UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO DESGASTE DE LIGAS DESENVOLVIDADAS PARA SOLDA DE REVESTIMENTO DURO PARA USO SOB CONDIÇÕES ALTAMENTE ABRASIVAS Edmilson Otoni Corrêa São Carlos 2005 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO DESGASTE DE LIGAS DESENVOLVIDAS PARA SOLDA DE REVESTIMENTO DURO PARA USO SOB CONDIÇÕES ALTAMENTE ABRASIVAS Edmilson Otoni Corrêa Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Materiais de Ciência e como requisito parcial à obtenção do título de DOUTOR EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS Orientador: Prof. Dr. Nelson Guedes de Alcântara Agência Financiadora: CNPq São Carlos (2005) Ficha Catalográfica Corrêa, Edmilson Otoni. Avaliação da resistência ao desgaste de ligas desenvolvidas para solda de revestimento duro para uso sob condições altamente abrasivas. São Carlos, UFSCar, 2005. 139 p. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de São Carlos, 2005. 1. Soldagem de revestimento duro. 2. Ligas ferrosas. 3. Desgaste abrasivo. 4. Microestrutura. I. Título DEDICATÓRIA A minha esposa Patrícia, com todo o meu amor. A minha família, em especial aos meus pais Ivone e Waldimir, pela educação e pelos ensinamentos a mim transmitidos VITAE DO CANDIDATO Mestre em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Itajubá -1997 Engenheiro mecânico pela PUC-MG/ICMG -1993 i MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA DA TESE DE DOUTORADO DE EDMILSON OTONI CORRÊA APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, EM 20 DE OUTUBRO DE 2005 BANCA EXAMINADORA: __________________________________ Prof. Dr. Nelson Guedes de Alcântara Presidente __________________________________ Prof. Dr. Claudemiro Bolfarini UFSCar __________________________________ Prof. Dr. José Ângelo Rodrigues Gregolin UFSCar. __________________________________ Prof. Dr.Alexandre Queiroz Bracarense. UFMG __________________________________ Profª. Drª Lauralice de Campos Franceschini Canale EESC/USP ii iii AGRADECIMENTOS Para que este trabalho lograsse êxito, foram necessárias a ajuda, a participação e a compreensão de várias pessoas que estiveram ao meu lado no decorrer destes quatro anos. A essas pessoas quero manifestar os meus sinceros e profundos agradecimentos, e em especial: Ao Prof. Nelson Guedes de Alcântara pela dedicada orientação e oportunidade de compartilhar dos seus conhecimentos e da sua amizade. Ao Dr. Dorival Tecco e a Welding Alloys- Inglaterra pelo fornecimento de todas as condições para a realização do projeto experimental. Ao Prof. R. Vasant Kumar (Universidade de Cambridge) pelas valiosas discussões e sugestões durante realização do trabalho e por sua amizade. Ao CNPq pelo auxílio financeiro dado para realização do estágio no exterior e pelo meu suporte financeiro no Brasil. Ao Professor H.K.D.H. Badeshia pela cessão do programa MTDATA Ao gerente técnico Richard Baker e ao engenheiro Scott Talbot da Welding Alloys pelo auxílio nos experimentos de soldagem. Ao Professor Oscar Balancim e ao técnico Rover, pela ajuda na análise de imagem e tratamentos térmicos. A professora Lauralice de Campos Franceschini Canale e ao técnico Eliezer (Tico) pela cessão dos equipamentos e auxílio nos ensaios de desgaste abrasivo Ao aluno de IC bacalhau pelo auxílio na realização da caracterização microestrutural e dos ensaios de desgaste. A todos os colegas do LABSOL (Tonhão, Fernanda, Ivan, Alberto, Jonas, Eduardo, Márcio, etc) Ao pessoal do CCDM pelos trabalhos no MEV e preparação de amostras. Ao professor Pedro Íris pela ajuda nos ensaios de difração de raios X. E, sobretudo, A DEUS, Ser Supremo, em quem sempre confiei e confio nas horas de dificuldades e de alegrias. iv v RESUMO Este trabalho contribui para o entendimento do efeito da adição de elementos formadores de carbonetos Nb e V e carbonetos complexos FeWTiC sobre a microestrutura e resistência ao desgaste de ligas de revestimento duro ferrosas depositadas por soldagem e projetadas para revestir componentes sujeitos a um desgaste abrasivo severo. O trabalho inclui a caracterização microestrutural, estudo da solidificação e testes de abrasão e compressão cíclica. O principal objetivo foi estabelecer uma relação entre a microestrutura e as propriedades de desgaste abrasivo. Resultados da caracterização microestrutural da liga ferrosa com a adição de Nb e V (liga 750) mostraram que a microestrutura consiste de carbonetos NbC distribuídos numa matriz austenitica contendo carbonetos M3C e ilhas de eutético γ/M7C3. Resultados de microanálise indicaram que o V se direcionou para os carbonetos e para a matriz. Testes de abrasão a baixa e a alta tensão e de compressão cíclica mostraram que esta microestrutura proporcionou uma resistência ao desgaste superior àquela das ligas Fe-C-Cr (HCO) convencionais e uma boa combinação entre resistência ao desgaste e tenacidade. Com relação à liga 700, com carbonetos complexos, análises microestruturais mostraram a presença de carbonetos arredondados, nos quais um núcleo contendo carbonetos TiC foi envolvido por carbonetos NbWC, bem como de carbonetos TiNbC e TiWC distribuídos aleatoriamente numa matriz eutética com dentritas de austenita primária. Mapeamento EDS das partículas arredondadas (esferolitos) mostraram que o Nb substituiu grande parte do W na composição dos carbonetos e que o W se direcionou preferencialmente para os carbonetos e para a matriz durante a solidificação. Resultados dos testes de abrasão mostraram que estes carbonetos contribuíram para uma maior resistência ao desgaste desta liga em comparação com a liga Fe-Cr-C (HCO). Apesar dos resultados de compressão cíclica sugerirem que a presença dos carbonetos reduz a tenacidade desta liga, a microestrutura da matriz sugere que esta liga tem uma tenacidade suficiente para resistir a impactos leves e a cargas cíclicas melhor do que as ligas Fe-Cr-C. vi vii WEAR RESISTANCE EVALUATION OF IRON BASED HARDFACING ALLOYS DEVELOPED FOR USE UNDER HIGHLY ABRASIVE CONDITIONS ABSTRACT This work contributes to the understanding of the effect of alloying elements forming carbides Nb and V and complex carbides FeWTiC on the microstructure and wear resistance of iron-based hardfacing alloys deposited by fusion welding process and, developed for cladding components subjected to severe abrasive wear. The project undertaken includes microstructural characterisation, solidification study and abrasion and cyclic compression testing. Its primary purpose has been to stablish the relationship between microstructure and abrasive wear properties. The microstructure of the ironbased hardfacing alloy with the addition of Nb and V (750) consists of a large volume fraction of primary niobium carbides, surrounded by a matrix composed of austenite containing M3C carbides and islands of eutectic γ/M7C3. Standard three body abrasion and cyclic compression tests showed that 750 exhibits wear rates higher than those of high carbon/high chromium hardfacing deposits with higher hardness and a good combination between wear resistance and toughness. With relation to the iron-based hardfacing alloy with complex carbides FeWTiC (700 alloy), the microstructural analysis showed the presence of rounded carbides, in which a TiC carbide core was encircled by a NbWC carbide, as well as TiNbC and TiWC carbides randomly distributed in the eutectic matrix γ/M7C3 containing primary austenite dendrites. EDS mapping of rounded carbides (spherulits) showed that niobium replaced a great part of W in the powder and W preferentially partitioned into other carbides and matrix during the solidification. Abrasion tests results showed that the complex carbides improves the wear resistance of this alloy in comparison with highchromium white iron hardfacing alloy (HCO). Despite the cyclic compression results suggest that the rounded carbides (spherulits) decrease the toughness of the alloy, the microstructure of matrix presents enough toughness to resist soft impacts and cyclic stresses better than conventional alloys Fe-Cr-C. viii ix SUMÁRIO Pag. BANCA EXAMINADORA......................................................................….............i AGRADECIMENTOS..................................................................................….....iii RESUMO………………………………………………........………………………….v ABSTRACT…………………………………………………….….....…..…………...vii SUMÁRIO............................................................................................................ix INDICE DE TABELAS………………………………………………….….….………xi INDICE DE FIGURAS…………………………………….........…………………...xiii LISTA DE SÍMBOLOS.......................................................................................xix 1 INTRODUÇÃO..................................................................................................1 1.1 Relevância do Projeto....................................................................................2 1.2 Objetivos.............................................…........................................................5 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................................7 2.1 Desgaste........................................................................................................7 2.1.1. Definição e Classificação...........................................................................7 2.1.2. Desgaste abrasivo.....................................................................................8 2.1.2.1 Mecanismos de desgaste abrasivo........................................................11 2.1.2.2 Efeito das características do abrasivo...................................................14 2.1.2.3 Ensaios de desgaste abrasivo...............................................................20 2.1.2.4 Efeito da microestrutura.........................................................................24 2.1.3 Ligas de revestimento duro ferrosas.........................................................34 2.1.3.1 Ferros fundidos alto cromo....................................................................39 2.1.3.2 Microestrutura de ligas de revestimento duro ferrosas..........................45 2.2. Processos de soldagem utilizados para revestimento duro........................48 2.2.1- Processo de soldagem arco aberto.........................................................48 3 MATERIAIS E MÉTODOS...........................................................................51 3.1 Desenvolvimento da liga..............................................................................51 3.2 Materiais.......................................................................................................52 3.2.1 Fabricação dos consumíveis...................................................................52 3.2.2 Metal base e metal de referência para ensaio de desgaste roda de borracha..................................................................................................54 x 3.3. Soldagem arame tubular arco aberto................................................................54 3.4. Caracterização microestrutural e testes de dureza....................................56 3.5. Testes de desgaste.....................................................................................57 3.5.1. Ensaio pino sobre lixa abrasiva...............................................................57 3.5.2. Ensaio roda de borracha..........................................................................58 3.6. Ensaio de compressão cíclica....................................................................58 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................61 4.1. Liga HCO....................................................................................................61 4.1.1. Solidificação da liga ................................................................................61 4.1.2. Microestrutura..........................................................................................63 4.2. Liga CNO....................................................................................................66 4.2.1. Solidificação da liga.................................................................................66 4.2.2. Microestrutura..........................................................................................68 4.3. Liga 750......................................................................................................74 4.3.1. Solidificação da liga ................................................................................74 4.3.2. Microestrutura..........................................................................................76 4.4. Liga 700......................................................................................................84 4.4.1. Solidificação da liga.................................................................................84 4.4.2. Microestrutura..........................................................................................86 4.5. Dureza das soldas de revestimento duro.................................................101 4.6. Efeito da microestrutura sobre a resistência ao desgaste abrasivo.........103 4.7. Efeito da microestrutura sobre a tenacidade............................................110 4.8. Avaliação dos mecanismos de desgaste..................................................117 5. CONCLUSÕES............................................................................................123 6. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS...........................................125 7. REFERÊNCIAS..…………...……………………………………………………127 APÊNDICE A – Simulação termodinâmica da solidificação utilizando o modelo Scheil-Gulliver/MTdata.....................................135 APÊNDICE B – TABELAS............................................................................137 xi ÍNDICE DE TABELAS Pag. Tabela 2.1 Dureza de abrasivos, fases ferrosas e carbonetos..........................16 Tabela 2.2. Classificação e composição de ligas de revestimento ferrosas......37 Tabela 3.1. Composição química do pó de carboneto usado (% em peso)......53 Tabela 3.2. Fração em peso dos elementos presentes na mistura de pó.........53 Tabela 3.3. Composição química do metal base e do material de referência D-2 Tool.................................................................................................54 Tabela 3.4. Parâmetros de soldagem para solda de revestimento...................55 Tabela 3.5. Composição química do metal de solda (balanço Fe) nas camadas superiores do revestimento duro.....................................................55 Tabela 3.6. Características do corpo de prova e cargas cíclicas aplicadas.........................................................................................59 Tabela 4.1. Resultados de análise de imagem da liga HCO.............................65 Tabela 4.2. Composição química semiquantitativa obtida para a fase A, da liga CNO................................................................................................69 Tabela 4.3. Composição química semiquantitativa obtida para a fase B, da liga CNO................................................................................................72 Tabela 4.4. Fração volumétrica das fases presentes na liga CNO....................74 Tabela 4.5. Composição química semiquantitativa obtida para a fase A da liga 750, ................................................................................................81 Tabela 4.6. Composição química semiquantitativa das fases presentes B,C e D na liga 750, .....................................................................................82 Tabela 4.7. Fração volumétrica das fases presentes na liga 750......................83 Tabela 4.8. Composição química semiquantitativa obtida para a fase A da liga 700..................................................................................................91 Tabela 4.9. Composição química semiquantitativa das fases presentes B,C,D,E,F na liga 700.....................................................................94 Tabela 4.10. Fração volumétrica das fases presentes na liga 700..................102 Tabela 4.11. Resultado do carregamento cíclico das ligas.............................115 xii xiii ÍNDICE DE FIGURAS Pág. Figura 1.1. Resistência ao desgaste relativo de algumas ligas ferrosas para revestimento duro desenvolvidas recentemente...............................3 Figura 1.2. Perfil de desgaste em um rolo e uma mesa de um moinho Loesche após 622h em operação e antes de receber revestimento duro por soldagem ..........................................................................................4 Figura 1.3. Perfil de desgaste nos componentes mostrados na figura 1.2; 2604h após revestimento duro.....................................................................5 Figura 1.4. Fluxograma ilustrando os objetivos do trabalho................................6 Figura 2.1. Sistemas onde pode ocorrer desgaste abrasivo...............................9 Figura 2.2. Representação esquemática do desgaste de 2 e 3 corpos..............9 Figura 2.3.Tipos de contatos durante o desgaste abrasivo. (a) 2-corpos, (b) 2corpos fechado, (c) 3-corpos aberto, (d) 3-corpos fechado............10 Figura 2.4. Três tipos de desgaste abrasivo. (a) baixa tensão, (b) alta tensão (c) impacto ou goivagem......................................................................12 Figura 2.5. Mecanismo básico de desgaste abrasivo........................................13 Figura 2.6. Mecanismo de lascamento ou microtrincamento............................13 Figura 2.7. Representação esquemática do processo de desgaste abrasivo de ligas ferrosas alto cromo duras.......................................................14 Figura 2.8. Efeito da relação entre a dureza do material e do abrasivo sobre o desgaste abrasivo...........................................................................15 Figura 2.9. Efeito do tamanho do abrasivo sobre a resistência ao desgaste; linhas sólidas para abrasivos SiC e linhas pontilhadas para abrasivo Al2O3 em uma carga de 1MN/m2......................................17 Figura 2.10. Representação esquemática de uma superfície desgastada que é preenchida com fragmentos de desgaste.......................................17 Figura 2.11. Abrasivos de sílica (a) angulares, (b) arredondados.....................19 Figura 2.12. Taxa de remoção de material em função do curso de um aço sobre uma lixa abrasiva SiC 220 mesh....................................................19 Figura 2.13 Representação esquemática de um britador de mandíbulas para ensaio de abrasão por goivagem....................................................21 xiv Figura 2.14. Representação esquemática de uma máquina de ensaio de abrasão a alta tensão tipo pino sobre disco...................................22 Figura 2.15. Ensaio Pino sobre disco com adição de abrasivos.......................22 Figura 2.16. Esquema simplificado do equipamento para ensaio de desgaste abrasivo à baixa tensão descrito na norma ASTM G65....................................23 Figura 2.17. Relação da dureza e resistência ao desgaste para diversos metais ...........................................................................................26 Figura 2.18. Perda de massa por abrasão a baixa tensão versus dureza para vários depósitos de revestimento duro e vários aços e ferros para comparação....................................................................................27 Figura 2.19. Perda de massa versus percentual de carbono para várias ligas de revestimento duro...........................................................................27 Figura 2.20. Diagrama idealizado da taxa de desgaste de vários materiais em função da dureza abrasiva mineral.................................................29 Figura 2.21. Dependência da resistência ao desgaste e da dureza do livre caminho médio entre os carbonetos...............................................30 Figura 2.22. Efeito da fração volumétrica na perda de volume de um ferro fundido Cr-Mo devido à abrasão com abrasivos de granada 150 mesh e de SiC 180 mesh................................................................31 Figura 2.23. Perda de massa de ferro fundido alto cromo em função da fração volumétrica de carbonetos para roda de borracha utilizando alumina como abrasivo...................................................................32 Figura 2.24. Desgaste abrasivo de aços em função da dureza do microconstituinte.............................................................................33 Figura 2.25. Rolo pulverizador de ferro fundido branco com desgaste brando nas intersecções (A) e desgaste mais intenso nas áreas do segmento (B), a espera da solda de revestimento.........................40 Figura 2.26. Projeções liquidus e seções isotermas do sistema ternário Fe-CrC......................................................................................................41 Figura 2.27a e b. Projeções Liquidus do sistema pseudo-ternário (Fe-Cr)-NbC......................................................................................................43 Figura 2.27 c. Seção isoterma do diagrama de fase Fe-Ti-C em 1500 ºC........44 xv Figura 2.28. Mapa de microestruturas e composições de ligas de revestimento duro ferrosas, incluindo Cr,Mn, Mo, Ni, Nb, V, W, Ti, Al.................47 Figura 2.29. Perda de massa versus dureza do depósito.................................47 Figura 2.30. Perda de massa versus % carbono depositado ...........................48 Figura 2.31. Representação do processo Arco Aberto......................................49 Figura 3.1. Princípio básico da fabricação de arame tubular.............................53 Figura 3.2. Linhas de emissão de raios x dos elementos presentes nas ligas..57 Figura 3.3. Ciclo de compressão utilizado.........................................................59 Figura 4.1. Simulação Scheil mostrando a solidificação da liga HCO sob condições fora do equilíbrio............................................................62 Figura 4.2. Fração em peso das fases calculadas da liga HCO após a solidificação.....................................................................................62 Figura 4.3a. Micrografia ótica da secção transversal da liga HCO mostrando carbonetos M7C3 largos (fase clara) numa matriz eutética.