O SR. MARCONDES GADELHA (PTB-PB. Pronuncia o seguinte discurso:) Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados é ver para crer! Neste mês de março, a área de saúde do município de Sousa, Paraíba, realizou o primeiro transplante de córneas de sua história. Com isso, a minha cidade se tornou o terceiro município paraibano a efetuar cirurgia dessa natureza e ingressou em um seleto grupo de cinco municípios do interior nordestino que disponibilizam tal procedimento às suas comunidades. Se o fato soa inusitado para aqueles que desconhecem a excelência da medicina que se tem praticado em Sousa nos últimos anos, ganha contornos quase épicos quando se apresentam as estatísticas da área. No primeiro semestre de 2004 foram realizados, apenas, 3222 transplantes de córnea em todo o Brasil e 25 mil pessoas ainda perseveram na fila, esperando por uma doação. Em meio a esse quadro, a situação da Paraíba é ainda mais séria em virtude de se tratar de um dos poucos estados brasileiros a não contar com um Banco de Olhos, fazendo com que todas as córneas doadas e captadas sejam encaminhadas para Recife, onde são preparadas, conservadas e posteriormente devolvidas para distribuição, conforme ranking de lista única de receptores. Ciente de tal quadro, o Governo Federal anunciou que pretende investir cerca de 400 milhões de dólares, especialmente na estruturação de centros interioranos e de estados periféricos no que tange a esse tema. Essa relevante decisão do Ministério da Saúde, Senhor Presidente, somente reforça o caráter revolucionário da cirurgia realizada em Sousa. E como toda revolução, a odisséia do transplante no sertão paraibano começa com um sonho visionário, no caso o do Dr. Patrício Sarmento. Mesmo sem contar com uma Central de Notificação e Captação de Órgãos e lhes tendo sido negada a opção de proceder as cirurgias no Hospital Regional, a equipe do doutor Patrício contraiu empréstimo bancário e adquiriu um microscópio cirúrgico, um aparelho de facoemulsificação, um aparelho de autoclave, punch, pinças especiais, trépanos e um consultório oftalmológico; todos disponibilizados à Policlínica Municipal para auxiliar no atendimento público e gratuito. Esse estágio prévio possibilitou que, em setembro de 2004, por intermédio do conselho da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a equipe médica e o Hospital Santa Terezinha enviassem documentação ao Sistema Nacional de Transplantes solicitando o credenciamento daquela casa de saúde. A aquiescência do SNT se deu em janeiro deste ano e, em menos de três meses, a cidade de Sousa concluiu, sem intercorrências, o primeiro transplante de córnea do Brasil em uma cidade com população inferior a 200 mil habitantes. E fez-se a luz! Não apenas para o primeiro paciente beneficiado, no dia 23 passado, mas para todo e qualquer sertanejo. Em primeiro lugar, porque este evento vai ajudar a desmistificar a idéia de um sertão fadado à obsolescência e à dependência de outras regiões do país, especialmente no que diz respeito a procedimentos médicos de alta complexidade. Outro aspecto relevante concerne à sinergia decorrente da união entre o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada. A concertação de esforços entre os stakeholders é a maior tendência da Administração Pública contemporânea, uma vez que o modelo do Estado onipresente se mostrou ineficaz no mundo inteiro, e o transplante de córneas realizado em Sousa é apenas mais umas das inúmeras evidências disso. Por fim, este auspicioso momento serve para chamar a atenção para os benefícios da descentralização das políticas públicas e a conseqüente redistribuição dos recursos entre os vários entes federativos. Senhor Presidente, senhoras e senhores deputados, não é necessário forçar a vista para enxergar a revolução em curso na medicina de Sousa. Por isso, quero parabenizar a direção do Hospital Santa Terezinha, nas pessoas do Dr. João Bosco Filho e da Dra. Maria Nogueira, a equipe do Dr. Patrício Sarmento e a Secretária Municipal de Saúde, Dra. Aline Gadelha, por erigirem um marco de ousadia em meio a uma planície de céticos. Mas para que esses abnegados possam estender os benefícios de suas ações a outras pessoas é necessário investir ainda mais no setor. Para começar, é importante que seja autorizado, o mais rapidamente possível, o início das obras de construção do Centro da Visão Regional. Concomitantemente, devem ser liberados os recursos, da ordem de R$30.000,00 (trinta mil reais) para a aquisição de um topógrafo de córneas; aparelho indispensável ao acompanhamento dos pacientes transplantados. Por fim, esperase que o Ministério da Saúde, na pessoa do sempre diligente e sensível Ministro Humberto Costa, autorize a ampliação das cotas de cirurgias oftalmológicas destinadas à região polarizada por Sousa. Tenho certeza, senhor presidente, que se disponibilizarmos os recursos instrumentais e financeiros para a ampliação desses e de outros serviços médicos, o nosso capital humano estará apto a criar um centro de excelência no setor. Porque o transplante de córneas de Sousa é apenas uma metáfora da tenacidade do paraibano. Nós estamos, e estaremos sempre, prontos a dar nossa contribuição ao desenvolvimento nacional. Mesmo que muitos ainda fechem os olhos para isto. MARCONDES GADELHA