A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA EM GOIÂNIA: E O
PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA?
Paulo Henrique Alves de Souza
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Resumo
O presente artigo de revisão tem o objetivo de apresentar como a Estratégia Saúde da Família
se constituiu em um dos principais programas de Atenção Básica. A partir dessa análise
histórica pretende-se apresentar o cenário deste programa no Brasil e em Goiânia assim como
realizar considerações acerca das contribuições que o professor de Educação Física pode
conferir a tal estratégia.
Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família. Atenção Básica. Goiânia. Professor de Educação
Física.
A (R)evolução da Saúde Pública no Brasil
Ao decorrer dos tempos, na década de 60, mais precisamente em 1964, a derrota das
propostas desordenadas que envolviam a saúde no Brasil foi fator que estimulou a
necessidade de ocorrer uma Reforma Sanitária, que adequada aos limites financeiros impostos
pela crise econômica que o país enfrentava nessa época, efetivamente pudesse trazer mais
condições de saúde à maioria da população (MERHY; QUEIROZ, 1993).
Surgiram a partir dos anos 70 algumas correntes ideológicas que advogavam por um
novo modelo de saúde no Brasil: uma conservadora e a outra reformadora. A corrente
conservadora pregava uma organização dos serviços de saúde com influências de uma lógica
de mercado, onde o eixo tecnológico principal era a assistência médica baseada no produtor
privado, ou seja, a intervenção do Estado era apenas para aqueles que ficavam de fora do
sistema, devido a motivos de “incapacidade social” de se integrarem ao mercado. Já a
corrente reformadora defendia a construção de uma rede de serviços públicos de saúde
universalizada e descentralizada, atendendo assim a população como um todo, mesmo aos que
não eram cobertos pela previdência social (MERHY; QUEIROZ, 1993).
A partir da Constituição de 1988 surge o Sistema Único de Saúde (SUS), o qual veio
para mudar o quadro do Brasil, trazendo em suas concepções o objetivo de levar a saúde a
todos, reorientando o modelo assistencial do Brasil.
Uma das principais mudanças que ocorreram após a promulgação da Constituição de
1988 e a criação do SUS foi o direcionamento das responsabilidades de cada nível do
Governo. A partir da década de 90 ocorreu o aprofundamento do processo de descentralização
dos serviços de saúde, atribuindo aos municípios o papel central na gestão do sistema local, o
que mais tarde foi denominado de municipalização dos serviços de saúde (SENNA; COHEN,
2002).
A municipalização dos serviços de saúde deu-se pelo fato de que os serviços de saúde
deveriam ser organizados de forma peculiar a cada região, já que alguns problemas que
podem ser encontrados em algumas áreas podem não estar presentes em outras. O município
como operacionalizador de alguns serviços de saúde tem o papel de identificar quais as
principais características e necessidades referentes à área da saúde que a comunidade local
possui, para que as estratégias adotadas possam refletir em uma melhoria na condição de
saúde da população.
Atenção Básica: Novos rumos para a Saúde Pública
A partir de uma revolução histórica e das novas perspectivas do Sistema Público de
Saúde foram surgindo novas abordagens e novos direcionamentos para colocar em prática o
que foi proposto pela Constituição de 1988. Após anos de ênfase na atenção hospitalar,
prática que foi herdada da medicina curativa, onde a capacidade instalada e a produção de
procedimentos geravam alto custo nas operações, que eram as principais características do
trabalho em saúde no Brasil. A partir de esforços advindos da Reforma Sanitária, alguns
programas e investimentos em Saúde Pública foram direcionados e se concentraram na
Atenção Básica (LÍGIA et al, 2007).
Graças à 1ª Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada
em 1978 na cidade de Alma-Ata, antiga capital do Kazaquistão, o cenário da saúde no mundo
foi tomando novos rumos, pois nessa conferência foi adotada uma Declaração que reafirmou
um dos direitos humanos fundamentais e uma das metas sociais mundiais mais importantes, a
saúde (MENDES, 2004).
A partir das discussões geradas em Alma-Ata foram sendo impulsionadas novas
propostas a nível mundial. Em 1986 na cidade de Ottawa no Canadá ocorreu a 1ª Conferência
Internacional sobre Promoção da Saúde, onde foram organizadas e sistematizadas em forma
de carta (Carta de Ottawa) as idéias e novas abordagens sobre promoção da saúde, a qual foi
definida como:
Promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da
comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde,
incluindo uma maior participação no controle deste processo. [...] A
saúde deve ser vista como um recurso para a vida, e não como
objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde é um conceito positivo, que
enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades
físicas. (CARTA DE OTTAWA, 1986, p. 1).