(fase escura)............................................................................................64 Figura 4.3b. Mesma secção anterior com aumento maior da liga HCO ...........64 Figura 4.3c. Mesma secção anterior com aumento maior. Destaca-se a presença das fases e γ e M7C3 no eutético da liga HCO................65 Figura 4.3d. Micrografia ótica mostrando a indentação de microdureza na região eutética da liga HCO............................................................66 Figura 4.4. Simulação Scheil mostrando a solidificação da liga CNO sob condições fora do equilíbrio............................................................66 Figura 4.5. Fração em peso das fases calculada para a liga CNO.após a solidificação.....................................................................................68 Figura 4.6. Micrografia ótica da superfície polida da liga CNO..........................69 Figura 4.7. Gráfico EDS obtido da fase A da liga CNO.....................................69 Figura 4.8a. Micrografia ótica da liga CNO mostrando carbonetos primários M7C3 em forma de agulhas claras e a matriz eutética.escura .......70 Figura 4.8b. Mesma secção anterior em maior aumento. Com a presença de alguns carbonetos primários M7C3 na forma hexagonal.................71 xvi Figura 4.8c. Mesma secção anterior em maior aumento. Com a presença de partículas de carboneto MC (fase A) e as agulhas de M7C3 (fase B) na matriz da liga CNO (fase M).......................................................71 Figura 4.9. Gráfico EDS obtido da fase B da Liga CNO....................................72 Figura 4.10. Micrografia via MEV da liga CNO mostrando as fases em melhor contraste.........................................................................................73 Figura 4.11. Resultado da simulação Scheil mostrando a solidificação da liga 750 sob condições fora do equilíbrio..............................................75 Figura 4.12. Fração volumétrica das fases de equilíbrio calculada da liga 750 em função da temperatura..............................................................76 Figura 4.13. Difratograma de raios x da camada superior da liga 750..............77 Figura 4.14. Micrografia ótica da superfície polida da liga 750. Note partículas distribuídas aleatoriamente na matriz.............................................78 Figura 4.15. Micrografia via MEV da superfície polida da liga 750....................78 Figura 4.16. Micrografia ótica da liga 750 após ataque. Presença de ilhas de uma fase eutética............................................................................79 Figura 4.17. Micrografia via MEV da liga 750 mostrando a presença da fase D......................................................................................................79 Figura 4.18. Micrografia via MEV da fase D em detalhe, liga 750.....................80 Figura 4.19. Gráfico EDS obtido para a fase A – liga 750.................................82 Figura 4.20. Gráfico EDS obtido da fase B – liga 750.......................................82 Figura 4.21. Gráfico EDS obtido da fase C – liga 750.......................................83 Figura 4.22. Gráfico EDS obtido da fase D – liga 750.......................................83 Figura 4.23. Resultado da simulação Scheil mostrando a solidificação da liga 700 sob condições fora do equilíbrio..............................................85 Figura 4.24. Fração volumétrica das fases de equilíbrio calculada da liga 700 em função da temperatura..............................................................86 Figura 4.25. Micrografia via MEV do pó de carboneto FeWTiC........................87 Figura 4.26. Perfil de difração de raios x do pó FeWTiC...................................87 Figura 4.27 Micrografias via MEV mostrando a microestrutura do pó FeWTiC.em diferentes aumentos...................................................88 Figura 4.28. Difratograma de raios x da camada superior da liga 700.........89 xvii Figura 4.29. Micrografia ótica da superfície polida da liga 700. presença de partículas em forma de dendritas finas e pequenos esferolitos......90 Figura 4.30. Micrografia ótica da superfície polida da liga 700. Note a presença de partículas de grandes (fase A)...................................................90 Figura 4.31a. Gráfico EDS da região central da partícula A – liga 700.............91 Figura 4.31b. Gráfico EDS da região externa da partícula A – liga 700...........91 Figura 4.32. Microscopia ótica mostrando as principais fases da liga 700 após ataque.............................................................................................92 Figura 4.33. Micrografia ótica mostrando a segregação de partículas de carbonetos (clusters).em algumas regiões da liga..........................93 Figura 4.34. Micrografia Via MEV mostrando um melhor contraste entre as fases e a presença das fases D, E e F...........................................94 Figura 4.35. Gráfico EDS da fase C - liga 700...................................................95 Figura 4.36. Gráfico EDS da fase D - liga 700...................................................95 Figura 4.37a. Gráfico EDS da fase M- liga 700.................................................96 Figura 4.37b. Gráfico EDS da fase M- liga 700.................................................96 Figura 4.38a. Micrografia mostrando uma partícula de carboneto (fase D)......96 Figura 4.38b. Mapeamento EDS do Ti..............................................................97 Figura 4.38c. Mapeamento EDS do Nb.............................................................97 Figura 4.38d. Mapeamento EDS do W..............................................................98 Figura 4.38e. Mapeamento EDS do Cr..............................................................98 Figura 4.38f. Mapeamento EDS do Fe..............................................................99 Figura 4.38g. Mapeamento EDS do C...............................................................99 Figura 4.39. Gráfico EDS da fase E – liga 700................................................101 Figura 4.40. Gráfico EDS da fase F- liga 700..................................................101 Figura 4.41 Perfil de dureza das ligas estudadas............................................103 Figura 4.42. Resultados dos testes de abrasão em roda de borracha ASTM G65...............................................................................................104 Figura 4.43. Resultados dos testes de desgaste pino sobre lixa.....................104 Figura 4.44. Gráfico de correlação entre resistência ao desgaste abrasivo com o teor de cromo e a dureza das ligas.........................................105 xviii Figura 4.45 Gráfico de correlação entre resistência ao desgaste abrasivo com a fração volumétrica de carbonetos finos e a dureza das ligas....107 Figura 4.46. Gráfico de correlação entre resistência ao desgaste abrasivo com a fração volumétrica de austenita e a dureza das ligas............................................................................................107 .Figura 4.47 Macrografia da seção transversal dasl ligas mostrando as trincas de alívio de tensão.....................................................................112 Figura 4.48. Corpos de prova de desgaste a baixa tensão mostrando as trincas de alívio de tensão.....................................................................113 Figura 4.49. Trinca de solidificação na interface matriz-carboneto da liga HCO...........................................................................................114 Figura 4.50. Superfície de desgaste da liga HCO...........................................118 Figura 4.51. Idem com maior aumento. Note a presença de microtrincas no carboneto primário.....................................................................118 Figura 4.52. Superfície de desgaste da liga CNO...........................................119 Figura 4.53. Idem com maior aumento. Pode-se notar microtrincas nos carbonetos M7C3 primários (canto inferior esquerdo) e carbonetos NbC fragmentados.....................................................................119 Figura 4.54. Superfície de desgaste da liga 750.............................................120 Figura 4.55. Idem com maior aumento. Nota-se carbonetos NbC fragmentados, sulcamento profundo da matriz com pequenas trincas nos arredores....................................................................................120 Figura 4.56. Superfície de desgaste da liga 700. Presença de pites grandes e pequenos indicando remoção de partículas...............................121 Figura 4.57. Idem a anterior com maior aumento. Estreitamento do sulco quando passa da matriz para uma região de maior concentração de partículas ..............................................................................121 xix LISTA DE SÍMBOLOS CNO liga ferro fundido alto cromo com adição de Nb. EDS energy dispersive scanning - análise química por energia dispersiva HCO liga de fero fundido branco alto cromo (Fe-Cr-C) HV Dureza vickers L líquido K Kelvin (unidade de temperatura) K/s velocidade (taxa) de resfriamento Liga 700 liga de ferro fundido branco alto cromo com carbonetos complexos FeWTiC Liga 750 liga de ferro fundido branco alto cromo com Nb e V. MC carbonetos NbC ou TiNbC MC’ carbonetos TiWC NbCx carboneto de nióbio (0,72 < x < 1) s segundos (tempo) α ferrita α ângulo de ataque do abrasivo δ ferrita delta γ austenita φ diâmetro da roda de borracha xx 1- INTRODUÇÃO Em diversos ramos industriais, o desgaste abrasivo é, na maioria das vezes, o principal responsável por danos superficiais em equipamentos. Estes danos, ainda que não catastróficos, reduzem consideravelmente a eficiência operacional de um equipamento provocando um aumento das perdas de energia, do consumo de óleo e das taxas de substituição e/ou recuperação de componentes. Para se ter uma idéia do prejuízo que o desgaste abrasivo acarreta, segundo a Agroindústria Açucareira do Estado de São Paulo, os custos anuais do setor de açúcar e álcool com reposição e manutenção de equipamentos desgastados, giram em torno de 5% da receita bruta. Um método de combate ao desgaste abrasivo e de recuperação de componentes desgastados bastante eficiente e que, geralmente, envolve custos mais baixos, é tecnicamente chamado “revestimento”. Este método consiste na deposição de uma liga especial resistente ao desgaste na superfície sujeita à deterioração. O revestimento pode ser obtido de várias formas sendo que uma das mais baratas e eficazes é pela deposição de cordões de solda na superfície do substrato, denominando-se “revestimento duro”. A deposição por soldagem a arco elétrico tem flexibilidade no que tange aos materiais a serem depositados, à posição e ao local de operação, à geometria e às dimensões dos componentes, a espessura e às propriedades do material depositado e aos tipos e o grau de sofisticação dos equipamentos que podem ser empregados na operação de revestimento [1]. Diversos processos de soldagem tais como o processo Arame Tubular e Arco submerso, podem ser usados para a produção de revestimentos, sendo o tamanho, forma e composição química do metal base, fatores importantes na sua escolha. A correta seleção do material de revestimento a ser aplicado deve basear-se na determinação precisa dos mecanismos de desgaste encontrados nas condições de serviço nas quais a peça está submetida; o que na prática se torna bastante complexo uma vez que cada um destes mecanismos pode apresentar-se conjugado com um ou vários outros simultaneamente [2]. 2 1.1- Relevância do Projeto Os moinhos verticais são os equipamentos responsáveis pela maior parte do processamento de matéria prima nas indústrias de cimento e mineração e, por isso, estão constantemente sujeitos ao desgaste abrasivo excessivo de seus componentes. Durante muitas décadas, o ferro fundido brancos convencionais foi o principal material usado para fabricar os componentes de trituração (mesa e rolos) destes moinhos. No decorrer do tempo, experiências industriais levaram a um estreitamento da seleção dos tipos de ferros fundidos brancos a serem usados e, ultimamente, há uma tendência para empregar a classe mais tenaz “I tipo D” e a classe “II tipo B” da norma ASTM A532, comumente designados respectivamente como “alto Cr” e “Ni IV Hard”, para minimizar os efeitos do impacto e/ou vibração bem como da tensão variante a que estão sujeitos estes componentes, no desgaste e fragmentação do revestimento. A maior tenacidade destas classes comparada com a de outros classes de ferros fundidos é atribuída às redes descontínuas de carbonetos M7C3 duros numa matriz austenítica ou martensítica.[3]. Infelizmente, nenhum destes materiais fundidos apresenta boa soldabilidade utilizando processos de soldagem convencionais. Após a soldagem, estes materiais apresentam uma zona afetada pelo calor (ZAC) muito dura e frágil; o que não permite a produção de uma junta metalurgicamente íntegra. Por conseguinte, quaisquer trincas incipientes poderão se propagar catastroficamente já que a tenacidade do metal base é inerentemente pobre. Apesar de não apresentarem boa soldabilidade, estes materiais podem ser revestidos por soldagem usando técnicas e materiais especializados, proporcionando melhorias na resistência ao impacto e aumento da vida útil. Estas tecnologias de revestimento duro provaram ser bem sucedidas e agora são usadas regularmente para a fabricação de novos componentes para moinhos bem como na reconstituição daqueles desgastados em serviço [3,4]. 3 Dentre as tecnologias citadas acima, a fase de desenvolvimento e fabricação de novas ligas ocupa papel de destaque. Nesse sentido, durante esta fase, uma prática comum é adicionar, nas ligas pertencentes ao sistema Fe-C-Cr, pequenas percentagens de elementos tais como o molibdênio para garantir uma matriz austenítica metaestável ou para aumentar a temperabilidade [5], além de tungstênio, vanádio, nióbio e titânio, que são fortes formadores de carbonetos e, comprovadamente, mais eficientes no aumento da resistência à abrasão [6]. Para exemplificar isto, avanços recentes no desenvolvimento de arames para solda de revestimento duro (figura 1.1), têm disponibilizado materiais para revestimento com perda de massa ASTM G65 com menos de 0,3g [7]; valores de perda de massa bem mais baixos se comparados com os equivalentes fundidos contendo somente cromo (Ex. ligas 3C/25Cr e 5C/25Cr na figura). Dados de Teste Abrasivo ASTM G65- Categoria A 1,4 0,3C/5Cr/1W Resistência ao desgaste melhorada Perda de Massa (gramas) 1,2 1 0,8 3C/25Cr 0,6 5C/25Cr 0,4 2C/7Cr/6Ti 6C/28Cr 6C/19Cr 5Mo/2W/2V 59 60 0,2 0 50 47 47 53 Dureza (HRc) Figura 1.1. Resistência ao desgaste relativo de algumas ligas ferrosas para revestimento duro desenvolvidas recentemente[7]. É geralmente aceito pelos fabricantes de moinhos que a solda de revestimento duro com estas novas ligas é capaz de reduzir a perda de volume à metade ou até menos se comparado com o que é medido com os componentes totalmente fundidos. Estes valores são confirmados em aplicações reais ao se comparar dados da figura 1.2 com os da figura 1.3. 4 Antes da aplicação do revestimento duro (figura 1.2), além da perda de massa, aparecem formas de cumes transversais nos rolos levando à uma deterioração marcante e diminuição da eficiência do moinho. A taxa de desgaste específico foi de 14,4g/ton seco, nos dois rolos. Com o revestimento duro (figura 1.3), a taxa de desgaste específico caiu para apenas 4,4g/ton seco [4]. Contudo, há poucos relatos na literatura dos efeitos e benefícios da adição destes elementos formadores de carbonetos na obtenção de microestruturas, mais resistentes ao desgaste, específicas para uma determinada condição de serviço, uma vez que as condições de desgaste (tamanho e forma do abrasivo, impacto, tensão aplicada, etc) variam consideravelmente de uma para outra aplicação. Além disso, a presença de um ou mais elementos formadores de carboneto no sistema Fe-Cr-C, produzindo um sistema com 4 ou mais elementos, torna o estudo, de formação e estabilidade de fases, mais complexo. Figura 1.2. Perfil de desgaste em um rolo e uma mesa de um moinho LOESCHE após 622h de operação e antes de receber o revestimento duro [4]. Diante do exposto, torna-se relevante, frente à elevada aplicação destas ligas na recuperação de componentes em indústrias dos setores de cimento, mineração, sucroalcooleiro, de geração de energia e de produção de aço, uma investigação dos efeitos da adição de vários elementos de liga (Nb, V, W, Ti), na forma usual de pó e na forma pouco utilizada de carbonetos complexos FeWTiC, nas modificações microestruturais das ligas desenvolvidas 5 recentemente na Welding Alloys – Inglaterra, bem como investigar os efeitos destas modificações microestruturais na resistência ao desgaste abrasivo destas ligas. Em geral, estas práticas têm normalmente conduzido à obtenção de ligas de revestimento duro mais resistentes ao desgaste abrasivo do que as ligas Fe-Cr-C mais utilizadas. Figura 1.3. Perfil de desgaste nos componentes mostrados na figura 1.2, após 2604h de operação e após receber o revestimento duro [4]. 1.2- Objetivos Com base no que foi relatado acima, o presente trabalho tem como objetivos: a) Estudar novas ligas à base de ferro desenvolvidas para solda de revestimento duro com adição de elementos de liga na forma de pós metálicos e na forma de pós de carbonetos complexos FeWTiC (reforços) componentes de moinhos verticais; para aplicação em 6 b) caracterizar mecânica e microestruturalmente estas ligas e verificar a influência da microestrutura sobre a resistência ao desgaste abrasivo a 3 corpos das mesmas, tendo como base ligas comerciais já conhecidas. O fluxograma abaixo ilustra os objetivos do projeto: Figura 1.4. Fluxograma ilustrando os objetivos do trabalho. 7 2- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1- Desgaste 2.1.1- Definição e classificações De um modo geral, “desgaste” pode ser definido como a perda progressiva de material da superfície de um corpo, provocada pelo movimento relativo desta superfície em relação a uma ou várias outras substâncias em contato ou como a perda progressiva de substâncias da superfície de um corpo sólido, causada por ação mecânica, isto é, por contato e movimento relativo de um contra-corpo sólido, líquido ou gasoso [8 -10]. É um dano ou deterioração superficial que raramente se torna catastrófico, mas, reduz consideravelmente a eficiência operacional de um equipamento. Segundo Eyre [11], o desgaste encontrado nos diversos ambientes industriais pode se classificar como: abrasivo: 50%; adesivo: 15%; erosivo: 8%; por fricção: 8% e corrosivo: 5%. No entanto, o desgaste raramente é o resultado de um único mecanismo atuando. Há situações onde um tipo muda para outro ou onde dois ou mais mecanismos operam juntos; é possível, por exemplo, os cavacos produzidos por desgaste adesivo causarem desgaste abrasivo. Devido a esta complexidade em se definir claramente os fatores envolvidos no desgaste, a solução de um problema particular requer uma precisa identificação da natureza do problema e deve-se evitar a aplicação de soluções gerais para problemas específicos. Sabe-se que a resistência às solicitações de desgaste não é propriedade intrínseca de um material, mas sim, características do sistema ou equipamento específico, ao qual o componente está ligado mecanicamente, e de cada meio operacional [12] Como visto acima, apesar dos vários tipos de desgaste, o desgaste abrasivo é o maior responsável por danos em equipamentos e será discutido com maiores detalhes a seguir. 8 2.1.2- Desgaste abrasivo O desgaste abrasivo é o tipo de desgaste de maior ocorrência e pode ser definido como o desgaste que ocorre quando partículas duras angulares ou asperidades duras penetram na superfície do metal ou substrato, em relação à qual estão em movimento e, subseqüentemente, remove metal na forma de lascas alongadas, por meio de vários mecanismos que dependem da natureza do sistema. O dano é freqüentemente descrito como ranhura, entalhe ou goivagem, dependendo de sua severidade. A figura 2.1 mostra os diversos sistemas onde mais freqüentemente pode ocorrer desgaste abrasivo. O desgaste abrasivo é tipicamente classificado de acordo com o tipo de contato e com o ambiente de contato. Tipos de contato incluem desgaste de “2-corpos” e “3-corpos”. O desgaste de 2-corpos ocorre quando um abrasivo desliza ao longo de uma superfície com pouca trituração (redução de tamanho), por exemplo, em máquinas de manuseio de minério. O desgaste de 3-corpos ocorre quando um abrasivo é aprisionado entre uma superfície e a outra. Este resulta em altas tensões quando as partículas são reduzidas de tamanho, seja deliberadamente, como em equipamentos de trituração de minério ou de forma imprevista, quando do ingresso de partículas estranhas para dentro dos mancais. A natureza destes dois tipos de desgaste é muito similar. De fato, o desgaste abrasivo de 2-corpos pode, eventualmente, transformar-se em uma combinação de 2 e 3 corpos a medida que o cavaco de desgaste é aprisionado entre as superfícies de atrito. Em geral, no desgaste a 2 corpos, as partículas são rígidas (firmes) e no desgaste a 3 corpos as mesmas são livres para rolar. Uma representação esquemática destes dois tipos de desgaste, proposta por Zum Gahr [14] é mostrada na figura 2.2. Segundo Tylczak et al [15], os sistemas de 2-corpos tipicamente experimentam de 10 a 1000 vezes mais perda do que o sistema 3-corpos para uma dada carga e comprimento da trilha de desgaste e os ambientes de contato podem ser classificados em abertos e fechados (figura 2.3). 9 Figura 2.1. Sistemas onde pode ocorrer desgaste abrasivo [13] 2-Corpos 3-Corpos Figura 2.2. Representação esquemática de desgaste a 2 e 3- corpos [14]. 10 Figura 2.3. Tipos de contatos durante o desgaste abrasivo. (a) 2-corpos abertos, (b) 2-corpos fechado, (c) 3-corpos aberto, (d) 3-corpos fechado [15]. Em vários testes diferentes, Blickensderfer et al. [16] mostraram que, para uma dada carga e comprimento de trilha de desgaste, a taxa de desgaste é aproximadamente a mesma para ambos os sistemas: aberto e fechado. No entanto, medidas de perda de massa no sistema fechado freqüentemente aparecerão mais altas do que as perdas no sistema aberto. Isto, provavelmente, ocorre devido os sistemas fechados experimentarem cargas mais altas. O desgaste abrasivo pode também ser classificado como sendo devido à “abrasão a baixa tensão”, “abrasão a alta tensão” ou “abrasão de impacto (goivagem)” [1]. A interação minério-material, por exemplo, é considerada uma aplicação de abrasão a baixa tensão quando o processo de desgaste não envolve a fratura do material abrasivo. Em outras palavras, as tensões envolvidas são geralmente baixas, não excedendo a resistência de trituramento do abrasivo. Um exemplo prático é o deslizamento de fragmentos livres de minério através de uma superfície de aço de alta resistência (figura 2.4a). A abrasão a 11 baixa tensão não é acompanhada de impacto significante. O dano é resultado da remoção de material por riscamento ou micro-usinagem. Desta forma, os abrasivos angulares com arestas vivas produzem desgastes mais severos. Para este caso, materiais com dureza mais alta são usados para minimizar a penetração e, conseqüentemente, a taxa de desgaste [1,17]. A abrasão a alta tensão ocorre quando os materiais abrasivos, ao serem forçados a passar entre duas superfícies sob tensão, são aprisionados pelas mesmas. As cargas são suficientes para causar, além da penetração da partícula nas superfícies de tensão, a fragmentação do material abrasivo. Este desgaste é comum em equipamentos como moinhos de bola, perfuradores de rochas e britadores de rochas, os quais as superfícies ficam sujeitas a altas tensões de compressão. O dano superficial é devido à combinação de riscamento e deformação plástica, comumente resultante de fadiga. Pode se tornar mais severo à medida que a fratura de fases frágeis presentes tipo carboneto e deformação mais intensa da matriz possam ocorrer na superfície (figura 2.4b). Este dano pode ser minimizado pela seleção de materiais com alta dureza e alta resistência ao escoamento. A abrasão por impacto ou goivagem envolve a remoção de material da superfície de um componente, submetido a altas tensões e impacto localizado, pela ação cortante de grandes partículas abrasivas (figura 2.4c). O corte causado pelo abrasivo produz grandes sulcos e ranhuras na superfície desgastada. Este tipo de dano é normalmente encontrado nas áreas de impacto de esteiras transportadoras, de moinhos de pulverização e de escavadeiras [1]. O material a selecionar para minimizar este desgaste deve ter boa tenacidade e, progressivamente, aumentar a dureza com o uso através do encruamento [1,17]. 