GERAÇÃO DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS E CONTROLE
AMBIENTAL
José Almir Rodrigues Pereira 1
RESUMO: Comenta as potencialidades e principais utilizações dos recursos hídricos na
Região Amazônica, sendo enfocada sua importância no desenvolvimento do setor
industrial no Estado do Pará. Em seguida, são analisadas as fontes de poluição e/ou
contaminação do meio ambiente, a geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos nos
processos produtivos, os procedimentos para licenciamento das atividades industriais; e
algumas alternativas para tratamento e disposição final dos resíduos industrias.
Apresenta a classificação dos corpos d’água adotada no Brasil, a reciclagem de resíduos
sólidos e o consumo e reuso de água na própria indústria.
PALAVRAS-CHAVE: água; indústria; meio ambiente, resíduos; recursos hídricos
INDUSTRIAL WASTE GENERATION AND ENVIRONMENTAL
CONTROL
ABSTRACT:
KEY WORDS: water; industry; environmental; waste; water resource
1
Engenheiro Sanitarista, Professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento do Centro Tecnológico
da Universidade Federal do Pará (UFPA), Mestre em Recursos Hídricos pela Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), Doutor em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos
(EECS)/Universidade de São Paulo (USP). E-mail: [email protected]
1
1 INTRODUÇÃO
A região Amazônica vem, cada vez mais, despertando grande interesse no
mundo globalizado em razão de sua grande diversidade e potencialidade ambiental. As
riquezas hídricas, minerais, vegetais e animais são campo fértil para o desenvolvimento
de pesquisas científicas e projetos internacionais, chegando inclusive a ser proposta a
“Internacionalização da Amazônia”.
É fato que, em se tratando dos recursos hídricos, o seu correto aproveitamento,
além de melhorar a qualidade de vida da comunidade, pode gerar novos investimentos
em diferentes setores da economia e do lazer. É o que se observa na utilização dos
caudalosos cursos d`água da Região tanto para o escoamento de mercadorias e
deslocamento de passageiros, quanto para a prática de esportes aquáticos e da pesca de
competição, o que vem incentivando o turismo em nosso Estado, promovendo até a
criação de um novo esporte paraense: o “Surf na Pororoca” 2 . Além disso, é cada vez
maior a possibilidade da utilização da força hidráulica dos rios da Amazônia para
geração de energia elétrica como uma das alternativas, não apenas para o
desenvolvimento urbano e industrial da região Norte, mas para reduzir a crise de energia
elétrica que hoje assola o Brasil 3 .
De fato, estes recursos hídricos são o acesso natural para conhecimento, pesquisa
e documentação das riquezas minerais e biológicas da região Amazônica, que desperta o
interesse no mundo todo, sendo inconteste a curiosidade de turistas e a cobiça de
pesquisadores nacionais e internacionais, o que é comprovado mediante as explorações
2
Este esporte é praticado próximo do município de São Domingos do Capim, no Estado do Pará, quando
o encontro desigual das águas do Oceano Atlântico e do Rio Amazonas provoca ondas fluviais de grande
velocidade.
3
Segundo o site da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente – SECTAM (2001), o potencial
hídrico para geração de energia elétrica é de aproximadamente 62 milhões de Kw no Estado do Pará,
2
fluviais de natureza particular ou pública 4 , científicas ou comerciais, que
constantemente vêm gerando inovações tecnológicas, solicitações de patentes,
comercialização de produtos naturais e aplicações de matéria-prima em indústrias.
Toda essa potencialidade, no entanto, deve ser racionalmente explorada, razão
pela qual a expansão do setor industrial paraense precisa ser acompanhada de medidas
que garantam a qualidade e a segurança dos cursos d’água da região, a fim de que a
exploração desses recursos seja realizada de forma adequada, evitando-se ou, ao menos,
minimizando-se o impacto ambiental5 .
Na implantação e operação de indústrias no Estado do Pará, é importante
considerar que a utilização das potencialidades advindas dos recursos hídricos (energia,
transporte, matéria-prima etc.) é um benefício inquestionável e único, mas precisa ser
acompanhada do uso racional da água, sendo, por isso, fundamentais, a redução e o
controle do lançamento de efluentes industriais sólidos, líquidos e gasosos no meio
ambiente, como uma das formas de cooperação e participação no denominado
desenvolvimento sustentável da região Amazônica.
Ciente da riqueza da floresta Amazônica e da potencialidade dos recursos
hídricos, sem ignorar o interesse que desperta no mundo globalizado, cabe ao setor
industrial a responsabilidade de minimizar ou evitar que o processo produtivo acarrete
impactos ambientais. Este trabalho tem como objeto o estudo e a análise de alternativas
para controle, tratamento e disposição final dos resíduos industriais, visando-se, assim, a
chegar à situação preconizada: atividade industrial produtiva sem impacto ambiental.
sendo que a usina de Tucuruí, maior hidrelétrica exclusivamente brasileira, produz, atualmente, 4 milhões
de Kw, apenas metade de sua capacidade planejada.
4
Cite-se como exemplo a grande repercussão que teve a divulgação mundial da exploração fluvial
particular/pública comandada por Jacques Cousteau na região Amazônica
5
Impacto ambiental, de acordo com a Resolução 001/1986 do Conselho Nacional de Meio Ambiente –
CONAMA, é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,
causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou
indiretamente, afetam a saúde, segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas,
a biota, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos ambientais.
3
2 FONTES DE POLUIÇÃO / CONTAMINAÇÃO
O lançamento indevido de resíduos sólidos, líquidos e gasosos de diferentes fontes
ocasiona modificações nas características do solo, da água e do ar, podendo poluir ou
contaminar o meio ambiente. A poluição ocorre quando esses resíduos modificam o
aspecto estético, a composição ou a forma do meio físico, enquanto o meio é
considerado contaminado quando existir a mínima ameaça à saúde de homens, plantas e
animais. No Quadro 1 são relacionadas as fontes de geração dos resíduos e os possíveis
locais de poluição / contaminação do meio ambiente.
