A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM GOIÂNIA: E O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA? Paulo Henrique Alves de Souza Pontifícia Universidade Católica de Goiás Resumo O presente artigo de revisão tem o objetivo de apresentar como a Estratégia Saúde da Família se constituiu em um dos principais programas de Atenção Básica. A partir dessa análise histórica pretende-se apresentar o cenário deste programa no Brasil e em Goiânia assim como realizar considerações acerca das contribuições que o professor de Educação Física pode conferir a tal estratégia. Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família. Atenção Básica. Goiânia. Professor de Educação Física. A (R)evolução da Saúde Pública no Brasil Ao decorrer dos tempos, na década de 60, mais precisamente em 1964, a derrota das propostas desordenadas que envolviam a saúde no Brasil foi fator que estimulou a necessidade de ocorrer uma Reforma Sanitária, que adequada aos limites financeiros impostos pela crise econômica que o país enfrentava nessa época, efetivamente pudesse trazer mais condições de saúde à maioria da população (MERHY; QUEIROZ, 1993). Surgiram a partir dos anos 70 algumas correntes ideológicas que advogavam por um novo modelo de saúde no Brasil: uma conservadora e a outra reformadora. A corrente conservadora pregava uma organização dos serviços de saúde com influências de uma lógica de mercado, onde o eixo tecnológico principal era a assistência médica baseada no produtor privado, ou seja, a intervenção do Estado era apenas para aqueles que ficavam de fora do sistema, devido a motivos de “incapacidade social” de se integrarem ao mercado. Já a corrente reformadora defendia a construção de uma rede de serviços públicos de saúde universalizada e descentralizada, atendendo assim a população como um todo, mesmo aos que não eram cobertos pela previdência social (MERHY; QUEIROZ, 1993). A partir da Constituição de 1988 surge o Sistema Único de Saúde (SUS), o qual veio para mudar o quadro do Brasil, trazendo em suas concepções o objetivo de levar a saúde a todos, reorientando o modelo assistencial do Brasil. Uma das principais mudanças que ocorreram após a promulgação da Constituição de 1988 e a criação do SUS foi o direcionamento das responsabilidades de cada nível do Governo. A partir da década de 90 ocorreu o aprofundamento do processo de descentralização dos serviços de saúde, atribuindo aos municípios o papel central na gestão do sistema local, o que mais tarde foi denominado de municipalização dos serviços de saúde (SENNA; COHEN, 2002). A municipalização dos serviços de saúde deu-se pelo fato de que os serviços de saúde deveriam ser organizados de forma peculiar a cada região, já que alguns problemas que podem ser encontrados em algumas áreas podem não estar presentes em outras. O município como operacionalizador de alguns serviços de saúde tem o papel de identificar quais as principais características e necessidades referentes à área da saúde que a comunidade local possui, para que as estratégias adotadas possam refletir em uma melhoria na condição de saúde da população. Atenção Básica: Novos rumos para a Saúde Pública A partir de uma revolução histórica e das novas perspectivas do Sistema Público de Saúde foram surgindo novas abordagens e novos direcionamentos para colocar em prática o que foi proposto pela Constituição de 1988. Após anos de ênfase na atenção hospitalar, prática que foi herdada da medicina curativa, onde a capacidade instalada e a produção de procedimentos geravam alto custo nas operações, que eram as principais características do trabalho em saúde no Brasil. A partir de esforços advindos da Reforma Sanitária, alguns programas e investimentos em Saúde Pública foram direcionados e se concentraram na Atenção Básica (LÍGIA et al, 2007). Graças à 1ª Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada em 1978 na cidade de Alma-Ata, antiga capital do Kazaquistão, o cenário da saúde no mundo foi tomando novos rumos, pois nessa conferência foi adotada uma Declaração que reafirmou um dos direitos humanos fundamentais e uma das metas sociais mundiais mais importantes, a saúde (MENDES, 2004). A partir das discussões geradas em Alma-Ata foram sendo impulsionadas novas propostas a nível mundial. Em 1986 na cidade de Ottawa no Canadá ocorreu a 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, onde foram organizadas e sistematizadas em forma de carta (Carta de Ottawa) as idéias e