Categoria 3 – Comunicação sobre projetos em andamento Panicum repens no Pantanal: ocorrência nas unidades de paisagem e prováveis impactos Sandra Aparecida Santos1; Arnaud Desbiez2; Laura Aparecida Carvalho3; Sandra Mara Araújo Crispim1; José Aníbal Comastri Filho1; Arnildo Pott4; Márcia Divina de Oliveira1 1 Pesquisadores da Embrapa Pantanal, Corumbá, MS, e-mail:[email protected]; 2 Pós Graduando da Universidade de Kent; 3 Pós Graduando da FMVZ/UNESP, Botucatu, SP; 4 Pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Campo Grande, MS. A planície pantaneira apresenta uma diversidade de unidades de paisagem, dispostas em mosaico, com funções múltiplas e complexas. Estas paisagens abrigam diferentes espécies da flora e fauna. A composição botânica das unidades de paisagem varia de acordo com as condições ambientais, especialmente, em função da precipitação, que causa maior ou menor alagamento dos campos. As unidades de paisagem localizadas nas cotas mais baixas do mesorelevo apresentam dominância de espécies herbáceas, especialmente gramíneas e ciperáceas, que constituem a base alimentar dos grandes herbívoros silvestres da região. No entanto, estas áreas são propícias para a criação de bovinos, espécies introduzidas na região há cerca de dois séculos, e que ainda hoje são a base econômica do Pantanal. Provavelmente, os bovinos e outros animais domésticos exóticos introduzidos no Pantanal afetaram a dinâmica, a disponibilidade e distribuição da vegetação, formando um novo conjunto de forças que podem ou não atuar para um novo equilíbrio. A pecuária de corte mantida em harmonia com os animais silvestres da região pantaneira durante longo período pode estar ameaçada, pois a necessidade crescente de aumentar os índices produtivos, tem favorecido a intensificação do sistema. Nos últimos 30 anos, os fazendeiros locais fizeram diversas tentativas para introdução de espécies de gramíneas exóticas, com a finalidade de aumentar a oferta alimentar, em épocas críticas de seca e/ou cheia, especialmente, para algumas categorias animais que requerem pastagens de melhor qualidade. Nesta busca pode-se citar algumas das espécies utilizadas: Panicum maximum cvs. Centenário e colonião, Cynodon nlemfuensis (grama estrela), Paspalum notatum (grama forquilha), Panicum repens (grama castela), Paspalum oteroi (grama tio-pedro), Digitaria decumbens (pangola), Pennisetum purpureum (elefante), Saccharum officinarum (cana-de-açúcar), Cynodon dactylon (catete), Hyparrhenia rufa (jaraguá), Paspalum plicatulum (pasto negro), Andropogon gayanus, e mais recentemente as braquiárias, Brachiaria decumbens, B. humidicola e B brizantha (Crispim e Branco, 2002). No entanto, muitas das espécies exóticas introduzidas no passado ainda apresentam vestígios, dentre as quais, destaca-se a grama-castela (Panicum repens) que é uma espécie perene, tropical (com via fotossintética C4), rizomatosa, podendo formar densas colônias. Esta gramínea é encontrada em diversas zonas subtropicais e tropicais do mundo. Nos Estados Unidos, é considerada invasora e quando estabelecida é difícil a sua erradicação (Newman, 2005). Nos Projetos “MONITORAMENTO DA SUSTENTABILIDADE DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE DO PANTANAl” , financiado pela Embrapa e Prodetab e “AVALIAÇÃO DOS TIPOS DE PASTAGENS NATIVAS DO PANTANAL E INDICADORES DA CAPACIDADE DE SUPORTE”, financiado pelo Centro de Pesquisa do Pantanal (CPAP), uma das principais metas é efetuar o levantamento e caracterização dos tipos de pastagens existentes em algumas sub-regiões do Pantanal. Neste levantamento, fazendas representativas de cada sub-região, estão sendo percorridas de carro, visando avaliar e identificar os tipos de pastagem predominantes. Em diversas fazendas da sub-região da Nhecolândia, observou-se que a grama-castela já domina muitas unidades de paisagem localizadas nas partes mais baixas do mesorelevo, como campo limpo, vazantes e bordas de lagoas. Este fato se deve principalmente ao seu hábito extremamente agressivo e também por ser altamente consumida pelos bovinos, era comum no passado, a semeadura dessa espécie nos campos com maior grau de hidromorfismo, visando sua disseminação (comunicação pessoal de peão pantaneiro). Também, muitos fazendeiros das sub-regiões da Nhecolândia e dos Paiaguás plantaram esta espécie em rampas de poços de draga e em áreas de borda de baías. Com relação aos prováveis impactos, notou-se que a espécie domina algumas forrageiras nativas de melhor qualidade, tais como as gramíneas temperadas (via fotossintética C3): grama-docarandazal (Panicum laxum), capim-de-capivara (Hymenachene amplexicaulis), Luziola subintegra, entre outras. Segundo Newman (2005), não é recomendável misturar as sementes de espécies tropicais (C4) com sementes de espécies temperadas (C3) nos locais onde ocorrem espécies C3, pois as espécies C4 são mais agressivas. Silva et al (2005) em um estudo preliminar sobre o desempenho da grama-castela em áreas de vazantes da sub-região da Nhecolândia, Pantanal, observaram que esta espécie apresenta produtividade de matéria seca relativamente alta. Estudos estão tendo continuidade, visando não somente avaliar a composição florística da vazante, como também a comparação da produtividade e qualidade da grama-castela em relação às gramíneas nativas. Embora a grama-castela seja bem consumida pelos bovinos, sua qualidade geralmente é inferior à maioria das gramíneas nativas temperadas existentes nestes ambientes (Santos, 2001). Além do mais, é necessário verificar o real impacto desta espécie forrageira sobre as diferentes unidades de paisagem do Pantanal, não somente sobre a comunidade vegetal, e sim sobre o ecossistema. Referências CRISPIM, S.M.A.; BRANCO, O.D. Aspectos gerais das braquiárias e suas características na sub-região da Nhecolândia, Pantanal. Corumbá: Embrapa Pantanal, 2002. 26p. (Embrapa Pantanal. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, 20). NEWMAN, S.D. Torpedo grass Panicum repens L. Acesso em 12 agosto 2005. Disponível em http://plant-materials.nrcs.usda.gov. SANTOS, S.A., CRISPIM, S.M.; COMASTRI FILHO, J.A.; POTT, A. Substituição de pastagem nativa de baixo valor nutritivo por espécies de melhor qualidade no Pantanal. In: Circular Técnica, Embrapa Pantanal, 2005 (no prelo). SANTOS, S.A. Caracterização dos recursos forrageiros nativos da sub-região da Nhecolândia, Pantanal, Mato Grosso do Sul, Brasil. Botucatu, SP, 190p. Tese. (Doutorado em Nutrição e Produção Animal), Universidade Estadual Paulista, 2001. SILVA, L.A.; SANTOS, S.A.; COSTA, C. Desempenho produtivo de Panicum repens em Áreas de Vazantes do Pantanal. In: ,VII Congresso Internacional de Zootecnia, Campos Grande, MS, Anais.. 4p., 2005.