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RESINAS CONDENSÁVEIS: RELATO DE UM CASO
CLÍNICO
Benedita Lúcia Barbosa Quintela *
Jeidson Antônio Morais Marques**
Jenila Pinto Costa**
Lucínia Rita de SouzaOurives**
Silvânnia Suely Caribé de Araújo **
Yafa Hadhija Aras de Macedo**
A evolução dos materiais restauradores, na busca de uma resina que
estabelecesse a função do elemento dentário, adequada resistência à
abrasão, biocompatibilidade, reprodução da cor natural dos dentes,
começa com o surgimento das primeiras resinas autopolimerizáveis em
1934. Em 1960, foram unidas a resina epóxica com o acrílico (Bis-GMA),
originando a resina composta, que se destacou como forma de retenção
através do condicionamento ácido. Só então, surgiram as resinas compostas
condensáveis, que possuem elevada quantidade de carga, altamente compactáveis,
apresentam baixo desgaste, alta resistência à compressão e tração diametral,
radiopaca, não aderente aos instrumentos de manipulação. Essas propriedades
serão enfatizadas com o relato de um caso clínico.
PALAVRAS-CHAVE: Cosmética em Odontologia; Odontologia Estética;
Resinas Condensáveis.
INTRODUÇÃO
A grande preocupação na Odontologia era encontrar um
material restaurador que restabelecesse a função do elemento
dentário, tivesse adequada resistência à abrasão, biocompatibilidade,
reprodução da cor natural dos dentes. As primeiras resinas
* Prof. da Disciplina Clínica Odontológica I. DSAU (UEFS).
** Cirurgiões-dentistas.
Universidade Estadual de Feira de Santana – Dep. de
Saúde. Tel./Fax (75) 3224-8089 - BR 116 – KM 03, Campus - Feira
de Santana/BA – CEP 44031-460. E-mail: [email protected]
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autopolimerizáveis surgiram na Alemanha, em 1934, durante a
II Guerra Mundial. Entretanto precisavam de estabilidade de
cor, apresentavam grau elevado de contração de polimerização
e alto coeficiente de expansão térmica.
Com o tempo, as resinas evoluíram, e em 1960, foram
unidas as resinas epóxica e acrílica (Bis-GMA) originando a
resina composta. A mais importante contribuição das resinas
compostas foi a forma de retenção através do condicionamento
ácido do esmalte.
O comportamento das resinas autopolimerizáveis em dentes
posteriores tem sido estudado durante anos, de tal forma que
foram observados desgastes significativos que foram atribuídos
a uma série de defeitos. O tipo de preparo cavitário, o uso
combinado de Ionômero de vidro, as cunhas reflexivas e as
matrizes transparentes foram sugestões para melhorar o comportamento
de restaurações de resinas, em dentes posteriores. Apesar de
algumas modificações que se fazem necessárias, hoje já podem
ser utilizadas as resinas para dentes posteriores graças ao seu
comportamento em termos de resistência ao desgaste que,
comparativamente ao amálgama, pode ser considerado satisfatório.
Porém, a necessidade de um material estético perfeitamente
adaptável às funções dos dentes posteriores era evidente. Por
mais que as resinas compostas fotopolimerizáveis fossem pesquisadas,
ainda não substituíram o amálgama, por seu tempo de inserção
e acabamento maiores não podendo ser condensadas na cavidade
além de baixa resistência ao desgaste (FRANCO et al., 2002).
Inicialmente, surgiu o Polymeric Rigid Inorganic Matrix
Material (PRIMM) pela fusão de fibras de vidro a altas temperaturas
e pressão, que resultavam em uma rede de fibras contínuas
cujos espaços internos eram preenchidos com uma resina de
baixa viscosidade UDMA ou Bis-GMA. Depois de estudos sobre
o PRIMM, observou-se que pelo menos seus resultados clínicos
eram falhos, principalmente quanto ao desgaste.
As resinas compostas compatíveis são resinas modificadas,
advindas de um processo evolutivo dos materiais restauradores
estéticos para dentes posteriores, principalmente, em busca da
substituição do amálgama. As resinas compactáveis possuem
elevada quantidade de carga (mais de 80% em peso) em
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relação às resinas convencionais, são altamente acomodáveis,
possuem alta profundidade de polimerização (até 5 mm).