Quadro 1: Poluição / Contaminação Ambiental Mais Freqüente por Tipo de Resíduo
GERAÇÃO RESÍDUO
Industrial
Doméstico
Veículos
Irrigação e Plantio
POLUIÇÃO / CONTAMINAÇÃO
Solo
Água
Ar
x
x
x
x
x
x
x
x
A grande diversidade das atividades industriais ocasiona durante o processo
produtivo, a geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, os quais podem poluir/
contaminar o solo, a água e o ar, sendo preciso observar que nem todas as indústrias
geram resíduos com poder impactante nesses três ambientes.
Em um primeiro momento, é possível imaginar serem simples os procedimentos e
atividades de controle de cada tipo de resíduo na indústria. Todavia, as diferentes
composições físicas, químicas e biológicas, as variações de volumes gerados em relação
ao tempo de duração do processo produtivo, a potencialidade de toxicidade e os
diversos pontos de geração na mesma unidade de processamento recomendam que os
4
resíduos sejam caracterizados, quantificados e tratados e/ou acondicionados,
adequadamente, antes da disposição final no meio ambiente.
2.1 RESÍDUOS INDUSTRIAIS GASOSOS
Esses resíduos industriais são gases ou partículas que alteram a composição do ar
atmosférico, podendo danificar materiais e ocasionar prejuízos para a saúde de homens,
animais e plantas.
Os efeitos da presença de poluentes na forma de gases ou de partículas no ar
atmosférico variam muito, quer em qualidade, quer em quantidade. Em geral, esses
efeitos se classificam em estéticos, irritantes e tóxicos, sendo que um poluente
atmosférico quase nunca produz apenas um desses inconvenientes. Um mesmo gás pode
ter efeito irritante e tóxico, assim como um material particulado pode exercer efeitos
estéticos e irritantes (BRANCO & MURGEL, 2000).
Os resíduos gasosos podem ser primários, liberados da fonte para a atmosfera, ou
secundários, formados por reações químicas entre constituintes naturais da atmosfera e
poluentes primários. DERÍSIO (1992) cita que os processos industriais são responsáveis
pela emissão de material particulado e de vários gases poluentes, tais como os óxidos de
enxofre (SO2 ), os óxidos de nitrogênio (NO e NO2 ), gás sulfídrico (H2 S),
hidrocarbonetos, mercaptanas, ácido clorídico etc. No Quadro 2, são relacionados
alguns resíduos industrias gasosos gerados em indústrias e suas conseqüências.
5
Quadro 2: Principais Resíduos Gasosos Gerados em Indústrias
RESÍDUOS GASOSOS
CONSEQÜÊNCIA
Monóxido de carbono
Danos ao aparelho respiratório e diminuição da capacidade
visual
Óxidos de Enxofre
Danos às plantas e chuvas ácidas
Óxidos de Nitrogênio
Irritação das mucosas e carcinogênicos, danos às plantas;
reagem com hidrocarbonetos produzindo oxidantes
fotoquímicos e chuvas ácidas
Hidrocarbonetos
Efeito carcinogênico; reagem com óxidos de nitrogênio
produzindo oxidantes fotoquímicos
Material Particulado
Redução da capacidade respiratória e visual, corrosão e
sujeira em superfícies (edifícios, tecidos e materiais);
carrear poluentes tóxicos para o pulmão
Gás Sulfidrico
Odor desagradável; danos ao aparelho respiratório e
problemas cardiovasculares em pessoas idosas
Clorofluorcarbonos
Destruição da camada de ozônio, câncer de pele, catarata e
danos à vegetação.
Fonte: Adaptado de DERISIO (1992) e MOTA (2000)
Alguns resíduos industriais gasosos também podem participar da formação de
oxidantes fotoquímicos, que ocasionam problemas visuais e respiratórios; do efeito
estufa, que provoca elevação da temperatura na terra; e da chuva ácida, que ocasiona
danos na biota do solo e da água.
2.2 RESÍDUOS INDUSTRIAIS SÓLIDOS
NAUMOFF & PERES (2000) citam que os resíduos sólidos são originados das
atividades dos diversos ramos da indústria, tais como metalúrgica, química,
petroquímica, papeleira, alimentícia etc, sendo bastante variados, podendo ser
representados por cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos, plásticos, papéis,
madeiras, fibras, borrachas, metais, escórias, vidros e cerâmicas, dentre outros.
Tais resíduos são classificados com base na sua periculosidade e solubilidade.
De acordo com a Norma Brasileira — NBR 10.004, os Resíduos Classe I são perigosos,
tendo periculosidade por inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou
6
patogenicidade; os Resíduos Classe II são não-inertes, podendo ter propriedades como
combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água; e os Resíduos Classe III
são inertes, não representando maiores problemas para a saúde pública ou riscos para o
meio ambiente.
Durante o processamento industrial podem ser gerados Resíduos Sólidos
Perigosos, Não-Inertes ou Inertes, o que recomenda atenção nos setores operacional e
de meio ambiente da indústria, a fim de evitar a mistura desses resíduos durante as
atividades de acondicionamento, coleta, tratamento e destino final.
Atualmente, algumas indústrias brasileiras estão realizando programas internos
para reciclagem dos seus resíduos sólidos, pois a segregação do material, ainda na fonte
geradora, diminui o volume total de resíduos, reduz os gastos operacionais e, em alguns
casos, pode gerar uma nova receita para indústria. Entre os principais tipos de
reciclagem estão a de material orgânico, para fabricação de compostos e fertilizantes; a
de papel, cartões, cartolinas e papelões, para fabricação de papel reciclado;
a de
plásticos, cacos de vidro e metais, para uso na própria indústria ou fabricação de
produtos recicláveis, como embalagens.
A incineração de resíduos sólidos industriais é uma alternativa para redução do
seu volume, sendo bastante discutida. Os que a defendem consideram que é uma forma
de eliminar possíveis riscos para a saúde pública, enquanto os que a combatem
argumentam que a má operação dos incineradores pode ser uma nova fonte de poluição
/ contaminação atmosférica (gases e material particulado).