novas abordagens sobre promoção da saúde, a qual foi definida como: Promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. [...] A saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas. (CARTA DE OTTAWA, 1986, p. 1). No cenário brasileiro como em todo mundo as políticas públicas foram sendo influenciadas por esses movimentos que foram surgindo para que se pudesse pensar em saúde de uma maneira diferente, e nesse sentido o Brasil passou a defender a Atenção Básica como uma das principais formas de se promover a saúde. A Atenção Básica configura-se como um dos principais níveis de atuação da saúde e um dos mais importantes para que se rompa de fato com o clássico modelo médico hegemônico, o qual é citado por Santana (2001) como sendo orientado para a cura de doenças e a distribuição de remédios, tendo como figura principal o médico. Gradualmente a Atenção Básica foi se fortalecendo, e sua característica principal é que ela se constitui como a porta de entrada preferencial dos indivíduos na utilização do SUS e se configura como ponto de partida para a estruturação dos sistemas locais de saúde (BRASIL, 2006a). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) no seu Relatório Mundial da Saúde, os sistemas públicos de saúde devem estar atentos a um dos principais fatores que impedem o sucesso das suas ações é a incapacidade de reconhecer o indivíduo de forma Holística, ou seja, de englobar todos os seus aspectos considerando o físico, o psicológico e o social. O documento deixa explícito que a intervenção dos sistemas públicos de saúde deve ocorrer de forma que o fator impulsionador para a criação de ações interventivas seja a especificidade de cada comunidade e de cada situação (OMS, 2008). Diante deste novo contexto no Brasil a surge a Saúde da Família como uma nova forma de abordar o indivíduo. A atenção centrada na família, a qual é entendida e percebida a partir de seu ambiente físico e social, possibilita uma melhor compreensão do processo saúde/doença e proporciona novas formas de intervenção a partir de práticas preventivas e promoção da saúde (MIRANDA, 2007). Programa Saúde da Família da Família e a reorientação do modelo do assistencial no Brasil A primeira estratégia do Governo que em sua concepção e operacionalização tinha como foco a família como unidade programática de ação de saúde, foi o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), criado em 1991 (VIANA; DAL POZ, 1998). O PACS tinha como objetivo principal reduzir a mortalidade infantil e materna no país, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Suas ações e diretrizes além de serem centradas na família e não mais no indivíduo, buscavam uma visão ativa de intervenção, onde não mais se esperaria a “demanda” chegar para que ocorresse a intervenção, pois sempre agiria sobre ela de forma preventiva, o que constituiria um real sistema de reorganização da sociedade em relação ao sistema público de saúde (VIANNA; DAL POZ, 1998). Vianna e Dal Poz (2005) ressaltam que a criação do Programa Saúde da Família, (PSF) deve-se ao grande sucesso e eficácia do PACS. O PSF foi inicialmente tomando forma a partir de uma reunião que ocorreu em Brasília no dia 27 de dezembro de 1993 convocada pelo Ministro da Saúde, Doutor Henrique Santillo, para que se fosse tratado do tema, Saúde da Família. O PSF foi institucionalizado a partir da Portaria 692 de 25 de março de 1994, onde ficou estabelecido inicialmente que seria responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde, sendo que foi criada dentro do Departamento de Operações a Coordenação de Saúde da Comunidade (COSAC), que agregava a gerência do PACS e do Programa de Interiorização do SUS (REIS, 2001). No ano de implantação do programa o Ministério da Saúde divulgou o primeiro documento acerca do tema, “Programa Saúde da Família: saúde dentro de casa”, onde definia que o PSF seria implantando prioritariamente nas áreas de risco, que seriam selecionadas levando em consideração o Mapa da Fome do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (VIANNA; DAL POZ, 2005). O Ministério da Saúde já falava em seus textos sobre uma das principais características do PSF, na qual as suas ações deveriam se adequar à realidade local na qual era inserido, desde que se mantivessem os seus princípios e diretrizes fundamentais, sendo que deviam ser observadas as necessidades e particularidades de cada região (BRASIL, 1997). Quanto à nova proposta que o PSF trouxe para o modelo