2.1.2.1- Mecanismos de Desgaste Abrasivo O mecanismo básico de desgaste abrasivo proposto por Kruschov e Babichev [18] descreve dois processos agindo no momento em que o abrasivo entra em contato com a superfície. O primeiro refere-se ao deslocamento de 12 Figura 2.4. Três tipos de desgaste abrasivo. (a) Baixa tensão, (b) Alta tensão, (c) Impacto e goivagem [18] um canal entalhado para as laterais, através de deformação plástica (sulcamento). Este processo ocorre sob cargas leves e não resulta em qualquer perda de material real. O segundo processo refere-se à remoção do material da superfície na forma de pequenos cavacos (corte ou usinagem). Para partículas abrasivas pontiagudas existe um ângulo crítico (α) para o qual há uma transição de sulcamento para corte. A figura 2.5 esquematiza estes dois processos de desgaste abrasivo [13]. Os processos de sulcamento e corte ou usinagem, segundo Noble [9] e citado por Gregolin [19] ocorrem mais largamente em materiais dúcteis. Para metais mais duros (frágeis), o “lascamento ou microtrincamento” é o mecanismo dominante e ocorre quando trincas sub-superficiais laterais e verticais se interceptam. A descamação remove discretamente grandes lascas da superfície do metal. A figura 2.6 ilustra o mecanismo de lascamento. 13 Figura 2.5. Mecanismo básico de desgaste abrasivo [13] Fujimura et al. [20] propuseram um processo de desgaste abrasivo para ligas ferrosas alto cromo, duras e frágeis, o qual envolve o lascamento ou microtrincamento de carbonetos de cromo superficiais. De acordo com estes investigadores, as partículas abrasivas se chocam contra a superfície do revestimento, atuando preferencialmente sobre a matriz metálica de menor dureza, provocando o desgaste da mesma. A matriz desgastada deixa os carbonetos primários de cromo expostos na superfície tornando-os menos resistentes às tensões externas de impacto das partículas abrasivas e, com isto, levando-os a trincar. Subseqüentemente, estes carbonetos fraturam-se e são eliminados da superfície do revestimento. O processo é repetitivo e provoca o desgaste acelerado do revestimento. Este processo de desgaste abrasivo é mostrado na figura 2.7. Figura 2.6. Mecanismo de lascamento ou microtrincamento [19] 14 Figura 2.7. Representação esquemática do processo de desgaste abrasivo de ligas ferrosas alto cromo duras [20]. 2.1.2.2- Efeito das características do abrasivo Dureza do abrasivo A dureza da partícula abrasiva é importante para a taxa de abrasão do metal, ou seja, o desgaste do sistema depende da relação entre a dureza do metal (Hm) e a dureza do abrasivo (Ha) denominada “coeficiente de dureza” (figura 2.8). A resistência ao desgaste abrasivo aumenta à medida que a dureza do material desgastado se aproxima daquela do abrasivo [21]. Partículas abrasivas muito duras em relação ao material aumentam o desgaste porque são capazes de penetrar mais profundamente na superfície e remover material pela ação cortante, sem produzir quebra ou arredondamento de suas arestas vivas [11,15]. Richardson [22] sugere que a dureza da superfície resistindo ao desgaste deva ser maior do que metade da dureza do abrasivo para se ter alguma melhoria efetiva na resistência ao desgaste, isto é, Hm/Ha >0,5. Ao se aumentar o coeficiente de dureza acima de 1,3, no entanto, 15 não é prevista nenhuma melhoria adicional. Na verdade, muitas sugestões foram feitas para quantificar a razão Hm/Ha crítica. Uma conclusão geral é que a dureza do material deve ser adaptada com a do abrasivo a fim de proporcionar a ocorrência do desgaste na região de abrasão branda ou reduzida (soft abrasive region). Figura 2.8. Efeito da relação entre a dureza do material e do abrasivo sobre o desgaste abrasivo [22]. Segundo Stromberg et al [23] e Gregory [24] et al., o desgaste a baixas tensões é proporcional à dureza da superfície sujeita à solicitação, embora também dependa do tamanho e concentração de fases duras como carbonetos, fosfetos e outras. A tabela 2.1 indica os valores de dureza de abrasivos mais comuns e dos diferentes microconstituintes em aços e ferros fundidos. De acordo com a teoria acima, a hematita (minério de ferro) é capaz de cortar a perlita, mas, não a martensita. Por sua vez, a martensita pode ser cortada pela sílica (quartzo). A tabela 2.1 mostra, também, a grande vantagem dos ferros fundidos brancos alto cromo, os quais apresentam uma dureza maior do que a maioria dos minerais. 16 Tabela 2.1- Dureza de abrasivos, fases ferrosas e carbonetos Abrasivos Dureza Microconstituintes (HV) Dureza (HV) Diamante 10.000 Carboneto de titânio (TiC) 3200 SiC 2400 Carboneto de vanádio (VC) 2800 Alumina (Al2O3) 2000 Carboneto de Nióbio (NbC) 2300 Granada 1350 Carboneto de tungstenio (WC) 2250 Quartzo (SiO2) 900-1280 Carboneto de molibdênio (Mo2C) 1600 Sinter 770 Carboneto de cromo (Fe,Cr)7C3 1200-1600 Feldspato 600-750 Cementita 840-1100 Apatita 540 Martensita 500-1010 Vidro 500 Austenita, baixa liga 250-350 Minério de Fe 470 Austenita, 12% Mn 170-230 Coque 200 Perlita ligada 300-460 Calcita 140 Perlita não ligada 250-320 Cal (Cão) 110 Ferrita 70-200 Carvão 32 Tamanho do abrasivo Vários investigadores observaram para vários materiais que, em geral, o aumento no tamanho do abrasivo leva a um aumento na taxa de desgaste. A taxa de desgaste aumenta rapidamente até um tamanho crítico de partícula e a partir deste, permanece praticamente constante, conforme representado na figura 2.9 [21]. Algumas possíveis explicações foram feitas para esclarecer a menor taxa de desgaste associado com a diminuição no tamanho do abrasivo. Date et al. [25] sugere que somente uma fração pequena de carga é levada com abrasivos finos. A outra possibilidade é que fragmentos soltos evitam que alguns abrasivos entrem em contato com a superfície do material. É muito provável que a superfície desgastada seja preenchida com fragmentos como ilustrado na figura 2.10. A probabilidade para o preenchimento é maior com abrasivos finos do que com abrasivos grossos. 17 Figura 2.9- Efeito do tamanho do abrasivo sobre a resistência ao desgaste abrasivo de diversos materiais; linhas sólidas para abrasivos SiC e linhas pontilhadas para abrasivo Al2O3 em uma carga de 1MN/m2 [21]. Figura 2.10- Representação esquemática de uma superfície desgastada que é preenchida com fragmentos de desgaste [25] 18 Formato da partícula abrasiva O formato da partícula é importante porque influencia o formato do sulco produzido no material. Também, influencia a carga de contato e na transição do contato elástico para o plástico. Experimentos têm confirmado que partículas abrasivas angulares com muitas arestas cortantes (geralmente minerais mais duros) causam desgaste mais acentuado do que partículas arredondadas (geralmente minerais mais dúcteis). Quanto mais agudas forem as arestas das partículas (ângulo de ataque “α” pequeno), maior será sua ação abrasiva devido à mudança no mecanismo de desgaste de sulcamento para corte (veja figura. 2.5) [9,15]. A taxa de desgaste, utilizando abrasivos de quartzo angulares, é normalmente 2 a 5,5 vezes maior do que areia Ottawa arredondada devido ao comportamento deteriorante dos abrasivos angulares [26]. O efeito deteriorante maior dos abrasivos angulares é particularmente importante nas ligas contendo carbonetos visto que a abrasão preferencial da matriz pode levar a uma diminuição do suporte dos carbonetos. Além disso, as arestas pontiagudas dos abrasivos podem causar trincas largas nos carbonetos; o que não é observado em abrasivos arredondados. A figura 2.11 mostra partículas abrasivas de SiO2 nas formas angulares e arredondadas [13]. Além disso, a tenacidade da partícula também influenciará no desgaste. A perda de material aumenta quando a tenacidade do abrasivo aumenta uma vez que o mesmo é capaz de manter as suas arestas cortantes por mais tempo em situações envolvendo impacto. Efeito da degradação do abrasivo Durante a abrasão é comum o abrasivo se degradar. Isto é ilustrado na figura 2.12 que mostra a massa removida em função do número de giros de um aço sobre uma lixa abrasiva 220 mesh de SiC [27]. A lixa rapidamente perde eficiência e após 1600 giros, não é mais efetiva no desgaste. Experimentos feitos por Kosel et al [28], para verificar o efeito da degradação do abrasivo sobre a resistência ao desgaste, mostraram que a perda da eficiência depende 19 Figura 2.11- Abrasivos de sílica. (a) angulares, (b) arredondados [13] do abrasivo e também do material. Por exemplo, quando ligas sinterizadas à base de cobalto foram testadas pela segunda vez com abrasivos SiO2, foi observada uma perda de 50% na eficiência do abrasivo. No entanto, o efeito da degradação dos abrasivos Al2O3 na mesma liga foi praticamente nulo. Por outro lado, resultados inversos foram observados quando um aço 1020 foi usado como material de teste. Figura 2.12. Taxa de remoção de material em função do curso de um aço sobre uma lixa abrasiva SiC 220 mesh [27]. 20 Velocidade de contato A taxa de desgaste abrasivo aumenta levemente com o aumento da velocidade na faixa de 0 a 2,5 m/s. Este aumento no desgaste pode ser atribuído ao aquecimento da superfície provocado pelo atrito das partículas abrasivas; o que provoca um aumento da plasticidade na área atritada da superfície [15]. Carga O desgaste abrasivo normalmente aumenta linearmente com a carga. No entanto, esta linearidade é interrompida quando a carga é suficientemente alta para fraturar as partículas abrasivas. Se as forças de compressão entre o abrasivo e a superfície fraturam as partículas abrasivas e criam novos pontos de arestas vivas, o desgaste pode aumentar. Se os pontos da partícula abrasiva ficam arredondados, o desgaste diminuirá [15]. 2.1.2.3- Ensaios de desgaste abrasivo Existe uma grande dificuldade em comparar resultados de desgaste obtidos por diversos investigadores devido à variação dos métodos de ensaio e ao baixo controle de certos aspectos do ensaio. Considerando-se especificamente o desgaste abrasivo, a complexidade do fenômeno ainda não permitiu a determinação de um ensaio universal e, freqüentemente, os testes são feitos sob medida para refletir as condições únicas que uma determinada liga encontrará em serviço. Para simular as três formas de desgaste abrasivo (baixa tensão; alta tensão e goivagem), foram desenvolvidos três equipamentos diferentes. Isto é porque uma solicitação de resistência ao desgaste à baixa tensão pode não se aplicar, por exemplo, a uma situação de alta tensão. 21 Ensaio de abrasão por goivagem É a forma de desgaste abrasivo mais difícil de se avaliar devido as diversas variáveis envolvidas e, por esta razão, existem mais máquinas para avaliar a resistência a abrasão por goivagem do que para as outras duas formas de desgaste. O equipamento mais utilizado para simular este tipo de abrasão é o britador de mandíbulas, como mostrado na figura 2.13. A padronização deste ensaio é feita usando uma das mandíbulas como padrão e a perda de massa da mandíbula de teste é, então, comparada com àquela da mandíbula padrão. O abrasivo é introduzido entre as mandíbulas e as perdas de massa monitoradas, dando uma relação de desgaste por goivagem [9]. Figura 2.13- Representação esquemática de um britador de mandíbulas para ensaios de abrasão por goivagem [9]. Ensaio de abrasão a alta tensão O ensaio de pino sobre disco é o mais extensivamente usado para testes de abrasão a alta tensão [9]. Um pino feito da liga a ser ensaiada é friccionado contra uma roda abrasiva (figura 2.14). A carga aplicada ao pino determina o grau de abrasão a altas tensões. Abrasivos livres podem ser adicionados ao sistema (ou podem ser gerados durante o ensaio), os quais 22 desenvolvem abrasão a três corpos (figura 2.15). Novamente, materiais de referência são usados para desenvolver uma relação de abrasão a alta tensão. Figura 2.14. Representação esquemática de uma máquina de ensaio de abrasão a alta tensão tipo pino sobre disco [9]. Figura 2.15. Ensaio pino sobre disco com adição de abrasivos livres [29]. Ensaio de abrasão a baixa tensão O teste de abrasão com roda de borracha (figura 2.16) é o teste mais largamente usado para classificar materiais que estão sujeitos a abrasão à baixa tensão em serviço como, por exemplo, ferramentas para agricultura, esteiras transportadoras e funis em usinas de processamento de minério, mesas e rolos de moinhos e equipamentos de construção [9]. Há uma boa 23 correlação entre os resultados destes testes e experiências de campo. Este teste tem seu procedimento estabelecido pela norma ASTM G6500 e consiste em riscar um corpo de prova retangular com areia de tamanho de grão e composição controlados. O abrasivo é introduzido entre o corpo de prova e a roda de borracha de dureza especificada, provocando riscamento. A borracha cede de tal forma que o abrasivo não é fragmentado e com isso, as condições para baixa tensão são mantidas. Neste ensaio, o corpo de prova é pressionado, por meio de um braço de alavanca com um peso especificado, contra a roda de borracha rotativa, enquanto um fluxo controlado de areia esmerilha a superfície. Os corpos de prova são pesados antes e depois do ensaio e a perda de massa é determinada. Para possibilitar a comparação entre os vários metais, é necessário converter a perda de massa para perda de volume em milímetros cúbicos, devido à grande diferença nas densidades dos materiais [30]. Uma variação deste teste é o teste de roda de borracha com areia úmida no qual é introduzida uma pasta fluida (lama) contendo abrasivos para esmerilhar o corpo de prova [30]. Figura 2.16. Esquema simplificado do equipamento para ensaio de desgaste abrasivo à baixa tensão descrito na norma ASTM G65 [31]. 24 À medida que a roda de borracha vai sendo usada ocorre uma redução do seu diâmetro e a quantidade de abrasão por riscamento, desenvolvida numa dada prática, será menor. Devido a isto, a perda de volume produzida por esta roda será levemente reduzida e valor da perda deve ser corrigido [30]. Assim sendo, deve-se calcular a perda de volume corrigida pela seguinte equação: Perdade Volume = corrigido perda de volumex 228.6mm(φ inicial da roda) φ da roda após uso(mm) (2.1) 2.1.2.4- Efeito da microestrutura Efeito da dureza Está bem estabelecido que há um efeito significativo de partículas de segunda fase, tais como precipitados, carbonetos e constituintes microestruturais macios (ex: austenita retida) sobre a resistência ao desgaste abrasivo. A influencia de partículas sobre a resistência ao desgaste depende de sua dureza. Partículas de 2ª fase macias, coerentes com a matriz, são cortadas pelas discordâncias não sendo pontos de ancoragem eficientes e, conseqüentemente, há apenas um ligeiro aumento na resistência ao desgaste como conseqüência da presença destas partículas, especialmente sob condições de desgaste abrasivo severo. Diversos autores confirmaram que não há uma proporcionalidade simples entre desgaste abrasivo e dureza inicial. Na verdade, é a dureza da superfície desgastada um fator importante na determinação da resistência ao desgaste [32-33]. Kruschov [34], ao determinar a resistência ao desgaste de diversos materiais puros usando um teste tipo “pino sobre disco”, identificou uma relação direta entre a taxa de abrasão e a dureza intrínseca (figura 2.17). Aços tratados termicamente também mostraram este comportamento. No entanto, o coeficiente de proporcionalidade variou com o teor de carbono e de ligas do aço. Kruschov não explicou a mudança nos valores do coeficiente de proporcionalidade de aço para aço ou a observação associada que dois aços de mesma dureza testados sob condições idênticas deram resistências ao 25 desgaste diferentes. A figura 2.17 mostra que o teor de carbono maior bem como a presença de elementos de liga nos aços ferramenta tem um efeito na resistência à abrasão e isto pode originar-se das variações na fração volumétrica de carbonetos, na dureza dos micro-constituintes ou no espaçamento perlítico, por exemplo. Kruschov [34], também relatou a aparente independência da resistência ao desgaste do grau de deformação de vários materiais. A figura 2.17 mostra que, no caso do aço com 0,4%C e do cobre, a resistência ao desgaste permanece praticamente constante com o aumento da dureza por trabalho a frio. Este comportamento indica que, durante o desgaste, há um alto grau de deformação e endurecimento superficial, sugerindo que há uma melhor correlação entre a resistência ao desgaste e a máxima dureza atingível da superfície deformada a frio do material [2,34]. Pôde-se notar também que diferentes técnicas de endurecimento, para uma mesma dureza, resultaram em diferentes resistências ao desgaste abrasivo; sendo a adição de elementos de liga e tratamentos térmicos mais efetivos do que o encruamento. Deve-se, no entanto, ter cuidado ao tentar aplicar estas correlações. As tendências notadas por Kruschov [34], eram evidentes quando se usavam testes de desgaste tipo “pino sobre disco”; considerados de alta tensão. Quando testes de baixa tensão foram realizados, algumas das relações observadas por Kruschov não foram aplicáveis. Por exemplo, Mutton [35] realizou vários testes de baixa tensão para vários aços e depósitos de revestimento duro e a correlação observada entre dureza e perda de massa pode ser vista na figura 2.18. Pôde-se notar uma tendência, mas, vários pontos se situaram fora da banda de dispersão. Mutton [35], então, fez a correlação entre a percentagem de carbono das ligas e a perda de massa e verificou uma relação mais direta (figura.2.19). Está claro, com isto, que a resistência ao desgaste abrasivo não está relacionada somente com a dureza do material e considerá-la de forma isolada na avaliação do desgaste abrasivo pode levar a um desempenho ruim de uma liga, se num ambiente errado. Isto não quer dizer que a dureza não seja importante, mas, que existe outros fatores do material que influenciam no 26 desgaste. Além disso, muitos trabalhos relacionando dureza do metal com resistência ao desgaste abrasivo incluíram testes de dureza sobre a superfície não-desgastada em vez da superfície desgastada. A dureza da superfície nãodesgastada pode ser relevante somente nos estágios iniciais do teste de desgaste visto que a superfície alvo pode ser modificada grandemente após este período; fenômeno este em conformidade com Cookson [32] e Eyre [33], que também observaram que a dureza da superfície desgastada é mais importante e correlaciona bem com a resistência ao desgaste abrasivo. Figura 2.17. Relação da dureza e resistência ao desgaste para diversos metais [34]. Efeito dos constituintes microestruturais Entre os constituintes microestruturais, os carbonetos duros desempenham um papel fundamental na melhoria da resistência ao desgaste. A dureza dos carbonetos depende geralmente de sua estrutura cristalina, dos elementos de liga e suas concentrações e das direções do cristal [36,37] 27 Figura 2.18. Perda de massa por abrasão a baixa tensão versus dureza para vários depósitos de revestimento duro e aços e ferros para comparação [35]. Figura 2.19- Perda de massa versus percentual de carbono para várias ligas de revestimento duro [35]. 