A disposição dos resíduos em aterros industriais é muito utilizada, pois essas
grandes escavações no terreno armazenam grande volume desse material. Contudo, os
aterros sanitários precisam ser construídos e operados com grande segurança, para que
7
não ocorra contato do material com o solo ou percolação de líquidos para o aqüífero
livre.
No caso de poluição / contaminação do meio ambiente, próximo de aterros
industriais, o responsável pelo empreendimento pode ter transtornos jurídicos para
justificar esse passivo ambiental. Vale observar que as normas brasileiras de aterros de
resíduos perigosos (NBR 10157) e não perigosos (NBR 13896) estabelecem que, após
o encerramento da capacidade do aterro, a empresa responsável deverá monitorar as
águas subterrâneas por 20 anos e realizar a manutenção do mesmo.
2.3 RESÍDUOS INDUSTRIAIS LÍQUIDOS
De acordo com a Norma Brasileira — NBR 9800/1987, efluente líquido industrial é
o despejo líquido proveniente do estabelecimento industrial, compreendendo emanações
de processo industrial, águas de refrigeração poluídas, águas pluviais poluídas e esgoto
doméstico.
Por muito tempo não existiu a preocupação de caracterizar a geração de efluentes
líquidos industriais e de avaliar seus impactos no meio ambiente. No entanto, a
legislação vigente e a conscientização ambiental fazem com que algumas indústrias
desenvolvam atividades para quantificar a vazão e determinar a composição dos
resíduos líquidos industriais. A vazão dos efluentes líquidos industriais é relacionada
com o tempo de funcionamento de cada linha de produção e com as características do
processo, da matéria-prima e dos equipamentos, podendo ser constante ou bastante
variada, conforme representado nas Figuras 1a e 1b, respectivamente.
8
m3 /h
m3 /h
h
h
a
b
Figura 1: Geração de resíduos líquidos industriais com vazão constante (a) e com
vazão variável (b).
A quantificação da vazão do resíduo líquido industrial pode ser realizada em
equipamentos eletro-mecânicos ou em medidores hidráulicos (Parshall e vertedores),
sendo importante para verificar se:
a) a vazão é continua ou intermitente no processo produtivo;
b) é grande a diferença entre os valores mínimo, médio e máximo;
c) existe contribuição indevida, como águas pluviais e esgoto sanitário;
d) há pico localizado de contribuição, especialmente de determinada fase do
processamento;
e) os índices de controle de qualidade são adequados, como os que relacionam o
volume efluente líquido industrial (m3 ) com o consumo e custo de energia
elétrica, de água e de matéria-prima.
A variação horária das vazões permite a elaboração do Hidrograma de Vazões, que é
utilizado para determinação das vazões mínima, média e máxima no período estudado.
VON SPERLING (1995) comenta que a vazão de esgotos advinda dos despejos
industriais é função precípua do tipo e porte da indústria, processo, grau de reciclagem,
9
existência de pré-tratramento etc. Desta forma, mesmo no caso de duas indústrias que
fabriquem essencialmente o mesmo produto, as vazões de despejos podem ser bastante
diferentes entre si.
As características físicas, químicas e biológicas do efluente líquido industrial são
variáveis com o tipo de indústria, com o período de operação, com a matéria-prima
utilizada, com a reutilização de água etc. Com isso, o efluente líquido pode ser solúvel
ou com sólidos em suspensão, com ou sem coloração, orgânico ou inorgânico, com
temperatura baixa ou elevada.
Entre as determinações mais comuns para caracterizar a massa líquida estão as
determinações físicas (temperatura, cor, turbidez, sólidos etc.), as químicas (pH,
alcalinidade, teor de matéria orgânica, metais etc.) e as biológicas (bactérias,
protozoários, vírus etc.).
Uma das determinações mais realizadas é a da matéria orgânica total, que pode ser
biodegrádavel ou não. Para quantificar as concentrações de matéria orgânica total e de
matéria orgânica biodegradável são realizadas as determinações da Demanda Química
de Oxigênio - DQO e da Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO 5 , respectivamente,
conforme esquematizado na Figura 2.
MATÉRIA ORGÂNICA TOTAL
(DQO)
Biodegradável
(DBO5 )
Não Biodegradável
Figura 2: Classificação da Matéria Orgânica
O conhecimento da vazão e da composição do efluente líquido industrial possibilita
a determinação das cargas de poluição / contaminação, o que é fundamental para definir
10
o tipo de tratamento, avaliar o enquadramento na legislação ambiental e estimar a
capacidade de autodepuração do corpo receptor.
As cargas de poluição / contaminação são normalmente expressas em kg/dia, sendo
o resultado da multiplicação da vazão pela concentração do parâmetro de interesse. Por
exemplo, as cargas de sólido total (C ST ) e de matéria orgânica (CODBO5) são:
CST
= Q (m3 /d) . ST (g/m3 )
CODBO5 = Q (m3 /d) . DBO 5 (g/m3 )
Desse modo, é preciso quantificar e caracterizar os resíduos industriais sólidos,
líquidos e gasosos, para evitar danos ambientais, demandas legais e prejuízos para a
imagem da indústria junto à sociedade. No caso do Estado do Pará, a grande atenção da
comunidade faz a questão ambiental adquirir grande importância no bom andamento do
empreendimento, sendo fundamental que a indústria atenda às exigências e
recomendações da legislação ambiental federal e estadual.
3 LICENCIAMENTO DAS ATIVIDADES INDUSTRIAIS
O licenciamento das atividades industriais precisa ser fundamentado em estudos
que avaliem o impacto do empreendimento no meio ambiente, de modo a definir com
segurança técnica a fonte de suprimento (manancial) de água, os locais para disposição
final dos resíduos sólidos, a forma de lançamento dos efluentes gasosos na atmosfera e
o destino final dos efluentes líquidos gerados nas unidades de processamento.
11
Assim, é preciso que sejam conhecidas as modificações ambientais decorrentes
da instalação da unidade de processamento, pois essas alterações devem ser previstas e
aprovadas antes que sejam investidas grandes somas na construção das instalações
industriais. Por esse motivo, deve existir amparo legal para a implantação da indústria,
já que seu funcionamento é diretamente relacionado com as características e
disponibilidades ambientais, com os hábitos da comunidade e com a infra-estrutura
existente na área.
