MAPEAMENTO DA SUSCETIBILIDADE E PERIGO DE INUNDAÇÃO EM ROSÁRIO DO SUL-RS Anderson Augusto Volpato Sccoti1 Daniel Junges Menezes2 1 Universidade Federal de Santa Maria Departamento de Geociências [email protected] 2 Universidade Federal de Santa Maria Departamento de Geociências [email protected] RESUMO A ocupação de áreas próximas a rios é uma característica que pode ser observada em várias cidades do mundo. Porém, no decorrer da história humana, observa-se que o mesmo rio que trazia facilidades para a vida do homem, também, trazia destruição em períodos de cheias. A cidade de Rosário do Sul se desenvolveu ás margens do rio Santa Maria, aproveitando suas facilidades, mas sendo afetada por eventos de inundação. Este trabalho faz um estudo sobre este processo, considerando a suscetibilidade natural e determinando um zoneamento de perigo. A metodologia utilizada compreende: revisão bibliográfica, construção do inventário e análise espacial, mapeamento e zoneamento das áreas com perigo de inundação. Com os resultados obtidos foi possível especializar as áreas suscetíveis a inundação e também indicar as áreas de perigo. Os resultados obtidos são ferramentas importantes nos trabalhos de gerenciamento e gestão de riscos. Palavras chaves: Inundações, Áreas suscetíveis, Rosário do Sul ABSTRACT The occupation of areas close to river is a feature that can be observed in cities across the world. However, in the course of human history, it is observed that the same river that brought facilities for the life of man, too, brought destruction in flood periods. The Rosario do Sul city developed along of the river Santa Maria, enjoying their facilities, but being affected by flood events. This work is a study of this process, considering the natural determining susceptibility and hazard zoning. The methodology comprises: literature review, inventory and spatial analysis, mapping and zoning of areas at risk of flooding. With the results we specialize susceptible areas flooding and also indicate danger areas. The results are important tools in the work management and risk management. Keywords: Floods, Susceptible areas, Rosário do Sul. 1. INTRUDUÇÃO A ocupação de áreas próximas a rios pode ser observada em várias cidades ao redor do planeta, pois a drenagem proporciona acesso ao transporte, a alimentação e o abastecimento de água. Porém no decorrer da história humana, organizada em cidades, observa-se que o mesmo rio que trazia facilidades para a vida do homem, também, provocava destruição em períodos de cheias. Isso se deve ao fato, que a ocupação das áreas ribeirinhas ao longo do tempo, não respeitou esse limite natural de inundação. Além disso, às inúmeras intervenções antrópicas na bacia hidrográfica, nas quais estão incluídas a remoção da vegetação, a impermeabilização, retificação de canais e a construção de barramentos modificaram a relação entre infiltração/escoamento, os processos erosivos e o assoreamento dos canais. Dessa forma, as relações estabelecidas entre a dinâmica fluvial e a ocupação antrópica resultaram no surgimento de áreas ou zonas de risco, onde muitas vezes, ocorrem desastres naturais de significativa dimensão com perdas sociais e econômicas. Segundo Castro (2003), inundação é o transbordamento de água da calha de rios, mares, lagos e açudes ou acumulação de água por drenagem deficiente, em áreas não habitualmente submersas, provocando danos. Conforme Tucci (2005), a inundação ocorre quando as águas dos rios, riachos, galerias pluviais saem do leito de escoamento devido à falta de capacidade de transporte de um deste sistema e ocupa áreas onde são utilizadas para moradia, transporte, recreação, comércio, indústria, entre outros. Neste trabalho utiliza-se o termo inundação para o extravasamento da calha do rio ou a subida do nível de água até ao leito maior, causando danos a população. Desse conceito surge o termo ‘perigo’ que é utilizado por muitos autores como sendo a tradução de natural hazard e se entende este como sendo a “condição ou fenômeno com potencial para causar uma consequência desagradável” (IPT, 2007, p. 25). Mais recentemente, a Defesa Civil Nacional vem apresentando tendência a substituir o termo perigo por ‘ameaça’. Para Castro (2009) o perigo pode