28 Embora seja aceito que a resistência ao desgaste aumente com a dureza das partículas de carboneto, estudos experimentais mostraram que a resistência ao desgaste se relaciona melhor com a diferença entre a dureza do material e a do abrasivo, mencionada anteriormente. Como pode ser visto na figura 2.20, a taxa de desgaste dos materiais aumenta significativamente quando a dureza do abrasivo é aproximadamente 1,5 vezes maior do que a do material. Em geral, se os abrasivos são mais moles do que os carbonetos, pode não haver microtrincamento destes carbonetos, resultando numa boa resistência ao desgaste. Por outro lado, se os abrasivos são mais duros do que os carbonetos, pode ocorrer o microtrincamento destes carbonetos e, subseqüentemente, o seu lascamento e remoção da matriz, produzindo uma menor resistência ao desgaste. O tamanho do carboneto também influencia no desgaste abrasivo. Junyi et al. [39], examinaram o efeito do tamanho do carboneto sobre a resistência ao desgaste pesquisadores num ferro mediram fundido o alto cromo espaçamento (16,2Cr-3,35%C). médio entre Estes carbonetos, representando a espessura média dos carbonetos em uma fração volumétrica de carbonetos constante e, em conformidade com as observações de Shetty et al [40] e Desai et al. [41], os mesmos mostraram que carbonetos finos não são resistentes aos abrasivos e a resistência ao desgaste decresce devido ao curvamento e deformação destes carbonetos. Por outro lado, observaram, usando testes de roda de borracha com areia úmida, o lascamento dos carbonetos espessos; o que resultou na diminuição da capacidade destes carbonetos de proteger a matriz do desgaste. Assim sendo, sugeriram que há um tamanho ótimo de carboneto abaixo do qual não são deformados e acima do qual resistem ao lascamento. Sun [42], também usando teste de roda de borracha com areia úmida em ferros fundidos alto cromo, verificou um aumento na perda de massa por lascamento com a presença de carbonetos espessos. Visto que a resistência ao desgaste é fortemente afetada pelo tamanho dos carbonetos, a taxa de resfriamento aparentemente tem uma influência significativa. Por exemplo, Kortelev et al [43] ,examinaram mudanças microestruturais de ligas de revestimento duro Fe-(40-42)Cr-(4,0-4,3)C sob 29 diferentes taxas de resfriamento. Os autores verificaram um refinamento significativo dos carbonetos com o aumento da taxa de resfriamento de 10 para 28,9 ºC/s e um aumento na resistência ao desgaste abrasivo de 30-35%. Resultados de análise metalográfica quantitativa mostraram que em uma taxa de 10 ºC/s, a área de 60% dos carbonetos excederam 2500 µm2 enquanto que com uma taxa de resfriamento mais alta (28,9 ºC/s), a maioria dos carbonetos tinha um área de 250–1500 µm2. Estes autores realizaram os testes de desgaste abrasivo simulando as condições de trabalho de cortadores de escavadeiras rotativos. Os resultados obtidos mostraram um aumento contínuo da resistência ao desgaste com o aumento da taxa de resfriamento e isto foi atribuído, principalmente, ao refinamento dos carbonetos. Visto que estes autores não analisaram a superfície desgastada, não é viável correlacionar diretamente a resistência ao desgaste abrasivo com a área do carboneto. Figura 2.20. Diagrama idealizado da taxa de desgaste de vários materiais em função da dureza abrasiva mineral [38] Variações na taxa de resfriamento pode mudar também a fração volumétrica de carbonetos, a microestrutura da matriz e, portanto, a resistência ao desgaste. Isto sugere que a resistência ao desgaste abrasivo dos depósitos de solda poderia ser razoavelmente controlada visto que a taxa de resfriamento 30 depende dos parâmetros de soldagem (ex: energia de soldagem, velocidade de soldagem). Um outro fator que afeta a resistência ao desgaste é o espaçamento entre os carbonetos. A figura 2.21 ilustra a dependência da resistência ao desgaste e da dureza do livre caminho médio entre os carbonetos em diferentes aços ferramenta recozidos [44]. Como pode ser visto, a resistência ao desgaste aumenta à medida que o livre caminho médio entre os carbonetos diminui. Fulcher et al [45], ao estudar ferros fundidos brancos hipoeutéticos, observaram que carbonetos eutéticos perfeitamente espaçados suportam melhor a matriz e evitam a penetração de partículas abrasivas. Além disso, segundo Mello et al [46], a diminuição da deformação da matriz à medida que o espaçamento entre carbonetos diminui, também contribui para o aumento da resistência ao desgaste. No entanto, deve-se observar que uma dispersão muito fina de carbonetos é indesejável devido a maior facilidade de remoção dos carbonetos. Figura 2.21- Dependência da resistência ao desgaste e dureza do livre caminho médio entre os carbonetos [44] A fração volumétrica é de fundamental importância para aumentar a resistência ao desgaste abrasivo. Diversos autores verificaram que um aumento da fração volumétrica até um valor ótimo tende a aumentar a 31 resistência ao desgaste. O valor ótimo depende dos parâmetros de processo, do tamanho das partículas, etc. e pode variar com as características do abrasivo e o tipo de teste usado. Deve-se também observar que o tipo de abrasivo influencia no comportamento de deformação dos depósitos de revestimento duro. A figura 2.22 mostra o efeito da fração volumétrica sobre a perda de volume de ferros fundidos alto Cr e Mo. É mostrado que se a dureza do abrasivo (granada) é menor do que a dos carbonetos, a resistência ao desgaste aumenta com a fração volumétrica de carbonetos em ambas as matrizes austenítica e martensítica. No entanto, ocorre o oposto quando abrasivos SiC são utilizados. Isto se deve à alta dureza dos abrasivos SiC, os quais causam lascamento dos carbonetos aumentando a vulnerabilidade da matriz a fratura. Com abrasivos duros os carbonetos podem ser cortados em baixas tensões e lascados em altas tensões de modo que as condições de teste devem ser consideradas [48, 49]. Figura 2.22: Efeito da fração volumétrica na perda de volume de um ferro fundido alto Cr-Mo devido à abrasão com abrasivos de granada 150 mesh e SiC 180 mesh. [47]. 32 A figura 2.23 mostra a resistência ao desgaste abrasivo em função da fração volumétrica de ferros para ferros fundidos brancos testados em roda de borracha com abrasivo de alumina obtidos por Fulcher et al. [45]. Pode-se notar que a resistência ao desgaste aumentou monotonicamente, não apresentando um valor ótimo próximo da composição eutética. Por outro lado, resultados similares aos observados na figura 2.22, foram obtidos quando foi usado abrasivo de quartzo, mais macio, em vez de alumina, sendo o ponto ótimo da fração volumétrica 30% de carbonetos [50]. Noble [9], trabalhando com ligas de revestimento duro em várias energias de soldagem, encontrou um ponto ótimo de fração volumétrica próximo de 40%. Figura 2.23- Perda de massa de ferro fundido alto cromo em função da fração volumétrica de carbonetos, para ensaios abrasivos em roda de borracha, utilizando alumina como abrasivo [45] Há muitos trabalhos relacionados com o efeito da microestrutura da matriz sobre a resistência ao desgaste. Os resultados mostram que a resistência ao desgaste abrasivo aumenta progressivamente da ferrita para a perlita, bainita e martensita. A figura 2.24 ilustra este aumento na resistência ao desgaste com a mudança do microconstituinte da matriz para aços [13]. No entanto, a contribuição da matriz depende também de outros fatores tais como sua dureza, tenacidade e quantidade de austenita retida. 33 Figura 2.24. Desgaste abrasivo de aços em função da dureza dos microconstituintes [13] Com relação especificamente aos ferros fundidos brancos, estudos mostraram que a matriz de austenita é preferencialmente removida pelo abrasivo em relação aos carbonetos eutéticos M7C3 duros que se sobressaem em relevo na superfície [45]. Os carbonetos são os controladores da taxa de desgaste das ligas hipoeutéticas, pois, a remoção da austenita é impedida ou minimizada pelo menor livre caminho médio entre os carbonetos. O espaço entre os carbonetos é da ordem de 50µm, enquanto que as partículas de abrasivo têm, em geral, aproximadamente 250µm de diâmetro. As partículas do abrasivo não podem penetrar na matriz devido ao espaço muito pequeno da região eutética que contém os carbonetos. Quando aumentam os teores de cromo e carbono, o resultado é que não somente aumenta a fração volumétrica dos carbonetos, mas, a largura dos braços das dendritas de austenita diminui [45]. As ligas eutéticas agem de forma similar. No entanto, muitos carbonetos primários trincam e a maioria sofre fragmentação, deixando a matriz mais exposta à ação do abrasivo, aumentando a taxa de desgaste. Portanto, carbonetos muito grandes não aumentam a resistência ao desgaste das ligas, embora resistam melhor à abrasão do que a matriz até o ponto em que sofrem trincamento [50]. 34 Diversos autores relatam também a influência das interfaces matrizcarbonetos sobre a taxa de energia de deformação liberada (taxa de crescimento de trinca) durante o desgaste, particularmente, em níveis de frações volumétricas médios (0,4-0,6). Interfaces fortes são necessárias para se evitar a propagação de trincas e se ter uma melhor resistência ao desgaste. Diferenças nos coeficientes de expansão térmica entre os carbonetos e a matriz causando concentração de tensão nesta região, além de segregação de solutos nas interfaces, são fatores que também contribuem para a iniciação de trincas [51]. A capacidade de endurecimento por deformação da matriz tem grande influência na resistência ao desgaste. Uma matriz austenítica, geralmente endurecível por deformação é preferível a uma matriz martensítica, devido à sua capacidade de endurecimento superficial e devido à transformação martensítica induzida por deformação nestas ligas. Estas ligas se endurecem, mas, conseguem manter uma boa tenacidade [51]. 2.1.3- Ligas ferrosas de revestimento duro A operação de revestimento pode ser definida como a aplicação de uma camada de material resistente ao desgaste em superfícies desgastadas (ou vulneráveis ao desgaste) de um componente por um processo de soldagem predominantemente [52]. Os materiais utilizados na operação de revestimento por soldagem podem ser classificados em dois grupos: ligas de revestimento duro (ligas de desgaste metal com metal e ligas de abrasão metal com terra) e de construção (fabricação). Componentes desgastados podem ser restaurados para as suas dimensões originais com enchimento ou com uma combinação de fabricação e operação de revestimento. Isto normalmente resulta em um componente reconstruído com resistência ao desgaste superior à do componente original [52, 53]. Para adicionar proteção ao novo equipamento, um revestimento resistente ao desgaste é aplicado nos componentes mais susceptíveis ao 35 desgaste. A liga de revestimento oferece uma resistência ao desgaste muito melhor do que o metal base original e pode dobrar ou triplicar a vida útil do componente [53]. A seleção de uma liga de revestimento duro depende grandemente da natureza do processo de desgaste encontrado, o qual pode ser causado por um número de fatores tais como abrasão, impacto, erosão, alta temperatura e corrosão atuando exclusivamente ou em combinação. Nesse sentido, várias propriedades diferentes são requeridas das ligas de revestimento para que estas possam resistir a estes diferentes mecanismos de desgaste e todas as combinações possíveis. Os aspectos cruciais a serem considerados na seleção são as condições de serviço (tipo de desgaste), método de aplicação do revestimento e custo – benefício da liga de revestimento [7,24, 53]. Segundo Zollinger et al. [53], quatro questões básicas devem ser respondidas: 1) Qual é o processo de soldagem adequado? 2) Qual é o metal base do componente? 3) Quais são os fatores de desgaste? 4) Qual o acabamento requerido? Ligas de revestimento variam na dureza de 250 até acima de 1000 HV enquanto que os aços estruturais normais apresentam dureza de aproximadamente 150 HV. Existe, no entanto, muita confusão sobre a relação entre resistência ao desgaste e dureza. Conforme já discutido anteriormente, considera-se que durezas mais altas resultarão em alta resistência ao desgaste. Isto, provavelmente, se deve ao fato de que sob condições de abrasão simples, geralmente é verdade que resistências ao desgaste mais altas são obtidas pelas ligas de revestimento mais duras. No entanto, para o mesmo nível de dureza, as ligas de revestimento terão uma vida muito mais longa do que a de aços ligados estruturais e a diferença no comportamento está relacionada com as suas microestruturas. 36 Segundo Gregory [24], as ligas de revestimento podem ser geralmente classificadas nos seguintes grupos: ligas a base de ferro que são separadas naquelas contendo menos de 20% de adição e naquelas contendo mais de 20% de adição. As ligas não-ferrosas podem ser classificadas como ligas a base de níquel, a base de cobalto, a base de cobre, ligas contendo carbonetos de tungstênio e a pasta a base de cromo. A tabela 2.2 mostra a classificação e composição típica das ligas de revestimento ferrosas para proteção contra o desgaste, as quais serão consideradas neste trabalho. As ligas ferrosas constituem-se no grupo mais utilizado devido ao seu custo relativamente baixo e à facilidade de aplicação utilizando os processos de soldagem mais comuns. Os aços ao carbono contendo até 0,5% de carbono podem ser depositados por soldagem oxiacetilênica ou ao arco elétrico para produzir um depósito com uma dureza de aproximadamente 240 HV, os quais podem ser subseqüentemente tratados termicamente para obter durezas mais altas, se necessário. A resistência à abrasão destes aços, geralmente perlíticos, é consideravelmente baixa e sua principal aplicação dá-se na restauração (reconstrução) de fundidos de composição similar [24]. Os aços baixa liga martensíticos são os mais largamente usados como ligas de revestimento e são caracterizados pelo baixo custo e uma faixa ampla de propriedades, dependendo da composição. Estes aços podem conter, além do carbono (até 0,5%), quantidades variadas de cromo (até 10%), manganês, molibdênio, níquel bem como pequenas adições de W e V. Mo, Mn e Ni promovem o endurecimento do aço para formar uma matriz martensítica ou bainítica; cromo, molibdênio, tungstênio e vanádio formam carbonetos resistentes ao desgaste. A dureza do depósito muda com a composição e pode variar de 250 a 800 HV. À medida que a dureza aumenta, há um aumento na resistência a abrasão e uma diminuição da tenacidade ou resistência ao impacto. Aplicações típicas destas ligas são em equipamentos de agricultura e terraplanagem, máquinas de escavações, pontes de ferrovia, munhões de cilindros, rodas de ponte rolante, etc. [7, 24]. Os aços inoxidáveis martensíticos que contêm aproximadamente 12% de cromo têm resistências à corrosão e ao calor altas. A boa resistência à 37 abrasão destes aços sob desgaste metal-metal na faixa de 300 a 600º C tem levado ao uso bem sucedido dos mesmos em rolos de laminação, rodas de guindaste, etc. Tabela 2.2- Classificação e composição de ligas de revestimento ferrosas Composição típica, % Grupo e descrição Dureza, Fe C Cr Mn Mo V W Co Ni B HV Especificação AWS A5.13-70 Ligas ferrosas com menos de 20% de adição de elementos de liga (Grupo 1) Aço carbono bal 0.5 ... ... ... ... ... ... ... ... 250 ... Aço martensítico bal 0.1 1 0.7 ... ... ... ... ... ... 250 ... Aço martensítico bal 0.1 3.5 1 ... ... ... ... ... ... 350 Aço martensítico bal 0.25 1 1 0.3 ... ... ... ... ... 350 Aço martensítico bal 0.35 3 1 ... ... ... ... ... ... 450 Aço martensítico bal 0.45 5 1 5 0.75 ... ... ... ... 650 Aço inoxidável bal 0.1 12 ... ... ... ... ... ... ... 400 bal 0.25 13 ... ... ... ... ... ... ... 450 6 ... ... ... 650 Fe 5- A ... martensítico Aço inoxidável martensítico Aço rápido bal 0.8 4 0.5 5 2 Aço rápido bal 0.7 4 0.5 7 1 1.5 ... ... ... 650 Fe 5-B Aço rápido bal 0.4 4 0.5 7 1 1.5 ... ... ... 600 Fe 5-C Aço Mn bal 0.7 0.5 14 ... ... ... 4 ... 600 Fe Mn-A ... austenítico Aço Mn (max) bal 0.7 0.5 14 1 ... ... ... ... ... 600 Fe Mn-B (max) austenítico Ligas ferrosas com mais de 20% de adição de elementos de liga (Grupo 2) Aço austenítico bal 0.35 14 14 1 0.4 ... ... ... ... Cr - Mn 600 ... (max) Aço rápido bal ... 10 ... ... ... 15 ... 2.5 ... 750 ... Aço austenítico bal 0.1 18 ... 3 ... ... ... 8 ... 500 ... Ferro austenítico bal 4 30 6 ... ... ... ... ... ... 700 ... 2.5 28 1 ... ... ... ... ... ... 600 ... Ferro martensítico bal Os aços rápidos são por definição aços ferramentas que podem ser usados para usinar metais em altas velocidades e elevadas temperaturas (500600º C) sem sofrer amolecimento. As durezas mostradas na tabela 2.2 são 38 aquelas de soldas depositadas e podem ser reduzidas para aproximadamente 300 HV por um tratamento de recozimento adequado. São basicamente aços martensíticos com adição de W, Mo e V para melhorar a dureza até cerca de 600º C. As ligas do grupo 1 são usadas principalmente em ferramentas de corte, matrizes para trabalho a quente e outros componentes que requerem resistência ao desgaste em altas temperaturas. As ligas do grupo 2 são usadas principalmente para afiação de ferramentas de usinagem. Os aços austeníticos ao Mn contêm de 12 a 14% de Mn e uma estrutura austenítica que é mole (200HV). Na condição de depósitos de solda macios, estes aços apresentam baixa resistência a abrasão a baixa tensão. No entanto, sob condições de impacto pesado, o metal de solda deforma e encrua na superfície, elevando a dureza neste local para aproximadamente 600HV e, conseqüentemente, a resistência ao desgaste. Depósitos de aços ao Mn podem desenvolver trincas em serviço que não necessariamente reduzirá a vida útil do revestimento devido à boa resistência à propagação de trincas desta liga. Estes aços são utilizados em revestimentos de britadores, pontes e cruzamentos de ferrovias, equipamento de escavação de solos rochosos e em condições de serviço onde ocorre impacto. O aço austenítico cromo-manganês é usado em aplicações similares às do aço austenítico ao Mn, mas, com certas vantagens que compensam o seu maior custo. Dentre estas vantagens podemos destacar: maior resistência à abrasão devido à presença de uma maior fração volumétrica de carbonetos de cromo M7C3; podem ser depositados diretamente sobre os aços carbono sem a necessidade de “almofada” e sem a formação de uma interface martensítica frágil [7,24]. Aços inoxidáveis austeníticos que contêm aproximadamente 18% de Cr e 8% de Ni têm boa resistência ao impacto e resistência à abrasão baixa. Sua resistência ao impacto é inferior àquela dos aços manganês austeníticos e são mais caros. Portanto, o seu principal uso é para “almofada” de aços carbono ou ligados antes da deposição de aço manganês. 39 2.1.3.1 Ferros fundidos alto cromo Estas ligas para revestimento duro contêm até 40% Cr e 6% C e mais uma variedade de outros elementos (Si, Mn, Mo, Nb, V, W, etc). Avery et al. [54], reconhecem duas categorias principais: os austeníticos e os alto Cr endurecíveis (veja tabela 2.2). Os austeníticos são estáveis e não podem ser endurecidos por tratamentos térmicos convencionais. Os ferros alto cromo endurecíveis são austeníticos no estado como soldado, mas, podem se tornar martensíticos com tratamento térmico. Estas ligas dependem essencialmente de carbonetos duros (predominantemente cromo) para ter uma boa resistência ao desgaste abrasivo. Sob baixa tensão, estas ligas de revestimento duro são as mais usadas devido a sua excelente resistência ao desgaste e ao seu baixo custo. Avery et al [54] demonstraram que estes carbonetos primários alongados que se apresentam em soldas de revestimento são predominantemente Cr7C3 ou (Cr,Fe)7C3 com dureza de aproximadamente 1500 a 1780 HV quando medido nas faces longitudinais e de aproximadamente1960 HV quando medidos na seção transversal. A dureza desses carbonetos está acima daquela do quartzo e, portanto, a abrasão a baixas tensões por quartzo será branda se outros fatores são favoráveis. A matriz austenítica possui uma dureza de aproximadamente 360 HV. Por outro lado, sob alta tensão, estas ligas encontram menor aplicação devido à possibilidade de fratura dos carbonetos. A figura 2.25 ilustra uma importante aplicação destas ligas de revestimento duro que é recuperação de rolos pulverizadores desgastados em serviço. Transformação de fases em ligas Fe-C-Cr Ferros fundidos alto cromo são baseados no sistema ternário Fe-C-Cr, freqüentemente com a adição de pequenas quantidades de Si, Mn, Mo e Ni. A superfície liquidus do diagrama Fe-C-Cr está bem estabelecida pela literatura [55]. A projeção liquidus e as isotermas, mostradas na figura 2.26a até d, 40 mostram que a maioria das ligas de revestimento duro, com composições de 8 a 35%Cr e 0,6 a 6%C se solidificam dentro do campo da fase primária γ ou M7C3, para composições hipo e hipereutética respectivamente. À medida que a solidificação prossegue, estas fases primárias se formam até a temperatura diminuir para um nível onde a reação eutética: L → γ + M7C3 (1) dada pela linha U1-U2 acontece e, todo líquido remanescente é transformado num eutético destas fases. Embora a maioria das soldas de revestimento duro de ligas Fe-C-Cr se solidifique dentro da região eutética, uma reação “peritética” pode ocorrer se metal líquido ainda estiver presente quando a temperatura atinge U2. A reação peritética é descrita como: L + M7C3 → M3C (2) Figura 2.25. Rolo pulverizador de ferro fundido branco com desgaste brando nas interseções (A) e desgaste mais intenso nas áreas do segmento (B), a espera da solda de revestimento [4]. 41 Figura 2.26. Projeção liquidus e seções isotermas do sistema Fe-C-Cr [56]. Pode-se notar também pela projeção liquidus que quando o teor de cromo cai abaixo de 10%, a reação eutética descrita na equação 1 não mais ocorre dando lugar a uma formação massiva de M3C. Por outro lado, ligas com alto teor de cromo se caracterizam pela presença de M7C3 na estrutura. Uma outra observação importante a partir da projeção liquidus é que a medida que o teor de cromo aumenta, o teor de carbono da composição eutética diminui. Esta mesma tendência foi observada quando da adição de outros elementos de liga além do cromo [57]. Embora a microestrutura de equilíbrio seja uma mistura de ferrita e carbonetos M7C3 abaixo de 700ºC (veja figura 2.26d), uma matriz austenítica 42 metaestável é comumente retida na estrutura na temperatura ambiente. Segundo Pearce [58], vários fatores favorecem para a manutenção de uma matriz totalmente austenítica na temperatura ambiente: a) a temperatura de início de transformação martensítica está abaixo da temperatura ambiente; b) a adição de elementos de liga suficiente para evitar a formação de perlita durante o resfriamento; c) taxas de resfriamento suficientemente altas para evitar a precipitação de carbonetos secundários na matriz. Esta precipitação diminuiria o teor de elementos de liga na matriz aumentando a temperatura de inicio de transformação martensítica. À medida que o teor de cromo aumenta, o teor de carbono necessário para se produzir austenita retida na temperatura ambiente também aumenta. Taxas de resfriamento mais altas permitem uma variação maior na composição química dos ferros fundidos alto cromo (principalmente, o teor de carbono) para a produção de austenita na temperatura ambiente. Influência dos elementos de liga na microestrutura das ligas Fe-Cr-C Ligas Fe-Cr-C com adição de Nb e Ti A adição de nióbio nas ligas Fe-Cr-C altera consideravelmente a microestrutura e há um interesse crescente no desenvolvimento de ligas com a adição deste elemento por diversas razões, principalmente de custo.O nióbio forma nestas ligas os carbonetos NbC, de elevada dureza, que passa a coexistir com os outros carbonetos característicos do sistema Fe-Cr-C, M7C3 principalmente, e M3C, particularmente em ligas de teor de cromo mais baixo, numa matriz austenítica ou martensítica. 43 Um aspecto importante sobre a influência do nióbio nestas ligas é que este absorve grandes quantidades de carbono para formação do carboneto NbC e diminui a possibilidade de se obter uma grande quantidade de carbonetos M7C3. Além disso, resultados de microanálise realizados por Atamert [51], em ligas Fe-Cr-C-Nb, mostraram que quase todo o nióbio presente foi usado efetivamente na formação de carboneto tendo uma concentração muito baixa na matriz e nos carbonetos M7C3. A fim de compreender melhor as transformações de fase que ocorrem em ligas Fe-Cr-C-Nb, Kesri et. al [59], trabalhando nas faixas de composição (1,6-3,6% C, 3,6-15% Cr e 1-7% Nb), propôs projeções liquidus com base no sistema pseudo-ternário (Fe-Cr)-C-Nb. É possível verificar que há uma redução do campo de austenita e a ausência do campo de M3C quando o teor de Cr é aumentado de 9 para 15% ( figuras 2.27a e b). Figura 2.27a e b. Projeção liquidus do sistema pseudo-ternário (Fe-Cr)-Nb-C [59] O titânio tem uma solubilidade relativamente baixa no ferro líquido, como pode ser visto qualitativamente a partir da seção isoterma do diagrama de fase Fe-Ti-C em 1550ºC mostrada na figura 2.27c [60]. Esta característica do titânio associado com o fato de que os carbonetos TiC e NbC possuem entalpias de formação muito próximas [61], indica que o titânio se comporta exatamente como o nióbio quando adicionado isoladamente em ligas Fe-Cr-C, porém, formando carbonetos TiC mais duros (veja tabela 2.1). 44 Figura 2.27c. Seção isoterma do diagrama de fase Fe-Ti-C em 1500 ºC [60]. Por outro lado, a adição combinada de Ti e Nb nas ligas Fe-Cr-C é pouco utilizada pelas semelhanças na influência de ambos na microestrutura e por questão de custo. Vários autores, no entanto, sugerem que o titânio, quando adicionado em ligas Fe-Cr-C-Nb é capaz de modificar a morfologia de carbonetos NbC, por exemplo, de formas dendríticas ou hexagonais para um formato tendendo a nodular [62]. Ligas Fe-Cr-C com adição de W e V O tungstênio é geralmente adicionado em ligas de revestimento duro FeCr-C na forma de partículas de WC numa matriz ferrosa. Estes compósitos são usados sob condições severas de desgaste abrasivo devido à alta dureza dos carbonetos WC (2400 HV) [33]. Além disso, é uma prática comum na elaboração destas ligas, a adição de tungstênio vir acompanhada da adição de outros elementos formadores de carbonetos, principalmente nióbio. Atamert [51], ao estudar a influência do tungstênio em ligas Fe-Cr-C-Nb com 0,8% W verificou, através de microanálises, que o tungstênio se direciona preferencialmente para os carbonetos NbC, M7C3 e em menor escala, para a matriz. A adição de vanádio em ligas de revestimento duro Fe-Cr-C é de grande interesse. A alta resistência ao desgaste de ferros fundidos brancos contendo vanádio é atribuída à alta dureza dos carbonetos de vanádio (2660 HV). 