assistencial do SUS, cabe ressaltar que esse programa era operacionalizado dentro das Unidades de Saúde da Família (USF), as quais incorporavam e reafirmavam alguns dos princípios que já eram evidenciados na Lei Orgânica da Saúde. Percebe-se que as diretrizes que o PSF adotou em sua concepção caminhavam para a construção de um modelo assistencial que estaria baseado na atenção básica e na proteção à saúde, onde a prevenção de doenças, principalmente as que têm maior incidência nas áreas onde o programa era oferecido, seria o foco central de trabalho das equipes de saúde da família. Outra característica principal que o PSF possuía era a de propor um trabalho multiprofissional para que a proteção à saúde ocorresse com maior eficiência e mais proximidade com a população, pois cada USF teria responsabilidade por um número delimitado de famílias pré-cadastradas que residem no espaço territorial próximo, possibilitando a criação de um vínculo de compromisso mútuo entre os profissionais de saúde e a população. No ano 2000 foi criado o Departamento de Atenção Básica, órgão que seria destinado a efetivar a Estratégia Saúde da Família (ESF), elaborando novas políticas para a atenção básica no Brasil (BRASIL, 2004). A Estratégia Saúde da Família Atualmente a ESF é reconhecida como a principal Estratégia do Governo para que se rompa definitivamente com o sistema público de saúde voltado para a cura das doenças. Podese perceber que a partir da Reforma Sanitária no Brasil as novas leis e programas que foram criados apontavam para um novo modelo assistencial, baseado na proteção e promoção da saúde. O Ministério da Saúde define que: A Saúde da Família é entendida como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes, e na manutenção da saúde desta comunidade. A responsabilidade pelo acompanhamento das famílias coloca para as equipes saúde da família a necessidade de ultrapassar os limites classicamente definidos para a atenção básica no Brasil, especialmente no contexto do SUS. A Estratégia de Saúde da Família é um projeto dinamizador do SUS, condicionada pela evolução histórica e organização do sistema de saúde no Brasil. A velocidade de expansão da Saúde da Família comprova a adesão de gestores estaduais e municipais aos seus princípios. Iniciado em 1994, apresentou um crescimento expressivo nos últimos anos. A consolidação dessa estratégia precisa, entretanto, ser sustentada por um processo que permita a real substituição da rede básica de serviços tradicionais no âmbito dos municípios e pela capacidade de produção de resultados positivos nos indicadores de saúde e de qualidade de vida da população assistida. (BRASIL. Ministério da Saúde, Saúde da Família, Disponível em: <http://200.214.130.35/dab/atencaobasica.php>, p.1). Quando se fala da importância que a ESF tem hoje no Brasil não se pode negar que o PSF e PACS foram fundamentais para que houvesse uma reorientação nas políticas de saúde e foi através deles que surgiu a necessidade da elaboração de uma estratégia que incorporasse os objetivos do SUS, que atendesse boa parte da população brasileira e que se caracterizasse como o núcleo básico de intervenção e de utilização dos serviços de saúde. A ESF ainda incorpora os princípios básicos do SUS e a ênfase que se dá nesse programa nos dias atuais é bem grande. A partir do Programa de Expansão da Estratégia Saúde da Família (PROESF) o Ministério da Saúde pôde expandir a cobertura dessa estratégia a nível nacional, chegando à grande marca no ano de 2007, onde a ESF cobria mais de 46% da população brasileira (BRASIL, 2010). É o Ministério da Saúde através do Departamento de Atenção Básica e da secretaria de Atenção à Saúde, que fica responsável pelas diretrizes da ESF, assim como o processo de implementação e articulação entre os processos político-institucionais, técnico-organizativos e os operacionais, os quais ocorrem a nível Estadual, e por fim assumirá características e resultados específicos em nível municipal (ARAÚJO, 1999). Cabe a cada município que aderir à ESF, a implantação e elaboração de metas e objetivos locais para o programa, tendo em vista que o caráter regional do mesmo ressalta uma característica de intervenção diferente a cada local onde será implantada a ESF, pois cada população possui necessidades e problemas que podem ser distintos. Mesmo que o município seja o operacionalizador do programa, existem as diretrizes nacionais que devem ser seguidas, e a partir delas é que serão elaboradas