No cenário brasileiro como em todo mundo as políticas públicas foram sendo
influenciadas por esses movimentos que foram surgindo para que se pudesse pensar em saúde
de uma maneira diferente, e nesse sentido o Brasil passou a defender a Atenção Básica como
uma das principais formas de se promover a saúde. A Atenção Básica configura-se como um
dos principais níveis de atuação da saúde e um dos mais importantes para que se rompa de
fato com o clássico modelo médico hegemônico, o qual é citado por Santana (2001) como
sendo orientado para a cura de doenças e a distribuição de remédios, tendo como figura
principal o médico. Gradualmente a Atenção Básica foi se fortalecendo, e sua característica
principal é que ela se constitui como a porta de entrada preferencial dos indivíduos na
utilização do SUS e se configura como ponto de partida para a estruturação dos sistemas
locais de saúde (BRASIL, 2006a).
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) no seu Relatório Mundial da
Saúde, os sistemas públicos de saúde devem estar atentos a um dos principais fatores que
impedem o sucesso das suas ações é a incapacidade de reconhecer o indivíduo de forma
Holística, ou seja, de englobar todos os seus aspectos considerando o físico, o psicológico e o
social. O documento deixa explícito que a intervenção dos sistemas públicos de saúde deve
ocorrer de forma que o fator impulsionador para a criação de ações interventivas seja a
especificidade de cada comunidade e de cada situação (OMS, 2008).
Diante deste novo contexto no Brasil a surge a Saúde da Família como uma nova
forma de abordar o indivíduo. A atenção centrada na família, a qual é entendida e percebida a
partir de seu ambiente físico e social, possibilita uma melhor compreensão do processo
saúde/doença e proporciona novas formas de intervenção a partir de práticas preventivas e
promoção da saúde (MIRANDA, 2007).
Programa Saúde da Família da Família e a reorientação do modelo do assistencial no
Brasil
A primeira estratégia do Governo que em sua concepção e operacionalização tinha
como foco a família como unidade programática de ação de saúde, foi o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS), criado em 1991 (VIANA; DAL POZ, 1998).
O PACS tinha como objetivo principal reduzir a mortalidade infantil e materna no
país, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Suas ações e diretrizes além de serem
centradas na família e não mais no indivíduo, buscavam uma visão ativa de intervenção, onde
não mais se esperaria a “demanda” chegar para que ocorresse a intervenção, pois sempre
agiria sobre ela de forma preventiva, o que constituiria um real sistema de reorganização da
sociedade em relação ao sistema público de saúde (VIANNA; DAL POZ, 1998).
Vianna e Dal Poz (2005) ressaltam que a criação do Programa Saúde da Família,
(PSF) deve-se ao grande sucesso e eficácia do PACS. O PSF foi inicialmente tomando forma
a partir de uma reunião que ocorreu em Brasília no dia 27 de dezembro de 1993 convocada
pelo Ministro da Saúde, Doutor Henrique Santillo, para que se fosse tratado do tema, Saúde
da Família.
O PSF foi institucionalizado a partir da Portaria 692 de 25 de março de 1994, onde
ficou estabelecido inicialmente que seria responsabilidade da Fundação Nacional de Saúde,
sendo que foi criada dentro do Departamento de Operações a Coordenação de Saúde da
Comunidade (COSAC), que agregava a gerência do PACS e do Programa de Interiorização
do SUS (REIS, 2001).
No ano de implantação do programa o Ministério da Saúde divulgou o primeiro
documento acerca do tema, “Programa Saúde da Família: saúde dentro de casa”, onde definia
que o PSF seria implantando prioritariamente nas áreas de risco, que seriam selecionadas
levando em consideração o Mapa da Fome do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
(VIANNA; DAL POZ, 2005).
O Ministério da Saúde já falava em seus textos sobre uma das principais
características do PSF, na qual as suas ações deveriam se adequar à realidade local na qual era
inserido, desde que se mantivessem os seus princípios e diretrizes fundamentais, sendo que
deviam ser observadas as necessidades e particularidades de cada região (BRASIL, 1997).
Quanto à nova proposta que o PSF trouxe para o modelo assistencial do SUS, cabe
ressaltar que esse programa era operacionalizado dentro das Unidades de Saúde da Família
(USF), as quais incorporavam e reafirmavam alguns dos princípios que já eram evidenciados
na Lei Orgânica da Saúde.
