A RELEVÂNCIA DA ÉTICA NO SERVIÇO DE SAÚDE VOLTADO À INTEGRAÇÃO DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL FRENTE À AÇÃO HUMANIZADA DA ENFERMAGEM NO SUS1 CARLLOSSO, Viviane2; CASSENOTE, Liege2; MOURA, Ariane2; VENTURA, Jeferson2; ZIEGLER, Fernanda2. 1 Artigo apresentado à disciplina de Ética e Cidadania . 2 Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] RESUMO Este estudo do tipo revisão de literatura tem por objetivo compreender e socializar a atuação da equipe multiprofissional focando na atuação humanizada da Enfermagem desde sua formação, bem como compreender como essa interação ética entre as diversas especialidades beneficia a qualidade do serviço estendendo-se ao usuário e ao próprio trabalhador. Esse agir ético-humanístico diz respeito a valores necessários para a implementação de um serviço eficaz (FORTES, 1998) que satisfaça os princípios básicos expostos pelas leis que regulamentam o Sistema Único de Saúde (SUS). Frente a isso se verifica de imprescindível importância fortalecer esse agir integral e coeso da equipe de saúde visto que há comprovação dos benefícios por ele alcançados. PALAVRAS-CHAVES: Enfermagem, Equipe Multiprofissional, Ética 1. INTRODUÇÃO Etimologicamente o termo éthos, designado para a tradução da palavra ética, significa modo de ser, busca pelo original, fazendo referência, dessa forma, à maneira que se deve agir frente a determinadas situações. Foi fundamentado na cultura da Grécia clássica com Sócrates o qual definiu ética como um conceito que transcendia o senso comum onde o corpo seria a prisão da alma, imutável e eterna (CHAUÍ, 1995). Pode ser compreendido também como um espaço de liberdade podendo sofrer modificações, adquirir novos sentidos, ter variações, interpretações e aperfeiçoamentos (BACKES, 2005). Falar a respeito de Ética em Saúde especificamente na Enfermagem nos remete ao primeiro modelo de ensino do tema na primeira Escola de Enfermeiros do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), hoje Escola Ana Néri: a “ética da benevolência”. Essa pode ser a explicação para a ênfase que a educação do enfermeiro dá à Humanização, elemento sempre presente nesse campo profissional e atualmente muito debatido já que, devido à ligação com a religiosidade e subserviência, a Enfermagem esteve, desde o princípio, voltada a construir a melhor forma de cuidado ao seu paciente: objeto principal da sua ação, pesquisas e práticas. Nos dias de hoje preconiza-se, sobretudo, estabelecer uma Saúde humanizada que vise atender às necessidades do usuário bem como do próprio profissional dentro da lógica de “cuidar também do cuidador” visto que, para Aristóteles na obra “Ética a Nicômaco”, o homem para ser ético precisa buscar a perfeição, entrando em contato com sua própria essência e estando em conformância com ela e com o universo. Ainda, todo o ser humano, é dotado de uma consciência moral, que o faz distinguir o que é certo ou errado, bom ou ruim, com isto é capaz de avaliar suas ações. (CAMPOS; GREIK; VALE, 2005). Em se tratando dos serviços de saúde, no mundo contemporâneo a ordem econômica neoliberal privilegia modelos de assistência à saúde desenvolvidos pela iniciativa privada, bem como interesses do complexo médico-hospitalar. As implicações éticas e políticas dessa visão, dentre outras, são as de que, necessariamente, o direito aos serviços de saúde e bem-estar social não existem na prática. Assim, a implantação de um sistema de saúde ético e humanizado é o que se espera através da sustentação do SUS que é dever e compromisso ético não somente das três esferas de poder (União, Estado e municípios) como também dos profissionais que constituem o serviço (BACKES, 2005). Dentro dessa perspectiva, dá-se a ação multiprofissional a qual é caracterizada pela interação ética de diferentes saberes e práticas, gerando uma ação comum que tem por objetivo vislumbrar o usuário como um ser integral. Dentro da ótica do SUS, essa equipe corrobora no aperfeiçoamento da gestão do sistema. Embasada pela ética, a interação de múltiplos profissionais de diferentes áreas atinge um objetivo mais concreto consolidando o sistema de saúde e fortalecendo o desenvolvimento da humanização com vistas à promoção do viver saudável dos usuários. 2. METODOLOGIA O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica de caráter descritivo com abordagem qualitativa. É uma revisão bibliográfica porque visa recuperar o conhecimento científico acumulado sobre um problema, descritiva pois tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis , e qualitativa que entende como aquelas capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade como inerentes aos atos (MINAYO, 2000). Objetiva-se, nesse tipo de análise, colocar o pesquisador em contato direto com o conhecimento científico sobre o assunto, possibilitando ao pesquisador um reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou na manipulação de suas informações (MARCONI; LAKATOS, 2001). . A pesquisa realizada de setembro a outubro de 2010, em artigos científicos na Biblioteca Virtual em Saúde, BVS. Os descritores utilizados foram os seguintes: ética e equipe multiprofissional. Foram encontrados quinze artigos referentes a eles sendo que, para a realização da pesquisa, dois foram os escolhidos. Além desses, foram utilizados livros com conteúdos relacionados ao assunto bem como o Código de Ética da categoria de Enfermagem. Os critérios de inclusão para a pesquisa on-line foram artigos publicados na base de dados on-line escolhida e que compreendessem os descritores selecionados. Os critérios de exclusão foram artigos que não compreendessem nenhum dos descritores, artigos em sites não acadêmico Não existem questões éticas que possam interferir nesse estudo, pois, o mesmo foi feito através de artigos já publicados s. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES Considerando-se essa dimensão das políticas que subsidiam o sistema de saúde, cabe a indagação sobre as repercussões que essas políticas de Bem Estar Social têm tido nas práticas dos profissionais, especialmente sobre a relação e a atuação da equipe multiprofissional tendo como fator indispensável a proposta da coesão ética dessa equipe devendo valorizar cada categoria profissional, sem sobreposição de conhecimentos a fim de sobrepujar a atuação técnica específica e, sim, focar o desenvolvimento de estratégias que preservem a dignidade do ser humano, ao passo que possibilitem o exercício da condição do usuário como ser autônomo e ativo do cuidado (PUGGINA e SILVA, 2009). A formação de ações vinculadas à ética interfere na interação das diferentes categorias de profissionais, através de uma atuação comprometida e humanizada que promova o intercâmbio de saberes em detrimento do individualismo e da competição, por vezes, vivenciado no ambiente onde atuam duas ou mais especificidades e que em nada contribuem à eficácia do serviço, à medida que a humanização está relacionada a uma ética baseada na condição humana e nos ideais partilhados frente às mais adversas situações experenciadas. A Humanização está diretamente relacionada à ética, tem em vista garantir e fundamentar a atuação simultânea da equipe de saúde visando boa convivência social e melhor solução das necessidades do cliente, podendo ser entendida como a reflexão crítica do comportamento dos seres humanos. Essa condição nos remete à interpretação, à problematização e à discussão a cerca dos valores e princípios morais colocados em prática na assistência (PUGGINA e SILVA, 2009). A reflexão humanística, contudo, não envolve somente os problemas e necessidades biológicas, abrange também os fatores sociais, éticos, psíquicos e educacionais. Humanizar faz referência à possibilidade de transformação cultural, aliadas às práticas desenvolvidas em instituições de saúde, para que, assim, assumam-se ações éticas centradas em princípios como respeito à autonomia e empatia para com o outro, considerando o ser único e individual existente e não apenas o usuário que usufrui dos serviços de saúde (BACKES, 2005). Desse modo, considerando as proposições do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem alusivas aos Princípios Fundamentais da atuação na promoção, prevenção e reabilitação da saúde segundo os preceitos legais e éticos, ressalta-se, dentre outros, a participação do Enfermeiro na realização do cuidado humanizado que transcende as normas e rotinas e permite-se recriar a assistência respeitando e preservando a autonomia do usuário, bem como fomentando a independência desse cuidado prestado, através do ensino do autocuidado (CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM, 2007; WANDA HORTA, 1979). Assim, considerando o contexto complexo que envolve o desempenho da atenção em saúde de excelência com vistas à consolidação do SUS, denota-se a relevância do tema para o profissional Enfermeiro, tendo em vista a reflexão da práxis desempenhada para a significação e ressignificação dos diferentes saberes envolvidos, à medida que o mesmo exerce respeitável e inquietante papel de educador em saúde. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme referenciado no decorrer do artigo, vimos que a Enfermagem especialmente entre as demais especialidades da área de Saúde, tem uma história interligada à ética e humanização visto que, por essência, sempre foi um ofício vinculado à benevolência e superioridade em empreender o ser e cuidar frente às mais adversas circunstâncias cotidianas. Diante disso percebemos que a ética é aliada na ação humanizada da equipe multiprofissional contribuindo para práticas que respeitem as condições de seres humanos e consolidando o SUS. Implementar um processo de humanização na saúde fundamentado na ética significa valorizar a competência do profissional para reconhecer a singularidade do cliente bem como a capacidade do trabalho em equipe onde há soma de saberes visando a qualificação do atendimento e do serviço. REFERÊNCIAS BACKES, D. S. et al. A construção de um processo interdisciplinar de humanização à luz de Freire. Texto & contexto enferm; vol 14, n. 3. P. 427-434, jun-set. 2005. CAMPOS, M; GREIK, M; VALE, T. História da ética. Salvador, ano 2, v.1, agosto/dezembro, 2002. CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1995. CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM, 2007. Disponível em http://www.portalcofen.gov.br/sitenovo/node/4158. Acesso em: 11/06/2011. MARCONI, M; LAKATOS, E.M. Metodologia do trabalho científico. 5.ed. rev. ampl.São Paulo: Atlas, 2001. HORTA, W. de A. Processo de Enfermagem. São Paulo: EPU, 1979. PUGGINA, A. C. G.; SILVA, M. J. P. Ética no cuidado e nas relações: premissas para um cuidar mais humano. REME rev. min. Enfermagem; vol 13, n. 4. P. 599605, out.-dez. 2009.