as ações no nível municipal. A Estratégia Saúde da Família em Goiânia Para a implantação da ESF no município de Goiânia alguns fatores foram analisados, discutidos e definidores das áreas onde o programa seria fixado. Um dos principais eixos problemáticos que se foi analisado estava ligado à carência dos serviços de saúde que ocorria nas regiões mais afastadas do centro da cidade. Esses problemas foram sendo somados aos fatores socioeconômicos e culturais, além do índice de morbidade e mortalidade que acometia grande parte da população e praticamente todas as faixas etárias, principalmente as crianças (RASSI, 2010). Rassi (2010) comenta que a região noroeste onde é localizado o “Bairro da Vitória” foi onde as primeiras equipes do antigo PSF atuaram, totalizando sete equipes em setembro de 1998, ano em que o município aderiu ao programa. O autor ressalta que a partir da sua adesão até os dias mais atuais pode-se evidenciar grandes avanços na ESF em Goiânia, sendo que foi significante o aumento do acesso da população em relação aos serviços de atenção básica. O quadro abaixo retrata essa evolução: Tabela 1: Distribuição das equipes do PSF em Goiânia 19 199 ESF 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 98 9 Equipes Saúde da Família 07 52 69 75 86 101 102 110 118 118 138 141 Equipes de Saúde Bucal - - - - - - 25 25 33 42 50 50 22,1 8% 23,2 8% 26,6 9% 30,8 6% 30,7 0% 33,1 1% 33,9 0% 33,9 0% 38,7 2% 39,8 5% Cobertura Populacion al 2,3 17,5 6% 4% Fonte: Diretrizes das Equipes de Saúde da Família de Goiânia. Secretaria Municipal de Saúde, 2010. Nota-se que o crescente número de equipes de saúde da família que se evidenciou ao longo dos anos foi bem satisfatório, como também a cobertura populacional que a ESF conseguiu atingir até o ano de 2009, a qual é 17 vezes maior do que no ano em que o município aderiu ao programa. O aumento do número de equipes e a expansão do atendimento à comunidade não são fatores que por mérito concretizariam os objetivos da ESF, pois oferecer mais serviço é necessário dispor de mais qualidade, e na realidade que o programa foi criado nem sempre esses dois pólos caminharam paralelamente. A ESF sempre apresentou dificuldades no que se refere à sua implantação e consolidação como programa indispensável para a reorientação da atenção básica no Brasil, esses problemas são relacionados aos recursos humanos e financeiros e perpassam por aspectos técnicos, comportamentais e políticos. A partir do reconhecimento desses pontos negativos surge a necessidade de cada município elaborar uma proposta de avaliação quantitativa e qualitativa, para que o impacto das ações da atenção básica seja realmente efetivo (LOURENÇÃO, 2004). Em Goiânia, a Secretaria Municipal de Saúde verificou por meio do serviço de ouvidoria, que as comunidades onde as equipes de saúde da família atuavam, estavam passando por alguns problemas, sendo que a falta de compromisso de alguns gestores e profissionais no que se refere às visitas domiciliares, cumprimento dos objetivos do programa, falta de humanização e falta de reconhecimento da área de abrangência da Unidade de Atenção Básica de Saúde da Família (UABSF), foram fatores que contribuíam para que o programa não se consolidasse no município (RASSI, 2010). Para que a ESF tomasse novos rumos em Goiânia, a Secretaria Municipal de Saúde no ano de 2010 construiu o documento intitulado, “Diretrizes das Equipes de Saúde da Família”, que teve como objetivo principal, orientar e nortear o trabalho que era promovido pelas equipes dentro das UABSFs. A partir da elaboração deste documento a ESF em Goiânia passou a ter instrumentos para a sua contínua avaliação. O trabalho das equipes de saúde da família possui objetivos definidos e suas ações são pautadas e determinadas, onde cada profissional da saúde possui suas atribuições de acordo com a área de atuação. O professor de Educação Física e a Saúde da Família Como foi evidenciado ao longo da história da saúde pública no Brasil, o novo contexto que se apresenta diante das abordagens de atuação dos profissionais da saúde, se desloca de um víeis mais técnico e centrado na cura de doenças, para um sistema que tem como prioridade a prevenção, a proteção e a promoção da saúde. Em épocas mais atuais vem sendo discutida e comprovada a importância e a contribuição que a atividade física exerce sobre alguns tipos de doenças que tem como fator auxiliador para a sua manifestação, o sedentarismo, como é o caso das doenças