Percebe-se que as diretrizes que o PSF adotou em sua concepção caminhavam para a
construção de um modelo assistencial que estaria baseado na atenção básica e na proteção à
saúde, onde a prevenção de doenças, principalmente as que têm maior incidência nas áreas
onde o programa era oferecido, seria o foco central de trabalho das equipes de saúde da
família. Outra característica principal que o PSF possuía era a de propor um trabalho
multiprofissional para que a proteção à saúde ocorresse com maior eficiência e mais
proximidade com a população, pois cada USF teria responsabilidade por um número
delimitado de famílias pré-cadastradas que residem no espaço territorial próximo,
possibilitando a criação de um vínculo de compromisso mútuo entre os profissionais de saúde
e a população.
No ano 2000 foi criado o Departamento de Atenção Básica, órgão que seria destinado
a efetivar a Estratégia Saúde da Família (ESF), elaborando novas políticas para a atenção
básica no Brasil (BRASIL, 2004).
A Estratégia Saúde da Família
Atualmente a ESF é reconhecida como a principal Estratégia do Governo para que se
rompa definitivamente com o sistema público de saúde voltado para a cura das doenças. Podese perceber que a partir da Reforma Sanitária no Brasil as novas leis e programas que foram
criados apontavam para um novo modelo assistencial, baseado na proteção e promoção da
saúde.
O Ministério da Saúde define que:
A Saúde da Família é entendida como uma estratégia de reorientação
do modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de
equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Estas
equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um número
definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada.
As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção,
recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes, e na
manutenção da saúde desta comunidade. A responsabilidade pelo
acompanhamento das famílias coloca para as equipes saúde da família
a necessidade de ultrapassar os limites classicamente definidos para a
atenção básica no Brasil, especialmente no contexto do SUS.
A Estratégia de Saúde da Família é um projeto dinamizador do SUS,
condicionada pela evolução histórica e organização do sistema de
saúde no Brasil. A velocidade de expansão da Saúde da Família
comprova a adesão de gestores estaduais e municipais aos seus
princípios. Iniciado em 1994, apresentou um crescimento expressivo
nos últimos anos. A consolidação dessa estratégia precisa, entretanto,
ser sustentada por um processo que permita a real substituição da rede
básica de serviços tradicionais no âmbito dos municípios e pela
capacidade de produção de resultados positivos nos indicadores de
saúde e de qualidade de vida da população assistida.
(BRASIL. Ministério da Saúde, Saúde da Família, Disponível em:
<http://200.214.130.35/dab/atencaobasica.php>, p.1).
Quando se fala da importância que a ESF tem hoje no Brasil não se pode negar que o
PSF e PACS foram fundamentais para que houvesse uma reorientação nas políticas de saúde e
foi através deles que surgiu a necessidade da elaboração de uma estratégia que incorporasse
os objetivos do SUS, que atendesse boa parte da população brasileira e que se caracterizasse
como o núcleo básico de intervenção e de utilização dos serviços de saúde.
A ESF ainda incorpora os princípios básicos do SUS e a ênfase que se dá nesse
programa nos dias atuais é bem grande. A partir do Programa de Expansão da Estratégia
Saúde da Família (PROESF) o Ministério da Saúde pôde expandir a cobertura dessa estratégia
a nível nacional, chegando à grande marca no ano de 2007, onde a ESF cobria mais de 46%
da população brasileira (BRASIL, 2010).
É o Ministério da Saúde através do Departamento de Atenção Básica e da secretaria de
Atenção à Saúde, que fica responsável pelas diretrizes da ESF, assim como o processo de
implementação e articulação entre os processos político-institucionais, técnico-organizativos e
os operacionais, os quais ocorrem a nível Estadual, e por fim assumirá características e
resultados específicos em nível municipal (ARAÚJO, 1999).
Cabe a cada município que aderir à ESF, a implantação e elaboração de metas e
objetivos locais para o programa, tendo em vista que o caráter regional do mesmo ressalta
uma característica de intervenção diferente a cada local onde será implantada a ESF, pois cada
população possui necessidades e problemas que podem ser distintos. Mesmo que o município
seja o operacionalizador do programa, existem as diretrizes nacionais que devem ser seguidas,
e a partir delas é que serão elaboradas as ações no nível municipal.
