Confira a programação das igrejas de Bauru, como novos horários e dias de missas. Página 4 BAURU, DOMINGO, 17 DE JANEIRO DE 2010 Coletores levam a vida por um fio João Rosan Dia-a-dia dos responsáveis por livrar os bairros da cidade do lixo é repleto de riscos, como tombos, ataques de cães e acidentes com objetos cortantes Durante a jornada, os coletores de lixo chegam a percorrer 35 quilômetros e carregar até 3,5 toneladas de lixo Rodrigo Ferrari Os coletores de lixo de Bauru levam a vida por um fio. A rotina dos responsáveis por manter os bairros da cidade livre dos dejetos nossos de cada dia é repleta de perigos. Atropelamentos, ataques de cães, agulhas usadas e garrafas quebradas são alguns dos riscos que esses profissionais têm de enfrentar para poder cumprir sua honrosa (porém exaustiva) missão. Todos os dias, cada um dos 106 coletores da ativa percorre, em média, 35 quilômetros à caça dos sacos de lixo. As equipes são compostas por quatro profissionais, mais o motorista. A capacidade dos caminhões varia. Os veículos mais novos chegam a transportar até oito toneladas e meia de dejetos. Diariamente, um caminhão recolhe aproximadamente 14 mil quilos de lixo. Se a quantia for dividida pelos integrantes de uma equipe, seria possível dizer que, em Bauru, cada coletor apanha três toneladas e meia no decorrer de suas seis horas de trabalho. Em certas ocasiões, porém, as turmas ficam desfalcadas ou porque um integrante ficou doente ou porque tirou férias. Como a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb) não dispõe de “reservas” em seu quadro funcional, às vezes as equipes precisam sair à rua com apenas três coletores. Nesses dias, cada profissional chega a apanhar, em média, 4.666,666 quilos de lixo. Realizar um trajeto tão longo e ainda carregar tanto peso, em meio a carros e motocicletas, é uma tarefa para lá de estressante. A rotina dos motoristas, que passam a maior parte do tempo sentados na boleia, também não é das mais fáceis. Nos bairros mais distantes, eles são obrigados a manobrar máquinas de quase 15 toneladas por vias estreitas e repletas de buracos. Ano passado, a Emdurb registrou 20 acidentes envol- vendo coletores, nove a menos que em 2008. Cacos de vidro acondicionados em sacos de lixo foram responsáveis pelo maior número de registros, dez no total, seguido de perto pelas agulhas, que somaram cinco ocorrências. Houve, ainda, dois atropelamentos e duas torções. Entre maio e julho de 2009, a coleta de lixo da Emdurb chegou a ficar 55 dias sem registrar ocorrências. Este ano o placar de acidentes foi inaugurado na última segunda-feira, dia 11. A autarquia oferece equipamentos de segurança aos funcionários (uniforme laranja com faixas refletoras, calçado com solado apropriado para corrida, luvas emborrachadas etc.). O diretor de limpeza pú- blica da Emdurb, Everton Mussi Hunzincker, atribui à população parte da culpa pelos acidentes envolvendo coletores. “As pessoas têm de se conscientizar de que não podem colocar objetos perfurocortantes (ou seja, que perfuram e cortam) no lixo doméstico. Na embalagem só deveria ir material orgânico”, defende. O diretor do Sindicato dos Servidores Municipais de Bauru e Região (Sinserm) Valdecir Rosa acredita que falta uma ação mais incisiva da autarquia na prevenção dos acidentes. “A Emdurb deveria fazer campanhas massivas nos meios de comunicação para educar a população a não colocar materiais perfurocortantes nas embalagens de lixo”, afirma. Acidentes de trabalho Quando um coletor sofre acidente de trabalho (é picado por agulha de seringa, por exemplo), costuma ser encaminhado ao Pronto-Socorro Central, onde recebe atendimento médico e é submetido a uma bateria de exames. Dependendo do caso, o trabalhador pode tirar alguns dias de licença para se recuperar dos ferimentos, fazendo com que a equipe fique desfalcada. O Sindicato dos Servidores Municipais de Bauru e Região (Sinserm) defende que a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb) contrate profissionais reservas para substituir os que se encontram afastados do serviço por descanso ou doença. “Quando ingressei na coleta, em 1996, havia pessoas cuja função era justamente cobrir férias. Infelizmente, mesmo no setor público, vigora hoje a lógica da precarização e do enxugamento do quadro funcional”, critica Valdecir Rosa, diretor do Sinserm. Atuando na coleta, ele foi espetado por agulha de seringa e também chegou a ser atacado por cães. “Uma vez, no Parque City (zona norte da cidade), fui pegar uma sacola de lixo que estava colocada do lado de dentro da cerca. De repente, o cachorro veio e mordeu minha mão”, conta Rosa, exibindo as cicatrizes. A reportagem do Jornal da Cidade acompanhou o trabalho de uma das equipes de coleta da Emdurb e pode presenciar in loco a correria desses profissionais. Na página 2, os leitores terão a chance de saber um pouco mais sobre o dia a dia dessas pessoas que, embora exerçam uma função crucial para a sociedade (imagine como ficaria a rua de sua casa se os coletores não existissem), ainda são tratados de maneira desrespeitosa por parte da população. Acondicionamento correto “Pequenos gestos fazem a diferença.” A famosa máxima, criada para valorizar atitudes rotineiras, pode também ser aplicada à coleta de lixo. Embalar corretamente objetos perfurocortantes e manter o lixo em locais de fácil acesso são atitudes que não exigem tempo e nem muita dedicação, porém são fundamentais para evitar acidentes. Em 2009, o acondicionamento incorreto do lixo foi responsável por 75% dos acidentes registrados pela Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb). Das 20 ocorrências, 15 foram ocasionadas por cacos de vidro ou agulhas mal embaladas. Ano passado, se comparado a 2008, apresentou uma queda de 31% no número de registros envolvendo coletores, embora seja notável um aumento de acidentes ocasionados por objetos perfurocortantes, que no ano anterior significavam pouco mais de 50%. O diretor de limpeza pública da Emdurb, Everton Mussi Hunzincker, aponta que cuidados básicos com o acondicionamento do lixo seriam suficientes para reduzir consideravelmente os acidentes. Embalar objetos que perfuram ou cortam, como cacos de vidro, palitos e agulhas em jornais, caixas de leite ou colocá-los dentro de garrafas plásticas são algumas das soluções apontadas. (Wanessa Ferrari) Fotos: Malavolta Jr. 1 2 Sequência de fotos mostra a maneira correta de acondicionar lixo 1 2