crônicas não transmissíveis e as hipocinéticas, que acometem cada vez mais pessoas que não possuem um estilo de vida tão saudável, aliado a outros fatores endógenos e/ou exógenos (AMERICAN COLLEGE OF SPPORTS MEDICINE, 2003). A prática de atividades físicas regularmente é um meio de manter o corpo sempre ativo, o que aliado a uma boa alimentação e bons hábitos pode ser fator que auxilie o indivíduo a possuir uma qualidade de vida melhor, desde que a oferta das condições básicas para se viver esteja ocorrendo de modo efetivo, como é o caso do saneamento básico, educação de qualidade, emprego, tempo para o lazer, além de estar minimamente satisfeito com os aspectos sociais, psicológicos e culturais que envolvem sua vida em sociedade. Segundo Miranda (2007) os índices de sedentarismo, obesidade e doenças crônicas não transmissíveis da população brasileira são muito altos, o que delega à atenção básica um papel fundamental que é a conscientização da população sobre como evitar o aparecimento destes agravos, e também o papel de proporcionar uma qualidade de vida melhor para os indivíduos que já possuem tais complicações. A autora ainda ressalta que essas ações devem ser garantidas primeiramente nas políticas públicas, onde serão discutidos e elaborados planos e projetos de financiamento e de recursos para que se concretizem os objetivos da atenção básica, em seguida desloca-se do âmbito político para o social, onde a intervenção de cada profissional deve ocorrer de forma integrada para que a condição de saúde que se encontra cada indivíduo seja alterada de forma significativa. O professor de Educação Física atuante na ESF pode contribuir bastante com o trabalho das equipes de saúde da família, pois este tem grandes potenciais para elaborar e promover ações coletivas de promoção da saúde. O Conselho Nacional de Saúde, a partir da resolução nº 218, de 6 de março de 1997 reconhece o professor de Educação Física como profissional da saúde (CONFEF, 2002). Ao ser reconhecido como tal, abriram-se novos horizontes para pesquisas e produções na área da saúde pela Educação Física, além de proporcionar um novo espaço de trabalho e intervenção, a Saúde Pública. De acordo com os princípios da ESF, um dos seus aspectos marcantes e central é o trabalho multiprofissional, que ultrapassa o horizonte clínico, para que o atendimento seja mais humanizado e voltado para uma abordagem de proteção à saúde que esteja de acordo com o que é proposto pela atenção básica no SUS. Nesse sentido o professor de Educação Física vem aparecendo aos poucos no Brasil como membro participante das equipes de saúde da família, o que é facilmente explicado pelo grande enfoque científico e social que foi conferido à atividade física ao decorrer dos anos. As práticas corporais e atividades físicas estão presentes nas diretrizes nacionais para a orientação da atenção básica no Brasil, as quais foram publicadas pelo Ministério da Saúde no documento, Política Nacional de Promoção da Saúde. O texto fala sobre os objetivos para a atenção básica e os direcionamentos que devem ser seguidos para a criação, execução e avaliação de novos programas. No que se refere ás práticas corporais e atividades físicas cabe ao município: a) Mapear e apoiar as ações de práticas corporais/atividade física existentes nos serviços de atenção básica e na Estratégia de Saúde da Família, e inserir naqueles em que não há ações; b) Ofertar práticas corporais/atividade física como caminhadas, prescrição de exercícios, práticas lúdicas, esportivas e de lazer, na rede básica de saúde, voltadas tanto para a comunidade como um todo quanto para grupos vulneráveis; c) Capacitar os trabalhadores de saúde em conteúdos de promoção à saúde e práticas corporais/atividade física na lógica da educação permanente, incluindo a avaliação como parte do processo; d) Estimular a inclusão de pessoas como deficiências em projetos de práticas corporais/atividades físicas; e) Pactuar com os gestores do SUS e outros setores nos três níveis de gestão a importância de ações voltadas para melhorias ambientais com o objetivo de aumentar os níveis populacionais de atividade física; f) Construir mecanismos de sustentabilidade e continuidade das ações do “Pratique Saúde no SUS” (área física adequada e equipamentos, equipe capacitada, articulação com a rede de atenção); e g) Incentivar articulações intersetoriais para a melhoria das condições dos espaços públicos para a realização de práticas corporais/atividades