A Estratégia Saúde da Família em Goiânia
Para a implantação da ESF no município de Goiânia alguns fatores foram analisados,
discutidos e definidores das áreas onde o programa seria fixado. Um dos principais eixos
problemáticos que se foi analisado estava ligado à carência dos serviços de saúde que ocorria
nas regiões mais afastadas do centro da cidade. Esses problemas foram sendo somados aos
fatores socioeconômicos e culturais, além do índice de morbidade e mortalidade que acometia
grande parte da população e praticamente todas as faixas etárias, principalmente as crianças
(RASSI, 2010).
Rassi (2010) comenta que a região noroeste onde é localizado o “Bairro da Vitória” foi
onde as primeiras equipes do antigo PSF atuaram, totalizando sete equipes em setembro de
1998, ano em que o município aderiu ao programa. O autor ressalta que a partir da sua adesão
até os dias mais atuais pode-se evidenciar grandes avanços na ESF em Goiânia, sendo que foi
significante o aumento do acesso da população em relação aos serviços de atenção básica. O
quadro abaixo retrata essa evolução:
Tabela 1: Distribuição das equipes do PSF em Goiânia
19 199
ESF
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
98
9
Equipes
Saúde da
Família
07
52
69
75
86
101
102
110
118
118
138
141
Equipes de
Saúde
Bucal
-
-
-
-
-
-
25
25
33
42
50
50
22,1
8%
23,2
8%
26,6
9%
30,8
6%
30,7
0%
33,1
1%
33,9
0%
33,9
0%
38,7
2%
39,8
5%
Cobertura
Populacion
al
2,3 17,5
6% 4%
Fonte: Diretrizes das Equipes de Saúde da Família de Goiânia. Secretaria Municipal de Saúde, 2010.
Nota-se que o crescente número de equipes de saúde da família que se evidenciou ao
longo dos anos foi bem satisfatório, como também a cobertura populacional que a ESF
conseguiu atingir até o ano de 2009, a qual é 17 vezes maior do que no ano em que o
município aderiu ao programa. O aumento do número de equipes e a expansão do
atendimento à comunidade não são fatores que por mérito concretizariam os objetivos da
ESF, pois oferecer mais serviço é necessário dispor de mais qualidade, e na realidade que o
programa foi criado nem sempre esses dois pólos caminharam paralelamente.
A ESF sempre apresentou dificuldades no que se refere à sua implantação e
consolidação como programa indispensável para a reorientação da atenção básica no Brasil,
esses problemas são relacionados aos recursos humanos e financeiros e perpassam por
aspectos técnicos, comportamentais e políticos. A partir do reconhecimento desses pontos
negativos surge a necessidade de cada município elaborar uma proposta de avaliação
quantitativa e qualitativa, para que o impacto das ações da atenção básica seja realmente
efetivo (LOURENÇÃO, 2004).
Em Goiânia, a Secretaria Municipal de Saúde verificou por meio do serviço de
ouvidoria, que as comunidades onde as equipes de saúde da família atuavam, estavam
passando por alguns problemas, sendo que a falta de compromisso de alguns gestores e
profissionais no que se refere às visitas domiciliares, cumprimento dos objetivos do programa,
falta de humanização e falta de reconhecimento da área de abrangência da Unidade de
Atenção Básica de Saúde da Família (UABSF), foram fatores que contribuíam para que o
programa não se consolidasse no município (RASSI, 2010).
Para que a ESF tomasse novos rumos em Goiânia, a Secretaria Municipal de Saúde no
ano de 2010 construiu o documento intitulado, “Diretrizes das Equipes de Saúde da Família”,
que teve como objetivo principal, orientar e nortear o trabalho que era promovido pelas
equipes dentro das UABSFs.
A partir da elaboração deste documento a ESF em Goiânia passou a ter instrumentos
para a sua contínua avaliação. O trabalho das equipes de saúde da família possui objetivos
definidos e suas ações são pautadas e determinadas, onde cada profissional da saúde possui
suas atribuições de acordo com a área de atuação.
O professor de Educação Física e a Saúde da Família
Como foi evidenciado ao longo da história da saúde pública no Brasil, o novo contexto
que se apresenta diante das abordagens de atuação dos profissionais da saúde, se desloca de
um víeis mais técnico e centrado na cura de doenças, para um sistema que tem como
prioridade a prevenção, a proteção e a promoção da saúde.
