ENTREVISTA – MARISA DOS SANTOS ARAÚJO Euclides Oliveira Uruaçu Otimista com a previsão de que o Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) deverá ser instalado em Uruaçu neste ano pelo governo federal, a prefeita Marisa dos Santos Araújo (PMDB) falou ao Diário do Norte na manhã da sexta-feira (4), quando enumerou esta e outras conquistas de seu mandato em 2007, ano em que completou sete anos à frente do Poder Executivo. Marisa elogiou a iniciativa do governo estadual em fazer a tão propalada reforma administrativa para a contenção de gastos públicos, mas criticou a demora do governador Alcides Rodrigues (PP) em implementar as medidas propostas pelo secretário da Fazenda, Jorcelino Braga. A prefeita cobrou investimentos do Estado em diversas áreas do município; e também abordou o polêmico corte de energia parcial nas vias públicas de Uruaçu, por parte da Celg, que ainda não firmou acordo financeiro com o município para solucionar o problema. Questionada sobre a sucessão em Uruaçu, uma vez que não poderá disputar a reeleição, a prefeita citou quatro possíveis nomes e praticamente descartou o vice-prefeito, Élio Cunha (PMDB), do rol de postulantes à sua cadeira. Ela também criticou, de forma indireta, o vereador Lourenço Pereira Filho. Principal opositor de Marisa no município, Lourencinho deverá ser candidato a prefeito neste ano, com apoio de Cidinho. “Tem um candidato que fala que vai ajudar Uruaçu, sempre criticando tudo o que nossa administração faz, dizendo que vai fazer enquanto prefeito, se for eleito. Mas se é tão ligado ao governo, se é tão amigo do governador, porque não faz algo agora?”, esbravejou a prefeita. A inauguração do Memorial Serra da Mesa, em parceria com a Universidade Católica de Goiás (UCG); e a reeleição de Íris Rezende ao cargo de prefeito de Goiânia também deverão ser sacramentadas neste ano eleitoral, de acordo com Marisa. Ela esquivou-se de falar sobre as próprias pretensões políticas para 2010, uma vez que seu nome é cotado para uma vaga na Assembléia Legislativa. Diário do Norte – Em 2007, a senhora completou sete anos como prefeita de Uruaçu, em dois mandatos seguidos no cargo. Que balanço é possível fazer de sua gestão no ano que passou? Marisa dos Santos Araújo – Foi um ano de muito trabalho, de muita perseverança e de muita determinação. Mas temos conseguido fazer o dinheiro render, fazendo muito com pouco. Tivemos várias conquistas em 2007. Andando em Uruaçu, você percebe a enorme quantidade de construções, de reformas. Os empresários estão acreditando, ampliando suas lojas, dando mais empregos. Tudo isso é fruto de uma parceria entre a prefeitura, o empresariado, a associação comercial, as entidades de classe, que tem acreditado no município. Temos enfrentado problemas, mas mais empregos foram gerados, pois as empresas vieram. Uruaçu, hoje, possui mais infra-estrutura, com mais rede de esgoto, com mais asfalto, com mais rede pluvial, com os parques, com as reformas de creches, de escolas, além do projeto do memorial (Serra da Mesa), que estamos encaminhado. Fizemos o SIM (Serviço Imediato Municipal, no antigo Fórum), com escola de informática e vários outros projetos sociais, como o Jovem Cidadão Aprendiz. Posso dizer que Uruaçu é uma cidade de um povo simples, humilde, trabalhador e hospitaleiro e nós temos nos unido para buscar essa qualidade de vida. DN – Quais são as previsões da senhora para este ano? Marisa - Para este ano, teremos a instalação do Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica), que não é uma conquista apenas de Uruaçu, mas de toda a região Norte. Vamos desocupar o prédio da prefeitura até fevereiro ou março, no máximo, para que o governo federal comece de imediato a reforma desse local, onde serão instalados os cursos técnicos e superiores, nas áreas de Engenharia Civil e da Computação, possivelmente. Talvez, neste ano, ainda seja feito o concurso federal para a contratação dos professores e a realização