O Concurso de Admissão à Carreira Diplomática é um dos concursos que mais desperta aquele clássico misto de admiração e medo que faz muitas pessoas nem cogitarem tentá-lo. Se alguém se interessar um pouco mais, olha por cima algumas questões da prova de primeira fase (o TPS) ou algumas respostas no “Guia de Estudos” e aí é que desanima de vez, de tão surreal que parece o nível das respostas, com citações de cabeça, dados numéricos precisos, nível de inglês fora do comum, três páginas escritas sobre perguntas que parecem impossíveis de responder... No entanto, o que se vê nas respostas é apenas o produto final de um árduo processo de planejamento, preparação e imersão na lógica da prova e do Itamaraty. Quem for além dessa olhada inicial, que só inspira admiração e medo paralisantes, chegará à simples (e reconfortante) conclusão de que é uma prova feita por humanos e vencida por humanos com as histórias mais variadas. Para exemplificar, vou falar de meus colegas de turma do Instituto Rio Branco, omitindo apenas seus nomes. O Colega A mal saiu da faculdade e já passou. Estudou para o concurso durante a faculdade e conseguiu logo a aprovação. O Colega B fez a prova por vários anos, nunca passava no TPS, mas, quando passou, passou em tudo, e bem. O Colega C trabalhou por anos em uma multinacional, em um ramo totalmente fora de ciências humanas, resolveu fazer o concurso e passou com dois ou três anos de estudo. O Colega D bateu na trave duas vezes, quase passou em 2010 e 2011, só conseguindo em 2012. Bater na trave dá ânimo para tentar de novo, mas dói na alma. O ponto é: cada pessoa tem uma história no concurso, não existe uma única história vencedora. O Colega D sou eu, então aproveito para descrever minha trajetória no concurso. Me formei em fev/2009. Já em mar/2009, fiz o concurso pela primeira vez e, com um mês de estudo, passei no TPS (na época, passavam 300 no TPS). Nem imaginava que passaria, então a 2ª fase eu fiz estudando apenas naquele curto intervalo entre o resultado do TPS e a 2ª fase. Tirei 57 na 2ª fase, com um texto que, com o estudo posterior, vi que estava completamente fora do prumo (talvez a banca tenha se surpreendido com o meu texto anormal, viu que eu não tinha me preparado em cursinhos, mas tinha o coração no lugar certo, e resolveu não me desanimar). Esse pequeno sucesso me deu segurança de que eu deveria continuar tentando. Em 2010, fiz de novo, já tendo estudado um ano. Dessa vez, passei no TPS e passei em todas as fases. Na soma da 2ª e 3ª fases, estava em 96º e estava dentro (precisava ter ficado em 108º). Nos www.pontodosconcursos.com.br recursos à 3ª fase, não ganhei nada e caí para 103º. Ainda dentro. Aí a 4ª fase me tirou. Terminei em 116º e tinha que ter terminado em 108º para passar. Em 2011, fiz de novo, fui bem melhor, mas eram 26 vagas. Precisava ficar em 25º e terminei em 39º, depois de todas as fases. Aprendi com os erros de 2010 em relação aos recursos e à 4ª fase, que, neste ano, me ajudaram Em 2012, deu certo. O gráfico mostra bem como foi minha “queda de braço” com o concurso, em que sempre melhorei cada vez que fazia uma fase novamente: Colega D 0º Classificação 50º 100º 150º 200º 250º 1ª FASE 2ª FASE 3ª FASE 4ª FASE 2009 226º 200º 2010 224º 60º 2011 109º 119º 137º 31º 61º 41º 2012 69º 6º 60º 22º As primeiras lições que se pode extrair do meu exemplo e dos outros exemplos: 1. NINGUÉM passa sem estudar, ainda que muitas pessoas gostem de passar uma imagem de sucesso sem esforço; até o Colega A, que passou logo após a faculdade, estudou muito. 2. É possível passar estudando e trabalhando, como demonstra o Colega C – e vários outros. Mas é preciso redobrar a atenção com o planejamento e com o pragmatismo do estudo. 3. É preciso estudar para o TPS e para as demais fases simultaneamente. O sucesso pode vir antes de nós mesmos acharmos que ele virá (como ocorreu com o Colega D em 2009), e precisamos estar preparados para ele. www.pontodosconcursos.com.br 4. O sucesso ou o insucesso no TPS não é uma medida boa para averiguar se vale a pena continuar tentando. O TPS pode ser uma trava e as fases seguintes a pessoa pode tirar de letra, como foi o caso do Colega B. 5. O acaso existe. O candidato, à medida que estuda, aumenta o nível de controle sobre a prova e diminui o poder do acaso. Mas o acaso nunca desaparece, como mostra a história do Colega D. O que importa é sabermos que fizemos o máximo possível e girar a roleta mais uma vez. Durante minha longa e rica luta com o concurso, angariei vários conhecimentos sobre como a prova funciona, quais livros são mais úteis, quais professores são bons, como lidar com a pressão, como se organizar e como tirar forças para recomeçar. Espero compartilhar esse know how com os leitores no coaching para o CACD. www.pontodosconcursos.com.br