No artigo 10 da Lei no 5.887, de 09 de maio de 1995, que dispõe sobre a Política
Estadual do Meio Ambiente no Estado do Pará, está definido que o controle ambiental
nos limites do território do Estado do Pará será exercido pela Secretaria de Estado de
Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTAM). Assim, as indústrias precisam
atender às recomendações e exigências técnicas e ambientais da Secretaria, que são
baseadas na legislação federal e ainda podem ser complementadas pela legislação
ambiental específica de cada município.
Sempre devem ser atendidas as recomendações do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA) N. 001/1986, que no artigo 2o disciplina o licenciamento de
atividades modificadoras do meio ambiente, a qual dependerá da elaboração de Estudo
de Impacto Ambiental (EIA) e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), a
serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente e do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em caráter supletivo.
Como as 16 (dezesseis) atividades relacionadas no artigo 2 apresentam relação,
direta ou indireta, com o setor industrial, a elaboração do EIA/RIMA é, normalmente,
um requisito indispensável ainda na fase de planejamento do empreendimento.
12
O EIA é realizado por equipe multidisciplinar habilitada, sendo o proponente do
projeto responsável por todas as despesas e custos. Esse estudo deve desenvolver, no
mínimo, o diagnóstico ambiental da área de influência do projeto, a análise dos
impactos ambientais, a definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos e a
elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento.
Para efeitos práticos é possível dividir o EIA em duas etapas seqüenciais e
complementares. Na Etapa 1 (avaliação) são realizados o diagnóstico ambiental e a
análise dos impactos ambientais, enquanto a Etapa 2 (proposta) apresenta as medidas
mitigadoras e o programa de acompanhamento e monitoramento, conforme
esquematizado na Figura 3.
ETAPA DE AVALIAÇÃO
Diagnóstico
Ambiental
Análise Impactos
Ambientais
Medidas
Mitigadoras
Acompanhamento
e Monitoramento
ETAPA DE PROPOSTA
Figura 3: Representação de Algumas Atividades Realizadas no EIA.
No diagnóstico ambiental é caracterizada a situação ambiental da área antes da
implantação do projeto, sendo descritos e analisados os meios físico, biológico e sócioeconômico, enquanto na análise dos impactos ambientais são realizadas atividades de
identificação, previsão da magnitude e interpretação dos prováveis impactos relevantes.
Assim, na Etapa 1 do EIA é possível avaliar a atual situação ambiental e as futuras
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alterações decorrentes da implantação e operação do empreendimento, de acordo com as
atividades esquematizadas na Figura 4.
•
•
•
•
Subsolo
Águas
Ar
Clima
Meio Biológico
e Ecossistemas
•
•
Fauna
Flora
Meio SócioEconômico
•
•
•
Uso e ocupação do solo;
Usos da água;
Sócio-Economia
Meio
Físico
Diagnóstico
Ambiental
Figura 4: Atividades para Diagnóstico e Avaliação do Impacto Ambiental
As informações e dados da Etapa 1 possibilitam a realização das atividades que
evitam ou minimizam os impactos da implantação e operação do empreendimento no
meio ambiente, sendo realizadas na Fase 2 para:
•
Definir as medidas mitigadoras dos impactos negativos, dentre elas os
equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliandose a eficiência de cada uma delas;
•
Elaborar o programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos
positivos e negativos, indicando-se os fatores e parâmetros a serem
considerados.
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A Resolução 001/86 do CONAMA recomenda que as conclusões do Estudo de
Impacto Ambiental sejam consolidadas e apresentadas de forma objetiva e adequada à
sua compreensão, sendo as informações traduzidas em linguagem acessível e ilustradas
por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo
que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as
conseqüências ambientais de sua implementação.
Assim, as informações, dados e conclusões do EIA são consolidadas e
apresentadas no Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, que, no mínimo, deverá
conter:
I.
Objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as
políticas setoriais, planos e programas governamentais;
II.
descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando
para cada um deles, nas fases de construção e operação, a área de influência, as
matérias primas e mão-de-obra; as fontes de energia; os processos e técnicas
operacionais; os prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia; e os
empregos diretos e indiretos a serem gerados;
III.
síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de
influência do projeto;
IV.
descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da
atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de
incidência dos impactos, com indicação dos métodos, técnicas e critérios
adotados para sua identificação, quantificação e interpretação;
V.
caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando
as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem assim com
a hipótese de sua não realização;
15
VI.
descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos
impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o
grau de alteração esperado;
VII.
programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;
VIII.
recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de
ordem geral).
As exigências e recomendações da Resolução CONAMA 001/1986 precisam ser
atendidas de acordo com as características do empreendimento, ou seja, o EIA/RIMA de
uma ferrovia é diferente do EIA/RIMA de uma hidrelétrica.
Essa situação também se repete no setor industrial, em razão dos tipos de
processamento, materiais utilizados, capacidade produtiva e avanço tecnológico de cada
indústria resultarem em diferentes gerações quantitativas e qualitativas de resíduos
sólidos, líquidos e gasosos, o que, aliado com as características ambientais de cada
local, exigem EIA/ RIMA específicos.
No entanto, quaisquer que sejam a indústria e o local de instalação, é preciso que
sejam avaliados alguns aspectos fundamentais para a operação, indispensáveis durante a
elaboração do EIA/RIMA. Entre esses podem ser citados:
•
o fornecimento de energia elétrica;
•
o abastecimento de água;
•
a geração e destino final dos resíduos sólidos
•
a origem e destino final dos resíduos líquidos;
•
a proveniência e destino final dos resíduos gasosos;
Ainda é oportuno observar que o EIA/RIMA é normalmente solicitado pela
entidade licenciadora estadual, no caso do Estado do Pará a SECTAM, sendo possível
16
realizar consulta na cópia do material disponível na biblioteca da entidade licenciadora
ou, ainda, na cópia enviada para os órgãos públicos que manifestarem interesse ou
tiverem relação direta com o projeto.