Em épocas mais atuais vem sendo discutida e comprovada a importância e a
contribuição que a atividade física exerce sobre alguns tipos de doenças que tem como fator
auxiliador para a sua manifestação, o sedentarismo, como é o caso das doenças crônicas não
transmissíveis e as hipocinéticas, que acometem cada vez mais pessoas que não possuem um
estilo de vida tão saudável, aliado a outros fatores endógenos e/ou exógenos (AMERICAN
COLLEGE OF SPPORTS MEDICINE, 2003).
A prática de atividades físicas regularmente é um meio de manter o corpo sempre
ativo, o que aliado a uma boa alimentação e bons hábitos pode ser fator que auxilie o
indivíduo a possuir uma qualidade de vida melhor, desde que a oferta das condições básicas
para se viver esteja ocorrendo de modo efetivo, como é o caso do saneamento básico,
educação de qualidade, emprego, tempo para o lazer, além de estar minimamente satisfeito
com os aspectos sociais, psicológicos e culturais que envolvem sua vida em sociedade.
Segundo Miranda (2007) os índices de sedentarismo, obesidade e doenças crônicas
não transmissíveis da população brasileira são muito altos, o que delega à atenção básica um
papel fundamental que é a conscientização da população sobre como evitar o aparecimento
destes agravos, e também o papel de proporcionar uma qualidade de vida melhor para os
indivíduos que já possuem tais complicações. A autora ainda ressalta que essas ações devem
ser garantidas primeiramente nas políticas públicas, onde serão discutidos e elaborados planos
e projetos de financiamento e de recursos para que se concretizem os objetivos da atenção
básica, em seguida desloca-se do âmbito político para o social, onde a intervenção de cada
profissional deve ocorrer de forma integrada para que a condição de saúde que se encontra
cada indivíduo seja alterada de forma significativa. O professor de Educação Física atuante na
ESF pode contribuir bastante com o trabalho das equipes de saúde da família, pois este tem
grandes potenciais para elaborar e promover ações coletivas de promoção da saúde.
O Conselho Nacional de Saúde, a partir da resolução nº 218, de 6 de março de 1997
reconhece o professor de Educação Física como profissional da saúde (CONFEF, 2002). Ao
ser reconhecido como tal, abriram-se novos horizontes para pesquisas e produções na área da
saúde pela Educação Física, além de proporcionar um novo espaço de trabalho e intervenção,
a Saúde Pública.
De acordo com os princípios da ESF, um dos seus aspectos marcantes e central é o
trabalho multiprofissional, que ultrapassa o horizonte clínico, para que o atendimento seja
mais humanizado e voltado para uma abordagem de proteção à saúde que esteja de acordo
com o que é proposto pela atenção básica no SUS. Nesse sentido o professor de Educação
Física vem aparecendo aos poucos no Brasil como membro participante das equipes de saúde
da família, o que é facilmente explicado pelo grande enfoque científico e social que foi
conferido à atividade física ao decorrer dos anos.
As práticas corporais e atividades físicas estão presentes nas diretrizes nacionais para a
orientação da atenção básica no Brasil, as quais foram publicadas pelo Ministério da Saúde no
documento, Política Nacional de Promoção da Saúde. O texto fala sobre os objetivos para a
atenção básica e os direcionamentos que devem ser seguidos para a criação, execução e
avaliação de novos programas. No que se refere ás práticas corporais e atividades físicas cabe
ao município:
a)
Mapear e apoiar as ações de práticas corporais/atividade física
existentes nos serviços de atenção básica e na Estratégia de Saúde da
Família, e inserir naqueles em que não há ações;
b) Ofertar práticas corporais/atividade física como caminhadas,
prescrição de exercícios, práticas lúdicas, esportivas e de lazer, na
rede básica de saúde, voltadas tanto para a comunidade como um
todo quanto para grupos vulneráveis;
c) Capacitar os trabalhadores de saúde em conteúdos de promoção à
saúde e práticas corporais/atividade física na lógica da educação
permanente, incluindo a avaliação como parte do processo;
d) Estimular a inclusão de pessoas como deficiências em projetos de
práticas corporais/atividades físicas;
e) Pactuar com os gestores do SUS e outros setores nos três níveis de
gestão a importância de ações voltadas para melhorias ambientais
com o objetivo de aumentar os níveis populacionais de atividade
física;
f) Construir mecanismos de sustentabilidade e continuidade das ações
do “Pratique Saúde no SUS” (área física adequada e equipamentos,
equipe capacitada, articulação com a rede de atenção); e
g) Incentivar articulações intersetoriais para a melhoria das condições
dos espaços públicos para a realização de práticas
corporais/atividades físicas (urbanização dos espaços públicos;
criação de ciclovias e pistas de caminhadas; segurança, outros).