do vestibular. O Cefet vai provocar uma verdadeira transformação na vida das pessoas que desejam fazer um curso superior de qualidade. Queremos fazer mais asfalto, na Vila Lopes, no Setor Casego e nos bairros São Jorge e São José, entre outros. E também estamos buscando mais recursos para asfalto e rede pluvial no Setor Primavera, na Vila Xique-Xique e Nossa Senhora da Abadia. O Sebrae, junto com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) vai dar continuidade ao projeto que já iniciamos em Uruaçu, com o cultivo de tilápias em tanques-rede; e que agora terá seqüência em Niquelândia, Minaçu e em Colinas do Sul. Uruaçu está melhor, mas vários desafios irão aparecer. Teremos a Ferrovia Norte Sul na região e também um porto seco. DN - Tudo indica que a senhora não preparou um candidato forte para tentar sucedê-la no cargo nas próximas eleições. Como está sendo encaminhada essa questão? Marisa - Essa escolha é o povo que faz. O que temos feito é trabalhar. Do nosso partido, certamente, nós teremos candidatos, como haverá candidatos em outros partidos. Temos o doutor Vercilei, que é um homem trabalhador, da área da Saúde, que a comunidade de Uruaçu já conhece; temos também a presidente da Associação Comercial de Uruaçu, a Solange (Bertulino), que é uma mulher batalhadora e que vem fazendo um trabalho que é exemplo para toda a região; o pastor Wilson (Guedes, reverendo da Igreja do Evangelho Quadrangular), que faz um trabalho junto aos evangélicos e que é uma pessoa séria, também; e o Luiz (de uma conhecida loja de colchões), que é um trabalhador, de uma família que tem gerado emprego em nossa cidade e na região. Agora, tudo depende do partido (PMDB) se reunir e ver quem possui melhores condições para ‘abraçar’ essa campanha com garra e com vontade. O que a prefeita não tem feito é adiantar essa questão da campanha. Temos ainda muito trabalho a fazer e estou ainda administrando a cidade. DN – O vice-prefeito Élio Cunha é carta fora do baralho nessa disputa? Marisa - Ele não tem demonstrado uma vontade de continuar, de sair candidato. Ele poderá, inclusive, estar coordenando essa campanha. Trata-se de uma pessoa séria, de homem responsável e empreendedor, que gera empregos em nossa cidade, através das empresas de sua família. Mas é bom nome, que foi bem lembrado por você. DN – Como a senhora recebe as criticas da oposição ao seu governo? Marisa - Tem um candidato aí, um rapaz (o vereador Lourenço Pereira Filho, o Lourencinho) que é ligado ao governo e fala que vai ajudar Uruaçu, sempre criticando tudo o que a administração faz, dizendo que vai fazer enquanto prefeito, se for eleito. Mas se é tão ligado ao governo, se é tão amigo do governador (Alcides Rodrigues), porque não faz agora? Não é preciso estar prefeito para demonstrar que gosta do município e para trazer aquilo que é preciso para o desenvolvimento de Uruaçu e da região. Hoje, tudo o que temos em Uruaçu foi conseguido através de recursos federais. O próprio Hospital Regional sairá do papel com recursos federais, através de emendas dos deputados ao Orçamento da União. E tudo o que for bom para o município, nos assinamos em baixo. DN - Quais partidos poderão estar no palanque do PMDB uruaçuense nas próximas eleições? Marisa – Eu ainda não estou sabendo se há alguma conversa adiantada dentro da presidência do partido; ou se algum desses nomes que eu citei está trabalhando de alguma forma. Não tomei a frente de fazer a busca dessas alianças. Lógico que temos conversado com vários partidos, com o pessoal do DEM, do PT. Temos conversado sim com vários partidos e estamos abertos para alianças. Isso é natural. DN – Como está o relacionamento da senhora com o governo do Estado? Marisa - Todo prefeito, independentemente de partido, precisa do apoio do governo do Estado, que tem mais recursos. É obrigação do governo fazer as parcerias, mas temos tido dificuldades em fazê-las, seja na Saúde ou na Educação, por exemplo. Parece-me que o