A contração de polimerização das resinas compactáveis é
menor que 2%, essas resinas possuem baixo desgaste (3,5 µm/
ano), alta resistência à compressão e à tração diametral,
grande rigidez e apresentam-se radiopacas nas análises radiográficas.
As resinas compactáveis possuem elevado módulo de flexão e,
devido à sua consistência firme, facilitam a reconstrução dos
contatos interproximais, a anatomia e o contorno dos dentes
a serem restaurados. São indicadas tanto em restaurações
Classe I como em Classe II.
Com relação à manipulação, as resinas compactáveis não
são adesivas ao instrumento, facilitam, portanto, a inserção na
cavidade, sendo desnecessário o uso de espátulas recobertas
com revestimento especial. Essas resinas podem ser colocadas
no preparo cavitário com um aplicador.
É provável maior sensibilidade pós-operatória com o crescente
número de restaurações estéticas, e são vários os motivos que
desencadeiam essa sensibilidade: como o estresse causado
pela contração de polimerização, um dos fatores mais fortes e
mais discutidos.
Segundo Porto Neto e Machado (1999), as resinas condensáveis
têm a tendência de serem mais secas, devido à grande quantidade
de carga inorgânica, e não molharem a superfície como as
resinas mais viscosas, aumentando o potencial de sensibilidade
pós-operatória.
A condensabilidade proporciona o contato proximal e boa
escultura anatômica de face oclusal, contudo dificulta a adaptação
do material na cavidade provocando infiltração marginal. Para
prevenir essa infiltração e adaptar melhor a resina, deve-se
utilizar uma resina fluida antes do uso da resina condensável,
uma vez que a resina fluida funciona como amortecedor.
No mercado, encontram-se disponíveis as marcas Alert,
Solitaire, Surefil, Definite de Degussa, Prodigy Condensable.
Em relação ao tipo de partículas inorgâncias, tem-se fibras
(Alert), partículas que permitem que a resina seja condensada.
Um lançamento mais recente foi a P-60 da 3M, uma evolução
da resina composta Z100, na qual o TEG-DMA da porção
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orgânica foi substituído por uma mistura e Bis-EMA. As formas
de apresentação podem ser: casulos, unidoses ou seringas.
Reis e Panzeri (2001) desenvolveram uma pesquisa com
o objetivo de avaliar as propriedades mecânicas da resina
composta condensável P-60 da 3M, submetida a dois diferentes
métodos de condensação: manual e mecânico. As propriedades
avaliadas foram: a resistência à compressão e a dureza superficial,
através do ensaio com corpos-de-prova obtidos por meio de
matrizes de acrílico que proporcionavam as dimensões adequadas
para cada ensaio. Após a obtenção dos resultados, esses
foram submetidos à análise estatística, com o objetivo de fazer-se uma análise comparativa entre os métodos de condensação
utilizados. A análise estatística mostrou que não houve diferença
estatisticamente significante entre os grupos para o ensaio de
resistência à compressão, mas houve diferença estatisticamente
significante entre os grupos, com relação à dureza superficial.
Os resultados sugerem que a condensação mecânica pode
otimizar as propriedades mecânicas das resinas compostas
condensáveis.
RELATO DE UM CASO CLÍNICO
Paciente S. B. O., 20 anos, sexo feminino, procurou a
Clínica Odontológica da UEFS visando restaurar a unidade 47,
pois a restauração anterior (incrustação metálica fundida ou
restauração metálica fundida) havia sido fraturada. Foi sugerida
uma resina condensável, P60 da 3M, para restaurar a unidade
citada, já que o preparo era bastante conservador. Como o
resultado foi bastante satisfatório, a paciente, que possuía
uma boa higiene oral e baixo risco à cárie, solicitou a substituição
de todas as restaurações de amálgama por restaurações estéticas.
O material de escolha foi o mesmo utilizado na restauração da
unidade 47 (a resina para dentes posteriores fotopolimerizável
P60 da 3M, cor A3). Inicialmente, procedeu-se uma profilaxia
com pedra pomes e água e, em seguida, anestesia alveolar
inferior esquerda e papilar para realização do isolamento absoluto
e remoção das restaurações. As restaurações do hemiarco
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inferior esquerdo foram as primeiras a serem removidas (unidades
34,35 36 e 37). Foi utilizada uma broca diamantada tronco-cônica para remoção das restaurações de amálgama, seguindose profilaxia com pedra pomes e água.