Na Resolução CONAMA 009/87, o artigo 2o assinala o Órgão de Meio Ambiente
promoverá a realização de audiência pública do RIMA sempre que julgar necessário, ou
quando for solicitado por entidade civil, pelo Ministério Público, ou por 50 (cinqüenta)
ou mais cidadãos.
Assim, a elaboração do EIA/RIMA é o estudo para a adequação da atividade
industrial ao meio ambiente, sendo a primeira forma de relacionamento da indústria
com a comunidade local e, em alguns casos, com o consumidor dos seus produtos.
Quanto ao aspecto legal, a aprovação do EIA/RIMA e o continuado acompanhamento
dos técnicos do órgão ambiental possibilitam que a indústria obtenha as licenças
necessárias para sua construção e operação.
Existem casos em que a entidade ambiental pode dispensar a elaboração do
EIA/RIMA, quando é mínima a capacidade do empreendimento de gerar impacto
ambiental. Nessa situação, são solicitados o Plano de Controle Ambiental (PCA) e o
Relatório de Controle Ambiental (RCA). Tal situação não é comum no setor industrial.
Ainda no planejamento do empreendimento deve ser elaborado cronograma para
ajustar as atividades desenvolvidas pela indústria com os requisitos exigidos para
obtenção das três licenças ambientais, a saber: a Licença Prévia (LP), a Licença de
Instalação (LI) e a Licença de Operação (LO).
Normalmente, para obtenção da licença Prévia – LP é exigido, de acordo com a
capacidade impactante do empreendimento, o EIA/RIMA ou apenas o RCA. A Licença
de Instalação – LI já é mais rigorosa, requerendo a apresentação dos projetos executivos
do empreendimento e do Plano de Controle Ambiental – PCA, onde as medidas
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mitigadoras e os sistemas de controle devem ser apresentadas com os respectivos
cronogramas de implantação. Por sua vez, a obtenção da Licença de Operação (LO)
depende do atendimento das propostas do PCA, aprovadas quando da obtenção da
Licença de Instalação (LI).
Entre os assuntos do EIA/RIMA apresentado pela indústria, o consumo de água e os
procedimentos para tratamento e destino final dos resíduos são os que mais despertam
interesse da comunidade em geral, das organizações não governamentais, dos técnicos e
dos ambientalistas, especialmente em razão da necessidade de uso racional dos recursos
hídricos e de preservação das riquezas da fauna e da flora da região Amazônica.
4 CONTROLE DE RESÍDUOS
A prevenção à poluição refere-se a qualquer prática que vise a redução e/ou
eliminação, seja em volume, concentração ou toxicidade, das cargas poluentes na
própria fonte geradora. Inclui modificações nos equipamentos, processos ou
procedimentos, reformulação ou replanejamento de produtos e substituição de matériasprimas e substâncias tóxicas que resultem na melhoria da qualidade ambiental
(FIGUEIREDO et al., 2000).
Qualquer que seja a solução adotada para o lançamento dos resíduos originados no
processo produtivo ou na limpeza das instalações, é fundamental que a indústria
disponha de sistema para tratamento ou condicionamento desses materiais residuais.
Para isso é preciso que sejam respondidas algumas perguntas, como:
a) Qual o volume e composição dos resíduos gerados?
b) Esses resíduos podem ser reutilizados na própria indústria?
c) Esse material pode ser reciclado e comercializado?
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d) Quanto custa coletar, transportar e tratar esses resíduos ?
e) Existe local adequado para destino final desses resíduos ?
No caso das águas residuárias, os efluentes industriais, águas pluviais e esgotos
sanitários não devem ser coletados na mesma tubulação, pois isso dificulta e torna mais
oneroso o tratamento dos efluentes líquidos industriais, que passam a apresentar maior
variação de vazão e composição ao longo do dia. O ideal é encaminhar as águas pluviais
e os esgotos sanitários diretamente para o sistema público de drenagem e de
esgotamento sanitário, respectivamente.
Por sua vez, os resíduos líquidos devem ser tratados na própria indústria, antes do
encaminhamento para a tubulação coletora de esgoto sanitário ou para o corpo d’água,
sendo preciso quantificar a vazão e determinar a composição dessa massa líquida, a fim
de definir o tipo do sistema de tratamento.
BRAILE & CAVALCANTI (1993) sublinham a importância de determinar as
concentrações de DQO e de DBO para definir o tipo de tratamento de uma água
residuária, utilizando-se numa estimativa inicial.:
•
tratamento biológico, quando a relação DQO/DBO for menor do que 2;
•
tratamento físico-químico, quando a relação DQO/DBO for menor do que 2.
O tratamento físico-químico apresenta maiores custos, em razão da necessidade de
aquisição, transporte, armazenamento e aplicação dos produtos químicos. No entanto, é
a opção mais indicada nas indústrias que geram resíduos líquidos tóxicos, inorgânicos
ou orgânicos não biodegradáveis.
Normalmente, o tratamento biológico é menos dispendioso, baseando-se na ação
metabólica de microrganismos, especialmente bactérias, que estabilizam o material
orgânico biodegradável em reatores compactos e com ambiente controlado. No
ambiente aeróbio são utilizados equipamentos eletro-mecânicos para fornecimento de
19
oxigênio utilizado pelos microrganismos, o que não é preciso quando o tratamento
ocorre em ambiente anaeróbio.
Apesar da maior eficiência dos processos aeróbios em relação aos processos
anaeróbios, o consumo de energia elétrica, o maior número de unidades, a maior
produção de lodo e a operação mais trabalhosa justificam, cada vez mais, a utilização de
processos anaeróbios. Assim, em algumas estações de tratamento de resíduos líquidos
industriais estão sendo implantadas as seguintes combinações:
a) unidades anaeróbias seguidas por unidades aeróbias,
b) unidades anaeróbias seguidas de unidades físico-químicas
GUIMARÃES (1990) assinala que o tratamento de efluentes industrias por processo
anaeróbio surge como excelente opção para que possam compatibilizar os temas mais
prementes da atualidade: economia de energia x desenvolvimento x conservação do
meio ambiente.