45 Borik et. al [63], estudo a microestrutura e a resistência ao desgaste abrasivo de ligas de revestimento duro contendo vanádio e sem cromo e comparou-as com ligas contendo alto cromo. A microestrutura da liga contendo vanádio apresentou carbonetos dendríticos V4C3 numa matriz de austenita, a qual provavelmente se transformou parcialmente em martensita. As comparações foram feitas com ligas alto cromo com uma fração volumétrica alta de M7C3 (~0,5) e usando teste pino sobre disco com carga de 6,8Kg e abrasivo de granada de 100µm. As ligas contendo vanádio apresentaram a melhor resistência ao desgaste. Isto foi atribuído à alta fração volumétrica de carbonetos V4C3 duros. O efeito do vanádio sobre a seqüência de solidificação de ferros fundidos alto cromo (1,6-3,6%C e 3,6-16,5%Cr) foi investigada por Durandcharre et al [64]. Segundo estes autores, a seqüência não mudou com o aumento do teor de vanádio até 6%. Análises térmicas diferenciais mostraram que a seqüência de solidificação foi a seguinte: γ → γ +V6C5 → γ+ V6C5 +M7C3 → γ + V6C5 +M7C3 + M3C (para baixo carbono e baixo cromo). Por outro lado, quando o vanádio é adicionado em ligas que apresentam outros elementos formadores de carboneto, como, por exemplo, ligas Fe-Cr-CNb, ele se comporta similarmente ao tungstênio, ou seja, se direciona preferencialmente para os outros carbonetos e para a matriz, não formando carbonetos primários de vanádio dependendo do teor [51, 65]. 2.1.3.2- Microestruturas de ligas ferrosas de revestimento duro Segundo Kotecki et. al. [66], as ligas ferrosas para revestimento duro por soldagem podem ser classificadas de acordo com a microestrutura como: 1) ligas de enchimento ferríticas-bainíticas (FB) 2) ligas martensíticas (MS) 3) ligas martensíticas-austeníticas (MA) 4) ligas de manganês austeníticas (AM) 46 5) austenita primária em matriz eutética de carbonetos e austenita (PA) 6) próximo do eutético de carbonetos e austenita (NE) 7) carbonetos primários em matriz eutética carbonetos e austenita (PC) Além disso, algumas ligas apresentadas podem ser subdivididas como se segue: Ligas martensíticas: martensíticas de baixa liga, aços martensíticos para ferramentas (com capacidade de endurecimento secundário) e aços inoxidáveis martensíticos (resistentes à corrosão). Ligas austeníticas ao manganês: ligas comuns e ligas superiores (que contêm elementos de liga suficientes para produzir austenita estável até mesmo na primeira camada diluída sobre o aço carbono). Ligas de carboneto primário: carbonetos de cromo comuns, carbonetos de superiores (incluindo teores consideráveis de Mo, Nb, V, W e/ou Ti) e carbonetos extra-altos (os quais produzem carbonetos primários ainda na primeira camada diluída sobre o aço carbono) [66]. A figura 2.28 mostra um mapa de ligas de revestimento em função do teor de ligas e carbono com faixas para a maioria das microestruturas presentes em ligas de revestimento comerciais [66]. Kotechi et al. [66], trabalhando com diversas composições de ligas ferrosas, também verificaram que a microestrutura, e não dureza, é o principal fator na determinação da resistência ao desgaste a baixa tensão. Conforme pode ser observado na figura 2.29, a dispersão dos dados quando se relaciona a perda de massa com a dureza é muito grande. Esta dispersão também ocorreu quando se relacionou a perda de massa com o teor de cromo das ligas. Por outro lado, a dispersão dos dados foi bastante pequena quando se relacionou a perda de massa com o teor de carbono (figura 2.30) evidenciando que o carbono era o elemento mais importante na determinação da microestrutura final e, portanto, na determinação da resistência ao desgaste. A faixa na figura indica os teores de carbono encontrados em ferros brancos de componentes de moinhos. A melhor resistência a abrasão foi obtida com ligas contendo cerca de 4% de carbono e 16% de cromo, resultando em 47 microestruturas de carbonetos primários em matriz eutética de austenita e carbonetos. Figura 2.28- Mapa de microestruturas e composições de ligas de revestimento duro ferrosas, incluindo Cr, Mn, Mo, Ni, Nb, V, W, Ti, Al [66]. Figura 2.29- Perda de massa versus dureza do depósito [66] 48 Figura 2.30- Perda de massa versus % de carbono depositado. 2.2- Processos de soldagem utilizados para revestimento duro. A aplicação de revestimento duro por soldagem pode ser feita utilizando vários processos tais como o processo Eletrodo Revestido, Arco submerso e Arame tubular. Estes processos são capazes de produzir camadas livres de defeitos tais como porosidade e falta de fusão em vários tipos de substratos. O processo Eletrodo Revestido, no entanto, tem sido utilizado cada vez menos devido à sua baixa produtividade. Os processos Arco submerso e Arame Tubular são responsáveis pela maioria das deposições de revestimento duro devido à suas altas taxas de deposição. Estes processos, no entanto, exigem a utilização de fluxos caros e equipamentos mais complexos, tornando a sua utilização mais dispendiosa. Portanto, constantemente, procura-se processos de deposição de revestimento por soldagem mais baratos e capazes de produzir camadas de boa qualidade. 2.2.1. Processo de soldagem arco aberto (Open-Arc) É um processo de soldagem por fusão que utiliza o calor gerado pelo arco elétrico para depositar camadas de material num substrato. As principais 49 vantagens deste processo são: alta taxa de deposição e de produtividade, disponibilidade de arames de várias composições, não requer habilidade manual do soldador e dispensa a utilização de gás de proteção ou fluxos. A ionização e manutenção do arco são feitas com a adição de pequenas quantidades de substâncias ionizantes juntamente com a mistura de pós de metal de adição. É aplicável essencialmente com arames tubulares e atualmente é a técnica mais utilizada na recuperação de componentes desgastados de moinhos devido ao seu baixo custo e simplicidade. Como desvantagens deste processo, pode-se citar: dificuldade de se produzir cordões de solda livre de defeitos tais como porosidade e falta de fusão, a necessidade de múltiplas camadas, velocidades de resfriamento mais altas em relação ao processo Arco submerso e Arame Tubular auto-protegido devido à ausência de escória e a seleção do material se torna difícil pela alta energia de soldagem deste processo. É um processo normalmente automático e mecanizado e requer apenas uma fonte de energia padrão e um sistema de alimentação de arame. A figura 2.31 apresenta a representação esquemática do processo Arco Aberto. Figura 2.31- Representação do processo Arco Aberto. Adaptado de [67] 50 51 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Desenvolvimento das ligas O desenvolvimento de diversos arames para solda de revestimento duro a base de Fe-Cr-C com adição de um ou mais elementos fortemente formadores de carboneto tais como Nb, Ti, V e W é uma prática constante na empresa Welding Alloys, Inglaterra, com o intuito de atender requisitos específicos de resistência ao desgaste. Está bem estabelecido que variações no teor dos elementos de liga têm um efeito significativo sobre a natureza e fração volumétrica de carbonetos e austenita retida durante a solidificação e que estas diferenças micro-estruturais, por sua vez, têm uma influência fundamental sobre a susceptibilidade do metal de solda a trincas e sobre as propriedades de desgaste. Considerar estes efeitos sobre as propriedades de desgaste da liga ainda na fase de desenvolvimento de arames de revestimento duro é um dos grandes problemas enfrentados pelos engenheiros. Para solucionar isto, a modelagem da solidificação se tornou uma ferramenta essencial durante a fase de desenvolvimento. Através desta modelagem é possível investigar a solidificação, isto é, prever, com uma boa precisão, as fases que se formarão a cada etapa da solidificação do metal de solda e resolver questões que eventualmente possa surgir durante o desenvolvimento, como, por exemplo, otimizar a fração volumétrica de carbonetos de cromo de um revestimento que está se fragmentando ou se desgastando rapidamente em uma aplicação de campo. Considerando que normalmente o metal de solda se solidifica em altas taxas de resfriamento (~30K/s), a microestrutura obtida está longe do equilíbrio e, portanto, os modelos termodinâmicos devem ser escolhidos levando em conta esta solidificação fora do equilíbrio para assegurar resultados realistas. Tendo isto em mente, foi escolhido o modelo de simulação Scheil do MTDATA (Metallurgical and Thermodynamic Data), desenvolvido no National Physical 52 Laboratory (NPL), Inglaterra, em conjunção com os bancos de dados “Source e Sub_sgte” [68]. Além disso, como sistemas mais simples (menos elementos) são mais precisamente previstos pelo MTDATA, somente os elementos de maior quantidade foram levados em conta nas simulações. É importante ressaltar também que a confiabilidade das simulações depende dos parâmetros presentes nos bancos de dados. Numa simulação Scheil, os cálculos são feitos assumindo que não ocorre difusão no sólido, que o líquido é totalmente homogêneo (mistura perfeita) devido à homogeneização eficiente e que a difusão no mesmo é infinitamente rápida; o que é adequado para resfriamento rápido de metal de solda. O apêndice A mostra um exemplo da simulação Scheil/MTdata realizada para uma das ligas com os respectivos dados de entrada e mais detalhes sobre a simulação Scheil-Gulliver do módulo “Aplication” do MTdata. 3.2- Materiais 3.2.1. Fabricação dos consumíveis Os consumíveis usados na deposição das soldas de revestimento duro foram arames tubulares com diâmetro de 2,8mm. Para a fabricação dos arames das ligas comerciais denominadas HCO, CNO e da liga experimental denominada 750 foram usados pós-metálicos convencionais tais como Fe-Cr, Fe-Nb, Si-Mn, etc. Para a fabricação da liga denominada 700 foi usado, além dos pósmetálicos Fe-Cr, Fe-Si, Fe-Mn, Fe-Nb e pó de grafita, o pó de carboneto complexo FeWTiC obtido por um método de síntese a alta temperatura autopropagadora, na London & Scandinavian Metallurgical Co. Ltd (Londres) [69,70]. A composição química destes pós de carboneto é mostrada na tabela 3.1. Os pós FeWTiC contém ~25% de Fe e uma razão W/Ti de 54:46. O teor de carbono da tabela 3.1 indica o teor de carbono total; dos quais aproximadamente 2% existem na forma de carbono livre. A grande maioria das partículas de FeWTiC apresenta um tamanho entre 20 e 40 µm. Somente uma pequena quantidade apresenta um tamanho de aproximadamente 100 µm [70]. 53 As misturas de pós foram processadas num misturador vibratório girando em 42 rpm por 1 hora e, em seguida, inseridas para dentro de uma fita metálica, como ilustrado na figura 3.1, para a fabricação do arame tubular. Tabela 3.1- composição química do pó de carboneto usado (% em peso) Pó de carboneto Fe W Ti C FeWTiC Balanço 34,79 29,63 10,26 Figura 3.1- Princípio básico de fabricação do arame tubular. Primeiramente, a tira metálica é conformada na forma de “U”, e que para dentro da qual é inserida a mistura de pó (taxa de carregamento de aproximadamente 30% para arame de diâmetro de 2,8 mm). Em seguida, após passar por vários conjuntos de rolos, a mesma é fechada em um formato de “O” para o diâmetro desejado do arame. A tabela 3.2 lista as frações em peso por quilograma de mistura de vários pós inseridos dentro do arame 700. Tabela 3.2-Fração em peso dos elementos da mistura de pó Fração de Pós (%) Fe-Cr 9,6 Fe-Nb 9,5 Fe-Mn 1,8 Fe-Si 1,4 FeWTiC 24,0 Grafita Aço Inoxidável 430 Fina + grossa *(cascas de 16 x 0,3 mm) 2,50 51 54 3.2.2. Metal base e metal de referência para ensaio de desgaste roda de borracha O metal de base (substrato) utilizado para deposição dos cordões de solda de revestimento foi um aço SAE 1025 e sua composição química, determinada por espectrometria de emissão ótica, pode ser vista na tabela 3.3. Cada chapa de metal base apresentou dimensões de 150mm de largura 260mm de comprimento e 40mm de espessura, permitindo a retirada de um número suficiente de corpos de prova de uma mesma chapa para todos os testes propostos para cada liga estudada. Para assegurar resultados reproduzíveis e evitar que mudanças nas condições abrasivas invalidassem as comparações entre os resultados de desgaste que seriam obtidos nas soldas de revestimento duro durante os testes de desgaste ASTM G65 – Procedimento A, foi utilizado o metal de referência padrão “AISI D-2 Tool Steel” temperado e revenido de dureza variando entre 59 e 62 HRC. A composição típica deste material também pode ser vista na tabela 3.3. Tabela 3.3. Composição química do metal base e do metal de ref. D-2 Tool C Metal Base 0,23 Metal de 1,53 Si 0,22 0,3 Mn 0,93 0,5 P S 0,011 0,014 Cr 0,02 0,027 0,001 11,8 Mo 0,89 Ni 0,02 0,27 W V - 0,07 Co - 0,77 0,03 Referência. 3.3. Soldagem arame tubular arco aberto Foram realizadas as soldas de revestimento duro para cada liga sobre o substrato de aço utilizando o processo automatizado arame tubular arco aberto. Os cordões de solda foram depositados sobre o substrato de tal forma a se produzir um revestimento duro de oito camadas (aproximadamente 20 mm de altura). A obtenção de um revestimento duro com oito camadas teve duas finalidades: 1) garantir que não houvesse nenhum efeito da diluição do metal 55 base sobre a microestrutura nas camadas superiores do revestimento duro; 2) reproduzir, com a maior fidelidade possível, a aplicação de solda de revestimento duro em componentes de moinhos verticais em situação real. A tabela 3.4 mostra os parâmetros de soldagem utilizados par as soldas de revestimento duro. Tabela 3.4- Parâmetros de soldagem para solda de revestimento duro Voltagem 28 a 31 V Corrente de soldagem 450 a 500 A Polaridade do eletrodo positiva Velocidade de alimentação do arame 4,5 m/min Velocidade de soldagem 1,5 m/min Pré-aquecimento não Ângulo do eletrodo ≅ 10 da superfície da chapa Stick-out 30 mm Distância entre os cordões (step over) 6 mm Tipo de cordão Reto (sem oscilação) Taxa de deposição ≅ 7,5 kg/h o A tabela 3.5 mostra a composição química das camadas superiores das soldas de revestimento duro obtida por espectrometria de emissão ótica sendo que os valores apresentados são valores médios de 6 medidas realizadas para cada liga. Estas composições químicas foram utilizadas para realizar os cálculos e a simulação da solidificação com o MTdata. Tabela 3.5. Composição química do metal de solda (balanço: Fe) nas camadas superiores do revestimento duro. Arame %C % Si % Mn % Cr % Ni % Nb % Ti %V %W 700 5,50 1,15 1,25 15,30 0,16 7,6 4,20 0,20 7,80 750 4,50 1,10 1,13 8,50 2,4 10,20 0,13 2,64 - HCO 4,85 0,83 1,1 24,50 - - - - - CNO 4,80 0,86 0,67 21,62 - 6,40 - - - 56 3.4. Caracterização microestrutural e testes de dureza Os corpos de prova das soldas de revestimento para a avaliação microestrutural e testes de dureza foram retirados na seção transversal do metal de base, perpendicularmente à direção de soldagem e próximo de onde foram retirados os corpos de prova de desgaste. Os corpos de prova, após serem lixados e polidos usando pasta de diamante de 1 µm, foram atacados com reagente de “Villela” por um tempo que variou de 10 a 30s. Em seguida, os mesmos foram examinados por microscopia ótica antes e depois do ataque. A fração volumétrica das fases foi determinada a partir de imagens digitalizadas capturadas no microscópio ótico e processadas no programa de análise de imagem “Analyses”. Foram capturadas e analisadas 15 imagens em regiões aleatórias da amostra com aumentos de 100, 200 e 500 vezes. Os corpos de prova das ligas experimentais 700 e 750 foram caracterizados por difração de raio X para identificação de fases numa faixa angular de 10º<2θ<120º. As ligas foram examinadas com microscópio eletrônico de varredura para a visualização de fases com diferentes números atômicos (fases com número atômico alto apareceram mais claras em contraste com fases de número atômico baixo). Espectrometria por energia dispersiva (EDS) disponível no MEV permitiu a obtenção de micro-análise química qualitativa de fases individuais presentes. Linhas de emissão EDS para os elementos presentes nas ligas são mostradas na figura 3.2. Além disso, alguns corpos de prova de abrasão foram escolhidos para terem suas superfícies de desgaste avaliadas no MEV numa tentativa de se ter um melhor entendimento dos mecanismos de desgaste Testes de dureza Vickers usando uma carga de 30 kg foram realizados para a obtenção do perfil de dureza para cada liga estudada. Testes de microdureza utilizando cargas variando de 10 a 100g também foram realizados dando destaque para determinação da dureza da matriz e de fases individuais para cada liga. 57 Figura 3.2. Linhas de emissão de Raio X dos elementos presentes nas ligas. 3.5. Testes de desgaste 3.5.1. Ensaio pino sobre lixa Abrasiva Testes de desgaste abrasivo a alta tensão (pino sobre lixa) foram realizados a seco para cada liga utilizando corpos de prova cilíndricos de 6mm de diâmetro retirados perpendicularmente das camadas superiores do revestimento através de eletro-erosão. Os corpos de prova foram retirados do revestimento de tal forma que a superfície de teste fosse paralela às camadas da solda de revestimento. Durante o teste, os corpos de prova foram carregados verticalmente e por gravidade com uma massa de 320g e movidos sobre um disco com velocidade de rotação de 45 rpm e revestido com uma lixa de SiC de 180 mesh. Para todos os ensaios foi adotado um número máximo de revoluções de 600 rpm (tempo de ensaio correspondente: aproximadamente 15 minutos). O comprimento do caminho de desgaste utilizado foi 64mm e a velocidade de deslocamento de aproximadamente 9mm/s. A cada 200 voltas a perda de massa era determinada e a lixa abrasiva trocada para evitar efeitos adversos no resultado devido à degradação do abrasivo durante os testes. 58 3.5.2. Ensaio roda de borracha Testes de resistência à abrasão a baixa tensão foram realizados para cada liga pelo método de roda de borracha de acordo com o procedimento A da norma ASTM G65-00e1 – Procedimento A. Os corpos de prova foram cortados nas dimensões de 25x70x16mm paralelamente as camadas superiores e acabados por retificação. O abrasivo utilizado foi areia de sílica AFS 50/70. Os testes foram realizados a seco e na temperatura ambiente. Os corpos de prova foram desgastados pelo contato com a areia entre a roda de borracha sob uma força de 130 N. A rotação da roda de borracha foi mantida em 200 rpm quando em movimento e sob pressão de ensaio. O número de rotações da roda para interromper o ensaio foi fixado em 6.000 revoluções. Antes da realização dos ensaios de roda de borracha com as ligas estudadas, foram feitos vários ensaios utilizando o material de referência AISI D2-Tool, recomendado pela norma, para aferição do equipamento de desgaste. Após os ensaios foi verificado que a perda de volume obtida estava dentro da faixa recomendada pela norma para este material que é de 36±5 mm3. 3.6. Ensaios de compressão cíclica Os revestimentos duros foram também submetidos aos testes de compressão cíclica usando máquina de teste servo-hidráulica Mayes de capacidade de 100 KN da Universidade de Cambridge, Inglaterra. Este teste visou determinar, qualitativamente, qual liga apresentava maior resistência à ruptura quando submetida a cargas de compressão cíclicas. Para estes testes, foram confeccionados, utilizando eletro-erosão a fio, corpos de provas cilíndricos de 5,88mm de diâmetro para cada liga de revestimento duro. Os corpos de prova foram submetidos a um carregamento cíclico com uma carga mínima de 10KN (figura 3.3). A freqüência utilizada foi de 5Hz. Cada corpo de prova foi inicialmente solicitado por 1 hora numa tensão de pico de 1,5 KN/mm2. Se o corpo de prova não fraturasse neste tempo, a tensão de compressão era aumentada em 0,25 KN/mm2 e o corpo de prova exposto ao carregamento cíclico por 30 minutos. A última parte do procedimento foi 59 repetida com incrementos de 0,25 KN/mm2 até a fratura do corpo de prova. A tabela 3.6 mostra a metodologia adotada nos ensaios e as características dos corpos de prova. Figura 3.3- Ciclo de compressão utilizado (exemplo: liga HCO) Tabela 3.6- Características dos corpos de prova e cargas cíclicas aplicadas Corpo D de prova (mm) Área 2 (mm ) Carga Carga (KN) em (KN) em (KN) em (KN) em (KN) em (KN) em 1,5 1,75 KN/mm 2 KN/mm Carga Carga 2,0 2 KN/mm Carga 2,25 2 KN/mm Carga 2,5 2 KN/mm 2,75 2 KN/mm HCO 5,88 27,24 40,86 47,67 54,48 61,30 68,10 74,91 CNO 5,88 27,24 40,86 47,67 54,48 61,30 68,10 74,91 750 5,88 27,24 40,86 47,67 54,48 61,30 68,10 74,91 700 5,88 27,24 40,86 47,67 54,48 61,30 68,10 74,91 2 60 61 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1. Liga HCO 4.1.1. Solidificação da liga A seqüência de solidificação da liga HCO calculada assumindo condições fora do equilíbrio é mostrada na figura 4.1. Ignorando os efeitos do Mn, Si nas camadas superiores não diluídas, a primeira fase sólida a se precipitar no líquido é o carboneto primário M7C3 a uma temperatura de aproximadamente 1367 ºC. A partir desta temperatura a fração em peso de M7C3 cresce consideravelmente até que a liga atinge 1231 ºC. A solidificação então prossegue com a formação de austenita e mais M7C3 em aproximadamente 70% de líquido remanescente. De acordo com a projeção liquidus para as ligas Fe-C-Cr mostradas na figura 2.26, esta formação de austenita e mais M7C3 a partir do líquido em aproximadamente 1231 ºC é resultado da reação eutética dada pela linha U1-U2 do diagrama e descrita L→ γ + M7C3 (eutético) como: (1) Traços de M23C6 é previsto aparecer na fase final da solidificação quando a temperatura atinge 1037 ºC e quando a fração em peso de líquido remanescente é de apenas 0,2%. É importante observar que não foi objeto de interesse validar a ocorrência desta fase uma vez que a sua fração em peso é claramente negligenciável e requer uma análise minuciosa (Ex: por difração de raio x). Além disso, nos diagramas de fase mostrados na figura 2.26 não é esperada a presença desta fase em ligas com composição semelhante a da liga HCO. Abaixo de 1037 ºC não é esperado o surgimento de outras fases e as fases formadas permanecem estáveis até a temperatura ambiente. A partir dos resultados obtidos na simulação Scheil, a solidificação da Liga HCO pode ser resumida da seguinte forma: L 1367 ºC L + M7C3 1231 ºC L + M7C3 +γ 1037 ºC L + M7C3 + γ + M23C6(desprezível) 62 Figura 4.1. Simulação Scheil mostrando a solidificação da liga HCO sob condições fora do equilíbrio. A figura 4.2 mostra a proporção das fases termodinamicamente estáveis após a solidificação da liga HCO e por esta podemos observar que, ao término da solidificação, a fração em peso de carbonetos M7C3 é de aproximadamente 47% e de austenita 53%, sendo a fração de M23C6 desprezível. Figura 4.2. Fração em peso das fases calculada na liga HCO após a solidificação. 