FIGURAS E VOZES – BALLET STAGIUM Por: Rosa Hercoles Coleta de dados: Fernanda Perniciotti Uma Companhia com a trajetória e importância histórica como a do Ballet Stagium, de partida, merece repeito e admiração. E, talvez, seu maior mérito resida na convicção que caracteriza suas proposições coreográficas, garantindo que esta Cia realize com grande competência aquilo que se propõe a fazer. A História da Dança no Brasil, sobretudo no que se refere à sua difusão, sempre será tributária aos feitos dos fundadores desta Cia. Da parceria artística entre Marika Gidali e Décio Otero resulta a fundação do Ballet Estagium, em 1971. Em plena ditadura militar surge uma Companhia, sem vínculo institucional, engajada e comprometida com questões sociais, entendendo que lhes cabia um posicionamento político frente à realidade, mas que este, se daria por meio da dança. Esta associação entre estética e política resultou em ações artísticas e educativas durante as turnês da Cia, praticamente, em todo território brasileiro. Em termos de educação tratava-se de levar, para todas as localidades por onde a Cia passava, ensinamentos de dança conectados às necessidades das pessoas que ali residiam. Isto, obviamente, abria outras perspectivas de existência para aquelas pessoas e este é o caráter político desta ação. Este contato direto com outras realidades, consequentemente, provocou mudanças nas escolhas estéticas da Cia que não mais via sentido em limitar suas criações aos preceitos do Balé Clássico. Algo teria que ser transformado para que questões relativas ao multiculturalismo, que caracterizam a realidade do Brasil, fossem contempladas em suas composições coreográficas. Frente a isto, os formatos sofreram alterações e adaptações para que as peças pudessem ser apresentadas em: escolas, favelas, cinemas, praças, igrejas, hospitais, estações, chão batido, entre outros. O investimento em questões educacionais atravessaram décadas formando ou inspirando incontáveis profissionais da dança, alguns atuantes até os dias de hoje. Em Figuras e Vozes, o coreógrafo Décio Otero se propõe a estabelecer um cruzamento entre a Dança e o Dadaísmo (movimento artístico vanguardista, surgido em 1916), investigando suas implicações na contemporaneidade. E através deste cruzamento, coerentemente com a trajetória da Cia, busca promover uma reflexão crítica sobre a realidade que todos vivenciamos nos dias de hoje, marcada pela velocidade, pelo consumo e por comportamentos institucionalizados. Breve Trajetória dos Diretores da Cia Marika Gidali nasceu em Budapeste - Hungria. No Brasil iniciou seus estudos de dança com o professor Serge Murchatovsky, na escola de Carmem Brandão (SP). Atua como intérprete em várias companhias: Ballet do IV Centenário (1954), Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (1956), Ballet do Teatro Cultura Artística – SP (1957). Em 1961, funda sua primeira escola de ballet e, em 1969, é cofundadora do Ballet Afirmação com Ismael Guiser e Ady Addor. Em 1971, juntamente com Décio Otero, assume a programação didática da TV Cultura, com a participação dos coreógrafos: Renée Gumiel, Marilena Ansaldi, Ruth Rachou, Gerry Maretzky, Ismael Guiser, Clarisse Abujamra. No mesmo ano, funda o Ballet Stagium, ao lado de Décio Otero. Em 1994-95, realiza o Projeto Escola Stagium levando mais de 80.000 crianças e adolescentes das escolas periféricas aos espetáculos. Em 1999, coordena atividades de dança nas unidades da antiga FEBEM, atual Fundação Casa, pela Secretaria da Cultura de São Paulo. Em 2000, funda o Projeto Joaninha que utiliza a dança como um meio de se promover a integração social, atualmente com 110 crianças estudantes do ensino fundamental das escolas periféricas da capital. Décio Otero nasceu na cidade de Ubá - Zona da Mata em Minas Gerais. Inicia seus estudos de dança com Carlos Leite e, em 1951, ingressa no Ballet de Minas Gerais. Em 1956, passa a atuar junto ao Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 1960, ganha todos os prêmios da crítica do Rio de Janeiro por sua atuação na montagem de Yara, com coreografia do dinamarquês: Harald Lander. Sua carreira internacional é marcada por sua participação nas companhias: Grand Theatre de Geneve, dirigido por Serge Golovine (1964); Ópera de Colônia (Alemanha), dirigida pelo coreógrafo americano Todd Bolender (1966); e, na Ópera de Frankfurt como primeiro bailarino (1967). Em 1971, realiza a programação didática na TV Cultura, com Marika Gidali; e juntos, fundam o Ballet Stagium. Em 2000, Decio e Marika ganham o prêmio sócio-educador concedido pela ILANUD e a UNICEF pelo trabalho realizado junto aos jovens infratores de todo o país. Autor dos livros: Stagium, as paixões da dança e Marika Gidali – singular e plural. Durante sua carreira concebeu mais de 100 coreografias. Ficha Técnica: Direção Geral: Marika Gidali e Décio Otero. Ideia e Coreografia: Décio Otéro. Direção Teatral: Marika Gidali. Grupo de Pesquisa: Marika Gidali, Décio Otero, Ademar Dornelles, Marcos Vinicius e Fabio Villardi. Elenco: Ariadne Okuyama, Camila Lacerda, Edilson Ferreira, Eduardo Mascheti, Eugenio Gidali, Fabio Villardi, Gabriel Cardoso, Gabriel Donizete, Glaucio Malheiro, John Santos, Márcia Freire, Monica Gross, Paula Perillo, Raony Iaconis, Renata Medeiros, Roberta Silva e Théo Yamo. Roteiro Musical: Décio Otéro. Desenho de Luz: Edgard Duprat. Edição Trilha Sonora: Aharon Gidali e Décio Otero. Direção de Arte e Figurino: Marcio Tadeu. Assistência de Figurinos: Sebastiana Maria dos Santos. Grafite Arte: Augusto (Ueny). Poemas: Hugo Ball e Ludwig Kassar. Voz e Ilustrações: Marcio Tadeu. Fotógrafo: Arnaldo G. J. Torres. Professores: Décio Otero e Áurea Ferreira. Produção: Marika Gidali. Secretários: José Luiz Santos Oliveira e Yolanda Gidali.