HAMMER & HAMMER (1996) observam que, normalmente, indústrias
situadas na área urbana descarregam seus efluentes líquidos, após tratamento prévio, no
sistema de coleta de esgoto sanitário. De acordo com a NBR 9800/1987 é proibido o
lançamento, no sistema coletor público de esgoto de:
•
substâncias que, em razão de sua qualidade ou quantidade, são capazes de causar
incêndio ou explosão, ou serem nocivas de qualquer outra maneira na operação e
manutenção dos sistemas de esgotos como, por exemplo, gasolina, óleos,
solventes e tintas;
•
substâncias que, por si só ou por interação com outros despejos, causem prejuízo
público, riscos à vida ou prejudiquem a operação e manutenção dos sistemas de
esgotos;
20
•
substâncias tóxicas em quantidades que interfiram nos processos biológicos de
tratamento de esgotos, quando existirem, ou que causem danos ao corpo
receptor;
•
materiais que causem obstrução na rede coletora ou outra interferência na
própria operação do sistema de esgotos como, por exemplo, cinzas, areia,
metais, vidro, madeira, pano, lixo, asfalto, cera e estopa.
Em muitas indústrias não existem medidores de vazão, o que leva a Companhia
de Saneamento do Pará - COSANPA a estimar a tarifa dos efluentes líquidos industriais.
Esse é um grave problema, pois pode gerar perda de faturamento para a COSANPA ou
pagamentos indevidos por parte da indústria. Uma possível alternativa é a tarifação dos
efluentes líquidos industriais com base na carga (vazão x composição) lançada na
tubulação coletora. Nesse caso, o tratamento na própria indústria precisará ser o mais
eficiente possível, para evitar que grandes somas sejam utilizadas na quitação da tarifa
do efluente tratado.
Uma outra maneira de disposição final dos efluentes líquidos tratados na indústria é
o lançamento em corpo d’água. Para isso é preciso uma avaliação criteriosa, pois o
corpo d’água não pode receber a carga poluente / contaminante superior à sua
capacidade de autodepuração.
No DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DO PARÁ (1995) foi publicada a Lei No
5.887 que dispõe sobre a política estadual do meio ambiente, destacando-se, no artigo
2º, que os efluentes de qualquer atividade somente poderão ser lançados, direta ou
indiretamente nas águas interiores, superficiais ou subterrâneas e nos coletores de água,
desde que obedeçam padrões de emissão estabelecidos na legislação específica, federal
e estadual, sendo, geralmente, imprescindível o tratamento dos efluentes líquidos na
própria indústria.
21
No caso dos resíduos sólidos industriais, é preciso que o gerenciamento e o
manuseio sejam bem planejados para que esses materiais sejam rapidamente removidos
e destinados de forma adequada. Além disso, existe a possibilidade de reutilização e
reciclagem de parte dos resíduos sólidos antes da definição do procedimento que será
utilizado, ou seja, se os resíduos serão encapsulados, incinerados ou dispostos em
aterros industriais.
Quando o material é reciclado ou reutilizado existe economia nas atividades para
manejo e disposição dos resíduos, sendo esse tipo de atividade bem aceito pelos
consumidores e pela comunidade. Contudo, nem todos os resíduos sólidos podem ser
reciclados, exigindo que a indústria se estruture para evitar poluição / contaminação
ambiental.
Alguns resíduos perigosos precisam ser encapsulados ou incinerados, sendo essas
duas alternativas dispendiosas e trabalhosas, especialmente em razão dos perigos
durante o manuseio, da necessidade de controle dos sub-produtos da incineração e da
disponibilidade de espaço para armazenamento do material encapsulado.
Assim, os aterros industriais acabam sendo a solução mais utilizada para a
disposição final dos resíduos sólidos, sendo importante citar que necessitam de grandes
áreas e não constituem sistemas de tratamento, mas sim de locais para armazenamento.
Mais tarde, não terão mais capacidade de recebimento de novos volumes de resíduos
sólidos. Além disso, ainda hoje são verificados antigos problemas em alguns aterros
industriais, como a falta de sistema de impermeabilização das paredes laterais e do
fundo, de sistema de drenagem de líquidos percolados, de sistema de coleta de gases e
de sistema de cobertura.
A desestruturação do aterro industrial pode ocasionar significativos danos para a
imagem da indústria, problemas jurídicos, prejuízo econômico - financeiro e, até
22
mesmo, passivos ambientais, pois a percolação de líquidos decorrentes da
biodegradação ou da solubilidade do material armazenado acaba acarretando poluição /
contaminação do solo e do aqüífero livre.
SCHIANETZ (1999) observa que o problema dos passivos ambientais é uma das
características das sociedades industriais modernas, sendo o resultado de muitas décadas
de produção industrial despreocupada da eliminação dos seus produtos. Os materiais
tóxicos ou radioativos armazenados em aterros e em deposições abandonadas
apresentam grande poder contaminante no solo e riscos à saúde pública, sendo que os
passivos ambientais podem ser encarados de forma mais ampla, já que a água
(superficial e subterrânea) é um excelente meio para conduzir as substâncias
contaminantes até os seres vivos.
Por outro lado, a consolidação das leis ambientais e a participação da sociedade
aumentam a atuação e o rigor dos órgãos ambientais federal, estadual e municipal,
obrigando que as indústrias modifiquem as interações com o meio ambiente ou, então,
ampliem seu quadro jurídico para enfrentar possíveis demandas no campo do direito
ambiental. Para evitar esse tipo de situação, um expressivo número de indústrias já
implantou, ou está implantando, treinamentos e auditorias internas para adequar suas
atividades às exigências das normas internacionais das séries ISO 9.000 e ISO 14.000.
5 PROTEÇÃO DOS CORPOS D’ÁGUA
O encaminhamento de águas residuárias industriais para corpos d’água precisa ser
acompanhado de minucioso estudo e avaliação dos impactos ambientais, do
comprometimento da biota aquática e da capacidade de autodepuração do corpo
receptor. Isso resulta dos efluentes líquidos tratados, líquidos percolados em aterros
industriais e até mesmo da chamada chuva ácida, que modificam a qualidade das águas,
23
prejudicando as atividades nela desenvolvidas pelo homem ou a ocasionando danos na
fauna e na flora aquática.