(BRASIL, 2006b. p. 33-34)
Cabe ao município elaborar o seu programa de ações e adequar os objetivos da ESF à
realidade da sua população que é atendida, porém as diretrizes nacionais de operacionalização
do programa devem ser observadas, pois no que se refere aos recursos humanos e materiais
existe um direcionamento mínimo para que a UABSF exista. Os objetivos gerais da ESF
devem estar presentes nas ações desenvolvidas pelo programa em cada município, porém as
formas de se alcançar tais metas serão distintas, já que as necessidades de cada população
estão ligadas ao seu desenvolvimento econômico, social e cultural.
Conclusão
Dessa forma fica claro para todos que cabe aos municípios inserirem nas Equipes de
Saúde da Família o professor de Educação Física, tendo em vista que a Política Nacional de
Promoção da Saúde já dispõe sobre as práticas corporais e atividades físicas e dá orientações
para que as mesmas sejam implantadas na ESF.
De acordo com as diretrizes propostas para a ESF, as práticas corporais/atividades
físicas, devem ser promovidas e incentivadas dentro do programa e as UABSF que não
possuem tais atividades deverão implantá-las. A partir dessa afirmação fica evidente uma
contradição que está presente na ESF em Goiânia, já que o professor de Educação Física é o
profissional que possui formação específica para atuar com as práticas corporais/atividades
físicas e um dos papéis da UABSF é promover e incentivar tais atividades, porque o professor
de Educação Física ainda não está inserido na ESF em Goiânia?
A resposta para o questionamento acima fica como sugestão para um novo estudo,
para que se possa investigar quais os motivos que levam a gestão local da ESF a não inserir o
professor de Educação nas UABSFs.
Necessita-se também que seja assegurada a nível nacional a inserção do professor de
Educação Física na equipe mínima obrigatória, para que assim as práticas corporais/atividades
físicas sejam incorporadas em todas as UABSFs. Cabe ressaltar que estudos que possam
colaborar para tal inserção sejam desenvolvidos para incentivar a compreensão dos Órgãos
Superiores que tal profissional é indispensável nas Equipes de Saúde da Famíla.
Àqueles que são estudiosos da área da saúde ou que tem interesse em desenvolver
estudos acerca da saúde pública, o tema tratado neste trabalho é de suma importância para que
a Educação Física seja efetivamente participativa nas diversas estratégias de promoção da
saúde. A vontade de aprofundamento nas questões discutidas neste trabalho instiga-me a
continuar pesquisando os problemas da ESF em Goiânia e no Brasil, e surge então a
necessidade de desenvolver estudos posteriores a este, para que alguns questionamentos
possam ser sanados, inclusive os que se referem a formação, para que assim o professor de
Educação Física possa ser inserido efetivamente na ESF.
The Family Health Strategy in Goiânia: and the theacher of Physical Education?
Abstract
The present article of revision has the objective to present as the Strategy Health of the
Family if it constituted in one of the main programs of Basic Attention. From this historical
analysis it is intended to present the scene of this program in Brazil and Goiânia as well as
carrying through considerações concerning the contributions that the teacher of Physical
Education can confer to such strategy.
Word-key: Strategy Health of the Family. Basic attention. Goiânia. Teacher of Physical
Education.
La Estratégia de la Salud de la Família em Goiânia: ¿ y el profesor de la Educación
Física?
Resumen
El actual artículo de la revisión tiene el objetivo a presentar como la Estratégia de la Salud de
la Familia si constituyó en uno de los programas principales de la Atención Básica. De este
análisis histórico se piensa para presentar la escena de este programa en el Brasil y de Goiânia
así como llevar a través de considerações referentes a las contribuciones que el profesor de la
educación física puede conferir a tal estrategia.
Palabra-llave: Salud de la estrategia de la familia. Atención básica. Goiânia. Profesor de la
Educación Física.
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Endereço para correspondência:
[email protected]
Paulo Henrique Alves de Souza – CREF: 005871-G/GO
Professor da Rede Municipal de Aparecida de Goiânia / Professor da Secretaria de Ciência e
Tecnologia do Estado de Goiás / Professor da APAE (Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais) de Goiânia
Pós-Graduando em Pedagogias da Dança pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada
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