físicas (urbanização dos espaços públicos; criação de ciclovias e pistas de caminhadas; segurança, outros). (BRASIL, 2006b. p. 33-34) Cabe ao município elaborar o seu programa de ações e adequar os objetivos da ESF à realidade da sua população que é atendida, porém as diretrizes nacionais de operacionalização do programa devem ser observadas, pois no que se refere aos recursos humanos e materiais existe um direcionamento mínimo para que a UABSF exista. Os objetivos gerais da ESF devem estar presentes nas ações desenvolvidas pelo programa em cada município, porém as formas de se alcançar tais metas serão distintas, já que as necessidades de cada população estão ligadas ao seu desenvolvimento econômico, social e cultural. Conclusão Dessa forma fica claro para todos que cabe aos municípios inserirem nas Equipes de Saúde da Família o professor de Educação Física, tendo em vista que a Política Nacional de Promoção da Saúde já dispõe sobre as práticas corporais e atividades físicas e dá orientações para que as mesmas sejam implantadas na ESF. De acordo com as diretrizes propostas para a ESF, as práticas corporais/atividades físicas, devem ser promovidas e incentivadas dentro do programa e as UABSF que não possuem tais atividades deverão implantá-las. A partir dessa afirmação fica evidente uma contradição que está presente na ESF em Goiânia, já que o professor de Educação Física é o profissional que possui formação específica para atuar com as práticas corporais/atividades físicas e um dos papéis da UABSF é promover e incentivar tais atividades, porque o professor de Educação Física ainda não está inserido na ESF em Goiânia? A resposta para o questionamento acima fica como sugestão para um novo estudo, para que se possa investigar quais os motivos que levam a gestão local da ESF a não inserir o professor de Educação nas UABSFs. Necessita-se também que seja assegurada a nível nacional a inserção do professor de Educação Física na equipe mínima obrigatória, para que assim as práticas corporais/atividades físicas sejam incorporadas em todas as UABSFs. Cabe ressaltar que estudos que possam colaborar para tal inserção sejam desenvolvidos para incentivar a compreensão dos Órgãos Superiores que tal profissional é indispensável nas Equipes de Saúde da Famíla. Àqueles que são estudiosos da área da saúde ou que tem interesse em desenvolver estudos acerca da saúde pública, o tema tratado neste trabalho é de suma importância para que a Educação Física seja efetivamente participativa nas diversas estratégias de promoção da saúde. A vontade de aprofundamento nas questões discutidas neste trabalho instiga-me a continuar pesquisando os problemas da ESF em Goiânia e no Brasil, e surge então a necessidade de desenvolver estudos posteriores a este, para que alguns questionamentos possam ser sanados, inclusive os que se referem a formação, para que assim o professor de Educação Física possa ser inserido efetivamente na ESF. The Family Health Strategy in Goiânia: and the theacher of Physical Education? Abstract The present article of revision has the objective to present as the Strategy Health of the Family if it constituted in one of the main programs of Basic Attention. From this historical analysis it is intended to present the scene of this program in Brazil and Goiânia as well as carrying through considerações concerning the contributions that the teacher of Physical Education can confer to such strategy. Word-key: Strategy Health of the Family. Basic attention. Goiânia. Teacher of Physical Education. La Estratégia de la Salud de la Família em Goiânia: ¿ y el profesor de la Educación Física? Resumen El actual artículo de la revisión tiene el objetivo a presentar como la Estratégia de la Salud de la Familia si constituyó en uno de los programas principales de la Atención Básica. De este análisis histórico se piensa para presentar la escena de este programa en el Brasil y de Goiânia así como llevar a través de considerações referentes a las contribuciones que el profesor de la educación física puede conferir a tal estrategia. Palabra-llave: Salud de la estrategia de la familia. Atención básica. Goiânia. Profesor de la Educación Física. Referências: CONFEF. Formação Superior em Educação Física. 6ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição, 2003. Disponível em: <http://www.confef.com.br > Acesso em 22 de agosto de 2010 às 13:20min. ARAÚJO, M.R.N. 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