Segundo VALENZUELA (1999), hoje, nossos rios e lagos são o destino final dos
efluentes industriais e do esgoto doméstico, estando seriamente contaminados com
metais pesados e esgotos, que dizimam muitos tipos de vida aquática benéfica ao
homem e também geram um ambiente propício a outras espécies aquáticas não
desejáveis. Esse autor complementa citando que os aqüíferos freáticos também vêm
sendo poluídos através de infiltração, de fossas sépticas, sumidouros ou reservatórios de
águas residuárias industriais, disso resultando contaminação de pessoas e animais que
usam água subterrânea.
O rio Pinheiros, na cidade de São Paulo – SP, é um exemplo recente dos prejuízos
advindos do lançamento de efluentes líquidos industrias e esgoto sanitário, pois a
utilização das suas águas na geração de energia elétrica depende de um grande
programa de despoluição, o que demandará tempo e vultosos investimentos. Na Tabela
1 são relacionados os principais inconvenientes ocasionados em corpos d’água pelo
lançamento indevido de efluentes industriais, esgotos sanitários e águas de irrigação.
Tabela 1 : Principais Fontes de Contaminação nos Corpos Receptores
Principais Fontes de Contaminação
Danos Causados
nos Corpos Receptores
Seres
Saúde
Irrigação e
Vivos
Humana
Indústria
Esgoto
microrganismos diretos
2
Sanitário
microrganismos indiretos
2
1
Eutrofização e processos afins
2
1
1
Efluentes
Metais pesados
1
2
1
2
1
1
Industriais Petroquímicos
Azeites, etc.
1
Papel
2
Praguicidas
1
2
Detergentes
1
Subst. radiativas
1
2
1
Calor
2
1
Sólidos
1
Atividade
Agrícola
Pesticidas
1
2
1
OBS.: Contaminação associada (1) e decorrente (2) do efluente
Fonte: Adaptado de MUÑOZ (1994)
Lazer
1
2
2
1
2
1
-
24
Em razão dos prejuízos econômicos, técnicos e ambientais, atualmente existe grande
mobilização da sociedade para cobrar das autoridades medidas eficazes para proteção da
qualidade e do uso dos corpos d’água. A participação das organizações não
governamentais (ONGs) é cada vez mais intensa, o mesmo ocorrendo com a imprensa
que constantemente publica matérias referentes a impactos ambientais e às medidas
legais que podem ser tomadas contra os responsáveis.
Para evitar que a poluição / contaminação de qualquer espécie modifique os usos
dos corpos d’água, a resolução CONAMA. No 20/1986 estabelece nove classes de
acordo com os usos preponderantes da água no Território Nacional. As classes especial,
1, 2, 3 e 4 são para as águas doces; as classes 5 e 6, para as águas salobras e, as classes 7
e 8, para as águas salinas, conforme relacionado na Tabela 4.
Tabela 2: Destinação dos Corpos D’água conforme a Resolução CONAMA No 20/1986
DESTINAÇÃO
CLASSE
E 1 2 3 4 5 6 7 8
abastecimento doméstico sem prévia ou com simples desinfecção;
x
preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas
x
abastecimento doméstico após tratamento simplificado
x
proteção das comunidades aquáticas;
x x
x
x
recreação de contato primário (natação, esqui aquático e mergulho)
x x
x
x
irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se
x
desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de
película
criação natural e/ou intensiva (aquicultura) de espécies destinadas á
x
x
x
alimentação humana.
abastecimento doméstico, após tratamento convencional;
x x
irrigação de hortaliças e plantas frutíferas;
x
criação natural e/ou intensiva (aquicultura) de espécies destinadas à
x
alimentação humana
irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;
x
dessedentação de animais.
x
navegação;
x
harmonia paisagística
x x x
x
usos menos exigentes
x
navegação comercial
x
x
recreação de contato secundário
x
x
Obs: E – classe especial
25
6 CONSUMO E REUSO DE ÁGUA NA INDÚSTRIA
Na maioria das indústrias é preciso diminuir a carga poluente / contaminante (vazão
x concentração) lançada nos corpos d’água para atender as recomendações do
CONAMA No 20. Para isso, uma das medidas é a redução da vazão do efluente líquido,
o que pode ser conseguido alterando o consumo de água, eliminando as perdas e
desperdícios e implementando medidas para o reuso da água.
AZEVEDO NETO et al. (1998) comentam que o uso industrial da água pode ser
dividido em 4 (quatro) grandes categorias, que são: água utilizada como matéria-prima,
água usada no processo industrial, água empregada para resfriamento e água necessária
para as instalações sanitárias, refeitórios etc.
O consumo de água é variável com o tipo de indústria, as técnicas, processos e
equipamentos utilizados nas etapas de processamento, os sistemas de tratamento e com
as recirculações e reaproveitamentos internos. Na Tabela 3 são apresentadas
informações sobre o consumo de água em alguns setores industriais.
Tabela 3 : Faixa de Consumo de Água em Indústria
Indústria
Consumo de Água / Produção
Cervejarias
Refrigerante
Laticínios
Minerações
Ferro
Carvão
Curtumes
Usinas de Açúcar
Destilarias Álcool
Galvanoplastia
Refinaria
Matadouros
Frigoríficos
Têxteis
Farmacêutica
Antibióticos
e
Fonte / Ano
5 – 20 m3 / m3 cerveja
2 – 5 m3 / m3 refrigerante
2 – 10 m3 / m3 leite - queijo ou
manteiga
16 m3 / m3 minério lavado
2 – 10 m3 / ton carvão
20 – 40 m3 / Ton. Pele
5 m3 / 1000 pares sapato
0,5 – 10 m3 / Ton. açúcar
± 60 m3 / Ton. álcool
NUNES (2001)
VON SPERLING (1995)
NUNES (2001)
0,1 – 0,2 m3 / Ton. petróleo bruto
± 2,5 m3 / cabeça bovino
± 1,2 m3 / cabeça suíno
25 – 50 litros / cabeça ave
20 – 60 m3 / Ton. produto
1,7 m3 / 1 m3 solução nutritiva
MUÑOZ (1997)
BRAILE &
CAVALCANTE (1993)
VON SPERLING (1995)
VON SPERLING (1995)
NUNES (2001)
VON SPERLING (1995)
NUNES (2001)
NUNES (2001)
NUNES (2001)
MUÑOZ (1997)
26
Jabones
Frutas e Conservas
Plástico
Papel
± 15 m3 / 1 Ton. jabón
MUÑOZ (1997)
4 - 14 m3 / 1 Ton. conserva
± 100 m3 / 1 Ton. produto
125 - 2000 m3 / 1 Ton. papel
MUÑOZ (1997)
MUÑOZ (1997)
MUÑOZ (1997)
A água utilizada na indústria pode ser proveniente de manancial superficial ou
subterrâneo, sendo tratada ou condicionada de acordo com as exigências de cada setor
ou linha de produção da indústria. Normalmente, as indústrias localizadas em áreas
urbanas de municípios paraenses utilizam água fornecida pela COSANPA. Quando isso
não ocorre, é construído o sistema próprio de abastecimento de água na própria
indústria, que, na maioria das vezes, utiliza água subterrânea em razão dos menores
custos de captação, adução, elevação e tratamento.