63 4.1.2. Microestrutura As figuras 4.3(a) a 4.3(c) são micrografias obtidas por microscopia ótica mostrando, em diversos aumentos, a microestrutura da seção transversal das camadas superiores não-diluídas da liga de revestimento duro HCO. Como pode ser visto, a microestrutura resultante é consistente com a projeção liquidus do sistema Fe-Cr-C e com a seqüência de solidificação prevista para esta liga no item anterior mostrando grandes carbonetos M7C3 primários, na sua maioria na forma de agulhas (que podem medir acima de 400µm no comprimento) e algumas partículas hexagonais agrupadas regularmente (veja figura 4.3a). A fase matriz consiste numa mistura eutética de finos carbonetos M7C3 e austenita retida. Apesar do fato de que a microestrutura de equilíbrio abaixo de 700 ºC devesse ser uma mistura de ferrita e uma grande fração volumétrica de M7C3, esta microestrutura metaestável está presente na temperatura ambiente devido às altas taxas de resfriamento no processo de soldagem arco aberto. Resultados de micro-análise obtidos anteriormente por outros investigadores em ligas de revestimento duro do sistema Fe-C-Cr confirmaram que os carbonetos M7C3 primários e eutético são carbonetos tipo (Fe,Cr)7C3 e apresentam composições similares tendo estes dissolvido aproximadamente 26% de ferro, 30% de carbono e 44% de Cr [71]. O valor obtido para a dissolução do ferro é consistente com o fato de que estes carbonetos dissolvem até 55% de ferro aproximadamente [56]. Como pode ser visto nas figuras 4.3a a 4.3c, as agulhas de M7C3 primários estão geralmente orientadas perpendicularmente à direção de soldagem ao longo da direção de fluxo de calor. No entanto, em algumas poucas regiões da seção transversal analisada foi verificada uma mudança na direção destas agulhas. Isto pode ocorrer, por exemplo, devido à presença de heterogeneidades microestruturais e/ou devido ao efeito da soldagem multicamadas na solidificação da poça de fusão [73]. As fases presentes na liga HCO foram determinadas quantitativamente usando um analisador de imagens e a fração volumétrica de cada fase é 64 mostrada na tabela 4.1. Os resultados mostram que a fração volumétrica média da fase carboneto M7C3 é aproximadamente 45%; o que apresenta uma boa aproximação com os valores teóricos apresentados na figura 4.2. Figura 4.3 (a). Micrografia ótica da secção transversal da liga HCO mostrando carbonetos M7C3 primários largos (fase clara) numa matriz eutética (fase escura). Figura 4.3(b). Mesma seção anterior em aumento maior. 65 Figura 4.3(c). Mesma secção anterior em aumento maior. Destaca-se a presença das fases γ e M7C3 finos no eutético e agulhas de carboneto M7C3 primário da liga HCO. Visando identificar com maior clareza as fases presentes, foram feitas, também, medidas de microdureza de cada fase ou região microestrutural da liga. O valor de dureza médio obtido para a fase carboneto foi de 1507 HV; valor este em concordância com valores de dureza encontrados para carbonetos ricos em cromo [9]. Já o valor de microdureza médio obtido na região eutética foi de 753 HV. Considerando que o valor de dureza médio da fase individual austenita esperado para estas ligas é de no máximo 350 HV, este valor mais alto obtido indica que o penetrador abrangeu também a fase M7C3. (veja figura 4.3d) Tabela 4.1- Resultados de análise de imagem da liga HCO Função Estatística Unidade contagem Média Fase: M7C3 µm² 15 129680,96 Area % 15 44,78 Fase: Austenita µm² 15 159884,50 Area % 15 55,22 Desvio Padrão 8177,54 2,82 8177,54 2,82 66 Figura 4.3(d). Micrografia ótica mostrando a indentação de microdureza na região eutética da liga HCO. 4.2. Liga CNO 4.2.1 Solidificação da liga Figura 4.4. Simulação Scheil mostrando a solidificação do CNO sob condições fora do equilíbrio. 67 A figura 4.4 mostra a seqüência de solidificação da liga CNO calculada pelo MTDATA assumindo condições fora do equilíbrio. Pela figura, pode-se notar que a solidificação começa em 1971 ºC com a precipitação de carbonetos NbC, muito provavelmente, nucleados heterogeneamente a partir de impurezas presentes no líquido (ex. alumina). É importante mencionar que um aumento no teor de nióbio e de carbono eleva a temperatura na qual o NbC se torna estável bem como a sua fração volumétrica. A solidificação prossegue com o aumento gradativo da fração volumétrica de NbC até que a liga atinge a temperatura de aproximadamente 1347 ºC. A partir desta temperatura inicia-se uma precipitação massiva de M7C3 primários e esta precipitação permanece até aproximadamente 1235 ºC. A formação de austenita junto com a precipitação de mais M7C3 para a formação do eutético começa em aproximadamente 1235 ºC, com a fração de líquido remanescente em aproximadamente 65%. Abaixo desta temperatura, a formação de NbC não é mais esperada. A fase M3C é prevista formar entre 1135 ºC e 935ºC (fração de líquido restante: ~2%) junto com mais austenita e M7C3. Pelos mesmos motivos citados com relação à presença da fase M23C6 na liga HCO, a validação posterior da fase M3C prevista nesta liga não foi tema de interesse. A partir dos resultados obtidos na simulação Scheil, a solidificação da Liga CNO pode ser resumida da seguinte forma: L 1971 ºC L + NbC L + NbC + M7C3 + γ 1347 ºC 1135 ºC L + NbC +M7C3 1235 ºC L + NbC + M7C3 + γ + M3C (Traços) Não é prevista nenhuma transformação do estado sólido abaixo da temperatura de 935 ºC e a austenita permanece retida até a temperatura ambiente juntamente com as outras fases estáveis formadas durante a solidificação. A figura 4.5 ilustra a proporção das fases termodinamicamente estáveis após a solidificação da liga CNO e por esta podemos observar que, ao término da solidificação, a fração em peso aproximada de carbonetos NbC é de 7%, de M7C3 total de 39% e de austenita 53%, sendo a fração de M3C de apenas 1%. 68 Figura. 4.5 Fração em peso das fases calculada para liga CNO após solidificação 4.2.2. Microestrutura Uma análise microestrutural da superfície polida da liga CNO através de microscopia ótica revelou a presença, em grande quantidade, de uma fase fina denominada A, distribuída aleatoriamente na matriz (figura 4.6). O aparecimento destas fases finas é relativamente comum em soldas de revestimento de grandes equipamentos tais como mesas e rolos de moinhos, pois a taxa de resfriamento é suficientemente alta para favorecer a nucleação de fases em detrimento do seu crescimento. Resultados da análise de energia dispersiva indicaram que a fase nucleia a partir de inclusões de alumina e que a mesma é uma fase rica em Nb. A figura 4.7 e a tabela 4.2 mostram o resultado da análise química semiquantitativa da fase A identificada na figura 4.6. Resultados de micro-dureza destas partículas apresentaram valores de aproximadamente 2350 HV. Este resultado de microdureza juntamente com o resultado da análise química semiquantitativa e, associando, o alto teor de carbono da liga (~5 %) e o diagrama de fase Fe-Cr-C-Nb mostrado na figura 2.27, permite confirmar que estas partículas são carbonetos NbC primários. 69 Figura 4.6- Micrografia ótica da superfície polida da liga CNO. Destaca-se a presença de partículas finas distribuídas aleatoriamente na matriz (fase A). Tabela 4.2- Composição química obtida para fase A, Liga CNO Elemento % Nb 78,77 Ti 2,67 V 0,05 Cr 10,85 Fé 6,43 Figura 4.7- Gráfico EDS obtido da fase A da liga CNO 70 Após o ataque químico, pode-se ver, a partir das figuras 4.8a e 4.8b, a presença de uma grande fração volumétrica de partículas claras predominantemente em forma de agulhas (Fase B). Resultados de microdureza desta fase deram um valor médio de 1403 HV e juntamente com o resultado da análise química semiquantitativa (figura 4.9 e tabela 4.3), pôde-se confirmar que estas partículas são carbonetos M7C3 primários ricos em cromo. A fase NbC, distribuída aleatoriamente, pode ser distinguida em aumento maior (figura 4.8c). É importante notar que estas partículas estão predominantemente rodeadas pela matriz, mas, no entanto, podem também ser encontradas ao longo ou dentro da fase carboneto M7C3 primário (fase B). Figura 4.8 a – Micrografia ótica da liga CNO mostrando carbonetos primários M7C3 em forma de longas agulhas claras e a matriz eutética escura 71 Figura 4.8b. Mesma seção anterior em maior aumento. Presença de alguns carbonetos primários M7C3 na forma hexagonal (indicados por setas) Figura 4.8c Mesma seção anterior em maior aumento. Note a presença de partículas de carboneto MC (fase A) e as agulhas de M7C3 (fase B) na matriz (M). A matriz eutética (M) indica a presença de duas fases sendo uma fase mais resistente ao ataque (provavelmente M7C3 eutéticos finos) e a outra 72 intensamente atacada (provavelmente austenita). O valor de microdureza médio desta região foi de 781 HV. As fases mencionadas acima estão identificadas na figura 4.8c. A figura 4.10 mostra a micrografia da liga CNO observada utilizando microscópio eletrônico de varredura. Esta observação teve como intuito identificar com melhor contraste as fases presentes e tentar identificar fases finas como carbonetos M3C, por exemplo. Como a observação utilizando elétrons secundários proporcionou um contraste inadequado, foi feita a análise microestrutural utilizando elétrons retroespalhados que, por sua vez, produziu um bom contraste. Não foi detectada a presença da fase M3C, o que já era esperado devido ao alto teor de cromo da liga, embora tenha sido prevista na simulação a sua presença em pequena quantidade. Tabela 4.3-Composição química obtida da fase B, liga CNO Elemento % Nb 0,49 Cr 60,01 Fe 38,34 Figura 4.9- Gráfico EDS obtido da fase B da liga CNO 73 Figura 4.10 Micrografia via MEV da liga CNO mostrando as fases em melhor contraste. Pode-se observar que a matriz apresenta duas fases distintas confirmando as observações feitas anteriormente para a figura 4.8c. As partículas NbC aparecem claras indicando a presença de um ou mais elementos com número atômico alto, no caso nióbio, e traços de Ti, Cr e Fe (veja figura 4.7). Pode-se ainda observar que algumas destas partículas NbC estão dentro dos carbonetos M7C3 . Com relação aos carbonetos M7C3, apesar de majoritariamente se apresentarem na forma de agulha, pode-se notar pela figura 4.8b a sua presença, mesmo que pequena, na forma hexagonal; o que indica o crescimento destes carbonetos também na direção longitudinal da amostra. Os resultados da análise de imagem para determinação da fração volumétrica de cada fase presente na liga CNO é mostrada na tabela 4.4. Os resultados mostram que a fração volumétrica média da fase carboneto M7C3 é aproximadamente 40%; da fase NbC é de 6,8% e da fase austenita aproximadamente 53% e apresenta uma boa concordância com os valores teóricos apresentados na figura 4.5. 74 Tabela 4.4- Fração volumétrica das fases presentes na liga CNO. Função Fase Estatística M7C3 Austenita Unidade µm % µm Contagem 15 15 Média 114837,26 Desvio 8427,55 2 Area Fase Area Fase Area NbC % µm 15 15 15 15 39,66 155127,72 53,57 4997,96 6,77 2,91 8427,55 2,91 636,29 0,89 2 2 % Padrão 4.3. Liga 750 4.3.1. Solidificação da liga A seqüência de solidificação da liga 750 é mostrada na figura 4.11. Por esta figura pode-se notar que a primeira fase sólida a aparecer durante o resfriamento da liga é a fase MC; a qual precipita do líquido em aproximadamente 2302 ºC. A fração volumétrica de MC aumenta gradualmente numa faixa de temperatura de quase 990 ºC até a liga atingir a temperatura de 1316 ºC. A solidificação prossegue com a formação de austenita a partir de 1316ºC e juntamente com a fase MC permanece como fases sólidas presentes no líquido até 1201 ºC onde se inicia a formação de M7C3. A partir de 1201ºC, com a fração volumétrica de líquido remanescente em aproximadamente 85%, ocorre uma precipitação intensa de austenita e mais M7C3 segundo a reação eutética citada anteriormente e não é esperada a formação de mais MC abaixo desta temperatura. Em 1141ºC, com a fração em peso do líquido remanescente em aproximadamente 25%, é prevista a formação de M3C junto com mais austenita. De acordo com as projeções liquidus mostradas nas figuras 2.26 e 2.27, esta formação de M3C e mais austenita em aproximadamente 1141 ºC até aproximadamente 980 ºC é resultado da reação peritética em U2 e descrita como: L + M7C3→ M3C (2) 75 Figura 4.11- Resultado da simulação Scheil mostrando a solidificação da liga 750 sob condições fora do equilíbrio. Na simulação ilustrada na figura 4.11, não foi prevista a formação de qualquer fase carboneto contendo vanádio, embora este elemento seja um forte formador de carboneto e o seu teor na liga (~2,4%) considerável. Isto é, provavelmente, devido à presença de um teor elevado de Nb (~10 %) no líquido que, por ser um formador de carboneto mais forte, absorve uma grande quantidade de carbono durante uma faixa grande de temperatura, diminuindo a possibilidade de se formar carbonetos de vanádio. Além disso, o vanádio tende a apresentar alguma solubilidade na austenita e em carbonetos ricos em Nb e Cr. Isto pode ser confirmado através análises químicas semiquantitativas por microscopia eletrônica de varredura. A partir dos resultados obtidos na simulação Scheil, a solidificação da Liga 750 pode ser resumida da seguinte forma: L 2302 ºC L + MC L + MC + γ + M7C3 1316 ºC 1141 ºC L + MC + γ L + MC + γ + M7C3 + M3C 1201 ºC 76 A figura 4.12 ilustra a proporção das fases termodinamicamente estáveis após a solidificação da liga 750 e por esta pode-se observar que, ao término da solidificação, a fração em peso calculada de carbonetos MC é de aproximadamente 11%, de M7C3 total de 17%, de austenita 60,5% e de M3C 11,5%. Figura 4.12- Fração volumétrica das fases de equilíbrio calculada da liga 750 em função da temperatura. 4.3.2. Microestrutura A figura 4.13 mostra o perfil de difração de Raio X da liga 750 (veja Apêndice- tabela B1). Embora o pico de maior intensidade (2θ ≅ 44,5º) tenha sido detectado como uma liga Fe-Cr, ao analisar as distâncias interplanares desta liga e da austenita comum, pode-se sugerir que esta fase é a austenita “alto cromo” que compõe a matriz. A fase M7C3, prevista na simulação também não foi detectada no difratograma. No entanto, há a ocorrência de um pico também identificado como uma liga Fe-Cr (2θ ≅ 82º) e que dentre as fases possíveis de acordo com a distância interplanar, se acha a fase M7C3. Note também que não foi detectada a presença de VC. Provavelmente, o vanádio foi distribuído na matriz e em outros carbonetos presentes na microestrutura, não 77 formando carbonetos primários. Todas estas observações podem ser confirmadas na avaliação microestrutural e com microanálises via MEV. Figura 4.13. Difratograma de raio X da camada superior da liga 750. A avaliação microestrutural da superfície polida da liga 750, por microscopia ótica, revelou a presença de partículas distribuídas aleatoriamente na matriz na forma de pequenas dendritas e de partículas bem finas mais arredondadas (veja figura 4.14). A fim de se ter uma avaliação microestrutural mais minuciosa destas partículas foi feita também uma observação desta mesma superfície polida utilizando microscopia eletrônica. A micrografia é mostrada na figura 4.15. A imagem revelou a presença de três fases: uma fase clara denominada A na figura, a qual é enriquecida com um ou mais elementos de número atômico alto; uma fase mais fina cinza escuro, denominada B na figura e a fase matriz C cinza claro. Após o ataque, a característica mais importante observada na liga 750 é a presença de ilhas de eutético distribuídas na matriz. O eutético pode ser visto na micrografia ótica mostrada na figura 4.16 e, mais claramente, nas micrografias obtidas por MEV apresentadas na figura 4.17 (fase denominada D) e na figura 4.18. 78 Figura 4.14. Micrografia ótica da superfície polida da liga 750. Note partículas distribuídas aleatoriamente pela matriz. Figura 4.15. Micrografia eletrônica da superfície polida da liga 750 mostrando três fases distintas. (A) NbC, (B) M3C e (C) matriz austenítica 79 4.16. Micrografia ótica da liga 750 após o ataque. Presença de ilhas de um eutético. Figura 4.17. Micrografia eletrônica mostrando a presença da Fase D na matriz da liga 750 80 Figura 4.18. Micrografia eletrônica mostrando a fase D em detalhe. Liga 750 Pelas microestruturas observadas por MEV pode-se assumir que a fase mais clara “A” são carbonetos NbC devido ao contraste atômico (o Nb é o elemento com maior coeficiente para elétrons retroespalhados) e devido às diferenças morfológicas da fase. Embora microanálises EDS não permitam uma medida quantitativa confiável do carbono, os resultados obtidos mostraram que estas partículas contem aproximadamente 64% Nb, sugerindo que as mesmas são realmente carbonetos NbC (veja tabela 4.5 e figura 4.19). Pode-se verificar também que uma quantidade considerável de vanádio é dissolvida nestas partículas além da presença de traços de cromo, ferro e titânio. As áreas cinza escuro e cinza claro, denominadas B e C respectivamente (veja figura 4.15 e 4.18), provavelmente representam a fase M3C e a matriz austenítica. Esta consideração está de acordo com a posição da liga nas curvas liquidus mostradas nas figuras 2.26 e 2.27. Resultados de microanálise mostrados na figura 4.20 e na tabela 4.6 indicam que a fase B contém aproximadamente 13% Cr e uma alta concentração de ferro (~ 65%); o que sugere que esta fase é mesmo M3C. Deve-se também notar que a máxima solubilidade de cromo no M3C é 15%, suportando a consideração acima. Os resultados também mostraram que o vanádio foi dissolvido nesta fase em 81 quantidade considerável embora menor do que aquela dissolvida nos carbonetos NbC. Resultados mostrados na figura 4.21 e tabela 4.6 sugere que a fase C é austenita com um alto teor de cromo (aproximadamente 20%). Resultados de microanálise obtidos para a fase eutética D (veja figura 4.22 e tabela 4.6), mostraram que esta fase contém uma grande quantidade de cromo (~50%) e ferro (~36%) sugerindo a presença de carbonetos M7C3. Novamente, pode-se notar a presença de vanádio nesta fase. A partir dos resultados de análise semiquantitativa EDS mostrados pode-se observar que o vanádio preferencialmente se distribuiu para as fases, principalmente para as fases carboneto NbC e M3C. Devido à dificuldade de se obter um bom contraste entre todas as fases após ataque das amostras com os reagentes recomendados (reagente de Villela e de Marble), realizou-se somente a determinação da fração volumétrica da fase ou fases visíveis sem ataque a partir de micrografias óticas semelhantes à figura 4.14. Avaliações da amostra em diversos aumentos e análises EDS sugeriram que duas fases estavam presentes com o mesmo contraste distribuídas numa matriz cinza claro, sendo estas a fase MC (fase A) e fase M3C (fase B). Nesse sentido, o valor obtido de fração volumétrica seria para as duas fases somadas. Tabela 4.5-Composição química da fase A, da liga 750 Elemento % Nb 63,71 Ti 2,53 V 25,42 Cr 3,76 Fe 3,0 82 Figura 4.19 – Curva EDS obtido para a fase A da liga 750 Tabela 4.6-Composição química obtida da fase B, C e D, da liga 750 Fase B C D (%) (%) (%) Si 1,66 1,90 1,10 Nb 1,75 0,96 0,87 V 20,68 4,69 9,98 Cr 13,29 21,81 49,68 Mn 1,28 2,27 - Fe 60,36 67,21 36,27 Ni 0,98 1,16 0,32 Figura 4.20 – Curva EDS da fase B 83 Figura 4.21 – Curva EDS da fase C 4.22 – Curva EDS da fase D Tabela 4.7-Fração volumétrica das fases presentes na liga 750 Função Fase Fase Estatística M7C3 + Austenita MC + M3C % µm 15 15 15 15 Média 58717 79,55 14945,07 20,45 Desvio 1231,95 1,67 975,24 1,32 Unidade µm Contagem 2 2 % Padrão Os resultados mostram que a fração volumétrica média total das fases carboneto MC e M3C somadas é de aproximadamente 20,5%. Ao se somar os 84 resultados teóricos obtidos para estas duas fases, na figura 4.15 (~22,5%), pode-se constatar que os valores estão razoavelmente próximos. Considerando-se este resultado, a composição química da liga e que para as ligas anteriores os valores teóricos e práticos apresentaram uma boa concordância, é razoável assumir que as frações volumétricas reais de cada fase individual acompanham os valores teóricos obtidos na figura 4.12. 4.4. Liga 700 4.4.1. Solidificação da liga A seqüência de solidificação da liga 700, calculada assumindo condições fora do equilíbrio, é mostrada na figura 4.23. A primeira fase a se tornar termodinamicamente estável é MC; a qual precipita do líquido em aproximadamente 2270 ºC. A fração em peso de MC cresce gradualmente até aproximadamente 1866 ºC. A partir desta temperatura é prevista a precipitação gradual de uma outra fase MC’, de composição diferente daquela calculada para a fase MC, juntamente com a formação de mais MC durante uma grande faixa de temperatura (515ºC) até que a liga atinge a temperatura de 1351ºC. A solidificação prossegue com a precipitação massiva de M7C3 entre 1351ºC e aproximadamente1191ºC. A formação de austenita começa em aproximadamente 1191ºC, com 58% de líquido remanescente, e abaixo desta temperatura não é mais prevista a formação de carbonetos MC e MC’. É prevista a formação de M3C entre 1175ºC e 1070ºC juntamente com mais alguma fração de M7C3 e mais austenita. Vale a pena mencionar que o diagrama mostrado na figura 2.27 não prevê a formação de M3C para ligas Fe-Cr-C contendo nióbio e 15% de Cr. A partir dos resultados obtidos na simulação Scheil/MTDATA, a solidificação da liga 700 pode ser resumida da seguinte forma: 85 L 2270 ºC L + MC L + MC + MC’ + M7C3 1866 ºC 1191 ºC L + MC + MC’ L + MC + MC’ + M7C3+ γ 1351 ºC 1775 ºC L + MC + MC’ + M7C3+ γ + M3C Figura 4.23- Resultado da simulação Scheil mostrando a solidificação da liga 700 sob condições fora do equilíbrio. A figura 4.24 mostra as frações volumétricas calculadas para as fases termodinamicamente estáveis após a solidificação da liga 700 e por esta podemos observar que, ao término da solidificação, a fração em peso calculada de carbonetos MC é de aproximadamente 14%, de MC’ 2,0%, de M7C3 25,5%, de austenita 56% e de M3C 2,5%. 86 Figura 4.24- Fração volumétrica das fases de equilíbrio calculada da liga In700 em função da temperatura. 4.4.2. Microestrutura A- Microestrutura do carboneto complexo FeWTiC Para se ter uma melhor compreensão da microestrutura presente na liga 700 é importante conhecer, primeiramente, a microestrutura dos pós de carboneto complexos utilizados como reforço nesta liga; a qual foi estudada por Choo et al [72]. A figura 4.25 é uma micrografia obtida por MEV mostrando o formato do pó destes carbonetos complexos. As características físicas deste pó podem ser encontradas no item 3.2.1. A figura 4.26 mostra o perfil de difração deste pó FeWTiC e pode ser visto que as fases presentes são TiC, WC, W e Ferro α. Embora o perfil de difração mostre que uma das fases formadas seja TiC, resultados de microanálises realizadas por Jiang et al [60], em pós semelhantes mostraram que o carboneto mais provável seja (TiW)C. 87 Figura 4.25- Micrografia via MEV do pó FeWTiC. Figura 4.26- Perfil de difração de Raio X do pó FeWTiC. A figura 4.27 (a) e (b) mostram a microestrutura do pó de carboneto FeWTiC em dois aumentos diferentes e por estas podemos notar em várias partes queum núcleo cinza escuro (indicado por setas na figura 4.27a) está rodeado por áreas cinza claro (figura 4.27b). Resultados de microanálise nestes pontos mostraram que a área do núcleo é um carboneto rico em titânio e que a área externa é um carboneto contendo mais tungstênio do que titânio. 