilo que consideravam
importe ou até pormenores do seu dia-a-dia.
Realizar trabalho específico para cada jogador, não só porque cada
jogador é único, tem necessidades particulares, os seus próprios objetivos e
recursos individuas, apoios pessoais mas também porque as estratégias
utilizadas podem não ter o mesmo resultado em jogadores diferentes e, por
esse motivo, devem ser adaptadas.
Tentei nunca me deixar intimidar pelo argumento “elemento feminino numa
equipa masculina”. De facto, nunca senti que o facto de ser um elemento
feminino trouxesse preconceitos em relação à minha competência para intervir
naquele contexto. No entanto, havia algumas questões que não podia alterar e,
por isso, tive que encontrar estratégias para as ultrapassar. Por exemplo, os
treinadores discutiam os assuntos da equipa enquanto se equipavam para o
treino, por ser um balneário partilhado por treinadores de outros escalões,
nunca assistia a essas discussões, dessa forma, houve a necessidade de
encontrar estratégias de forma a ter acesso a essas informações: fazer
perguntas durante o treino, durante o aquecimento antes dos jogos, por
chamadas telefónicas, entre outros.
Foi também importante consciencializar-me que “estar dentro da equipa é
diferente de estar por dentro”, ou seja, fazer parte da equipa e ser por ela
aceite muitas vezes não significa ter acesso a toda a informação relevante e há
que conhecer o contexto para não retirar conclusões precipitadas. Eu não tinha
dúvidas de que era um elemento da equipa, isso foi referido várias vezes ao
longo da época e eu própria sentia-me parte da equipa, no entanto, muitas
vezes era surpreendida com alterações de rotinas no momento em que
chegava ao clube. E isto, que poderia ser interpretado como uma
subvalorização da minha importância na equipa e, consequentemente levar a
conflitos, teve que ser entendido à luz do contexto em que eu estava inserida.
A (des)organização do clube da qual eu muitas vezes tinha ouvido lamentações
era igual para todos e, como elemento integrante daquela equipa, também era
sentida por mim e havia que encontrar a melhor forma de solucionar esse
problema.
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Estando a trabalhar num ambiente tão competitivo e em regime de estágio
curricular, sentia eu própria necessidade não só de mostrar trabalho como
também de mostrar que estava a ser bem-sucedida. Questionei-me muitas
vezes se o sucesso é igual a resultados? O que é isso do sucesso? Porque
muitas das vezes o sucesso da nossa intervenção está dependente do relato
dos atletas ou dos treinadores envolvidos, principalmente numa situação de
assessoria. Em relação aos treinadores, notava que muitas vezes as minhas
observações eram integradas no discurso que tinham com os jogadores. Em
relação aos jogadores teria que confiar no feedback que eles me davam
durante o treino da mesma forma que esperava que eles confiassem em mim e
seguissem as minhas indicações. Muitas vezes o processo passava por
explicar o que se estava a passar com eles, como as competências
psicológicas afetavam a sua fisiologia e, consequentemente como isso afetava
o seu rendimento e, nessa atura, tinha a oportunidade de observar a alteração
da sua expressão facial e/ou corporal quando a explicação fazia sentido para
eles. No caso de um dos atletas lesionados, que regressou apenas nos últimos
jogos e na condição de suplente, numa altura em que tinha considerado que a
intervenção não tinha surtido o efeito desejado nem em relação ao bem-estar
do atleta nem para a melhoria do seu rendimento, apenas percebi o resultado
ou a importância da intervenção quando ele me disse que “se não fosses tu,
tinha deixado de ser jogador de futebol”.
Mas se tiver que nomear a base do sucesso deste estágio não posso
deixar de referir o compromisso e a paixão. No caso da paixão, apesar de já
existir a paixão pela psicologia do desporto, a paixão pelo futebol desenvolveuse ao longo do ano de estágio, certamente pelo contágio da paixão dos
jogadores e dos treinadores pela sua modalidade. Creio que o sucesso de toda
a equipa e de cada um individualmente se deve essencialmente a essa mesma
paixão.
Resta referir (e apesar de não ser politicamente correto) que tenho a
consciência que, apesar de saber que ensinei muito às pessoas com quem
convivi ao longo do estágio curricular, foi muito mais aquilo que aprendi.
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