Estado vive um momento de crise. Gastaram muito, falaram muito, elegeram o governador e agora eles não têm o dinheiro para administrar. Acho que ‘esse governador’ tomou a iniciativa correta de fazer a reforma administrativa, mas se falou em reforma, reforma, reforma e a tal reforma ainda não aconteceu. E tem que ser feita, senão o governador não vai conseguir realizar nada. Em Uruaçu, venceram os contratos dos médicos legistas e ainda não houve a renovação. Se houver um acidente na cidade ou na BR-153, em que haja a necessidade de autópsia, não há médico para fazer isso. Na Agência Rural, os técnicos estão perdendo seus cargos, quando seria necessário que eles permanecessem no município. A parceria com o Centro de Atendimento Integrado à Saúde (CAIS 24 horas) precisa realmente ser efetivada, para que venham os recursos. Até hoje, em Uruaçu, o PSF está sendo mantido com recursos federais e do município. A gente sempre ouve falar que isso ocorre por conta de dificuldades financeiras, mas o Estado não estava tão bom na época do outro governador? (Marconi Perillo, atual senador). Foi feita uma propaganda institucional sobre isso, na época da campanha política. Então, o que foi que aconteceu? Foi feita uma propaganda e a eleição foi ganha por uma pessoa do mesmo grupo, que dizia que as ruas estavam com pedrinhas de brilhantes. Cadê o recurso, já que falaram que estava tudo uma beleza? Tenho visto o secretário da Fazenda (Jorcelino Braga) dizer que está até difícil fazer a ‘máquina’ funciona. Já li entrevistas do próprio governador dizendo que o Estado é “paquidérmico”, que a máquina está pesada. Tudo depende dessa reforma, que ainda não aconteceu, para que o governo possa deslanchar. Precisamos do término das obras da área de embarque e de desembarque do nosso Aeroporto de Uruaçu. Existe um trecho que precisa ser asfaltado, já mostramos isso ao governador. Temos problemas na expansão de rede de energia elétrica e de água. Então, são coisas básicas. Há muito tempo, eu venho pedindo a instalação do Corpo de Bombeiros em Uruaçu, pois estamos às margens da BR-153 e da BR-080. Precisamos que o governo venha com essa mão forte, com essa parceria forte. Mas nós estamos aguardando. DN – No que diz respeito às dívidas do município com a Celg, há alguma possibilidade de acordo com a concessionária de energia, para que a iluminação pública seja restabelecida em todos os postes das ruas de Uruaçu? Marisa – Existe, na Justiça, uma ação de cobrança por parte da Celg em que a Justiça disse que a Prefeitura de Uruaçu deve R$ 17 milhões. Depois, esse valor caiu para R$ 12 milhões. Depois, a Justiça já disse que a prefeitura deve apenas R$ 5 milhões para a Celg, que nem recorreu nesse processo. Estamos também cobrando, da Celg, uma dívida de ICMS, de R$ 17 milhões, em um processo; e de quase R$ 3 milhões, em outra ação. Então, a Celg nos deve cerca de R$ 20 milhões, em ICMS. Tentamos fazer esse ajustamento administrativo antes de partir para a Justiça, mas não conseguimos. Agora que fomos à Justiça, a Celg têm demonstrado interesse em resolver o problema dessa dívida, que é de 1991, 1992 e 1993 (ou seja, de gestões anteriores). Vamos esgotar toda a conversa que for possível. Ou então, vamos deixar a Justiça definir isso. DN – Já que estamos falando de cifras, a senhora crê que o fim da CPMF pode comprometer a construção do hospital regional do Norte Goiano? Marisa - Eu me preocupo com isso, sim. A CPMF também era utilizada para as questões da Saúde. Acompanhamos as discussões no Senado para que esses recursos fossem destinados apenas para essa finalidade, mas os senadores que trabalhavam para isso foram votos vencidos. Se esse recurso, que era dividido por todo o Brasil, for diminuído, certamente haverá cortes. Mas aonde? Creio que, em termos de custeio, não haverá cortes. Certamente, poderá haver cortes em reforma, implementações, investimentos. Então, isso nos preocupa, é claro. DN – O prefeito de Porangatu, José