88 Segundo Jiang et al [60], provavelmente, durante a síntese do pó, a fase TiC formou-se primeiro e agiu como um sítio de solidificação do carboneto (TiW)C mais rico em W nos arredores. Figura 4.27- Micrografia via MEV mostrando a microestrutura do pó FeWTiC em diferentes aumentos. B- Microestrutura da Liga 700 A figura 4.28 mostra o perfil de difração de Raios X da liga 700 (veja apêndice-tabela B2). Além dos picos de austenita e M7C3, pode-se notar também picos de alta intensidade de NbC e TiC muito próximos e a ausência de WC. O W, tal como o V, tende a se distribuir na matriz e nos outros carbonetos presentes, não formando assim carbonetos primários. Embora os picos mostrem a presença de NbC e TiC puros, isto é pouco provável, e estes deverão ser distinguidos através de microanálise por MEV. Pode-se observar também que a fase M3C, aparentemente, aparece em um pico muito próximo ao da austenita em 2θ ≅ 89º (veja Apêndice- tabela B2). As figuras 4.29 e 4.30 mostram micrografias óticas da superfície polida da liga 700 e por estas pode-se notar a presença de dendritas finas e pequenos “esferolitos” distribuídos aleatoriamente na matriz bem como a presença de partículas relativamente grandes. 89 Figura 4.28. Difratograma de raios X da camada superior da liga 700. Resultados de microanálise destas partículas grosseiras (figuras 4.31a e b e na tabela 4.8), revelaram que estas são carbonetos TiWC não dissolvidos na matriz durante a fusão. Estas partículas (Fase A na figura 4.30) apresentaram as mesmas características apresentadas pelo pó e citadas anteriormente no item A, ou seja, o Ti aparece em maior quantidade no centro da partícula enquanto que o W é detectado em maior quantidade na extremidade. Além disso, pode-se notar que algumas destas partículas apresentam um formato similar ao do pó de FeWTiC antes da fusão por soldagem mostrado na figura 4.25. Ao se comparar a composição calculada teoricamente para fase MC’ (veja Apêndice -tabela B3) e a composição obtida para fase A, pode-se sugerir que a fase A corresponde a fase MC’ prevista na solidificação. Esta fase, provavelmente, já estava presente no líquido em temperaturas acima daquela prevista no modelo para sua precipitação (1866 ºC) e para a precipitação de MC. O ataque da liga 700 (veja figura 4.32) revelou a presença de grandes dendritas de cor clara (fase B) e de uma matriz eutética mais escura (fase M). Pode-se notar também, as pequenas dendritas (Fase C) e os esferolitos (fase D), vistos na figura 4.29, distribuídos aleatoriamente. 90 Figura 4.29. Micrografia ótica da superfície polida da liga 700. Presença de partículas em forma dendritas finas e pequenos esferolitos Figura 4.30. Micrografia ótica da superfície polida da liga 700. Note a presença de partículas grandes (fase A) 91 Tabela 4.8- Composição química da fase A da liga 700 Fase A Centro da partícula Periferia da partícula W 33,02 42,39 P 1,05 0,45 S 0,68 0,73 Ti 62,95 43,04 Cr 0,19 3,34 Fe 1,95 9,79 Figura 4.31 a. Curva EDS da região central da partícula A da liga 700. Figura 4.31 b. Curva EDS da região externa da partícula A da liga 700 92 Apesar destes esferolitos terem se apresentado, na maioria das vezes, distribuídos na matriz, em alguns pontos, foram detectados a presença de “clusters” (figura 4.33) desta fase, sugerindo uma falta de homogeneização da poça de fusão e, conseqüentemente, do metal de solda. Figura 4.32- micrografia ótica mostrando as principais fases presentes após ataque da liga 700 Com o intuito de identificar as fases presentes citadas nas figuras 4.30 e 4.32 e investigar mais minuciosamente a presença ou não de outras fases, foram feitas várias observações utilizando MEV. A micrografia no modo de elétron retro-espalhado da liga 700 (figura 4.34) revelou que a fase C é enriquecida com elementos de número atômico alto; o que foi confirmado por EDS (figura 4.35 e tabela 4.9). Pode ser visto que a fase C é extremamente rica em Ti e Nb e apresenta traços de Cr, Fe e W. Novamente, embora microanálises EDS não permitam uma medida quantitativa confiável dos elementos (principalmente carbono), pode-se assumir que a fase mais clara “C” são carbonetos (TiNb)C devido ao contraste atômico (Nb e Ti são elementos com alto coeficiente para elétrons retroespalhados) e devido às diferenças morfológicas da fase [51]. A comparação qualitativa dos resultados obtidos com a microanálise e a composição química teórica obtida na 93 seqüência de solidificação (veja tabela B2- Apêndice) permite afirmar que esta fase é a fase MC prevista na simulação da solidificação. Figura 4.33- Micrografia ótica mostrando a segregação de partículas de carboneto (clusters) em algumas regiões da liga 700. Resultados de EDS mostrados na figura 4.36 e na tabela 4.9 indicam que a fase B é austenita primária com um teor de cromo de aproximadamente 20%. Resultado de microdureza desta fase deu um valor de aproximadamente 365 HV; o que confirma que a mesma é austenita primária. A composição química da fase M (figuras 4.37a e b e tabela 4.9) obtida em 2 pontos da mesma região mostra que a mesma consiste largamente de Cr e Fe. Estes resultados e a morfologia indicam que esta se trata da matriz eutética γ/M7C3. Ao se comparar os resultados da análise química semiquantitativa da região rica em ferro da matriz e da austenita primária (tabela 4.9) pode-se verificar que a austenita presente no eutético apresenta um teor de cromo mais elevado do que aquele da austenita primária. A figura 4.38a mostra os esferolitos (fase D) presentes na liga. Pode-se notar que o interior e o exterior da partícula são diferentes e mostram um perfil semelhante ao do pó FeWTiC da figura 4.27. O mapeamento EDS destes esferolitos é mostrado nas figuras 4.38b até 4.38g. 94 Figura 4.34. Micrografia via MEV da liga 700 mostrando um melhor contraste entre as fases e a presença das fases D, E e F Tabela 4.9- Composição química das fases presentes na liga 700. Fases B C E F M (γ) M (M7C3) W 2,70 12,38 5,12 25,32 3,60 4,53 Nb 0,80 21,79 1,45 1,12 0,71 1,17 Ti - 58,86 0,46 0,44 - 0,15 Cr 20,38 2,58 50,28 18,76 28,31 49,05 Fe 75,8 2,94 41,00 52,82 67,72 42,43 Ni 0,32 - - - - - Assim como no pó de carboneto FeWTiC, titânio é detectado mais intensamente no interior da partícula. No entanto, diferentemente do esperado devido à constituição do pó, pode-se notar que em vez de W, o Nb é detectado mais largamente nos arredores da partícula. O W aparece distribuído mais homogeneamente no próprio esferolito e mais largamente nas dendritas de carboneto TiNbC (fase C) ficando a matriz eutética (M) com uma pequena parte. Provavelmente, durante a fusão, ocorreu uma substituição do W pelo Nb 95 na constituição do esferolito uma vez que o Nb é um formador de carboneto mais forte do que o W e apresenta uma menor solubilidade no líquido. Além disso, o núcleo estável de TiC da partícula, provavelmente, atuou como um sítio de solidificação de NbC absorvendo parte do Nb presente no líquido e o W, por sua vez, por apresentar maior solubilidade no líquido, difundiu-se para este e a medida que a solidificação prosseguia se redistribuía para as fases sólidas termodinamicamente estáveis já presentes no líquido, dentre estas, os carbonetos NbC. Figura 4.35- Gráfico EDS da fase C da liga 700 Figura 4.36- Gráfico EDS da fase B da liga 700. 96 Figura 4.37 a – Gráfico EDS da fase M (ponto rico em Fe) da liga 700. Figura 4.37b- Gráfico EDS da fase matriz (ponto rico em cromo) da liga 700. Figura 4.38 a- Micrografia mostrando um partícula de carboneto (fase D) 97 Figura 4.38b. Mapeamento EDS do Ti Figura 4.38c. Mapeamento EDS do Nb 98 Figura 4.38d. Mapeamento EDS de W Figura 4.38e. Mapeamento EDS do Cr 99 Figura 4.38f. Mapeamento EDS do Fe Figura 4.38 g. Mapeamento EDS do C Na análise microestrutural com MEV foram identificadas também duas fases muito finas denominadas E e F, conforme mostradas na figura 4.34. Resultados de microanálise mostrados na figura 4.39 e tabela 4.9 indica que a 100 fase E tem composição semelhante à da fase M exceto que esta apresenta mais W em solução. A composição química obtida e a morfologia da fase sugerem que a fase E seja M7C3 primário fino. Chen et al [74], ao comparar ferros fundidos brancos 15% Cr com e sem Nb verificou que o tamanho dos carbonetos primários passou de aproximadamente 50 µm em 0% Nb para 20 µm com a adição de 1,4% de Nb e concluiu que o Nb produz o refinamento dos carbonetos de cromo primários. A figura 4.40 e tabela 4.9 mostra o resultado de microanálise da fase F. Por este resultado podemos ver que a fase apresenta uma grande quantidade de Fe e W e um teor de cromo de aproximadamente 18%. Embora o limite de solubilidade do Cr em carbonetos M3C seja de 15% segundo o diagrama de fases Fe-C-Cr e que a mesma não é prevista na projeção liquidus mostrada na figura 2.27, Berns et al [75], trabalhando com ligas de revestimento duro Fe-CrC com adições de Nb, Ti e B, identificaram a presença da fase M3C com um teor de cromo variando de 18 a 22%. Jiang et al [60] verificaram, recentemente, que o carboneto TiC é um núcleo de solidificação ativo de carbonetos M3C em compósitos TiC/Aços Hadfield e que tal habilidade favoreceria o refinamento de reforços TiWC em compósitos de matriz ferrosa. Nesse sentido, é possível sugerir, a partir dos resultados de Berns et al e das observações de Jiang et al que a fase F muito fina encontrada na liga 700 seja M3C. A fração volumétrica das principais fases identificadas na liga 700 é mostrada na tabela 4.10. É importante ressaltar que o valor de fração volumétrica, apresentado na tabela para as fases “MC e outras fases finas”, foi obtido a partir de micrografias semelhantes a da figura 4.29 e 30. Análises EDS confirmaram que a maioria das partículas vista nesta figura são carbonetos MC. No entanto, observando-se o valor obtido, a composição da liga e os cálculos teóricos mostrados na figura 4.24 (a soma das fases MC, MC’e M3C é aproximadamente 18,5%), aparentemente, além dos carbonetos MC, outras fases foram incluídas. Durante esta caracterização, foi identificada uma fase que apresentou um contraste semelhante ao dos carbonetos MC e que pode ser M3C (fase F). No entanto, devido esta fase ser muito fina e, portanto, de 101 difícil detecção por microscopia ótica mesmo em maiores aumentos, não é possível garantir que esta fase foi contada no resultado da fração volumétrica. Figura 4.39- Gráfico EDS da fase E da liga 700. Figura 4.40- Gráfico EDS da fase F da liga 700. 4.5- Dureza das soldas de revestimento duro As figuras 4.41a até 4.41d mostram o perfil de dureza Vickers ao longo da seção transversal das ligas de revestimento. A dureza das ligas HCO, CNO e 700 permanece razoavelmente constante ao longo da superfície e, principalmente até 5 mm da superfície. Estas ligas apresentaram uma matriz eutética austenita/M7C3. 102 Tabela 4.10- Fração volumétrica das principais fases presentes na liga In 700 Função Fase Area Fase Estatística γ/M7C3 γ primária Unidade µm % µm Contagem 15 15 Média 39566,03 Desvio 432,17 Area Fase Area MC e outras fases finas 2 % µm 15 15 15 15 53,60 18215,76 24,68 16030,61 21,72 0,82 2852,98 3,86 941,12 1,28 2 2 % Padrão Com relação à liga 750, pode-se notar que até aproximadamente 5 mm da superfície a dureza permanece constante em valores médios de 710 HV e caindo em seguida para valores médios de 534 HV onde passa a apresentar um comportamento razoavelmente constante. Esta liga apresentou uma matriz majoritariamente austenítica com a presença de carbonetos M3C finos. Considerando a dureza média das ligas até 5 mm de profundidade, ou seja, nas camadas superiores que estarão efetivamente submetidas a um desgaste severo, a dureza das ligas decresce na seguinte ordem : HCO (793 HV), CNO (763 HV), 700 (747) e 750 (708) HV. Cabe ressaltar que na maioria das aplicações de revestimento, somente 2 ou 3 camadas de metal de solda são necessárias para se obter as propriedades desejadas. Em tais condições, a última camada de solda ainda sofre pequenas alterações microestruturais devido ao efeito da diluição do metal base. No entanto, na recuperação de grandes componentes de moinhos verticais, por exemplo, a deposição ocorre em multicamadas e a dureza da liga nestas condições é relativamente maior devido ao efeito nulo da diluição. Este é o caso das ligas estudadas neste trabalho, as quais são depósitos multicamadas. 103 (a) (b) (c) (d) Figura 4.41. Perfil de dureza das ligas estudadas. 4.6. Efeito da microestrutura sobre a resistência ao desgaste abrasivo As figuras 4.42 e 4.43 fornecem os resultados de desgaste das ligas em baixa tensão (BT) e alta tensão (AT) (apêndice-tabela B4) e a figura 4.44 mostra um gráfico correlacionando o teor de cromo de cada liga com a sua dureza e resistência ao desgaste. O teor de cromo, em vez da fração volumétrica, será a variável utilizada para avaliar a influência dos carbonetos M7C3 nas ligas haja vista que não foi possível determinar a fração volumétrica real destes carbonetos nas ligas 700 e 750. Apesar da maior dureza, a liga hipereutética HCO com aproximadamente 25% de Cr (47% M7C3) apresentou a menor resistência ao desgaste. Isto pode ser atribuído ao lascamento de largos carbonetos M7C3 primários duros e frágeis da matriz mais mole, deixando-a vulnerável ao desgaste abrasivo mais severo (mecanismo de micro-usinagem) [75]. Outros autores [45,77] identificaram outros mecanismos 104 de desgaste que podem atuar na degradação microestrutural destas ligas tais como formação de pites e a ação de sulcamento pelos próprios fragmentos dos carbonetos. Dados compilados de [7] e [73]. Densidade média das ligas em estudo: 0,007595 g/mm3. Figura 4.42. Resultados de teste de abrasão em roda de borracha ASTM G65. Figura 4.43. Resultados do teste de desgaste pino sobre lixa. 105 A liga hipereutética CNO com aproximadamente 22%Cr (38% M7C3), apresentou a melhor resistência ao desgaste a baixa tensão entre as ligas estudadas. Isto se deve a presença de carbonetos NbC finos duros (aproximadamente 7%) distribuídos uniformemente na matriz e a uma menor fração de carbonetos M7C3 primários do que a liga HCO. Segundo Berns et al. [75], a presença destes carbonetos MC mais finos é mais efetivo na melhoria da resistência ao desgaste do que o aumento na fração de carbonetos M7C3 primários ou a largura das partículas de carbonetos eutéticos M7C3. No entanto, se as partículas de carbonetos MC não estiverem distribuídas uniformemente e finamente espaçadas, partículas abrasivas poderão facilmente penetrar na matriz devido ao tamanho relativamente pequeno das partículas MC se comparadas com as partículas M7C3. Figura 4.44. Gráfico de correlação entre resistência ao desgaste abrasivo com o teor de cromo e a dureza das ligas. Resultados de desgaste à baixa tensão, apresentados por Fulcher et al. [45] e Zum Gahr et al. [48], ao estudar o efeito da fração volumétrica de carbonetos sobre o desgaste de ferros fundidos brancos, mostraram que a partir de um dado valor crescente de fração volumétrica de carbonetos M7C3 (~30%), a resistência ao desgaste começa a inverter a tendência e apresentar 106 uma diminuição. Esta queda na resistência ao desgaste, mesmo em baixa tensão, foi atribuída a pites e fragmentações dos carbonetos não devidamente suportados pela matriz. De Mello [46] identificou um comportamento similar em ferros fundidos brancos com adição de 2 a 3% Mo. Tal afirmação é reforçada ao comparar o resultado do desgaste a baixa tensão da liga HCO com os das outras ligas em função da % de cromo na figura 4.44. Nota-se que para as ligas 700, 750 e CNO há uma tendência de melhoria da resistência ao desgaste à medida que o teor de cromo aumenta e, bruscamente, há uma inversão desta tendência para a liga HCO de maior teor de cromo. Isto sugere que a fração de M7C3 na liga HCO ultrapassou o valor ótimo para a melhoria da resistência ao desgaste que pode ser, a partir dos resultados, um valor próximo da fração volumétrica da liga CNO (~ 40%). Cabe ressaltar que este valor está bem próximo do valor ótimo obtido por Noble [9] para ligas semelhantes em diversos aportes térmicos. A liga 750 se diferencia microestruturalmente da liga CNO principalmente pela ausência completa de carbonetos de cromo primário e por apresentar uma matriz composta de austenita e carbonetos mais finos M3C em vez de um eutético γ + M7C3. O eutético γ + M7C3 aparece nesta liga somente na forma de pequenas “ilhas” distribuídas na matriz. As figuras 4.45 e 4.46, mostram gráficos correlacionando a fração de carbonetos finos (carbonetos NbC e M3C) e de austenita com a dureza e resistência ao desgaste das ligas. A liga 750 apresentou uma resistência ao desgaste a baixa tensão bem superior ao da liga HCO, levemente superior ao da liga 700 e levemente inferior ao da liga CNO. Este bom desempenho pode ser atribuído às partículas finas de carbonetos NbC distribuídas uniformemente e mantidas firmemente na matriz devido à sua morfologia favorável e, também, à presença de finos carbonetos M3C bem como de Nb na matriz, os quais contribuíram para o aumento da resistência ao desgaste a baixa tensão da matriz austenítica rica em cromo [74]. Isto está em conformidade com o valor médio de dureza obtido para a matriz austenítica de 810 HV; bem acima da dureza da austenita comum. 107 Figura 4.45. Gráfico de correlação entre resistência ao desgaste abrasivo com a fração volumétrica de carbonetos finos e a dureza das ligas. Figura 4.46. Gráfico de correlação entre resistência ao desgaste abrasivo com a fração volumétrica de austenita e a dureza das ligas. Pode-se notar também pela figura 4.43 que, em altas tensões, o desempenho contra o desgaste da liga 750 foi inferior ao da liga 700 e 108 CNO e bem próximo do desempenho das ligas convencionais HCO. Isto pode ser atribuído à maior fragmentação dos carbonetos NbC devido ao maior atrito com as partículas abrasivas da lixa. A matriz austenítica, mais mole, se desgasta rapidamente deixando estes carbonetos expostos e tornando-os susceptíveis à fratura. Com a deterioração dos carbonetos, a matriz austenítica fica completamente desprotegida e o desgaste se torna mais severo. A liga 700 caracteriza-se por apresentar uma matriz eutética γ + M7C3 com carbonetos bem finos e dispersos, a presença significativa de dendritas de austenita e, principalmente, o reforço de partículas de TiWC. Pode-se notar também a completa ausência de carbonetos de cromo primários grosseiros, apesar do teor de cromo da liga ser de 15%. Segundo Chen et al. [74], a ausência de carbonetos de cromo primários largos em ligas com 15% Cr pode ser devido à influência do Nb no ponto eutético da liga. Foi observado que o Nb desloca o ponto eutético para a direita e, conseqüentemente, a liga pode conter mais carbono e cromo sem o aparecimento de fases primárias frágeis [74]. Esta microestrutura da liga 700 proporcionou um desempenho ao desgaste superior ao da liga comercial HCO e ligeiramente inferior ao da liga CNO e 750 em baixas tensões. Por outro lado, em altas tensões, esta liga apresentou um desempenho superior a todas as outras. Pode-se atribuir a presença dos reforços de carboneto TiWC numa matriz eutética mais resistente a principal causa para melhoria da resistência ao desgaste desta liga 700 a alta tensão (veja figura 4.38a). De certa forma, as partículas reforço, relativamente grandes e bem aprisionadas na matriz, compensaram o efeito de eventuais fragmentações de partículas mais finas de carbonetos TiNbC, e protegeu a matriz eutética de um desgaste mais severo. Resultados de microdureza mostraram que a dureza média da matriz da liga 700 foi 825 HV; o que confirma a sua maior resistência em relação à liga 750. Pode-se observar também que a presença de pequenas quantidades de nióbio na matriz ajuda no aumento da sua resistência. A presença de dendritas de austenita (~25%), de dureza menor (365 HV), influenciou de forma positiva na resistência ao desgaste desta liga proporcionando mais tenacidade a matriz e suporte aos carbonetos finos. Isto 109 está em concordância com estudos realizados por Watson et al [78] que verificou um bom desempenho de soldas de revestimento com uma matriz austenítica, se comparadas com outras matrizes mais frágeis, em ensaios de desgaste a alta tensão. Por outro lado, a menor resistência ao desgaste em baixa tensão desta liga 700 em relação à liga CNO e, principalmente, à liga 750 pode ser atribuída ao efeito das partículas abrasivas de areia na matriz e aos defeitos de soldagem (poros e falta de fusão) presentes nos corpos de prova de desgaste desta liga. Provavelmente, o espaçamento entre as partículas de reforço e entre os carbonetos finos na matriz se mostrou relativamente grande, facilitando a penetração das partículas de areia. Estas partículas de areia, de aproximadamente 200 µm e 950 HV, arrancaram estes reforços deixando a matriz γ + M3C totalmente desprotegida, aumentando o desgaste da liga. Pode-se ressaltar que no ensaio de alta tensão, embora a pressão sobre a superfície de desgaste fosse maior, o tamanho do abrasivo da lixa era bem menor e, por isso, mesmo com um espaçamento grande entre as partículas, a penetração na matriz e a remoção de carbonetos deve ter sido menor, minimizando o desgaste. As saliências provocadas pelas porosidades e pela falta de fusão em alguns pontos na superfície de desgaste (veja figura 4.47c), provavelmente, também contribuíram para uma maior taxa de desgaste a baixa tensão desta liga uma vez que estas saliências facilitam a penetração de partículas abrasivas pontiagudas na superfície do revestimento. Apesar do número de dados da figura 4.45 ser pequeno para se considerar uma tendência, a curva de desgaste a baixa tensão x fração de carbonetos finos (MC, M3C, etc) sugere, tal como para a fração de M7C3 primários grosseiros, que a partir de um dado valor de fração volumétrica de carbonetos finos, a resistência ao desgaste pode parar de aumentar ou até mesmo diminuir. Cabe observar que o tamanho, a morfologia e distribuição destes carbonetos na matriz são completamente diferentes daquela dos carbonetos M7C3 primários. Por sua vez, a curva de desgaste a alta tensão sugere que a resistência ao desgaste aumenta gradativamente com o aumento dos carbonetos finos. 