Vale observar que o sistema de abastecimento de água da indústria utiliza conjuntos
moto-bomba (equipamento eletro-mecânico) em praticamente todas as unidades, sendo
importante determinar o volume necessário e as características requeridas para a água
utilizada no processo industrial, já que essa é uma das primeiras medidas para reduzir os
custos com energia elétrica, produtos químicos e mão-de-obra, bem como, para evitar
desperdícios e perdas (vazamentos) de água.
Independente do tipo de fornecimento, é preciso incentivar a utilização racional da
água na unidade de processamento, pois a redução no consumo de água resulta em
menor geração de efluentes líquidos industriais, sendo essa uma das formas de reduzir
os custos operacionais e minimizar ou eliminar a poluição / contaminação ambiental
LAVRADOR FILHO (1989) cita que o reuso planejado da água não tem sido,
historicamente, utilizado no Brasil, apesar da escassez de água em algumas regiões,
quer por razões de clima – como é o caso do semi-árido nordestino – quer pelo aumento
excessivo da demanda frente a oferta – a exemplo da Região Metropolitana de São
Paulo.
27
De acordo com HESPANHOL (2000), os custos elevados da água industrial,
associados às demandas crescentes, têm levado as indústrias a avaliar as possibilidades
internas de reuso e a considerar ofertas das companhias de saneamento para a compra de
efluentes tratados (água de utilidade). O autor comenta que em algumas áreas da região
metropolitana de São Paulo o custo da água e da água de utilidades estão em torno de
R$ 8,00/m3 e R$ 2,00/m3 , respectivamente.
O tratamento de efluentes líquidos para reuso na própria indústria pode reduzir o
consumo de água em torres de resfriamento, caldeiras, lavagem de instalações e outras
coisas. MOURA (2000) salienta que, em uma indústria farmacêutica, a água usada para
lavagem dos frascos novos (antes da embalagem de remédios) pode ser aproveitada
depois para a lavagem de pisos, descargas de sanitários, irrigação do gramado e assim
por diante.
Além das vantagens internas, o reuso de água também é uma forma de reduzir sua
captação de mananciais e diminuir o volume de efluentes líquidos destinado ao meio
ambiente. Representa, assim, um instrumento excelente de promoção da imagem da
empresa junto à comunidade e consumidores de atendimento da legislação ambiental e
uso racional das nascentes, bem como de adaptação da indústria para as mudanças na
gestão dos recurso hídricos decorrentes da recém-criada Agência Nacional de Águas
(ANA), que pretende, entre outros objetivos, controlar a poluição/ contaminação dos
corpos d’água no território brasileiro.
28
7 CONCLUSÃO
A geração e controle de resíduos em empreendimentos industriais desperta
grande interesse de técnicos, ambientalistas e da sociedade em geral, pois é diretamente
relacionada com a segurança e proteção do meio ambiente. Esse tema adquire maior
destaque e atenção no Estado do Pará, em razão das riquezas da floresta amazônica e da
potencialidade dos recursos hídricos, reconhecidos e debatidos no mundo todo.
Por esse motivo, a expansão do setor industrial paraense precisa ser
acompanhada de medidas que garantam qualidade e segurança aos corpos d’água da
região, a ser conseguido com a elaboração de estudos e a implementação de medidas
que evitem qualquer tipo de poluição / contaminação no meio ambiente.
Por outro lado, a atual crise de energia elétrica no Brasil exige medidas e
procedimentos que reduzam o consumo e os custos das atividades industriais. Assim, a
reciclagem dos resíduos sólidos e o reuso de água aparecem como procedimentos
promissores para redução dos custos operacionais (energia elétrica, matéria-prima e
mão-de-obra), tendo ainda a vantagem de diminuir os volumes de resíduos industriais
que precisam ser dispostos no meio ambiente.
Para tanto, é preciso que sejam implementadas ações para quantificar e caracterizar
os resíduos industriais, de modo a definir os sistemas de tratamento ou condicionamento
mais adequados. Com isso, o setor industrial terá segurança de que a destinação final
dos resíduos não ocasionará problemas de poluição / contaminação ambiental, estará
cumprindo a legislação específica vigente, atenderá a expectativa da sociedade e evitará
futuros transtornos com passíveis ambientais.
Entre as diversas atividades para a estruturação e implementação de sistemas de
controle de resíduos estão o treinamento de funcionários, a realização de auditorias
29
ambientais e a implantação de programas e procedimentos para obtenção dos
certificados ISO 9.000 e ISO 14.000.
Assim, é importante que as indústrias paraenses se estruturem para atender aos
anseios sociais e às exigências ambientais do novo milênio, o que não depende de uma
simples decisão de diretores, mas sim, da conscientização coletiva de funcionários,
fornecedores, clientes, acionistas e usuários, pois somente aliando avanço tecnológico
com segurança ambiental é que o setor industrial poderá colaborar com o tão esperado e
propalado desenvolvimento sustentável do Estado do Pará.
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31
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