Osvaldo da Silva, que é o atual presidente da Associação dos Municípios do Norte (Amunorte), não conseguiu levar o Hospital Regional para a cidade que ele administra, mesmo sendo aliado do governo estadual. A senhora se sente mais articulada do que ele, observando a questão por esse prisma? Marisa – Com sinceridade, não vejo assim. A questão do hospital precisava ser tratada tecnicamente. Acho que o prefeito José Osvaldo, assim como todos os outros prefeitos da região Norte, entenderam que Uruaçu é uma cidade-pólo. Essa foi uma grande vitória nossa, mas houve um entendimento do presidente da Amunorte e dos outros prefeitos, que demonstraram amadurecimento político. O paciente não quer andar para trás do caminho para a capital, onde há mais recursos médicos, se ele estiver em Niquelândia, Uruaçu, Santa Rita do Novo Destino ou Mara Rosa, por exemplo. Temos tudo para dar um salto de qualidade na área da Saúde na região. DN – Nos acompanhamos, em junho de 2006, o lançamento da pedra fundamental das obras do Memorial Serra da Mesa, em parceria da Prefeitura com a UCG. Um ano e meio depois, em qual estágio encontra-se a referida construção? Marisa – Essa obra está bem adiantada. Vamos terminar o Memorial e inaugurá-lo ainda em 2008. Estamos fazendo reuniões com representantes de várias cidades, como Goianésia, Santa Rita do Novo Destino, São Luiz do Norte, Uruaçu, Campinorte, Amaralina, Nova Iguaçu, Mara Rosa, Campinaçu e Minaçu, no sentido das apresentações regionais que faremos naquele local, que está sendo idealizado para discutir a cultura e o meio-ambiente da região. Essa inauguração vai envolver todos os municípios, suas riquezas culturas e tudo o que há de bom, para que possamos estar mostrando. Na última semana de dezembro, através da Fundação Serra da Mesa, recebemos uma doação de R$ 100 mil da mineradora Anglo American, de Niquelândia, que será aplicado na continuidade das obras do Museu de História Natural. Também conseguimos recursos com emendas de deputados e senadores, no Congresso Nacional. DN - Íris Rezende tem chances de se reeleger prefeito de Goiânia nas próximas eleições? Marisa - Tem tudo para dar certo. É só você andar pelos bairros de Goiânia e ver as ruas asfaltadas, a cidade com vários parques. A comunidade goianiense está satisfeita com o prefeito Íris. Isso o credencia a ser novamente candidato e, se possível, a ser eleito. A eleição não está ganha e, por isso, ele deve continuar trabalhando. Mas, se trabalhou até agora, deve estar com tranqüilidade, até porque o povo de Goiânia lhe credencia para isso. DN – E também credencia o prefeito de Goiânia para a eleição de governador em 2010? Marisa – Acho que é uma outra história, um outro processo. Não é a hora ainda para se discutir isso. Lógico que todos nós trabalhamos para que o nosso partido, o PMDB, ocupe novamente o poder no Estado de Goiás. Não o poder pelo poder, mas o poder pelo trabalho. Goiás possui um grande trabalho feito pelo PMDB. Basta você andar pelos municípios para verificar quais as obras que o PMDB têm e quais as obras feitas pelo partido que está na situação. O PMDB tem compromisso com os desafios de um mundo globalizado, de hoje. O PMDB fez e poderá fazer ainda mais. Mas agora o prefeito deverá colocar o nome dele novamente para ser eleito prefeito da cidade de Goiânia. DN – Nessa mesma ocasião, daqui a dois anos, a senhora poderá lançar-se como candidata a uma vaga de deputada estadual, na Assembléia Legislativa? Marisa – Estou trabalhando para terminar nossos projetos e inaugurar as obras que iniciamos. Tudo o que diz respeito ao futuro só Deus sabe. Vamos aguardar os próximos acontecimentos. No coração, a gente não deixa de ser política, de gostar de política, de fazer política. Principalmente nós, mulheres (risos), até mesmo em casa, com os filhos, com o marido ou com o companheiro. Mesmo não estando mais prefeita, vou continuar lutando para que tenhamos um Goiás melhor para se viver.