110 O mesmo comportamento também pode ser notado quando comparamos a resistência ao desgaste das ligas com a fração de austenita na figura 4.46. Até um certo valor (~58,5 % austenita), ocorre uma tendência de melhora na resistência ao desgaste a baixa e alta tensão. Acima deste valor ocorre uma diminuição brusca da resistência ao desgaste. A melhora da resistência ao desgaste das ligas com o aumento da fração de austenita até um certo limite, pode ser atribuída à capacidade da austenita, mais tenaz, de absorver mais facilmente a tensão gerada durante o desgaste, reduzindo a formação de trincas e minimizando o crescimento das trincas já formadas, conseqüentemente, diminuindo o lascamento superficial. Além disso, a austenita suporta os carbonetos mais eficazmente minimizando o seu arracamento. Por outro lado, quando a quantidade de austenita torna-se elevada na matriz, ocorre uma redução significativa da dureza da matriz, facilitando a penetração das partículas abrasivas e o mecanismo de microusinagem, acentuando o desgaste, principalmente a alta tensão. Contudo, pode-se concluir que o desempenho contra o desgaste das ligas 700 e 750 foram, de um modo geral, satisfatório se comparados com o desempenho das ligas comerciais HCO (a mais usada) e da liga CNO. 4.7. Efeito da microestrutura sobre a tenacidade Todas estas ligas de revestimento duro são susceptíveis às trincas de solidificação (relief check-cracks); as quais aliviam as tensões residuais de soldagem e evitam o desprendimento em camadas (spalling) do revestimento. No entanto, em muitas aplicações onde o componente estará sujeito a algum impacto ou vibração, a presença destas trincas, combinada com a pobre resistência ao impacto destas ligas, muitas vezes, leva à fragmentação completa do revestimento deixando o substrato (componente) exposto ao desgaste severo e reduzindo consideravelmente a sua vida útil. Por isso, se buscam cada vez mais, ligas que apresentem um desempenho adequado ao desgaste e que apresentem alguma tenacidade para absorver impactos leves e/ou vibração. Embora as ligas Fe-Cr-C sejam raramente modificadas com V e W por razão de custo, a adição destes 111 elementos, de forma controlada, pode proporcionar uma boa combinação entre tenacidade e resistência ao desgaste juntamente com Ti e/ou Nb; o que justificaria o uso destes elementos em certas aplicações. Pode ser visto que o V e W, além de formarem carbonetos, podem se dissolver numa matriz austenítica mais tenaz aumentando a sua resistência ao desgaste. As figuras 4.47a até 4.47d mostram a macrografia das seções transversais das ligas em estudo e as figuras 4.48a até 4.48d dos corpos de prova de desgaste das ligas estudadas. Pode-se notar nitidamente a presença das trincas de solidificação em todas as amostras e a presença de defeitos de soldagem mais acentuados na liga 700. A liga HCO (figura 4.47a), com alta fração volumétrica de carbonetos M7C3 primários, apresenta uma maior quantidade de trincas interligadas. Estas trincas aparecem geralmente na interface matriz/carboneto, provavelmente, devido às altas concentrações de tensão nestas regiões [51] (veja figura 4.49). A presença destas trincas combinada com a baixa resistência ao impacto destas ligas, facilita enormemente a fragmentação do revestimento. A liga CNO (figura 4.48b), por sua vez, embora, aparentemente, apresente redução no número de trincas interligadas se comparada com a liga HCO, pode apresentar problemas de fragmentação devido à presença de carbonetos M7C3 grosseiros duros e frágeis, em quantidade relativamente alta, numa matriz eutética. As ligas 700 e 750 (figuras 4.48c e d respectivamente) apresentaram uma menor quantidade de trincas de solidificação do que as ligas comerciais bem como uma menor interligação entre estas, sugerindo uma maior tenacidade. Na liga 750, isto pode ser atribuído à presença de uma matriz austenítica com carbonetos M3C finos e à ausência de carbonetos de cromo primários largos frágeis e quebradiços. Isto está em concordância com Hongsug et al [76] que atribuiu à fratura e remoção de carbonetos M7C3 primários, a redução na tenacidade de ferros fundidos brancos. Em geral, os carbonetos submetidos à abrasão são vulneráveis ao trincamento e formam microtrincas, mesmo em baixas concentrações de tensão. Estas microtrincas se propagam ao longo dos carbonetos vizinhos e reduz a tenacidade à fratura do material [76]. 112 Por outro lado, a presença de carbonetos eutéticos finos homogeneamente distribuídos na matriz melhoraram tanto a resistência ao desgaste quanto a tenacidade a fratura. Hongsung et al atribuíram isto à maior dificuldade de trincamento destes carbonetos. Também verificaram que não houve redução da tenacidade a fratura de um ferro fundido branco com 2 a 3% Mo devido à formação adicional de M2C finos na matriz [76]. (a) Liga HCO (b) Liga CNO (c) Liga 750 (d) Liga 700 Figura 4.47. Macrografia da seção transversal das ligas mostrando as trincas de alívio de tensão. 113 (a) Liga HCO (b) (c) liga 700 (d) Liga CNO liga 750 Figura 4.48. corpos de prova de desgaste mostrando as trincas de alívio de tensão. Com relação à influência da austenita, Lee et al [79], estudando ligas FeCr-C, verificaram que à medida que a fração de austenita aumenta na matriz, a tenacidade aumenta substancialmente enquanto que a resistência ao desgaste permanece razoavelmente constante. 114 Figura 4.49. Trinca de solidificação na interface matriz-carboneto da liga HCO Grande parte do que foi mencionado anteriormente pode explicar a menor quantidade de trincas de solidificação na liga 700 sugerindo uma maior tenacidade desta liga em relação às ligas comerciais. No entanto, analisando a microestrutura da liga 700, a presença de partículas de reforço podem contribuir para uma diminuição da tenacidade, se a matriz não for suficientemente tenaz. Neste caso, as partículas de reforço agiriam como sítios de nucleação de trincas na matriz [72]. Além da necessidade de apresentar uma certa tenacidade para resistir a algum impacto e/ou vibração durante serviço, as ligas de revestimento duro devem ser capaz também de resistir às variações de esforços de compressão durante o processamento de material. Em moinhos verticais, esta variação dos esforços de compressão está diretamente ligada à variação do tamanho e densidade do material a ser triturado. Em indústrias de cimento, por exemplo, se faz necessário a moagem de pedras calcarias porosas ou densas que podem atingir cerca de 30 a 40 cm de diâmetro ou superior. Ensaios de compressão realizados nestas rochas mostraram que as rochas “porosas” podem apresentar uma resistência a compressão máxima de aproximadamente 0,04KN/mm2 enquanto que as densas podem apresentar uma resistência à compressão de 0,11 KN/mm2 [80]. 115 A tabela 4.11 mostra os resultados de ensaio de compressão cíclica das ligas estudadas. Tabela 4.11. Resultados do carregamento cíclico das ligas * Faixa de carga / Ciclos cumulativos até a fratura Tensão de compressão HCO CNO 750 700 31 KN / 1,50 KN/mm 2 17620 17620 17620 17620 38 KN / 1,75 KN/mm 2 27621 27621 27621 27621 45 KN / 2,00 KN/mm 2 36691 36691 36691 27921 52 KN / 2,25 KN/mm 2 45701 45701 45701 - 58 KN / 2,50 KN/mm 2 54711 46171 53431 - 64 KN / 2,75 KN/mm 2 57521 - - - * Faixa de carga = Pmax - Pmin Com relação a estes testes de compressão, é importante destacar que: a) os corpos de prova foram retirados de regiões onde não havia trincas de solidificação e, portanto, a influência das mesmas não foi considerada; b) Embora não apresentasse trincas de solidificação, os corpos de prova da liga 700 apresentavam defeitos como pequenas porosidades e falta de fusão uma vez que houve uma maior dificuldade de soldar esta liga nos parâmetros especificados ; o que não se verificou de forma significativa nos corpos de prova das outras ligas. A maior dificuldade em soldar estas ligas pode ser atribuída à diferença de densidade e condutibilidade térmica pela presença das partículas de carboneto FeWTiC. Pela tabela 4.11 pode-se notar que todas as ligas apresentam uma resistência à compressão cíclica suficiente para suportar as cargas cíclicas envolvidas na trituração de rochas calcárias, por exemplo, na indústria de cimento. Note que a liga 700, aparentemente de menor resistência, suportou 116 tensões de compressão cíclicas quase 20 vezes maiores do que as tensões suportadas pelas rochas densas mais duras. A menor resistência desta liga, embora contenha uma microestrutura mais tenaz, pode ser atribuída à presença das partículas grandes de reforço que atuaram como sítios de nucleação de trincas e, principalmente, ao maior número de defeitos presentes (porosidades e falta de fusão). A liga 750, embora de menor dureza, se mostrou mais resistente à compressão cíclica do que a liga CNO, também com Nb. Já o melhor desempenho da liga HCO pode ser atribuído, não a sua microestrutura, mas principalmente à sua maior resistência à compressão e à ausência quase que completa de defeitos nos corpos de prova desta liga uma vez que esta apresentou uma melhor homogeneização do metal de solda com os parâmetros utilizados. Cabe ressaltar que todas as ligas apresentaram ruptura extremamente frágil durante os testes a ponto de sofrerem total esmagamento, o que sugere que as mesmas nuclearam as trincas e fraturaram em tensões próximas dos seus limites de resistência. Isto pode ser reforçado, se tomarmos a liga HCO como exemplo. Ensaios de compressão monotônicos realizados por Tailoka et al [80] nesta liga HCO, mostraram que a carga de ruptura foi de 62 KN aproximadamente. Este valor é bem próximo do valor da faixa de carga de ruptura desta liga no teste de compressão cíclica. O bom desempenho da liga 750 confirma a boa tenacidade de ligas com a matriz predominantemente austenítica verificada por outros autores e capacita esta liga em aplicações onde envolva impacto e flutuações de carga durante serviço. Embora o seu custo seja bem superior, diante do exposto acima, é possível que a liga 700 tenha uma melhor combinação entre resistência ao desgaste, resistência ao impacto e às cargas cíclicas do que as ligas comerciais desde que haja uma redução nos defeitos de soldagem. 117 4.8. Avaliação dos mecanismos de desgaste A micrografias obtidas por MEV da superfície desgasta da liga HCO são mostradas nas figuras 4.50 e 4.51 revelam que os abrasivos cortam os carbonetos primários. Além disso, não há indícios de qualquer mudança na largura dos sulcos em toda a sua extensão, indicando que os carbonetos se desgastam quase no mesmo nível da matriz eutética nas condições adotadas de teste de desgaste pino sobre lixa abrasiva. Pode-se notar a presença de pites na matriz (figura 4.50) e de micro-trincas interligadas nos carbonetos primários (figura 4.51). Estas micro-trincas nos carbonetos levam à sua deterioração em pequenos fragmentos que, subseqüentemente, agirão como abrasivos, acelerando o desgaste da liga. A superfície desgastada da liga CNO (figuras 4.52 e 4.53) mostram que o abrasivo da lixa corta os carbonetos NbC, aparentemente, em menor extensão do que na matriz uma vez que o sulco reduz ligeiramente a largura quando corta estes carbonetos. A fragmentação dos carbonetos NbC ocorre de forma gradativa até arrancá-los ou levá-los a uma total desintegração. Pode ser observado também microtrincas em carbonetos M7C3 primários e pites tal como na liga HCO. Alem disso, as micrografias sugerem que os carbonetos NbC se sobressaem na superfície ficando mais expostos e protegendo a matriz de um desgaste mais severo. A superfície desgastada da liga 750 (figuras 4.54 e 4.55) mostra que os mecanismos de desgaste predominantes são sulcamento e microusinagem da matriz, provocados pela alta pressão do abrasivo, além da fragmentação de carbonetos NbC. Pode-se notar também micro-trincas na matriz dentro e nas regiões próximas aos sulcos mais profundos; o que sugere que a tenacidade da matriz não foi suficiente para absorver a deformação plástica durante a formação do sulco na mesma pelo abrasivo. Os mecanismos identificados na liga 700 (figuras 4.56 e 4.57) foram formação de pites grandes e bem pequenos na matriz, provavelmente, devido ao arrancamento de partículas de carboneto e sulcamento. Pode ser visto que as partículas de carboneto foram cortadas pelo abrasivo, porém, em menor 118 extensão do que na matriz, haja vista que a largura do sulco diminui quando passa da matriz para uma região de maior concentração de partículas de carboneto. Aparentemente, as partículas de carboneto ficam expostas na superfície devido ao desgaste mais rápido da matriz. Figura 4.50. Superfície de desgaste da liga HCO Figura 4.51. Idem a anterior em maior aumento. Note a presença de microtrincas no carboneto primário M7C3 119 . Figura 4.52. Superfície de desgaste da liga CNO Figura 4.53. Mesma superfície em maior aumento. Pode-se notar microtrincas nos carbonetos M7C3 primários (canto inferior esquerdo) e carbonetos NbC fragmentados, liga CNO 120 Figura 4.54. Superfície de desgaste da liga 750 Figura 4.55. Idem a anterior em aumento maior. Nota-se carbonetos NbC fragmentados, sulcamento profundo da matriz com pequenas trincas nos arredores. Liga 750 121 Figura 4.56. superfície de desgaste da liga 700. Presença de pites grandes e pequenos indicando remoção de partículas e ligeira descamação Figura 4.57. Idem a anterior em maior aumento. Estreitamento do sulco quando passa da matriz para uma região de maior concentração de partículas. 122 123 5- CONCLUSÕES 1- O presente estudo mostrou que a liga 750 apresentou uma melhor combinação entre tenacidade e resistência ao desgaste abrasivo, principalmente a baixa tensão, em relação às ligas comerciais HCO e CNO. Isto pode ser atribuído à presença de carbonetos NbC finos distribuídos uniformemente numa matriz eutética composta de austenita e M3C bem como a ausência de carbonetos de cromo primários grosseiros. Devido a isto, esta liga se torna promissora para aplicações em componentes de moinhos verticais que, em serviço, apresentem condições de impacto leve e vibrações. Além disso, o custo de fabricação desta liga é relativamente mais baixo do aquele para a fabricação da liga CNO e 700. 2- A liga 750, por outro lado, apresentou como desvantagem, uma resistência ao desgaste a alta tensão relativamente baixa em relação às ligas CNO e 700, devido ao efeito de lascamento e deterioração dos carbonetos NbC, deixando a matriz desprotegida de um desgaste mais severo. É interessante buscar um ajuste fino da composição para se ter uma melhora da resistência ao desgaste à alta tensão. 3- A utilização de carbonetos complexos FeWTiC como reforço numa matriz eutética γ + M7C3 na liga 700 resultou numa microestrutura com boa resistência ao desgaste abrasivo a baixa tensão e alta tensão, sendo esta última bem superior ao das outras ligas, nas condições de teste adotadas. 4- Análises microestruturais da liga 700 mostraram que carbonetos arredondados (esferolitos), com um núcleo de TiC rodeado predominantemente por NbWC estavam distribuídos aleatoriamente na matriz e protegeram a matriz de um desgaste mais severo. Embora estes carbonetos tenham apresentado uma morfologia semelhante à do 124 pó, houve uma substituição de W por Nb na distribuição dos elementos no carboneto. Pôde-se observar também a presença de partículas não dissolvidas de carboneto FeWTiC que apresentou a mesma característica do pó adicionado. 5- Embora as partículas de reforço tenham melhorado a resistência ao desgaste da liga 700, o mesmo não ocorreu qualitativamente com a tenacidade. Estas partículas, provavelmente, atuaram como sítios de iniciação e propagação de trincas, e contribuíram negativamente para uma melhoria da tenacidade da liga. No entanto, as cargas cíclicas suportadas pela liga 700 são bem maiores do que a resistência à compressão de rochas densas. 6- É possível sugerir também que há uma fração ótima de carbonetos complexos para se ter uma boa combinação entre tenacidade e resistência ao desgaste. Cabe ressaltar que a liga 700, potencialmente, pode apresentar tenacidade maior do que as ligas HCO devido à maior presença de austenita (56%) na sua microestrutura tanto na forma de grandes dendritas quanto na matriz eutética além da presença dos carbonetos MC finos distribuídos aleatoriamente na matriz. 7- O fraco desempenho da liga 700 sob compressão cíclica pode ser atribuído, principalmente, a maior presença de defeitos de soldagem tais como porosidade e falta de fusão nestas ligas. 125 6- SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 1- Retirar o Nb da liga 700 uma vez que este elemento tem um comportamento similar ao Ti. Aumentar a quantidade de pó de carboneto adicionado de 20% para 50% de tal forma a se ter uma maior fração deste pó na liga bem como aumentar o teor de Ti do pó de 29 para 32 %. Também, reduzir o teor de carbono da liga (4 a 5%). Isto pode proporcionar também uma redução de custo de ligas elaboradas com este pó. 2- Substituir parte da adição de cascas de arame de aço inoxidável por pó de ferro na liga 700 para melhorar a homogeneização da poça de fusão e do metal de solda, bem como diminuir a falta de fusão. 3- Com relação à liga 750, aumentar ligeiramente o teor de cromo de 8,5 para 10 a 12% a fim de se ter uma maior fração de carbonetos de cromo eutéticos finos na matriz visando uma melhoria da resistência ao desgaste a alta tensão. Pode-se também diminuir o teor de carbono da liga para se ter uma matriz martensítica; o que pode contribuir para um aumento da resistência ao desgaste a alta tensão. 4- Fazer o depósito da liga 700 com diferentes parâmetros de soldagem a fim de determinar os valores ótimos de corrente, tensão e velocidade de soldagem para se ter uma melhor fusão e homogeneização do metal de solda da liga 700 e reduzir a segregação de partículas. 126 127 7- REFERÊNCIAS 1. 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A distribuição dos componentes durante a solidificação para o líquido e para o sólido pode ser facilmente prevista. Os resultados podem ser mostrados tanto em função de mudanças na concentração de fases quanto em função da temperatura ou a fração do líquido solidificado. Para utilização deste módulo no Mtdata o usuário tem de definir o tamanho do passo de cálculo em termos de quantidade de líquido solidificado. Portanto, se o parâmetro escolhido for 10%, a macro calcula a temperatura na qual 10% da solidificação já ocorreu, e as composições do sólido e do líquido nesta temperatura. Em seguida, elimina-se a composição do sólido e usa a nova composição do líquido para calcular em qual temperatura os próximos 10% do líquido irá se solidificar. Novamente calcula a nova composição do líquido nesta temperatura e assim por diante. Os cálculos continuam até a solidificação estar completa. O exemplo abaixo ilustra o uso da macro para estudar a solidificação da liga HCO: - Define-se o sistema usando o banco de dados para soluções e substâncias puras: Application option? Def sy ‘Fe,Cr, C’ source plus sub_sgte! Nota: À medida que a solidificação prossegue, o líquido fica mais rico e deve-se ter mais atenção para assegurar que os banco de dados são confiáveis para uso. - Então, abre-se a macro; Application c:/opt/mtdata/bin/tscheil.mac (sem exclamação) option? 136 - Agora a macro requer do usuário os dados de entrada: Enter temperature step size (eg 1)? :1 Enter number of liquid phase? :2 ( número da fase líquida gerado automaticamente pelos bancos de dados) Enter number of terminating phase :0 ( Implica no término da solidificação Enter terminating % loss of liquid? :99,99 Enter maximum number de steps? :100 Enter <minimum, maximum, tolerance> for temperature/K? :500 1600 0.1 application option? set w 100! (fração em peso: 100%) application option? set w( ) amount/Kg of Fe:u amount/Kg of Cr:24.5 amount/Kg of C:4.85 set what?! Application option? comp! (cálculo das temperaturas e das fases formadas) Application option? plot go (geração do gráfico de solidificação) Application option? utc! (muda a temperatura de Kelvin para Celsious) Application option? abs temp sys! (plotar temperatura no eixo x) Application option? ord user solid_mass! (ter a % sólido no eixo y) Application option? Ord user all(mass)! (ver as mudanças nas concentrações totais de fases a medida que a solidificação prossegue) Application option? ret (finalizar a macro). 137 APENDICE B TABELAS Tabela B1 – Comparação entre os espaçamentos d{h,k,l} das fases presentes e possíveis na liga 750 (valores de 2θ e d{h,k,l} aproximados adotados) Liga 750 2θ d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} (grau) (Å) NbC γ α M7C3 M3C Fe-Cr Fe-Cr-Ni M2C 35,40 2,5375 2,54034 … … … … … … … 37,35 2,4094 … … … … 2,38818 … … 2,42500 41,00 2,2029 2,2000 … … … … … … … 42,90 2,1090 ... 43,50 2,0819 ... 2,0800 43,80 2,0684 ... ... 44,50 2,0375 2,0800 50,70 1,8019 1,8000 59,40 1,5571 64,90 1,4378 71,30 1,3237 1,32665 74,60 1,2731 1,27017 1,2700 82,20 1,1736 82,45 2,10737 2,1130 2,06777 2,06700 2,0400 2,03500 2,0280 1,4600 1,4380 1,4341 1,1780 1,1743 1,1706 1,1707 1,1780 1,1743 1,1706 98,50 2,0367 2,0400 2,03500 2,0280 116,40 0,9083 2,0268 1,5556 1,32993 0,9095 0,9068 Obs: valores em negrito foram adotados em função das proximidades dos valores de d {h,k,l} ou pela maior intensidade relativa ou ambos 138 Tabela B2 – Comparação entre os espaçamentos d{h,k,l} das fases presentes e possíveis na liga 700 (valores de 2θ e d{h,k,l} aproximados) Liga 700 2θ d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} d{h,k,l} (grau) (Å) NbC γ α M7C3 M3C Fe-Cr TiC Grafita 26,30 3,3912 35,30 2,5445 2,54034 36,00 2,4966 39,40 2,2942 41,00 2,2029 41,80 2,1626 42,80 2,1144 44,45 2,0375 2,0800 50,45 1,8119 1,8000 52,10 1,7536 59,30 1,5595 60,40 1,5337 64,50 1,4458 71,40 1,3221 72,30 1,3078 74,20 1,2789 75,30 1,2630 1,27017 76,20 1,2503 82,00 1,1759 88,90 1,1017 89,80 1,0929 94,90 1,0464 98,40 1,0192 1,0170 116,10 0,9092 0,9095 3,3950 2,49866 2,3000 2,2000 2,1639 2,1200 2,0268 2,03500 2,0400 1,7400 1,5556 1,53011 1,4372 1,4380 1,3266 1,3048 1,2700 1,2593 1,2493 1,1743 1,1780 1,10757 1,0830 1,10757 1,0370 Obs: valores em negrito foram adotados em função das proximidades dos valores de d {h,k,l} ou pela maior intensidade relativa ou ambos 139 Tabela B3- Composição química teórica das fases MC e MC’ – Liga 700 próximo das temperaturas de precipitação calculada pelo MTDATA. Phase CTiW (Mass) CTiW (Mole) CTiNb (Mass) CTiNb (Mole) Component MC’ MC’ MC MC Fe 3.3300590E-04 5.9628252E-03 6.6798889E-03 1.1961052E-01 Cr 0.0000000E+00 0.0000000E+00 2.3988420E-03 4.6135125E-02 W 9.3280856E-03 5.0737478E-02 6.4361658E-03 3.5007700E-02 Nb 0.0000000E+00 0.0000000E+00 9.3769127E-02 1.0092860E+00 C 2.5549237E-02 2.1271532E+00 2.5578120E-02 2.1295579E+00 Ti 5.0194389E-02 1.0483372E+00 6.0696014E-02 1.2676694E+00 Mn 0.0000000E+00 0.0000000E+00 8.3137423E-05 1.5132954E-03 Si 0.0000000E+00 0.0000000E+00 3.1158859E-07 1.1094287E-05 Tabela B4 Valores médios de perda de massa, perda de volume e densidade das ligas Desgaste Abrasivo Roda de Borracha Liga Perda de massa Densidade Perda de volume 3 3 Média (g) g/mm Média (mm ) HCO 0,13 0,00755 17,2 CNO 0,09 0,00755 11,9 750 0,10 0,00758 13,2 700 0,11 0,00770 14,3 Desgaste Abrasivo Pino sobre Lixa Liga Perda de massa média (g) Densidade 3 3 Perda de volume média (mm ) 200 400 600 (g/mm ) 200 400 600 HCO 0,0040 0,0070 0,0097 0,00755 0,53 0,93 1,29 CNO 0,0031 0,0056 0,0078 0,00755 0,41 0,74 1,03 750 0,0039 0,0080 0,0097 0,00758 0,52 1,06 1,28 700 0,0020 0,0035 0,0046 0,00770 0,26 0,46 0,60