II WORKSHOP DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS DO PROPEMM – IFES, VITÓRIA-ES, 30-31 AGOSTO DE 2012 INFLUÊNCIA DA NITRETAÇÃO A PLASMA NA RESISTÊNCIA AO DESGASTE MICROABRASIVO DO AÇO API 5L X- 70 Maria da Conceição Rocha Lima Cesconetto1*,Adonias Ribeiro Franco Junior2, Estéfano Aparecido Vieira2 1 Aluna de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica e de Materiais do Instituto Federal de Educação do Espírito Santo-IFES, Vitória-ES 2 Professor Doutor dos Cursos de Mestrado e Engenharia Metalúrgica e de Materiais – IFES [email protected] Resumo: A nitretação por plasma pulsado tem sido largamente utilizada em muitas aplicações industriais por apresentar melhora nas propriedades mecânicas e tribológicas. Neste trabalho será estudada a influência da temperatura e do tempo de nitretação na microestutura e resistência ao desgaste microabrasivo do aço API 5L X-70. Os corpos de prova serão nitretados em um equipamento de nitretação a plasma pulsado nas temperaturas de 4l0, 440 e 470ºC, a uma pressão de 4,5 mbar (450 Pa), por tempos variáveis de 1 , 3, e 5 horas. Será utilizado uma mistura gasosa de 90% vol. H2 e 10% vol. N2. As propriedades das camadas nitretadas obtidas nas amostras serão avaliadas por meio de microdureza superficial, análise microestrutural, difractometria de raios X e ensaio de resistência ao desgaste microabrasivo do tipo esfera livre. Os resultados pré-liminares mostram que para uma temperatura fixa de 440ºC para todos os tempos de tratamento, houve um endurecimento superficial e um aumento significativo da resistência ao desgaste microabrasivo em relação ao material não nitretado. A espessura da camada nitretada aumenta com o tempo. O melhor resultado para nitretação com a temperatura de 440ºC foi obtido com tempo de tratamento de 1 hora. Neste caso o aumento da dureza superficial foi de 95% e a resistência ao desgaste microabrasivo foi de 54 %. Este aumento da dureza pode estar relacionado com a alta concentração de nitrogênio na rede cristalina do ferro-α que proporciona maior distorção do reticulado dificultando a formação de nitretos e o movimento de discordâncias. Palavras chave: Nitretação a plasma pulsado, aço API 5L X-70, desgaste microabrasivo. ABSTRAT: The pulsed plasma nitriding has been widely used in many industrial applications to provide improvements in mechanical properties tribology. In this work we will study the influence of temperature and time of nitriding on micro-structure and micro-abrasive wear resistance of the nitride layers formed in API 5L X-70 steel. The samples will be nitrided in an pulsed plasma nitriding equipment for temperatures of 410, 440 and 470ºC whit a pressure of 4, 5 mbar (450 Pa). The nitriding times will be 1, 3 and 5 hours. A mixture of 80% vol. H2 and 20% vol. N2 will be used. The properties of the layers obtained in the samples will be measured. Will be done micro hardness, micro structural analysis, X-ray diffractometry and wear resistance test. Preliminary results shows that to a fixed temperature of 440ºC in all the times of treatment, there were a tightening surface and significant increase in the resistance to micro-abrasive wear when compared to the non-nitride material. However, the best result for nitriding to 440ºC was treatment of one hour. In this case the increase in surface hardness was 95% and the resistance to micro-abrasive wear was 54% higher. The increase of hardness may be associated whit high concentration of nitrogen in the crystalline lattice of α-iron which gives strong distortion of the structural system avoiding nitride formation and dislocation movement. KEY Words: Pulsed plasma nitriding, tool steel API 5 X-70, micro abrasive wear. 1 II WORKSHOP DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS DO PROPEMM – IFES, VITÓRIA-ES, 30-31 AGOSTO DE 2012 1. Introdução 2. Materiais e métodos Na indústria de petróleo são muito utilizados tubos confeccionados em aços microligados para atendimento à norma API 5L grau X. Esta norma, de fabricação de tubos para condução de fluidos em “pipelines”, especifica composição química a base de elementos micro ligantes, cuja tensão limite de escoamento varia de 42 Ksi (288 MPa) a 80 Ksi (549 MPa), X-42 a X-80 [1]. Os aços utilizados especificamente na fabricação de tubos para linhas de transmissão (transferência e transporte de petróleo e gás natural) e transporte de minério seguem a classificação API 5L (Specification for Line Pipe Steel) [2]. Muitas vezes estes tubos são utilizados também em aplicações estruturais como em tubo de revestimento de poço (“casing” de “risers”) de perfuração de petróleo. Hastes de perfuração de poços, em aplicações submarinas com proteção catódica em alta pressão ou em meios corrosivos contendo H2S [3]. Estes aços devem possuir alta resistência, boa tenacidade a baixas temperaturas e boa soldabilidade. O baixo teor de carbono, o qual é compensado pela adição de elementos microligantes que mantém a resistência mecânica, melhora a soldabilidade e aumenta a tenacidade [4]. Os materiais que atendem a estas características são os aços microligados de alta resistência e baixa liga (ARBL) submetidos a tratamentos termomecânicos controlados, processo conhecido como laminação controlada, a qual incorpora na sua rota de produção conceitos como endurecimento por precipitação, refino de grão e adição de elementos microligantes associados a diferentes escalas de passes de temperaturas de laminação [5]. Nos dias atuais, a perda de peças metálicas devido à ação do desgaste tem preocupado engenheiros e metalúrgicos que tentam criar, aperfeiçoar e desenvolver novas ligas e meios de proteção para os materiais Assim, tem-se a necessidade em se conhecer o comportamento dos aços API 5L X-70. Neste estudo será utilizado um tubo de aço API 5L X-70, de 24” de diâmetro, 0,812” de espessura e cerca de 1 metro de comprimento, fabricado para a implementação da obra do gasoduto de Camarupim, no Espírito Santo. O tubo foi fabricado pelo processo UOE pela empresa Tenaris-Confab através de chapas produzidas pela Usiminas pelo processo de laminação controlada sem resfriamento acelerado. A Tabela 1 mostra a composição química do material que será utilizado neste estudo e foi determinada através do espectrômetro de emissão ótica da marca Oxford instruments, modelo Foundry-Master Pro localizado no instituto federal de educação, ciência e tecnologia do Espírito Santo (IFES). Tabela 1. Composição química do aço API 5L X-70 estudado. C 0,100 Mo 0,003 Mn 1,630 Cr 0,025 Si 0,150 Ni 0,160 Ni 0,050 Cu 0,015 Vn 0,035 P 0,020 Ti 0,020 S 0,004 2.1. Preparações dos corpos de prova O tubo foi seccionado longitudinalmente por meio de um maçarico onde foi retirada uma chapa de 0,160 x 1 m que foi fracionada na serra em pequenos tiras de 16 cm Após isto, destas tiras foram retiradas transversalmente amostras de aproximadamente 30 x 20 x 4 mm, tomando-se o cuidado de retirar a parte afetada pelo calor do maçarico. Para prepara a superfície a ser nitretada, as amostras foram lixadas usando-se lixas de Carbeto de Silício de grana 80 até 1000. 