A unidade 36 necessitou de forramento, utilizou-se o cimento
de ionômero de vidro fotopolimerizável Vitremer da 3M. Logo
após, foi realizado o condicionamento ácido por 15”, seguido
de lavagem e secagem não excessiva, uma vez que iríamos
usar adesão úmida.
Aplicou-se, posteriormente, o Primer e Bond 21 da Dentsply,
o qual foi fotopolimerizado por 20”. Em seguida, a resina foi
inserida na cavidade com auxílio de espátula de inserção e
condensador de titânio.
As cavidades foram preenchidas em pequenas camadas
usando-se técnica incremental de 3 mm de resina e fotopolimerização
por 40”, com a parte ativa do aparelho fotopolimerizador distanciada
da superfície da resina nos 10” iniciais para promover relaxamento
das partículas e mais aproximado nos 30” restantes.
Após a polimerização final, realizou-se o acabamento na
face oclusal com a boca da série dourada pontiaguda nas
unidades 36 e 37, pontas Enhance e pasta para polimento
Fotogloss em todas as unidades referidas. Em seguida, procedeu-se fazendo o outro hemi-arco, finalizando o arco inferior.
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
As resinas compostas condensáveis têm surgido como
alternativa para restauração em dentes posteriores, visto que
apresentam taxa de desgaste reduzido, comparado-se às resinas
convencionais, maior resistência às forças mastigatórias, baixa
contração de polimerização e propriedade de ser condensável,
permitindo o estabelecimento do contato proximal definido.
As necessidades estéticas dos pacientes têm aumentado
consideravelmente nos últimos anos, não raro é o paciente
solicitando a troca de uma restauração metálica por uma estética
(HALISKI; SANTOS, 1999; BRANCO; LIMA, 2001; FELLIPE et
al., 2002).
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As resinas condensáveis têm uma grande capacidade de
serem adesivas à estrutura dentária, tornando o preparo cavitário
bastante conservador não necessitando de meios para sua
retenção. Essas resinas, por apresentarem grande quantidade
de carga, são mais secas ocasionando uma provável maior
sensibilidade operatória.
Devido ao tamanho das partículas, o polimento das superfícies
das restaurações com resina condensável é mais difícil. A
análise das marcas comerciais demonstra que Solitaire (primeira
resina condensável do mercado) possui taxa de conversão dos
monômeros em polímeros altos, porém, não é muito condensável,
mas apresenta bom resultado estético.
A resina Alert exige força para condensação, similar ou
maior à força de condensação do amálgama. O fabricante
dessa resina recomenda o uso de uma resina flow que funcionará
como amortecedor e também o uso de selante. A resina Surefil,
de acordo com Beatrice et al. (2000), demonstrou ser estética
e funcionalmente satisfatória, entretanto, possui pouca variação
de cores.
Como as outras resinas, as condensáveis são também
contra-indicadas para pacientes com alto risco à cárie, com
higiene oral inadequada, portadores de hábitos parafuncionais
e quando houver impossibilidade da realização do isolamento
absoluto devido à presença de umidade alterar as propriedades
da resina.
Segundo Baratieri (1996), a estética dental tem sido definida
como a arte de copiar o belo de forma a harmonizar o trabalho
com a natureza, tornando-o imperceptível. De acordo com essa
definição, as resinas compostas condensáveis cumprem sua
função estética, proporcionando aos pacientes restaurações o
mais natural possível.
Mas, embora elas apresentem resultados clínicos iniciais
animadores, há ainda necessidade de comprovações clínicas
adicionais em longo prazo. Deve-se, inclusive, considerar a
complexidade da técnica e os cuidados indispensáveis para se
construir uma restauração com longevidade e com menos quantidade
de falhas.
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RESINS CONDENSED: Report of
a clinical case
ABSTRACT — The evolution of restorative material and the search of a
resin that restores the tooth function, has adequate abrasion resistance
biocompatibility, can reproduce color of the teeth, began with appearance
of the first auto polymers resins in 1934. In 1960, the epoxy resin was
combined with the acrylic (Bis-GMA), which resulted in the production
a composite resin, that stood out through retention form by acidic conditioning.
Then, the new composite resins that were available tolerated high levels
of burden, were very condensing with low wear down, high compressive
and traction strength, radiopaque, and no adherence to the manipulating
instruments. All these properties are being emphasized with report of a
clinical case.
KEY WORDS: Cosmetic Odontology; Esthetics Odontology; Condensable
Resins.
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resinas condensáveis: relato de um caso clínico