ser descrito como qualquer condição potencial ou real que pode vir a causar morte, ferimento ou dano à propriedade. Tominaga et al (2009) classifica o mapa de perigo como sendo a representação da probabilidade espacial e temporal de ocorrer um processo ou um fenômeno com potencial de causar danos. Utiliza-se o termo perigo para uma área suscetível a ocorrer evento de inundação causando danos a população. A demanda pelos trabalhos de definição das áreas de perigo, somadas com o avanço e disponibilidade de acesso cada vez maior das tecnologias, possibilitam que o mapeamento de áreas inundáveis e mapeamento do perigo de inundações tenham sido auxiliados cada vez mais, pelo emprego de um amplo conjunto de geotecnologias representado, principalmente, pelas informações derivadas do sensoriamento remoto e pelos Sistemas de Informações Geográficas (SIG’s) que constituem ferramentas indispensáveis para esses mapeamentos. A partir desta abordagem, avaliou-se a ocorrência de inundações, no município de Rosário do Sul, considerando a suscetibilidade natural, os registros de ocorrência e a ocupação, além do mais foram identificados algumas ações mitigadoras, que tem como função minimizar os danos sociais e ambientais. O município de Rosário do Sul está localizado na fronteira oeste do estado do Rio Grande do Sul, distante 389 km da capital Porto Alegre, sendo drenado pelas bacias hidrográficas (BH) dos rios Ibirapuitã e Santa Maria, com área urbana junto ao rio Santa Maria (Fig 1). Segundo dados disponibilizados pelo censo do IBGE realizado em 2010, o município dispõe de uma população de 39.707 habitantes e uma área total de 4.369 Km² apresentando uma densidade demográfica de 9,09 hab/km². A área urbana ocupa 12km² do município, nas margens do rio Santa Maria, e esta dividida em 33 bairros. Fig 1: Mapa de localização do Município de Rosário do Sul com indicação das bacias hidrográficas que drenam o município. 2. METODOLOGIA Os procedimentos metodológicos foram organizados em três etapas: - Primeira Etapa – Levantamento bibliográfico para definição de conceitos e metodologias e organização de dados existentes; - Segunda Etapa: análise espacial da ocorrência do fenômeno de inundação; - Terceira Etapa: mapeamento e zoneamento das áreas com perigo. Na primeira etapa o levantamento bibliográfico foi realizado junto a periódicos e trabalhos técnicos, onde se definiu os conceitos e classificações a serem empregadas e os fundamentos metodológicos para a realização do zoneamento. A segunda etapa contemplou a identificação das áreas, junto à drenagem, com declividades inferiores a 2%. Essas áreas são caracterizadas como planas e quando localizadas próximas a grandes rios podem ser ocupadas pela água em períodos de fortes precipitações. Essa identificação se deu através do modelo numérico do terreno (MNT), gerado a partir de curvas de nível com equidistância de 20 metros, que foi sobreposto sobre imagens de satélite do “Google Earth” facilitando a localização das áreas suscetíveis a inundações. Na terceira etapa foram realizados os trabalhos de campo que definiram os limites de inundação através de informações disponibilizadas pela população local, que indicava os locais em que a água alcançava em períodos de elevação dos caudais. Nas áreas afetadas foram caracterizadas as condições das ocupações. Os limites foram georreferenciado com o auxílio do GPS (Global Position Sistem). Para organização do mapeamento das áreas suscetíveis a inundação foram utilizado os softwares ArcGis versão 10 e Google Earth Pro. de onde foram extraídas as imagens de satélite. 3. RESULTADOS Os trabalhos realizados determinaram os locais com registros de eventos associados a inundações e permitiram zoneamento das áreas suscetíveis e as áreas de perigo de inundação na área urbana de Rosário do Sul 3.1 Definição das áreas suscetíveis A área urbana de Rosário do Sul encontra-se entre a cota de 90 metros de altitude, junto as margens do rio Santa Maria, e a cota de 140 metros de altitude, localizada a oeste da área urbana (nível médio dos mares). Com relação a declividade, a área urbana de Rosário do Sul apresenta 5Km² com declividade inferior a 2%, de um total de 11 Km², caracterizando-se assim um relevo plano. A relação