2.1.2. Análise Metálográfica Para as diversas etapas do trabalho foram feitas análise metalográfica com o objetivo de registrar as microestruturas obtidas. A amostra inicial sem nitretar foi preparada da mesma 2 II WORKSHOP DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS DO PROPEMM – IFES, VITÓRIA-ES, 30-31 AGOSTO DE 2012 maneira descrita no item anterior, porém, posteriormente foram polidas com alumina 0,5 e 0,3 µm e atacadas com o reagente químico Nital 2% durante 5 segundos seguindo a norma ASTM E407 e depois analisadas no microscópio ótico. Para as amostras nitretadas, estas, primeiro foram cortadas perpendicularmente a seção nitretada usando uma máquina de corte de precisão (marca Struers, modelo miniton) em seguida foi feito embutimento a quente com baquelite e por fim as demais etapas de preparação seguiram a mesmas sequências já descritas para as demais amostras. As medidas de microdureza foram realizadas em um microdurômetro, modelo HMV 2000, da Shimadzu com carga de 0,2 Kgf. durante 15 s de penetração e identador Vickers. 3. Resultados e discussões pré-liminares Fez-se a micrografia do aço API 5L X70 antes do tratamento termoquímico de nitretação e esta é mostrada na figura 1. 2.2. Tratamentos Termoquímicos Conforme já explicado, está previsto a nitretação de amostras nas temperaturas de 4l0, 440 e 470ºC, a uma pressão de 4,5 mbar (450 Pa), por tempos variáveis de 1 , 3, e 5 horas. Será utilizado uma mistura gasosa de 90% vol. H2 e 10% vol. N2. Estes tratamentos serão realizados no Laboratório de Engenharia de Superfície e desgaste do IFES em equipamento de nitretação a plasma pulsado da marca SDS modelo Thor NP 5000, com capacidade para nitretar peças de até 50 Kg. Até o presente momento foram feitos os tratamentos para temperatura de 4400C e a caracterização das camadas nitretadas foram feitas por difração de raios-X, microscopia ótica e microdureza Vickers (HV). 2.3 Ensaio de desgaste microabrasivo Com os ensaios de desgaste microabrasivo, foi obtido os valores dos coeficientes de desgaste (K) do material nitretado para cada condição de tratamento. Os ensaios foram realizados em um equipamento de microabrasão do tipo “esfera livre”, da marca csm instruments, localizado no IFES. Figura 1: Microestrutura do aço API 5L X-70 no estado como recebido. Na escala de 50µm. Os aços microligados, hipoeutetóides apresentam microestruturas constituídas de ferrita e perlita. De fato, está confirmada a presença de bandas constituídas de ferrita e perlita, dando, assim, a denominação à microestrutura de ferrita e perlita bandeada. O bandeamento consiste em faixas alternadas de ferrita e de perlita em aços carbono, como os laminados a quente. A figura 2 mostra as micrografias do aço nitretado à temperatura de 440ºC nos tempos de 1, 3 e 5 horas, respectivamente. Na nitretação de 1 hora já se observa uma camada branca contínua e a presença de precipitados em contornos de grão da austenita. Provavelmente, nitretos do tipo γ’ (Fe4N) e ε (Fe2-3N). A figura 3 mostra a análise de difração de raios-X e comprova a presença dos mesmos. 2.4 . Perfil de dureza 3 II WORKSHOP DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS DO PROPEMM – IFES, VITÓRIA-ES, 30-31 AGOSTO DE 2012 Figura 4: microabrasivo percorrida. Figura 2: Micrografias do aço API 5L X-70 nitretado na temperatura de 440ºC nos tempos de: a) 1 hora; b) 3 horas e c) 5 horas. Figura 3: Difratograma de raios-x do aço API 5L X-70 por varios tempos de nitretação. A figura 4 mostra a curva de coeficiente de desgaste microabrasivo em função da distância deslizada. Observa-se que o coeficiente de desgaste tende a estabilizar somente após uma distancia percorrida, “running-in”. Para os ensaios realizados, foi de aproximadamente 199, 201e 187 metros respectivamente para 1, 3 e 5 horas de tratamento em 45 minutos de ensaio. O coeficiente de desgaste do material não nitretado foi igual a 1,9 x 10-12 m2/N. O melhor resultado obtido foi para o tempo de 1h obtendo-se um valor igual a 1,1x10-12 m2/N. Coeficiente em função de da desgaste distância A figura 5 apresenta os perfis de dureza das camadas nitretadas e do aço não nitretado. Pode-se observar que a amostra nitretada tem dureza consideravelmente maior que a do material de base que possui 221 HV. Figura 5: Variação da dureza no topo da camada nitretada do aço API 5L X-70 após a nitretação a 440ºC por diferentes tempos. O perfil de dureza mostrado na figura 5 mostrou que a dureza máxima no topo da camada nitretada é alcançada com um tempo de 3 horas de tratamento obtendo-se 608 HV, e a partir daí é verificada uma ligeira queda da dureza com o aumento do tempo de tratamento. Este fenômeno pode ser explicado pelo engrossamento das partículas. De acordo com Tier et al [6], com o aumento no tempo e na temperatura de nitretação, a quantidade e tamanho dos precipitados aumentam, elevando o valor da dureza superficial. Contudo, depois de certo tempo de tratamento, os precipitados alcançam um valor crítico que resulta na máxima dureza. Excedendo esse tempo de 4 II WORKSHOP DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS DO PROPEMM – IFES, VITÓRIA-ES, 30-31 AGOSTO DE 2012 tratamento, a dureza diminui devido ao adicional aumento do tamanho das partículas precipitadas. Outro fator que também pode influenciar nessa queda de dureza é a descarbonetação superficial que ocorre durante a nitretação a plasma, principalmente quando a camada nitretada não apresenta a camada branca [7 -8]. Dentro da camada branca, tem-se 100% de nitretos enquanto na zona de difusão, que pode ter atingido profundidades acima de 100 µm, se detecta a presença de nitretos . 4. Conclusões parciais Para as condições estudadas, observou-se que o material nitretado apresentou uma maior resistência ao desgaste microabrasivo em relação ao material não nitretado e o melhor resultado obtido foi para 1h a 4400C. Este melhor resultado, não corresponde a amostra com maior dureza. Portanto, outros fatores influenciam nos mecanismos de desgaste. O aumento do tempo de nitretação implica em maior dureza superficial tendendo a estabilidade a partir de 3h. O coeficiente de desgaste microabrasivo diminui para o tratamento de 1h e depois aumenta novamente para os tratamentos de 3h e 5h. Os resultados mostram que existe uma queda mais significativa de 3h para 5h do que de 1h para 3h. Agradecimentos A Petrobras pelo apoio e suporte nos momentos em que foi preciso. Ao Prof. Dr. Estéfano Aparecido Vieira e Prof. Dr. Adonias Ribeiro Franco Júnior pelas discussões e apoio técnico durante as etapas do estudo 5. Referências [1] Specification for Line Pipe, API Specification 5L, American Petroleum Institute, October. 2008. [2] Specification for Line Pipe, API Specification 5L, American Petroleum Institute, October. 2008. [3] SICILIANO F.; Materiais para gasodutos – aços de alta resistência para dutos de transporte de gás e petróleo, Metalurgia e Materiais, v. 64, 208-211, 2008. [4] RAMIREZ, M. F. G.; Estudo da transformação durante o resfriamento continuo e da microestrutura do aço microligado X80 utilizado na construção de tubos para transporte de gás natural e petróleo. Dissertação de Mestrado, USP, São Paulo, SP, 2008. [5] VIEIRA, A. A. H.; Avaliação microestrutural de aços da classe API 5L X-80 submetidos a diferentes ciclos térmicos. Dissertação de Mestrado, PUC rio, Rio de Janeiro, RJ, 2007. [6] TIER, M.A; SANTOS, A. V.; KUHNEN, C.A; STROHAECKER, T.R; KRAUSE, J.C. A study of grain boundary precipitation during plasma nitriding of steel. Surface Modification Technology, v. 5, n.8, 225-231, 2002. [7] EGERT, P.; MALISKA, A.M.; SILVA, H.R.T.; SPELLER, C.V. Decarburization during plasma nitriding. Surface and Coatings Technology, v. 122, n.1, 33-8, 1999. [8] TIER, M. A., KIECKOW, F., STROHAERCKER, T.R., ROCHA, A.S., SANTOS, J.F., BELL. T. Estudo do perfil de carbono na camada nitretada do aço AISI M2.Tecnologia em Metalurgia e Materiais, v.4, n.2 , 6-11, 2007. Os autores agradecem ao Instituto Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo – IFES pela disponibilidade dos laboratórios 5