entre altitude, declividade e rede de drenagem indicam às áreas suscetíveis a ocorrência de processos de inundação (Fig. 2), sendo que boa parte das áreas identificadas como suscetíveis foram visitadas em trabalho de campo, e consequentemente foi conferido e observado que os parâmetros utilizados correspondiam as indicações feitas no mapeamento. A suscetibilidade foi definida a partir das áreas que apresentam declividade inferior a 2% e altitudes menores que 100 metros, identificadas a partir de informações retiradas de cartas topográficas, imagens de satélite e pontos de GPS coletados em campo. Fig 2: Mapa das áreas suscetíveis a serem inundadas pelo rio Santa Maria em Rosário do Sul. 3.2. Definição das áreas de Perigo de Inundação As áreas de perigo foram identificadas a partir da determinação das áreas suscetíveis e o inventário da ocorrência de eventos. Com esse cruzamento de informações identificou-se as áreas ocupadas por habitações, localizadas nos bairros Areia Branca, Ana Luiza, Carmelo, Progresso, Santo Antônio e Vila Nova, que são afetados por eventos de inundações (Fig. 3). Destes apenas o bairro Ana Luiza não é diretamente afetado pelo rio Santa Maria, mas sim por afluentes e por problemas com drenagem urbana. Do total da área urbana (11 km²) estão sujeitas à inundação 1,17km², o que corresponde aproximadamente a 10% da área urbana de Rosário do Sul, valor relativamente expressivo visto as dimensões da cidade. Em todos os bairros analisados constatou-se a presença de pequenos canais, naturais ou construídos (Fig. 4), associados as inundações, pois ao serem represados pelo rio Santa Maria, em períodos de altos índices de precipitação, acabam extravasando suas águas para as áreas circunvizinhas, que atualmente são ocupadas com moradias. Uma situação agravante ao fenômeno de inundação, observada nos trabalhos de campo, foi a obstrução de canais de drenagem por dutos mal dimensionados, vegetação, entulhos e lixo no leito das drenagens, provocando barramentos, que dificultam o escoamento das águas que acabam invadindo ruas e moradias. Fig. 3: Mapa das áreas com perigo de inundação na cidade de Rosário do Sul. Fig. 4: Canal localizado no bairro Progresso, as áreas que tangenciam essas drenagens são as primeiras a serem atingidas pelas inundações, além da passagem da água ser obstruídas pelo acumulo de lixo no leito. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os fenômenos ligados a dinâmica fluvial são naturais e o próprio rio acaba delimitando de alguma forma as suas áreas de domínio, através de áreas úmidas (banhados) e planas, porém esses limites naturais não são respeitados e são ocupados com moradias que eventualmente podem sofrer com a alteração no nível de caudal. Para o gerenciamento adequado do problema de inundação são necessárias medidas não estruturais e estruturais. Com relação as medidas não estruturais o zoneamento e cartografia das áreas sujeitas a inundações servem como base para outros trabalhos. Com a execução deste trabalho em Rosário do Sul foi possível obter e disponibilizar informações referentes as áreas suscetiveis e com Perigo de inundação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTRO, A. L. C. Manual de desastres: desastres naturais. Brasília: Ministério da Integração Nacional, 2003. 174 p. _______________. Glossário de defesa civil: estudos de riscos e medicina de desastres. 3 ed. Ver./Ministério da Integração Nacional. Brasília: MI, 2009. 280 p. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA-IBGE. Censo demográfico de 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br, acesso em 27 de novembro de 2012. INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS – IPT. Ministério das Cidades. Mapeamento de áreas de risco em encostas e margem de rios. Celso Santos Carvalho, Eduardo Soares de Macedo e Agostinho Tadashi Ogura, organizadores – Brasília: Ministério das cidades; Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, 2007. 176p. TOMINAGA, L. K., SANTORO, J.; AMARAL, R. do (organizadores). Desastres naturais: conhecer para prevenir. São Paulo: instituto Geológico. 2009. 158 p. VEYRET, Y. (org). Os riscos: o homem como agressor e vítima do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2007. 320p.